38Sinônimos/variantes: (e afins) casta, clã, estirpe, estoque racial, etnia, família, gente, grei, grupo,grupo étnico, grupo etnolingüístico, horda, população, povo, raça, ramoEtimologia: lat. tribus,us 'tribo, divisão do povo romano'; ver trib-; f.hist. sXIV triboos, sXIV tribuConsultei ainda outra versão do dicionário do Aurélio, a <strong>de</strong> 1986, cuja entrada nãodispõe <strong>de</strong> tal observação, apenas o conceito e, então, é possível perceber que os “cuidados”com o sentido são recentes. Ou seja, com as críticas às referências utilizadas na linguagemcotidiana (termos utilizados nas Leis para referir-se aos povos indígenas, por ex. “bárbaros” etambém por outras áreas do conhecimento), feitas principalmente por antropólogos,sociólogos, historiadores, entre outros, é que aparece esta “vigilância” que percebemos nosmateriais mais recentes. Note-se que nesta versão do Dicionário Aurélio, mais antiga que aversão utilizada pelos autores do livro didático, não há observações neste sentido.Tribo. [Do lat. Tribu.] S. f. 1. Cada uma das partes em que se dividiam algumasnações ou povos antigos. 2. O conjunto dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> cada um dos 12patriarcas, entre os ju<strong>de</strong>us. 3. Grupo étnico unido pela língua, pelos costumes, pelastradições e pelas instituições, e que vive em comunida<strong>de</strong>, sob um ou mais chefes. 4.Pequeno agrupamento social <strong>de</strong> características rudimentares. 5. Joc. Gruponumeroso e unido; família muito gran<strong>de</strong>: como vai a sua tribo? [...](1986, p. 1712)Ainda nas orientações ao professor (Manual didático do LD em questão) asautoras outra vez chamam a atenção do professor quanto à expressão “não-letrado” do verbetedo dicionário e orientam o professor quanto ao vocábulo tribo da seguinte maneira:Professor: comente com os alunos que se trata <strong>de</strong> um uso popular e não restrito ouespecífico do termo. Quanto ao significado <strong>de</strong> número 4, o uso <strong>de</strong>sse termoassociado a qualquer povo não-letrado tem sido criticado pelos antropólogos <strong>de</strong>vidoà sua carga pejorativa, conforme esclarecimento no próprio verbete.Esta observação <strong>de</strong>snecessária ao professor, porque repetitiva, parece referir-seaos critérios estabelecidos pela política do MEC, citados anteriormente (ver cap. 2, item 2.1,p. 24 <strong>de</strong>ste) e que, se <strong>de</strong>scuidados, seriam motivos para a exclusão da coleção na aquisiçãopelo MEC.
39O entrevero criado a partir da tentativa <strong>de</strong> explicar ou <strong>de</strong>rivar, <strong>de</strong> liberar oucensurar o sentido da palavra tribo possibilita-nos refletir sobre a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stemovimento. O que vemos é aquilo para o que nos chama a atenção Orlandi (1997, p. 101)quando diz que:[...] a i<strong>de</strong>ologia não é “x” mas o mecanismo <strong>de</strong> produzir “x”. Pela i<strong>de</strong>ologia hátransposição <strong>de</strong> certas formas materiais em outras, isto é, há simulação (e nãoocultação) em que são construídas transparências para serem interpretadas por<strong>de</strong>terminações históricas que aparecem, no entanto, como evidências empíricas.Dessa forma, po<strong>de</strong>mos afirmar que a i<strong>de</strong>ologia não é ocultação mas interpretação <strong>de</strong>sentido em certa direção, direção esta <strong>de</strong>terminada pela história.Como nada mais é acrescido, cabe ao professor ampliar a discussão e trazer ocontexto da observação. Porém, consi<strong>de</strong>rando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ele/ela não o faça, ficaráao leitor/a apenas a explicação da “carga pejorativa” e a pequena informação dada pelodicionário.Ramos (1995, p. 9), ainda sobre a questão do conceito <strong>de</strong> tribo 13 ,diz o seguinte:“Com a conquista, os europeus, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>les as nascentes nacionalida<strong>de</strong>s sulamericanas,passaram a categorizar as populações indígenas: os mansos e os bravos,os Tupi e os “Tapúya”, os selvagens e os civilizados. Passa-se a aplicar o conceito<strong>de</strong> tribo, que sobreviveu na linguagem cotidiana, foi apropriado pela retóricadominante e se insinuou igualmente no discurso científico. [...] Na América do Sul,o conceito <strong>de</strong> tribo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos interesses em jogo, tem sido aplicadoelasticamente, para englobar vários grupos indígenas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dapresença ou ausência <strong>de</strong> vinculações entre eles, ou tem sido contraído, para excluirgrupos que são cultural, social e politicamente próximos. Os agentes <strong>de</strong>sses feitostêm sido, principalmente, missionários e funcionários do governo.”A respeito do que comenta a antropóloga anteriormente citada, este pensamentomaniqueísta (mansos x bravos; selvagens x civilizados etc.) é fortemente percebido na maiorparte dos materiais didáticos, alimentados também pelo discurso científico. Observe:13 Quando na citação aparece a palavra “Tapúya”, assim aspeada, refere-se à ilusória “tribo” inventada peloscivilizados, conforme explica Ramos (1995, p.9).
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