40A polissemia do título que abre a unida<strong>de</strong> do LD em questão (Ler, enten<strong>de</strong>r,criar): Nós e os outros aponta para muitas direções e po<strong>de</strong>-se pensar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os diferentes tipos<strong>de</strong> cultura até as diferentes opções pessoais <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, porém é impossível não recuperar ocontexto do “estranho a mim” que há tempos acompanha o homem. Estudando os textos doscronistas portugueses do século XVI sobre a terra e os seres do Brasil, Hansen (1993, p. 49)observa que:O outro não é o Outro, mas a face invertida do Mesmo, que se refrata emestilhaçamentos ilimitados <strong>de</strong> luz e sombra, como suspensão provisória do sentido: aterra do Brasil ora é o “inferno ver<strong>de</strong>”, ora o “paraíso terrenal” nestes textos,expressões que metaforizam o vazio e a inocência, ambiguamente entrelaçados.Esta visão dualista sobre o índio que está presente na escola é repetida, ainda quepor recriadas formas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos do contato entre europeus e povos nativos. SegundoPerrone-Moisés, na própria legislação indigenista portuguesa à época da colonização se
41encontram duas linhas <strong>de</strong> princípios que em alguns momentos se sobrepõem: aplicados aosaliados e os inimigos (a duas categorias <strong>de</strong> indígenas). Perrone-Moisés alerta:Ao longo <strong>de</strong> toda a colonização, missionários – principalmente jesuítas -, moradores– como são chamados os colonizadores –, governos coloniais e a Coroa travam um<strong>de</strong>bate sobre o melhor modo <strong>de</strong> regular o relacionamento com os indígenasbrasileiros. A legislação indigenista portuguesa forma e informa a ação política dosgrupos em presença e é por essa mesma ação formada tem sido em geral qualificadacomo contraditória por conter afirmações <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> escravização,recomendações <strong>de</strong> tratamento “pacífico e bondoso” e <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição total.Se analisarmos a i<strong>de</strong>ologia, não como algo oculto, a ser <strong>de</strong>svelado, masobservando as condições <strong>de</strong> produção do discurso, vemos que o processo i<strong>de</strong>ológico éperceptível pelo efeito <strong>de</strong> completu<strong>de</strong>, como diz Orlandi: “A i<strong>de</strong>ologia representa a saturação,o efeito <strong>de</strong> completu<strong>de</strong> que, por sua vez, produz o efeito <strong>de</strong> “evidência”, sustentando-se sobreo já-dito, os sentidos institucionalizados, admitidos por todos como “natural” (1997, p. 100)”.Como vimos pelas citações anteriores, esta visão produzida sobre o índio <strong>de</strong> que ora ele é umsujeito <strong>de</strong> nobres valores, ora é um sujeito selvagem e <strong>de</strong> pouco valor, ainda está presente nosdiscursos em sala <strong>de</strong> aula. Apenas para citar um exemplo: o índio como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> protetor danatureza e o branco como <strong>de</strong>struidor recupera este viés maniqueísta. O índio aparece como seri<strong>de</strong>alizado pelo menos em nove ocorrências: seja como índio romântico nos textos doRomantismo para estudar Literatura daquele período, seja como personagem folclórico ou atémesmo como <strong>de</strong>fensor da natureza. Segundo Lima (2001):[...] o maniqueísmo é uma forma <strong>de</strong> pensar simplista em que o mundo é visto comoque dividido em dois: o do Bem e o do Mal. A simplificação é uma forma primáriado pensamento que reduz os fenômenos humanos a uma relação <strong>de</strong> causa e efeito,certo e errado, isso ou aquilo, é ou não é. A simplificação é entendida como forma<strong>de</strong>ficiente <strong>de</strong> pensar, nasce da intolerância ou <strong>de</strong>sconhecimento em relação averda<strong>de</strong> do outro e da pressa <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e reagir ao que lhe apresenta comocomplexo [...]. A pressa não é só inimiga da perfeição, é também inimiga dodiálogo, do pensamento mais elaborado, sobretudo, filosófico e científico.Há diferentes formações discursivas atuando nesses discursos e se reúnem emdiferentes trechos do dizer, atuando neste cenário controverso do discurso do professor.Compreen<strong>de</strong>r o que é o efeito <strong>de</strong> sentidos é, <strong>de</strong> acordo com Orlandi (1997, p. 20):
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