14parecia à época da escritura <strong>de</strong> seu texto. A autora faz esta classificação tomando por base oreferente e os participantes do discurso, ou como diz, o objeto do discurso e os interlocutores.Afirmou ser autoritário o discurso do professor porque neste tipo <strong>de</strong> discurso o “referente estáausente, oculto pelo dizer; não há realmente interlocutores, mas um agente exclusivo, o queresulta na polissemia contida”. (1996, p. 15-16). Será que segue assim este discurso passados<strong>de</strong>z anos?Ainda sobre o discurso pedagógico, como já disse anteriormente, faz parte <strong>de</strong>nossa or<strong>de</strong>m cultural o “ensinar” e, segundo observações <strong>de</strong> Orlandi (1996, p. 17), tal açãoganhou a dimensão <strong>de</strong> “inculcar”, além das <strong>de</strong>mais: informar, explicar ou mesmo persuadir.Alguns dos fatores <strong>de</strong> inculcação a partir dos quais po<strong>de</strong>rei observar o trabalho em sala <strong>de</strong>aula são: a forma <strong>de</strong> motivação usada pelo professor criando uma visão <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> damatéria, repetições, perífrases, paráfrases, <strong>de</strong>finições rígidas, sentido homogeneizado, ocaráter <strong>de</strong> informação científica do conteúdo transmitido pelo professor como representantedo cientista, o silenciamento do livro didático em relação à história e à cultura indígena, oconhecimento e insistência no conhecimento da metalinguagem para chegar ao saberinstitucionalizado, a legitimida<strong>de</strong> da escola para transmitir saber.Estes discursos, por sua vez, são enunciados por sujeitos históricos constituídospelo simbólico, filiados a uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos – o interdiscurso, aqui entendido como “oconjunto dos dizeres já ditos e esquecidos que <strong>de</strong>termina o que dizemos, sustentando apossibilida<strong>de</strong> mesma <strong>de</strong> dizer. Para que nossas palavras tenham sentido é preciso que játenham sentido”. (ORLANDI, 2001, p. 59).Assim, seguindo a proposta da AD francesa, nas práticas <strong>de</strong> leitura o analistaprecisa levar em conta “a relação do que é dito em um discurso e o que é dito em outro, o queé dito <strong>de</strong> um modo e o que é dito <strong>de</strong> outro, procurando “escutar” a presença do não-dito no
15que é dito: presença produzida por uma ausência necessária.” (2001, p. 60). Ainda segundo amesma autora (1996, p. 263),[...] o silêncio, tanto quanto a palavra, tem suas condições <strong>de</strong>produção; por isso, dada a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas, o sentido do silênciovaria, isto é, ele é tão ambíguo quanto as palavras. O silêncio impostopelo opressor é exclusão, é forma <strong>de</strong> dominação, enquanto que osilêncio proposto pelo oprimido po<strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> resistência.É nessa direção que investigo o fenômeno do silenciamento envolvendo a questãoindígena nos livros didáticos (já possível <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stacada pela ausência quase total <strong>de</strong>la naabordagem do tema). Por que há silêncio sobre o tema? Quais sentidos provocam estasausências na questão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira? E quando há referências, como são formuladasessas representações?E ainda, quando Orlandi diz que a fala também é silenciadora (1996, p. 264-265),refere-se ao fato <strong>de</strong> que este não dizer po<strong>de</strong> ter a natureza do implícito tratado, por exemplo,pela psicanálise (operando com o conceito <strong>de</strong> inconsciente), pela retórica (nas teorias daargumentação) ou pela análise <strong>de</strong> discurso (refletindo a noção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia). Após contatocom o corpus retorno a estas observações <strong>de</strong> Orlandi para então aprofundar a questão doimplícito através da AD.Quanto ao conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia com o qual “olho” o texto a ser analisado, sigo o<strong>de</strong>slocamento que sugere Orlandi, da noção com formulação sociológica passando a umaformulação discursiva, que diz:Frente a não importa que objeto simbólico, o sujeito não po<strong>de</strong> nãosignificar: ele é levado a dizer o que “isto” quer dizer. [...] O sujeito éa interpretação. Fazendo significar, ele significa. É pela interpretaçãoque o sujeito se submete à i<strong>de</strong>ologia, ao efeito da literalida<strong>de</strong>, à ilusãodo conteúdo, à construção da evidência dos sentidos, à impressão dosentido já-lá. A i<strong>de</strong>ologia se caracteriza assim pela fixação <strong>de</strong> umconteúdo, pela impressão do sentido literal, pelo apagamento damaterialida<strong>de</strong> da linguagem e da história, pela estruturação i<strong>de</strong>ológicada linguagem. (ORLANDI, 2001, p. 22).
- Page 1 and 2: LISIANE VANDRESENAS REPRESENTAÇÕE
- Page 3 and 4: Para o time do coração: os três
- Page 5 and 6: “Um galo sozinho não tece uma ma
- Page 7: ABSTRACTThe present research aims t
- Page 10 and 11: 10compreender um pouco mais do func
- Page 12 and 13: 12deveria reagir a tudo isto: os pr
- Page 16 and 17: 16Os estudos de Authier, sobre hete
- Page 19 and 20: 19perguntando se conheciam o livro,
- Page 21 and 22: 212 O DISCURSO SOBRE O ÍNDIO NO LI
- Page 23 and 24: 23atual situação do programa PLND
- Page 25 and 26: 252.2 QUANDO HÁ REFERÊNCIAS AOS P
- Page 27 and 28: 27questões gramaticais e não se d
- Page 29 and 30: 29ensinamento e rituais semelhantes
- Page 31 and 32: 31conta como os índios da América
- Page 33 and 34: 33papel do LD ocupa grande espaço
- Page 35 and 36: 35[...] os menores de 16 anos, os l
- Page 37 and 38: 37ao mundo rural, também usuários
- Page 39 and 40: 39O entrevero criado a partir da te
- Page 41 and 42: 41encontram duas linhas de princíp
- Page 43 and 44: 433 O DISCURSO PEDAGÓGICOOs profes
- Page 45 and 46: 45companheiros não conheciam o que
- Page 47 and 48: 47presente, as crianças e professo
- Page 49 and 50: 49grupo é o do Felipe...que já es
- Page 51 and 52: 51planejamento. Quanto à metodolog
- Page 53 and 54: 53registro deve-se ao fato de ter p
- Page 55 and 56: 55marginalizados. Ouço o mesmo rel
- Page 57 and 58: 574 CONSIDERAÇÕES FINAISNos mater
- Page 59 and 60: 59questões estruturais, próprias
- Page 61 and 62: 61REFERÊNCIASAMOSSY, R. (org.). Im
- Page 63 and 64: 63PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Para co
- Page 65 and 66:
65ANEXO A - LISTA DE ABREVIATURAS E
- Page 67 and 68:
67Coleção Para Ler o Mundo. Anton
- Page 69:
ANEXO C - MITOS CONSTANTES NO LIVRO
- Page 101 and 102:
101
- Page 103 and 104:
103
- Page 105 and 106:
105Bom, naquele tempo, visitei muit
- Page 107:
107• Índios de Ipavu, Os, CARMEM