11.07.2015 Views

Curso Extensivo – E - Colégio OBJETIVO

Curso Extensivo – E - Colégio OBJETIVO

Curso Extensivo – E - Colégio OBJETIVO

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

MÓDULO 3Sintaxe (III)As questões de números 1 a 4 tomam por base o poema Livros, doparnasiano brasileiro Afonso Celso (1860-1938) e uma passagem dolivro Elementos de bibliologia, do filólogo e lexicógrafo brasileiroAn tonio Houaiss (1915-1999).LIVROSDe livros mil vivo cercado,Dias e noites passo a ler,Mas, francamente, o resultadoCoisa não é de agradecer.Nenhum me dá – paz e conforto,Nenhum me diz se eu amanhãVivo estarei ou se, já morto,Terá cessado o meu afã.Nada afinal sabeis ao certoSobre das almas o tropel...Do vosso cume vê-se perto,Chatas montanhas de papel.Vãs pretensões! Orgulho fofo!Do ser mesquinho que voz fezTendes o mesmo vil estofo,Tendes a mesma pequenez.quantos queiram ou possam acrescentar seu esforço ao herdado dasgerações anteriores, na luta pelo aumento do saber, vale dizer, doconhecer, vale dizer, do fazer, vale dizer, do conhecer-fazer-conhecerfazer,vale dizer, da perpetuação espe cífica e da felicidade individual.Uma “documentação ativa” é condição e imperativo, nesta altura, doprogresso. Forma privile gia da da mensagem gráfica, o livro seinsere, necessaria mente, na documentação, como um dos meios espe -cí ficos mais poderosos e eficazes da mesma documentação; mas nãoape nas o livro, é óbvio, senão que quantas coisas realizadas, execu -tadas, interpretadas, achadas, orde nadas, nominadas pelo homem.(Antonio Houaiss. Elementos de bibliologia. Rio de Janeiro:Instituto Nacional do Livro, 1967, vol II, p. 36-37.)1. (UNESP-2011) – Considerando que o poema Livros surge numlivro pu blicado em 1904 e é uma bem-humorada crítica à culturalivresca, sintetize a opinião sobre a utilidade dos livros manifestadapelo eu lírico no poema de Afonso Celso.RESOLUÇÃO:Segundo o autor, os livros não têm nenhuma utilidade prática. Nãotornam quem os lê “nem menos mau, nem mais feliz” e nem trazem “paze conforto”. Ade mais, a leitura não responde as perguntas essenciaissobre a existência humana: “Nenhum me diz se eu amanhã / Vivo estareiou se, já morto, / Terá cessado o meu afã”. De forma bem-humorada, opoeta conclui, nos últimos versos, que a destruição da cultura livres caalteraria em nada a experiência de viver.PORTUGUÊS ECada vez mais, debalde, avultaVossa maré... Tudo invadis;Mas não tornais quem vos consultaNem menos mau, nem mais feliz.Que um cataclismo vos destrua,Mal não fará... Sem o sentir,Serena a vida continua:Lutar, sofrer, sonhar, mentir.(Afonso Celso. Poesias escolhidas. Rio de Janeiro:H. Garnier Livreiro-Editor, 1904, p. 03-04. Adaptado.)O LIVRO E A DOCUMENTAÇÃONas condições do atual desenvolvimento histórico da humani da -de, o conhecimento de primeira mão não pode progredir sem o de se -gunda mão. Conhecimento de pri meira mão é o decorrente, digamosassim, da integração do homem na natureza, para dela haurircontinuidade específica e felicidade individual; essa integração, paraconsolidar-se, foi condicionada pela e condicionou a comunicaçãoverbal, implicadora do conhecimento de segunda mão, a linguagem,no que ela encerra de transmissão cognitiva. Esse conhecimento desegunda mão multiplicou de importância a partir do momento em queo homem pôde mantê-lo em conserva, graficamente, para uso de seuscontemporâneos e de seus pósteros. A noosfera, gerando a grafosfe -ra, aumentou os poderes e potências do homem. E hoje a matériamentada e em conserva gráfica é tão imensa e se renova em ritmo tãointenso, que um dos mais graves problemas da civilização e dacultura humanas é conseguir torná-la relativamente acessível a2. (UNESP-2011) – Ao demonstrar a utilidade dos livros, Houaissestabelece dois conceitos: conhecimento de primeira mão e conhe -cimento de segunda mão. Releia o texto e explique a diferença entreesses dois conceitos.RESOLUÇÃO:O conhecimento de primeira mão diz respeito à “integração do homemna natureza”, isto é, resulta da experiência adquirida pelo contato diretocom os elementos naturais. Essa integração promoveu o surgimento dalin gua gem, da comunicação verbal, que é o conhecimento de segundamão. Derivada desse conhecimento, surgiu a escrita, que possibilitou atransmissão dos saberes para outros indivíduos, contemporâneos ou dasgerações seguintes.– 7


PORTUGUÊS E3. (UNESP-2011) – Mas não tornais quem vos consulta / Nemmenos mau, nem mais feliz.Nestes versos, o eu lírico se serve ao mesmo tempo de dois proce di -mentos tradicionais da poesia e da oratória, a personificação (ou pro -so popeia), atribuição de vida, ação, movimento e voz a coisas inani -madas, e a apóstrofe, recurso que consiste em o orador ou o eu líricodirigir-se a uma pessoa ou coisa real ou fictícia. Identifique a pre sençada personificação e da apóstrofe nos versos citados e aponte aspalavras que, por suas características gra maticais, permitem detectaresses procedimentos.RESOLUÇÃO:O autor do poema personifica os livros e dialoga com eles a partir daterceira estrofe. As ações que ele atribui aos livros, por meio do verbotornar (tornar menos mau, tornar mais feliz), podem implicar (mas nãonecessariamente) um agente animado, personi ficado. A prosopopeia seconfigura mais claramente com a presença da apóstrofe, pois tais agentessão tratados como interlocutores, por meio do verbo – tornais – e dopronome – vos – na segunda pessoa, isto é, o eu lírico se dirige a eles comose fossem pessoas.Texto para a questão 5.Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da car ga, olhou océu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza deque aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera osmeninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. A ver -dade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhesem jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a,tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando tudo estavadefinitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério?Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco paraenterrar-se.(Graciliano Ramos, Vidas Secas, 1.ª edição: 1938.)5. (UNESP) – No último parágrafo de Vidas Secas, depois de em -pre gar três verbos no pretérito perfeito, o enun ciador uti liza umasucessão de verbos flexionados no preté rito mais-que-perfeito. Combase nessa constatação,a) explique a diferença de emprego entre esses dois tempos verbaise sua importância para o texto;RESOLUÇÃO:Os pretéritos perfeito e mais-que-perfeito referem-se a tempos distintosdo passado. O segundo indi ca anterioridade em relação ao pri meiro, umpre térito mais remoto, por isso “mais-que-perfei to”. Fizeram, depôs eolhou indiciam no fragmento ações mais recentes, um passado imediato,per fei to, ou seja, terminado. Arrastara-se, retardara-se, repreendera eaconselhara remetem a ações anteriores à pausa (alto) em sua fu ga,tangidos pelo sol e pela miséria em um inces sante retirar-se.4. (UNESP-2011) – Um conceito lógico pode ser expresso figu ra -damente, para ser melhor entendido. É o que ocorre no texto deHouaiss na passagem o homem pôde mantê-lo em conserva. Expliqueo significado lógico dessa imagem no contexto em que surge.RESOLUÇÃO:A metáfora utilizada pelo autor sugere que a escrita possibilitou que osconhecimentos adquiridos pela humanidade fossem preservados.b) reescreva o segundo período desse último parágrafo do textomen cionado, flexionando os verbos no pretérito mais-que-per -feito.RESOLUÇÃO:E Fabiano depusera no chão parte da carga, olha ra o céu, as mãos em palana testa.8–


6. (FUVEST-2011) – Leia o seguinte texto.Flagrado na Ilha de Caras, Fernando Pessoa disse que está bemmais leve depois que passou a ser um só.LISBOA – Em pronunciamento que pegou de surpresa o mercadoeditorial, o poeta e investidor Fernando Pessoa anunciou ontem afusão dos seus heterônimos. Com o enxugamento, as marcas Álvarode Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro passam a fazer parte daholding* Fernando Pessoa S.A. “É uma reengenharia”, explicou oassessor e empresário Mário Sá Carneiro. Pessoa confessou que adecisão foi tomada “de coração pesado”: “Drummond sempre foi umsó. A operação dele é enxutinha. Como competir?”, indagou. O poetachegou a pensar em terceirizar os heterônimos através de um callcenter**em Goa, mas questões de gramática e semântica acabaraminviabilizando as negociações. “Eles não usam mesóclise”, explicouPessoa.(http://www.revistapiaui.com.br. Adaptado.)b) Por que o call-center mencionado no texto seria localizado espe -ci ficamente em Goa?RESOLUÇÃO:O call-center seria localizado em Goa por se tratar de uma localidade daÍndia em que há falantes de língua portuguesa. Outro fator que levaria ocall-center para lá é de ordem econômica: a estratégia do mercadomundial escolheu a Índia e outros países de mão de obra barata para asede de serviços como call-centers.PORTUGUÊS E*Holding [holding company]: empresa criada para controlar outrasempresas.**Call-center: central de atendimento telefônico.a) Esse texto tem apenas finalidade humorística ou comporta tam -bém finalidade crítica? Justifique sua resposta.RESOLUÇÃO:O fragmento em questão tem tanto finalidade humorística quanto crítica.As relações estabele cidas entre a linguagem poé ti ca e a linguagem demercado refletem, em tom de deboche e ironia, a tendência a rebaixarassuntos de interesse cul tural, como a complexa criação heteronímica dopoeta Fernando Pessoa, ao plano de meros interesses econômicos.– 9


MÓDULO 4Sintaxe (IV)PORTUGUÊS E1. (FUVEST-2011) – Examine esta propaganda de uma empresa decertificação digital (mecanismo de segurança que garante autentici -dade, confidenciabilidade e integridade às informações eletrônicas).c) Estar com os dias contados é uma das dezenas de locuções for -ma das a partir do substantivo dia. Crie uma frase em que apa reçauma dessas locuções (sem repetir, é claro, a locução utilizada napropaganda acima).RESOLUÇÃO:Seria possível construir frases com as locuções todo dia, dia a dia, dia enoite.Exemplo: Dia a dia crescem os congestionamentos no trân sito de SãoPaulo.Texto para a questão 2.a) Aponte a relação de sentido que existe entre a men sagem verbal ea imagem.RESOLUÇÃO:A tecla delete representa o avanço tecnológico, que seria respon sável pelofim próximo dos métodos de organização e trabalho representados pelocarim bo, símbolo da burocracia.A razão áurea, também denominada proporção áurea, número deouro ou divina proporção, conquistou a imaginação popular e é temade vários livros e artigos. Em geral, suas propriedades matemáticasestão correta mente enunciadas, mas muitas afirmações feitas sobreela na arte, na arquitetura, na literatura e na estética são falsas ouequivocadas. Infelizmente, essas afirmações sobre a razão áureaforam amplamente divulgadas e adquiriram status de senso comum.Mesmo livros de geometria utilizados no ensino médio trazem concei -tos incorretos sobre ela.(Trecho traduzido e adaptado do artigo de G. Markowsky,Misconceptions about the golden ratio, The CollegeMathematics Journal, 23, 1, january, 1992, pp. 2-19.)2. (FUVEST-2011)a) Reescreva o trecho (...) mas muitas afirmações feitas sobre ela naarte, na arquitetura, na literatura e na estética são falsas ou equi -vocadas, substituindo a conjunção que o inicia por embora, comas devidas alterações.RESOLUÇÃO:Embora muitas afirmações feitas sobre ela na arte sejam falsas ou equivo -cadas, [suas propriedades mate máticas estão, em geral, corretamenteenun ciadas]. Obs.: não era necessário transcrever a segunda parte doperíodo.b) Forme uma frase correta e coerente com base em um verbo deri -vado da palavra burocracia.RESOLUÇÃO:O verbo derivado do substantivo burocracia é buro cratizar.Exemplo: Os planos de saúde burocratizam o acesso a exa mes médicosmais complexos.b) O verbo da oração Infelizmente, essas afirmações sobre a razãoáurea foram amplamente divulgadas está na voz passiva ana lítica.Reescreva-a com o verbo na voz passiva sintética, fazendo asdevidas alterações.RESOLUÇÃO:Infelizmente, divulgaram-se amplamente essas afirmações sobre a razãoáurea.10 –


Texto para a questão 3.Para Pirandello, o cômico nasce de uma “percepção do contrá -rio”, como no famoso exemplo de uma velha já decrépita que secobre de maquiagem, veste-se como uma moça e pinta os cabelos. Aose perceber que aquela senhora velha é o oposto do que umarespeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso, que nasce daruptura das expectativas, mas sobretudo do sentimento desuperioridade. A “per cep ção do contrário” pode, porém, transfor -mar-se num “sentimento do contrário” — quando aquele que ri pro -cura entender as razões pelas quais a velha se mascara, na ilusão dereconquistar a juventude perdida. Nesse passo, a velha da anedotanão mais está distante do sujeito que percebe, porque este pensa quetambém poderia estar no lugar da velha — e seu riso se mistura coma compreensão piedosa e se transforma num sorriso. Para passar daatitude cômica para a atitude humorística, é preciso renunciar aodistanciamento e ao sentimento de superioridade.(Adaptado de Elias Thomé Saliba, Raízes do riso)3. (FUVEST)a) Considerando o que o texto conceitua, explique bre vemente quala diferença essencial entre a percepção do contrário e o sen ti -mento do contrário.RESOLUÇÃO:A diferença essencial entre percepção do contrário e sentimento docontrário é que a primeira expres são sugere a ideia de distanciamento esuperioridade do observador da ce na cômica, e a segunda remete àidentificação e à com paixão do observador, que ge ram humor e não pro -pria mente comicidade.O sol se reparte em crimesEspaçonaves, guerrilhasEm cardinales bonitasEu vouEm caras de presidentesEm grandes beijos de amorEm dentes, pernas, bandeirasBomba e Brigitte Bardot(...)Ela pensa em casamentoE eu nunca mais fui à escolaSem lenço e sem documentoEu vouEu tomo uma coca-colaEla pensa em casamentoE uma canção me consolaEu vouPor entre fotos e nomesSem livros e sem fuzilSem fome, sem telefoneNo coração do Brasil(...)(http://www.caetanoveloso.com.br)PORTUGUÊS Eb) Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que umarespeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso (...).Sem prejuízo para o sentido do trecho acima, rees creva-o, substi -tuindo se perceber e produz-se por formas verbais cujo sujeitoseja nós e é o oposto por não corresponde. Faça as adaptaçõesnecessárias.RESOLUÇÃO:Ao percebermos que aquela senhora velha não cor responde ao que umarespeitável velha senhora deveria ser, produzimos o riso (rimos).4. (FUVEST-2011) – Leia os seguintes versos de “Alegria, Alegria”,de Caetano Veloso, e, em seguida, os dois comentários em que osautores explicam por que essa canção é uma de suas prediletas.Caminhando contra o ventoSem lenço e sem documentoNo sol de quase dezembroEu vouI. “A linguagem era nova, cheia de referências visuais, e tudo estavaali, combinando temas que nem sempre pareciam combinar: des -preocupação, engajamento político, tecnologia, lirismo... .” Laurade Mello e Souza. Adaptado.a) Transcreva um verso* que ilustre, de modo mais expressivo, oque está sublinhado nesse comentário. Justifique sua escolha.*(verso = uma linha.)RESOLUÇÃO:O verso que sintetiza engajamento político e tecnologia é Espaçonaves,guerrilhas. Espaçonaves representa a tecnologia aeroespacial do séculoXX e guerrilhas refere-se à luta armada empreen dida por movi mentosrevolucionários que combatiam o governo ditatorial.II. “A canção era importante pela força mágica de afirmar a potênciacriativa da vida em meio à fragmentação do mundo.” JurandirFreire Costa. Adaptado.b) Transcreva um verso que exemplifique, de modo mais evi den te,o que está sublinhado nesse comentário. Justifique sua es co lha.RESOLUÇÃO:A fragmentação do mundo está mais evidente no verso “Em dentes, per -nas, bandeiras”, formado de sinédoques, ou seja, metonímias em que par -tes são tomadas por todos, representando pessoas e cole tividades ouideais.– 11


5. (FUVEST) – Observe este anúncio.6. (FUVEST) – Examine a tirinha e responda ao que se pede.PORTUGUÊS E(Quino, Mafalda 2. São Paulo: Martins Fontes, 2002.)(Folha de S. Paulo, 26/09/2008. Adaptado.)a) Na composição do anúncio, qual é a relação de sentido existenteentre a imagem e o trecho quem é e o que pensa, que faz parte damen sagem verbal?RESOLUÇÃO:A imagem apresenta um rosto alegre que se forma a partir de linhas daimpressão digital em que se inscreve, como a sugerir a definição dosujeito e do objeto representados linguisticamente pelos pronomesindefini dos/interrogativos quem e que. Em outras palavras, a imagempromete a resposta às interrogações introduzidas por aqueles prono mes,pois o rosto que se forma com as linhas da impressão digital sugere aidentificação do sujeito pelo qual se pergunta, assim como daquilo que elepensa, uma vez que o rosto é representado com uma expressãodenunciadora de seu estado de espírito.a) O sentido do texto se faz com base na polissemia de uma palavra.Identifique essa palavra e explique por que a indicou.RESOLUÇÃO:Trata-se da palavra veículo, que pode significar (1) “qualquer meio usadopara transportar ou conduzir pessoas, animais ou coisas, de um lugarpara outro” ou (2) “qualquer coisa capaz de transmitir, propagar,difundir algo”. Na expressão “veículo de cultura”, o sentido de veículo é,claramente, (2). O humor da tirinha está em que Mafalda toma a palavrano seu sentido (1).b) Se os sujeitos dos verbos descubra e pensa estivessem no plural,como deveria ser redigida a frase utilizada no anúncio?RESOLUÇÃO:Descubram quem são e o que pensam os mora dores de São Paulo.b) A tirinha visa produzir não só efeito humorístico mas tambémefeito crítico. Você concorda com essa afir ma ção? Justifique suaresposta.RESOLUÇÃO:O sentido crítico depreensível da tirinha provém da associação entre osruídos emanados do tele vi sor, que sugerem o conteúdo violento e “ape la -tivo” da programação, e a ideia de cultura, não no sentido antropológicoda palavra (“conjunto de padrões de comportamento, crenças, conheci -mentos, costumes etc. que distinguem um grupo social”), mas como sinô -nimo de “ilustração”, “cabedal de conhecimentos”. Longe de ser “veículode cultura”, a televisão seria – sugere a tirinha – um veículo de barbárie.12 –


MÓDULO 5Sintaxe (V)1. (FUVEST) – Não tenho dúvidas de que a reportagem esteja àprocura da verdade, mas é preciso ressalvar de que a história nãopode ser escrita com base exclusivamente em documentos da políciapolítica.(O Estado de S.Paulo)Das duas ocorrências de de que, no excerto acima, uma está correta ea outra não.a) Justifique a correta.RESOLUÇÃO:A primeira ocorrência é a correta. Em Não tenho dúvidas de que areportagem..., o uso da preposição de, diante da conjunção subordinativaintegrante que, é obrigatório, já que a aludida preposição é regida pelosubstantivo dúvidas.para puni-los ou vê-los sofrer, mas porque pretendem crescer emultiplicar-se como todos os seres vivos. Tanto se lhes dá se oorganismo que lhes oferece condições de sobrevivência pertence àvestal ou ao pecador contumaz.(...)(Drauzio Varella, Folha de S.Paulo, 12/11/2005)2. (FUVEST)a) Crie uma frase com a palavra obesidade que possa ser acres -centada ao final do 2.° parágrafo sem quebra de coerência.RESOLUÇÃO:Nos nossos dias, é comum atribuir às pessoas obesas a culpa por sua obe -si dade, como se sua condição fosse apenas resultado de seu descome -dimento ao comer.A frase deve encaixar-se na série de exemplos contida no segundo pará -grafo. Tais exemplos ilustram a primeira afirmação do texto: Atribuir aodoente a culpa dos males que o afligem é procedimento tradicional na histó -ria da humanidade. O caso da obesidade seria a ilustração da afirmaçãocomplementar do parágrafo inicial: A obesidade não foge à regra.PORTUGUÊS Eb) Corrija a incorreta, dizendo por quê.RESOLUÇÃO:... mas é preciso ressalvar de que a história não pode ser escrita... Estáincorreta porque não há termo regente de preposição de. O verboressalvar é transitivo direto, não exigindo, pois, preposição em seucomplemento.Texto para a questão 2.Atribuir ao doente a culpa dos males que o afligem é proce di -mento tradicional na história da humanidade. A obesidade não fogeà regra.Na Idade Média, a sociedade considerava a hanseníase umcastigo de Deus para punir os ímpios. No século 19, quando prolife -ra ram os aglomerados urbanos e a tuberculose adquiriu caracterís -ticas epidê mi cas, dizia-se que a enfermidade acometia pessoasenfraquecidas pela vida devassa que levavam. Com a epidemia deAids, a mesma história: apenas os promíscuos adquiririam o HIV.Coube à ciência demonstrar que são bactérias os agentes causa -dores de tuberculose e da hanseníase, que a Aids é transmitida porum vírus e que esses micro-organismos são alheios às virtudes efraquezas humanas: infectam crianças, mulheres ou homens, nãob) Fazendo as adaptações necessárias e respeitando a equivalênciade sentido que a expressão Tanto se lhes dá (...) tem no texto, pro -ponha uma frase, substituindo o pronome lhes pelo seu referente.RESOLUÇÃO:Pouco importa a esses micro-organismos se o organismo que lhes oferececondições de sobrevivência pertence à vestal ou ao pecador contumaz. Aformulação deste quesito não é inteiramente precisa, pois não se esclarecese o pronome lhes deve ser substituído por seu referente em suas duasocorrências na frase ou, o que parece mais razoável, apenas na primeira,na expressão cujo sentido se questiona. Outro defeito na formulação destequesito se encontra no trecho “respeitando a equivalência de sentido quea expressão ‘Tanto se lhes dá (...)’ tem no texto”. Esse trecho deveria sersubstituído por uma redação mais simples, direta e precisa: mantendo-seo sentido que a expressão Tanto se lhes dá tem no texto, pois não é aequivalência de sentido que a expressão... tem no texto que se querrespeitada.– 13


Texto para a questão 3.[...] admirava-se ele de como é que havia podido incli nar-se porum só instante a Luisinha, menina sensabo rona e esquisita, quandohaviam no mundo mulheres como Vidinha.(Manuel Antônio de Almeida,Memórias de um Sargento de Milícias)4. (FUVEST)Devemos misturar e alternar a solidão e a comunicação. Aquelanos incutirá o desejo do convívio social, esta, o desejo de nós mes -mos; e uma será o remédio da outra: a solidão curará nossa aversãoà multidão, a multidão, nosso tédio à solidão.(Sêneca, Sobre a tranquilidade da alma,Trad. de J. R. Seabra Filho.)PORTUGUÊS E3. (FUVEST)a) Em ...admirava-se ele de como é que havia podido inclinar-se...,o sujeito da locução verbal destacada é elíptico e está no sin gular(ele). Se o sujeito fosse com posto (com dois ou mais núcleos) ouplural, essa locução verbal sofreria uma alteração. Qual seria?Justifique.RESOLUÇÃO:O verbo haver deveria concordar com o sujeito plural: haviam podido.Nas locuções verbais, a flexão de número recai sobre o verbo auxiliar e,no trecho dado, o verbo haver foi empregado como auxiliar do verbopoder. Não se deve, portanto, con fundir esse emprego com o caso em quetal verbo é usado na acepção de existir, o que obrigaria a concordânciaexclusiva com a terceira pessoa do singular.a) Segundo Sêneca, a solidão e a comunicação devem ser vistas co -mo complementares porque ambas satisfazem um mesmo desejonosso. É correta essa interpretação do texto acima? Justifique suaresposta.RESOLUÇÃO:Não, pois solidão e comunicação correspondem a diferentes desejos do serhumano: a solidão supre a necessidade de isolamento, a comunicaçãosatisfaz nossa carência de relacionamento social.b) (...) a solidão curará nossa aversão à multidão, a multidão, nossotédio à solidão.b) No trecho ...quando haviam no mundo mulheres como Vidinha,ocorre uma construção tida como incorreta, pois está emdesacordo com o uso culto da língua portuguesa. De que se trata?Corrija o erro.RESOLUÇÃO:O verbo haver, no sentido de existir, é im pes soal, devendo per manecer naterceira pes soa do singular: ...quando havia no mundo... .Sem prejuízo para o sentido original, reescreva o trecho acima,inician do-o com Nossa aversão à multidão...RESOLUÇÃO:Nossa aversão à multidão será curada pela solidão; o tédio à solidão serácurado pela multidão.14 –


5. (FUVEST) – Leia este texto.6. (FUVEST) – Leia o seguinte texto:123456789101112O ano nem sempre foi como nós o conhecemos agora. Porexemplo: no antigo calendário romano, abril era o segundo mêsdo ano. E na França, até meados do século XVI, abril era oprimeiro mês. Como havia o hábito de dar presentes no começode cada ano, o primeiro dia de abril era, para os franceses daépoca, o que o Natal é para nós hoje, um dia de alegrias, salvopara quem ganhava meias ou uma água-de-colônia barata. Coma introdução do calendário gregoriano, no século XVI, primeirode janeiro passou a ser o primeiro dia do ano e, portanto, o diados presentes. E primeiro de abril passou a ser um falso Natal –o dia de não se ganhar mais nada. Por extensão, o dia de seriludido. Por extensão, o Dia da Mentira.(Luis Fernando Verissimo,As mentiras que os homens contam. Adaptado.)Os irmãos Villas Bôas não conseguiram criar, como queriam,outros parques indígenas em outras áreas. Mas o que criaram duraaté hoje, neste país juncado de ruínas novas.a) Identifique o recurso expressivo de natureza semântica presentena expressão ruínas novas.RESOLUÇÃO:A expressão ruínas novas parece conter um paradoxo – ou, em outrostermos, parece confirmar um oxímoro. Com efeito, ruínas é palavra queconota antiguidade ou, em outro registro, velharia, o oposto do adjetivonova. O oxímoro consiste, justamente, na relação contraditória entrepalavras de sentido antitético ou conflitivo. Porém, a expressão pode serentendida de outra forma, literal, pois uma ruína pode ser recente, nova,como foram as ruínas de Troia logo após a destruição da cidade pelosgregos e como são tantos prédios que embrutecem uma cidade como SãoPaulo.PORTUGUÊS Ea) Tendo em vista o contexto, é correto afirmar que o trecho meiasou uma água-de-colônia barata deve ser entendido apenas em seusentido literal? Justifique sua resposta.RESOLUÇÃO:Não, ambas devem ser entendidas em sentido fi gurado, pois conotam, porsimilaridade, objetos de pouco valor.b) Crie uma frase que contenha um sinônimo da palavra salvo (L. 6),mantendo o sentido que ela tem no texto.RESOLUÇÃO:Empregada no texto como preposição, a palavra salvo significa exceto,com exceção de, como em: “Todos chegaram, exceto os noivos.”b) Que prática brasileira é criticada no trecho país juncado (= cober -to) de ruínas novas?RESOLUÇÃO:Critica-se, no texto, a incúria brasileira que não conserva o patrimôniomaterial do país (edificações, monumentos, cidades inteiras) nem suasinstituições.– 15


PORTUGUÊS ETexto para a questão 7.Tem-se discutido muito sobre as funções essenciais da linguagemhumana e a hierarquia natural que há entre elas. É fácil observar, porexemplo, que é pela posse e pelo uso da linguagem, falando oral men -te ao próximo ou mentalmente a nós mesmos, que conseguimos orga -ni zar o nosso pensamento e torná-lo articulado, concatenado e níti -do; é assim que, nas crianças, a partir do momento em que, rigorosa -mente, adquirem o manejo da língua dos adultos e deixam para tráso balbucio e a expressão fragmentada e difusa, surge um novo erepentino vigor de raciocínio, que não só decorre do desenvolvimentodo cérebro, mas também da circunstância de que o indivíduo dispõeagora da língua materna, a serviço de todo o seu trabalho de ativi da -de mental. Se se inicia e desenvolve o estudo metódico dos caracterese aplicações desse novo e preciso instrumento, vai, concomitante -mente, aperfeiçoan do-se a capacidade de pensar, da mesma sorte quese aperfeiçoa o operário com o domínio e o conhecimento seguro dasferramentas da sua profissão. E é este, e não outro, antes de tudo, oessencial proveito de tal ensino.(J. Mattoso Câmara Jr.,Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.)c) Segundo o autor, qual é o essencial proveito do ensino da lín gua?RESOLUÇÃO:Segundo o autor, o essencial proveito do ensino da língua é aperfeiçoar acapacidade de pensar.7. (FUVEST-2011)a) Transcreva o trecho em que o autor trata da relação da linguagemcom o pensamento.RESOLUÇÃO:O autor trata das relações de linguagem com o pensamento em: ... é pelaposse e pelo uso da linguagem, (...), que conseguimos organizar o nossopensamento e torná-lo articulado, conca te nado e nítido.b) Transcreva o trecho em que o autor trata da relação da linguagemcom a fisiologia.RESOLUÇÃO:O autor trata das relações da linguagem com a fisiologia em: ... surge umnovo e repentino vigor de raciocínio, que não só decorre do desenvol -vimento do cérebro.16 –


MÓDULO 6Sintaxe (VI)1. (UNICAMP)2. (UNICAMP) – Reportagem da Folha de S. Paulo informa que opresidente do Brasil assinou decreto estabelecendo prazos para o Paíscolocar em prática o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,que unifica a ortografia nos países de língua portuguesa. Na matéria,o seguinte quadro comparativo mostra alterações na ortografiaestabele cidas em diferentes datas:Após as reformas de1931 e 1943:Êles estão tranqüilos, por queprova velmente não crêem emfantasmas.PORTUGUÊS EApós as alterações de 1971:Após o novo acordo, a vigorara partir de janeiro de 2009Eles estão tranqüilos, porqueprova velmente não crêem emfantasmas.Eles estão tranquilos, porqueprova velmente não creem emfantasmas.Sobre o acordo, a reportagem ainda informa:(Retirada de www.miriamsalles.info/wp/wp-content/uploads/acord )a) Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordoortográ fico entre os países de língua portu guesa? Por que essepressuposto é inadequado?RESOLUÇÃO:O pressuposto é que o Acordo promoveria a uniformização do portuguêsescrito, permitindo que livros portugueses se publicassem no Brasil semnenhuma alteração. Tal pressuposto é des mentido pela simples leitura dealgumas linhas de um livro português, linhas nas quais avultam asdiferenças entre o vocabulário português e o brasileiro.As regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,que entram em vigor no Brasil a partir de janeiro de 2009, vão afetarprincipalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e dohífen. Cuidado: segundo elas, você não poderá mais dizer que foimordido por uma jibóia, e sim por uma jiboia. (...)(Adaptado de E. Simões, “Que língua é essa?”.Folha de S.Paulo, Ilustrada, p. 1, 28/09/2008.)a) O excerto acima supõe que alterações ortográficas mo difiquem omodo de falar uma língua. Mostre a palavra utilizada que permiteessa interpretação. Le vando em consideração o quadro compa ra -tivo das mudanças ortográficas e a suposição expressa no excerto,explique o equívoco dessa suposição.RESOLUÇÃO:Ao concluir que “você não poderá mais dizer que foi mordido por umajibóia, e sim por uma jiboia”, o jornalista usou o verbo dizer em lugar deescrever, induzindo o leitor em erro, ao sugerir que a reforma afetaria omodo de falar das pessoas. O quadro comparativo apresentado seriasuficiente para desmentir a sugestão do jornalista, pois nele se vê que nãohouve alteração na pronúncia das palavras, mas apenas na sua grafia.b) Explique como, na tira acima, esse pressuposto é quebrado.RESOLUÇÃO:A grande diferença lexical, que a leitura revela, entre o portuguêslusitano e o brasileiro constitui, como sugere a historieta, um obstáculomuito mais grave à compreensão mútua do que as diferenças gráficas queo Acordo Ortográfico busca superar.– 17


PORTUGUÊS EAinda sobre a reforma ortográfica, Diogo Mainardi escreveu o se -guinte:Eu sou um ardoroso defensor da reforma ortográfica. Aperspectiva de ser lido em Bafatá, no interior da Guiné-Bissau, damesma maneira que sou lido em Carinhanha, no interior da Bahia,me enche de entusiasmo. Eu sempre soube que a maior barreira parao meu sucesso em Bafatá era o C mudo [como em facto na ortografiade Portugal] (...)(D. Mainardi, “Uma reforma mais radical”.Revista VEJA, p. 129, 8/10/2008.)b) O excerto transcrito apresenta uma ironia. Em que con siste essaironia? Justifique.RESOLUÇÃO:A ironia do articulista refere-se à suposição, que fundamenta o Acordo,de que pequenas alterações ortográficas sejam suficientes para promoverou facilitar de maneira significativa o intercâmbio cultural entre os paíseslusófonos. Ao referir-se a lugares remotos e ignorados, o articulista, alémde dar expressão a preconceitos sociais e culturais, pretende sugerir queo “atraso” – econômico, social, cultural – presumível em tais cidades sejao principal problema a travar as relações culturais entre os paísesenvolvidos.a) Sobre o advérbio “porventura”, presente na carta do compositor,o dicionário Houaiss informa: usa-se em frases interrogativas,especial mente em perguntas delicadas ou retóricas.Aplica-se ao texto da carta essa informação? Justifi que suaresposta.RESOLUÇÃO:A pergunta modulada pelo advérbio porventura é claramente retórica, ouseja, é uma afirmação sob a forma de pergunta, pois nela o autor sugereter sido o próprio pai o “culpado” de seu “gosto pela arte”, um gosto queentão o levaria a contrariar determinações paternas.b) Cite duas palavras, também empregadas pelo com positor, queatestem, de maneira mais evidente, que, daquela época para hoje,a língua portuguesa sofreu modificações.RESOLUÇÃO:As formas cousa e vossemecê, hoje desusadas no Bra sil, atestam a evoluçãoda língua. As formas hoje correntes dessas palavras são coisa e você. (Omesmo não seria verdade para Portugal, onde também a língua evoluiu,evidentemente, no últi mo século e meio, e onde também as referidas pala -vras se transformaram, mas onde ainda são cor ren tes, em certos dialetos,as duas formas mais antigas.)3. (FUVEST) – Leia o seguinte texto, extraído de uma biografia docompositor Carlos Gomes.No ano seguinte [1860], com o objetivo de consolidar suaformação musical, [Carlos Gomes] mudou-se para o Rio de Janeiro,contra a vontade do pai, para iniciar os estudos no conservatório dacidade. “Uma ideia fixa me acompanha como o meu destino! Tenhoculpa, porventura, por tal cousa, se foi vossemecê que me deu o gostopela arte a que me dediquei e se seus esforços e sacrifícios fizerammeganhar ambição de glórias futuras?”, escreveu ao pai, aflito echeio de remorso por tê-lo contrariado. “Não me culpe pelo passoque dei hoje. [...] Nada mais lhe posso dizer nesta ocasião, masafirmo que as minhas intenções são puras e espero de sas so ssegado asua bênção e o seu perdão”, completou.(http://musicaclassica.folha.com.br)18 –


4. (UNICAMP-2011) – “Eu tenho medo do Mesmo” foi criada emfunção do aviso bastante conhecido dos usuários de elevadores:“Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-separado neste andar”.(Adaptado dehttp://www.orkut.com.br/Main#community?cmm=525458. Acessoem 20/12/2010)a) Explique o que torna possível o jogo de palavras Mes mo, o ma -nía co dos elevadores usado pelos membros dessa comunidade.RESOLUÇÃO:Na redação pífia do aviso obrigatório nos eleva do res, mesmo foi usadocomo pronome substantivo, substituindo elevador. Assim, acompanhadodo epíteto o maníaco dos elevadores, o pronome foi transformado, comobjetivo humorístico, em nome próprio, o Mesmo, por isso a inicialmaiúscula.Texto para a questão 5.QUANDO VITAMINAS ATRAPALHAMConsumir suplementos de vitaminas depois de praticar exercíciosfísicos pode reduzir a sensibilidade à insulina, o hormônio que con -duz a glicose às células de todo o corpo. Temporariamente, um poucode estresse oxidativo – processo combatido por algumas vitaminas eque dani fica as células – ajuda a evitar o diabetes tipo 2, causadopela resistência à insulina, concluíram pesquisadores das universi da -des de Jena, na Alemanha, e Harvard, nos Estados Unidos. Desseestu do, publicado em maio na PNAS, participaram 40 pessoas, me -tade delas com treina men to físico prévio, metade sem. Os dois gruposforam divididos em subgrupos que tomaram ou não uma com bi naçãode vitaminas C e E. Todos os subgrupos praticaram exercíciosdurante quatro semanas e passaram por exames de avaliação desensibilidade da glicose à insulina antes e após esse período. Apenasexercícios físicos, sem doses adicionais de vitaminas, promovem alonge vidade e reduzem o diabetes tipo 2. Ao contrário do que sepensa va, os resultados negam que o estresse oxidativo seja um efeitocolateral indesejado da atividade física vigorosa: ele é na verdadeparte do mecanismo pelo qual quem se exercita é mais saudável. Aconclusão é clara: nada de antioxidantes depois de correr.(Adaptado de “Quando vitaminas atrapalham”.Revista Pesquisa FAPESP 160, p. 40, junho de 2009.)PORTUGUÊS E5. (UNICAMP-2011)a) Por se tratar de um texto de divulgação científica, apre sen ta re cur -sos linguísticos próprios a esse gênero. Quais são eles? Trans -creva dois trechos em que esses recursos estão presentes.RESOLUÇÃO:São notáveis no texto 1) o emprego de vocabulário técnico e 2) a refe rên -cia a resultados de estudo cien tífico, como se vê nos trechos 1) “...exer -cícios físicos podem reduzir a sensibilidade à insulina, o hormônio queconduz a glicose às células de todo o corpo”; 2) ...concluíram pesqui sa -dores das universidades de Jena, na Alemanha, e Harvard, nos EstadosUni dos. Desse estudo, publicado em maio na PNAS...b) Reescreva o aviso de forma que essa leitura não seja mais pos -sível.RESOLUÇÃO:1) Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado nesteandar.2) Antes de entrar, verifique se o elevador en con tra-se parado nesteandar.b) O experimento em questão concluiu que as vitaminas atrapalham.Explique como os pesquisadores chegaram a essa conclusão.RESOLUÇÃO:Os pesquisadores concluíram que as vitaminas atrapalham porque veri -ficaram que o estresse oxidativo, que as vitaminas combateriam, é bené -fico, pois ajuda a evitar o diabetes tipo 2, causado pela resistência àinsulina, ou seja, a ingestão de vitaminas após exercícios, ao contrário doque se acreditava, não promove a longevidade e nem a redução dodiabetes tipo 2.– 19


MÓDULO 7Literatura e Análise de Textos Literários (I)1. (UNICAMP-SP-2011) – Os trechos abaixo, do Auto da Barca doInferno e das Memórias de um Sargento de Milícias, tratam, de ma -neira cômica, dos “pecados” de duas personagens que, cada uma a seumodo, representam uma autoridade. Leia-os com atenção e res pondaàs questões propostas em seguida.Frade:Ah, Corpo de Deus consagrado!Pela fé de Jesus Cristo,qu’eu não posso entender isto!Eu hei de ser condenado?Um padre tão namoradoe tanto dado à virtude!Assi Deus me dê saúdeque eu estou maravilhado!a) O que há de comum na caracterização da conduta do Frade, napeça, e do major Vidigal, no romance?RESOLUÇÃO:Tanto o Frade quanto o major Vidigal desrespeitam as regras queconfiguram suas funções de sacerdote e oficial militar, respectivamente.O Frade, sem inclinação para o sacerdócio, surge no “cais das almas”acompanhado da amante, em desobediência ao decoro clerical e ao votode celibato, ao qual os padres são submetidos. Quanto ao major Vidigal,é também a lascívia — seu interesse por Maria-Regalada — que o leva ainfringir seus deveres e favorecer o malandro Leonardo.PORTUGUÊS EDiabo:Frade:Diabo:Frade:Diabo:Frade:Diabo:Não façamos mais detença.Embarcai e partiremos:tomareis um par de remos.Não ficou isso n’avença!Pois dada está já a sentença!Par Deus! Essa seri’ela!Não vai em tal caravelaminha senhora Florença.Como? Por ser namoradoe folgar com ua ~ mulherse há um frade de perder,com tanto salmo rezado?Ora estás bem aviado!Mais estás bem corregido!Devoto padre marido,haveis de ser cá pingado...(VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno.São Paulo, Ática, 2006, p. 35-36.)b) Que diferença entre as obras faz com que essas personagenstenham destinos distintos?RESOLUÇÃO:O teor moralizante da peça de Gil Vicente faz que os transgressores dasnormas sociais, definidas pelo código moral cristão, sejam punidos comseveridade extrema. A amoralidade característica do romance de ManuelAntônio de Almeida, diferentemente, faz que transgressores dos códigossociais, como o protagonista Leonardo, não só não enfrentem punição,mas até recebam recompensas.Os leitores estão já curiosos por saber quem é ela, e têm razão;vamos já satisfazê-los. O major era pecador antigo e, no seu tempo,fora daqueles de quem se diz que não deram o seu quinhão ao vigá -rio: restava-lhe ainda hoje alguma coisa que às vezes lhe recordava opassado: essa alguma coisa era a Maria-Regalada, que morava naPrainha. Maria-Regalada fora no seu tempo uma mocetona de truz,como vulgarmente se diz: era de um gênio sobremaneira folgazão,vivia em contínua alegria, ria-se de tudo e, de cada vez que se ria,fazia-o por muito tempo e com muito gosto: daí é que vinha o apelido— regalada — que haviam juntado ao seu nome.(ALMEIDA, Manuel Antônio de.Memórias de um Sargento de Milícias. São Paulo,Ática, 2004, Capítulo XLV – “Empenhos”, p. 142.)– 21


PORTUGUÊS E2. (UNIFESP-SP – adaptado) – No trecho da peça de Gil Vicente,fica evidente umaa) visão bastante crítica dos hábitos da sociedade da época. Está cla -ra a censura à hipocrisia do religioso, que se aparta daquilo queprega.b) concepção de sociedade decadente, mas que ainda guarda algunsvalores essenciais, como é o caso da relação entre o frade e o ca -to licismo.c) postura de repúdio à imoralidade da mulher, que se põe a tentar ofrade, que a ridiculariza em função de sua fé católica inabalável.d) visão moralista da sociedade. Para ele, os valores deveriam serresgatados e a presença do frade é um indicativo de apego à fécristã.e) crítica ao frade que optou em vida por ter uma mulher, contra -riando a fé cristã e afastando-se do comportamento padrão dosdemais frades do convento.RESOLUÇÃO:No Auto da Barca do Inferno, o Frade chega à Barca do Inferno acom pa -nha do por uma mulher e, ao ser questionado pelo Diabo se aquela“dama” lhe pertencia, ele afirma que sempre a teve como sua. Ironi ca -men te, o Diabo elogia a atitude do Frade de desrespeito aos votos de celi -bato clerical. Quando o Diabo pergunta ao Frade se esse desrespeito aocelibato não era censurado no “convento santo”, o religioso responde quetodos faziam o mesmo, o que corresponde à ideia de que aquilo que sepregava como comportamento correto e ilibado era exatamente ocontrário do que faziam os religiosos da Igreja, segundo a peça.Resposta: Aa) De que pecado o Parvo acusa o homem de leis (Corregedor)? Esseé o único pecado de que ele é acusado na peça?RESOLUÇÃO:Joane, o Parvo, acusa o Corregedor de se deixar subornar com as ofertasde coelhos e pernas de perdiz, sendo, desse modo, segundo o Diabo, um“santo descorregedor”, sentenciando com pouca honestidade (“quiajudicastis malitia”). Além disso, há referência ao desrespeito do Correge -dor aos mortos, uma vez que urinara nas campas. Outro delito do qual omagistrado é acusado pelo Diabo é o de ter explorado os trabalhadoresinocentes (“ignorantes do pecado”): “A largo modo adquiristis / sanguinislaboratorum, / ignorantes peccatorum”.3. (UNICAMP-SP) – Na seguinte cena do Auto da Barca do Inferno,o Corregedor e o Procurador dirigem-se à Barca da Glória, depois dese recusarem a entrar na Barca do Inferno.Corregedor: Ó arrais dos gloriosos,passai-nos neste batel!Anjo: Ó pragas pera papel, parapera as almas odiosos!Como vindes preciosos,sendo filhos da ciência!Corregedor: Ó! habeatis clemência tendee passai-nos como vossos!b) Com que propósito o latim é empregado pelo Corregedor? E peloParvo?RESOLUÇÃO:O Corregedor emprega o latim de uso jurídico, que caracteriza o homemde leis, tipificando a personagem. O Parvo, por sua vez, vale-se do latimde maneira humorística e, consciente de seus erros, declara falar latim“macarrônico”, isto é, mistura de latim e português. Para o Corregedor,o latim é instrumento de autoridade; para o Parvo, ao contrário, é ummeio de contestação da autoridade e de zombaria da pompa de que sereveste o discurso autoritário.Joane (Parvo): Hou, homens dos breviairos 1 ,rapinastis coelhorumet pernis perdiguitorum 2e mijais nos campanairos!Corregedor: Ó! Não nos sejais contrairos,pois nom temos outra ponte!Joane (Parvo): Beleguinis ubi sunt 3 ?Ego latinus macairos 4 .(VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno.São Paulo, Ateliê Editorial, 1996, p. 107-109.)1 – Homens dos breviairos: homens de leis.2 – Rapinastis coelhorum / et pernis perdiguitorum: Recebestes coelhos epernas de perdiz como suborno.3 – Beleguinis ubi sunt?: Onde estão os policiais?4 – Ego latinus macairos: Eu falo latim macarrônico.22 –


4. (FUVEST-SP)E, chegando à barca da Glória, diz ao Anjo:Brísida:Anjo:Brísida:Barqueiro, mano, meus olhos,prancha a Brísida Vaz!Eu não sei quem te cá traz...Peço-vo-lo de giolhos!Cuidais que trago piolhos,anjo de Deus, minha rosa?Eu sou Brísida, a preciosa,que dava as moças aos molhos.A que criava as meninaspara os cônegos da Sé...Passai-me, por vossa fé,meu amor, minhas boninas,olhos de perlinhas finas!(...)(Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno– texto fixado por Segismundo Spina)a) No excerto, a maneira de tratar o Anjo empregada por Brísida Vazrelaciona-se à atividade que ela exercera em vida? Expliqueresumi damente.RESOLUÇÃO:Brísida Vaz, em vida, era alcoviteira, ou seja, agenciava mulheres para aprostituição. Assim, sua linguagem revela sua atividade, pois ela se utilizade termos que procuram seduzir o Anjo, como “anjo de Deus”, “minharosa”, “meu amor”, “minhas boninas”, “olhos de perlinhas finas”.5. (UNICAMP-SP) – Leia o diálogo abaixo, do Auto da Barca doInferno:Diabo: Cavaleiros, vós passaise não perguntais onde is?Cavaleiro 1: Vós, Satanás, presumis?Atentai com quem falais!Cavaleiro 2: Vós que nos demandais?Sequer conhece-nos bem.Morremos nas partes d’além,e não queirais saber mais.(VICENTE, Gil. “Auto da Barca do Inferno”,in BERARDINELLI, Cleonice. Org.Antologia do Teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro,Nova Fronteira/Brasília, INL, 1984, p. 89.)a) Por que o Cavaleiro chama a atenção do Diabo?RESOLUÇÃO:Porque o Cavaleiro sacrificou a vida para defender o Cristianismo e,assim, ter assegurado seu lugar na barca da Glória. O Diabo presume queo Cavaleiro é, como a maioria dos mortos chegados ao cais, um ser cheiode vícios e interpela-o. O Cavaleiro adverte o Diabo, distinguindo-se eevitando maior contato.PORTUGUÊS Eb) Onde e como morreram os dois Cavaleiros?RESOLUÇÃO:Os Cavaleiros morreram numa Cruzada, em combate contra os “infiéis”.Observe-se que, na época da encenação do Auto da Barca do Inferno, asCruzadas já eram coisa do passado.b) No excerto, o tratamento que Brísida Vaz dispensa ao Anjo é ade -qua do à obtenção do que ela deseja — isto é, levar o Anjo apermitir que ela embarque? Por quê?RESOLUÇÃO:O tratamento que Brísida Vaz dispensa ao Anjo é inadequado, pois revelaapego ao universo pecaminoso da sedução e prostituição, ou seja, justa -mente àquilo que justifica sua condenação ao inferno.c) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele?RESOLUÇÃO:Porque entendem que quem deu a vida numa Cruzada, em defesa doCristianismo, tem assegurado um lugar na barca da Glória, estando livreda condenação ao inferno.– 23


MÓDULO 8Literatura e Análise de Textos Literários (II)PORTUGUÊS EAs questões de números 1 a 4 tomam por base um soneto do poetaneoclássico português Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage,1765-1805) e uma tira da escritora e quadrinista brasileira Ciça(Cecília Whitaker Vicente de Azevedo Alves Pinto).LXIVCONTRASTE ENTREA VIDA CAMPESTRE E A DAS CIDADESNos campos o vilão sem sustos passa,Inquieto na corte o nobre mora;O que é ser infeliz aquele ignora,Este encontra nas pompas a desgraça:2. (VUNESP-SP) – A palavra vilão pode apresentar diferentes signi -ficados na Língua Portuguesa, alguns bastante distintos entre si. Nosoneto de Bocage, a própria sequência da leitura permite descobrir,em função do contexto, o significado que assume tal palavra, empre -gada no primeiro verso. Releia o poema e aponte esse significado.RESOLUÇÃO:No poema de Bocage, vilão é empregado no sentido inicial da palavra:“habitante de vila”, ou seja, morador de pequeno povoado rural, emoposição à corte, situada na cidade, a grande aglomeração urbana.Aquele canta e ri; não se embaraçaCom essas coisas vãs que o mundo adora:Este (oh cega ambição!) mil vezes chora,Porque não acha bem que o satisfaça:Aquele dorme em paz no chão deitado,Este no ebúrneo leito preciosoNutre, exaspera velador cuidado:Triste, sai do palácio majestoso;Se hás de ser cortesão, mas desgraçado,Antes ser camponês, e venturoso.(BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du.Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão Editores, 1968.)3. (VUNESP-SP) – O soneto de Bocage apresenta-se de acordo como modelo tradicional, com versos de dez sílabas métricas (decas-sílabos) distribuídos em duas quadras e dois tercetos. De posse dessainformação, apresente como resposta a divisão em sílabas métricas dosegundo verso do poema, levando em conta que as sílabas tônicas sãoa terceira, a sexta, a oitava e a décima.RESOLUÇÃO:In-qui-e-to-na-cor-teo-no-bre-mo(ra).(As sílabas fortes estão sublinhadas; a sílaba entre parênteses, a últimapostônica [= pós-tônica], não se conta.)(CIÇA. Tira. In Pagando o Pato. Porto Alegre, LP&M, 2006.)1. (VUNESP-SP) – O tema do soneto apresentado, do neoclás sico por -tu guês Bocage, enquadra-se numa das linhas temáticas carac te rísti cas doperíodo literário denominado Neoclassicismo ou Arcadismo. Aponteessa linha temática, comprovando com elementos do próprio poema.RESOLUÇÃO:O soneto de Bocage desenvolve o tema do contraste entre a vida nacidade, vista como negativa, e a vida no campo, descrita como positiva. Adepreciação da primeira é evidente em expressões como “inquieto nacorte o nobre mora” e “este [o homem urbano] (...) mil vezes chora /porque não acha bem que o satisfaça”. A valorização da segunda encon -tra-se em expressões como “nos campos o vilão sem sustos passa”, “o queé ser infeliz aquele [o vilão] ignora” e “aquele canta e ri”.4. (VUNESP-SP) – Na tira de Ciça, a troca de ser por ter ironiza umadas tendências do comportamento humano na sociedade mo der na,altamente consumista. Isso considerado, releia a tira e o poema deBoca ge e aponte em que consiste essa ironia e em que medida osone to de Bocage representa, com mais de dois séculos deantecedência, uma das possíveis respostas a essa troca de ser por ter.RESOLUÇÃO:A ironia está em considerar como mera atualização, ou seja, adaptaçãoaos tempos atuais, a troca de ser por ter na célebre expressãoshakespeariana. O soneto de Bocage pode ser tomado como “resposta” aessa perversão contemporânea, por exaltar a vida simples e feliz (o ser),em oposição à vida de apego aos bens materiais e às aparências (o ter).24 –


Os dois textos a seguir pertencem a artistas bastante afastados entre sino tempo. Trata-se de Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage,1765-1805), poeta neoclássico português, e Juca Chaves (JurandyrChaves, 1938), compositor, intérprete e showman brasileiro. Amboslíricos e sentimentalistas, muitas vezes são ásperos em críticas esátiras sociais. Lendo os poemas (o de Juca é letra de uma de suascanções), verificamos que apresentam pontos em comum, emborasejam inconfundíveis no estilo e nas atitu des.Texto 1AUTORRETRATOSimpático, romântico, solteiro,autodidata, poeta, socialistaDa classe 38, reservista,de outubro, 22, Rio de Janeiro.RESOLUÇÃO:Juca Chaves privilegia características de sua personalidade, tempera -mento, índole, profissão e ideologia; quali fi cando-se como “simpático”,“romântico”, “solteiro”, “autodidata”, “poeta” e “socialista”. Bocageprivilegia características físicas: “olhos azuis”, “carão moreno”, “bemservido de pés”, “nariz alto no meio, e não pequeno”, quase todas de valordepreciativo, para compor uma moldura para os traços psicológicos:“triste de facha”, “o mesmo de figura”.PORTUGUÊS ECom a bossa de qualquer bom brasileiropossuo o sangue quente de um artista.Sou milionário em senso de humorista,mas juro que estou duro e sem dinheiro.Há quem me julgue um poeta irreverente,mentira, é reação da burguesia,que não vive, vegeta falsamente,num mundo de doente hipocrisia.Mas o meu mundo é belo e diferente:vivo do amor ou vivo da poesia...E assim eu viverei eternamente,Se não morrer por outra Ana Maria.Texto 2RETRATO PRÓPRIO(Juca Chaves)6. (VUNESP-SP – adaptada) – Em dado momento, Juca Chavesfaz um ataque a uma classe social. Bocage refere-se de maneirairreverente a uma instituição social. Identifique os versos em queocorrem tais fatos e faça um breve comentário sobre o modo comocada um dos poetas se posiciona diante de seus objetos de crítica.RESOLUÇÃO:Juca Chaves ataca a hipocrisia burguesa, nos versos de 10 a 12, afirman doseus próprios valores, amor e poesia, que, autoironicamente, relativiza noúltimo verso: “Se não morrer por outra Ana Maria.” Na terceira es tro fe,no verso 11, Bocage faz uma crítica à Igreja, ao clero católico, representadopelos “frades”, que só merecem o “amor” ou a consideração do poetaquando no “altar”, circunscritos aos ofícios religiosos, aos ritos litúrgicos.Magro, de olhos azuis, carão moreno,Bem servido de pés, meão de altura,Triste de facha, o mesmo de figura,Nariz alto no meio, e não pequeno;de altura média, medianorosto, caraIncapaz de assistir num só terreno,Mais propenso ao furor do que à ternura;Bebendo em níveas mãos, por taça escura,De zelos infernais letal veneno;Devoto incensador de mil deidades(Digo, de moças mil) num só momento,E somente no altar amando os frades;permanecer, residir,[fixar-sebrancas, de nevemortal, fataldivindadesEis Bocage em quem luz algum talento; brilha, do verbo luzirSaíram dele mesmo estas verdades,Num dia em que se achou mais pachorrento.(Bocage, soneto LXXXI)7. (VUNESP-SP – adaptada) – Compare os dois textos sob oaspec to formal.RESOLUÇÃO:O “Autorretrato” compõe-se de quatro quartetos ou quadras. O “RetratoPróprio” é um soneto, formado por dois quartetos e dois tercetos. Nosdois quartetos iniciais dos dois textos, as rimas têm a mesma posição:interpoladas ou opostas (ABBA-ABBA). Nas estrofes finais, têm posiçãointercalada (CDCD-CDCD, no texto de Juca Chaves, e CDC-DCD, notexto de Bocage). Os versos são decassílabos nos dois textos.5. (VUNESP-SP – adaptada) – Observando o que cada poeta diz desi próprio na primeira quadra, verificamos que um deles privilegia umtipo de características pessoais, enquanto o outro varia a natureza dascaracterísticas que enumera. Com base nessa observação, releiaatentamente ambas as estrofes e, a seguir, comente as característicaspessoais enfati zadas por Juca Chaves e Bocage.– 25


MÓDULO 9Literatura e Análise de Textos Literários (III)PORTUGUÊS E1. (UNICAMP-SP) – No excerto abaixo, o romance Iracema éaproximado da narrativa bíblica:Em Iracema, (...) a paisagem do Ceará fornece o cenário edênicopara uma adaptação do mito da Gênese. Alencar aproveitou até omáximo as similaridades entre as tradições indígenas e a mitologiabíblica (...). Seu romance indianista (...) resumia a narrativa do casa -mento inter-racial, porém (...) dentro de um quadro estruturalpseudo-histórico mais sofisticado, derivado de todo um complexo demitos bíblicos, desde a Queda Edênica ao nascimento de um novoredentor.(TREECE, David. Exilados, Aliados, Rebeldes:o movimento indianista, a política indigenista e o Estado-Naçãoimperial. São Paulo, Nankin/Edusp, 2008, p. 226, 258-259.)b) Qual personagem poderia ser associada ao “novo redentor”? Porquê?RESOLUÇÃO:O “novo redentor” é Moacir, filho de Iracema com Martim. Assim comoCristo teria vindo ao mundo para redimir o gênero humano do pecadooriginal, levando-o a uma nova condição, o jovem mestiço daria origem aum novo povo, o brasileiro, que, na visão de Alencar, ficaria no lugar doindígena.Partindo desse comentário, responda às questões:a) Que associação se pode estabelecer entre os protagonistas do ro -man ce e o mito da Queda com a consequente expulsão do Paraíso?RESOLUÇÃO:O mito da Queda, central na tradição judaico-cristã, corresponde à nar -rati va segundo a qual Adão e Eva, habitantes do Éden (Paraíso), teriamcomido o fruto proibido. Por causa dessa falta, teriam tido como castigoa expulsão da morada paradisíaca e o mergulho de seus descendentes, ogênero humano, na dor e sofrimento (multiplicação da dor do parto,necessidade de “ganhar o pão com o suor do rosto”). Iracema aproveitavários elementos desse mito: o vinho da jurema assemelha-se ao frutoproibido; a perda da inocência de Adão e Eva equivale à união carnalentre Martim e Iracema; a descida que a protagonista faz do territóriotabajara para o pitiguara identifica-se com a perda do Paraíso. Ocaminho para baixo é percorrido após o sexto dia, que lembra o dia dacriação do homem; a dor da heroína ao ver seus conterrâneos mortos emcombate e, mais adiante, durante o seu parto, estabelece proximidadecom os sofrimentos profetizados por Deus à espécie humana.2. (UNICAMP-SP) – Leia, abaixo, a letra de uma canção de ChicoBuarque inspirada no romance de José de Alencar, Iracema, lenda doCeará:Iracema voouPara a AméricaLeva roupa de lãE anda lépidaVê um filme de quando em vezNão domina o idioma inglêsLava chão numa casa de cháTem saído ao luarCom um mímicoAmbiciona estudarCanto líricoNão dá mole pra políciaIRACEMA VOOU26 –Se puder, vai ficando por láTem saudade do CearáMas não muitaUns dias, afoitaMe liga a cobrar:— É Iracema da América(HOLANDA, Chico Buarque de. As Cidades.Rio de Janeiro, Marola Edições Musicais Ltda.,1998.)


a) Que papel desempenha Iracema no romance de José de Alencar?E na canção de Chico Buarque?RESOLUÇÃO:Iracema desempenha, no romance de Alencar, o papel de heroína român -tica, mártir do amor. Ela é a sacerdotisa ou vestal dos Tabajaras, quedetém o segredo da jurema. Além disso, ela pode ser considerada aprópria representação da natureza virgem dos trópicos, que serápossuída pelo colonizador europeu, o português Martim, com quem teráum filho. Na canção de Chico Buarque, Iracema desempenha o papel dabrasileira exilada que, com astúcia “malandra”, consegue “se virar”,procurando “se dar bem” na América do Norte e preferindo viver lá,apesar das dificuldades e da saudade da terra natal.3. (FUVEST-SP) – Considere os dois trechos de Machado de Assis,relacionados a Iracema e publicados na época em que apareceu esseromance de Alencar, e responda ao que se pede.a) A poesia americana está completamente nobilitada; os mauspoetas já não podem conseguir o descrédito desse movimento, quevenceu com o autor de “I-Juca-Pirama” e acaba de vencer com oautor de Iracema.(Adaptado de Machado de Assis, Crítica Literária)Machado de Assis refere-se, nesse trecho, a um movimento literáriochamado, na época, de “poesia americana” ou “escola americana”.Sob que outro nome veio a ser conhecido esse movimento? Quaiseram seus principais objetivos?RESOLUÇÃO:Machado de Assis refere-se ao Indianismo, tendência românticabrasileira cujo objetivo central era nobilitar o passado nacional,associando-o a mitos heroicos elaborados por meio da idealização dosindígenas e de sua cultura, assimilados a padrões europeus de excelênciafísica e moral.PORTUGUÊS Eb) Uma das interpretações para o nome da heroína do romance deJosé de Alencar é de que seja um anagrama de América. Isto é, onome da heroína possui as mesmas letras de América dispostas emoutra ordem. Partindo dessa interpretação, explique o que dis -tingue a referência à América no romance daquela que é feita nacanção.RESOLUÇÃO:No romance Iracema, lenda do Ceará, o jogo anagramático com o nomeda heroína é, evidentemente, uma referência ao Brasil ou, genericamente,à América do Sul. Já em Iracema voou, o anagrama funciona como refe -rência à América do Norte ou, mais especificamente, aos Estados Unidos.b) Tudo em Iracema nos parece primitivo; a ingenuidade dos senti -mentos, o pitoresco da linguagem, tudo, até a parte narrativa dolivro, que nem parece obra de um poeta moderno, mas uma his tó -ria de bardo 1 indígena, contada aos irmãos, à porta da cabana,aos últimos raios do sol que se entristece.(Adaptado de Machado de Assis, Crítica Literária)1 – Bardo: poeta heroico, entre os celtas e gálios; por extensão, qualquerpoeta, trovador etc.No trecho, Machado de Assis afirma que a narração de Iracema nãoparece ter sido feita por um “poeta moderno”, mas, sim, por um “bar-do indígena”. Essa afirmação se justifica? Explique sucin ta men te.RESOLUÇÃO:A afirmação é pertinente, pois o estilo de Iracema procura incorporar alinguagem e a cosmovisão indígenas. A tentativa de simular a cosmovisãoindígena é visível, por exemplo, na marcação temporal, que toma comoparâmetro os ciclos da natureza. A apropriação da linguagem aborígineocorre nos nomes próprios, nas aglutinações lexicais, nas perífrases e nascomparações com elementos da natureza.– 27


4. (UNICAMP-SP) – O trecho abaixo foi extraído de Iracema. Elereproduz a reação e as últimas palavras de Batuiretê antes de morrer:PORTUGUÊS EO velho soabriu as pesadas pálpebras e passou do neto ao estran -geiro um olhar baço. Depois o peito arquejou e os lábios murmu -raram:— Tupã quis que estes olhos vissem, antes de se apagarem, ogavião branco junto da narceja.O abaeté derrubou a fronte aos peitos e não falou mais, nem maisse moveu.(ALENCAR, José de. Iracema: lenda do Ceará.Rio de Janeiro, MEC/INL, 1965, p. 171-172.)a) Quem é Batuiretê?RESOLUÇÃO:Batuiretê fora grande guerreiro e líder dos pitiguaras. Em razão daidade, deixa de guerrear e transfere a liderança do grupo ao filho Jatobá,pai de Poti. Batuiretê torna-se então uma espécie de conse lheiro, sábio ou,melhor, oráculo de guerra para os de sua tribo. Daí o nome tupi com quea perso nagem é denominada: Maranguab, que, nas palavras do neto Poti(nesse mesmo capítulo), significa “o grande sabedor da guerra”.c) Explique o sentido da metáfora empregada por Batuiretê em suafala.RESOLUÇÃO:Batuiretê refere-se, por meio da expressão “o gavião branco junto danarceja”, à dominação branca e à submissão do índio, numa premoniçãotrágica do destino de seu povo.b) Identifique as personagens a quem ele se dirige e indique os papéisque desempenham no romance.RESOLUÇÃO:O “neto” referido no texto é o guerreiro pitiguara Poti, que é amigo ealiado do coprotagonista (Martim Soares Moreno) e o auxilia tanto noestabelecimento da civilização portuguesa no Ceará, como no episódioromanesco entre o guerreiro português e a virgem tabajara. Sob o nomede batismo de Antônio Felipe Camarão, transforma-se de personagemficcional em personagem histórica, participante da luta pela expulsão dosholandeses. É o índio assimilado à civilização: Antônio (santo dadevoção), Felipe (rei de Espanha, Felipe III, à época da União Ibérica, emque ocorre o romance, 1604-1611). O “estrangeiro”, referido em seguida,é Martim Soares Moreno, representante do Estado português, guerreirobranco e agente da civilização cristã na colonização do Ceará. É oelemento que, ao se introduzir no universo indígena e consorciar-se coma “virgem de Tupã”, contribui para a destruição da América primitiva.28 –


MÓDULO 10Literatura e Análise de Textos Literários (IV)Texto para os testes 1 e 2.Ontem a Serra Leoa,A guerra, a caça ao leão,O sono dormido à toaSob as tendas d’amplidão!Hoje... o porão negro, fundo,Infecto, apertado, imundo,Tendo a peste por jaguar...E o sono sempre cortadoPelo arranco de um finado,E o baque de um corpo ao mar...Ontem plena liberdade,A vontade por poder...Hoje... cúm’lo de maldade,Nem são livres pra morrer...Prende-os a mesma corrente— Férrea, lúgubre serpente —Nas roscas da escravidão.E assim roubados à morte,Dança a lúgubre coorteAo som do açoite... Irrisão!...(Castro Alves, fragmento deO Navio Negreiro – tragédia no mar)1. (UNIFESP-SP-2011) – Considere as seguintes afirmações.I. O texto é um exemplo de poesia carregada de dramaticidade,própria de um poeta-condor, que mostra conhecer bem as liçõesdo “mestre” Victor Hugo.II. Trata-se de um poema típico da terceira fase romântica, voltadopara auditórios numerosos, em que se destacam a preocupaçãosocial e o tom hiperbólico.III. É possível reconhecer neste fragmento, de um longo poema deteor abolicionista, o gosto romântico por uma poesia de recursossonoros.Está correto o que se afirma ema) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas.d) I e II, apenas. e) I, II e III.RESOLUÇÃO:Castro Alves vincula-se à terceira geração de poetas românticosbrasileiros, influenciada pelo escritor francês Victor Hugo. Tomado porforte desejo de liberdade, o poeta aborda questões sociais e desenvolve, notexto, tema de teor abolicionista, em linguagem grandiloquente, dirigidaa um grande público, empregando recursos sonoros, como a repetição desons sibilantes, lembrando o som do chicote a cortar o ar, em “Ao som doaçoite... Irrisão!...”Resposta: E2. (UNIFESP-SP-2011) – Neste fragmento do poema,a) o poeta se vale do recurso ao paralelismo de construção apenas naprimeira estrofe.b) o eu poemático aborda o problema da escravidão segundo umjogo de intensas oposições.c) os animais evocados — leão, jaguar e serpente — têm, respec -tivamente, sentidos denotativo, denotativo e metafórico.d) o tom geral assumido pelo poeta revela um misto de emoção,vigor e resignação diante da escravidão.e) os versos são constituídos alternadamente por sete e oito sílabaspoéticas.RESOLUÇÃO:a) Incorreta. O paralelismo mantém-se na segunda estrofe, pois o textocontinua estruturado em oposições que envolvem o passado e opresente dos africanos trazidos para o Brasil.b) Correta.c) Incorreta. Em “caça ao leão”, temos sentido denotativo, pois osubstantivo leão refere-se ao animal; em “tendo a peste por jaguar”,há metáfora que associa a peste ao felino; em “lúgubre serpente”,também há metáfora, pois se associa a uma serpente a corrente queprende os escravos.d) Incorreta. Não há resignação, mas sim indignação do poeta, nota -damente em vocábulos de teor semântico negativo, como lúgubre,infecto, imundo etc.e) Incorreta. Todos os versos são constituídos por sete sílabas métricas.Resposta: BTexto para os testes de 3 a 6.(...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto éverdade, vejamos alguns lineamentos do menino.Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; everdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meutempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, umdia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher dodoce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício,deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fuidizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “porpirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa,era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia umcordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com umavarinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e eleobedecia — algumas vezes gemendo —, mas obede cia sem dizerpalavra, ou, quando muito, um — “ai, nhonhô!” —, ao que eu retor -quia: “Cala a boca, besta!” — Esconder os chapéus das visitas, deitarrabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras,dar beliscões nos braços das matronas e outras muitas façanhas destejaez eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eramtambém expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-meem grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente,fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vidaa quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; masopiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se nãopassei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxeipelo rabicho das cabeleiras.(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)– 29PORTUGUÊS E


PORTUGUÊS E3. (UNIFESP-SP-2011) – Indique a frase que, no contexto do frag -men to, ratifica o sentido de “o menino é o pai do homem”, citaçãoinicial do narrador.a) “fui dos mais malignos do meu tempo”b) “um dia quebrei a cabeça de uma escrava”c) “deitei um punhado de cinza ao tacho”d) “fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado”e) “alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras”RESOLUÇÃO:No texto, a citação inicial do narrador — “o menino é o pai do homem”— é confirmada em “(...) alguma vez lhes puxei pelo rabicho dascabeleiras”, referindo-se ao fato de que seu comportamento infantil, quelhe fez merecedor da alcunha “menino diabo”, perdurou até ele se tornaradulto, como fica dito no final do texto.Resposta: E4. (UNIFESP-SP-2011) – É correto afirmar quea) se trata basicamente de um texto naturalista, fundado no Deter -minismo.b) o texto revela um juízo crítico do contexto escravista da época.c) o narrador se apresenta bastante sisudo e amargo, bem ao gostomachadiano.d) o texto apresenta papéis sociais ambíguos das personagens em foco.e) os comportamentos desumanos do narrador são sutilmente des -nudados.RESOLUÇÃO:O texto representa de forma corrosivamente crítica o contexto escravista daépoca em que se passa a história, e mesmo da época de sua publicação (1881).Resposta: B5. (UNIFESP-SP-2011) – Para reforçar a caracterização do “meni-no diabo” atribuída ao narrador, é utilizado principalmente o seguinterecurso estilístico:a) amplo uso de metáforas que se reportam aos comportamentosnegativos do menino.b) seleção lexical que emprega muitos vocábulos raros à época,particularmente os adjetivos.c) recurso frequente ao discurso direto para exemplificar as tra qui -nagens do garoto.d) utilização recorrente de orações coordenadas sindéticas aditivas.e) emprego significativo de orações subordinadas adjetivas res tritivas.RESOLUÇÃO:Há diversas orações coordenadas aditivas introduzidas pela conjunção e(por exemplo: “e, não contente com o malefício, deitei um punhado decinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe quea escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seisanos”), empregadas na enumeração das traquinagens da personagem,servindo o polissíndeto como recurso intensificador.Resposta: D6. (UNIFESP-SP-2011) – Compare o trecho de Memórias Póstu -mas de Brás Cubas, de Machado de Assis, com o fragmento do poemaO Navio Negreiro – tragédia no mar, de Castro Alves. Indique aalternativa que apresenta aspectos observáveis nos dois textos.a) Tema da escravidão, contenção expressional, exploração do ritmoda frase, visão crítica da realidade.b) Ironia, exploração do ritmo da frase, intertextualidade explícita,denúncia de problemas sociais.c) Tema da escravidão, visão crítica da realidade, exploração doritmo da frase, representação do homem como objeto do homem.d) Estilo apurado, visão crítica da realidade, representação dohomem como objeto do homem, intertextualidade explícita.e) Tema da escravidão, tom arrebatado, visão crítica da realidade,estilo apurado.30 –RESOLUÇÃO:Além de os dois textos abordarem o tema da escravidão, com visão críticada realidade, e representarem o homem como vítima do homem, há, nopoema, exploração do ritmo da frase, versos redondilhos maiores e, naprosa de Machado, sequência de orações curtas, que imprimemvelocidade ao texto na enumeração das atitudes de Brás Cubas emrelação a Prudêncio, e, também, frases que alternam sílabas tônicas eátonas, como “ai, nhonhô!” e “Cala a boca, besta!”.Resposta: CTexto para os testes 7 e 8.Crescia naturalmenteFazendo estripulia,Malino e muito arguto,Gostava de zombaria.A cabeça duma escravaQuase arrebentei um dia.E tudo isso porqueUm doce me havia negado,De cinza no tacho cheioInda joguei um punhado,Daí porque a alcunhaDe “Menino Endiabrado”.Prudêncio era um meninoDa casa, que agora falo.Botava suas mãos no chãoPra poder depois montá-lo:Com um chicote na mãoFazia dele um cavalo.(Varneci Nascimento,Memórias Póstumas de Brás Cubas em Cordel)7. (UNIFESP-SP-2011) – A versão modificada, adaptada à orali da de— como usualmente se dá na produção da literatura de cordel —,apresenta termos semelhantes aos do texto original de Machado de Assis,os quais podem ser identificados em todas as palavras da alternativaa) malino, botava, inda, pra. b) estripulia, malino, inda, pra.c) estripulia, zombaria, inda, daí. d) zombaria, botava, inda, pra.e) malino, botava, zombaria, daí.RESOLUÇÃO:O termo malino corresponde, no texto de Machado de Assis, a malignos;botava, a punha; embora a Banca Examinadora tenha dado a alternativaa como resposta a este teste, as palavras inda e pra não têm equivalentesno texto de Machado de Assis. [Cabe ressaltar que a alternativa bapresenta a palavra estripulia, que corresponderia, no texto de Machado,à palavra travessura.]Resposta: A8. (UNIFESP-SP-2011) – Considere as seguintes afirmações:I. Os versos do poema possuem sete sílabas poéticas.II. O poema é composto por três sextilhas.III. As três estrofes obedecem ao esquema de rimas ABCBDB.Está correto o que se afirma ema) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas.d) I e II, apenas. e) I, II e III.RESOLUÇÃO:Os versos são agrupados em sextilhas, estrofes de seis versos, e apre -sentam sete sílabas métricas (são redondilhos maiores ou heptassílabos).O esquema de rimas ABCBDB mantém-se apenas nas duas primeirasestrofes; na terceira, há alteração: ABCBCB.Resposta: D


MÓDULO 11Literatura e Análise de Textos Literários (V)As questões de números 1 a 3 tomam por base um fragmento do livroMemórias de um Sargento de Milícias, escrito por Manuel Antônio deAlmeida (1831-1861).Era a comadre uma mulher baixa, excessivamente gorda, bona -chona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; viviado ofício de parteira, que adotara por curiosidade, e benzia dequebranto; todos a conheciam por muito beata e pela mais desabridapapa-missas da cidade. Era a folhinha mais exata de todas as festasreligiosas que aqui se faziam; sabia de cor os dias em que se diziamissa em tal ou tal igreja, como a hora e até o nome do padre; erapontual à ladainha, ao terço, à novena, ao setenário; não lhe esca -pava via-sacra, procis são, nem sermão; trazia o tempo habilmentedistribuído e as horas combinadas, de maneira que nunca lhe acon -te ceu chegar à igreja e achar já a missa no altar. De madrugadacomeçava pela missa da Lapa; apenas acabava ia à das oito na Sé, edaí saindo pilhava ainda a das nove em Santo Antônio. O seu trajehabitual era, como o de todas as mulheres da sua condição e esfera,uma saia de lila preta, que se vestia sobre um vestido qualquer, umlenço branco muito teso e engomado ao pescoço, outro na cabeça, umrosário pendurado no cós da saia, um raminho de arruda atrás daorelha, tudo isto coberto por uma clássica mantilha, junto à renda daqual se pregava uma pequena figa de ouro ou de osso. (...)(...) a mantilha era o traje mais conveniente aos costumes daépoca; sendo as ações dos outros o principal cuidado de quase todos,era muito necessário ver sem ser visto. A mantilha para as mulheresestava na razão das rótulas para as casas; eram o observatório davida alheia. (...)(...)Nesta ocasião levantava-se a Deus, e as duas beatas interrompe -ram a conversa [sobre o afilhado da comadre] para bater nos peitos.Era uma delas a vizinha do compadre, que prognosticava mau fimao menino e com quem ele prometera fazer uma estralada; a outraera uma das que tinham estado na função do batizado.A comadre, apenas ouviu isso, foi procurar o compadre; não sepen se, porém, que a levara a isso outro interesse que não fosse acurio sidade; queria saber o caso com todos os menores detalhes; issolhe dava longa matéria para a conversa na igreja e para entreter aspartu rientes que se confiavam aos seus cuidados.(Manuel Antônio de Almeida,Memórias de um Sargento de Milícias)1. (VUNESP-SP) – O sincretismo religioso, isto é, a “fusão de dife -ren tes cultos ou doutrinas religiosas” (cf. Dicionário Houaiss) eracomum em nossa cultura, na época retratada na obra de ManuelAntônio de Almeida. A descrição da comadre, feita com vivacidadepelo enunciador do texto, permite afirmar que ela é dada a essa prá -tica? Justifique sua resposta, com base em uma passagem do texto.RESOLUÇÃO:No trecho “...e benzia de quebranto; todos a conheciam por muito beatae pela mais desabrida papa-missas da cidade” (primeiro parágrafo), per -cebe-se, na caracterização da Comadre, o sincretismo religioso, ou seja, afusão de práticas religiosas diferentes, pois a personagem tanto faziarezas para afastar supostas influências de espíritos malignos (“benzia dequebranto”), uma atividade que a ligava à feitiçaria, quanto frequentavacom grande assiduidade as festas e os rituais ligados à Igreja Católica(missas, ladainhas, terços, novenas, via-sacra, procissão, sermão).2. (VUNESP-SP) – Ao referir-se ao fato de a comadre procurar ocompadre, a fim de conversar sobre o afilhado, o enunciador fornecea mesma explicação dada à razão de ela abraçar o ofício de parteira.Identifique essa explicação, relacionando-a com os costumes daépoca, especialmente com o uso da mantilha pelas mulheres.RESOLUÇÃO:Tanto o ofício de parteira que a Comadre adotara quanto a sua ida à casado Compadre tinham o mesmo motivo: a curiosidade, ou seja, apreocupação em buscar todos os detalhes sobre a vida alheia. Para isso, amantilha, peça do vestuário muito comum no tempo da narrativa e queconsistia em uma faixa de tecido que cobria como um véu o rosto dasmulheres, permitia que elas vissem os outros sem serem vistas. É o quepode ser confirmado no segundo parágrafo: “a mantilha era o traje maisconveniente aos costumes da época; sendo as ações dos outros o principalcuidado [preocupação] de quase todos, era muito necessário ver sem servisto.”3. (VUNESP-SP) – A comadre é apresentada, entre várias caracte -rísticas, como uma mulher que cumpria rigorosamente os horários.Transcreva duas passagens do fragmento em que essa qualidade estáexplícita, referindo-se à participação da personagem nas missas.RESOLUÇÃO:Os trechos que comprovam a pontualidade da Comadre em relação amissas são os seguintes (todos retirados do primeiro parágrafo): (1)“sabia de cor os dias em que se dizia missa em tal ou tal igreja, como ahora e até o nome do padre”; (2) “trazia o tempo habilmente distribuídoe as horas combinadas, de maneira que nunca lhe aconteceu chegar àigreja e achar já a missa no altar. De madrugada começava pela missa daLapa; apenas acabava ia à das oito na Sé, e daí saindo pilhava ainda a dasnove em Santo Antônio.”– 31PORTUGUÊS E


4. (FUVEST-SP) – Leia o trecho de abertura de Memórias de umSargento de Milícias e responda ao que se pede.5. (UNICAMP-SP) – O trecho abaixo pertence ao capítulo XLV(“Empenhos”), de Memórias de um Sargento de Milícias.PORTUGUÊS EEra no tempo do rei.Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e daQuitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo — Ocanto dos meirinhos —; e bem lhe assentava o nome, porque era aí olugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (quegozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hojenão são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo dorei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; for -mavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolviatodo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós umelemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores.(Manuel Antônio de Almeida,Memórias de um Sargento de Milícias)a) A frase “Era no tempo do rei” refere-se a um período históricodeterminado e possui, também, uma conotação marcada pela inde -ter minação temporal. Identifique tanto o período histórico a que serefere a frase quanto a mencionada conotação que ela tambémapresenta.RESOLUÇÃO:O período histórico a que se refere a frase é o que se inicia com a chegadada família real portuguesa ao Brasil, em 1808, sendo D. João VI o reireferido. A frase “Era no tempo do rei”, para além dessa referênciahistórica, associa-se à abertura formular de contos de fadas e semelhantes— “Era uma vez...” — e, nesse sentido, conota tempo e espaço indeter mi -nados.Isto tudo vem para dizermos que Maria-Regalada tinha um verda -deiro amor ao Major Vidigal; o Major pagava-lho na mesma moeda.Ora, D. Maria era uma das camaradas mais do coração de Maria-Regalada. Eis aí por que falando dela D. Maria e a comadre se mos -tra ram tão esperançadas a respeito da sorte do Leonardo.Já naquele tempo (e dizem que é defeito do nosso) o empenho, ocompadresco, era uma mola real de todo o movimento social.(ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de umSargento de Milícias. Cotia, Ateliê Editorial, 2000, p. 319.)a) Explique o “defeito” a que o narrador se refere.RESOLUÇÃO:O “defeito” referido pelo narrador é a ausência de fronteiras nítidas en -tre o interesse público e a vida privada, é a “dialética da malandragem”,expres são que o crítico Antonio Candido consagrou como caracteri za do -ra da diluição dos limites que separam o “mundo da ordem” e o “mundoda desordem”, a lei e a contravenção, o dever funcional e o interessepessoal. Por “empenho”, pode-se entender a troca de favores, o cliente lis -mo, e por “compadresco”, o nepotismo que era “uma mola real de todo omovimento social”, como diz o narrador.b) No trecho aqui reproduzido, o narrador compara duas épocas dife -rentes: o seu próprio tempo e o tempo do rei. Esse proce dimento éraro ou frequente no livro? Com que objetivo o narrador o adota?RESOLUÇÃO:Esse procedimento é frequente no livro, pois um dos objetivos donarrador é confrontar duas épocas — a sua (tempo da enunciação) eaquela em que ocorrem os fatos narrados (tempo do enunciado).b) Relacione o “defeito” com esse episódio, que envolveu o MajorVidigal e as três mulheres.RESOLUÇÃO:Preso pelo terrível Major Vidigal, chefe dos milicianos no Rio de Janeiro,Leonardo deveria ser, nos termos das leis e regulamentos, severamentepunido. Intercedem em seu favor D. Maria, a Comadre e Maria-Rega -lada. As esperanças da tia de Luisinha e da madrinha estavam assentadasna percepção de que o Major Vidigal seria vulnerável ao apelo sensual deMaria-Regalada e ao “verdadeiro amor” que havia entre ambos. E, maisque isso, de que seria capaz de transgredir os seus deveres funcionais, nãopunindo Leonardo e, mais tarde, promovendo-o a sargento, para atenderao pleito da mulher que desejava. O “defeito” que nisso se revela é adiluição da ordem, o “jeitinho”, a superposição da vida e dos interessespessoais aos deveres e obrigações legais. O diálogo (no capítulo XLVI)que se abre com o trecho “— Ora, a lei... O que é a lei, se o Sr. Majorquiser?...” ilustra cabalmente o “defeito” em questão.32 –


MÓDULO 12Literatura e Análise de Textos Literários (VI)As questões de números 1 a 3 baseiam-se num soneto de Antero deQuental (1842-1891) e numa fala de uma personagem de uma peça deMillôr Fernandes (1923).SOLEMNIA VERBA 1Disse ao meu coração: Olha por quantosCaminhos vãos andamos! ConsideraAgora, desta altura fria e austera,Os ermos que regaram nossos prantos...1. (VUNESP-SP) – O soneto “Solemnia Verba” desenvolve-se comoum diálogo entre duas personagens: o eu poemático e seu “coração”.O que simboliza, no poema, a personagem “coração”?RESOLUÇÃO:Em “Solemnia Verba”, o “coração” tem a função de servir como con tra -ponto ao desencanto amargo do eu lírico. É, portanto, símbolo forte daesperança no amor — o Amor maiusculizado e entendido como forçauniversal e esteio da existência, que consegue sobreviver até mesmo àssituações mais inóspitas.PORTUGUÊS EPó e cinzas, onde houve flor e encantos!E noite, onde foi luz de primavera!Olha a teus pés o mundo e desespera,Semeador de sombras e quebrantos! —Porém o coração, feito valenteNa escola da tortura repetida,E no uso do penar tornado crente,Respondeu: Desta altura vejo o Amor!Viver não foi em vão, se é isto a vida,Nem foi demais o desengano e a dor.(QUENTAL, Antero de. Os Sonetos Completos deAntero de Quental. Porto, Livraria Portuense de Lopes,1886, p. 119; primeira edição, disponível na internet em:http://purl.pt/122/1/P160.html.)1 – Solemnia verba: palavras solenes.ATRIZ(Rindo forçosamente depois que os atores saem.)Tem gente que continua achando que a vida é uma piada. Aindabem que tem gente que pensa que a vida é uma piada. Pior é a genteque pensa que o homem é o rei da criação. Rei da criação, eu, hein?Um assassino nato, usufruidor da miséria geral — se você come,alguém está deixando de comer, a comida não dá para todos, não —de que é que ele se ri? De que se ri a hiena? Se não for atropeladoficará no desemprego, se não ficar desempregado vai pegar umenfisema, será abandonado pela mulher que ama — mas ama, hein?—, arrebentado pelos filhos — pelos pais, se for filho —, mordido decobra ou ficará impotente. E se escapar de tudo ficará velho, senil,babando num asilo. Piada, é? Pode ser que haja vida inteligente emoutro planeta, neste, positivamente, não. O homem é o câncer daTerra. Estou me repetindo? Pois é: corrompe a natureza, fura túneis,empesta o ar, emporcalha as águas, apodrece tudo onde pisa. Fiquetranquilo, amigo: o desaparecimento do ser humano não fará amínima diferença à economia do cosmos.(FERNANDES, Millôr. Computa, Computador, Computa.3.ª ed. Rio de Janeiro, Nórdica, 1972, p. 85.)2. (VUNESP-SP) – Os dois textos apresentados identificam-se porexpressar, sob pontos de vista distintos, a decepção e o pessimismo dohomem com relação à vida e ao mundo. Diferenciam-se, todavia, naatitude final que apresentam ante essa decepção. Releia-os, atenta -mente, e explique essa diferença de atitude.RESOLUÇÃO:No primeiro texto, Antero de Quental exprime uma postura orientadapela esperança, pois acredita que a dor constante da vida e a devastaçãogerada pelo homem são compensadas pela perspectiva final da existência,da qual se divisa o grande ideal do Amor.No segundo texto, Millôr Fernandes expressa uma atitude niilista, poisconclui que a espécie humana, extremamente agressiva, canalha emiserável, “não fará a mínima diferença à economia do cosmos” quandodesaparecer.– 33


PORTUGUÊS E3. (VUNESP-SP) – Se um estudante emprega, numa disserta ção, overbo ter no sentido de “existir”, numa frase como “Tem muitosalunos na escola”, é penalizado na correção pelo professor, querecomenda nesse caso o emprego do verbo haver. O mesmo professorconsiderará perfeitamente normal que a personagem feminina da peçade Millôr Fernandes empregue, por duas vezes, “Tem gente”.Justifique por que essas atitudes do professor não são contraditórias.RESOLUÇÃO:As atitudes do professor não são contraditórias, pois se referem acontextos linguísticos diferentes. Quando, numa dissertação ou outrotrabalho escolar, o professor condena o emprego do verbo ter no lugar dehaver, ele está chamando a atenção do aluno para o fato de que o uso deter, no sentido de “existir”, é popular e coloquial, só devendo ocorrer compropriedade em situações informais. Portanto, é perfeitamente aceitável,num contexto como o da peça teatral de Millôr Fernandes, que apersonagem empregue a variante popular, porque esta condiz com oambiente e a situação representados.O catecismo começou a infundir-me o temor apavorado dos orá -cu los obscuros. Eu não acreditava inteiramente. Bem pensando,acha va que metade daquilo era invenção malvada do Sanches. Equando ele se punha a contar histórias de castidade, sem atenção àparvidade da matéria do preceito teológico, mulher do próximo,Conceição da Virgem, terceiro-luxúria, brados ao céu pela sensua -lidade contra a natureza, vantagens morais do matrimônio, e porquea carne, a inocente carne, que eu só conhecia condenada pelaquaresma e pelos monopolistas do bacalhau, a pobre carne do beef,era inimiga da alma; quando retificava o meu engano, que era outraa carne e guisada de modo especial e muito especialmente trinchada,eu mordia um pedacinho de indignação contra as calúnias à santacartilha do meu devoto credo. Mas a coisa interessava e eu iacolhendo as informações para julgar por mim oportunamente.Na tabuada e no desenho linear, eu prescindia do colega maisvelho; no desenho, porque achava graça em percorrer os caprichosostraços, divertindo-me a geometria miúda como um brinquedo; natabuada e no sistema métrico, porque perdera as esperanças depassar de medíocre como ginasta de cálculos e resolvera deixar aMaurílio ou a quem quer que fosse o primado das cifras.Em dois meses tínhamos vencido por alto a matéria toda do curso;e, com este preparo, sorria-me o agouro de magnífico futuro, quandoveio a fatalidade desandar a roda.(POMPEIA, Raul. O Ateneu.Rio de Janeiro, Biblioteca Universal Popular, 1963.)As questões de números 4 a 7 tomam por base um fragmento doromance O Ateneu, de Raul Pompeia (1863-1895), em que o narradorcomenta suas reações ao ensino que recebia no colégio:4. (VUNESP-SP) – Nesta passagem de O Ateneu, romance que acrítica literária ainda hesita em classificar dentro de um único estiloliterário, a personagem narradora se refere ao ensino de religião cristã,desenho e matemática, mostrando atitudes diferentes com relação aosconteúdos de cada disciplina. Releia o texto e, a seguir, explique arazão de a personagem narradora declarar, no penúltimo parágrafo,que prescindia do colega mais velho no aprendizado de desenho.RESOLUÇÃO:Diferentemente do que ocorria com o estudo da tabuada e do sistemamétrico, matérias que já não seduziam o narrador, visto que ele se diz,nelas, um “medío cre” sem esperanças, o trabalho com o desenho o atraíae entretinha: “achava graça em percorrer os caprichosos traços,divertindo-me a geometria miúda como um brinquedo”. Este o motivopelo qual, no caso, ele “prescindia do colega mais velho”, cujo auxílio lhevalia no estudo de religião e seria inútil no de matemática.34 –O ATENEUA doutrina cristã, anotada pela proficiência do explicador, foiocasião de dobrado ensino que muito me interessou. Era o céu aber -to, rodeado de altares, para todas as criações consagradas da fé. Cu -rio so encarar a grandeza do Altíssimo; mas havia janelas para opurgatório a que o Sanches se debruçava comigo, cuja vista muitomais seduzia. E o preceptor tinha um tempero de unção na voz e nomodo, uma sobranceria de diretor espiritual, que fala do pecado semmacular a boca. Expunha quase compungido, fincando o olhar noteto, fazendo estalar os dedos, num enlevo de abstração religiosa;expunha, demo rando os incidentes, as mais cabeludas manifestaçõesde Satanás no mundo. Nem ao menos dourava os chifres, que me nãofizessem medo; pelo contrário, havia como que o capricho de surpre -ender com as fantasias do Mal e da Tentação, e, segundo o linea -mento do Sanches, a cauda do demônio tinha talvez dois metros maisque na realidade. Insinuou-me, é certo, uma vez, que não é tão feio odito, como o pintam.


5. (VUNESP-SP) – No primeiro parágrafo, a personagem Sanches,aluno mais velho que atuava como espécie de preceptor para osestudos de Sérgio, o mais novo, refere-se a duas entidades da reli giãocristã, contextualizando valores opostos a cada uma delas. Iden ti fiqueas duas entidades e os valores a que estão respectivamente associadas.RESOLUÇÃO:As entidades referidas são Deus (“o Altíssimo”) e Satanás. Os valores aque estão associadas tais entidades são o Bem (a virtude), no caso deDeus, e o Mal, a Tentação (o pecado), no caso de Satanás.7. (VUNESP-SP) – Ao focalizar os pecados contra as virtudesestipuladas pela religião, no segundo parágrafo, o narrador de certomodo se diverte e faz um jogo de palavras com duas diferentes acep -ções de carne. Releia atentamente o pará grafo e explique esse jogo depalavras.RESOLUÇÃO:Quando se falava em “pecados da carne”, a ingenui dade do narrador olevava a pensar em carne bovina, que era a referência única da palavraem seu reper tó rio infantil. Seu instrutor em matéria religiosa, que seenlevava na exposição das “mais cabeludas mani fes ta ções de Satanás nomundo”, corrigia-o pressurosa men te, esclarecendo tratar-se de outra“carne”, que se prepara e come de outra maneira... Tais esclareci mentoseram para o menino, ao mesmo tempo, motivo de indignação e interesse.PORTUGUÊS E6. (VUNESP-SP) – Embora no uso popular a palavra agouro apre -sen te muitas vezes a acepção de “previsão ruim”, seu significado ori -gi nal não tem essa marca pejorativa, mas, simplesmente, o de prog -nós tico, previsão, predição, augúrio. Leia atentamente o último pará -gra fo do fragmento de O Ateneu e, a seguir, explique, compro vandocom base em elementos do contexto, em que sentido o narrador em -pre gou a palavra agouro.RESOLUÇÃO:O contexto em que se encontra a palavra agouro, núcleo do sujeito daoração, é enfaticamente positivo, seja no verbo metafórico — “sorria-me”— que constitui o seu predicado —, seja no complemento nominal que aacompanha — “de magnífico futuro”. Portanto, o sentido de agouro sópode ser “prognóstico, previsão”, sem qualquer traço negativo.– 35


MÓDULO 13Literatura e Análise de Textos Literários (VII)PORTUGUÊS E1. (FUVEST-SP-2011) – Leia o excerto de A Cidade e as Serras, deEça de Queirós, e responda ao que se pede.Era um domingo silencioso, enevoado e macio, convidando àsvoluptuosidades da melancolia. E eu (no interesse da minha alma)sugeri a Jacinto que subíssemos à basílica do Sacré-Coeur, emconstrução nos altos de Montmartre. (...)Mas a basílica em cima não nos interessou, abafada em tapumese andaimes, toda branca e seca, de pedra muito nova, ainda semalma. E Jacinto, por um impulso bem jacíntico, caminhou gulosa men -te para a borda do terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento,na planície cinzenta, a cidade jazia, toda cinzenta, como uma vasta egrossa camada de caliça* e telha. E, na sua imobilidade e na suamudez, algum rolo de fumo**, mais tênue e ralo que o fumear de umescombro mal apagado, era todo o vestígio visível de sua vidamagnífica.b) Tendo em vista o contexto histórico da obra, por que é Paris a ci -da de escolhida para representar a vida urbana? Explique sucin ta -mente.RESOLUÇÃO:Paris foi a “capital do século XIX”: ao mesmo tempo um grande centrocultural e a cidade progressista por excelência, em razão das reformasurbanas de Haussmann, da incorporação à vida das últimas novidadestecnológicas, do prestígio de sua vida social, que justificavam seu poderirradiador de modas de todo tipo.*Caliça: pó ou fragmentos de argamassa ressequida que sobram deuma construção ou resultam da demolição de uma obra de alvenaria.**Fumo: fumaça.a) Em muitas narrativas, lugares elevados tornam-se locais em quese dão percepções extraordinárias ou revelações. No contexto daobra, é isso que irá acontecer nos “altos de Montmartre”, referidosno trecho? Justifique sua resposta.RESOLUÇÃO:Nos “altos de Montmartre”, Jacinto, com Paris toda diante dos olhos, temcomo uma “revelação” da natureza ilusória e perversa da grande cidadee, pela primeira vez, cede, ou começa a ceder, à visão crítica de Zé Fer -nandes.c) Sintetizando-se os termos com que, no excerto, Paris é descrita,que imagem da cidade finalmente se obtém? Explique sucinta -mente.RESOLUÇÃO:Em oposição à imagem convencional de uma Paris brilhante, rica edinâmica, a cidade “jazia, toda cinzenta”, diante dos olhos dosprotagonistas que a contemplavam de longe, sem ser envolvidos por seuritmo febril nem iludidos por seus encantos inconsistentes.36 –


2. (UNICAMP-SP) – Leia a seguir um trecho de A Cidade e asSerras:— Sabes o que eu estava pensando, Jacinto?... Que te aconteceuaquela lenda de Santo Ambrósio... Não, não era Santo Ambrósio...Não me lembra o santo. Ainda não era mesmo santo, apenas umcavaleiro pecador, que se enamorara de uma mulher, pusera toda asua alma nessa mulher, só por a avistar a distância na rua. Depois,uma tarde que a seguia, enlevado, ela entrou num portal de igreja, eaí, de repente, ergueu o véu, entreabriu o vestido e mostrou ao pobrecavaleiro o seio roído por uma chaga! Tu também andavas namoradoda serra, sem a conhecer, só pela sua beleza de verão. E a serra, hoje,zás! de repente, descobre a sua grande chaga... É talvez a tuapreparação para S. Jacinto.(QUEIRÓS, Eça de. A Cidade e as Serras.São Paulo, Ateliê Editorial, 2007, p. 252.)3. (FUVEST-SP) – Os romances de Eça de Queirós costumam apre -sen tar críticas a aspectos importantes da sociedade portuguesa, fre -quentemente acompanhadas de propostas (explícitas ou implícitas) dereforma social. Em A Cidade e as Serras,a) qual o aspecto que se critica nas elites portuguesas?RESOLUÇÃO:Critica-se o abandono da terra natal, visto que essas elites se deixavamseduzir pela cultura francesa, pelo ócio endinheirado e por uma ideia decivilização como “armazenamento” de comodidades, para seu exclusivobenefício. Pode-se dizer que a crítica se dirige à alienação das elitesportuguesas perante os problemas sociais em seu país.PORTUGUÊS Ea) Explique a comparação feita por Zé Fernandes. Especifique a quechaga ele se refere.RESOLUÇÃO:Zé Fernandes compara a visão que Jacinto tem da serra à imagem que osanto ou cavaleiro pecador tem de uma mulher: há em ambas as situaçõeso enlevo inicial e o choque com a descoberta de uma chaga. Deve-seentender, no caso de Jacinto, que chaga é uma metáfora que representa afome, as doenças e a miséria que existiam na serra.b) Que significado a descoberta dessa chaga tem para Jacinto e paraa compreensão do romance?RESOLUÇÃO:A chaga é metáfora da pobreza, da má situação de vida dos camponeseslusos. Jacinto, ao descobrir essa “chaga”, procura resolver paternalista -mente a situação social dos camponeses, torna-se o “pai dos pobres”, um“Dom Sebastião”, segundo João Torrado. Para a compreensão doromance, a descoberta dessa “chaga” indica a necessidade de melhorar ascondições de vida no campo, mas sem afrontar a harmonia e a vitalidadeda natureza.b) qual é a relação, segundo preconiza o romance, que essas elitesdeveriam estabelecer com as classes subalternas?RESOLUÇÃO:A proposta do romance é uma reforma social, encabeçada pelos maisprivilegiados, que promovesse a assistência social por meio do amparo eproteção aos menos favorecidos. Quando Jacinto, o protagonista doromance, teve seu apelido mudado de “Príncipe da Grã-Ventura” para“Pai dos Pobres”, esse caráter paternalista fica evidenciado, como se viuna resposta à questão 1, item b.– 37


Texto para as questões 4 e 5.Textos para a questão 6.PORTUGUÊS ENo entanto Jacinto, desesperado com tantos desastres humi lha do -res — as torneiras que dessoldavam, os elevadores que emper ravam,o vapor que se encolhia, a eletricidade que sumia, decidiu valorosa -mente vencer as resistências finais da matéria e da força por novas emais poderosas acumulações de mecanismos. E nessas semanas deabril, enquanto as rosas desabrochavam, a nossa agitada casa, entreaquelas quietas casas dos Campos Elísios que preguiçavam ao sol,incessantemente tremeu, envolta num pó de caliça e de empreitada,com o bruto picar de pedra, o retininte martelar de ferro.4. O trecho transcrito foi extraído do quinto capítulo de A Cidade eas Serras, de Eça de Queirós, e se associa à crença que tem o prota -gonista, Jacinto, nos avanços técnicos como chave para a felicidade.Qual a relação que a visão queirosiana apresentada no trecho tem como famoso ideal humanista (já presente, por exemplo, no episódio de“O Gigante Adamastor”, em Os Lusíadas, de Camões), segundo oqual o Homem existe para dominar a Natureza?RESOLUÇÃO:Eça de Queirós mostra de maneira irônica o fracasso da civilização doséculo XIX, pois esta não conseguiu realizar o ideal humanista dedomínio da Natureza, como fica evidente no trecho transcrito, em que sealude à ineficiência de alguns artefatos.Texto IDesde o berço, onde a avó espalhava funcho e âmbar para afu -gentar a Sorte-Ruim, Jacinto medrou com segurança, a rijeza, a seivarica dum pinheiro das dunas.Não teve sarampo e não teve lombrigas. As letras, a Tabuada, oLatim entraram por ele tão facilmente como o sol por uma vidraça.Entre os camaradas, nos pátios dos colégios, erguendo a sua espadade lata e lançando um brado de comando, foi logo o vencedor, o reique se adula e a quem se cede a fruta das merendas.Texto IIE nunca o meu Príncipe (que eu contemplava esticando os suspen -sórios) me pareceu tão corcovado, tão minguado, como gasto poruma lima que desde muito andasse fundamente limando. Assim vierafindar, desfeita em Civilização, naquele super-requintado magricelasem músculo e sem energia, a raça fortíssima dos Jacintos!6. É bastante conhecida a tese de Rousseau de que o Homem nascebom, sendo a sociedade responsável por sua corrupção. Como essaafirmação pode ser associada aos excertos transcritos, extraídos de ACidade e as Serras?RESOLUÇÃO:Os trechos mostram como Jacinto era, em sua infância, fase maispróxima de sua essência primitiva, cheio de energia, de vida. Civilizandose,ou seja, em contato mais intenso com a sociedade, perdeu suavitalidade.5. Na passagem transcrita, apesar de ela fazer parte da fase urbana danarrativa, a Natureza não deixa de, discretamente, estar presente,como em vários outros momentos do livro. Com base no excertoapresentado, explique como tal fato ocorre.RESOLUÇÃO:A Natureza está presente tanto na primeira parte (tese) como na segundaparte (antítese) de A Cidade e as Serras, nas descrições de ambientes,como se percebe, no trecho, em “enquanto as rosas desabrochavam”.38 –


MÓDULOS 14 E 15 Literatura e Análise de Textos Literários (VIII e IX)1. (UNICAMP-SP-2011) – Leia o texto a seguir e responda ao quese pede.ENTRE LUZ E FUSCOEntre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante. Nemdurou muito a nossa despedida, foi o mais que pôde, em casa dela, nasala de visitas, antes do acender das velas; aí é que nos despedimosde uma vez. Juramos novamente que havíamos de casar um com ooutro, e não foi só o aperto de mão que selou o contrato, como noquintal, foi a conjunção das nossas bocas amorosas... talvez risqueisso na impressão, se até lá não pensar de outra maneira; se pensar,fica. E desde já fica, porque, em verdade, é a nossa defesa. O que omandamento divino quer é que não juremos em vão pelo santo nomede Deus. Eu não ia mentir ao seminário, uma vez que levava umcontrato feito no próprio cartório do céu. Quanto ao selo, Deus,como fez as mãos limpas, assim fez os lábios limpos, e a malícia estáantes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes...oh! minha doce companheira da meninice, eu era puro, e puro fiquei,e puro entrei na aula de S. José, a buscar de aparência a investidurasacerdotal, e antes dela a vocação. Mas a vocação eras tu, ainvestidura eras tu.(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro.Cotia, Ateliê Editorial, 2008, p. 195-196.)b) No emprego da segunda pessoa, não há coincidência do inter -locutor. Indique duas marcas linguísticas que evidenciam essa nãocoincidência, explicitando qual é o interlocutor em cada caso.RESOLUÇÃO:Em “a malícia está antes na tua cabeça perversa”, o pronome de segundapessoa refere-se ao leitor, interlocutor cuja presença no texto é eviden -ciada pelo teor metalinguístico do trecho. Em “a vocação eras tu, a inves -tidura eras tu”, o vocativo anterior — “oh! minha doce companheira dameninice” — explicita a referência à personagem Capitu.PORTUGUÊS Ea) Em que medida a imagem presente no título deste capítulo deDom Casmurro define a natureza da narrativa do romance?RESOLUÇÃO:A expressão do título do capítulo pode ser entendida como definidora danatureza ambígua da narrativa de Dom Casmurro, em que o aconte ci -men to central da história — o adultério de Capitu — resta incerto,indefinido, como “entre luz e fusco”, ou seja, na zona de sombra entreclaridade e escuridão.2. (UNICAMP-SP) – Leia o seguinte capítulo do romance DomCas mur ro, de Machado de Assis:CAPÍTULO XLUMA ÉGUAFicando só, refleti algum tempo e tive uma fantasia. Já conheceisas minhas fantasias. Contei-vos a da visita imperial; disse-vos a destacasa do Engenho Novo, reproduzindo a de Matacavalos... A imagi na -ção foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, in -quieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capazde engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido emTácito que as éguas iberas concebiam pelo vento; se não foi nele, foinoutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seuslivros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande éguaibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo deAlexandre; mas deixemos de metáforas atrevidas e impróprias dosmeus quinze anos. Digamos o caso simplesmente. A fantasia daquelahora foi confessar a minha mãe os meus amores para lhe dizer quenão tinha vocação eclesiástica. A conversa sobre vocação tornavameagora toda inteira e, ao passo que me assustava, abria-me umaporta de saída. “Sim, é isto”, pensei; “vou dizer a mamãe que nãotenho vocação e confesso o nosso namoro; se ela duvidar, conto-lheo que se passou outro dia, o penteado e o resto...”(Dom Casmurro, in ASSIS, Machado de. Obra Completaem Quatro Volumes. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2008, p. 975.)– 39


PORTUGUÊS Ea) Explique a metáfora empregada pelo narrador, neste capítulo, paracaracterizar sua imaginação.RESOLUÇÃO:A imaginação de Bentinho era muito fecunda, rápida e audaciosa,embora às vezes se mostrasse mais recolhida. A imagem das éguas iberasoferece diversos pontos de semelhança para sustentar a metáfora,sobretudo fertilidade, velocidade e arrojo.3. (UNICAMP-SP) – Leia a passagem abaixo, de Dom Casmurro:Se eu não olhasse para Ezequiel, é provável que não estivesseaqui escrevendo este livro, porque o meu primeiro ímpeto foi correrao café e bebê-lo. Cheguei a pegar na xícara, mas o pequeno beijavamea mão, como de costume, e a vista dele, como o gesto, deu-meoutro impulso que me custa dizer aqui; mas vá lá, diga-se tudo. Cha -mem-me embora assassino; não serei eu que os desdiga ou contradi -ga; o meu segundo impulso foi criminoso. Inclinei-me e perguntei aEzequiel se já tomara café.(Dom Casmurro, in ASSIS, Machado de. Obra Completa.vol. 1, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, p. 936.)a) Explique o “primeiro ímpeto” mencionado pelo narrador.RESOLUÇÃO:O “primeiro ímpeto” mencionado corresponde à sua vontade de suicidarse,bebendo o café envenenado.b) Por que o narrador admite que seu “segundo impulso” foi cri -minoso?RESOLUÇÃO:O “segundo impulso” foi criminoso porque o narrador, desistindo desuicidar-se, pensou em sugerir ao filho que tomasse o café envenenado, oque poderia justificar a sua designação de assassino.b) De que maneira a imaginação de Bentinho, assim caracterizada, serelaciona com a temática amorosa neste capítulo? E no romance?RESOLUÇÃO:Neste capítulo, Bentinho lembra que, quando adolescente, imaginouconfessar à austera mãe, Dona Glória, o amor que ele tinha por Capitu,as primeiras carícias que trocara com ela e a falta de vocação que sentiaem si para a vida eclesiástica. No romance, o fato de o narradorpersonagemter uma imaginação fértil coloca sob suspeita a sua versãodos fatos, fundada na crença de que Escobar se tornara amante de Capitue que Ezequiel seria fruto desse adultério.c) O episódio da xícara de café está diretamente relacionado com aredação do livro de memórias de Bento Santiago. Por quê?RESOLUÇÃO:As memórias de Bento Santiago, a sua autobiografia, configuram amodalidade do romance de confissão, na qual o eu-narrador recompõe opassado e o reinterpreta. Esta é, de início, a intenção do memorialista:“atar as duas pontas da vida”. Nesse sentido, a “procura do tempoperdido”, os atos falhos de suicídio e homicídio são instantes cruciais datragédia emocional e conjugal do narrador, momento-limite entre o ser eo não ser, como ele confessa no início do parágrafo, e que condensamquase todos os recursos narrativos do vasto repertório de Dom Casmurro:a narração, a reflexão digressiva, o apelo ao leitor, o estilo ziguezagueante(“deu-me outro impulso que me custa dizer aqui; mas vá lá, diga-setudo”), característico de um narrador problemático e indeciso.40 –


4. (FUVEST-SP)— Você janta comigo, Escobar?— Vim para isto mesmo.Minha mãe agradeceu-lhe a amizade que me tinha e ele respondeucom muita polidez, ainda que um tanto atado, como se carecesse depalavra pronta. (...)Todos ficaram gostando dele. Eu estava tão contente como seEscobar fosse invenção minha. José Dias desfechou-lhe dois superla -ti vos, tio Cosme dois capotes e prima Justina não achou tacha que lhepôr; depois, sim, no segundo ou terceiro domingo, veio ela confes sarnosque o meu amigo Escobar era um tanto metediço e tinha unsolhos policiais a que não escapava nada.— São os olhos dele, expliquei.— Nem eu digo que sejam de outro.— São olhos refletidos, opinou tio Cosme.— Seguramente, acudiu José Dias; entretanto, pode ser que asenhora D. Justina tenha alguma razão. A verdade é que uma coisanão impede outra, e a reflexão casa-se muito bem à curiosidadenatural. Parece curioso, isso parece, mas...— A mim parece-me um mocinho muito sério, disse minha mãe.— Justamente! confirmou José Dias para não discordar dela.Quando eu referi a Escobar aquela opinião de minha mãe (semlhe contar as outras, naturalmente), vi que o prazer dele foi extraordi -ná rio. Agradeceu, dizendo que eram bondades, e elogiou tambémminha mãe, senhora grave, distinta e moça, muito moça... Que idadeteria?(Machado de Assis, Dom Casmurro)Identifique o papel que cada uma das personagens que aparecem notrecho de Dom Casmurro desempenha na composição da referida“parentela”.RESOLUÇÃO:Escobar: representa a categoria dos “conhecidos que aspiram à proteção(...)”. O fragmento deixa patente a intenção da personagem de agradar ebajular o amigo que fez no seminário e, especialmente, a mãe deste, comose observa no último parágrafo.D. Glória (mãe de Bentinho): representa o que Roberto Schwarzdenomina o centro da parentela, o “proprietário mais considerável”. Erauma viúva rica, cujo patrimônio provinha de rendimentos daspropriedades e de escravos, arrendados ou alugados. Na visão do crítico,D. Glória compõe, com o círculo de parentes, agregados e dependentes emdiversos graus, um microcosmo da sociedade brasileira no SegundoReinado.José Dias: é o agregado, figura característica da estrutura patriarcal. É ohomem que, não sendo escravo nem empregado, não era tambémparente, mas vivia sob a proteção do “senhor”, ao qual devia obediênciae favores, retribuídos com trabalhos diversos e uma subserviênciaconstante. Personagem das mais interessantes da galeria machadiana, é o“homem dos superlativos”, que “sabia opinar, obedecendo” e que foiagregado à família pelo falecido pai de Bentinho, a quem se apresentoucomo “médico homeopata”, atribuindo a si mesmo algumas curas. Viven -do desde então com a família, faz da esperteza, da dissimulação, da perspicáciana observação das relações de poder e conveniência, uma formade sobreviver, da maneira mais favorável, num meio ao qual não pertencepropriamente.Tio Cosme: é, também viúvo, o parente que se coloca sob o teto e aproteção da matriarca.Prima Justina: representa uma situação semelhante à de tio Cosme, ecabe observar que a agregação de ambos à estrutura familiar de DonaGlória se prende à convenção de que, viúva, a matriarca não deveriaviver sob o mesmo teto com um homem solteiro, o agregado José Dias.Assim, convocados a se abrigar sob a proteção da viúva Santiago, serviamcomo “biombo”, que preservava o decoro e as aparências.PORTUGUÊS Ea) Um crítico afirma que, “examinada em suas relações, a populaçãode Dom Casmurro compõe uma parentela, uma dessas grandesmoléculas sociais do Brasil tradicional, no centro da qual está umproprietário mais considerável, cercado de figuras que podemincluir, entre outros, um ou mais agregados, vizinhos com obriga -ções, comensais, parentes pobres em graus diversos, conhecidosque aspiram à proteção (...).” (Adaptado de Roberto Schwarz,Duas Meninas)– 41


PORTUGUÊS Eb) Na conversação apresentada no trecho, as falas de José Dias refle -tem a posição social que ele ocupa nessa “parentela”? Justifiquesua resposta.RESOLUÇÃO:“— Seguramente, acudiu José Dias; entretanto, pode ser que a senhoraD. Justina tenha alguma razão” e “— Justamente! confirmou José Diaspara não discordar dela.” Essas duas intervenções do agregado sãoexemplares de sua posição subserviente e sua habilidade em “opinarobedecendo”. No primeiro instante, parece dar razão à Prima Justina,que identifica o caráter “um tanto metediço” e os “olhos policiais” deEscobar. No instante seguinte, contradiz-se e concorda também com D.Glória, a quem Escobar parecia “um mocinho muito sério”.CXXXVOTELOJantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamenteOtelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto eestimei a coincidência. Vi as grandes raivas do mouro, por causa deum lenço — um simples lenço! —, e aqui dou matéria à meditação dospsicólogos deste e de outros continentes, pois não me pude furtar àobservação de que um lenço bastou a acender os ciúmes de Otelo ecompor a mais sublime tragédia deste mundo. Os lenços perderamse,hoje são precisos os próprios lençóis; alguma vez nem lençóis há,e valem só as camisas. Tais eram as ideias que me iam passando pelacabeça, vagas e turvas, à medida que o mouro rolava convulso, e Iagodestilava a sua calúnia. Nos intervalos não me levantava da cadeira;não queria expor-me a encontrar algum conhecido. As senhorasficavam quase todas nos camarotes, enquanto os homens iam fumar.Então eu perguntava a mim mesmo se alguma daquelas não teriaamado alguém que jazesse agora no cemitério, e vinham outrasincoerências, até que o pano subia e continuava a peça. O último atomostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas deDesdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro,e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.5. (FUVEST-SP) – O narrador afirma, no capítulo CXXXV, que“não vira nem lera nunca” Otelo e que estimou a coincidência, aochegar ao teatro.a) A que coincidência está se referindo?RESOLUÇÃO:Bentinho alude à coincidência entre o seu drama pessoal, centrado nociúme doentio e na suposta traição de sua esposa, e o núcleo dramático deOtelo, de Shakespeare, tragédia que se desenvolve em torno do mesmotema. O romance machadiano estabelece com a peça clássica umaconstante relação de intertextualidade. Já a partir da teoria do velho tenorMarcolini, exposta no capítulo IX, de que “a vida é uma ópera”, eendossada pelo narrador no capítulo seguinte, evidencia-se o paralelo, àsvezes desdobrado em paródia, entre o romance e a encenação dramática.Bentinho/D. Casmurro é Otelo, Capitu é Desdêmona, Escobar é Cássio, e aconsciência atormentada do narrador é Iago, a espicaçar-lhe o mórbidociúme. Como admitia o narrador, ele primeiro constituiu, como numa mon -tagem operística, um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor.Textos para as questões de 5 a 10.42 –LXXIIUMA REFORMA DRAMÁTICANem eu, nem tu, nem ela, nem qualquer outra pessoa destahistória poderia responder mais, tão certo é que o destino, comotodos os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho.Eles chegam a seu tempo, até que o pano cai, apagam-se as luzes eos espectadores vão dormir. Nesse gênero há porventura algumacoisa que reformar, e eu proporia, como ensaio, que as peçascomeçassem pelo fim. Otelo mataria a si e a Desdêmona no primeiroato, os três seguintes seriam dados à ação lenta e decrescente dociúme e o último ficaria só com as cenas iniciais da ameaça dosturcos, as explicações de Otelo e Desdêmona, e o bom conselho dofino Iago: “Mete dinheiro na bolsa.” Desta maneira, o espectador,por um lado, acharia no teatro a charada habitual que os periódicoslhe dão, porque os últimos atos explicariam o desfecho do primeiro,espécie de conceito, e, por outro lado, ia para a cama com uma boaimpressão de ternura e de amor.


) Ele já tornara a peça assunto do capítulo LXXII, mas apenas agoratem ocasião de vê-la. Do ponto de vista da estru tura do romance,isso implicaria alguma contra di ção? Justificar, se for o caso.RESOLUÇÃO:Não há contradição. A ordem cronológica da ação do roman ce é truncadapelas digressões do narrador, que, posicionado no presente da narração,da escrita de suas memórias, interfere livremente no passado e na açãopara comentá-los. A técnica impressionista de recompor o passadoatravés de “manchas” de recordação permite, pela imposição do tempopsicológico, a fusão de presente e passado. O capítulo LXXII, de carátermetalin guístico, é uma reflexão do memorialista que interrompe e elucidaa ação romanesca. O capítulo CXXXV integra a própria ação doromance, recapitulando o passado. Não há, portanto, qualquercontradição estru tural no fato de, no capítulo LXXII, o narrador revelaro conhecimento de uma peça que a personagem, na sequência da ação, sóveria no capítulo CXXXV. Basta não confundir narrador e personagem.7. (FUVEST-SP) – Como bom espectador, o narrador sabia que Des -dê mona era inocente. Por que ele não se compadece da morte dela?RESOLUÇÃO:A tragédia de Shakespeare deixa patente a inocência de Desdêmona, e aprova incriminatória, o fatídico lenço, não passou de um ardil de Iago,que materializou, na consciência atormen tada de Otelo, a convicção doadultério. Bentinho, contudo, está tão envolvido nas teias do ciúme, e onarrador é tão solidário com Otelo, que a inocência de Desdêmona éirrelevante. O narrador-personagem identifica-se com Otelo e, como ele,assume o papel do marido que, supondo-se traído, exerce sua “justa”vingança. É um indício da subjetividade do ponto de vista.PORTUGUÊS E6. (FUVEST-SP) – “Os lenços perderam-se, hoje são precisos ospróprios lençóis; alguma vez nem lençóis há, e valem só as camisas.”Por que o narrador contrapõe lençóis e camisas, de seu tempo, alenços, do tempo da tragédia?RESOLUÇÃO:Há, na contraposição entre os lenços do passado e os lençóis e camisas dopresente, uma crítica à decadência dos costumes do tempo de enunciaçãode Dom Casmurro. Na época retratada por Shakespeare, bastavamindícios materiais para configurar o adultério; hoje (o presente danarração, da enunciação) são necessárias provas mais contun dentes: aexibição da intimidade dos amantes, dos “lençóis”, das “camisas” (=peças íntimas).8. (FUVEST-SP) – “Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suaspalavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhedeu entre aplausos frenéticos do público.” O modo como o narradorvê a reação do público revela algo. De que se trata?RESOLUÇÃO:O narrador, equivocadamente, interpreta os aplausos do público comoaplausos ao ato de vingança de Otelo, como se o público estivesseassumin do o papel do príncipe mouro, solidário com sua ira. Na verdade,o público aplaudia o espetáculo, o desempenho dos atores, não a atitudedo marido “traído”. É mais uma evidência da importância do foconarrativo na construção de Dom Casmurro.– 43


PORTUGUÊS E9. (FUVEST-SP) – Quando o narrador propõe a refor ma dramática,no capítulo LXXII, ele compara o destino aos dramaturgos.a) O que seria de uma tragédia, caso o dramaturgo lhe invertesse atrama?RESOLUÇÃO:A solução ou a reforma aventada pelo narrador, inver ten do-se o cursodos acontecimentos para que a ação desabasse em anticlímax, transfor -ma ria a tragédia de Otelo em comédia, ou em ópera-bufa, e a açãohomicida e suicida da personagem descam baria no prosaico conselhopecuniário de Iago: “Mete dinheiro na bolsa”, numa velada crítica aopra gma tismo contemporâneo.10. (FUVEST-SP) – Ao comparar o destino humano ao destino daspersonagens de uma peça teatral, Machado retoma o tópos (lugarcomumliterário) do Theatrum Mundi (o “teatro do mundo”, ou seja,o mundo como um teatro). Explique.RESOLUÇÃO:O tópos do mundo como um teatro é recorrente na literatura e remontaa Platão, que comparou o homem a um fantoche nas mãos de Deus. Omundo como um teatro significa que o homem não possui o controle totalde seu próprio destino, assim como as personagens, manipuladas pelodramaturgo, não podem alterar o desfecho a que são submetidas: “tãocerto é que o destino, como todos os dramaturgos, não anuncia as peripé -cias nem o desfecho.”b) Na verdade, o que Bentinho buscaria reformar?RESOLUÇÃO:Ao propor sua reforma dramática, na qual a tragédia, satí rica eparodisti ca mente, terminasse em happy end, o narrador-personagem,“pressentindo” sua tragédia pessoal, procuraria inverter o curso dosacontecimentos, interferindo no próprio destino, no curso da vida.Continua, portanto, fiel ao princípio que acatou, a partir da teoria dovelho tenor Marcolini: “A vida é uma ópera.” A reforma que propõe onarrador é uma premonição do desfecho, que ele já conhece, e imaginareverter pelo discurso, pela encenação.44 –


MÓDULO 16Literatura e Análise de Textos Literários (X)1. (FUVEST-SP-2011) – Considere o seguinte excerto de O Cor -tiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede.(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com asua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiçareclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu omacho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo àsimposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queriaa mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dou -rado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimoapren deu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheirosensual dos bodes.Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam nacomposição de O Cortiço, identifique e explique aquela que se mani -festa no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a seguir:a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”.RESOLUÇÃO:É do Naturalismo a concepção de que o comportamento humano obedeceao determinismo de “raça”, ou seja, genético, como se demonstraria napropensão da mestiça, determinada por seu “sangue”, para o “macho deraça superior”.b) “cedendo às imposições mesológicas”.RESOLUÇÃO:As “imposições mesológicas” representam o determinismo do meio, ouseja, do ambiente, físico e social, sobre o comportamento humano.2. (UNICAMP-SP-2011) – Pensando nos pares amorosos, já se afir -mou que “há n’O Cortiço um pouco de Iracema coada pelo Na tu -ralismo” (Antonio Candido, “De Cortiço em Cortiço”, em O Discursoe a Cidade, São Paulo, Duas Cidades, 1993, p. 142.).Partindo desse comentário, leia o trecho a seguir e responda às ques -tões.O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperandoaos que não sabiam dançar. Mas ninguém como a Rita; só ela, sóaquele demônio tinha o mágico segredo daqueles movimentos decobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem ocheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada,harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante. (...) Naquela mulataestava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeuchegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calorvermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e dasbaunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeiravirginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era oveneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e eraa castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela eraa cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, queesvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhandolheos desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudadeda terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangueuma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela músicafeita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridasque zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numafosforescência afrodisíaca. Isto era o que Jerônimo sentia, mas o queo tonto não podia conceber. De todas as impressões daquele resto dedomingo só lhe ficou no espírito o entorpecimento de umadesconhecida embriaguez, não de vinho, mas de mel chuchurreado nocálice de flores americanas, dessas muito alvas, cheirosas e úmidas,que ele na fazenda via debruçadas confidencialmente sobre oslimosos pântanos sombrios, onde as oiticicas trescalam um aromaque entristece de saudade. (...)E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante daperfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores;assentou-se ao rebordo da cama e, segurando com uma das mãos opires e com a outra a xícara, ajudava-o a beber, gole por gole,enquanto seus olhos o acarinhavam, cintilantes de impaciência noantegozo daquele primeiro enlace. Depois, atirou fora a saia e, só decamisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doido.(AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Ficção Completa.Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2005, p. 498 e 581.)– 45PORTUGUÊS E


PORTUGUÊS Ea) Na descrição transcrita, identifique dois aspectos que permitemapro xi mar Rita Baiana de Iracema, mostrando os limites dessaseme lhança.RESOLUÇÃO:Iracema, protagonista do romance homônimo de José de Alencar, e RitaBaiana, personagem de O Cortiço, assemelham-se porque são construídascomo sínteses da natureza brasileira. Entretanto, se a primeira, comotípica heroína romântica, é associada apenas a característicasenaltecedoras, idealizadas (“o favo da jati não era doce como o seusorriso”, “mais rápida que a ema selvagem”), a segunda é ligada aelementos tanto positivos quanto negativos (“cobra amaldiçoada”, “vozarrogante”, “veneno”, “cobra verde e traiçoeira”). Outro ponto comumentre as duas personagens está na utilização que fazem de uma “poção”para consumar um processo de sedução: a primeira emprega o vinho dajurema; a segunda, o café. Há que se lembrar, no entanto, que a índiacomete um sacrilégio ao usar a droga, pois a bebida era restrita a umritual tabajara. O mesmo caráter pecaminoso não pode ser imputado aRita Baiana. Pode-se ainda lembrar que a índia e a mulata, com seu“mel” (“lábios de mel”, no romance romântico, e “mel chuchurreado nocálice de flores americanas”, no naturalista), seduzem portugueses cujas“fibras” se encontram “embambecidas pela saudade da terra”.b) Identifique uma semelhança e uma diferença entre Jerônimo eMartim.RESOLUÇÃO:Martim e Jerônimo são portugueses que têm, pelo menos em parte danarrativa, saudade de sua terra natal, mas que acabam se radicando noBrasil. Esse processo de fixação é consequência do encantamento quesentem pelo novo mundo, metaforizado nas qualidades sedutoras dasbrasileiras que encontram, Iracema e Rita Baiana, respectivamente.Entretanto, Martim é uma personagem de estrato social nobre, pois é umgrande guerreiro, ao contrário de Jerônimo, que é cavouqueiro, isto é, umsimples quebrador de pedra. Além disso, o primeiro tem um carátereminentemente passivo: não reage ao ser flechado por Iracema, éprotegido por ela e Caubi diante da sanha ciumenta de Irapuã, e suaprimeira relação sexual com a heroína se dá enquanto está drogado. Osegundo, diferentemente, é bastante ativo: prepara uma emboscada paraassassinar Firmo, namorado de Rita Baiana, e une-se conscientemente aela. Por fim, pode-se ainda lembrar que Martim é um herói que luta paramanter a integridade de seu caráter, enquanto Jerônimo, vencido pelomeio, torna-se alcoólatra e vagabundo, enche-se de dívidas e abandonaesposa e filha à miséria.46 –


3. (FUVEST-SP)Gente que mamou leite romântico pode meter o dente no rosbife*naturalista; mas em lhe cheirando a teta gótica e oriental, deixa logoo melhor pedaço de carne para correr à bebida da infância. Oh! meudoce leite romântico!(Machado de Assis, Crônicas)*Rosbife: tipo de assado ou fritura de alcatra ou filé bovinos, bem tostadoexternamente e sangrante na parte central, servido em fatias.a) A imagem do “rosbife naturalista” — empregada, com humor, porMachado de Assis, para evocar determinadas características doNaturalismo — poderia ser utilizada também para se referir acertos aspectos do romance O Cortiço? Justifique sua resposta.RESOLUÇÃO:O Cortiço, como é de esperar de uma obra naturalista, apresenta preo -cupa ção de exibir, sem eufemismo, rodeio ou censura, os aspectos maisdegra dantes do ser humano, o que é compatível com a imagem do rosbife,que é sangrento.4. (UNICAMP-SP) – Leia o seguinte comentário a respeito de OCortiço, de Aluísio Azevedo:Com efeito, o que há n’O Cortiço são formas primitivas de amea -lha mento*, a partir de muito pouco ou quase nada, exigindo uma es -pé cie de rigoroso ascetismo inicial e a aceitação de modalidadesdiretas e brutais de exploração, incluindo o furto (...) como forma deganho e a transformação da mulher escrava em companheiramáquina.(...) Aluísio foi, salvo erro meu, o primeiro dos nossos romancistasa descrever minuciosamente o mecanismo de formação da riquezaindividual. (...) N’O Cortiço [o dinheiro] se torna implicitamenteobjeto central da narrativa, cujo ritmo acaba se ajustando ao ritmoda sua acumulação, tomada pela primeira vez no Brasil como eixo dacom posição ficcional.(MELLO E SOUZA, Antonio Candido de.“De Cortiço em Cortiço”, in O Discurso e a Cidade.São Paulo, Duas Cidades, 1993, p. 129-30.)PORTUGUÊS E*Amealhar: acumular (riqueza), juntar (dinheiro) aos poucos.b) A imagem do “doce leite romântico”, que se refere a certos traçosdo Romantismo, pode remeter também a alguns aspectos do ro -man ce Iracema? Justifique sua resposta.RESOLUÇÃO:A expressão “doce leite romântico” refere-se à idealização da realidade,característica do Romantismo e presente em diversos aspectos deIracema: a fidelidade extrema a um ideal de amor, a nobreza e a bravurados guerreiros indígenas (que mais parecem cavaleiros medievais), oenaltecimento da natureza brasileira, o engrandecimento da amizadeentre Martim e Poti, o convívio harmonioso entre portugueses epitiguaras.a) Explique a que se referem o “rigoroso ascetismo inicial” da perso -na gem em questão e as “modalidades diretas e brutais de explo -ração” que ela emprega.RESOLUÇÃO:O ascetismo a que se refere Antonio Candido é o esforço austero de acú -mulo de dinheiro a que João Romão se entrega, deixando de lado velei da -des de prazer, conforto e bem-estar. Em seu afã de enriquecimento, elechegou a dormir no mesmo balcão em que atendia clientes, comia ospiores legumes de sua horta para vender os melhores, não se preocupavacom vestuário, aparência e amenidades da vida. Essa “febre deacumular”, como diz o narrador do romance, determinará no dono docortiço um comportamento brutal de exploração da massa animalizadados moradores da estalagem. Tal atitude se mostrará mais cruel em trêsmomentos: quando rouba a garrafa cheia de dinheiro do velho Libório,quando lucra com a indenização do seguro por causa do incêndio queprejudicou imensamente os inquilinos e, o mais extremo, quando enganaBertoleza, usurpando suas economias, e mais tarde a descarta semremorso em nome de um casamento de conveniência com Zulmira.– 47


) Identifique a “mulher escrava” e o modo como se dá sua trans for -mação em “companheira-máquina”.RESOLUÇÃO:A “mulher escrava” é Bertoleza, que se torna “companheira-máquina”ao viver como amante de João Romão e como instrumento das vontadesdo vendeiro, já que ela não só trabalha durante o dia na venda, como saià noite com o patrão para roubar materiais de construção.5. “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, nãoos olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.”Que figura de linguagem foi empregada no trecho acima? Explique.RESOLUÇÃO:Prosopopeia (personificação), pois foram atribuídas a um ser inanimado(o cortiço) características de um ser animado (a ação de acordar, abrir osolhos).PORTUGUÊS ETexto para as questões 5 e 6.Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não osolhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada setehoras de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência 1 deneblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente,dissolvendo-se à luz loura e tenra 2 da aurora, que nem um suspiro desaudade perdido em terra alheia.A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros 3 , umedeciao ar e punha-lhe um farto acre 4 de sabão ordinário. As pedras dochão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontosazuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita deacumulações de espumas secas.Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono;ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar 5 das ondas;pigar reava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras atilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os ou -tros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, osbons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a peque na -da cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros aba fa -dos de crian ças que ainda não andam. No confuso rumor que se for -ma va, desta ca vam-se risos, sons de vozes que altercavam 6 , sem sesaber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar degalinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cáfora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dosdonos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se 7 à luznova do dia.(Aluísio Azevedo, O Cortiço, cap. III)6. “No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons devozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos,cantar de galos, cacarejar de galinhas.”Grasnar e cacarejar são palavras de sonoridade expressiva, chamadasonomatopeias. Por quê?RESOLUÇÃO:Essas palavras são chamadas onomatopeias porque seus sons imitam ousugerem os sons reais que representam.1 – Indolência: preguiça.2– Tenro: brando.3 – Coradouro: lugar onde se põe roupa a corar ao Sol.4 – Farto acre: cheiro ácido.5– Marulhar: agitar.6– Altercar: debater.7 – Espanejar-se: sacudir-se.48 –


MÓDULO 17Literatura e Análise de Textos Literários (XI)1. (FUVEST-SP-2011) – Entre as variedades de preconceito enu me -radas a seguir, aponte aquelas que o grupo dos “capitães da areia” (doromance homônimo) rejeita e aquelas que acata e reforça: preconceitode raça e cor; de religião; de gênero (homem e mulher); de orientaçãosexual. Justifique suas respostas.RESOLUÇÃO:a) O grupo dos capitães da areia rejeita o preconceito de raça e de cor.Nele convivem mulatos, brancos e negros, sem hostilidade de caráterracial.b) O grupo rejeita também o preconceito religioso, pois nele convivemum praticante do catolicismo, como Pirulito, que mais tarde serápadre, e adeptos do candomblé, como é o caso de João Grande. Ogrupo vê como amigos tanto o padre José Pedro como a mãe de santodona Aninha.c) O preconceito de gênero existe no grupo dos capitães da areia até aadmissão de Dora. A chegada da menina ao trapiche é momento degrande tensão, porque há tentativa de estuprá-la. Após a intervençãode Pedro Bala, a integridade de Dora é preservada e ela se tornaintegrante do grupo e amante de seu protetor.d) Há preconceito de orientação sexual, pois os capitães da areiaexpulsam o homossexual passivo, cuja presença contraria o códigomoral do grupo.2. (UNICAMP-SP-2011) – Leia a passagem seguinte, de Capitãesda Areia:Pedro Bala olhou mais uma vez os homens que nas docascarregavam fardos para o navio holandês. Nas largas costas negrase mestiças brilhavam gotas de suor. Os pescoços musculosos iamcurvados sob os fardos. E os guindastes rodavam ruidosamente. Umdia iria fazer uma greve como seu pai... Lutar pelo direito... Um diaum homem assim como João de Adão poderia contar a outrosmeninos na porta das docas a sua história, como contavam a de seupai. Seus olhos tinham um intenso brilho na noite recém-chegada.(AMADO, Jorge. Capitães da Areia.São Paulo, Companhia das Letras, 2008, p. 88.)a) Que consequências a descoberta de sua verdadeira origem tempara a personagem Pedro Bala?RESOLUÇÃO:Pedro Bala, ao descobrir sua verdadeira origem, ganha a consciênciapolítica que, mais tarde, o levará ao ativismo contra a sociedade declasses. No trecho transcrito, aponta-se a gênese da transformação domenor delinquente em agente da revolução: “Um dia iria fazer uma grevecomo seu pai ... Lutar pelo direito...”PORTUGUÊS Eb) Em que medida o trecho acima pode definir o contexto literárioem que foi escrito o romance de Jorge Amado?RESOLUÇÃO:O fragmento capta a reflexão de Pedro Bala sobre a exploração dotrabalho e a necessidade da luta operária. Esse trecho liga-se ao contextoliterário do romance neorrealista da Segunda Geração Modernista (1930-1945). Esse tipo de narrativa tematiza a injustiça social e a exploração dotrabalhador, tendo como foco a região nordestina. Autores comoGraciliano Ramos, Jorge Amado e José Américo de Almeida produziramnarrativas voltadas para a denúncia de mazelas sociais.– 49


PORTUGUÊS E3. (UNICAMP-SP) – Leia o trecho seguinte, do capítulo “As Luzesdo Carrossel”, de Capitães da Areia:(...) O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola ecomeçou a música de uma valsa antiga. O rosto sombrio de VoltaSeca se abria num sorriso. Espiava a pianola, espiava os meninosenvoltos em alegria. Escutavam religiosamente aquela música quesaía do bojo do carrossel na magia da noite da cidade da Bahia sópara os ouvidos aventureiros e pobres dos Capitães da Areia. Todosestavam silencio sos. Um operário que vinha pela rua, vendo aaglomeração de meninos na praça, veio para o lado deles. E ficoutambém parado, escutando a velha música. Então a luz da lua seestendeu sobre todos, as estrelas brilharam ainda mais no céu, o marficou de todo manso (talvez que Iemanjá tivesse vindo também ouvira música) e a cidade era como que um grande carrossel onde giravamem invisíveis cavalos os Capi tães da Areia. Neste momento demúsica, eles sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aosoutros, se sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e semconforto e agora tinham o carinho e conforto da música. Volta Secanão pensava com certeza em Lampião neste momento. Pedro Balanão pensava em ser um dia o chefe de todos os malandros da cidade.O Sem-Pernas em se jogar no mar, onde os sonhos são todos belos.Porque a música saía do bojo do velho carrossel só para eles e parao operário que parara. E era uma valsa velha e triste, já esquecidapor todos os homens da cidade.(AMADO, Jorge. Capitães da Areia.São Paulo, Companhia das Letras, 2008, p. 68.)b) Qual a relação de tal contraste com o tema do livro?RESOLUÇÃO:O tema do livro é a delinquência de menores abandonados. No capítulode que se extraiu o texto, relata-se um momento de êxtase dessas crianças,ao brincarem num velho carrossel. Depreende-se que, por maismarginali zados que sejam, aos Capitães da Areia resta ainda a condiçãoessencial de crianças que se encantam. São crianças, ainda que castigadaspela injustiça social que as conduz à marginalidade.a) De que modo esse capítulo estabelece um contraste com os demaisdo romance? Quais são os elementos desse contraste?RESOLUÇÃO:O contraste notável é entre a plenitude desse momento de enlevo e asituação de precariedade, carência e insatisfação da vida dos Capitães daAreia. Os elementos desse contraste são visíveis, por exemplo, no “rostosombrio de Volta Seca”, que se “abria num sorriso”, e em “todos eles semcarinho e sem conforto e agora tinham o carinho e conforto da música”.50 –


4. (FUVEST-SP) – Considere a seguinte relação de obras: Auto daBarca do Inferno, Memórias de um Sargento de Milícias, Dom Cas -mur ro e Capitães da Areia. Entre elas, indique as duas que, de modomais visível, apresentam intenção de doutrinar, ou seja, o propósito detransmitir princípios e diretivas que integram doutrinas determinadas.Divida sua resposta em duas partes e justifique sucin tamente cadauma de suas escolhas.a) Para a primeira obra escolhida.RESOLUÇÃO:O Auto da Barca do Inferno é informado por princípios da moral cristã,pelos quais são julgados os comportamentos dos mortos prestes aembarcar, no “cais das almas”, para o mundo post-mortem, em que serãopunidos ou recompensados.5. Leia o texto a seguir e responda aos itens a e b.Logo depois transferiu-se para o trapiche [local destinado àguarda de mercadorias para importação ou exportação] o depósitodos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhascoisas entraram então para o trapiche.Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques detodas as cores e de idades as mais variadas, desde os 9 aos 16 anos,que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte edormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando,indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhospuxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às cançõesque vinham das embarcações...(AMADO, Jorge. “O Trapiche”, in Capitães da Areia.São Paulo, Livraria Martins Ed., 1937 – adaptado.)PORTUGUÊS Ea) No primeiro parágrafo, a que se refere a expressão “objetos que otrabalho do dia lhes proporcionava”?RESOLUÇÃO:Trata-se, evidentemente, dos objetos furtados ou obtidos em assaltospraticados pelos capitães da areia na cidade de Salvador.b) Para a segunda obra escolhida.RESOLUÇÃO:Capitães da Areia é um romance em que se faz a apologia da revoluçãosocialista como panaceia para as injustiças sociais decorrentes do regimecapitalista. É uma obra que busca o engajamento na luta social, tendosido por isso proibida durante o Estado Novo. A intenção de doutrinarpoliticamente o leitor é recorrente, como exemplifica o final: “E, apesarde que lá fora era o terror, qualquer daqueles lares era um lar que seabriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é umapátria e uma família.”b) “(...) indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando,indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com osolhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos àscanções que vinham das embarcações...” – Qual o contraste,quan to ao perfil dos meninos, que se estabelece no trecho trans -crito?RESOLUÇÃO:Pode-se dizer que, ao lado de sua “insensibilidade” em face do sofrimentofísico (o vento, a chuva castigando seus corpos), os capitães da areiaguardam em si uma sensibilidade àquilo que diz respeito ao espírito, àalma, pois eles mantêm seus olhos voltados para as luzes daquele seuhorizonte ponteado de navios (talvez uma espécie de “farol” de esperançanum horizonte desejado) e os ouvidos presos às canções que vinham dosbarcos. [Esta questão retoma e amplia a abordagem da questão 3.]– 51


MÓDULO 18Literatura e Análise de Textos Literários (XII)PORTUGUÊS ETexto para as questões 1 e 2.De manhã escureçoDe dia tardoDe tarde anoiteçoDe noite ardoA oeste a morteContra quem vivoDo sul cativoO este é meu norte.POÉTICA2. (UNICAMP-SP-2011)a) A poesia é um lugar privilegiado para constatarmos que a línguaé muito mais produtiva do que preveem as normas gramaticais.Isso é particularmente visível no modo como o poema explora osmarcadores temporais e espaciais. Comente dois exemplos pre -sentes no poema que confirmem essa afirmação.RESOLUÇÃO:Os marcadores espaciais e temporais aparecem associados, no poematranscrito, a ações e predicados inesperados, que se relacionam com elesem virtude de associações antitéticas (“De manhã escureço”) e de nexosaparentemente arbitrários (“O este é meu norte”) ou absurdos (“Eumorro ontem”, “Nasço amanhã”). Os sentidos assim produzidosperturbam os parâmetros semânticos habituais, obedientes às “normasgramaticais”.Outros que contemPasso por passo:Eu morro ontemNasço amanhãAndo onde há espaço— Meu tempo é quando.(Vinicius de Moraes, Antologia Poética)1. (FUVEST-SP-2011)a) Do ponto de vista da organização formal dada ao conjunto dopoema, o poeta mostra-se vinculado à tradição literária. Essaafirmação tem fundamento? Justifique sua resposta.RESOLUÇÃO:A afirmação tem fundamento porque “Poética” é um soneto, forma poé -tica tradicional que remonta ao fim da Idade Média e foi intensamentecultivada a partir do Renascimento. Ressalve-se que o soneto de Viniciusde Moraes não é ortodoxo na disposição das rimas e pode ser chamadosonetilho, em razão de seus versos curtos, de quatro ou cinco sílabas.b) Do ponto de vista da mensagem configurada no poema, o poetaexpressa sua oposição até mesmo a coordenadas fundamentais daexperiência. Você concorda com essa afirmação? Justifique suaresposta.RESOLUÇÃO:A afirmação é pertinente, porque as coordenadas fundamentais daexperiência são contrariadas pelo eu lírico na série de antíteses queresultam nos oxímoros que exprimem sua concepção da origem enatureza do fenômeno poético, que associa manhã não a claridade, mas aescuridão, situando a morte no passado e o nascimento no futuro.b) As duas últimas estrofes apresentam uma oposição entre o eulírico e os outros. Explique o sentido dessa oposição.RESOLUÇÃO:O eu lírico define-se como oposto aos outros que, diferentemente dele, sepautam pelos parâmetros habituais da experiência, em que os eventos sesucedem “passo por passo”, e passado e futuro são irredutíveis um aooutro. Na experiência do eu lírico, o futuro pode reduzir-se ao passado(“Eu morro ontem”) e o passado situar-se no futuro (“Nasço amanhã”).Diferentemente do habitual, a experiência do eu lírico não conhece limitestemporais nem espaciais: “Ando onde há espaço. / — Meu tempo équando.” [Note-se como esta questão amplia o que já se discutiu no itemb da questão anterior.]52 –


3. (FUVEST-SP) – Leia este trecho do poema de Vinicius deMoraes:MENSAGEM À POESIANão possoNão é possívelDigam-lhe que é totalmente impossívelAgora não pode serÉ impossívelNão posso.Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu[encontro.Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrarMuitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundoE as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindoA saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuoNos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lheQue a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso[reconquistar a vida.Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os[caminhosPronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.(...)(Vinicius de Moraes, Antologia Poética)a) No trecho, o poeta expõe alguns dos motivos que o impedem de irao encontro da poesia. A partir da observação desses motivos,procure deduzir a concepção dessa poesia ao encontro da qual opoeta não poderá ir: como se define essa poesia? quais suascaracterísticas principais? Explique sucintamente.RESOLUÇÃO:O poeta exprime rejeição à poesia que fuja do contato imediato com omundo e os seus problemas.4. (UNICAMP-SP) – O poeta Vinicius de Moraes, apesar de moder -nista, explorou formas clássicas, como o soneto abaixo, em versosalexandrinos (12 sílabas) rimados:SONETO DE INTIMIDADENas tardes de fazenda há muito azul demais.Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agoraMastigando um capim, o peito nu de foraNo pijama irreal de há três anos atrás.Desço o rio no vau dos pequenos canaisPara ir beber na fonte a água fria e sonoraE se encontro no mato o rubro de uma amoraVou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.Fico ali respirando o cheiro bom do estrumeEntre as vacas e os bois que me olham sem ciúmeE quando por acaso uma mijada ferveSeguida de um olhar não sem malícia e verveNós todos, animais, sem comoção nenhumaMijamos em comum numa festa de espuma.(MORAES, Vinicius de. Antologia Poética.São Paulo, Companhia das Letras, 2001, p. 86.)a) Essa forma clássica tradicionalmente exigiu tema e linguagem ele -vados. O “Soneto de Intimidade” atende a essa exigência? Jus ti fique.RESOLUÇÃO:Nem o tema, nem a linguagem desse soneto são “elevados”. Com efeito, otema é “baixo” (o congraçamento “fisiológico” com os animais) e a lin gua -gem não evita o vulgar (“cheiro bom do estrume”) e chega a beirar o chulo(“uma mijada ferve”, “mijamos em comum numa festa de espuma”).PORTUGUÊS Eb) Na “Advertência”, que abre sua Antologia Poética, Vinicius deMoraes declarou haver “dois períodos distintos”, ou duas fases, emsua obra. Considerando-se as características dominantes do tre cho,a qual desses períodos ele pertence? Justifique sua resposta.RESOLUÇÃO:“Mensagem à Poesia” pertence à segunda fase da obra de Vinicius deMoraes, pois há no texto a preocupação em fazer a poesia abandonar oinefável e buscar o cotidiano e as preocupações do mundo (“milhões decorpos a enterrar”, “criança chorando”, “é preciso reconquistar a vida”).b) Como os quartetos anunciam a identificação do eu lírico com osanimais? Como os tercetos a confirmam?RESOLUÇÃO:Os quartetos exprimem a identificação do eu lírico com os animais,apresentando-o em ações mais comumente esperadas deles: mastigarcapim (v. 3), andar sem roupa (v. 3), beber água na fonte dos rios (v. 6),comer amoras direto das árvores e cuspi-las em torno dos currais (vv. 7-8). A confirmação dessa identificação vem nos tercetos de formainusitada, na menção ao congraçamento do eu lírico com os bois e asvacas na satisfação de uma necessidade fisiológica comum.– 53


PORTUGUÊS ETexto para as questões de 5 a 7.SAUDADE DE MANUEL BANDEIRANão foste apenas um segredoDe poesia e de emoçãoFoste uma estrela em meu degredoPoeta, pai! áspero irmão.Não me abraçaste só no peitoPuseste a mão na minha mãoEu, pequenino — tu, eleitoPoeta! pai, áspero irmão.6. Qual o refrão do poema de Vinicius? Comente as transformaçõesque esse refrão sofre em suas repetições ao longo do poema.RESOLUÇÃO:O refrão é “Poeta, pai, áspero irmão”. Em cada uma das três vezes queesse refrão se repete no poema, destaca-se uma das três qualificações queVinicius atribui a Bandeira: primeiro, pai vem seguido de ponto deexclamação; na segunda ocorrência, o ponto de exclamação vem depoisde poeta; na terceira ocorrência, há um ponto de interrogação no fim doverso, ficando os três vocativos igualados na pergunta final.Lúcido, alto e ascético amigoDe triste e claro coraçãoQue sonhas tanto a sós contigoPoeta, pai, áspero irmão?(Vinicius de Moraes)RESPOSTA A VINICIUSPoeta sou; pai, pouco; irmão, mais.Lúcido, sim; eleito, não.E bem triste de tantos aisQue me enchem a imaginação.Com que sonho? Não sei bem não.Talvez com me bastar, feliz— Ah feliz como jamais fui! —,Arrancando do coração— Arrancando pela raiz —Este anseio infinito e vãoDe possuir o que me possui.(Manuel Bandeira)7. Explique o sentido da resposta de Bandeira à pergunta de Vinicius.RESOLUÇÃO:Bandeira responde que não sabe bem com o que sonha — sonharia talvezcom a felicidade autossuficiente (“...talvez com me bastar, feliz”) e com asupressão do grande e inútil desejo (“anseio infinito e vão”) deassenhorear-se daquilo que o encanta e domina o seu desejo (“possuir oque me possui”).5. Destaque, no poema de Vinicius de Moraes, o trecho que indicaque ele teria sido influenciado pela poesia de Manuel Bandeira.RESOLUÇÃO:“Não foste apenas um segredo / De poesia e de emoção / Foste umaestrela em meu degredo.”54 –

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!