Texto para as questões 4 e 5.Textos para a questão 6.PORTUGUÊS ENo entanto Jacinto, desesperado com tantos desastres humi lha do -res — as torneiras que dessoldavam, os elevadores que emper ravam,o vapor que se encolhia, a eletricidade que sumia, decidiu valorosa -mente vencer as resistências finais da matéria e da força por novas emais poderosas acumulações de mecanismos. E nessas semanas deabril, enquanto as rosas desabrochavam, a nossa agitada casa, entreaquelas quietas casas dos Campos Elísios que preguiçavam ao sol,incessantemente tremeu, envolta num pó de caliça e de empreitada,com o bruto picar de pedra, o retininte martelar de ferro.4. O trecho transcrito foi extraído do quinto capítulo de A Cidade eas Serras, de Eça de Queirós, e se associa à crença que tem o prota -gonista, Jacinto, nos avanços técnicos como chave para a felicidade.Qual a relação que a visão queirosiana apresentada no trecho tem como famoso ideal humanista (já presente, por exemplo, no episódio de“O Gigante Adamastor”, em Os Lusíadas, de Camões), segundo oqual o Homem existe para dominar a Natureza?RESOLUÇÃO:Eça de Queirós mostra de maneira irônica o fracasso da civilização doséculo XIX, pois esta não conseguiu realizar o ideal humanista dedomínio da Natureza, como fica evidente no trecho transcrito, em que sealude à ineficiência de alguns artefatos.Texto IDesde o berço, onde a avó espalhava funcho e âmbar para afu -gentar a Sorte-Ruim, Jacinto medrou com segurança, a rijeza, a seivarica dum pinheiro das dunas.Não teve sarampo e não teve lombrigas. As letras, a Tabuada, oLatim entraram por ele tão facilmente como o sol por uma vidraça.Entre os camaradas, nos pátios dos colégios, erguendo a sua espadade lata e lançando um brado de comando, foi logo o vencedor, o reique se adula e a quem se cede a fruta das merendas.Texto IIE nunca o meu Príncipe (que eu contemplava esticando os suspen -sórios) me pareceu tão corcovado, tão minguado, como gasto poruma lima que desde muito andasse fundamente limando. Assim vierafindar, desfeita em Civilização, naquele super-requintado magricelasem músculo e sem energia, a raça fortíssima dos Jacintos!6. É bastante conhecida a tese de Rousseau de que o Homem nascebom, sendo a sociedade responsável por sua corrupção. Como essaafirmação pode ser associada aos excertos transcritos, extraídos de ACidade e as Serras?RESOLUÇÃO:Os trechos mostram como Jacinto era, em sua infância, fase maispróxima de sua essência primitiva, cheio de energia, de vida. Civilizandose,ou seja, em contato mais intenso com a sociedade, perdeu suavitalidade.5. Na passagem transcrita, apesar de ela fazer parte da fase urbana danarrativa, a Natureza não deixa de, discretamente, estar presente,como em vários outros momentos do livro. Com base no excertoapresentado, explique como tal fato ocorre.RESOLUÇÃO:A Natureza está presente tanto na primeira parte (tese) como na segundaparte (antítese) de A Cidade e as Serras, nas descrições de ambientes,como se percebe, no trecho, em “enquanto as rosas desabrochavam”.38 –
MÓDULOS 14 E 15 Literatura e Análise de Textos Literários (VIII e IX)1. (UNICAMP-SP-2011) – Leia o texto a seguir e responda ao quese pede.ENTRE LUZ E FUSCOEntre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante. Nemdurou muito a nossa despedida, foi o mais que pôde, em casa dela, nasala de visitas, antes do acender das velas; aí é que nos despedimosde uma vez. Juramos novamente que havíamos de casar um com ooutro, e não foi só o aperto de mão que selou o contrato, como noquintal, foi a conjunção das nossas bocas amorosas... talvez risqueisso na impressão, se até lá não pensar de outra maneira; se pensar,fica. E desde já fica, porque, em verdade, é a nossa defesa. O que omandamento divino quer é que não juremos em vão pelo santo nomede Deus. Eu não ia mentir ao seminário, uma vez que levava umcontrato feito no próprio cartório do céu. Quanto ao selo, Deus,como fez as mãos limpas, assim fez os lábios limpos, e a malícia estáantes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes...oh! minha doce companheira da meninice, eu era puro, e puro fiquei,e puro entrei na aula de S. José, a buscar de aparência a investidurasacerdotal, e antes dela a vocação. Mas a vocação eras tu, ainvestidura eras tu.(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro.Cotia, Ateliê Editorial, 2008, p. 195-196.)b) No emprego da segunda pessoa, não há coincidência do inter -locutor. Indique duas marcas linguísticas que evidenciam essa nãocoincidência, explicitando qual é o interlocutor em cada caso.RESOLUÇÃO:Em “a malícia está antes na tua cabeça perversa”, o pronome de segundapessoa refere-se ao leitor, interlocutor cuja presença no texto é eviden -ciada pelo teor metalinguístico do trecho. Em “a vocação eras tu, a inves -tidura eras tu”, o vocativo anterior — “oh! minha doce companheira dameninice” — explicita a referência à personagem Capitu.PORTUGUÊS Ea) Em que medida a imagem presente no título deste capítulo deDom Casmurro define a natureza da narrativa do romance?RESOLUÇÃO:A expressão do título do capítulo pode ser entendida como definidora danatureza ambígua da narrativa de Dom Casmurro, em que o aconte ci -men to central da história — o adultério de Capitu — resta incerto,indefinido, como “entre luz e fusco”, ou seja, na zona de sombra entreclaridade e escuridão.2. (UNICAMP-SP) – Leia o seguinte capítulo do romance DomCas mur ro, de Machado de Assis:CAPÍTULO XLUMA ÉGUAFicando só, refleti algum tempo e tive uma fantasia. Já conheceisas minhas fantasias. Contei-vos a da visita imperial; disse-vos a destacasa do Engenho Novo, reproduzindo a de Matacavalos... A imagi na -ção foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, in -quieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capazde engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido emTácito que as éguas iberas concebiam pelo vento; se não foi nele, foinoutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seuslivros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande éguaibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo deAlexandre; mas deixemos de metáforas atrevidas e impróprias dosmeus quinze anos. Digamos o caso simplesmente. A fantasia daquelahora foi confessar a minha mãe os meus amores para lhe dizer quenão tinha vocação eclesiástica. A conversa sobre vocação tornavameagora toda inteira e, ao passo que me assustava, abria-me umaporta de saída. “Sim, é isto”, pensei; “vou dizer a mamãe que nãotenho vocação e confesso o nosso namoro; se ela duvidar, conto-lheo que se passou outro dia, o penteado e o resto...”(Dom Casmurro, in ASSIS, Machado de. Obra Completaem Quatro Volumes. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2008, p. 975.)– 39