PORTUGUÊS E9. (FUVEST-SP) – Quando o narrador propõe a refor ma dramática,no capítulo LXXII, ele compara o destino aos dramaturgos.a) O que seria de uma tragédia, caso o dramaturgo lhe invertesse atrama?RESOLUÇÃO:A solução ou a reforma aventada pelo narrador, inver ten do-se o cursodos acontecimentos para que a ação desabasse em anticlímax, transfor -ma ria a tragédia de Otelo em comédia, ou em ópera-bufa, e a açãohomicida e suicida da personagem descam baria no prosaico conselhopecuniário de Iago: “Mete dinheiro na bolsa”, numa velada crítica aopra gma tismo contemporâneo.10. (FUVEST-SP) – Ao comparar o destino humano ao destino daspersonagens de uma peça teatral, Machado retoma o tópos (lugarcomumliterário) do Theatrum Mundi (o “teatro do mundo”, ou seja,o mundo como um teatro). Explique.RESOLUÇÃO:O tópos do mundo como um teatro é recorrente na literatura e remontaa Platão, que comparou o homem a um fantoche nas mãos de Deus. Omundo como um teatro significa que o homem não possui o controle totalde seu próprio destino, assim como as personagens, manipuladas pelodramaturgo, não podem alterar o desfecho a que são submetidas: “tãocerto é que o destino, como todos os dramaturgos, não anuncia as peripé -cias nem o desfecho.”b) Na verdade, o que Bentinho buscaria reformar?RESOLUÇÃO:Ao propor sua reforma dramática, na qual a tragédia, satí rica eparodisti ca mente, terminasse em happy end, o narrador-personagem,“pressentindo” sua tragédia pessoal, procuraria inverter o curso dosacontecimentos, interferindo no próprio destino, no curso da vida.Continua, portanto, fiel ao princípio que acatou, a partir da teoria dovelho tenor Marcolini: “A vida é uma ópera.” A reforma que propõe onarrador é uma premonição do desfecho, que ele já conhece, e imaginareverter pelo discurso, pela encenação.44 –
MÓDULO 16Literatura e Análise de Textos Literários (X)1. (FUVEST-SP-2011) – Considere o seguinte excerto de O Cor -tiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede.(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com asua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiçareclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu omacho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo àsimposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queriaa mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dou -rado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimoapren deu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheirosensual dos bodes.Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam nacomposição de O Cortiço, identifique e explique aquela que se mani -festa no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a seguir:a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”.RESOLUÇÃO:É do Naturalismo a concepção de que o comportamento humano obedeceao determinismo de “raça”, ou seja, genético, como se demonstraria napropensão da mestiça, determinada por seu “sangue”, para o “macho deraça superior”.b) “cedendo às imposições mesológicas”.RESOLUÇÃO:As “imposições mesológicas” representam o determinismo do meio, ouseja, do ambiente, físico e social, sobre o comportamento humano.2. (UNICAMP-SP-2011) – Pensando nos pares amorosos, já se afir -mou que “há n’O Cortiço um pouco de Iracema coada pelo Na tu -ralismo” (Antonio Candido, “De Cortiço em Cortiço”, em O Discursoe a Cidade, São Paulo, Duas Cidades, 1993, p. 142.).Partindo desse comentário, leia o trecho a seguir e responda às ques -tões.O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperandoaos que não sabiam dançar. Mas ninguém como a Rita; só ela, sóaquele demônio tinha o mágico segredo daqueles movimentos decobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem ocheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada,harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante. (...) Naquela mulataestava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeuchegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calorvermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e dasbaunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeiravirginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era oveneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e eraa castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela eraa cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, queesvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhandolheos desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudadeda terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangueuma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela músicafeita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridasque zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numafosforescência afrodisíaca. Isto era o que Jerônimo sentia, mas o queo tonto não podia conceber. De todas as impressões daquele resto dedomingo só lhe ficou no espírito o entorpecimento de umadesconhecida embriaguez, não de vinho, mas de mel chuchurreado nocálice de flores americanas, dessas muito alvas, cheirosas e úmidas,que ele na fazenda via debruçadas confidencialmente sobre oslimosos pântanos sombrios, onde as oiticicas trescalam um aromaque entristece de saudade. (...)E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante daperfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores;assentou-se ao rebordo da cama e, segurando com uma das mãos opires e com a outra a xícara, ajudava-o a beber, gole por gole,enquanto seus olhos o acarinhavam, cintilantes de impaciência noantegozo daquele primeiro enlace. Depois, atirou fora a saia e, só decamisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doido.(AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Ficção Completa.Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2005, p. 498 e 581.)– 45PORTUGUÊS E