PORTUGUÊS E2. (UNIFESP-SP – adaptado) – No trecho da peça de Gil Vicente,fica evidente umaa) visão bastante crítica dos hábitos da sociedade da época. Está cla -ra a censura à hipocrisia do religioso, que se aparta daquilo queprega.b) concepção de sociedade decadente, mas que ainda guarda algunsvalores essenciais, como é o caso da relação entre o frade e o ca -to licismo.c) postura de repúdio à imoralidade da mulher, que se põe a tentar ofrade, que a ridiculariza em função de sua fé católica inabalável.d) visão moralista da sociedade. Para ele, os valores deveriam serresgatados e a presença do frade é um indicativo de apego à fécristã.e) crítica ao frade que optou em vida por ter uma mulher, contra -riando a fé cristã e afastando-se do comportamento padrão dosdemais frades do convento.RESOLUÇÃO:No Auto da Barca do Inferno, o Frade chega à Barca do Inferno acom pa -nha do por uma mulher e, ao ser questionado pelo Diabo se aquela“dama” lhe pertencia, ele afirma que sempre a teve como sua. Ironi ca -men te, o Diabo elogia a atitude do Frade de desrespeito aos votos de celi -bato clerical. Quando o Diabo pergunta ao Frade se esse desrespeito aocelibato não era censurado no “convento santo”, o religioso responde quetodos faziam o mesmo, o que corresponde à ideia de que aquilo que sepregava como comportamento correto e ilibado era exatamente ocontrário do que faziam os religiosos da Igreja, segundo a peça.Resposta: Aa) De que pecado o Parvo acusa o homem de leis (Corregedor)? Esseé o único pecado de que ele é acusado na peça?RESOLUÇÃO:Joane, o Parvo, acusa o Corregedor de se deixar subornar com as ofertasde coelhos e pernas de perdiz, sendo, desse modo, segundo o Diabo, um“santo descorregedor”, sentenciando com pouca honestidade (“quiajudicastis malitia”). Além disso, há referência ao desrespeito do Correge -dor aos mortos, uma vez que urinara nas campas. Outro delito do qual omagistrado é acusado pelo Diabo é o de ter explorado os trabalhadoresinocentes (“ignorantes do pecado”): “A largo modo adquiristis / sanguinislaboratorum, / ignorantes peccatorum”.3. (UNICAMP-SP) – Na seguinte cena do Auto da Barca do Inferno,o Corregedor e o Procurador dirigem-se à Barca da Glória, depois dese recusarem a entrar na Barca do Inferno.Corregedor: Ó arrais dos gloriosos,passai-nos neste batel!Anjo: Ó pragas pera papel, parapera as almas odiosos!Como vindes preciosos,sendo filhos da ciência!Corregedor: Ó! habeatis clemência tendee passai-nos como vossos!b) Com que propósito o latim é empregado pelo Corregedor? E peloParvo?RESOLUÇÃO:O Corregedor emprega o latim de uso jurídico, que caracteriza o homemde leis, tipificando a personagem. O Parvo, por sua vez, vale-se do latimde maneira humorística e, consciente de seus erros, declara falar latim“macarrônico”, isto é, mistura de latim e português. Para o Corregedor,o latim é instrumento de autoridade; para o Parvo, ao contrário, é ummeio de contestação da autoridade e de zombaria da pompa de que sereveste o discurso autoritário.Joane (Parvo): Hou, homens dos breviairos 1 ,rapinastis coelhorumet pernis perdiguitorum 2e mijais nos campanairos!Corregedor: Ó! Não nos sejais contrairos,pois nom temos outra ponte!Joane (Parvo): Beleguinis ubi sunt 3 ?Ego latinus macairos 4 .(VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno.São Paulo, Ateliê Editorial, 1996, p. 107-109.)1 – Homens dos breviairos: homens de leis.2 – Rapinastis coelhorum / et pernis perdiguitorum: Recebestes coelhos epernas de perdiz como suborno.3 – Beleguinis ubi sunt?: Onde estão os policiais?4 – Ego latinus macairos: Eu falo latim macarrônico.22 –
4. (FUVEST-SP)E, chegando à barca da Glória, diz ao Anjo:Brísida:Anjo:Brísida:Barqueiro, mano, meus olhos,prancha a Brísida Vaz!Eu não sei quem te cá traz...Peço-vo-lo de giolhos!Cuidais que trago piolhos,anjo de Deus, minha rosa?Eu sou Brísida, a preciosa,que dava as moças aos molhos.A que criava as meninaspara os cônegos da Sé...Passai-me, por vossa fé,meu amor, minhas boninas,olhos de perlinhas finas!(...)(Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno– texto fixado por Segismundo Spina)a) No excerto, a maneira de tratar o Anjo empregada por Brísida Vazrelaciona-se à atividade que ela exercera em vida? Expliqueresumi damente.RESOLUÇÃO:Brísida Vaz, em vida, era alcoviteira, ou seja, agenciava mulheres para aprostituição. Assim, sua linguagem revela sua atividade, pois ela se utilizade termos que procuram seduzir o Anjo, como “anjo de Deus”, “minharosa”, “meu amor”, “minhas boninas”, “olhos de perlinhas finas”.5. (UNICAMP-SP) – Leia o diálogo abaixo, do Auto da Barca doInferno:Diabo: Cavaleiros, vós passaise não perguntais onde is?Cavaleiro 1: Vós, Satanás, presumis?Atentai com quem falais!Cavaleiro 2: Vós que nos demandais?Sequer conhece-nos bem.Morremos nas partes d’além,e não queirais saber mais.(VICENTE, Gil. “Auto da Barca do Inferno”,in BERARDINELLI, Cleonice. Org.Antologia do Teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro,Nova Fronteira/Brasília, INL, 1984, p. 89.)a) Por que o Cavaleiro chama a atenção do Diabo?RESOLUÇÃO:Porque o Cavaleiro sacrificou a vida para defender o Cristianismo e,assim, ter assegurado seu lugar na barca da Glória. O Diabo presume queo Cavaleiro é, como a maioria dos mortos chegados ao cais, um ser cheiode vícios e interpela-o. O Cavaleiro adverte o Diabo, distinguindo-se eevitando maior contato.PORTUGUÊS Eb) Onde e como morreram os dois Cavaleiros?RESOLUÇÃO:Os Cavaleiros morreram numa Cruzada, em combate contra os “infiéis”.Observe-se que, na época da encenação do Auto da Barca do Inferno, asCruzadas já eram coisa do passado.b) No excerto, o tratamento que Brísida Vaz dispensa ao Anjo é ade -qua do à obtenção do que ela deseja — isto é, levar o Anjo apermitir que ela embarque? Por quê?RESOLUÇÃO:O tratamento que Brísida Vaz dispensa ao Anjo é inadequado, pois revelaapego ao universo pecaminoso da sedução e prostituição, ou seja, justa -mente àquilo que justifica sua condenação ao inferno.c) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele?RESOLUÇÃO:Porque entendem que quem deu a vida numa Cruzada, em defesa doCristianismo, tem assegurado um lugar na barca da Glória, estando livreda condenação ao inferno.– 23