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Alfabetização: Sujeito e Autoria - Universidade Católica de Brasília

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caracteriza um brinquedo é o fato <strong>de</strong> nele a criança criar uma situação imaginária, uma situação quejá contém suas regras, explícitas ou não, antes do sujeito se pôr a brincar.Há, pois, algo já-dito anteriormente, antes, em outro lugar, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, que Pêcheux(1988) chama <strong>de</strong> efeito <strong>de</strong> pré-construído, uma modalida<strong>de</strong> discursiva da discrepância pela qual oindivíduo é interpelado em sujeito... ao mesmo tempo em que é "sempre-já sujeito". Vygotsky relatauma observação feita por outro psicólogo, <strong>de</strong>screvendo um caso em que duas irmãs, com ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cinco e sete anos, disseram uma para outra: "Vamos brincar <strong>de</strong> irmãs?". E aí, é interessante o que elediz: ... ao brincar, a criança tenta ser o que ela pensa que uma irmã <strong>de</strong>veria ser. Na vida, a criançacomporta-se sem pensar que ela é a irmã <strong>de</strong> sua irmã. Po<strong>de</strong>ríamos dizer que estamos observandomovimentos <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sujeito no processo <strong>de</strong> interpelação. Ser irmã: umacoisa do significante daquilo que representa o sujeito para um outro significante (Lacan)Vygotsky prossegue falando em como elas se ajustam às regras do jogo, vestindo, falandocomo irmãs, encenam tudo aquilo que enfatiza suas relações como irmãs à vista <strong>de</strong> adultos eestranhos, ou seja, eu sou o que o outro não é. Um sistema <strong>de</strong> diferenças vai-se construindo e osujeito é preso a essa re<strong>de</strong> significante, fazendo emergir uma subjetivida<strong>de</strong> consciente que po<strong>de</strong> dizer"eu sou irmã <strong>de</strong> alguém".Em Análise do Discurso, dizemos que não há uma relação direta entre linguagem e mundo,linguagem e pensamento e que o discurso é o espaço <strong>de</strong>ssa mediação enquanto efeito <strong>de</strong> sentido entrelocutores. No brinquedo, tal como é analisado por Vygotsky, observamos como essa mediação operapelo lugar que o "significado" - efeito <strong>de</strong> sentido -, antes que o objeto concreto, ocupa na ativida<strong>de</strong>, oque marca um outro estágio na vida do falante em termos <strong>de</strong> inserção em uma cultura específica.Diríamos, então, que não se trata <strong>de</strong> aprendizagem, mas <strong>de</strong> filiação a <strong>de</strong>terminados sentidosque configuram uma formação discursiva. E isso representa uma tamanha inversão da relação dacriança com a situação concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado.[...]Nesse ponto crucial a estrutura básica <strong>de</strong>terminante da relação da criança com a realida<strong>de</strong> estáradicalmente mudada, porque muda a estrutura <strong>de</strong> sua percepção.Essa separação entre objeto e significado, faz-nos lembrar do conceito <strong>de</strong> signo lingüísticosaussureano, como resultante da relação entre imagem acústica (representação) e conceito(representação). Não há relação termo-a-termo entre as palavras e as coisas. Há sempre um sujeito euma interpretação possível.

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