Artigo mARIA lUCIA - Museu de Astronomia e Ciências Afins
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Cultura Material e Patrimônio <strong>de</strong> C&Tseriam manifestações singulares. Coleções serviriam para ligar as esferas do visível e doinvisível, separadas até o Paleolítico Superior, quando o invisível teria se projetado novisível por meio <strong>de</strong> uma nova categoria <strong>de</strong> objetos que provocaram uma fissura na esferado visível: <strong>de</strong> um lado, haveria as coisas úteis, que se consomem, e <strong>de</strong> outro, ossemióforos, objetos “dotados <strong>de</strong> um significado”, os quais, por não serem manipulados,mas simplesmente expostos ao olhar, não sofreriam usura. (POMIAN, 1984, p. 71)Uma nova categoria <strong>de</strong> semióforos (“aqueles que se estudam”) apareceria naEuropa Oci<strong>de</strong>ntal a partir do século XV, vinculada à emergência <strong>de</strong> novos atores sociais(posteriormente <strong>de</strong>nominados humanistas), e novas atitu<strong>de</strong>s em relação “ao passado, àspartes <strong>de</strong>sconhecidas do espaço terrestre, à natureza”. Essas atitu<strong>de</strong>s se evi<strong>de</strong>nciam nareunião <strong>de</strong> antigüida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> objetos provenientes <strong>de</strong> locais longínquos, <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte e<strong>de</strong> instrumentos científicos. As coleções <strong>de</strong> instrumentos científicos também estariamvinculadas à emergência <strong>de</strong> novos atores sociais (posteriormente <strong>de</strong>nominadoscientistas), e são emblemáticos <strong>de</strong> uma nova atitu<strong>de</strong> em relação ao invisível e datentativa <strong>de</strong> restringir seus limites. (POMIAN, 1984, p. 75-78)Norton Wise (2006, p. 75) também enfatiza a importância <strong>de</strong> “tornar novas coisasvisíveis - ou tornar coisas familiares visíveis <strong>de</strong> novas formas”, <strong>de</strong>stacando os "novosmundos” que se abriram à percepção visual, como as “montanhas e vales na superfícieda lua, que se tornaram visíveis pelo telescópio <strong>de</strong> Galileu”.Em um estudo sobre colecionadores e coleções, Philipp Bloom (2003, p.30) ressalta “uma explosão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> científica e colecionadora iniciada na Itália doséculo XVI”, da qual ocuparia “a linha <strong>de</strong> frente” Ulisse Aldrovandi, com seu museu.Até o século XV, colecionar havia sido privilégio <strong>de</strong> nobres e da Igreja, queacumulavam objetos preciosos ou relíquias sagradas. Cem anos após a <strong>de</strong>scoberta daAmérica, foi pela primeira vez abalada a crença <strong>de</strong> que “não havia fenômeno natural,nem cultural, nem animal nem sensação que já não tivessem sido interpretados<strong>de</strong>finitivamente por Aristóteles e Plínio, por Cícero ou Pitágoras. “Coisas que os antigosnão conheceram” são mencionadas por nomes como Jean <strong>de</strong> Léry, viajante francês quepublicou em 1578 a história <strong>de</strong> sua viagem às terras do Brasil. (BLOOM, 2003, p. 32-35)Conforme o autor, as explicações para o que ele chama “surto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>colecionadora” do século XVI estariam “um pouco neste mundo e um pouco no outro”.Por um lado, a ampliação das fronteiras do conhecimento trazia novos questionamentose novos fenômenos que <strong>de</strong>mandavam abordagens novas - telescópios e microscópiospermitiam aos estudiosos explorarem o macrocosmo e “as pequenas coisas”. Por outro,354