Artigo mARIA lUCIA - Museu de Astronomia e Ciências Afins
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Cultura Material e Patrimônio <strong>de</strong> C&Tem um mundo “cada vez mais secular e capitalista”, ocorria também uma “mudança namaneira <strong>de</strong> perceber a morte e o mundo material”. (Bloom, 2003, p. 37)Des<strong>de</strong> o final do século XVII e, sobretudo, no XVIII, uma “nova maneira <strong>de</strong> olhar omundo” e uma “brusca mudança <strong>de</strong> natureza” no ato <strong>de</strong> colecionar levariam a “formasmais metódicas <strong>de</strong> abordar o mundo material” e à especialização das coleções. CarlLineu representaria a vanguarda <strong>de</strong> uma mudança em que a “ambição <strong>de</strong> colecionar tudoque fosse digno <strong>de</strong> nota” foi substituída por “uma divisão <strong>de</strong> disciplinas”, <strong>de</strong>ntro das quaissurgiria o novo projeto da “classificação racional e a <strong>de</strong>scrição completa da natureza”.(BLOOM, 2003, p. 107)4Samuel Alberti (2005, p. 560-561) aborda a história dos museus por meio dosobjetos em suas coleções, concentrando-se em caminhos passíveis <strong>de</strong> serem exploradospor historiadores da ciência. A partir <strong>de</strong> Kopytoff, sugere que os objetos <strong>de</strong> museusteriam uma ‘vida’ ou ‘carreira’ metafórica, e que o estudo <strong>de</strong> suas biografias seria“especialmente fecundo no contexto do museu”. Adverte, no entanto, para o risco <strong>de</strong>atribuir “<strong>de</strong>masiado po<strong>de</strong>r às próprias coisas”, o que equivaleria a “diminuir a agência dosseres humanos na história”. São estes, prossegue o autor, que imbuem as coisas “<strong>de</strong>valor e sentido, manipulando e contestando seu significado ao longo do tempo”.Susan Pearce (1993, p. 139) enfatiza o papel fundamental dos museus nainteligibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias científicas como as relações taxonômicas <strong>de</strong> espécies animais evegetais, que se tornariam “conceitos significativos” por meio do “espaço organizado e asvitrines em série” dos museus. O mesmo po<strong>de</strong> ser dito sobre “as seqüências cronológicas<strong>de</strong> material histórico ou seqüências tipológicas <strong>de</strong> artefatos”.Coleções <strong>de</strong> museus são artefatos capazes <strong>de</strong> conferir visibilida<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong>sdispersas no tempo e/ou no espaço e, portanto, naturalmente invisíveis. Idéias econceitos como “espécie”, “gênero” e “família”, por exemplo, são visíveis apenas atravésda reunião artificial <strong>de</strong> espécimes vivos ou <strong>de</strong> seus “fragmentos”, naturalmente dispersos.É útil, aqui, frisar que os museus <strong>de</strong> “história natural” operam tradicionalmente umadistinção entre as coleções <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong>stinada aos cientistas, e as coleções a seremexpostas ao público, dirigidas aos não especialistas. Essa prática foi inaugurada em 1891pelo <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> História Natural <strong>de</strong> Berlim.<strong>Museu</strong>s <strong>de</strong> ciência lidam, freqüentemente, com realida<strong>de</strong>s (acontecimentos,eventos, e fenômenos) inacessíveis à percepção humana – por serem extremamente355