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INTRODUÇÃO Os - Para associar-se ou renovar sua anuidade ...

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Psicologia Escolare EducacionalISSN 1413-8557PUBLICAÇÃO SEMESTRAL 2003 Volume 7Número 2125 EditorialArtigos129 O letramento escolar de jovens do ensino médioEliane Porto Di Nucci135 I Congresso Nacional de ‘Psicologia - Ciência e Profissão’: O que tem sido feito napsicologia educacionalAcácia Aparecida Angeli dos SantosKatya Luciane de OliveiraMaria Cristina Rodrigues Azevedo JolyAdriana Cristina B<strong>ou</strong>lhoça Suehiro145 Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t: Um estudo com professores da rede públicaGraziela Nascimento da SilvaMary Sandra Carlotto155 O que <strong>se</strong> espera de uma educação criativa no futuroMaria Helena Novaes161 Avaliação da validade do questionário de estilo de atribuição para crianças (CASQ)Lidia Natalia Dobrianskyj WeberPaulo Müller PradoOlivia Justen BrandenburgAna Paula Viezzer171 Família, escola e a dificuldade de aprendizagem: Intervindo sistemicamenteEdla Grisard Caldeira de Andrada179 Adaptação da Pavlovian Temperament Survey para a realidade brasileira - Versão 7 a 14 anosRaquel S<strong>ou</strong>za Lobo GuzzoPatrícia do Carmo Pereira ItoCristiane Valli


185 Avaliação do de<strong>se</strong>mpenho de crianças e intervenção em um jogo de <strong>se</strong>nhaLino de MacedoAna Lúcia PettyGi<strong>se</strong>le Escorel de CarvalhoValquiria Carracedo197 Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade: Aspectos neuropsicológicosNayara ArgolloRe<strong>se</strong>nhas203 Avaliação da alfabetizaçãoGeraldina P. WitterHistória207 Entrevista com Maria Regina MalufEntrevistadora: Alacir Villa Valle Cruces213 Psicologia e educação: 50 anos de atividadesGeraldina P. WitterSugestões práticas217 Seleção de professores: Uma experiência inovadoraLuciana P. de AvelarRosana Lima de S<strong>ou</strong>za Dias LeitãoAlbertina Mitjáns MartínezInformativo221 Notícias bibliográficas223 Informe225 Normas de publicação233 Ficha para novos sócios da ABRAPEE


SUMMARYISSN 1413-8557125 EditorialPapers129 The literacy among y<strong>ou</strong>th students in higher schoolEliane Porto Di Nucci135 I Congresso Nacional de ‘Psicologia - Ciência e Profissão’: What has been done ineducational psychologyAcácia Aparecida Angeli dos SantosKatya Luciane de OliveiraMaria Cristina Rodrigues Azevedo JolyAdriana Cristina B<strong>ou</strong>lhoça Suehiro145 Syndrome of burn<strong>ou</strong>t: A teachers publics schools studyGraziela Nascimento da SilvaMary Sandra Carlotto155 What is expected ab<strong>ou</strong>t a creative education in the futureMaria Helena Novaes161 Validity evaluation of the children’s attributional style questionnaire (CASQ)Lidia Natalia Dobrianskyj WeberPaulo Müller PradoOlivia Justen BrandenburgAna Paula Viezzer171 Family, school and learning difficulties: A systemically interventionEdla Grisard Caldeira de Andrada179 Adaptation the Pavlovian Temperament Survey to Brazilian reality - Version from 7 to 14 yearsRaquel S<strong>ou</strong>za Lobo GuzzoPatrícia do Carmo Pereira ItoCristiane Valli185 Children’s performance as<strong>se</strong>ssment and intervention in a master mind gameLino de MacedoAna Lúcia PettyGi<strong>se</strong>le Escorel de CarvalhoValquiria Carracedo197 Attention deficit and hyperactivity disorder: Neuropsychological aspectsNayara Argollo


Estamos em tempos de mudança não só na revista, como na nossa entidade como um todo, pois no anode 2004 assume o cargo de presidente atual da ABRAPEE, a Eulália Henrique Maimoni (focalizada em recenteentrevista na nossa <strong>se</strong>ção de História). <strong>Para</strong> os que ainda não a conhecem é importante ressaltar que <strong>sua</strong> atuaçãona área tem sido de grande relevância e que tem trabalhado por nossa entidade desde a <strong>sua</strong> fundação, da qualparticip<strong>ou</strong> ativamente. Pela primeira vez este cargo <strong>se</strong>rá ocupado por um psicólogo de fora do estado de SãoPaulo. Com isso, começamos a consolidar a tão sonhada abrangência nacional de nossa associação.De<strong>se</strong>jo à nova editora da revista e à nova diretoria da ABRAPEE um período profícuo de realizações,ambas com atuação interdependente. Por um lado, a Psicologia Escolar e Educacional é o principal meio decomunicação com os pesquisadores e profissionais da área. No entanto, por <strong>ou</strong>tro lado, a associação é amantenedora da revista e só com o empenho e a <strong>se</strong>riedade, que tem caracterizado as diretorias anteriores,poderá dar continuidade a <strong>sua</strong> publicação, buscando <strong>se</strong>mpre a melhoria da <strong>sua</strong> qualidade.Acácia Aparecida Angeli dos SantosEditora


Artigos


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 129-134O LETRAMENTO ESCOLAR DE JOVENS DO ENSINO MÉDIOEliane Porto Di Nucci 1ResumoEsta pesquisa vis<strong>ou</strong> conhecer as práticas de leitura e de escrita pre<strong>se</strong>ntes no contexto escolar de 30 jovens que freqüentavam a 3ª série do EnsinoMédio de uma escola estadual da cidade de Campinas, SP. <strong>Os</strong> dados foram coletados através de entrevista individual. Cada entrevista foi gravada etranscrita para a análi<strong>se</strong> dos dados. As respostas foram organizadas em categorias de acordo com o conteúdo. <strong>Os</strong> resultados mostraram que as práticasde leitura como anotações no caderno (22,8%; F=26) e de escrita como cópias da l<strong>ou</strong>sa (33,3%; F=22) estão relacionadas às atividades acadêmicassolicitadas em sala de aula, embora a leitura de cartazes (13,7%; F=27) e pichações nas paredes da escola (5,7%; F=11) também apareceram comopráticas pre<strong>se</strong>ntes no cotidiano. Pode-<strong>se</strong> concluir que o letramento escolar está vinculado às práticas acadêmicas, isto é, às atividades escolarestradicionais que ainda predominam no Ensino Médio em relação às práticas sociais de letramento.Palavras-chave: Letramento escolar; Leitura; Escrita; Ensino médio.AbstractTHE LITERACY AMONG YOUTH STUDENTS IN HIGLER SCHOOLThis re<strong>se</strong>arch aimed at the knowledge of reading and writing practices pre<strong>se</strong>nt in the educational context from 30 students attending the 3 rdGrade of a Middle Public School in Campinas, SP. The data were collected thr<strong>ou</strong>gh an individual interview. Each interview was recorded andtranscribed to data analysis. The answers were classified according to the context nearness. The results showed that reading practices such asremarks from notebooks (22,8%; F=26) and writing practices such as copies from blackboard (33,3%; F=22) are related to academic activitiesrequested in the classroom, alth<strong>ou</strong>gh placards reading (13,7%; F=27) and paintings with pitch on the school walls (“pichações”) (5,7%; F=11) alsoshowed practices pre<strong>se</strong>nt in their daily life. We c<strong>ou</strong>ld conclude that educational literacy is linked to academic practices, it means, to traditionalschool activities which still prevail in the Middle School related to literacy social practices.Key words: Educational literacy; Reading; Writing; Middle school.INTRODUÇÃOO letramento é um conceito recém-chegado aodiscurso de educadores e lingüistas que tem sidocompreendido sob diferentes óticas. Emboraconceitualmente haja divergências, parece <strong>se</strong>r comuma idéia de letramento a partir das situações cotidianasque envolvem a leitura, a escrita e a oralidade, comopor exemplo, ler em diferentes lugares e sob diferentescondições, não só na escola.Segundo Soares (1998), <strong>se</strong>r letrado é informar-<strong>se</strong>através da leitura, é buscar informações nos jornais,revistas e livros e fazer uso delas. É assistir à televisãoe <strong>se</strong>lecionar o que desperta interes<strong>se</strong>. É <strong>se</strong>guir instruções,usar a leitura como apoio de memória <strong>ou</strong> paracomunicação. É ler histórias que nos levam a lugaresdesconhecidos, é emocionar-<strong>se</strong> com elas. É usar a escritapara <strong>se</strong> orientar no mundo para não ficar perdido. Éescrever um bilhete <strong>ou</strong> uma lista de compras. É descobrira si mesmo, através do envolvimento com a leitura ecom a escrita nas diferentes práticas sociais.<strong>Para</strong> explicar mudanças que ocorrem na línguamaterna, “<strong>se</strong>mpre aparecem palavras novas quandofenômenos novos ocorrem, quando uma nova idéia, umnovo fato, um objeto surgem, são inventados, é necessárioter um nome para aquilo ... <strong>Para</strong> as coisas existirem,precisamos nomeá-las, por exemplo, denominamos“internauta a pessoa que “navega” pela Internet ...”(Soares, 1998; p. 34).O termo “letramento” surgiu com uma concepçãodiferenciada do termo “alfabetização”. Tradicionalmente,em nossa sociedade, a escola alfabetiza <strong>se</strong>m a1D<strong>ou</strong>tora em Psicologia, De<strong>se</strong>nvolvimento e Educação pela UNICAMP e docente do curso de psicologia da Universidade São Francisco.


130preocupação de ensinar a ler e a escrever a partir daspráticas cotidianas dos alunos. Ela propõe práticaspedagógicas, particularmente em relação ao ensino daLíngua Portuguesa, que trabalham com a idéia d<strong>ou</strong>niverso letrado, considerando a escrita por si só,enquanto repre<strong>se</strong>ntação gráfica (Corrêa, 2001).É fato que a aprendizagem do código escrito éimportante para o de<strong>se</strong>nvolvimento das práticas de leiturae de escrita no cotidiano. No entanto, pode-<strong>se</strong> aprendera ler e a escrever a partir das práticas sociais, comopropõem os novos Parâmetros Curriculares Nacionais.Ler e escrever devem <strong>se</strong>r práticas de letramentopre<strong>se</strong>ntes no cotidiano escolar, de<strong>se</strong>nvolvidas atravésde um processo contínuo dos usos sociais e culturais daleitura e da escrita. Assim, o aprendizado deixa de <strong>se</strong>rconsiderado como uma simples transferência deconhecimentos do professor para o aluno: ele é mediadoatravés de processos interativos e a ocorrência des<strong>se</strong>aprendizado depende do modo como uma atividade éestruturada, da quantidade de contato, prática e instruçãoproporcionados ao aluno e da qualidade des<strong>se</strong> contato(Collins & Michaels, 1991).Segundo Kleiman (1995), as práticas de letramentopre<strong>se</strong>ntes no contexto escolar são construídas noprocesso de interação entre professor e aluno, em que oindivíduo identifica o elo entre as práticas de letramentona aula e as necessidades do uso da escrita no cotidiano.Es<strong>se</strong> tipo de letramento é denominado letramentoacadêmico (Kleiman, 1995) <strong>ou</strong> letramento escolar(Soares, 1998) caracterizado por requerer formasdiferenciadas de oralidade e de escrita, importantes paraa escolarização e que emergem das práticas sociaistecnologicamente mais sofisticadas em sociedade<strong>se</strong>scolarizadas (Rojo, 2001).Estudos sobre o letramento realizados por Kleiman(1995), Soares (1998) e Ribeiro (1999) têm discutido aquestão das práticas sociais e escolares da leitura e daescrita. Estes estudos mostram que a escolarizaçãocontribui para o de<strong>se</strong>nvolvimento de níveis mais elevadosde letramento, embora esta não <strong>se</strong>ja considerada comoprimordial para que o indivíduo esteja in<strong>se</strong>rido em umasociedade letrada.É inegável que o espaço escolar pode <strong>se</strong>r considerad<strong>ou</strong>m lugar privilegiado quanto à circulação de diferentesformas discursivas do texto e também à articulação dasmodalidades oral e escrita. Cabe à escola in<strong>se</strong>rir novaspráticas de letramento relacionadas aos conteúdosacadêmicos e orientar o aluno na construção de textosEliane Porto Di Nucciescritos e orais de forma que ele aprenda a utilizar alinguagem culta e formal (Rojo, 2001). Assim, pode-<strong>se</strong>dizer que essa instituição visa transformar a oralidadedos alunos através da introdução do código escrito,exigindo as marcas formais da fala e da escrita. A escolanão introduz nova maneira de falar sobre o mundo,apenas <strong>se</strong>leciona novos tópicos para o exercício deformas discursivas já familiares.A escola, como espaço institucional em que convivemdetentores de práticas sociais e discursivas da escrita,tem a função de tornar alfabetizados os membros dasociedade, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, oferecer ao aluno a oportunidadepara adquirir o domínio da língua, particularmente docódigo escrito e das habilidades instrumentais básicas.Essas habilidades devem permitir ao aluno compreendere participar das distintas manifestações da cultura e olhara leitura e a escrita de forma reflexiva e crítica, paraque atue <strong>se</strong>letivamente frente aos meios de comunicaçãosocial. É um lugar social onde o contato com o sistemade escrita e com a construção do conhecimento ocorrede forma sistemática, potencializando os efeitos dosaspectos culturais sobre os modos de pensamento(Oliveira, 1995).Assim, com a escolarização, o aluno torna-<strong>se</strong>alfabetizado, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, aprende o domínio do código,tornando-<strong>se</strong> alfabetizado. Porém, o principal desafio daescola é tornar o aluno um indivíduo alfabetizado eletrado, habilitando-o a usar a escrita em diferentesatividades comunicativas (Tf<strong>ou</strong>ni, 1995).Soares (1998) ob<strong>se</strong>rva que cabe à escola alfabetizarletrando, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, ensinar a ler e a escrever no contextodas práticas sociais da leitura e da escrita, de modo queo indivíduo aprenda, ao mesmo tempo, o domínio docódigo escrito (alfabetização) e os usos sociais da escrita(letramento). Dessa forma, o processo de alfabetizaçãocoloca como pano de fundo o letramento escolar: in<strong>se</strong>rir,em um contexto específico, diferentes práticas cotidianasde leitura e de escrita.Nessa perspectiva, as práticas pedagógicas precisamalmejar a criação de oportunidades de <strong>se</strong> experimentara leitura e a escrita de textos significativos que cumpramdiferentes funções sociais e psicológicas (Ribeiro, 2001).É importante que elas estejam pre<strong>se</strong>ntes na sala de aula,na aprendizagem de conteúdos acadêmicos e tambémno contexto geral do ambiente escolar.Atualmente, as novas Diretrizes Curricularesconsideram o Ensino Médio uma etapa final da educaçãobásica, com duração mínima de três anos, de forma a


O letramento escolar de jovens do ensino médio 131preparar o aluno não apenas para o acúmulo deinformações, mas para a continuação do de<strong>se</strong>nvolvimentoda capacidade de aprender e da compreensão do mundosocial e cultural (MEC, 1999). Essas novas diretrizes,hoje, propõem o de<strong>se</strong>nvolvimento das capacidades depesquisar, buscar informações e analisá-las, dacapacidade de aprender, criar e formular hipóte<strong>se</strong>s arespeito das práticas cotidianas ao invés do exercício dememorização e imposição de modelos. Essa propostasugere a in<strong>se</strong>rção do letramento no ambiente escolar, oque implica em rever o projeto pedagógico das escolas,de forma a promovê-lo na escola.Refletindo sobre a nova proposta de Educação, opre<strong>se</strong>nte estudo teve como objetivo descrever e analisaras práticas de letramento escolar de jovens alunos da 3ªsérie do Ensino Médio, de uma escola urbana, da redepública estadual, da cidade de Campinas.MÉTODOParticipantesParticiparam da pesquisa 30 alunos da 3ª série doEnsino Médio de uma escola urbana da rede estadualde ensino, situada em Campinas - SP. Todos osparticipantes (100%; F=30) eram solteiros, <strong>se</strong>ndo 56,7%(F=17) do <strong>se</strong>xo feminino e 43,3% (F=13) do <strong>se</strong>xomasculino. A idade vari<strong>ou</strong> entre 16 e 21 anos, <strong>se</strong>ndoem média 17 anos. A maioria dos jovens (90,0%; F=27)pertencia ao nível sócio-econômico médio, <strong>se</strong>gundoclassificação adotada pela Unicamp (2000), conformea ocupação profissional dos pais.Instrumentos<strong>Para</strong> a coleta dos dados foi utilizado um roteiro deentrevista com o objetivo de conhecer as práticas deletramento escolar pre<strong>se</strong>ntes no cotidiano dos jovens dareferida escola. Este roteiro foi estruturado com questõesabertas relacionadas às práticas de leitura e de escritapre<strong>se</strong>ntes no ambiente escolar, tanto em sala de aulacomo nos demais ambientes da escola. Foram realizadasob<strong>se</strong>rvações sistemáticas durante as aulas de LínguaPortuguesa a fim de complementar as informaçõesobtidas na entrevista. Foram ob<strong>se</strong>rvados os tipos detextos utilizados em aula, como a professora trabalhavaos conteúdos acadêmicos através de textos que circulamsocialmente, por exemplo, revistas, panfletos, cartazes,embalagens ... e a participação dos alunos durante asaulas. Essas informações foram utilizadas na discussãodos dados.ProcedimentosA entrevista foi realizada individualmente com cadaparticipante. Todas as entrevistas foram gravadas e,posteriormente, transcritas para a análi<strong>se</strong> dos dados. Asrespostas dos sujeitos foram agrupadas em diferentescategorias, definidas pela autora. Essas respostas foramclassificadas de acordo com tais categorias equantificadas através da freqüência (F) e porcentagem(%) em cada questão.RESULTADOSNo ambiente escolar são encontradas diversaspráticas de letramento relacionadas à leitura e à escritaque fazem parte do cotidiano, conforme descrição a<strong>se</strong>guir.A Tabela 1 apre<strong>se</strong>nta a freqüência e a porcentagemde respostas, quanto às práticas de letramento escolarrelacionadas à leitura, citadas pelos jovens da amostra.Tabela 1: Freqüência e porcentagem de respostas em relaçãoàs práticas de leitura pre<strong>se</strong>ntes no ambiente escolar(N=30).Categoria F %Cartazes nos corredores 27 23,7Anotações no caderno 26 22,8Textos de apostilas 15 13,2Livros 12 10,5Xerox de textos 12 10,5Pichações nas paredes 11 9,7Informações nos murais 7 6,1Transparências das aulas 2 1,8Vídeo das aulas 2 1,8Total 114 100Entre as 114 respostas apontadas pelos sujeitos, aspráticas de letramento escolar mais freqüentementerelacionadas à leitura são a leitura de cartazes fixadosnos corredores da escola (23,7%; F=27) e as anotaçõesno caderno (22,8%; F=26) - cópia das matérias na l<strong>ou</strong>sae exposição oral do professor. Outras práticas voltadaspara a aprendizagem como a leitura de textos de apostilasPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 129-134


132(13,2%; F=15), de livros (10,5%; F=12) e de xerox detextos (10,5%; F=12) também são práticas de letramentoescolar pre<strong>se</strong>ntes no cotidiano dos sujeitos. As práticasde leitura menos freqüentes no contexto escolar são aleitura das transparências das aulas (1,8%; F=2) e dosvídeos (1,8%; F=2) assistidos durante as aulas.Ressalta-<strong>se</strong> que os sujeitos apontaram algumaspráticas de leitura pre<strong>se</strong>ntes fora do contexto deaprendizagem acadêmica como a leitura de cartazesfixados nos corredores (23,7%; F=27), pichações nasparedes (9,7%; F=11) e informações nos murais (6,1%;F=7). Porém, vale destacar que as práticas de letramentoescolar estão voltadas mais para o contexto da sala deaula do que para o ambiente escolar em geral.<strong>Os</strong> jovens percebem como principais práticas deletramento escolar a leitura de cartazes nos corredore<strong>se</strong> das anotações que fazem no caderno durante as aulas,além da leitura de textos de apostilas, livros e xerox detextos como apontaram na entrevista. Apenas algunsjovens afirmaram que costumam ler as informaçõescontidas no mural da escola, espaço que eles deveriamusar para obter informações sobre a escola eacontecimentos na cidade. Além dessas práticaspre<strong>se</strong>ntes em sala de aula, a leitura de jornal, revistas elivros ocorrem no contexto escolar por <strong>se</strong>rem leiturasvoltadas para os trabalhos acadêmicos, mas nãonecessariamente que <strong>se</strong>jam práticas pre<strong>se</strong>ntes nocotidiano extra-escolar des<strong>se</strong>s jovens.Com relação às práticas de letramento relacionadasà escrita, os sujeitos deram 66 respostas referentes àsdiferentes práticas pre<strong>se</strong>ntes no ambiente escolar, comomostra a Tabela 2.Tabela 2: Freqüência e porcentagem de respostas em relaçãoàs práticas de escrita pre<strong>se</strong>ntes no ambiente escolar(N=30).Categoria F %Cópia da l<strong>ou</strong>sa 22 33,3Elaboração de redação 10 15,2Exposição oral dos professores 9 13,6Elaboração de trabalhos 8 12,1Resolução de exercícios 6 9,1Elaboração de bilhetes 3 4,6Respostas de questões de prova 3 4,6Elaboração de cartas 2 3,0Cópia de livro 1 1,6Anotação em agenda 1 1,6Elaboração de músicas 1 1,6Total 66 100Eliane Porto Di NucciEntre as práticas mais freqüentes destacam-<strong>se</strong> asanotações no caderno que contém cópias da l<strong>ou</strong>sa(33,3%; F=22), a elaboração de redação (15,2%; F=10)por solicitação dos professores, principalmente aprofessora de língua portuguesa e o registro das falasdos professores (13,6%; F=9), relacionadas aosconteúdos das disciplinas envolvidos no processo deaprendizagem dos alunos. Além disso, eles afirmaramque utilizam a escrita para elaborar atividades e trabalho<strong>se</strong>scolares (12,1%; F=8) e resolver os exercícios dasatividades (9,1%; F=6). Entre as práticas de escritamenos freqüentes no contexto escolar aparecem aelaboração de bilhetes (4,6%; F=3) para a comunicaçãoentre alunos e alunos e professores durante as aulas,respostas às questões das provas (4,6%; F=3),elaboração de cartas (3,0%; F=2), cópia de livros (1,6%;F=1), anotações em agenda (1,6%; F=1) e composiçãoletra de músicas (1,6%; F=1).Ressalta-<strong>se</strong> que, com relação à escrita, nenhumaresposta foi apontada como prática pre<strong>se</strong>nte no ambienteescolar em geral. Assim como na leitura, as prática<strong>se</strong>scolares de escrita estão voltadas predominantementepara o contexto da sala de aula.É importante ressaltar que os jovens apre<strong>se</strong>ntaramdificuldade em apontar as práticas de letramentopre<strong>se</strong>ntes no ambiente escolar em geral, pois, para eles,a leitura e a escrita são práticas exigidas principalmentedurante as aulas.DISCUSSÃO E CONCLUSÃOÉ fato que a escola é compreendida como umaimportante agência de letramento voltada, principalmente,para a aquisição do código escrito e não para asfunções sociais da escrita (Kleiman, 1995). Essa idéiade que a escola é a instituição onde <strong>se</strong> aprende a ler e aescrever foi apontada pelos jovens da amostra duranteas entrevistas, ao descreverem as práticas de letramentoescolar pre<strong>se</strong>ntes, particularmente, no contexto da salade aula.Na sala de aula, o professor pode valorizar os usosda escrita pre<strong>se</strong>ntes no cotidiano para ensinar os devidosconteúdos acadêmicos, como fazia a professora deLíngua Portuguesa da referida escola. O professor, aopropor atividades que envolvem os usos da escrita queainda não fazem parte do cotidiano, pode introduzir essas


O letramento escolar de jovens do ensino médio 133práticas de letramento de forma que os indivíduoscompreendam a função da escrita no contexto social e<strong>sua</strong> relação com o contexto escolar (Terzi, 2001). Assim,ler e escrever através das práticas sociais pode favorecero acesso ao conhecimento, habilitando o aluno ainterpretar diferentes textos que circulam socialmente ea produzir textos eficazes nas diferentes situações sociaisde que participa.De acordo com o relato dos jovens durante a<strong>se</strong>ntrevistas, parece que eles, de um modo geral, nãopercebem a articulação dos textos lidos e redigidos nasatividades escolares com as práticas sociais. As prática<strong>se</strong>scolares de leitura e de escrita estão voltadas qua<strong>se</strong> queexclusivamente para as tarefas acadêmicas solicitada<strong>se</strong>m sala de aula, como mostram as Tabelas 1 e 2.No entanto, pôde <strong>se</strong>r constatado por meio dasob<strong>se</strong>rvações realizadas em sala de aula, particularmentedurante as aulas de Língua Portuguesa, que as atividade<strong>se</strong>ram realizadas a partir de diferentes textos quecirculavam socialmente como jornais, revistas, panfletos,cartas e embalagens. Durante as aulas, os jovensmostravam-<strong>se</strong> interessados em compreender os conteúdosacadêmicos, mas <strong>se</strong>m <strong>se</strong> preocuparem com os usos sociaisdaqueles materiais. Ressalta-<strong>se</strong> que a professora buscavaarticular es<strong>se</strong>s textos, pre<strong>se</strong>ntes nas práticas sociais, comos conteúdos acadêmicos, o que, no entanto, parecia nãoocorrer nas demais disciplinas. Isso reforça a idéia deque os textos utilizados na escola, muitas vezes, não sãovinculados aos usos sociais da escrita.Tal fato pode estar relacionado com a proposta deensino da escola, que considera a leitura e a escritaestreitamente vinculadas apenas à aprendizagem dosconteúdos acadêmicos. No entanto, a nova proposta parao Ensino Médio visa articular as práticas sociais comes<strong>se</strong>s conteúdos, considerando que a aprendizagem devepartir das experiências cotidianas dos alunos.Nesta proposta, o professor precisa oferecercondições para o de<strong>se</strong>nvolvimento de competências ede habilidades dos alunos para que, assim, possamcompreender os usos da escrita nos diferentes contextossociais. Dessa forma, os alunos poderão compreendero impacto da informação em <strong>se</strong>u cotidiano, incluindo aescola, o trabalho e demais contextos relevantes para<strong>sua</strong> vida (MEC, 1999).Aos olhos dos jovens da amostra, parece que a escolaainda é vista como um espaço para a aquisição daeducação formal, com conteúdos acadêmicos desvinculadosda realidade social, que p<strong>ou</strong>co contribuempara a formação do cidadão crítico, embora as aulas deLíngua Portuguesa estives<strong>se</strong>m voltadas para os usossociais da escrita.De acordo com Ribeiro (2001), ainda que os estudossobre o letramento e as propostas pedagógicas para oensino da língua escrita tenham avançado bastante nosúltimos anos, há muito que <strong>se</strong> conhecer a respeito, poisa escolarização é um fator importante na promoção dehabilidades e de comportamentos relacionados aoletramento.Pode-<strong>se</strong> dizer, então, que os jovens da amostrarelacionam o ler e o escrever às práticas escolares maisdo que às práticas sociais, provavelmente devido à<strong>se</strong>xigências das disciplinas que parecem não os incentivarpor oferecer-lhes p<strong>ou</strong>cas oportunidades para praticarema leitura e a escrita em situações diferentes da sala deaula. Isso fica evidente nas ob<strong>se</strong>rvações e durante a<strong>se</strong>ntrevistas. <strong>Os</strong> murais da escola, considerados comopontos de referência para a comunicação entre os aluno<strong>se</strong> equipe pedagógica, foi uma prática de letramentoescolar extra-clas<strong>se</strong> p<strong>ou</strong>co apontada pelos sujeitos. Estesmurais eram utilizados pelos jovens qua<strong>se</strong> queexclusivamente como um espaço para a leitura decartazes, como apontaram as respostas dos sujeitos.Embora a escola possuís<strong>se</strong> vários murais para facilitara comunicação com os alunos, foi ob<strong>se</strong>rvado pelapesquisadora, através de conversas informais com osjovens e equipe pedagógica, que as informações pre<strong>se</strong>ntesnos mesmos eram lidas eventualmente pelos alunos. Issoporque os cartazes fixados eram desatualizados e osrecados passados oralmente, o que parece justificar o fatode <strong>se</strong>r uma prática p<strong>ou</strong>co explorada pelos sujeitos.Se fos<strong>se</strong> uma prática incentivada pela propostapedagógica, talvez <strong>se</strong>ria um espaço melhor utilizado paraa leitura de diferentes tipos de textos colocados pelaequipe pedagógica como cartazes de propaganda,divulgação de pas<strong>se</strong>ios e campanhas, jornal do dia, avisosda escola, além de um espaço onde os jovens poderiamtrocar bilhetes e cartas, publicar textos elaborados poreles, divulgar churrascos e festas, enfim, fixar textospara a comunicação entre eles.Essa realidade reforça a idéia de Ribeiro (2001) eTf<strong>ou</strong>ni (2001) acerca da reflexão sobre as práticaspedagógicas, as quais devem almejar a criação deoportunidades de <strong>se</strong> experimentar a leitura e a escritade textos significativos que cumpram diferentes funçõessociais. Essa idéia pode ajudar a tranqüilizar asinquietações dos professores e, ao mesmo tempo,Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 129-134


134garantir ao aluno o domínio das habilidades de falar e deescrever.Vale destacar que, durante as entrevistas, os jovensafirmaram que as práticas de letramento escolar,pre<strong>se</strong>ntes na sala de aula, são vistas como os principaismeios de comunicação entre eles e os professores. Essaidéia também é apontada por Kleiman (1998) ao afirmarque as práticas de letramento, pre<strong>se</strong>ntes no contextoescolar, são construídas no processo de interação entreprofessor e aluno. Nessa interação, o aluno deveidentificar o elo entre os eventos de letramento na aulae as necessidades dos usos da escrita no cotidiano,tornando o letramento, no contexto escolar, um processocontínuo dos usos sociais e culturais da leitura e daescrita. Porém, os sujeitos desta pesquisa parecem nãoEliane Porto Di Nucciperceber es<strong>se</strong> processo de forma contínua, o que mostraque o Ensino Médio ainda não está preparando os jovenspara o exercício da cidadania.Refletindo sobre as práticas de letramento e a novaproposta para o Ensino Médio, o pre<strong>se</strong>nte estudopretende contribuir para uma reflexão acerca das práticaspedagógicas que visam à aprendizagem dos conteúdosacadêmicos através das práticas sociais emergentes nasociedade tecnológica.Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, são necessários novos estudos paraque a concepção de letramento <strong>se</strong>ja aprimorada e novoscaminhos trilhados na busca de compreender melhor aspráticas de letramento escolar, a partir das práticascotidianas de leitura e de escrita e as implicações dessaspráticas para o exercício pleno da cidadania.REFERÊNCIASCollins, J., & Michaels, S. (1991). A fala e a escrita: estratégiasde discurso e aquisição da alfabetização. Em J. Cook-Gumperz (Org.) A construção social da alfabetização(pp. 242-258). Porto Alegre: Artes Médicas.Correa, M. L. G. (2001). Letramento e heterogeneidade daescrita no ensino de Língua Portuguesa. Em I. Signorini(Org.) Investigando a relação oral/escrito e as teoriasdo letramento (pp. 135-166). Campinas: Mercado deLetras.Kleiman, A. B. (1995). Modelos de letramento e as práticas dealfabetização na escola. Em A. B. Kleiman (Org.) <strong>Os</strong>significados do letramento: uma nova perspectiva sobrea prática social da escrita (pp. 15-64). Campinas:Mercado de Letras.Kleiman, A. B. (1998). Ação e mudança na sala de aula: umapesquisa sobre letramento e interação. Em R. Rojo (Org.)Alfabetização e letramento. Campinas: Mercado deLetras.MEC - Ministério da Educação (1999). PCN – ParâmetrosCurriculares Nacionais- Ensino Médio. Brasília:Ministério da Educação.Oliveira, M. K. (1995). Letramento, cultura e modalidades dopensamento. Em A. B. Kleiman (Org.) <strong>Os</strong> significados doletramento: uma nova perspectiva sobre a prática socialda escrita (pp. 147-160). Campinas: Mercado de Letras.Ribeiro, V. M. M. (1999). Alfabetismo e atitudes. Campinas:Papirus. Ação Educativa.Ribeiro, V. M. M. (2001). A promoção do alfabetismo emprogramas de educação de jovens e adultos. Em V. M.Ribeiro (Org.) Educação de jovens e adultos: novosleitores, novas leituras (pp.45-64). Campinas: Mercadode Letras.Rojo, R. (2001). Letramento escolar, oralidade e escrita em salade aula: diferentes modalidades <strong>ou</strong> gêneros do discurso?Em I. Signorini (Org.) Investigando a relação oral/escritoe as teorias do letramento (pp. 51-74). Campinas:Mercado de Letras.Soares, M. B. (1998). Letramento: um tema em três gêneros.Belo Horizonte: Autêntica.Terzi, S. B. (2001). <strong>Para</strong> que ensinar a ler jornal <strong>se</strong> não há jornalna comunidade?: O letramento simultâneo de jovens eadultos escolarizados e não escolarizados. Em V. M.Ribeiro (Org.) Educação de jovens e adultos: novosleitores, novas leituras (pp. 153-176). Campinas: Mercadode Letras.Tf<strong>ou</strong>ni, L.V. (1995). Letramento e alfabetização. São Paulo:Cortez.Tf<strong>ou</strong>ni, L. V. A. (2001). Dispersão e a deriva na constituiçãoda autoria e <strong>sua</strong>s implicações para uma teoria doletramento. Em I. Signorini (Org.) Investigando a relaçãooral/escrito e as teorias do letramento (pp. 77-95).Campinas: Mercado de Letras.Recebido em: 03/06/03Revisado em: 02/07/03Aprovado em: 21/08/03


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 135-144I CONGRESSO NACIONAL DE ‘PSICOLOGIA - CIÊNCIA E PROFISSÃO’: O QUE TEM SIDOFEITO NA PSICOLOGIA EDUCACIONALResumoAcácia Aparecida Angeli dos Santos 1Katya Luciane de Oliveira 2Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly 3Adriana Cristina B<strong>ou</strong>lhoça Suehiro 4Este trabalho objetiv<strong>ou</strong> analisar a produção científica em psicologia educacional apre<strong>se</strong>ntada em 304 painéis no I Congresso Brasileiro dePsicologia, Ciência e Profissão. A análi<strong>se</strong> ba<strong>se</strong><strong>ou</strong>-<strong>se</strong> em alguns critérios da metaciência, a saber, temática, autoria, modalidade, discurso e análi<strong>se</strong> dedados, descritos nos resumos apre<strong>se</strong>ntados nos anais do congresso. <strong>Os</strong> resultados indicaram que h<strong>ou</strong>ve uma diversificação das temáticas, com amaioria dos trabalhos incluídos numa categoria não prevista pela organização do congresso (Outros) para a área de Escola/Educação. A produçãofoi predominantemente feminina e de múltipla autoria. Quanto ao discurso, verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que os resumos apre<strong>se</strong>ntaram um bom nível de elaboração,contendo os tópicos es<strong>se</strong>nciais. H<strong>ou</strong>ve predominância de relatos de pesquisa em relação às <strong>ou</strong>tras categorias e a análi<strong>se</strong> dos resumos desta modalidademostr<strong>ou</strong> que a maioria apre<strong>se</strong>ntava todos os itens necessários ao discurso científico. A análi<strong>se</strong> qualitativa dos dados foi a forma de tratamento maisutilizada nos resumos avaliados.Palavras-chave: Cientometria; pesquisa; ciência brasileira; publicação; conhecimento científicoAbstractI CONGRESSO NACIONAL DE ‘PSICOLOGIA - CIÊNCIA E PROFISSÃO’: WHAT HAS BEEN DONE INEDUCATIONAL PSYCHOLOGYThis re<strong>se</strong>rarch aimed to verify the scientific production in educational psychology showed by 304 posters in the I Congresso Brasileiro dePsicologia, Ciência e Profissão. The analy<strong>se</strong> was ba<strong>se</strong>d in the meta-analy<strong>se</strong>s criteria: theme, authory, type, report and data analy<strong>se</strong>, described in thecongress annals. The results indicated that the themes were very diversified with the most part of works included in another category, not previewedby the congress organization (Others) for the School/Education field. The production was mostly femail and with multiple authory. The abstractsdemonstraded a good construction level, containing the es<strong>se</strong>ntial topics. The practical report was predominant in relation of the others categoriesand they pre<strong>se</strong>nted the most important items of the scientific disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>. The qualitative analy<strong>se</strong> was the treatment form most u<strong>se</strong>d in the abstract<strong>se</strong>valuated.Key words: Scientometrics; Re<strong>se</strong>arch; Publication; Scientific Knowledge.INTRODUÇÃOA Produção Científica no BrasilFoi no século XX que a produção científica teve umgrande crescimento nos diversos <strong>se</strong>gmentos dasociedade brasileira (Witter, 1999). Corroborando comessa afirmação, Carelli (2002) ob<strong>se</strong>rva que no Brasil,desde o período colonial, há indícios da realização depesquisas, no entanto, o avanço da área científica era1Psicóloga. D<strong>ou</strong>tora em Psicologia pela USP, docente do curso de psicologia e do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia, daUniversidade São Francisco-Itatiba-SP.2Psicóloga. Mestre em Psicologia pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia, da Universidade São Francisco-Itatiba-SP, docenteda Universidade de Alfenas (UNIFENAS).3Psicóloga. D<strong>ou</strong>tora em Psicologia pela USP, docente dos cursos de psicologia e pedagogia e do Programa de Estudos Pós-graduados emPsicologia, da Universidade São Francisco-Itatiba-SP.4Aluna de graduação em Psicologia pela USF-Itatiba-SP. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC-CNPq. Aluna de graduação em Psicologia pelaUSF-Itatiba-SP. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC-CNPq.


136Acácia A. Angeli dos Santos, Katya L. de Oliveira, Maria Cristina R. Azevedo Joly e Adriana C. B<strong>ou</strong>lhoça Suehiromuito reduzido <strong>se</strong> comparado aos paí<strong>se</strong>s maisde<strong>se</strong>nvolvidos por falta de apoio das universidades,inexistentes à época. Com a criação dos institutos depesquisas inici<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> o de<strong>se</strong>nvolvimento da ciência noséculo XIX, tornando-<strong>se</strong> uma área mais sólida nas trêsprimeiras décadas do século XX, com a criação dasprimeiras universidades no país.Meneghini (1998) destaca que de 1987 a 1998 aprodução nacional cresceu 65% em relação a paí<strong>se</strong>scomo Chile, Argentina, Colômbia e México, o queexpressa um notável avanço da produção científicabrasileira. Apesar disso, de modo geral, a produção daAmérica Latina não é ainda visível no cenáriointernacional. Em uma pesquisa sobre a produçãocientífica de autores brasileiros, Izique (2002) evidenci<strong>ou</strong>que o número de publicações brasileiras em periódicosindexados tem apre<strong>se</strong>ntado um progresso considerável,ocupando a nona posição dentre os vinte paí<strong>se</strong>s queregistraram maior crescimento de publicações nes<strong>se</strong> tipode periódico. A autora ob<strong>se</strong>rva que um dos critériosutilizados para a indexação é o da ba<strong>se</strong> de dados doInstitute for Scientific Information – ISI, os quaisimplicam em uma <strong>se</strong>leção criteriosa.Considerando-<strong>se</strong> que as publicações brasileirastenham crescido no cenário mundial de 0,83% em 1997,para 1,33% em 2000, a produção científica nacional émaior do que a indexada pelo ISI. Es<strong>se</strong> fato também foiob<strong>se</strong>rvado por Meneghini (1998) que afirma que 80%da produção nacional não <strong>se</strong> encontra publicada emperiódicos indexados.Quanto ao crescimento das publicações, Freitas(1998) considera que há algumas explicações para ofato, tais como, pressão institucional, crescentesocialização do ensino, quantidade de pesquisadoresativos e a competitividade em relação aos financiamentos.Hoje os pesquisadores podem contar comrecursos que são repassados dos governos estaduais efederal por agências de fomento (CNPq, FINEP,CAPES, FAPESP), além do Programa de Apoio aoDe<strong>se</strong>nvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT).Outros fatores associados são a quantidade de cursosde mestrado (1159) e d<strong>ou</strong>torado (616) que exigem, viade regra, que <strong>se</strong>us docentes apre<strong>se</strong>ntem produção emforma de publicação (resumos em anais de congressos,artigos e livros <strong>ou</strong> capítulos de livros).Avaliar a quantidade e qualidade das produções ées<strong>se</strong>ncial, pois as<strong>se</strong>gura o de<strong>se</strong>nvolvimento eaprimoramento das áreas e das atividades de pesquisas(Freitas, 1998; Meneghini, 1998). Porém, ob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong> queavaliar <strong>se</strong> torn<strong>ou</strong> um termo empregado em diversoscontextos, com diferentes juízos, objetos e significados(Depresbiteris, 1997). A concepção da palavraavaliação, <strong>se</strong>gundo Almeida (1997) é ampla, pois possuidiversos significados como, por exemplo, apreciação,estimação, determinação de valor, diagnóstico, controle,classificação, análi<strong>se</strong>, entre <strong>ou</strong>tros. No caso da avaliaçãoda produção científica o termo mais adequado a <strong>se</strong>rempregado é o de análi<strong>se</strong>. <strong>Para</strong> Witter (1996, 1999),analisar a produção científica possibilita o conhecimentoe orientação da atuação do pesquisador, proporcionandoa melhora da qualidade da vida do homem e ocrescimento na área. Tal análi<strong>se</strong> traduz a evolução doconhecimento e pesquisa, que são es<strong>se</strong>nciais para aformação e a atualização profissional.<strong>Os</strong> primeiros trabalhos de análi<strong>se</strong> da produçãocientífica em psicologia iniciaram-<strong>se</strong> na década de<strong>se</strong>tenta, com revisões históricas da produção. Nessaépoca utilizava-<strong>se</strong> a metodologia da revisão de literaturapara realizar a análi<strong>se</strong>. Nos anos oitenta e noventaob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong> o uso de estratégias que <strong>se</strong> aproximavam dacientometria (Witter C., 1996). Atualmente é realizadaba<strong>se</strong>ando-<strong>se</strong> na metaciência que <strong>se</strong>gundo Witter (1999),permite analisar dimensões abrangentes e pontuais daprodução científica. Dentre os possíveis materiais deanáli<strong>se</strong> estão o discurso que contempla os <strong>se</strong>guintesitens: título, resumo, palavras-chave, estrutura,referências e características verbais. Ao lado disso, ametodologia também é apreciada em aspectos taiscomo, objetivos, tipologia, sujeitos, materiais,procedimentos e variáveis. Como parte do tópicotemática são analisados itens como, tema, origem dotema, variáveis, classificações, thesauros e conclusões.Também é possível focalizar-<strong>se</strong> a análi<strong>se</strong> de dados e,dentro dela, verifica-<strong>se</strong> o procedimento, recursos e anatureza da análi<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolvida (qualitativa, quantitativa<strong>ou</strong> mista). A análi<strong>se</strong> dos enfoques também pode <strong>se</strong>rrealizada e concerne na verificação das teorias e modelosapre<strong>se</strong>ntados. Outros itens passíveis de apreciação sãoa autoria e a vinculação do trabalho.Yamamoto, S<strong>ou</strong>za e Yamamoto (1999) ob<strong>se</strong>rvam quea produção científica é alvo de investigações em diversospaí<strong>se</strong>s e destacam que no Brasil ela aparece de formamuito mais vigorosa em anais de congressos do que emartigos de periódicos, como <strong>se</strong>ria de<strong>se</strong>jável. A pesquisasobre a produção científica feita por Prat (1998) descreveas atividades do Comisión Nacional de Investigación


I Congresso nacional de ‘Psicologia - Ciência e Profissão’: O que tem sido feito na Psicologia Educacional 137Científica y Tecnológica do Chile (CONICYT). Hámuitos pesquisadores brasileiros analisando as produçõestípicas do próprio campo. Es<strong>se</strong> fato pode <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvadonas pesquisas recentes de Meneghini (1998), Noronha(1998), Coimbra Jr. (1999), Figueira, Leta e De Meis(1999), cujos estudos variam desde a análi<strong>se</strong> de anais decongressos, revistas científicas, dis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s atéàquelas que têm como material de estudo ba<strong>se</strong> de dadosde bibliotecas virtuais. Mas há que <strong>se</strong> ressaltar que aprodução em psicologia ainda é relativamente pequena<strong>se</strong> comparada a <strong>ou</strong>tras áreas do conhecimento(Yamamoto, S<strong>ou</strong>za & Yamamoto, 1999).A psicologia escolar e educacional e a produçãocientíficaA psicologia escolar e educacional, voltada para aanáli<strong>se</strong> e intervenção em contextos educacionais, pode<strong>se</strong>r entendida como um instrumento de promoção sociale cultural de mudanças. Engloba aspectos relacionadosao ensino e aprendizagem, ao processo dede<strong>se</strong>nvolvimento, à estrutura curricular, à orientação eà formação continuada de professores, bem como aoestabelecimento de parcerias com as famílias, desde aeducação infantil até o ensino universitário. É uma práticaainda em de<strong>se</strong>nvolvimento, visto que tem p<strong>ou</strong>co mais decem anos. Atualmente os psicólogos que atuam nessaárea utilizam os mais variados métodos e técnicas querefletem as diversas formas de entender a psicologia ea educação. Nes<strong>se</strong> contexto, o que diferencia o psicólogoescolar de <strong>ou</strong>tras especialidades da psicologia é o papelde<strong>se</strong>nvolvido por ele como um profissional socialmentecomprometido, cujos valores e padrões éticos norteiam<strong>sua</strong> prática (Gomes, 1999; Joly, 2000).A psicologia tem muito a crescer e afirmar-<strong>se</strong> dentrodo sistema educacional, <strong>se</strong>ndo que o psicólogo escolarainda não tem um espaço de atuação profissionalconsolidado (Almeida, 1999, Neves, Almeida,Chaperman & Batista, 2002) destacam. Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido,Del Prette (1999) discute que a falta de consideraçãocom a área começa com a própria LDB que em <strong>se</strong>uartigo 71 ‘professa a impossibilidade de <strong>se</strong> concebera in<strong>se</strong>rção do psicólogo no quadro funcional daescola’ (p. 13). Tal afirmação, por óbvio, restringe aprofissionalização dos psicólogos que <strong>se</strong> dedicam à área.Sobre es<strong>se</strong> aspecto, Gomes (1999) ressalta quemesmo com a falta de um reconhecimento maior porparte das autoridades, a psicologia escolar vem <strong>se</strong>de<strong>se</strong>nvolvendo e <strong>se</strong> auto afirmando. As necessidadesda área estão relacionadas às questões de formação, aopapel político de<strong>se</strong>mpenhado pela prática do psicólogoescolar e às atividades de pesquisa.No mesmo <strong>se</strong>ntido, Del Prette (1999) expõe quedentro da psicologia escolar configura-<strong>se</strong> uma divisãoentre as práticas profissionais. De um lado, estão ospsicólogos graduados em psicologia que exercematividades em situações escolares e educacionais ep<strong>ou</strong>cos são os que estão comprometidos com a pesquisa.Por <strong>ou</strong>tro lado, encontram-<strong>se</strong> os docentes pesquisadoresque, de uma forma geral, atuam nas universidades eproduzem o conhecimento na área.Segundo a visão de Gomes (1999), o progressocientífico, gerado a partir dos resultados das pesquisas,não chega ao campo onde a prática acontece. <strong>Para</strong>Almeida (1999) há que haver uma interação entre oconhecimento científico produzido e a atuação prática,o que promoverá o de<strong>se</strong>nvolvimento e aprimoramentodo profissional. Reforçando esta posição, Joly (2000)afirma <strong>se</strong>r imprescindível discutir-<strong>se</strong> um novo paradigmapara a formação e atuação do psicólogo escolar pautadopor ações preventivas em diferentes espaçosinstitucionais.Cabe destaque à produção científica que é muitoimportante, pois demonstra a qualidade da área e reafirma<strong>sua</strong> identidade como campo científico autônomo, comoafirmam Azevedo e Aguiar (2001). No caso dapsicologia escolar, a produção vem crescendo eganhando destaque nos últimos anos. A pesquisarealizada por Witter C. (1996) analis<strong>ou</strong> a produçãonacional e estrangeira da área, enfocando as questõesde formação e atuação profissional. <strong>Para</strong> tanto, avali<strong>ou</strong>três periódicos nacionais, <strong>se</strong>is internacionais e dois anaisde congressos (um nacional e <strong>ou</strong>tro estrangeiro). <strong>Os</strong>resultados indicaram que a maior produção encontra-<strong>se</strong>na área clínica e que a produção na área de escolarconcentra-<strong>se</strong> em aspectos como processos psicológicos,disciplinas acadêmicas, aprendizagem geral e problemasde aprendizagem. Outro dado importante é que a atuaçãoprofissional desponta como um dos temas mais estudadopelos pesquisadores.Mais recentemente, Neves e cols. (2002) analisaramas modalidades de comunicações nos congressosnacionais de psicologia escolar e educacional, estudando102 trabalhos publicados entre os anos de 1991 e 1998,em quatro anais dos congressos nacionais de psicologiaescolar promovidos pela Associação Brasileira dePsicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). <strong>Os</strong>Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 135-144


138Acácia A. Angeli dos Santos, Katya L. de Oliveira, Maria Cristina R. Azevedo Joly e Adriana C. B<strong>ou</strong>lhoça Suehirotrabalhos foram classificados em três modalidades, asaber, relatos de pesquisa, relatos de experiência ereflexões teóricas. <strong>Os</strong> resultados mostram que noprimeiro e <strong>se</strong>gundo congressos os trabalhos queapre<strong>se</strong>ntaram maior incidência foram aquelesclassificados na modalidade reflexão teórica (75,8%;N=22) no primeiro congresso, e (58,5%; N=07) no<strong>se</strong>gundo. Já nos terceiro e quartos h<strong>ou</strong>ve uma maiorincidência de trabalhos classificados na modalidaderelatos de experiência (39,3%; N=13) para o terceirocongresso e (50%; N=14) para o quarto. Um dado quechama atenção é o crescimento dos trabalhosclassificados na modalidade de relatos de pesquisa,<strong>se</strong>ndo que nos primeiros congressos totalizavam 5 e nosdois últimos somavam 20.Es<strong>se</strong>s dados remetem à consideração de que ummovimento de crescimento da pesquisa em psicologiaescolar está <strong>se</strong> instalando. Tal fato não significa umdesmerecimento dos demais trabalhos, mas há que <strong>se</strong>enfatizar que a atuação prática somente é bemfundamentada <strong>se</strong> tiver o respaldo do conhecimentocientífico construído a partir das pesquisas realizadasna área.<strong>Para</strong> Witter C. (1996) conhecer e socializar o que éconhecido é uma preocupação de todos os <strong>se</strong>gmentosda ciência. Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, a autora destaca a importânciada Associação Brasileira de Psicologia Escolar eEducacional (ABRAPEE), entidade científica eprofissional, que por meio do periódico ‘PsicologiaEscolar e Educacional’, tem por principal objetivodis<strong>se</strong>minar os conhecimentos relativos à área. Assim,constitui-<strong>se</strong> um importante espaço de divulgação, quecolabora para que as pesquisas na área <strong>se</strong> difundamentre os profissionais, diminuindo a distância entre apesquisa e a prática. Outro aspecto a <strong>se</strong>r enfatizado é aimportância de eventos como os realizados pela própriaABRAPEE, que já organiz<strong>ou</strong> <strong>se</strong>is congressos nacionaisao longo dos treze anos de <strong>sua</strong> existência.De forma geral, os congressos criam umaoportunidade privilegiada para a promoção e asocialização do conhecimento, aproximando osprofissionais que <strong>se</strong> dedicam à academia e ao fazerciência daqueles que <strong>se</strong> defrontam com os desafios daprática profissional. Este foi o elemento de<strong>se</strong>ncadeadorpara que várias entidades reunidas no Fórum deEntidades Nacionais de Psicologia (FENP) realizas<strong>se</strong>mum evento de grande monta como o ‘I CongressoBrasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão’.Tendo em vista a importância deste evento para apsicologia brasileira, entendeu-<strong>se</strong> como relevante que apsicologia escolar/educacional avalias<strong>se</strong> como ocorreu<strong>sua</strong> participação e analisas<strong>se</strong> os tipos de trabalhospropostos por pesquisadores e profissionais da área. Nes<strong>se</strong><strong>se</strong>ntido, esta pesquisa teve como objetivo analisar aprodução científica em psicologia escolar e educacionalno ‘I Congresso Brasileiro de Psicologia Ciência eProfissão’, considerando-<strong>se</strong> os aspectos relacionados àtemática, autoria, discurso, metodologia e análi<strong>se</strong> de dados.MÉTODOO estudo foi realizado em duas partes, buscandoanalisar a produção científica veiculada no congressoreferido. A primeira focaliz<strong>ou</strong> todos os painéisapre<strong>se</strong>ntados e a <strong>se</strong>gunda apenas aqueles, cujos resumosos autores puderam ter acesso.Composição da amostraA amostra foi composta pelos 304 painéis da áreaEscola/Educação, divididos nas sub-áreas definidas pelaComissão Científica para a análi<strong>se</strong> dos critérios (a)Temática e (b) Autoria. <strong>Para</strong> a análi<strong>se</strong> dos demais itens,utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> 199 painéis, cujos resumos estavamdisponíveis no site do congresso.MaterialLivro de programação: é composto por 160páginas. O índice geral traz os horários das atividadesdiárias divididas pelos dias da <strong>se</strong>mana. Nes<strong>se</strong> índicetambém há uma suscinta apre<strong>se</strong>ntação do que <strong>se</strong>rátratado nas atividades intituladas ‘Conversando sobre’e de ‘Encerramento’. As páginas sub<strong>se</strong>qüentesapre<strong>se</strong>ntam a programação geral.Site do congresso: foi utilizado como fonte deconsulta pois nele encontravam-<strong>se</strong> disponíveis on lineos anais do congresso com muitos dos resumos dospainéis apre<strong>se</strong>ntados.Procedimento<strong>Os</strong> painéis foram analisados com ba<strong>se</strong> nos critério<strong>se</strong>stabelecidos por Witter (1996), <strong>se</strong>ndo considerados ositens: (a) Temática, analis<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a quantidade e adistribuição por áreas; (b) Autoria, identific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a


I Congresso nacional de ‘Psicologia - Ciência e Profissão’: O que tem sido feito na Psicologia Educacional 139natureza da autoria (individual <strong>ou</strong> múltipla), bem como,o gênero dos autores; (c) Discurso, avali<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> o resumoquanto à pre<strong>se</strong>nça de: objetivos, fonte documental <strong>ou</strong>sujeitos, materiais, procedimentos e resultados; (d)Modalidade, verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a tipologia: relato deexperiência, projeto de pesquisa, relato de pesquisa <strong>ou</strong>reflexão teórica; (e) Análi<strong>se</strong> de dados, realiz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> aclassificação do tipo de tratamento (qualitativo,quantitativo <strong>ou</strong> misto).Todos os painéis da área Escola/Educação foramanalisados quanto à temática e à autoria utilizando-<strong>se</strong> olivro de programação do evento. No entanto, para a análi<strong>se</strong>dos demais itens foram considerados apenas os resumosque estavam disponíveis no site do Con<strong>se</strong>lho Federal dePsicologia, onde estão os Anais do Congresso. O resultadode cada item foi considerado em função da concordânciaentre pelo menos três das quatro autoras.RESULTADOS E DISCUSSÃONo que <strong>se</strong> refere à análi<strong>se</strong> da temática, os painéisforam agrupados, considerando as áreas de cada trabalhoapre<strong>se</strong>ntado. <strong>Os</strong> resultados podem <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvados naTabela 1.Tabela 1: Estatísticas descritivas dos painéis, considerandoas temáticas previamente definidas nas quais osautores incluíam <strong>se</strong>us trabalhos (N=304).Área F %Outros 43 14,1Necessidades Especiais 38 12,5Formação do Educador 34 11,1Orientação Profissional 34 11,1Ensino Superior 32 10,5Ensino Fundamental 30 9,9Educação Infantil – Creche 29 9,5Ensino da Psicologia 12 3,9Ensino Médio 10 3,2Fracasso Escolar 9 2,9Leitura e Escrita 8 2,6Prevenção 8 2,6Pré Escola 7 2,3Tecnologia Educacional 7 2,3Educação Informal 3 0,9Total 304 100,00Destaca-<strong>se</strong> que os trabalhos relacionados àTecnologia Educacional, Educação Informal e Préescolaapre<strong>se</strong>ntaram baixa freqüência de apre<strong>se</strong>ntaçãono congresso, comparando-<strong>se</strong> com as sub-áreas deNecessidades Especiais, Formação do educador eOrientação profissional, entre <strong>ou</strong>tras. Talvez es<strong>se</strong> fatotenha ocorrido por lidarem com temas que estão <strong>se</strong>de<strong>se</strong>nvolvendo mais recentemente <strong>ou</strong> por falha dosistema de classificação criado. No caso da Pré-escola,a existência da sub-área Creche possivelmente tenhalevado a uma divisão dos trabalhos relacionados àeducação infantil entre essas duas sub-áreas. Outrapossível explicação é o fato de que havia uma <strong>ou</strong>tragrande área no congresso, além da Educação/Escola,denominada De<strong>se</strong>nvolvimento Humano. Esta área podeter aglutinado parte significativa dos trabalhos que foramde<strong>se</strong>nvolvidos no ambiente da pré-escola, <strong>se</strong>ndo opçãode escolha dos autores, cujo foco era mais voltado aode<strong>se</strong>nvolvimento infantil do que a aspectos daaprendizagem que poderiam ocorrer nes<strong>se</strong> contexto.Face às exigências da educação inclusiva, surgidascom a Lei de Diretrizes e Ba<strong>se</strong>s aprovada em 1996,muitas temáticas ligadas à sub-área Necessidade<strong>se</strong>speciais passaram a <strong>se</strong>r muito discutidas e pesquisadas,não somente por psicólogos, mas também porpesquisadores da educação (Batista, 1997; Mantoan,1997; Cordeiro & Aquino, 1998; Góes, 2000; Fanelli,2003). Talvez este fato possa explicar o crescimentodos trabalhos apre<strong>se</strong>ntados neste congresso, cuja subáreafoi uma das com maior número de painéis. Assim,mostra um panorama diferente, muito mais relacionadoà nomenclatura, daquele encontrado por Witter C. (1996)que apontava que a produção científica em psicologiaescolar estava mais focada em aprendizagem e <strong>sua</strong>sdificuldades.Vale destacar que a divisão em sub-áreas de cadacampo da Psicologia foi proposta pela comissão científicado congresso, com ba<strong>se</strong> em sugestões de membrosrepre<strong>se</strong>ntantes das diversas entidades. No entanto, haviaa possibilidade do participante inscrever <strong>se</strong>u trabalhonuma grande área (no pre<strong>se</strong>nte caso, a de Escola/Educação) e, quando julgas<strong>se</strong> que o <strong>se</strong>u trabalho não<strong>se</strong> encaixava adequadamente nas sub-áreas disponíveis,incluí-lo numa sub-área denominada Outros. Nostrabalhos analisados verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que esta categoriaatingiu o percentual mais alto, o que leva a crer que assub-áreas propostas não tenham sido suficientementeabrangentes para englobarem toda a diversidade de áreaeducacional. É possível que a classificação proposta,mesmo pautada em áreas temáticas que emergiram dePsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 135-144


140Acácia A. Angeli dos Santos, Katya L. de Oliveira, Maria Cristina R. Azevedo Joly e Adriana C. B<strong>ou</strong>lhoça Suehiro<strong>ou</strong>tras análi<strong>se</strong>s da produção no campo da psicologiaescolar/educacional (Maluf, 1994; Witter C., 1996, entre<strong>ou</strong>tros), não tenha contemplado adequadamente assubdivisões existentes.Novos trabalhos poderão explorar o conteúdo dosresumos classificados pelos autores no item Outros.Dessa forma, <strong>se</strong>rá possível identificar subcategorias quedeverão estar pre<strong>se</strong>ntes em eventos futuros e tambémvislumbrar novas tendências de linhas de pesquisa, bemcomo de atuação profissional que poderão surgir dareferida análi<strong>se</strong>.A Tabela 2 mostra a análi<strong>se</strong> da autoria do trabalho,considerando os dados referentes à autoria individual<strong>ou</strong> múltipla e ao gênero dos autores.maior número total de autores e Educação Informal(0,75%; N=7) teve o menor número, mantendo a mesmaclassificação obtida em temática. Ob<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que aárea Formação do educador foi a que cont<strong>ou</strong> commaior número de trabalhos com autoria individual(23,07%; N=12).No que tange à análi<strong>se</strong> dos resumos foram avaliadosos itens (a) modalidade (relato de experiência, projetode pesquisa, relato de pesquisa <strong>ou</strong> reflexão teórica); (b)discurso (objetivos, fonte documental <strong>ou</strong> sujeitos,materiais, procedimentos e resultados) e (c) análi<strong>se</strong> dosdados (qualitativa, quantitativa <strong>ou</strong> mista). <strong>Para</strong> estaanáli<strong>se</strong> só puderam <strong>se</strong>r considerados os resumos queestavam disponíveis no site do congresso. A distribuição,Tabela 2: Freqüências referentes à autoria do trabalho e ao gênero dos autores (N=304).Área F F F F F FTotal de Total de Total de Total de Total de Total deautores trabalhos trabalhos autores do autores do autores cujocom autoria com autoria gênero gênero gênero nãoindividual múltipla masculino feminino foi identificadoOutros 152 6 37 30 108 14Necessidades Especiais 135 5 33 12 103 16Ensino Fundamental 107 5 25 16 89 2Ensino Superior 101 3 29 17 71 13Orientação Profissional 97 4 30 25 70 3Formação do Educador 87 12 22 11 73 3Educação Infantil – Creche 56 5 24 5 45 6Prevenção 35 1 7 4 31 0Tecnologia Educacional 34 1 6 17 16 1Ensino da Psicologia 29 3 9 4 22 3Ensino Médio 25 2 8 6 15 4Fracasso Escolar 23 1 8 8 18 0Pré Escola 18 1 6 2 16 0Leitura e Escrita 17 3 5 2 10 5Educação Informal 7 0 3 0 6 1Total 923 52 252 159 693 71Ob<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que os trabalhos são realizados predominantementepor mais de um autor (82,89%; N=252),<strong>se</strong>ndo que os de autoria individual repre<strong>se</strong>ntavam aminoria (17,11%; N=52) entre os constantes no livrode resumos. Não foi possível identificar qual era ogênero de 71 (7,69%) dos autores, pois <strong>se</strong>us nomesgeraram ambigüidade quanto ao gênero, <strong>se</strong>ndo esta aúnica referência para a análi<strong>se</strong>. <strong>Os</strong> resultados tambémindicam que há um número maior de mulheres naautoria dos trabalhos (75,08%; N=693).As áreas Outros (16,46%; N=152) e NecessidadesEspeciais (14,62%; N=135) foram as que apre<strong>se</strong>ntarampor cada sub-área, dos resumos avaliados pode <strong>se</strong>rob<strong>se</strong>rvada na Tabela 3.Ob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong> que entre os 199 resumos disponíveis,as sub-áreas de Ensino superior e Outros foram asque tiveram um número maior de trabalhos (13,1%;N=26 cada uma) e os de Educação informal e Ensinomédio as com um número menor (1,5%; N=3 e 2,0%;N=4 respectivamente). Não há informação no site quepermita identificar o motivo pelo qual nem todos ostrabalhos apre<strong>se</strong>ntados no evento tiveram <strong>se</strong>us resumosacessíveis pela Internet. Assim, só puderam <strong>se</strong>ranalisados, em relação à categoria do discurso uma


I Congresso nacional de ‘Psicologia - Ciência e Profissão’: O que tem sido feito na Psicologia Educacional 141parte dos trabalhos, tal como a distribuição apre<strong>se</strong>ntadana Tabela 3.Tabela 3: Freqüência e porcentagem dos resumos disponíveispara <strong>se</strong>rem analisados em cada sub-área, talcomo propostas pela comissão científica docongresso (N=199).Sub-áreas Freqüência PorcentagemEnsino superior 26 13,1Outros 26 13,1Necessidades especiais 25 12,6Formação do educador 23 11,6Ensino fundamental 20 10,1Orientação profissional 19 9,5Creche 14 7,0Ensino da psicologia 9 4,5Pré-escola 6 3,0Fracasso escolar 6 3,0Leitura e escrita 6 3,0Prevenção 6 3,0Tecnologia educacional 6 3,0Ensino médio 4 2,0Educação informal 3 1,5Total 199 100,0As distribuições das análi<strong>se</strong>s referentes a cadacategoria pesquisada (modalidade, discurso e análi<strong>se</strong> dedados) foram elencadas na Tabela 4.A modalidade relatos de experiência ainda fic<strong>ou</strong> numnúmero expressivamente menor que a de relatos depesquisa, embora fos<strong>se</strong> um dos objetivos do congressoaproximar os profissionais em atuação dos acadêmicos,u<strong>sua</strong>lmente os responsáveis pelos relatos de pesquisa.Por um lado, tais resultados vêm ao encontro do queafirmam alguns estudiosos da área, ressaltado que opsicólogo escolar ainda não tem um espaçosuficientemente consolidado no cenário educacional(Almeida, 1999; Del Prette, 1999; Gomes, 1999; Joly,2000; Neves & cols., 2002). Por <strong>ou</strong>tro, mostram que aprodução significativa em pesquisa, consolidando <strong>sua</strong>identidade como campo científico autônomo e produzindoconhecimento na área, tal como ressaltado por WitterC. (1996) e Azevedo e Aguiar (2001).Verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que, independentemente da modalidadedo trabalho apre<strong>se</strong>ntado, a grande maioria tinha o<strong>se</strong>lementos do discurso explicitado claramente. Emespecial, os objetivos estiveram pre<strong>se</strong>ntes em 185resumos analisados (93,0%). Tal fato é um avanço naestruturação de resumos, visto que há estudos emmetaciência que apontam para falhas evidentes na <strong>sua</strong>redação (Juliano, 1994, entre <strong>ou</strong>tros). Assim, valedestacar a qualidade dos resumos aqui analisados, quetr<strong>ou</strong>xeram aspectos informativos importantes,possibilitando a identificação do que realmente foi objetoda preocupação dos autores.No que <strong>se</strong> refere aos elementos do discurso, foramconsiderados apenas os relatos de pesquisa como umacategoria especial, que englob<strong>ou</strong> 132 (66,3%) dosresumos analisados. <strong>Para</strong> tanto, atribuiu-<strong>se</strong> um ponto acada <strong>se</strong>ção prevista na organização de um relato deTabela 4: Distribuição das freqüências e porcentagens considerando as categorias de análi<strong>se</strong> (modalidade, discurso e análi<strong>se</strong>de dados) (N=199).Categorias de Análi<strong>se</strong> F pre<strong>se</strong>nça % F ausência %ModalidadeRelato de experiência 59 29,6 140 70,4Projeto de pesquisa 3 1,5 196 98,5Relato de pesquisa 132 66,3 67 33,7Caráter teórico 4 2,0 195 98,0Não especificada 1 0,5 198 99,5Resultados 170 85,4 29 14,6DiscursoObjetivos 185 93,0 14 7,0Sujeitos/Fonte documental 180 90,4 21 9,6Materiais 173 86,9 26 13,1Procedimentos 176 88,4 23 11,6Resultados 170 85,4 29 14,6Análi<strong>se</strong> de DadosQualitativa 71 35,7 128 64,3Quantitativa 58 29,1 141 70,9Mista 6 3,0 193 97,0Não Especificada 10 5,0 189 95,0Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 135-144


142Acácia A. Angeli dos Santos, Katya L. de Oliveira, Maria Cristina R. Azevedo Joly e Adriana C. B<strong>ou</strong>lhoça Suehiropesquisa bem estruturado, a saber, (a) objetivo, (b)sujeitos <strong>ou</strong> fonte documental, (c) material, (d)procedimento e (e) resultados. Assim, um relatocompleto de pesquisa deveria atingir cinco pontos, <strong>se</strong>ndoos resumos categorizados em completos (compontuação 5) e incompletos (menos que 5 pontos). AFigura 1 mostra a distribuição das respostas obtidas emrelação ao agrupamento realizado.Também referente aos relatos de pesquisa, analis<strong>ou</strong><strong>se</strong>qual a análi<strong>se</strong> de dados mais utilizada (quantitativa,qualitativa <strong>ou</strong> mista). <strong>Os</strong> dados obtidos encontram-<strong>se</strong>apre<strong>se</strong>ntados na Figura 2.FrequênciaFrequênciaAnáli<strong>se</strong> de dadosFigura 2: Distribuição dos resumos dos relatos depesquisa considerando a análi<strong>se</strong> de dadosrealizada (N=132).Figura 1: Distribuição dos resumos dos relatos de pesquisaconsiderando o conteúdo do discurso (N=132).Pela distribuição dos resumos verifica-<strong>se</strong> que agrande maioria dos resumos apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> todos os itensrequeridos para <strong>se</strong>rem classificados como completos.Tal fato também aponta para um amadurecimento dosautores e uma melhor capacitação para a elaboraçãodo resumo de um relato de pesquisa. Vale destacar queeste evento cont<strong>ou</strong> com a participação de psicólogos,professores e estudantes de psicologia (FENP, 2002).Assim, pode-<strong>se</strong> considerar que a qualidade dos relatosde pesquisa apre<strong>se</strong>ntados reflete o amadurecimento dosprofissionais e estudantes da psicologia, interessados naárea de Escola/Educação, demonstrando que ostrabalhos apre<strong>se</strong>ntados possuem características maisadequadas do que os apre<strong>se</strong>ntados em <strong>ou</strong>tros evento<strong>se</strong>specíficos da área, como demonstra o estudo de Neve<strong>se</strong> cols. (2002) ao analisarem as modalidades decomunicação nos congressos nacionais de psicologiaescolar e educacional.<strong>Os</strong> resultados indicam que a análi<strong>se</strong> qualitativapredomin<strong>ou</strong> como forma de análi<strong>se</strong> de dados (50,8%;N=67). Apenas um resumo não trazia o tipo de análi<strong>se</strong>especificada. Mais uma vez fica evidenciada aqualidade dos resumos apre<strong>se</strong>ntados que, além defornecerem informações sobre os resultadosalcançados (comentado anteriormente), tambémesclareciam sobre o tipo de tratamento utilizado para aanáli<strong>se</strong> dos dados obtidos.CONSIDERAÇÕES FINAIS<strong>Os</strong> resultados apontam algumas tendências dapsicologia escolar/educacional no Brasil. Assim, verifica<strong>se</strong>que a área, mesmo não tendo ainda o merecidoreconhecimento, foi uma das mais repre<strong>se</strong>ntativas no ICongresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão.Pelo número de painéis apre<strong>se</strong>ntados foi a <strong>se</strong>gunda áreaem repre<strong>se</strong>ntatividade, só ficando atrás da que reuniuos trabalhos da psicologia clínica e da saúde. Élamentável que mesmo assim p<strong>ou</strong>cos estados e


I Congresso nacional de ‘Psicologia - Ciência e Profissão’: O que tem sido feito na Psicologia Educacional 143municípios brasileiros dêem o devido espaço aosprofissionais da área no sistema público de ensino.Confirma-<strong>se</strong> em termos de autoria a feminilizaçãoda área, com a predominância do gênero feminino naautoria dos trabalhos apre<strong>se</strong>ntados. Ao lado disso,verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> também a tendência de apre<strong>se</strong>ntação detrabalhos em grupos em todas as sub-áreas e nasdiferentes modalidades apre<strong>se</strong>ntadas.Parece que o objetivo pretendido pelo Fórum deEntidades Nacionais de Psicologia foi atingido quando<strong>se</strong> olha para a característica dos painéis apre<strong>se</strong>ntados.Em termos de modalidade, o número de painéis derelatos de pesquisa foi bem superior ao de relatos deexperiência, trazida possivelmente pelos profissionai<strong>se</strong>m atuação. No entanto, pode-<strong>se</strong> dizer que o objetivopretendido de aproximar pesquisadores e profissionaisda área foi alcançado, tendo em vista que pode <strong>se</strong>rconsiderado que o percentual de experiências relatadas,embora em número inferior, pode <strong>se</strong>r consideradobastante expressivo.Merece destaque especial a qualidade dos resumosque foram apre<strong>se</strong>ntados em todas as modalidades. Amaior parte dos trabalhos atendeu os requisitos esperadosdo discurso, característicos de um resumo bemelaborado, especialmente os inscritos na categoria derelato de pesquisa.Como limitação deste estudo assinala-<strong>se</strong> o fatode que nem todos os resumos puderam <strong>se</strong>ranalisados pela inacessibilidade aos dados. Alémdisso, em função da característica deste trabalho não<strong>se</strong> avali<strong>ou</strong> os conteúdos dos resumos, para que <strong>se</strong>pudes<strong>se</strong> verificar eventuais avanços em termos dosdelineamentos de pesquisa utilizados e adiversificação do referencial teórico apre<strong>se</strong>ntado.Fica a sugestão de que <strong>ou</strong>tros estudos nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido<strong>se</strong>jam empreendidos.REFERÊNCIASAlmeida, A. M. F. P. M. (1997). Avaliação da aprendizagem e<strong>se</strong>us desdobramentos. Avaliação, 2 (2-4), 37-50.Almeida, S. F. C. (1999). O psicólogo no cotidiano da escola:re-significando a atuação profissional. Em R. S. L. Guzzo(Org.) Psicologia escolar: LDB e educação hoje (pp. 77-90). Campinas: Alínea.Azevedo, J. M. L., & Aguiar, M. A. (2001). A produção doconhecimento sobre a política educacional no Brasil: um olhara partir da ANPED. Educação e Sociedade, 22 (77), 49-70.Batista, C. G. (1997). Prevenção de dificuldades escolares emcrianças com dificuldades vi<strong>sua</strong>is. Temas em Psicologia,6 (2), 75-86.Carelli, A. E. (2002). Produção científica em leitura:dis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s (1990-1999). Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>torado.Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas.Coimbra Jr., C. E. A. (1999). Produção científica em saúdepública e as ba<strong>se</strong>s bibliográficas internacionais. Cadernosde Saúde Pública, 15 (4), 883-888.Cordeiro, M. S. B., & Aquino, M. V. F. (1998). Aspectosfamiliares de um atendimento integrado em uma escolaespecial. Temas sobre De<strong>se</strong>nvolvimento, 6 (36), 35-39.Del Prette, Z. A. (1999). Psicologia, educação e LDB: novosdesafios para velhas questões? Em R. S. L. Guzzo (Org.).Psicologia escolar: LDB e educação hoje (pp. 11-34).Campinas: Alínea.Depresbiteris, L. (1997). Avaliação da aprendizagem: revendoconceitos e posições. Em C. P. S<strong>ou</strong>sa (Org.). Avaliaçãodo rendimento escolar (pp. 51-79 6. ed). Campinas:Papirus.Fanelli, J. R. S. (2003). Um estudo sobre o autoconceito e aescrita de alunos com deficiência vi<strong>sua</strong>l. Dis<strong>se</strong>rtaçãode mestrado. Faculdade de Educação da UNICAMP.Campinas-SP.Figueira, I, Leta, J., & De Meis, L. (1999). Avaliação da produçãocientífica dos principais periódicos brasileiros depsiquiatria no período de 1981 a 1995. Revista Brasileirade Psiquiatri, 21 (4), 201-208.Fórum de Entidades Nacionais de Psicologia Brasileira (FENP)(2002). Caderno de Programa do I Congresso Brasileirode Psicologia: Ciência e Profissão.Freitas, M. H. A. (1998). Avaliação da produção científica:considerações sobre alguns critérios. Psicologia Escolare Educacional, 2 (3), 211-228.Góes, M. C. R. (2000). A experiência educacional na escolacomum e a subjetividade da criança surda. Temas emPsicologia, 8 (1), 45-54.Gomes, V. L. T. (1999). A formação do psicólogo escolar e osimpas<strong>se</strong>s entre a teoria e a prática. Em R. S. L. Guzzo (Org.).Psicologia escolar: LDB e educação hoje (pp. 49-73).Campinas: Alínea.Izique, C. (2002). Produção crescente. Pesquisa FAPESP, (81),18-22.Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 135-144


Acácia A. Angeli dos Santos, Katya L. de Oliveira, Maria Cristina R. Azevedo Joly e Adriana C. B<strong>ou</strong>lhoça SuehiroJoly, M. C. R. A. (2000) A formação do Psicólogo escolar e aeducação no terceiro milênio. Psicologia Escolar eEducacional,4 (2), 51-55.Juliano, A. M. R. (1994) Análi<strong>se</strong> de resumo das dis<strong>se</strong>rtaçõesde mestrado em Biblioteconomia da PUCCAMP (1980/1992). Dis<strong>se</strong>rtação de mestrado. Departamento de Pós-Graduação em Biblioteconomia da PUC-Campinas.Campinas-SP.Maluf, M. R. (1994). Formação e atuação do psicólogo naeducação: Dinâmica de transformação. Em Con<strong>se</strong>lho Federalde Psicologia Psicólogo Brasileiro: práticas emergentes edesafios para a formação. São Paulo, Casa do Psicólogo.Mantoan, M. T. E. (1997). A integração de pessoas comdeficiência. São Paulo: Mennon.Meneghini, R. (1998). Avaliação da produção científica e oprojeto SciELO. Ciência da Informação [on line], 27(2), [citado em 28 de <strong>se</strong>tembro de 2002]. Disponível naWorld Wide Web: http: www.scielo.br.Neves, M. M. B. J., Almeida, S. F. C., Chaperman, M. C. L., &Batista, B. P. (2002). Formação e atuação em psicologiaescolar: análi<strong>se</strong> das modalidades de comunicações noscongressos nacionais de psicologia escolar e educacional.Psicologia Ciência e Profissão, 22 (2), 2-11.Noronha, D. P. (1998). Análi<strong>se</strong> das citações das dis<strong>se</strong>rtaçõesde mestrado e te<strong>se</strong>s de d<strong>ou</strong>torado em saúde pública (1990-1994): estudo exploratório. Ciência da Informação [online], 27, (1), [citado em 4 de <strong>ou</strong>tubro de 2002]. Disponívelna World Wide Web: http: www.scielo.br.Prat, A. M. (1998). Avaliação da produção científica comoinstrumento para o de<strong>se</strong>nvolvimento da ciência e datecnologia. Ciência da Informação [on line], 27, (2),[citado em 28 de <strong>se</strong>tembro de 2002]. Disponível na WorldWide Web: http: www.scielo.br.Witter, C. (1996). Psicologia Escolar: produção científica,formação e atuação (1990-1994). Te<strong>se</strong> de d<strong>ou</strong>torado.Universidade de São Paulo. São Paulo.Witter, G. P. (1996). Avaliação da produção científica sobreleitura na universidade. Psicologia Escolar eEducacional, 1 (1), 31-37.Witter, G. P. (1999). Metaciência e leitura. Em G. P. Witter (Org.)Leitura: textos e pesquisas (pp. 13-22). Campinas: Alínea.Yamamoto, O. H.; S<strong>ou</strong>za, C. C., & Yamamoto, M. E. (1999). Aprodução científica na psicologia: uma análi<strong>se</strong> dosperiódicos brasileiros no período de 1990-1997.Psicologia Reflexão e Crítica, 12 (2), 549-565.Recebido em: 20/05/03Revisado em: 18/06/03Aprovado em: 01/07/03


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 145-153SÍNDROME DE BURNOUT: UM ESTUDO COM PROFESSORES DA REDE PÚBLICAGraziela Nascimento da Silva 1Mary Sandra Carlotto 2ResumoO objetivo deste estudo foi analisar <strong>se</strong> o gênero estabelece diferenças significativas nos níveis e no processo da Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t emprofessores de escolas da rede pública. Também procur<strong>ou</strong> identificar associações das dimensões de burn<strong>ou</strong>t com variáveis demográficas, laborai<strong>se</strong> comportamentais. Foi utilizado como instrumento de pesquisa o MBI- Maslach Burn<strong>ou</strong>t Inventory e um questionário elaborado especificamentepara este estudo para as demais variáveis. A amostra, do tipo de conveniência, foi composta de 31 homens e 30 mulheres. <strong>Os</strong> resultados obtidosindicam não existir diferença estatisticamente significativa entre os grupos nas dimensões e níveis de Burn<strong>ou</strong>t; no entanto, verifica-<strong>se</strong> aocorrência de associação diferenciada nos dois grupos entre as dimensões de Burn<strong>ou</strong>t e determinadas variáveis demográficas, profissionais ecomportamentais.Palavras-Chave: Professores; Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t; Gênero.AbstractSYNDROME OF BURNOUT: A TEACHERS PUBLICS SCHOOLS STUDYThe objective of this study was to analy<strong>se</strong> if the gender establishes significant differences in the levels and in the process of the Syndrome ofBurn<strong>ou</strong>t in the teachers of the public schools. It also tried to identify associations if the dimensions of Burn<strong>ou</strong>t with demographic lab<strong>ou</strong>ral andbehavior variables. It was u<strong>se</strong>d as instrument of re<strong>se</strong>arch MBI – Maslach Burn<strong>ou</strong>t Inventory and a questionnaire elaborated specially for this studyfor the other variables. The sample, of the convenience kind, was compo<strong>se</strong>d by 31 men and 30 women. The results gotten indicate there is nodifference statistically significant between the gr<strong>ou</strong>ps in the dimensions and levels of burn<strong>ou</strong>t. Nevertheless, it is verified the occurrence ofdistinguishable association in the two gr<strong>ou</strong>ps between dimensions of burn<strong>ou</strong>t and determined demographic, professional and behavior variables.Key words: teachers; Syndrome of Burn<strong>ou</strong>t; Gender.INTRODUÇÃOA escola e o professor cumprem papel relevantena socialização do indivíduo. O bom de<strong>se</strong>mpenho dasatividades docentes depende das <strong>sua</strong>s condiçõe<strong>se</strong>mocionais favoráveis, <strong>se</strong>ndo que o professor, no <strong>se</strong>upapel de educador, é para <strong>se</strong>us alunos uma referência,um exemplo nas <strong>sua</strong>s atitudes, no <strong>se</strong>u caráter, namaneira de tratar o próximo. Lecionar é uma tarefacomplexa que exige deste profissional muita dedicaçãoe desprendimento.As constantes mudanças ocorridas no sistema públicode educação não raras vezes geram nes<strong>se</strong>s profissionais<strong>se</strong>ntimentos de mal-estar e impotência. O trabalhogeralmente é realizado sob alguns fatores potencialmenteestressores como: baixos salários, escassos recursosmateriais e didáticos, clas<strong>se</strong>s superlotadas, tensão narelação com alunos, excesso de carga horária, inexpressivaparticipação nas políticas e no planejamentoinstitucional e falta de <strong>se</strong>gurança no contexto escolar.Segundo Carlotto (2002b), no trabalho docente algun<strong>se</strong>stressores são típicos da natureza da função e <strong>ou</strong>trossão ocasionados pelo contexto onde o mesmo <strong>se</strong> realiza.Es<strong>se</strong>s estressores psicossociais, <strong>se</strong> persistentes, podemlevar à Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t. Essa síndrome éconsiderada por França e Rodrigues (1999) como umaresposta emocional a situações de estres<strong>se</strong> crônico emfunção de relações intensas em situações de trabalho1Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil.2Mestre em Saúde Coletiva e docente do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil.


146 Graziela Nascimento da Silva e Mary Sandra Carlottocom <strong>ou</strong>tras pessoas. Segundo Maslach e Jackson (1981),<strong>se</strong> constitui de três dimensões conceitualmente distintas,mas empiricamente relacionadas: exaustão emocional,despersonalização e falta de realização profissional.<strong>Os</strong> autores referem ainda que a exaustão emocionalpode <strong>se</strong>r entendida pela situação na qual os trabalhadores<strong>se</strong>ntem que não podem <strong>se</strong> entregar mais. É uma situaçãode esgotamento da energia dos recursos emocionaispróprios, uma experiência de estar emocionalmentedesgastado devido ao contato diário com pessoas comas quais necessitam <strong>se</strong> relacionar em função de <strong>se</strong>utrabalho. A despersonalização pode <strong>se</strong>r definida comoo de<strong>se</strong>nvolvimento de <strong>se</strong>ntimentos e atitudes negativa<strong>se</strong> de distanciamento para as pessoas destinatárias dotrabalho. A falta de realização profissional, faz comque os trabalhadores <strong>se</strong> sintam descontentes consigomesmos e insatisfeitos com os resultados de <strong>se</strong>u trabalho.A Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t em profissionais daeducação vem recebendo crescente atenção por partede pesquisadores. Diversos estudos (Byrne, 1993;Pretorius, 1994; Carvalho, 1995; M<strong>ou</strong>ra, 1997; Carlotto,2002b) têm sido realizados com essa categoria profissional.Conforme pontua Codo (1999), muitos esforços têm sidofeitos para traçar um perfil do educador que é maissuscetível ao <strong>se</strong>ntimento de Burn<strong>ou</strong>t. Es<strong>se</strong>s esforços <strong>se</strong>justificam, na medida em que a <strong>se</strong>veridade da síndromeem professores já é, atualmente, superior à dosprofissionais de saúde, o que coloca o magistério com<strong>ou</strong>ma das profissões de alto risco de incidência (Iwanicki& Schwab, 1981; Farber, 1991).Burn<strong>ou</strong>t na educação é um fenômeno complexo emultidimensional resultante da interação entre aspectosindividuais e o ambiente de trabalho. Este ambiente nãodiz respeito somente à sala de aula <strong>ou</strong> ao contextoinstitucional, mas sim a todos os fatores envolvidos nestarelação, incluindo os fatores macrossociais como política<strong>se</strong>ducacionais e fatores sócio-históricos (Carlotto, 2002a).Sua ocorrência em professores tem sido consideradaum fenômeno psicossocial relevante, pois afeta nãosomente o professor, mas também o ambienteeducacional, interferindo na obtenção dos objetivospedagógicos, uma vez que os profissionais acometidospela síndrome de<strong>se</strong>nvolvem um processo de alienação,desumanização e apatia (Guglielmi & Tatrow, 1998).Muitas são as variáveis associadas ao Burn<strong>ou</strong>t, noentanto, a variável <strong>se</strong>xo tem chamado atenção especialde alguns pesquisadores (Burke & Greenglass; 1989;Farber, 1991; Carvalho, 1995; Burke, Greenglass &Schwarzer, 1996; Gil-Monte, Peiró & Valcárcel, 1996).Maslach e Jackson (1985) afirmam que esta variável podenão surgir como fator determinante de Burn<strong>ou</strong>t, porém,quando ocorre, a consistência que emerge da diferençavem de dados analisados principalmente na dimensão dedespersonalização, pois homens geralmente apre<strong>se</strong>ntamescores mais altos que as mulheres dentro da mesmaocupação e do mesmo contexto organizacional. Estesautores entendem que tal diferença pode estar relacionadaa três questões: responsabilidade familiar, tipo de ocupaçãoe papel do <strong>se</strong>xo na socialização. Destacam que a últimaquestão abordada é a mais importante, pois identifica aconcepção de que as mulheres estão mais envolvidas comcuidados, alimentação e preocupação com o bem-estarde <strong>ou</strong>tras pessoas, aspectos que <strong>se</strong> colocam de formadiferenciada com relação ao homem. A elevação daexaustão emocional por parte das mulheres é interpretadapelos autores a partir da questão da emocionalidadevinculada ao papel feminino. Já a grande intensidade deinsatisfação no trabalho dos homens pode estar vinculadaàs expectativas de sucesso, competição e de<strong>se</strong>nvolvimentoque são geralmente elementos mais identificados com opapel masculino. Etzion (1987) identific<strong>ou</strong> resultado<strong>se</strong>melhante, também atribuindo a ele questões tradicionaisdo processo de socialização e organização social que <strong>se</strong>colocam diferenciadamente para homens e mulheres.Apple (1995) e Borsoi (1995) pontuam que osproblemas referentes ao trabalho enfrentados pelasmulheres não são os mesmos enfrentados pelo trabalhadordo <strong>se</strong>xo masculino. <strong>Os</strong> riscos relacionados ao trabalhosão diferentes para homens e mulheres (Moreno, 1999).Ao ingressar no mercado de trabalho a mulher pass<strong>ou</strong> ade<strong>se</strong>nvolver uma dupla jornada, a profissional e adoméstico. Em nossa sociedade, as mulheres têm umarelação dupla com o trabalho assalariado. Elas são, aomesmo tempo, trabalhadoras remuneradas e nãoremuneradas.Tal situação, no entanto, vem <strong>se</strong>modificando, pois de maneira crescente o homem estádividindo com as mulheres as responsabilidades e osafazeres do lar. Compartilhar as responsabilidades e aspreocupações com a criação dos filhos e as tarefasdomésticas já é bastante comum (Apple, 1995; Borsoi,1995). Brito (1999) complementa, referindo, entretanto,que a alternância trabalho/tempo livre só tem <strong>se</strong>ntido paraa população masculina. Quando <strong>se</strong> trata de mulheres, aalternância significativa é a de trabalho profissional/trabalho doméstico, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, o que é central é uma visãoglobal do emprego do tempo cotidiano.


Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t: Um estudo com professores da rede pública 147O magistério, profissão com um número bastanteelevado de mulheres, aos p<strong>ou</strong>cos vem <strong>se</strong> abrindo para aentrada dos homens, principalmente nos níveis de ensinomédio (Codo & Gazzotti, 1999). Investigação realizadapor M<strong>ou</strong>ra (1997) com professores revela, no entanto,que as mulheres são grupo majoritário e possuem piorsituação quanto à remuneração, titulação e localizaçãohierárquica no sistema escolar, quando comparadas aos<strong>se</strong>us colegas do <strong>se</strong>xo masculino.Na relação entre gênero e Burn<strong>ou</strong>t, Farber (1991)diz que estudos têm mostrado <strong>se</strong>rem professores do gêneromasculino mais vulneráveis ao Burn<strong>ou</strong>t que os do gênerofeminino, levantando a suposição de que as mulheres sãomais flexíveis e mais abertas para lidar com as váriaspressões pre<strong>se</strong>ntes na profissão de ensino. Burke e cols.(1996) confirmam este resultado através de estudorealizado, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, professores do <strong>se</strong>xo masculino possuíampontuações mais altas em despersonalização, porém nãofoi encontrado o mesmo resultado para exaustãoemocional. Burke e Greenglass (1989) tambémencontraram altas pontuações em despersonalização emprofessores homens, identificando nível global de Burn<strong>ou</strong>tmaior em homens do que em mulheres. Ao analisaremeste aspecto do ponto de vista do suporte social recebidopor um e por <strong>ou</strong>tro grupo, concluíram que mulherespossuem maior rede de suporte social afetivo.Estudo transcultural realizado por Pedrabissi, Rollande Santinello (1993) identific<strong>ou</strong> a existência de diferençasnos níveis de Burn<strong>ou</strong>t entre professoras italianas efrancesas. No grupo francês existia somente diferençasignificativa entre homens e mulheres na dimensão dedespersonalização. No italiano, a diferença fic<strong>ou</strong> evidentenas dimensões de exaustão emocional edespersonalização, confirmando a hipóte<strong>se</strong> de que ocontexto cultural influencia os resultados de Burn<strong>ou</strong>t.Estudo com professores espanhóis de<strong>se</strong>nvolvido porFernández-Castro, Doval e Edo (1994) encontr<strong>ou</strong>maiores índices de Burn<strong>ou</strong>t em mulheres. Já <strong>ou</strong>tro<strong>se</strong>studos, também com professores, não encontraramdiferenças significativas entre homens e mulheres(Mohammed, 1995; Aluja, 1997; Isorna, 1998; Carlotto,2002b). Na relação com alunos, Schwab e Iwanicki(1981) identificaram que professores homensapre<strong>se</strong>ntavam maior número de comportamentosnegativos que as mulheres.Tendo em vista o acima exposto, o pre<strong>se</strong>nte estudobusc<strong>ou</strong> verificar <strong>se</strong> a variável gênero estabelece diferençassignificativas nos níveis e no processo da Síndrome deBurn<strong>ou</strong>t em professores de escolas da rede pública.Também verific<strong>ou</strong> <strong>se</strong> variáveis demográficas, profissionai<strong>se</strong> comportamentais <strong>se</strong> associavam ao Burn<strong>ou</strong>t de formadiferenciada em professores do gênero masculino efeminino. Assim, o referencial teórico orient<strong>ou</strong> o trabalhopara as <strong>se</strong>guintes hipóte<strong>se</strong>s: H1 professores do gênerofeminino apre<strong>se</strong>ntam maior índice de Exaustão Emocionale menor de Despersonalização e Realização Profissionalque professores do gênero masculino; H2 Variáveisdemográficas, profissionais e comportamentais <strong>se</strong>associam às dimensões de Burn<strong>ou</strong>t de forma diferenciadaem professores do gênero masculino e feminino. <strong>Para</strong>tanto, busc<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolver um estudo epidemiológicoob<strong>se</strong>rvacional analítico de corte transversal.MÉTODOParticipantesA amostra, de conveniência, <strong>se</strong> constituiu de 61homens e mulheres que exercem atividade docente emescolas públicas da cidade de Canoas, independente deestado civil e nível de ensino. Esta foi subdividida em31 homens e 30 mulheres. Todos os participante<strong>se</strong>xerciam a atividade docente há mais de <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s enão haviam estado em licença <strong>ou</strong> afastados do trabalhohá menos de dois me<strong>se</strong>s da coleta de dados.Instrumentos<strong>Para</strong> levantamento das variáveis demográficas,profissionais e comportamentais foi utilizado umquestionário elaborado especificamente para o estudovisando atender <strong>se</strong>us objetivos, tendo como ba<strong>se</strong> oreferencial teórico sobre a Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t emprofessores. Foi realizado um estudo piloto com dez(N=10) professores a fim de verificar o adequadoentendimento das questões que compõem os instrumentos.<strong>Para</strong> avaliar a Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t foi utilizado o MBI– Maslach Burn<strong>ou</strong>t Inventory – forma ED - professores,que apre<strong>se</strong>nta tradução para a língua portuguesa validadapor Benevides-Pereira (2001). O inventário é auto-aplicadoe totaliza 22 itens. Em <strong>sua</strong> versão americana, a freqüênciadas respostas é avaliada através de uma escala depontuação que varia de 1 a 7. Utilizamos, neste estudo, aversão MBI-ED para professores com validação para <strong>ou</strong>so no Brasil por Benevides-Pereira (2001). Utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>ainda o sistema de pontuação de 1 a 5, também usado porPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 145-153


148 Graziela Nascimento da Silva e Mary Sandra CarlottoTamayo (1997) na adaptação brasileira do instrumento, poisfoi verificado que os sujeitos apre<strong>se</strong>ntavam dificuldade emresponder muitos itens dos instrumentos, devido àespecificidade dos critérios da escala original. Empregamos,portanto, 1 para “nunca”, 2 para “algumas vezes ao ano”,3 para “algumas vezes ao mês”, 4 para indicar “algumasvezes na <strong>se</strong>mana” e 5 para “diariamente”.Altos escores em exaustão emocional e despersonalizaçãoe baixos escores em realização pessoal (esta subescala éinversa) indicam alto nível de Burn<strong>ou</strong>t (Maslach & Jackson,1981). Na versão original americana, a consistência internadas três dimensões do inventário é satisfatória, pois apre<strong>se</strong>ntaum alfa de Cronbach que vai desde 0.71 até 0.90 e oscoeficientes de teste e re-teste vão de 60 a 80 em períodosde até um mês (Maslach & Jackson, 1981). Pepe-Nakamura(2002), em estudo com uma amostra brasileira, encontr<strong>ou</strong>0.82 para Exaustão Emocional, 0.77 para Despersonalizaçãoe 0.76 para a Realização Profissional.Procedimento de coleta de dadosPrimeiramente foi realizado um contato com adireção das escolas e com a orientadora pedagógica, noqual foi apre<strong>se</strong>ntado o objetivo do estudo a fim de obtera autorização e o apoio para a aplicação dos instrumentos.As escolas cederam um espaço de aproximadamente20 minutos na hora do intervalo para a aplicação doinstrumento. <strong>Os</strong> questionários foram aplicados em grupo.Quando da ausência de alguns professores, estes eramprocurados posteriormente e convidados a responder deforma individual, até que <strong>se</strong> alcanças<strong>se</strong> o númerode<strong>se</strong>jado para a amostra.Foram realizados os procedimentos éticos conformeresolução 196 do Con<strong>se</strong>lho Nacional de Saúde (CNS), noque diz respeito à pesquisa com <strong>se</strong>res humanos (Hutz &Spink, 1996). Foi esclarecido aos professores e aos diretoresdas instituições de ensino tratar-<strong>se</strong> de uma pesquisa <strong>se</strong>mquaisquer efeitos avaliativos individuais e/<strong>ou</strong> institucionai<strong>se</strong> que as respostas e os dados referentes aos resultadosdas escolas <strong>se</strong>riam anônimos e confidenciais. Também foiesclarecido que não haveria, no relatório de pesquisa,resultados individualizados por escolas.RESULTADOSO Banco de Dados foi digitado em EXCEL eposteriormente analisado no pacote estatístico SPSS,versão 10.0. Foram calculadas medidas descritivas,médias e desvio-padrão, e utilizado o teste t de Studente de correlação de Pearson.Ao caracterizarmos o grupo <strong>se</strong>gundo o gênero,verificamos que a maioria das mulheres possui idademédia de 36 anos, são casadas (63,3%), possuem umcompanheiro fixo (73,3%) e tem filhos (66,7%). Quantoaos homens, possuem idade média de 37 anos, sãocasados (60%), possuem companheiro fixo (77,4%) etêm filhos (58%).No perfil profissional, identifica-<strong>se</strong> que 46,6% dasmulheres possuem graduação <strong>ou</strong> especialização e 43,3%encontram-<strong>se</strong> cursando estes níveis de formação. Quantoaos turnos trabalhados os resultados evidenciam que63,3% trabalham conjuntamente no turno da manhã e notarde. Nes<strong>se</strong> grupo 44,8% dividem <strong>sua</strong> jornada de trabalhocom atividades profissionais em <strong>ou</strong>tra escola e o mesmopercentual atuam em uma mesma escola em tempointegral. Atuam em atividades não docentes 10,3%.Do grupo masculino, 58,1% possuem curso degraduação e especialização, <strong>se</strong>ndo que 38,7% estácursando uma nova titulação. Com relação aos turnostrabalhados, 45,2% exercem <strong>sua</strong>s atividades nos trêsturnos. <strong>Os</strong> resultados apre<strong>se</strong>ntaram que 58,1% trabalhamtambém em <strong>ou</strong>tra escola, 32,3% possuem <strong>ou</strong>tra atividadenão docente e somente 9,7% trabalham turno integralem uma única escola.Com relação às variáveis comportamentais, aremuneração para 90% das mulheres é um complemento,para 6,7% é a maior renda da família e somente para3,3% é a única renda familiar. Quanto a executar trabalhoreferente à escola em casa, 86,7% referem tal prática. Aintenção de mudar de profissão não foi uma preocupaçãopara 56,7% do total. Quanto à interferência da profissãona vida pessoal, 66,7% responderam afirmativamente aesta questão. Assim, 83,3% <strong>se</strong>ntem que <strong>sua</strong> profissãocausa-lhe estres<strong>se</strong>. Possuir uma atividade específica delazer foi apontado por 63,3% das profissionais. Quanto areceber auxílio nas atividades domésticas, 80% indicampartilhar tarefas com <strong>ou</strong>tra pessoa.No grupo masculino, 48,4% referem que a remuneraçãoé a maior renda da família, 19,4% indicam <strong>se</strong>ra única renda familiar e para 32,3% é somente umcomplemento. Quanto a de<strong>se</strong>nvolver trabalhosreferentes à escola em casa, 93,5% dos professoresafirmam que o fazem. Com relação à intenção de mudarde atividade profissional, 64,5% não apont<strong>ou</strong> talpensamento. A profissão interfere na vida pessoal de


Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t: Um estudo com professores da rede pública 14961,3% dos professores, <strong>se</strong>ndo considerada como umaatividade estressante para 67,7% dos respondentes Aprática de lazer <strong>se</strong> faz pre<strong>se</strong>nte para 77,4% dosprofessores, <strong>se</strong>ndo que 83,9% dividem as atividadesdomésticas com <strong>ou</strong>tra pessoa.No que diz respeito aos resultados de Burn<strong>ou</strong>t,verifica-<strong>se</strong> que as mulheres apre<strong>se</strong>ntam índices médiosmaiores que os homens em Exaustão Emocional e menore<strong>se</strong>m Despersonalização, bem como em Realização Pessoal.No entanto, resultado obtido através do teste t deStudent não apont<strong>ou</strong> diferenças significativas nasmédias das dimensões por gênero, <strong>se</strong>ndo importantedestacar, porém, que os resultados obtidos na dimensãode Despersonalização indicando valor de p=0,063, istoé, no limite da significância, revelam uma tendênciade aumento dos escores médios no gênero masculino.Na escala de Exaustão Profissional também qua<strong>se</strong>h<strong>ou</strong>ve uma diferença estatisticamente significativa(p=0,081), o que indica uma leve tendência da ExaustãoEmocional apre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> mais elevada, conformeindicado na Tabela 1.Por meio da análi<strong>se</strong> de correlação de Pearsonrealizada no grupo feminino, foi identificada associaçãopositiva significativa entre as variáveis idade e tempo deensino com a dimensão de Exaustão Emocional, indicandoque quanto mais elevada a idade e o tempo de profissãodocente, maior a tendência de elevação do nível dedesgaste emocional no trabalho. Também foi identificadaneste grupo uma associação estatisticamente negativa esignificativa do tempo de ensino e a dimensão de realizaçãoprofissional, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, quanto maior o exercício profissional,menor é o <strong>se</strong>ntimento de realização no trabalho. Já nogrupo masculino, nenhuma das variáveis apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong>associação com as dimensões da síndrome (Tabela 2).<strong>Os</strong> valores r sobre a diagonal correspondem ao grupofeminino e os valores abaixo da diagonal ao grupomasculino.Análi<strong>se</strong> realizada através do teste t de Studentidentific<strong>ou</strong>, no grupo feminino, associação entre avariáveis comportamentais mudar de profissão e avariável perceber a profissão como estressante e adimensão de Exaustão Emocional. Professoras quepensavam em mudar de profissão e tinham apercepção de que <strong>sua</strong> profissão era estressantepossuíam maiores índices de desgaste emocional notrabalho. Já possuir uma atividade específica de lazere perceber que a atividade profissional interfere navida pessoal não apre<strong>se</strong>ntaram associação comnenhuma dimensão de Burn<strong>ou</strong>t, conformeevidenciado na Tabela 3.Tabela 1: Teste t de Student para comparação das médias das dimensões de Burn<strong>ou</strong>t por gênero.Dimensões Sexo N Média Desvio-padrão t pExaustão Emocional Feminino 30 3,01 1,24 1,77 0,081Masculino 31 2,46 1,17Despersonalização Feminino 30 0,84 0,82 -1,89 0,063Masculino 31 1,25 0,85Realização Profissional Feminino 30 4,46 0,94 -0,49 0,626Masculino 31 4,58 0,95Tabela 2: Matriz de correlação entre variáveis quantitativas e as três dimensões de Burn<strong>ou</strong>t de acordo com o <strong>se</strong>xo (EE:Exaustão Emocional, DE: Despersonalização, BRP: Baixa Realização Profissional).1 2 3 4 5 6 7 8 91.EE 1,000 ,351 -,596** 404* -.004 ,001 -,157 ,208 ,400*2.DE ,447* 1,000 ,-388* ,-021 -,056 -,044 ,121 ,102 -,2773.BRP -,233 -,288* 1,000 -,160 ,094 ,219 ,064 ,099 -,382*4.Idade -,314 ,001 -,163 1,000 ,443* ,134 -,219 ,109 ,7025.Nº filhos -,245 ,166 -,001 ,610**, 1,000 -,162 -,021 -,090 ,2616.Carga Horária -,122 -,057 -,080 ,055 ,004 1,000 ,318 ,328 -,1367.Alunos / dia ,099 -,133 -,131 ,068 -,079 ,596** 1,000 ,113 -,3048.Horas trabalho casa -,166 -,134 ,130 -,159 ,098 -,085 -,182 1,000 ,0109.Tempo/ensino -,127 ,090 -,140 ,743** ,190 ,190 ,155 -,186 1,000Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 145-153


150 Graziela Nascimento da Silva e Mary Sandra CarlottoTabela 3: Teste t de Student para comparação das médias das dimensões de Burn<strong>ou</strong>t e variáveis comportamentais no grupofeminino.Dimensões Variáveis Exaustão Emocional Despersonalização Realização ProfissionalM DP p M DP p M DP pMudar/profSim 3,54 1,45 1,03 0,91 4,17 0,88Não 2,60 0,89 0,036* 0,69 0,73 0,273 4,68 0,93 0,142LazerSim 3,10 1,30 0,97 0,92 4,42 1,06Não 2,84 1,15 0,594 0,60 0,56 0,229 4,53 0,69 0,756Prof.estres<strong>se</strong>Sim 3,21 1,17 0,88 0,86 4,45 0,82Não 1,97 1,15 0,039* 0,64 0,55 0,560 4,50 1,52 0,924Prof/vida pessSim 3,30 1,22 1,02 0,90 4,30 0,98Não 2,43 1,10 0,071 0,48 0,47 0,900 4,78 0,78 0,184Trabalho/ casaSim 2,94 1,12 0,435 0,81 0,81 0,683 4,59 0,73 0,053Não 3,47 2,01 1,00 0,93 3,62 1,71No grupo masculino, somente a variável percepçãode que a profissão é estressante evidenci<strong>ou</strong>associação com a dimensão de exaustão emocional.Homens que não possuíam esta percepçãoapre<strong>se</strong>ntavam maiores índices de desgaste emocionalquando comparados aos <strong>se</strong>us colegas queacreditavam <strong>se</strong>r a profissão fonte de estres<strong>se</strong>, conformedemonstrado na Tabela 4.DISCUSSÃOO objetivo inicial desta pesquisa foi verificar <strong>se</strong> a variávelgênero estabelecia diferenças significativas nos níveis e noprocesso da Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t em um grupo deprofessores de escolas da rede pública. <strong>Os</strong> resultadosobtidos não confirmam a primeira hipóte<strong>se</strong> do estudo, umavez que não foi encontrada diferença estatisticamenteTabela 4: Teste t de Student para comparação das médias das dimensões de Burn<strong>ou</strong>t e variáveis comportamentais no grupomasculino.Dimensões Variáveis Exaustão Emocional Despersonalização Realização ProfissionalM DP p M DP p M DP pMudar/profSim 2,48 1,11 0,939 1,50 1,04 0,205 4,42 0,98 0,495Não 2,45 1,23 1,10 0,71 4,66 0,94LazerSim 2,52 1,06 0,575 1,25 0,79 0,876 4,45 0,95 0,170Não 2,23 1,58 1,20 1,09 5,01 0,84Prof.estres<strong>se</strong>Sim 2,07 1,10 0,006* 1,19 0,92 0,612 4,60 0,99 0,826Não 3,26 0,92 1,36 0,69 4,52 0,89Prof/vida pess.Sim 2,31 1,01 0,391 1,03 0,70 0,078 4,64 0,79 0,644Não 2,69 1,41 1,58 0,97 4,47 1,18Trabalho/ casaSim 2,48 1,13 0,720 1,24 0,87 0,940 4,52 0,94 0,191Não 2,16 2,27 1,20 0,00 5,43 0,44


Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t: Um estudo com professores da rede pública 151significativa no que diz respeito ao gênero e as dimensõesde Burn<strong>ou</strong>t. Es<strong>se</strong> resultado confirma os obtidos em algun<strong>se</strong>studos brasileiros (M<strong>ou</strong>ra, 1997; Carlotto, 2002b; Pepe-Nakamura, 2002), indo, no entanto, de encontro ao<strong>se</strong>ncontrados na literatura internacional (Farber, 1991;Fernádez-Castro & colsl, 1994; Burke & cols., 1996).<strong>Os</strong> resultados nos remetem a considerar o que temsido levantado por Reichel e Neumann (1993). <strong>Os</strong>autores pontuam que cresce na literatura sobre o temaa idéia de que o estres<strong>se</strong> e o Burn<strong>ou</strong>t podem terdiferentes configurações dependendo do contextocultural, social e político da população em que é estudado.Segundo M<strong>ou</strong>ra (1997), certos aspectos da manifestaçãodo Burn<strong>ou</strong>t estão pre<strong>se</strong>ntes em qualquer contextosociocultural, embora juntamente com as <strong>se</strong>melhanças,as manifestações assumem por vezes contorno<strong>se</strong>specíficos determinados pelas particularidades noambiente de trabalho, na organização, bem como nosaspectos socioculturais mais amplos, pre<strong>se</strong>ntes nasdiferentes sociedades.Assim, cabe destacar o que refere Codo (1999)quando afirma que mudanças ocorreram desde atradicional distinção do trabalho homem-mulher, pois, oque era até p<strong>ou</strong>co tempo o lugar da mulher, uma forçade trabalho dedicada totalmente à família, é hoje umespaço mais bem distribuído entre homens e mulheres,devido à entrada da mulher no mercado de trabalho. Napercepção de Codo (1999) e Borsoi (1995), já ébastante comum homens compartilharem as responsabilidade<strong>se</strong> as preocupações com a criação dos filhos e astarefas domésticas com as mulheres. Essa questão pode<strong>se</strong>r analisada juntamente com os resultados obtidos navariável comportamental que aborda a responsabilidadepelos cuidados domésticos, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, a grande maioriados participantes do estudo, independente da variávelgênero, afirma dividir tarefas referentes à organizaçãodoméstica com <strong>ou</strong>tra pessoa, indicando uma maiorproximidade entre os papéis de<strong>se</strong>mpenhados e o queera tradicionalmente conferido às mulheres.Outro aspecto importante é que homens e mulheres<strong>se</strong>ntem que o trabalho é fonte de realização e gratificaçãopessoal no trabalho, não confirmando a primeira hipóte<strong>se</strong>do estudo. Es<strong>se</strong> resultado contraria Maslach e Jackson(1985), que referem existir uma maior intensidade deinsatisfação no trabalho entre os homens, uma vez queesta <strong>se</strong> vincula às expectativas de sucesso, competiçãoe de<strong>se</strong>nvolvimento, elementos geralmente maisidentificados com o papel masculino.É importante destacar que, mesmo não tendo sidoidentificadas diferenças significativas entre os grupos, osresultados apontam o limite da significância entre aexaustão emocional e despersonalização no grupofeminino. Há uma leve tendência do grupo femininoapre<strong>se</strong>ntar maior desgaste profissional e menor <strong>se</strong>ntimentode distanciamento de <strong>sua</strong> clientela. Es<strong>se</strong> resultado podeindicar alguns resquícios históricos da profissão docentee do papel feminino neste contexto. A exaustão emocionalnas mulheres pode <strong>se</strong>r associada com a idéia de que estassão mais emotivas, mais envolvidas com o cuidado,alimentação e preocupação com o bem estar do próximo.A escolha da carreira docente pode estar relacionada como papel feminino em nossa cultura , em que as mulheressão vistas como mais adequadas para esta função(Maslach & Jackson, 1985; Apple, 1995; Carvalho, 1995).Es<strong>se</strong>s aspectos também <strong>se</strong> relacionam à dimensão dedespersonalização, uma vez que homens teriam maisdificuldade de expressar <strong>se</strong>us <strong>se</strong>ntimentos, conformedestacam Maslach e Jackson (1985). <strong>Os</strong> resultados obtidosparecem confirmar estudo realizado por Pedrabissi e cols.(1993) com professores italianos e france<strong>se</strong>s, que destacaa relevância de fatores culturais e contextuais nosresultados de Burn<strong>ou</strong>t.Já a <strong>se</strong>gunda hipóte<strong>se</strong> da investigação, a de quevariáveis demográficas, profissionais e comportamentais<strong>se</strong> associavam de forma diferenciada nos dois grupos,foi confirmada, pois no grupo feminino h<strong>ou</strong>ve associaçãoentre a idade e o tempo de atuação profissional e aexaustão emocional. Pode-<strong>se</strong> entender que à medidaque a idade e o tempo de atividade profissional aumentamneste grupo, aumenta também o <strong>se</strong>ntimento de desgaste,provavelmente devido ao maior envolvimento e àcobrança social depositada ainda na professora comrelação às atribuições e ao papel docente.Cabe destacar que as mulheres possuem maior tempointegral na escola, contrariamente ao grupo masculino,que atua em <strong>ou</strong>tra escola e também em <strong>ou</strong>tra atividade,ficando menos expostos aos estressores organizacionais,conforme afirma Carlotto (2002b), ocasionando umatendência de aumento do <strong>se</strong>ntimento de baixa realizaçãoprofissional. Assim, identifica-<strong>se</strong> que somente no grupofeminino o pensamento de mudar de profissão relacion<strong>ou</strong><strong>se</strong>à exaustão emocional, podendo este resultado <strong>se</strong>rentendido como uma possível con<strong>se</strong>qüência de Burn<strong>ou</strong>t.De acordo com Schwab e Iwanicki (1982), professoresapre<strong>se</strong>ntam tendência em abandonar <strong>se</strong>u trabalho e <strong>sua</strong>profissão como con<strong>se</strong>qüência da síndrome.Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 145-153


152 Graziela Nascimento da Silva e Mary Sandra CarlottoJá no grupo masculino não h<strong>ou</strong>ve associação comqualquer variável demográfica e profissional, havendosomente com a variável comportamental, uma vez quehomens que não reconheciam <strong>sua</strong> profissão comoestressante apre<strong>se</strong>ntavam maior exaustão emocional.Es<strong>se</strong> resultado pode <strong>se</strong>r entendido dentro da perspectivaque aborda a despersonalização em homens, pois, namedida em que estes expõem menos <strong>se</strong>us <strong>se</strong>ntimentos,também poderiam não reconhecer os fatores de estres<strong>se</strong>na <strong>sua</strong> profissão, não impedindo, no entanto, maiores<strong>se</strong>ntimentos de desgaste do que <strong>se</strong>us colegas queacreditam <strong>se</strong>r esta uma profissão estressante.Há que <strong>se</strong> ter cautela com relação aos resultadosobtidos, uma vez que estes dizem respeito a um grupoparticular, não <strong>se</strong>ndo, portanto, passíveis degeneralização. O estudo aponta para a necessidade deaprofundamento dos resultados obtidos, uma vez que aliteratura não tem sido conclusiva sobre a influência dogênero no surgimento de Burn<strong>ou</strong>t. Assim, sugere-<strong>se</strong> arealização de novos estudos, com <strong>ou</strong>tros delineamento<strong>se</strong>m contextos diferenciados.O entendimento desta questão mostra-<strong>se</strong> relevante,na medida em que políticas de promoção e prevençãoem saúde ocupacional possam <strong>se</strong>r planejadas deacordo com as especificidades dos grupos populacionais,neste caso, professores e professoras.Segundo Rohlfs (1999), os papéis atribuídos eassumidos por homens e mulheres são importantesna explicação de <strong>se</strong>u estado de saúde. Por esta razão,é importante não só estudar o impacto que o estilo devida, o uso do tempo e as condições de trabalho temna saúde das pessoas, mas também deve-<strong>se</strong> tentarevidenciar quais os pontos em que estes impactos sãodesiguais <strong>se</strong>gundo o gênero.REFERÊNCIASAluja, A. (1997). Burn<strong>ou</strong>t profesional en maestros y su relacióncon indicadores de salud mental. Boletín de Psicologia,5, 47-61.Apple, M. W. (1995). Trabalho docente e textos: Economiapolítica das relações de clas<strong>se</strong> e gênero em educação.Porto Alegre: Artes Médicas.Benevides-Pereira, A. M. T. (2001). MBI - Maslach Burn<strong>ou</strong>tInventory e <strong>sua</strong>s adaptações para o Brasil. [Resumo]. EmSociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Resumos decomunicaçõescientíficas. XXXII Reunião Anual dePsicologia (p. 84-85). Rio de Janeiro.Borsoi, I. C. F. (1995). A saúde da mulher trabalhadora. Em W.Codo & J.J.C. Sampaio. (Orgs.) Sofrimento psíquico nasorganizações – Saúde Mental e Trabalho (pp.115-126 ).Petrópolis: Vozes.Brito, J. (1999). Saúde, trabalho e modos <strong>se</strong>xuados de viver.Rio de Janeiro: Fiocruz.Byrne, B. M. (1993). The Maslach Burn<strong>ou</strong>t Inventory: Testingfor factorial validity and invariance across elementary,intermediate and <strong>se</strong>condary teachers. J<strong>ou</strong>rnal ofOccupational and Organizational Psychology, 66 (3),197-213.Burke, R. J., & Greenglass, E. R. (1989). Psychological burn<strong>ou</strong>tamong men and women in teaching: an examination ofCherniss model. Human Relations, 42 (3), 261-273.Burke, R. J., Greenglass, E. R., & Schwarzer, R. ( 1996).Predicting teacher burn<strong>ou</strong>t over time: effects of workstress, social support and its con<strong>se</strong>quences. Anxiety,stress and coping, 9 (3), 21-275.Carlotto, M. S. (2002a). Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t e o trabalhodocente. Revista Psicologia em Estudo, 7 (1), 21-29.Carlotto, M. S. (2002b). Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t em professoresde escolas particulares de uma cidade da regiãometropolitana de Porto Alegre-RS. Dis<strong>se</strong>rtação demestrado não publicada, Universidade Luterana doBrasil, Canoas, Brasil.Carvalho, H. T. T. K. (1995). A professora primária: amor e dor.Em W. Codo & J. J. C.Sampaio. (Orgs.) Sofrimentopsíquico nas organizações – Saúde Mental e Trabalho(pp. 127-138). Petrópolis: Vozes.Carvalho, M. M. B. (1995). O professor – Um profissional,<strong>sua</strong> saúde e a educação em saúde na escola. Te<strong>se</strong> deD<strong>ou</strong>torado não publicada, Universidade de São Paulo,São Paulo, Brasil.Codo, W. (Org.). (1999). Educação: carinho e trabalho.Petrópolis: Vozes.Codo, W., & Gazzotti, A. A. (1999). Tabalho e afetividade. EmW. Codo (Org.) Educação: carinho e trabalho (pp. 48-59). Petrópolis: Vozes.Etzion, D. (1987). Burning <strong>ou</strong>t in management: a comparisonof woman and men in matched organizational positions.Israel Social Science Re<strong>se</strong>arch, 5, 147-163.


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Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 155-160O QUE SE ESPERA DE UMA EDUCAÇÃO CRIATIVA NO FUTUROMaria Helena Novaes 1ResumoConsiderando as inovativas abordagens psicológicas, a criatividade, inteligência e talento propostas por J. Gallagher, uma educação criativa éimprescindível para enfrentar as rápidas mudanças na sociedade futura onde predominam a realidade virtual, a linguagem digital e o pensamentovi<strong>sua</strong>l. São aqui discutidas as dimensões sociais do processo interativo com o meio abordadas por J. Renzulli, habilidades e competências a <strong>se</strong>remde<strong>se</strong>nvolvidas, novas técnicas de solução de problemas, diversos tipos de currículos e <strong>ou</strong>tras estratégias de identificar performances e talentos,destacando-<strong>se</strong> os modelos de K. Urban e Z. Güenther.Palavras-chave: Criatividade; Inteligência; Educação.AbstractWHAT IS EXPECTED ABOUT A CREATIVE EDUCATION IN THE FUTUREConsidering the innovative psychological approaches concerning creativity, intelligence and talent, propo<strong>se</strong>d by J. Gallagher, a creativeeducation is inevitable to face the rapid changes in <strong>ou</strong>r society of virtual reality, digital language and vi<strong>sua</strong>l thinking. We discuss important socialdimensions in the process of interaction with the environment suggested by J. Renzulli, new abilities to be developed, techniques of problem solving,other types of curricular, new strategies to evaluate performs of giftedness and different models such as the one of K. Urban and the other of Z.Güenther.Key words: Creativity; Intelligence; Education.INTRODUÇÃOArticular o poder criativo da humanidade, atravésda informação, conhecimento e experiência disponíveis,conectando meios de recursos adequados, considerandoa compreensão dos <strong>se</strong>res humanos no mundocontemporâneo, <strong>se</strong>ria o ponto de partida. Essa foi amensagem de Todd Siler na <strong>se</strong>ssão plenária da 14 a .Conferência do “World C<strong>ou</strong>ncil for Gifted andTalented Children”, realizada em Barcelona de 31/07a 14/08 de 2001, com 700 participantes, repre<strong>se</strong>ntantesde 60 paí<strong>se</strong>s. Artista, especialista em comunicação vi<strong>sua</strong>l,as<strong>se</strong>ssora os principais mu<strong>se</strong>us norte-americanos comoo de Guggenheim, Metropolitan Mu<strong>se</strong>um of Art e oMu<strong>se</strong>u de Arte Moderna, fez uma criativa exposição,utilizando conexão entre imagens, sons, conceitos, paracomprovar <strong>sua</strong> te<strong>se</strong>.A partir de sugestivas ilustrações apre<strong>se</strong>ntadas,discutiu a necessidade de o homem moderno organizaro caos, (computador em francês é ordinateur), deintegrar os conhecimentos e descobertas na área datecnologia, das artes, das ciências exatas e sociais,levando em conta a grande capacidade que tem o cérebrohumano. Começar pelo impossível é <strong>se</strong>mpre um bomcomeço que leva a pensar fora do já visto e do esquemaformal, pois de<strong>se</strong>nvolve a capacidade de vi<strong>sua</strong>lização,de ver através dos fatos e das coisas.Espaços abertos e tempos diversos levariam, assim,a escola a repensar <strong>sua</strong>s metas e a enfatizar a produçãodivergente dos alunos, respeitando crenças, mitos,motivações e poderes, mas <strong>se</strong>mpre sabendo usaroportunidades oferecidas pelo contexto para o domíniodo conhecimento e da informação, <strong>se</strong>m a devidadispersão. Explorar e descobrir cenários, pois nunca <strong>se</strong>sabe o quão longe podemos ir; a interdisciplinaridade jáé uma realidade que favorece a descoberta de novas1PhD em Psicologia e docente da PUC-Rio.


156 Maria Helena Novaesinterpretações e múltiplos significados. A questão écomo rearrumar os conhecimentos de modo diferente,como comunicar de forma mais autêntica e comoexperienciar novas emoções e sonhos, distinguindo o queé para mudar, não mudando nada daquilo que muda <strong>se</strong>mquerer até o mudar realmente. Comunicar expressar,interpretar e simbolizar, além de pensar, <strong>se</strong>ntir e conhecersão inevitáveis no mundo atual.Aliás, durante es<strong>se</strong> congresso, a grande questão foi oque mud<strong>ou</strong>, o que irá mudar e o que de mais relevantedeve <strong>se</strong>r considerado quando <strong>se</strong> trata de criatividade,inteligência talento nos diversos paí<strong>se</strong>s. Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, acontribuição de J. Gallagher foi brilhante, além de muitoatualizada e concisa, ba<strong>se</strong>ando-<strong>se</strong> na experiência norteamericana,uma vez que é professor da Universidade deNorth Carolina at Chapel Hill. Discutiu quatrodimensões das mudanças: nos conceitos de inteligência ede criatividade da eqüidade versus excelência nas escolas,no currículo diferenciado para os alunos bem dotados;das novas linhas de acesso ao conhecimento global noprocesso de aprendizagem ao longo da vida e de umareal possibilidade, modificando os papéis dos professore<strong>se</strong> dos alunos em relação ao conceito de inteligência des<strong>se</strong>salunos, embora <strong>se</strong>ja reconhecida a influência do fatorgenético, além do que é advindo do meio social. Oresultado dessa interação constante é que irá facilitar asperformances e o de<strong>se</strong>nvolvimento das capacidades ehabilidades, tão utilizados nos testes de inteligência,priorizando aqueles de<strong>se</strong>mpenhos em situações e tarefasque exijam habilidades e funções, levando em conta omeio sociocultural em que vivem. Afirma que existemteorias rivais: a que enfatiza os aspectos genéticosneuronais e o sistema neurológico que responde pelaeficiência, através da maturação neurológica; a teoriaexperimental que reforça a importância do repertório deexperiências e do <strong>se</strong>u aproveitamento intelectual e a teoriareflexiva que reforça os aspectos intelectuais e de<strong>se</strong>nvolveestratégias para tarefas, podendo utilizar recursos das<strong>ou</strong>tras teorias, por constituir-<strong>se</strong> como um sistema decontrole. Quanto aos conceitos de criatividade asmudanças ocorreram no deslocamento da ênfa<strong>se</strong> dascaracterísticas de certas habilidades individuais para maiscomplexo resultado, proveniente da interação entre apessoa, os produtos e o meio ambiente.Novos perfis são produzidos para avaliação eidentificação, por exemplo, aumento da performancefeminina, as expectativas em lugares não convencionais,busca de soluções científicas, o acoplamento dacriatividade com a inteligência e superdotação em grupo<strong>se</strong>specíficos, como os de baixo rendimento escolar, autistas,pessoas com <strong>ou</strong>tras deficiências e limitações físicas <strong>ou</strong><strong>se</strong>nsoriais, dentre <strong>ou</strong>tras. Quanto ao currículo diferenciadoe procedimentos metodológicos, a ênfa<strong>se</strong> é na flexibilidadedo mesmo e numa concepção mais abrangente dearticulação entre as diversas disciplinas, a fim de propiciaruma maior independência respeitada pela coordenaçãodos professores e do sistema educacional, o que implicanuma mudança de organização escolar e na distribuiçãodas séries, considerando a diversidade de aptidões,interes<strong>se</strong>s e motivações.Quanto ao referencial de eqüidade e excelência oimportante é fornecer recursos e meios para todas afim de equalizar o acesso às informações e às fontesde conhecimento, admitindo, porém, a diversidade dasperformances, o que fará surgir vários tipos de propostasde ensino e de sistemas educacionais, além deoportunidades educativas mais globalizantes, articulandotecnologia com código lingüístico, as ciências, o controleda organização – <strong>se</strong>mpre levando em conta os diferentescódigos culturais sociais e históricos, os diferentes modosde aprender e de adquirir conhecimento, as diferenteslinguagens verbais especiais vi<strong>sua</strong>is. Outrascaracterísticas des<strong>se</strong>s alunos são admitidas – como apossibilidade de cometer erros em situações complexas,usar intuição, curiosidade <strong>se</strong>mpre ativa, focalização, tantopontual como global, acrescentar idéias no cotidiano, termetas, criar alternativas.Sintetizando, o importante é refletir criticamente sobretais mudanças e pensar sobre modos de abordagem dosnovos problemas, remetendo para a busca de novosrecursos de comunidade, mudando atitudes, compreendendoque uma coisa é o que a criança de<strong>se</strong>ja e temnecessidade e <strong>ou</strong>tra o que a escola exige dela.Outra contribuição importante foi a de Jo<strong>se</strong>ph Renzullido Centro Nacional de Pesquisas com Superdotados eTalentosos (USA) sobre um novo olhar em relação àquestão no novo século: quais as causas que fazem aspessoas usar <strong>sua</strong>s capacidades intelectuais, motivacionai<strong>se</strong> criativas, <strong>se</strong>us talentos, enquanto <strong>ou</strong>tros com osmesmas, e até mesmo mais facilidades não con<strong>se</strong>guemaltos níveis de de<strong>se</strong>mpenho? Sua proposta foi a de umnovo modelo que procure resgatar aquilo que ainda nãofoi exaustivamente estudado nos talentos. Grande númerode fatores como coragem, esperança, otimismo, carismae o <strong>se</strong>ntido do destino são discutidos por ele e levam anovas pesquisas e instrumentos de avaliação.


O que <strong>se</strong> espera de uma educação criativa no futuro 157Uma maior abertura de todos para um cenário globalé importante, a fim de <strong>se</strong>rem previstas múltiplasoportunidades e recursos nas áreas, assumindo-<strong>se</strong> adiversidade nas formas de domínio do saber, dashabilidades, dos de<strong>se</strong>mpenhos, das experiências de vidae dos referenciais socioculturais. Tal postura levaria àdescoberta de inúmeras possibilidades, nichos deconexões entre as teorias e as práticas, considerando<strong>se</strong>que são as escolhas que definem a rota das pessoas,mais do que as próprias habilidades.“Uma boa cabeça”, aliada a um bom coração écombinação ideal que nos leva a valorizar a verdade ebeleza, o conhecimento e o poder criativo de todos,nunca duvidando que, mesmo um pequeno grupo podemodificar o mundo. Assim, novas associações, centros,escolas podem <strong>se</strong>r valorizadas, desde que tenham umaperspectiva global do de<strong>se</strong>nvolvimento de criatividade edo talento e uma visão continuada e dinâmica doprocesso do ensinar-aprender.<strong>Para</strong> ele, o contexto do capital social é importantepara tornar as pessoas mais humanas e favorecernovos conhecimentos, pois uma nova liderança éesperada para o Século XXI – nes<strong>se</strong> novo modeloproposto. Ba<strong>se</strong>ado na interação pessoa e meioambiente propõe as dimensões acima mencionadascomo fundamentais – otimismo (<strong>se</strong>ntimentos positivo<strong>se</strong> esperança no futuro) coragem (independência deação e de pensamento, convicções morais) <strong>se</strong>nsitivaintuição, capacidade de empatia preocupações epercepção do <strong>ou</strong>tro, carisma, capacidade de influenciare curiosidade, visão do futuro (direção da mudança edas metas de ação) capacidade de fantasia (imaginaçãoe sonho). O que vale é o estilo pessoal a interaçãocom os valores do <strong>se</strong>gmento grupal a harmonia e oequilíbrio reinantes. Renzulli tem escalas para avaliaçãodos comportamentos criativos _ muito divulgadas edevidamente padronizadas. Foram editadas emespanhol pela Amaru Ediciones de Salamanca, paraavaliação dos estudantes superdotados em 2001.Klaus Urban, atual presidente da World C<strong>ou</strong>ncil eprofessor da Universidade de Hannover na Alemanhatem modelo próprio interpretativo e um teste muitoconhecido e aplicado em vários paí<strong>se</strong>s. Situa acriatividade como um processo de evolução <strong>ou</strong>devolução, partindo <strong>sua</strong> análi<strong>se</strong> dos <strong>se</strong>guintes aspectos:Problema – ponto de partida; Pessoa – singular;Processo – diferenciado; Produto – variado; Pressão –provinda do meio ambiente – micro e macro.Figura 1: Ilustração dos aspectos pertinentes a criatividade.Quanto ao problema, parte da questão de quemdetermina o problema para quem? Quais aqueles quetêm que <strong>se</strong>r solucionados criativamente?Como reage a criança talentosa na busca dassoluções do problema? Quais os desafios dos problemasatuais na educação de talentos?A discussão da diversidade dos problemas quedevem <strong>se</strong>r bem formulados é importante antes de <strong>se</strong>partir para a busca desordenada das soluções,considerando a adequação dos problemas para o tipode situações possíveis. Quanto às pessoas em relaçãoaos problemas, foram considerados os <strong>se</strong>guintesaspectos: quais são aquelas mais <strong>se</strong>nsíveis aos reaisproblemas <strong>se</strong> estão habituadas a formularem bem osproblemas, aptas para buscar soluções criativas e <strong>se</strong>dispõem de habilidades cognitivas para lidar com ele<strong>se</strong> poder criativo para sair deles.Em relação ao processo, foram enfatizadas as<strong>se</strong>guintes dimensões: diferentes maneiras de criar umclima de abertura e tolerância, facilidade, aproveitamentodos eventos e fatos novos e das influências ambientais.Já o produto implica em aceitá-lo em aproveitá-lo,verificando <strong>se</strong> provoca mudanças <strong>ou</strong> transformações,quais <strong>se</strong>us desdobramentos e <strong>sua</strong> aplicabilidade. No queconcerne às pressões do meio, de que modo influi node<strong>se</strong>nvolvimento das potencialidades, quais os bloqueio<strong>se</strong> conflitos que ocasionam, como são advindas tanto domeio educacional, social, das condições de vida,familiares da relação aluno-professor?Interessante a fra<strong>se</strong> de Picasso – “todo ato de criaçãoé um ato de destruição, no início”. Sempre está implícitauma mais nítida percepção da realidade e do existirpessoal em novas combinações de informações e dadosPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 155-160


158 Maria Helena Novaesque vão ajudar a integrar os elementos, sintetizado eorganizado em diferentes níveis.A eterna questão é “Quais <strong>se</strong>riam os comportamentosmais criativos? De modo geral, o elenco pode variar,mas privilegia a abertura de percepção, o questionamentopermanente, a necessidade de experimentar e manipulara realidade, a capacidade de ter e de<strong>se</strong>nvolver novasidéias, aproveitar oportunidades de reorganizar o <strong>se</strong>u<strong>se</strong>tting numa atmosfera de cooperação.O processo criativo contínuo busca novas saídas epressupõe a capacidade de estabelecer conexões evi<strong>sua</strong>lização de perspectiva, de humor, velocidade dopensamento, a originalidade da ação. O importante é ainterdependência dos elementos e traços com opensamento divergente, o conhecimento geral e básico,as habilidades específicas, a abertura para a tolerância,a capacidade de adaptação, tanto em nível individual,grupal <strong>ou</strong> social, variando de acordo com os patamare<strong>se</strong>volutivos, o funcionamento das funções metacognitivas,a avaliação,crítica de pensamento e da própria memória.Perguntas importantes a <strong>se</strong>rem feitas: O que acontecenuma escola divergente? É o professor, <strong>se</strong>nsível aosproblemas, estimulado a perceber <strong>ou</strong>tras soluções? Comoé feito o “fócro” aberto, com diferentes cenários? Quaisdesafios são propostos para acelerar o raciocíniodedutivo e indutivo?Em relação ao emocional e social, é preciso saberaproveitar situações para a comunicação, de<strong>se</strong>nvolvendoa capacidade de decisão e escolha, de resolução deproblemas, nas oportunidades de aprendizagem, utilizandofunções cognitivas, relativas à integração dos conhecimentos,com o raciocínio, além de percepção e intuição.Drawin Klaus, atual presidente do World C<strong>ou</strong>nciltem vários livros e artigos publicados, dentre os quais oTeste de Creative Thinking Drowing Production –T.C.T – D.P. – elaborado com Hans Jallen e publicadopela Swets - Test Services de Frankfurt e artigos comoo “Different model in describing, explaining andnurturing creativity in <strong>ou</strong>r society”, publicado peloEuropeu J<strong>ou</strong>rnal of Highabilitos, n. 6, pp. 143-159.No <strong>se</strong>u teste, com ba<strong>se</strong> em quatro elementos, tem umaescala de avaliação completa, analisando os produtosobtidos nos de<strong>se</strong>nhos. <strong>Os</strong> elementos estão <strong>se</strong>paradosmas podem <strong>se</strong>r conectados pelo de<strong>se</strong>nho.Três indicadores atuais estão relacionados aosdesafios da realidade virtual, da linguagem digital e dopensamento vi<strong>sua</strong>l, surgindo a eterna questão de comoequacionar a vida, a aquisição do conhecimento, aorganização cognitiva, a estruturação emocional e oplanejamento das ações e decisões nes<strong>se</strong> contexto.Todos querem mudar, mas como fazê-lo e em qualdireção, aproveitando a gigantesca quantidade deinformações, conhecimentos e experiências, mastambém, reconhecendo possibilidades, limites enecessidades.Trabalhar no meio educacional, com técnicas deresolução de problemas, tomada de decisões,metacognição e flexibilidade ideativa favoreceria inovare criar, sobretudo, nos comportamentos cotidianos.A contribuição dos pesquisadores da Austrália sobre aimportância do de<strong>se</strong>nvolvimento da linguagem não-verbal,da inteligência vi<strong>sua</strong>l e do treinamento do pensamento vi<strong>sua</strong>lno ensino é fundamental. Questionaram a discriminaçãoentão existente entre o hemisfério direito e esquerdo quedevem <strong>se</strong>r entendidos como interativos. A imaginação oimaginal e o imaginário estão <strong>se</strong>mpre pre<strong>se</strong>ntes na educação,<strong>se</strong>ndo a favor da inteligência vi<strong>sua</strong>l ativa, enquanto a verbalé mais receptiva, pois faz trabalhar mais rapidamente océrebro e tem uma visão holística de conjunto importante,<strong>se</strong>ndo assim, de<strong>se</strong>nvolver as habilidades vi<strong>sua</strong>is éimportante, sobretudo, quando conecta conteúdos einformações, ativando a memória. Por <strong>ou</strong>tro lado, repre<strong>se</strong>ntauma gramática universal que facilita a comunicação entreas pessoas.Picasso já dizia: pintar é uma maneira de pensar. ODepartamento de Educação da Universidade deAdelaide, numa direção da escola do futuro, trabalhacom técnicas de vi<strong>sua</strong>lização para apreciação artística,estimulando o pensamento crítico, vi<strong>sua</strong>l, criativo tantono referencial do raciocínio matemático espacial e deresolução de problemas. Como elementos importantes,de<strong>se</strong>nvolve diferentes ângulos e pontos de vista, atravésdas imagens, analogias e metáforas, situaçõesdilemáticas, conceitos percepções, sinergias e pensamentosdialéticos, através de atividades variadas eadequadas aos diversos níveis do ensino.Parte do princípio que a comunicação verbal única ép<strong>ou</strong>co consistente <strong>se</strong> não tiver um apoio vi<strong>sua</strong>l <strong>ou</strong> sonoropara ajudar a refletir, adequar e acomodar. As mudançassó advirão na medida em que haja direcionamento doque mudar.A flexibilidade dos conteúdos possíveis podem ajudar.O treinamento da inteligência vi<strong>sua</strong>l e do pensamentonão verbal é importante para o treinamento dasprofessoras, ao de<strong>se</strong>nvolver a capacidade de ver claro,de perceber de uma maneira global de saber usar as


O que <strong>se</strong> espera de uma educação criativa no futuro 159imagens e de dar respostas vi<strong>sua</strong>is, <strong>se</strong>ndo o de<strong>se</strong>mpenhomais importante que o julgamento.De<strong>se</strong>nvolvem vários testes perceptivos de percepçãovi<strong>sua</strong>l, de repre<strong>se</strong>ntação espacial e dos múltiplossignificados das figuras.Tipos de Currículo para crianças criativas etalentosasO modelo do currículo paralelo tem por objetivo<strong>se</strong>xpandir os conhecimentos, aproveitando as mudançasocorridas no conceito de inteligência e de superdotação,e no perfil dos alunos bem dotados, fazendo distinçãoentre currículos de alta qualidade para todos einterligando diferentes níveis de experiências, conformeob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong> no Quadro 1:a justaposição entre eles é que é importante nos diversosperíodos e trajetos, como por exemplo, está ilustrado naFigura 2:práticaconexãoidentidadeFigura 2: Esquema de apre<strong>se</strong>ntação de quais aspectosdeveriam compor um currículo.Currículo básico: O fundamental é individualizar elevar o aluno a certa independência ao <strong>se</strong> apropriar dosdiferentes níveis e de habilidades com grau de liberdadeQuadro 1: Esquema de apre<strong>se</strong>ntação dos tipos de currículos.Currículo das Conexões Currículo da Prática Currículo da IdentidadeEstá ba<strong>se</strong>ado na <strong>se</strong>guinte indagação “<strong>Para</strong> que<strong>se</strong>rvem as informações?” <strong>Para</strong> organizar melhor as idéia<strong>se</strong> podem tais idéias <strong>se</strong> transformar em habilidades. Ocurrículo deve não só <strong>se</strong>r ba<strong>se</strong>ado em informações, comoem idéias, habilidades, fatos, conceitos, princípios,envolvendo capacidades e modos de criarconstantemente, envolvendo produção que ajude aresolver problemas.Currículo de Conexões: Estabelecer e articularconhecimentos particularizando aspectos através dadisciplina foco, fazendo a conexão do que já <strong>se</strong> aprendeudo que falta aprender e como adaptar os contextos aoestabelecer novas direções, <strong>se</strong>mpre indagando quais asperspectivas futuras para vi<strong>sua</strong>lizar melhor os problema<strong>se</strong> quais os pontos positivos e negativos.Currículo de Prática: Como aproveitar ainformação na prática e quais ferramentas eestratégias usar, quais os ganhos, que qualidadealcançar, quais os padrões a <strong>se</strong>rem estabelecidos,através de questões éticas, por exemplo.Currículo de identidade: Pensar por si mesmo – revermetas do conhecer, o que me instiga e intriga, com quaisidéias me identifico, onde encontrei mais dificuldades,que diferenças encontrar. O currículo deve <strong>se</strong>r,sobretudo, flexível – construtivo, avançando com asdificuldades encontradas – estabelecer a dominância ee de autonomia, providenciando material importante,adotando uma posição de avaliação crítica.O currículo diferenciado: Trabalho sobre aquilo quepuder aprender – o que trás a tona os aspectos pessoaisda educação – partindo do pressuposto que uma boaaprendizagem é aquela que propicia avanços node<strong>se</strong>nvolvimento. Toda experiência de aprendizagem épessoal e implica em escolha, desafio, complexidade ecuidado. O conteúdo é importante, assim como oprocesso e o meio ambiente.Um currículo apropriado pressupõe nível adequado,complexidade gradativa aprofundamento – na transiçãoe ajustamento às etapas. O currículo integrado – comtemas especiais pode pressupor habilidades e interes<strong>se</strong>s,identificando situações diversas. Tipo I - enriquecimento– com exploração geral de atividades; Tipo II –performance contínua; Tipo III – Pequenos grupos compesquisas específicas, respeitando estilo deaprendizagem.Modelo personalizado para pessoa talentosa de Z.Guehtner pressupõe um planejamento contínuo. Énecessário aproveitamento das habilidades cognitivas,estilos de aprender, efeitos positivos de influênciasambientais, como a de família, escola e de sociedade.Na relação pensamento e aprendizagem é preciso estaratento para: Estratégias de auto-regulação; FacilidadesPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 155-160


160 Maria Helena Novaespara adquirir conhecimento; Melhores atributos paraaprender; Diferentes formas de enriquecimento e deaceleração; Performances de alto nível. As influênciassofridas pela pessoa podem <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvadas na Figura 3.Criatividade – De<strong>se</strong>mpenho e expressãoAmbiente ecologiaVisão de MundoTalentosAuto conceitoPercepção e relação com o <strong>ou</strong>troCiência, Tecnologia e PesquisaComunicação, organização e humanidadeFigura 3: Ilustração das influências relativas a aprendizageme o talento.Isso implica em diversas atitudes e procedimentos porparte dos professores, a fim de de<strong>se</strong>nvolver currículoscriativos, tais como Usar e dis<strong>se</strong>minar informações;Refinar procedimentos de avaliação; Incentivar técnicasde comunicação; Estimular produção do conhecimento;Assumir lideranças; Reforçar treinamento eaperfeiçoamento profissional.Ao concluir, diria que uma escola criativa não é nemutopia, nem mero de<strong>se</strong>jo, mas sim uma real possibilidadepara a construção de m futuro positivo para a humanidade.As contribuições aqui apontadas tiveram es<strong>se</strong> objetivo,trazer o que há de mais novo e de promissor que existe,sobretudo quando <strong>se</strong> trata da educação de pessoastalentosas, criativas e bem dotadas, mas que deve <strong>se</strong>rextendido a todo processo educativo, pressupondoadaptações necessárias às características do universoeducacional de cada país.A preocupação da sociedade com essa escola deveria<strong>se</strong>r constante e aguda, ajudando a descobrir novos caminhos,procedimentos e estratégias do ensinar e aprender. Pais,alunos, professores, diretores orientadores, supervisores,enfim todos aqueles que trabalham em educação podem,cada um na <strong>sua</strong> área, colaborar para que isto aconteça,pensando juntos num país de progresso e de justiça social,conscientes do papel que de<strong>se</strong>mpenha tal escola no futuro.REFERÊNCIASResumos de Comunicações Científicas da 14ª Conferênciado World C<strong>ou</strong>ncil for Gifted and Talented Children.(2001). Barcelona.Recebido em: 25/04/03Revisado em: 03/06/03Aprovado em: 11/06/03


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 161-170AVALIAÇÃO DA VALIDADE DO QUESTIONÁRIO DE ESTILO DE ATRIBUIÇÃO PARACRIANÇAS (CASQ)ResumoLidia Natalia Dobrianskyj Weber 1Paulo Müller Prado 2Olivia Justen Brandenburg 3Ana Paula Viezzer 4O Questionário de Estilo de Atribuição para Crianças (CASQ) é amplamente usado para medir o otimismo de crianças americanas. Pesquisadores têmmostrado a importância de estudar o otimismo para prevenir doenças mentais e físicas. Este trabalho explor<strong>ou</strong> a validade do CASQ para crianças brasileiras.Após a tradução e adaptações, 410 estudantes (9 a 12 anos) de quatro escolas de Curitiba responderam ao CASQ; 280 delas também completaram dua<strong>se</strong>scalas de responsividade e exigência parental, para a classificação dos estilos parentais – autoritativo, autoritário, indulgente, negligente. As análi<strong>se</strong>srevelaram que a versão brasileira apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> baixa confiabilidade de consistência interna, mas demonstr<strong>ou</strong> validade na comparação com as duas escalas deresponsividade e exigência parental, pois pais autoritativos foram associados a maiores escores de otimismo, e pais negligentes o foram com menore<strong>se</strong>scores de otimismo. Mais estudos sobre este questionário são necessários, e ele deve <strong>se</strong>r usado cautelosamente em <strong>ou</strong>tras amostras.Palavras-chave: Estilo explicativo; Questionário de otimismo: Propriedades psicométricas; Validade.AbstractVALIDITY EVALUATION OF THE CHILDREN’S ATTRIBUTIONAL STYLE QUESTIONNAIRE (CASQ)The Children’s Attributional Style Questionnaire (CASQ) is a widely u<strong>se</strong>d measure of optimism in American children. Re<strong>se</strong>arches have showedthe importance of studying children’s optimism to prevent mental and physical illness. This study explored the validity of the CASQ for Brazilianchildren. After the translation and adaptations, 410 students (9 to 12 years) from f<strong>ou</strong>r schools in Curitiba answered the CASQ; 280 of them alsocompleted two scales of parental responsiveness and demandingness, for the parenting styles classification – authoritative, authoritarian, indulgent,neglectful). Analy<strong>se</strong>s revealed that the Brazilian version had low internal consistency reliability, but demonstrated validity when compared with thetwo scales of parental responsiveness and demandingness, since authoritative parents were associated to higher optimism scores and negligentparents were associated to lower optimism. More studies must be done ab<strong>ou</strong>t this questionnaire and it must be u<strong>se</strong>d carefully in others samples.Key words: Explanatory style; Optimism questionnaire; Psychometric properties; Validation.INTRODUÇÃOSeligman (1995) professa: Queremos mais paranossas crianças do que corpos saudáveis. (...) Nossamaior esperança é que a qualidade de vida delas <strong>se</strong>jamelhor do que a nossa, o nosso maior de<strong>se</strong>jo é de queelas aprendam todos os nossos pontos fortes e p<strong>ou</strong>co denossas fraquezas. (p. 6)Pesquisadores brasileiros têm <strong>se</strong> voltado para o estudode aspectos positivos do comportamento humano, comoa resiliência, o bem-estar subjetivo, o coping, a empatia eassim por diante. Esta tendência <strong>se</strong> inici<strong>ou</strong> há algumasdécadas nos Estados Unidos com o nome de “PsicologiaPositiva”, tendo Martin E. Seligman como um de <strong>se</strong>usgrandes defensores. A psicologia positiva vem chamar aatenção para uma mudança de foco. Além de a psicologiater como objeto de estudo a patologia e <strong>se</strong>u tratamento,busc<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> abrir espaço para o estudo de habilidades1Professora do Departamento de Psicologia e do Mestrado em Psicologia da Infância e da Adolescência da UFPR2Professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas e do Mestrado em Administração da UFPR.3Acadêmica do Curso de Psicologia da UFPR, com bolsa de Iniciação Científica do CNPq.4Acadêmica do Curso de Psicologia da UFPR, com bolsa de Iniciação Científica do CNPq.


162 Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Paulo Müller Prado, Olivia Justen Brandenburg e Ana Paula Viezzerpositivas do <strong>se</strong>r humano, levando o enfoque parapromoção da qualidade de vida e prevenção de doenças(Seligman & Csikszentmihalyi, 2000).Nesta tendência da psicologia positiva <strong>se</strong> enquadramos estudos de Seligman (1995) sobre otimismo, estudo<strong>se</strong>stes que <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolveram a partir de investigaçõessobre como prevenir a depressão em adultos e crianças.Nas pesquisas a respeito do desamparo aprendido,Seligman descobriu que pessoas pessimistas eram maispropensas ao desamparo e tinham maior risco de entrarem depressão. Já as pessoas otimistas não desistiamdiante de problemas <strong>se</strong>m solução e resistiam aodesamparo (Seligman, 1995).Qual a definição de otimismo? Na literatura sobre otema, este conceito encontra-<strong>se</strong> relacionado à expectativade eventos que ocorrerão no futuro (Bandeira, Bek<strong>ou</strong>,Lott, Teixeira & Rocha, 2002). A definição de Seligman(1995) é ba<strong>se</strong>ada no “estilo explicativo” (explanatorystyle), <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, na forma de <strong>se</strong> explicar a causa de eventosruins <strong>ou</strong> bons que aconteceram no passado.Há três dimensões para explicar o porquê daocorrência de um evento bom <strong>ou</strong> ruim: a permanência(o quanto os efeitos do evento <strong>se</strong> prolongam no tempo);a difusão (o quanto os efeitos do evento <strong>se</strong> propagampara <strong>ou</strong>tras situações); a personalização (o quanto acausa é atribuída a fatores externos <strong>ou</strong> internos)(Seligman, 1995). Otimistas atribuem explicaçõespermanentes, difundidas e internas para os eventos bons,e explicações temporárias, específicas e externas paraeventos ruins. O contrário acontece para os pessimistas.<strong>Os</strong> eventos bons são vistos como temporários,específicos, e externos (externo porque o indivíduoacredita que o evento bom nunca foi determinado pelo<strong>se</strong>u próprio esforço). <strong>Os</strong> eventos ruins são vistos pelopessimista como permanentes, difundidos e internos(internos porque a pessoa <strong>se</strong> culpa <strong>se</strong>mpre pelosacontecimentos ruins).Se a criança acredita que os problemas vão durar para<strong>se</strong>mpre e que vão determinar tudo na <strong>sua</strong> vida, isso fazcom que ela pare de fazer novas tentativas. Assim, apermanência e difusão de eventos ruins deixam a criança<strong>se</strong>m esperanças (hopelessness), ela pára de tentar,desiste de novas oportunidades e fica passiva diante daderrota. Isto repre<strong>se</strong>nta um passo rumo à depressão; talrelação entre passividade e depressão tém sido provadaem pesquisas como de Kamen e Seligman (1987).O estilo explicativo pessimista tem sido apre<strong>se</strong>ntadocomo um fator de risco para a depressão. Pesquisa<strong>se</strong>mpíricas com diferentes idades e em diferentes culturastêm <strong>se</strong>mpre encontrado a depressão associada aopessimismo: em crianças americanas (Kaslow, Rehm &Siegel, 1984; Robins & Hinkley, 1989), em crianças chinesas(Yu & Seligman, 2002), em estudantes universitários(Suraskv & Fish, 1985), em adultos (Peterson, Bettes &Seligman, 1985). Outros tipos de metodologia de estudostambém comprovam esta associação, como meta-análi<strong>se</strong>(Gladstone & Kaslow, 1995) e estudo longitudinal emperíodo de um ano e de cinco anos (Nolen-Hoek<strong>se</strong>ma,Girgus & Seligman, 1986, 1992).Portanto, a forma de o indivíduo explicar as causas deeventos bons e ruins (estilo explicativo) está associadacom a saúde futura dele (Kamen & Seligman, 1987). Umapesquisa retroativa, com pessoas com idade média de 72anos, encontr<strong>ou</strong> que o estilo explicativo para eventos ruinsdessas pessoas permaneceu estável por mais de 52 anos.Assim, pôde-<strong>se</strong> afirmar que o estilo explicativo paraeventos ruins pode persistir durante a vida, constituind<strong>ou</strong>m fator de risco para a depressão, baixos de<strong>se</strong>mpenho<strong>se</strong> doença física (Burns & Seligman, 1989).As con<strong>se</strong>qüências do pessimismo podem <strong>se</strong>r extensa<strong>se</strong> desastrosas: humor depressivo, resignação, menossucessos nos empreendimentos, saúde física frágil edepressão (Seligman, 1995). Pesquisas têm relacionadoo pessimismo com o aumento do risco de contrairdoenças infecciosas e saúde frágil (Kamen & Seligman,1987); com mortalidade e morbidade, mediado porvariáveis como retração social, depressão, dificuldadeem resolução de problemas e resposta fisiológica aoestres<strong>se</strong> (Peterson & Seligman, 1987).Assim, parece que ensinar um estilo explicativootimista para as crianças pode <strong>se</strong>r uma forma de preveniralgumas doenças. Seguindo este raciocínio, surgiu oprograma The Penn Prevention Program para criançasde idade escolar. A aplicação deste programa apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong>o aumento do otimismo e a redução de sintomasdepressivos em crianças com risco de depressão(Seligman, 1995), resultado que <strong>se</strong> repetiu em amostrasde crianças latinas (Cardemil, Reivich & Seligman, 2002)e chinesas (Yu & Seligman, 2002).Numa tentativa de prevenção em <strong>ou</strong>tro nível, esteprograma foi estendido a pais e educadores, pois sãoeles os principais responsáveis pelo aprendizado do estiloexplicativo das crianças. É importante ressaltar esteponto, pois ninguém nasce otimista <strong>ou</strong> pessimista. Apartir da forma como os pais (e mais tarde <strong>ou</strong>tro<strong>se</strong>ducadores) explicam os erros e acertos da criança <strong>ou</strong>


Avaliação da validade do questionário de estilo de atribuição para crianças (CASQ) 163deles próprios, <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolve o estilo explicativo dos filhos(Seligman, 1995). Pesquisas, como a de Seligman,Peterson, Kaslow, Tanenbaum, Alloy e Abramson(1984), encontraram correlação significativa entre ootimismo <strong>ou</strong> pessimismo das mães com o de <strong>se</strong>us filhos.Até aqui, procur<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> compreender o conceito deotimismo e como ele é importante por afetar a saúde doindivíduo. Agora é preciso mostrar um p<strong>ou</strong>co como <strong>se</strong>pode medir o otimismo de uma criança. A forma maisutilizada nos Estados Unidos é o Questionário de Estilode Atribuição para Crianças (Children’s AttributionalStyle Questionnaire - CASQ). Tal instrumento foivalidado por Seligman e <strong>ou</strong>tros colaboradores, comaplicação em mais de 5000 crianças (Seligman, 1995).Diversos estudos realizaram avaliação psicométrica doCASQ (Nolen- Hoek<strong>se</strong>ma & cols., 1986; Panak &Garber, 1992; Seligman e cols., 1984), encontrandoíndices moderados de consistência interna para eventospositivos e negativos, além de o índice de confiabilidadede teste-reteste após 6 me<strong>se</strong>s <strong>se</strong>r adequado (0,71 e 0,66para eventos negativos e positivos). Além disso, diverso<strong>se</strong>studos têm encontrado convergência do CASQ com<strong>ou</strong>tros instrumentos, como o Children’s DepressionInventory – CDI (Nolen- Hoek<strong>se</strong>ma & cols., 1992),indicando a validade do instrumento.O objetivo geral deste trabalho foi o de avaliar avalidade do CASQ em amostra brasileira. Especificamente,vis<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> verificar as propriedades psicométricasdo instrumento, <strong>sua</strong> estrutura, consistência econcorrência com <strong>ou</strong>tro instrumento.MÉTODOParticipantes: 410 crianças de 4ª série (idades entrenove e doze anos) de três escolas municipais e umaescola particular da região de Curitiba. <strong>Para</strong> o processode validação do Questionário de Estilo de AtribuiçãoComportamental de Crianças (CASQ), participaram as410 crianças. Uma parte das crianças (130) respondeuapenas ao CASQ, e <strong>ou</strong>tra parte (280) respondeu tantoao CASQ quanto às escalas de Responsividade eExigência.Instrumentos: Questionário de Estilo de AtribuiçãoComportamental de Crianças (Children’s AttributionalStyle Questionnaire - CASQ) de Seligman (1995), paramedir o otimismo da criança (ANEXO 1). Estequestionário contém 48 questões, cada umaapre<strong>se</strong>ntando situações hipotéticas e duas opções (letra“A” e “B”) de possíveis explicações para a causa dasituação. As 48 questões avaliam <strong>se</strong>is dimensões (cadauma contendo oito questões): ERPm - eventos ruinspermanentes (questões 13, 18, 24, 28, 31, 33, 35 e 36);EBPm -eventos bons permanentes (5, 9, 23, 39, 40, 41,42 e 43); ERD - eventos ruins difundidos (12, 15, 20, 21,27, 46, 47 e 48); EBD - eventos bons difundidos (1, 3,17, 25, 30, 32, 34 e 37); ERPs - eventos ruins pessoais(6, 7, 10, 11, 14, 26, 29, e 38); EBPs - eventos bonspessoais (2, 4, 8, 16, 19, 22, 44 e 45).A pontuação deste instrumento consiste em atribuirvalor 0 <strong>ou</strong> 1 para as respostas (A <strong>ou</strong> B) escolhidas peloparticipante. Nas questões 1, 4, 6, 11, 12, 13, 16, 17, 18,22, 23, 26, 30, 33, 34, 35, 38, 39, 40, 43, 44, 46, 47, 48, aletra A recebe 1 ponto e a letra B recebe 0 ponto. Nasquestões 2, 3, 5, 7, 8, 9, 10, 14, 15, 19, 20, 21, 24, 25, 27,28, 29, 31, 32, 36, 37, 41, 42, 45, a letra B recebe 1ponto, e a letra A recebe 0. Cada grupo de dimensões(ERPm, EBPm, ERD, EBD, ERPs, EBPs) deve ter <strong>sua</strong>soma individual para obter-<strong>se</strong> o total de pontos para o<strong>se</strong>ventos ruins (Total R) e o total de pontos para os eventosbons (Total B). O escore final advém de B – R, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja,da subtração dos eventos ruins dos bons, portanto, quantomaior es<strong>se</strong> escore mais otimista é a criança. A somados eventos ruins permanentes (ERPm) e dos eventosruins difundidos (ERD) fornece o escore de passividade(hopelessness).Outro instrumento utilizado foram as escalas deExigência e Responsividade, validadas no Brasil paraadolescentes por Costa, Teixeira e Gomes (2000) e paracrianças por Weber, Viezzer e Brandenburg (2002). São16 questões divididas em duas escalas (a de exigênciacom 6 questões, e a de responsividade com 10), avaliadaspor meio de um sistema Likert de 3 pontos. Estas dua<strong>se</strong>scalas classificam estilos parentais da <strong>se</strong>guinte forma:escore alto (acima da mediana) em ambas as dimensõescorrespondem ao estilo autoritativo; escore baixo emambas as dimensões, ao estilo negligente; escore baixoem responsividade e alto em exigência, ao estiloautoritário; escore alto em responsividade e baixo emexigência, ao estilo indulgente.Procedimento: Após autorização de tradução eutilização do CASQ, fornecida por Seligman, a traduçãodo CASQ para a língua portuguesa foi feita através doPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 161-170


164 Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Paulo Müller Prado, Olivia Justen Brandenburg e Ana Paula Viezzerprocedimento de back-translation, realizado porpessoas com proficiência em língua inglesa. Além des<strong>se</strong>processo de tradução, h<strong>ou</strong>ve certas adaptações aocontexto brasileiro. Após a realização de um pré-testeindividual com 20 crianças, os instrumentos foramaplicados em grupos contendo no máximo <strong>se</strong>te crianças.Análi<strong>se</strong> dos dados: O processo de verificação davalidade do CASQ no Brasil foi feito em diversas etapas.Após a tradução para a língua portuguesa, o CASQ foiFigura1: Dendograma – Hierarquical Cluster Analysis


Avaliação da validade do questionário de estilo de atribuição para crianças (CASQ) 165submetido a testes estatísticos para análi<strong>se</strong> da coerênciaestrutural do instrumento (Hierarquical Cluster) e daconsistência interna das dimensões (Alfa de Cronbach).A opção por aplicar a Análi<strong>se</strong> de Cluster sobre asvariáveis foi feita por <strong>se</strong>r a escala es<strong>se</strong>ncialmentequalitativa. Foi aplicado o Método de Agrupamento deWard com ba<strong>se</strong> em distâncias binárias euclidianas (Hair,Anerson, Tathan & Black, 1998). Por esta técnica,espera-<strong>se</strong> que os indicadores de uma dimensão fiquemagrupados num mesmo cluster (menores distâncias), eindicadores de dimensões diferentes estejam em gruposdiferentes (maiores distâncias). Ainda comocomplementação de verificação da estrutura interna decada dimensão, foi aplicado o Coeficiente Alfa deCronbach, como em Costa e cols. (2000).Por último, como mais uma forma de testar a validadedo CASQ, foi testada a validade concorrente, ao <strong>se</strong>estabelecer uma comparação entre o instrumento CASQe as escalas de Responsividade e Exigência. Esteprocedimento permitiu a avaliação da validade preditiva,havendo um resultado esperado: o de que escores maisaltos de otimismo estives<strong>se</strong>m associados ao estiloparental autoritativo, pois a literatura demonstra quefilhos de pais com este estilo <strong>se</strong> saem melhor em diversosaspectos (Lamborn, M<strong>ou</strong>nts, Steinberg & Dornbusch,1991; Steinberg, Lamborn, Darling, M<strong>ou</strong>nts, &Dornbusch, 1994; Steinberg, Darling & Fletcher, 1995;Aunola, Sattin & Nurmi, 2000).RESULTADOSAnáli<strong>se</strong> da coerência estrutural. Visandobuscar a confirmação da coerência estrutural das<strong>se</strong>is dimensões que compõem o Questionário deEstilo de Atribuição Comportamental de Crianças,todos os itens foram submetidos ao testeHierarquical Cluster. Este teste calcula a distânciaeuclidiana entre os grupos de itens. Desta forma,no dendograma, itens pertencentes a uma mesmadimensão deveriam estar nos mesmos ramos. AFigura 1 fornece a apre<strong>se</strong>ntação de como as 48questões agruparam-<strong>se</strong>.Através do dendograma, Figura 1, pôde-<strong>se</strong> analisarcomo as <strong>se</strong>is dimensões estão dispersas. Apenas o<strong>se</strong>ventos ruins e os eventos bons <strong>se</strong> agruparam, mas nãode forma homogênea. O que pôde demonstrar adiferença entre os eventos bons e os ruins foi a correlaçãoentre os escores totais (Total B e Total R) que <strong>se</strong>apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> negativa e significativa (r =-0,218; p < 0,001),além de muito baixa.Análi<strong>se</strong> da consistência interna. Foi calculado oAlfa de Cronbach de cada dimensão: 0,2905 para o<strong>se</strong>ventos ruins permanentes e 0,1405 para os bonspermanentes; 0,1006 para os eventos ruins difusos e0,1438 para os bons difusos; 0,3687 para os eventos ruinspessoais e 0,2114 para os bons pessoais. O total deeventos bons apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> um alfa de valor 0,3310, e ototal de eventos ruins, 0,2581. Todos os valore<strong>se</strong>ncontrados são de baixa confiabilidade, pois o alfa ébom quando maior que 0,80; entre 0,70 e 0,80 éconsiderado razoável; entre 0,60 e 0,70 é razoável parapesquisas básicas; abaixo de 0,60 é um valor ruim.Análi<strong>se</strong> concorrente. Testes adicionais foramrealizados para aprofundar a análi<strong>se</strong> das propriedadesmetrológicas do CASQ, conforme <strong>se</strong>rá mais bemexplicado adiante. <strong>Os</strong> dados do CASQ foram relacionadoscom dados das escalas de Exigência e Responsividade,as quais já foram validadas no Brasil para crianças (alfa0,65 para escala de exigência e alfa 0,76 para a escalade responsividade) (Weber & cols, 2002).Por meio da análi<strong>se</strong> de variância (Anova), pôde-<strong>se</strong>investigar <strong>se</strong> os estilos parentais relacionam-<strong>se</strong> com ograu de otimismo. A Tabela 1 apre<strong>se</strong>nta os resultadosdeste teste, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, as médias do escore de otimismoreferentes a cada estilo parental.Tabela 1: Valores médios de otimismo para cada estilo parentalcomparados pelo ANOVA e pelo teste de MúltiplasComparações de Tuckey.Ambos Pais MãesNegligentes 1,66 a 1,77 a 1,43 aAutoritários 2,44 2,72 1,75Permissivos 2,86 3,32 2,74Autoritativos 4,35 a 4,50 a 4,59 aF 6,736 6,068 8,681p < 0,001 < 0,050 < 0,001a = grupos que possuem diferença significativaA Tabela 1 demonstra como h<strong>ou</strong>ve diferençasignificativa (p < 0,05) na distribuição dos escores entreos estilos autoritativo e negligente, o que não ocorreupara os estilos autoritário e permissivo (p > 0,05). OPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 161-170


166 Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Paulo Müller Prado, Olivia Justen Brandenburg e Ana Paula Viezzerestilo parental autoritativo apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> as maiores médiasde otimismo (4,35; 4,50; 4,59); o estilo negligente, asmenores (1,66; 1,77; 1,43).Foi aplicado o mesmo teste para investigar a relaçãoentre os estilos parentais e os escores totais dos eventosbons e dos eventos ruins. O escore total de eventos bons<strong>se</strong> apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> estatisticamente relacionado com o<strong>se</strong>stilos parentais (F=4,296; p


Avaliação da validade do questionário de estilo de atribuição para crianças (CASQ) 167independentes (qua<strong>se</strong> ortogonais). Isso significa que ossujeitos que responderam ao questionário não possuempontuação apenas para eventos bons <strong>ou</strong> apenas pararuins, mas sim, para os dois eventos. Tanto isso aconteceque, para cálculo do escore total, deve-<strong>se</strong> subtrair o valorde eventos ruins do valor dos eventos bons. Assim, acorrelação indica conformidade com o esperado. Porestas razões e pela sustentação das <strong>ou</strong>tras pesquisas jámencionadas anteriormente, os escores totais para osdois tipos de eventos foram utilizados na análi<strong>se</strong>concorrente, guardadas as limitações da escala aplicada.O Questionário de Estilo de Atribuição para Criançasoriginal pass<strong>ou</strong> por processo de avaliação psicométrica(Nolen-Hoek<strong>se</strong>ma & cols., 1986; Panak & Garber, 1992;Seligman e cols., 1984), encontrando índices moderadosde consistência interna para eventos positivos e negativos,além de o índice de confiabilidade de teste-reteste após6 me<strong>se</strong>s <strong>se</strong>r adequado (0,71 e 0,66 para eventos negativo<strong>se</strong> positivos, respectivamente). Além disso, diverso<strong>se</strong>studos têm encontrado convergência do CASQ com<strong>ou</strong>tros instrumentos, como o Children’s DepressionInventory – CDI (Nolen-Hoek<strong>se</strong>ma & cols., 1992),provando a validade do instrumento.Mesmo que a análi<strong>se</strong> de Cluster e os alfas tenhamsido dois elementos muito consistentes e fortes parainterpretar que o questionário necessita de revisõesprofundas, opt<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> por dar continuidade às análi<strong>se</strong>s doinstrumento através da análi<strong>se</strong> concorrente. Pôde-<strong>se</strong>verificar que os resultados obtidos na amostra destapesquisa responderam às expectativas: os filhos de paisautoritativos são mais otimistas, e os filhos de paisnegligentes são menos otimistas, enquanto os filhos depais autoritários possuem os mesmos escores deotimismo que os filhos de pais permissivos. Es<strong>se</strong> resultadopossui o mesmo padrão de <strong>ou</strong>tras pesquisas realizadasdentro do estudo de estilos parentais, como a pesquisade Lamborn e cols. (1991): adolescentes queperceberam <strong>se</strong>us pais como autoritativos foramassociados a aspectos positivos, enquanto os queperceberam <strong>se</strong>us pais negligentes o foram a aspectosnegativos; adolescentes que vêem <strong>se</strong>us pais comoautoritários <strong>ou</strong> como permissivos estão associados atraços tanto positivos quanto negativos, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, estãonuma faixa intermediária.O fato de os filhos de pais autoritativos teremapre<strong>se</strong>ntado melhores resultados quanto ao otimismo eos filhos de pais negligentes, os piores, condiz com oesperado. Em todas as pesquisas na área de estilosparentais, o estilo autoritativo é aquele que aparece como<strong>se</strong>ndo o que produz melhores efeitos em <strong>se</strong>us filhos(Dornbush, Ritter, Leiderman, Roberts, & Fraleigh, 1987;Lamborn e cols., 1991; Steinberg & cols., 1994; Steinberg& cols., 1995; Cohen & Rice, 1997; Kerka, 2000).Essa associação entre crianças otimistas e paisautoritativos foi confirmada pela relação entre paisautoritativos com maiores escores de eventos bons emenores escores de eventos ruins. E também pelascorrelações significativas e positivas entre o escore totalde otimismo com as dimensões de responsividade e deexigência, e também pelas correlações significativa<strong>se</strong>ntre eventos bons e ruins e as duas dimensões de estilosparentais.O resultado positivo, referente à análi<strong>se</strong> preditiva,indica que o instrumento possui alguma propriedademetrológica, o que é de extrema importância para o<strong>se</strong>studos sobre otimismo. Isso justifica e permite acontinuidade dos estudos sobre este instrumento pararevisão profunda dos itens e melhoramento de <strong>sua</strong>estrutura e consistência internas.Nesta continuidade de estudos, <strong>se</strong>ria muito importanterever com maiores detalhes o <strong>se</strong>ntido das fra<strong>se</strong>s doquestionário para as crianças brasileiras. A pre<strong>se</strong>ntepesquisa preocup<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> não apenas com a tradução, mastambém com a adaptação das fra<strong>se</strong>s. Esta adaptação,porém, pode não ter sido suficiente. Na pesquisa deWeber, Brandenburg e Viezzer (2003), encontr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>valores muito mais baixos de otimismo para as criançasbrasileiras, quando comparados com os valores dootimismo das crianças americanas. Isso comprova comodeve-<strong>se</strong> enfatizar a diferença cultural e socioeconômicaentre as amostras original e a utilizada na pre<strong>se</strong>ntepesquisa pode ter <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntado como uma variávelinterveniente importante para dificultar a validade doinstrumento aqui demonstrada.Apesar de os resultados não terem sido muitosatisfatórios, a pre<strong>se</strong>nte pesquisa teve <strong>sua</strong> importânciapor dois grandes motivos. Em primeiro lugar, chama aatenção para os cuidados que devem <strong>se</strong>r tomados e paraas dificuldades que acarretam a tradução e adaptaçãode instrumentos estrangeiros. Deve-<strong>se</strong> incentivar eressaltar a importância de os pesquisadores elaborareminstrumentos a partir da realidade cultural esocioeconômica brasileira.Em <strong>se</strong>gundo lugar, ressalta a importância de <strong>se</strong>pesquisar e estudar sobre o otimismo das crianças,tendo em vista a possibilidade de promoção de umPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 161-170


168 Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Paulo Müller Prado, Olivia Justen Brandenburg e Ana Paula Viezzerde<strong>se</strong>nvolvimento mais saudável e de uma melhorqualidade de vida. A tentativa de validação do Questionáriode Estilo de Atribuição para Crianças da pre<strong>se</strong>ntepesquisa repre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> um interes<strong>se</strong> por um assuntoque <strong>se</strong> in<strong>se</strong>re dentro da perspectiva da psicologiapositiva, pois promover otimismo em crianças significaprevenir doenças (como a depressão) e favorecer asaúde delas.REFERÊNCIASAunola, K., Stattin, H., & Nurmi, J. E. (2000). Parenting stylesand adolescents’ achievement strategies. J<strong>ou</strong>rnal ofAdolescence, 23 (2), 205-220.Bandeira, M., Bek<strong>ou</strong>, V., Lott, K S., Teixeira, M. A., & Rocha S. S.(2002). Validação transcultural do teste de orientação da vida(TOV-R). Estudos de psicologia (Natal), 7 (2), 251-258.Burns, M. O., & Seligman, M. E.P. 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Avaliação da validade do questionário de estilo de atribuição para crianças (CASQ) 169Steinberg, L., Lamborn, S. D., Darling, N., M<strong>ou</strong>nts, N. S., &Dornbusch, S. M. (1994). Over-time changes in adjustmentand competence among adolescents from authoritative,authoritarian, indulgent, and neglectful families. ChildDevelopment, 65, 754-770.Suraskv, J., & Fish, J. M. (1985). Cognitive distortion indepression: a comparative experimental analog test ofthe beck and reformulated <strong>se</strong>ligman models. Estudos dePsicologia, 2 (2-3), 51-80.Weber, L. N. D., Brandenburg, O. J., & Viezzer, A. P.(2003) Arelação entre o estilo parental e o otimismo da criança.Psico-USF, 8 (1), 71-79.Weber, L. N. D., Viezzer, A. P., & Brandenburg, O. J. (2002).Adaptação e validação de duas escalas (exigência eresponsividade) para avaliar estilos parentais [Resumo].Em Associação Brasileira de Psicoterapia e MedicinaComportamental (Org.), Anais, XI Encontro Brasileirode Psicoterapia e Medicina Comportamental (p. 208).Londrina: ABPMC.Yu, D. L., & Seligman, M. E. P. (2002). Preventing depressivesymptoms in Chine<strong>se</strong> children. Prevention andTreatment, 5.ANEXO 1QUESTIONÁRIO DE ESTILO DE ATRIBUIÇÃO PARA CRIANÇAS1. Você tira nota 10 em uma prova. A) Eu s<strong>ou</strong>inteligente. B) Eu s<strong>ou</strong> bom na matéria que caiu na prova.2. Você joga um jogo com alguns(mas) amigos(as) evocê ganha. A) As pessoas com quem eu joguei nãojogavam bem o jogo. B) Eu jogo este jogo muito bem.3. Você passa a noite na casa de um(a) amigo(a) e<strong>se</strong> diverte muito. A) Meu amigo estava de bom humornesta noite. B) Todo mundo na família do meu amigoestava de bom humor nesta noite.4. Você sai de férias com um grupo de pessoas e <strong>se</strong>diverte muito. A) Eu estava de bom humor. B) As pessoascom quem eu fiquei de férias estavam de bom humor.5. Todos os <strong>se</strong>us(<strong>sua</strong>s) amigos(as) pegaram umagripe, menos você. A) Ultimamente eu ando saudável.B) Eu s<strong>ou</strong> uma pessoa saudável.6. Seu bichinho de estimação é atropelado por umcarro.A) Eu não cuido bem dos meus bichos deestimação. B) <strong>Os</strong> motoristas não são muito cuidadosos.7. Alguns de <strong>se</strong>us(<strong>sua</strong>s) colegas dizem que não gostamde você. A) De vez em quando as pessoas são ruins comigo.B) De vez em quando eu s<strong>ou</strong> ruim para <strong>ou</strong>tras pessoas.8.Você tira notas muito boas. A) <strong>Os</strong> trabalhos daescola são fáceis.B) Eu s<strong>ou</strong> muito esforçado.9. Você encontra um(a) amigo(a) e ele diz que vocêestá bonito(a). A) Neste dia meu amigo quis elogiar aaparência de muitas pessoas. B) Muitas vezes meuamigo elogia a aparência das pessoas.10. Um(a) bom(a) amigo(a) diz que odeia você. A)Meu amigo estava de mau humor naquele dia. B) Eunão fui legal com meu amigo naquele dia.11. Você conta uma piada e ninguém ri. A) Eu nãoconto piadas muito bem. B) A piada é tão conhecidaque não tem mais graça.12. Seu(<strong>sua</strong>) professor(a) passa uma lição e vocênão entende. A) Eu não prestei atenção em nadanaquele dia. B) Eu não prestei atenção quando meuprofessor estava falando.13. Você vai mal em uma prova. A) Meu professorfaz provas muito difíceis. B) Nas últimas <strong>se</strong>manas, meuprofessor tem feito provas difíceis.14. Você ganha muito peso e começa a engordar.A) A comida que eu tive que comer engorda muito. B)Eu gosto de comida que engorda.15. Uma pessoa r<strong>ou</strong>ba dinheiro de você. A) Estapessoa é desonesta. B) As pessoas são desonestas.16. Seus pais elogiam alguma coisa que você fez. A)Eu s<strong>ou</strong> bom em certas coisas. B) Meus pais gostam dealgumas coisas que eu faço.17. Você joga um jogo e ganha algum dinheiro. A)Eu s<strong>ou</strong> uma pessoa de sorte. B) Eu tenho sorte quandoeu jogo.18. Você qua<strong>se</strong> <strong>se</strong> afoga ao nadar em um rio. A) Eunão s<strong>ou</strong> uma pessoa cuidadosa. B) Algumas vezes eunão s<strong>ou</strong> cuidadoso.19. Você é convidado para muitas festas. A) Muitaspessoas têm sido legais comigo ultimamente. B) Eu tenhosido legal com muitas pessoas ultimamente.20. Um adulto grita com você. A) Aquele adulto grit<strong>ou</strong>com a primeira pessoa que ele viu. B) Aquele adultogrit<strong>ou</strong> com muitas pessoas naquele dia.Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 161-170


170 Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, Paulo Müller Prado, Olivia Justen Brandenburg e Ana Paula Viezzer21. Você faz um trabalho com um grupo de colegas eo trabalho não fica bom. A) Eu não trabalho bem com aspessoas deste grupo. B) Eu nunca trabalho bem em grupo.22. Você faz um(a) amigo(a) novo. A) Eu s<strong>ou</strong> umapessoa legal. B) A pessoa com quem fiz amizade é legal.23. Você <strong>se</strong> dá bem com a <strong>sua</strong> família. A) É fácil eume dar bem com a minha família. B) De vez em quandoé fácil eu me dar bem com a minha família.24. Você tenta vender doces, mas ninguém compra.A) Muitas crianças estão vendendo coisas e por isso aspessoas não compram mais nada de crianças. B) Aspessoas não gostam de comprar coisas de crianças.25. Você joga um jogo e você ganha. A) Às veze<strong>se</strong>u faço o melhor que posso em jogos. B) Às vezes eufaço o melhor que posso.26. Você tira uma nota baixa na escola. A) Eu façomuitos erros. B) <strong>Os</strong> professores dão notas injustas.27. Você bate a cara na porta e <strong>se</strong>u nariz sangra. A)Eu não estava olhando para onde eu estava indo. B) Eutenho andado distraído ultimamente.28. Você erra uma bola e <strong>se</strong>u time perde o jogo. A)Eu não me esforcei muito ao jogar bola neste dia. B) Eunormalmente não me esforço muito quando jogo bola.29. Você torce o tornozelo na aula de educação física.A) Nas últimas <strong>se</strong>manas, o esporte que praticamos nasaulas de educação física tem sido perigoso. B) Nasúltimas <strong>se</strong>manas, eu tenho andado desastrado nas aulasde educação física.30. Seus pais levam você para a praia e você <strong>se</strong>diverte muito. A) Tudo na praia estava legal neste dia.B) O clima na praia estava bom neste dia.31. Você pega um ônibus que cheg<strong>ou</strong> atrasado e perdeo filme no cinema. A) Nos últimos dias ocorreram algunsproblemas com o horário da chegada do ônibus. B) <strong>Os</strong>ônibus qua<strong>se</strong> nunca chegam na hora certa.32. Sua mãe faz <strong>sua</strong> comida preferida no jantar. A)Existem p<strong>ou</strong>cas coisas que minha mãe faz para meagradar. B) Minha mãe gosta de me agradar.33. O time em que você joga perde um jogo. A) <strong>Os</strong>jogadores do time não jogam bem juntos. B) Naqueledia, os jogadores do time não jogaram bem juntos.34. Você termina a <strong>sua</strong> lição de casa rapidamente.A) Ultimamente, eu tenho feito tudo rápido. B)Ultimamente, eu tenho feito a lição de casa rápido.35. Sua professora faz uma pergunta a você e vocêresponde errado. A) Eu fico nervoso quando tenho queresponder perguntas. B) Naquele dia eu fiquei nervosoquando tive que responder a pergunta.36. Você pega o ônibus errado e você <strong>se</strong> perde. A)Naquele dia eu não estava prestando atenção no queestava acontecendo. B) Eu normalmente não prestoatenção no que está acontecendo.37. Você vai ao parque de diversão e diverte-<strong>se</strong>. A)Eu normalmente me divirto em parques de diversão. B)Eu normalmente me divirto.38. Um(a) colega mais velho(a) deu um tapa em <strong>se</strong>urosto. A) Eu provoquei <strong>se</strong>u irmão mais novo. B) Seuirmão mais novo dis<strong>se</strong> que eu tinha provocado ele.39. Você ganha todos os brinquedos que você queriaem <strong>se</strong>u aniversário. A) As pessoas <strong>se</strong>mpre acertam osbrinquedos que eu quero ganhar. B) Nes<strong>se</strong> aniversárioas pessoas acertaram os brinquedos que eu queria.40. Você passa as férias no campo (chácara, sítio,fazenda) e <strong>se</strong> diverte. A) O campo é um lugar ótimopara pas<strong>se</strong>ar. B) A época do ano em que fomos para ocampo era ótima.41. Seus vizinhos convidam você para jantar. A) Às vezesas pessoas fazem gentilezas. B) As pessoas são gentis.42. Você tem uma professora substituta e ela gostade você. A) Eu estava bem comportado durante a aulaneste dia. B) Eu est<strong>ou</strong> qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre bem comportadodurante a aula.43. Você faz <strong>se</strong>us(<strong>sua</strong>s) amigos(as) felizes. A) Eus<strong>ou</strong> uma pessoa divertida. B) Às vezes eu s<strong>ou</strong> umapessoa divertida.44. Você ganh<strong>ou</strong> um sorvete de casquinha. A) Eufui gentil com o sorveteiro neste dia. B) O sorveteiro foigentil neste dia.45. Na festa de <strong>se</strong>u(<strong>sua</strong>) amigo(a) o mágico pede paravocê ajudá-lo. A) Foi apenas sorte minha eu ter sidoescolhido. B) Eu estava realmente interessado nas mágicas.46. Você tenta convencer um(a) amigo(a) a ir aocinema com você, mas ele(a) não vai. A) Naquele diaele não queria fazer nada. B) Naquele dia ele não queriair ao cinema.47. Seus pais <strong>se</strong> <strong>se</strong>param. A) É difícil para as pessoas<strong>se</strong> darem bem quando estão casadas. B) É difícil paraos meus pais <strong>se</strong> darem bem quando estão casados.48. Você tenta entrar num grupo (panelinha) e nãocon<strong>se</strong>gue. A) Eu não me d<strong>ou</strong> bem com <strong>ou</strong>tras pessoas.B) Eu não consigo me dar bem com as pessoas destegrupo (panelinha).Recebido em: 20/05/03Revisado em: 17/09/03Aprovado em: 04/11/03


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 171-178FAMÍLIA, ESCOLA E A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: INTERVINDOSISTEMICAMENTEEdla Grisard Caldeira de Andrada 1ResumoRefletindo acerca do papel do psicólogo escolar, este artigo apre<strong>se</strong>nta uma intervenção sistêmica em uma das escolas do município de São José,Santa Catarina. Partindo da teoria sistêmica e da psicologia histórico-cultural, consider<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a necessidade de ampliar a visão de “indivíduo dotadode problemas” para o entendimento dos sistemas diretos no qual o aluno vive: família e escola. Assim, famílias, professores e alunos participaramde alguns encontros com a psicóloga a fim de criar <strong>ou</strong>tros significados para a dificuldade apre<strong>se</strong>ntada na escola. O objetivo das intervenções foicircular a responsabilidade do “problema” entre os membros que participaram dos encontros. O artigo possibilita aos especialistas em educaçãonovas maneiras de intervir nas escolas <strong>se</strong>m estigmatizar <strong>ou</strong> rotular o aluno.Palavras-chave: Intervenção sistêmica; Dificuldade de aprendizagem; Relação famílias-escola.AbstractFAMILY, SCHOOL AND LEARNING DIFFICULTIES: SYSTEMICALLY INTERVENTIONThinking ab<strong>ou</strong>t the role of the school psychologist, this article pre<strong>se</strong>nts a systemic intervention in one of the schools of São José, SantaCatarina. Ba<strong>se</strong>d on the systemic theory and the historical-cultural psychology, it was considered the necessity of amplifying the view of “problemchild” to the understanding of the systems where the child directly lives: family and school. Therefore, families, teachers and students took partin some meetings with the psychologist in order to create other meanings to the difficulty pre<strong>se</strong>nted at school. The objective of the interventionswas to circulate the responsibility of the “problem” among the members who took part in the meeting. The article makes it possible to thespecialists in education to think of new ways of intervention with<strong>ou</strong>t stigmatize the student.Key words: Systemic interventions; Learning difficulties; Family-school relations.INTRODUÇÃOO es<strong>se</strong> município no qual atuei, em Santa Catarina,diferencia-<strong>se</strong> da maioria dos municípios brasileiros porapre<strong>se</strong>ntar em <strong>se</strong>u quadro de funcionários o cargo dePsicólogo na Educação. Em 2001, prestei concurso paraa Secretaria da Educação e Cultura <strong>se</strong>ndo lotada emuma das Escolas da Rede como Psicóloga,compartilhando meu trabalho na Secretaria com quatropsicólogos contratados em caráter temporário. Como ademanda é grande, muitas escolas, e o número depsicólogos pequeno, em 2002 acabei dividindo minhacarga horária em três escolas diferentes e aqui relatoparte do trabalho feito em uma delas junto às famílias eprofessores de alunos apontados pela equipe pedagógicae pelos próprios professores como “alunos problema”<strong>ou</strong> “com dificuldade de aprendizagem”.A escola em questão foi inaugurada em março de2002 e tem uma estrutura privilegiada, em <strong>se</strong> tratandode escolas públicas. Conta com laboratório deinformática, duas salas de laboratório de ciênciastotalmente equipado, incluindo mini laboratórios móveispara o professor utilizar em <strong>ou</strong>tros lugares da escola.Além disso, a escola tem sala de dança e anfiteatro,este ainda em construção.Importante ressaltar que não é só o espaço físicoque ainda está em construção, mas também o ProjetoPolítico Pedagógico. A própria equipe escolar tambémestá em formação, visto que em 2002 os professores efuncionários eram em <strong>sua</strong> maioria contratados, somente1Psicóloga e docente da Universidade Federal de Santa Catarina.


172 Edla Grisard Caldeira de Andradaalguns p<strong>ou</strong>cos já estavam efetivados na Rede Municipalde ensino. É, portanto, uma escola de história recente,ainda <strong>se</strong>m uma visão clara do perfil de <strong>se</strong>us alunos eprofessores.Foi neste cenário em construção que propus umtrabalho junto às famílias e professores dos alunosapontados com dificuldade, procurando refletir com aequipe pedagógica (direção e orientação pedagógica),assim como junto com os professores e as famílias asfunções que tais dificuldades poderiam estar exercendona escola e/<strong>ou</strong> nas famílias, possibilitando ao aluno novasmaneiras de estar nos determinados sistemas.Entendendo a família e a escola como sistemas emde<strong>se</strong>nvolvimento, que contém o sujeito também emde<strong>se</strong>nvolvimento, relaciono neste artigo conceitos dedinâmica familiar com as dificuldades de aprendizagemrelatadas pela equipe pedagógica e professores. Oobjetivo foi de resignificar o comportamento “desviante”do aluno na escola, ressaltando <strong>sua</strong>s potencialidades epossibilidades, assim como de ampliar a visão de“indivíduo dotado de problemas”, criando junto comprofessores, alunos e famílias um novo significado aotermo “dificuldade de aprendizagem”.<strong>Para</strong> a compreensão dos casos aqui relacionados mefundamento na psicologia histórico-cultural, referenciadano pensamento de Vygotsky (1983) e no paradigmasistêmico. Tal escolha epistemológica deve-<strong>se</strong> ao fatode ambas teorias considerarem o sujeito no <strong>se</strong>u meiosocial, contextualizando-o no tempo e no lugar, partindodo fundamental princípio acerca da formação social do<strong>se</strong>r humano.Escolho Vygotsky (1983), mais especificamente, porestudar a formação dos processos psíquico-superiores(como memória voluntária, atenção voluntária, etc)relacionando-os com a atividade social, necessariamentemediada pelos muitos <strong>ou</strong>tros com os quais convivemos.Vygotsky (1998) em <strong>sua</strong> teoria da gêne<strong>se</strong> e de<strong>se</strong>nvolvimentodo psiquismo humano apre<strong>se</strong>nta o processo designificação como es<strong>se</strong>ncial ao de<strong>se</strong>nvolvimentohumano, <strong>se</strong>ndo este definido como “um processodialético, marcado por etapas qualitativamente diferentes,determinadas pela atividade mediada, que é justamentea chave des<strong>se</strong> processo” (Andrada, 2001, p.20).Trabalho com o paradigma sistêmico por compreendero funcionamento e a dinâmica dos sistemas humanos, <strong>se</strong>jaele uma família, uma empresa, uma sala de aula, enfim,uma escola. Focalizando a comunicação, as fronteiras entreas partes do sistema, a formação de um sintoma e <strong>sua</strong>função no sistema, o ciclo de vida familiar, entre <strong>ou</strong>trosconceitos importantes, a teoria sistêmica possibilita umanova visão acerca dos problemas, inclusive acerca dasdificuldades de aprendizagem.Reconhecendo que o paradigma sistêmico ultrapassao paradigma linear de causa e efeito onde “um alunonão aprende porque é deficiente”, o significado e oentendimento que o sistema escolar dá à dificuldade deaprendizagem podem <strong>se</strong>r transformados quandoprofessores e pedagogos <strong>se</strong> colocam como sujeitos quetambém constroem e mantém o problema. Consideram<strong>se</strong>,portanto, o contexto e as relações estabelecidas comes<strong>se</strong> educando, assim como a significação acerca doque <strong>se</strong> mostra <strong>se</strong>r o “problema de aprendizagem”.Teorias de apoioEntendendo de<strong>se</strong>nvolvimento humano como umprocesso Bronfrenbrenner (1994) sugere o modeloPPCT, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, pessoa, processo, contexto e tempo.Segundo este autor, a pessoa <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolve através deprocessos proximais, que são interações que acontecemnos contextos <strong>ou</strong> sistemas diretos onde o sujeito faz parte,chamados de microssistemas, assim como nos <strong>ou</strong>trossistemas que indiretamente influenciam a vida do sujeito.As interações configuram-<strong>se</strong> então como o motor dode<strong>se</strong>nvolvimento (Tugde, Gray & Hogan, 1997).De maneira <strong>se</strong>melhante, Vygotsky (1981) defende aidéia de que os <strong>ou</strong>tros têm fundamental papel node<strong>se</strong>nvolvimento de qualquer pessoa, uma vez que nós sónos de<strong>se</strong>nvolvemos através das interações estabelecidascom os <strong>ou</strong>tros, <strong>se</strong>ndo que estas interações estãocarregadas de significados socialmente construídos. Assim,“O processo de significação é destacado por Vygotski(1998) em <strong>sua</strong> teoria da gêne<strong>se</strong> e de<strong>se</strong>nvolvimento dopsiquismo humano, posto que, via atividade em contextossociais específicos, o que é apropriado pelo sujeito vem a<strong>se</strong>r não a realidade em si, mas o que esta significa tantopara os sujeitos em relação quanto para cada um emparticular”(Andrada & Zanella, 2002, p.128).Pode-<strong>se</strong> inferir, portanto, que aquilo que professorasignifica como problema de aprendizagem <strong>ou</strong> decomportamento é fruto das <strong>sua</strong>s experiências prévias eapropriações geradas na <strong>sua</strong>s interações nos sistema<strong>se</strong>m que vive e viveu ao longo de <strong>sua</strong> história. Dessaforma, <strong>se</strong>ndo <strong>se</strong>mpre uma significação construída, pode<strong>se</strong>r reestruturada <strong>ou</strong> reenquadrada.Assim como os significados construídos podem <strong>se</strong>rtransformados, o modelo de Bronfrenbrenner demonstra


Família, escola e a dificuldade de aprendizagem: Intervindo sistemicamente 173que os sistemas movem-<strong>se</strong> através do tempo e também<strong>se</strong> modificam. Isso acontece não em uma perspectivalinear, cronológica, mas em uma perspectiva de ciclos.Sendo assim, o conceito de ciclos está associado aoconceito de de<strong>se</strong>nvolvimento, movimento, crescimento,ordenação, etapas. Exemplificando es<strong>se</strong> movimento nosistema familiar, Duque (1996) afirma que “desde que<strong>se</strong> constituem, por meio da união de um casal, as famíliaspassam por um certo número de fa<strong>se</strong>s evolutivas naturaisque <strong>se</strong> sucedem ao longo de um contínuo, o qualdenominamos ciclo vital”. (p.78)Carter e McGoldrick (1995) classificam 6 fa<strong>se</strong><strong>se</strong>volutivas na vida da família: o jovem solteiro; ocasamento; famílias com filhos pequenos; famílias comadolescentes; famílias no meio da vida e famílias noestágio tardio da vida. Em cada estágio existemprocessos emocionais implícitos que exigemmudanças no status da família para que esta prossiga<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolvendo.A formação de um sintoma 2 acontece normalmentenas passagens de estágios, pois o nível de estres<strong>se</strong> familiar,<strong>se</strong>gundo Carte e McGoldrick (1995) “é geralmente maiornos pontos de transição de um estágio para o <strong>ou</strong>tro noprocesso de de<strong>se</strong>nvolvimento familiar” (p.8). O estres<strong>se</strong>,porém, pode também <strong>se</strong>r externo (uma mudança social,política). <strong>Para</strong> Papp (1992) o aparecimento de um sintomapode <strong>se</strong>r ocasionado de diversas formas, na concepçãode Papp (1992) “Por uma mudança em um dos sistemasmais amplos nos quais a família existe, tais como o sistemasocial, político, cultural e educacional (...) <strong>ou</strong> o eventoprecipitador pode vir de dentro da família como umareação a alguma ocorrência do ciclo de vida (morte,nascimento, etc)”. (p.24)De qualquer forma, sintoma e sistema estãoconectados, <strong>se</strong>rvindo um ao <strong>ou</strong>tro. Se a origem está forada família, <strong>sua</strong> permanência indica que está exercendoalguma função dentro da família, para que algumatransação permaneça <strong>ou</strong> para que a família evolua no<strong>se</strong>u ciclo vital. Ao considerarmos o ciclo da famíliapodemos perceber que processos de transição sãogeralmente acompanhados de muita ansiedade, podendoaparecer sintomas como forma de dominar a cri<strong>se</strong>. <strong>Para</strong>Duque (1996) “a cri<strong>se</strong> é resultado do sofrimentoacarretado pela necessidade de mudar e <strong>se</strong> define (...)por <strong>se</strong>u caráter transitório. Na maioria das vezes, ossintomas desaparecem com o tempo <strong>se</strong>m que <strong>se</strong>janecessária intervenção terapêutica. Outras vezes, aintervenção terapêutica <strong>se</strong> faz necessária para que afamília adquira uma nova compreensão e significaçãodo problema apre<strong>se</strong>ntado por <strong>se</strong>us componentes”. (p.84)Pensando no sistema escola, <strong>se</strong> a cri<strong>se</strong> é resultadoda necessidade de mudar, é possível entender umproblema na escola como uma necessidade de mudançanas interações do sistema. Assim, a criação de novossignificados para o problema apre<strong>se</strong>ntado é o queobjetiva um trabalho na escola cujo ponto de partida é opensamento sistêmico.Tal pensamento requer uma reflexão contextual, poisapre<strong>se</strong>nta os <strong>se</strong>guintes princípios: totalidade (o todo é maiorque a soma das partes, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, o funcionamento do sistemanão pode <strong>se</strong>r entendido a partir do funcionamento de umsó indivíduo); integridade de subsistemas (os sistemaspossuem subsistemas que são integrados, relacionadosuns aos <strong>ou</strong>tros); circularidade (todos os componentesinfluenciam-<strong>se</strong> mutuamente) (Schaffer, 1996).Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, Tilmans-<strong>Os</strong>tyns (s/d) ob<strong>se</strong>rva que “opensamento sistêmico funciona <strong>se</strong>gundo um modelocircular. Isto significa que o lugar, o momento no qualsituamos o inicio de um processo interacional, para daídeduzir uma compreensão, é totalmente arbitrário. <strong>Para</strong>iniciar a compreensão de tal processo, podemos ver<strong>ou</strong>tras coisas. A questão de saber quem começ<strong>ou</strong>, quemé a causa, não tem, portanto <strong>se</strong>ntido neste modo depensamento”. (p.3)Dessa forma, para compreendermos o processointeracional é preciso considerar diversas causas, assimcomo as possíveis funções que determinado problemapode estar exercendo neste processo. O aluno, portanto,não pode mais <strong>se</strong>r visto como o sujeito dotado de problemas,<strong>se</strong>parado do sistema sala de aula, mas como um sujeitorelacional cujo problema exerce uma função no sistema.Conforme Curonici e McCulloch (1999), “é ainda precisolevar em conta que o problema manifestado por umacriança (por um grupo de crianças) é um conjuntoimportante da manutenção do equilíbrio (homeostasia) dosistema inteiro. É o que explica a persistência no tempode algumas dificuldades e a p<strong>ou</strong>ca eficácia das medidasque tendem a fazer desaparecer o problema ao focar-<strong>se</strong>no indivíduo que o manifesta”. (p.37)A teoria sistêmica, em <strong>sua</strong> riqueza epistemológica,considera o sintoma de diversos ângulos. <strong>Para</strong> Satir(1980) o sintoma é problema na comunicação, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja,uma comunicação disfuncional (generalista, incompleta,desconexa) poderá gerar sintomas no indivíduo. Assim,o psicólogo deve trabalhar focalizando a comunicaçãodo sistema.Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 171-178


174 Edla Grisard Caldeira de AndradaHaley (1979), por <strong>sua</strong> vez, descreve o sintoma comofruto das dificuldades quotidianas não resolvidas e,<strong>se</strong>gundo ele, só persistem <strong>se</strong> os comportamentos dos<strong>ou</strong>tros membros do sistema foram mantidos. <strong>Para</strong>solucioná-lo, portanto, é preciso criar novos padrões decomportamento, modificando <strong>se</strong>qüências rígidas erepetitivas.Já Minuchin (1982), numa visão mais estrutural dosistema família, fala em fronteiras, coalisões e aliança<strong>se</strong>ntre membros, além de relações de poder, <strong>se</strong>ndo osintoma resultado de problemas na estrutura do sistema.Assim, o psicólogo visa a alteração nos padrões deinteração durante os encontros, delimitando fronteirasparentais, etc.Anderson e Goolishian (1998), compartilhando umavisão construcionista, ditam que a própria descrição doproblema constitui o problema, <strong>se</strong>ndo que o sintomaderiva de interpretações partilhadas por uma comunidade.O psicólogo parte de uma posição de “não-saber”sobre o sujeito e numa orientação colaborativa com esteresignifica as formas pelas quais a linguagem constrói o<strong>se</strong>lf e o mundo.Aliando o conhecimento acima descrito com otrabalho de psicóloga na escola, os atendimentos queagora descrevo visaram criar na escola a visão decomplexidade e instabilidade de qualquer tipo deproblema, salientando também a intersubjetividade 3 , <strong>ou</strong><strong>se</strong>ja, o papel que a própria escola e as famílias exercemna manutenção e quiçá criação da dificuldade do sujeitoaluno.Nes<strong>se</strong> processo as famílias acrescentam umaimportante contribuição quando participam ativamentedas discussões sobre o “problema” na escola e, assim,<strong>se</strong> beneficiam quando con<strong>se</strong>guem também criar novossignificados aos problemas apre<strong>se</strong>ntados.<strong>Os</strong> atendimentos: processo inicial<strong>Para</strong> facilitar o procedimento de encaminhamentona escola a direção, as orientadoras e professora<strong>se</strong>screviam sobre os alunos, ressaltando <strong>se</strong>us dados sobreaprendizagem e comportamento em sala, incluindo ohistórico escolar e <strong>ou</strong>tros dados que consideras<strong>se</strong>mrelevantes.Após a leitura dos encaminhamentos, eu conversavacom equipe pedagógica e professores e muitas vezessurgiam dessa conversa idéias de encaminhamento naprópria sala de aula, <strong>se</strong>ndo o professor o mediador damudança, algumas vezes obtendo muito sucesso.Entretanto, <strong>se</strong> a equipe consideras<strong>se</strong> importante, eramarcado o primeiro contato com a criança, <strong>se</strong>mpre juntocom a família <strong>ou</strong> com a professora, dependendo dasituação. Em <strong>se</strong>guida eu costumava ob<strong>se</strong>rvar asinterações na sala de aula.Às vezes, eu mantinha contato com as famílias pormais tempo, em alguns encontros acordados com osmembros. Outras vezes um único encontro com a famíliaera o suficiente para entender que a dificuldade apontadaestava exercendo alguma função no sistema escolar.Vamos aos exemplos:A agitação de V.V., 6 anos, está na primeira série e entr<strong>ou</strong> na escolano mês de Abril, em virtude da mudança de cidade dospais. Segundo relato da professora, “ele fica mexendocom todos os colegas da <strong>se</strong>guinte forma: chutando,dando rasteira, empurrando, puxando o cabelo,rasga as atividades feitas em sala e não faz asatividades. Quando solicitado justifica que só escrevecom letra de forma. Além disso, é desinteressado,desmotivado e adora uma brincadeira em sala. Nãosabe ler. Precisa de ajuda urgente, é hiperativo”.Ao falar sobre os deveres, a professora acrescenta que“das p<strong>ou</strong>cas atividades feitas em casa vem com letracorrida, a mãe pega em <strong>sua</strong> mão para escrever”.Sua fala evidencia <strong>sua</strong> insatisfação e insucessoperante o menino e acaba por responsabilizar o alunopor todo o fracasso que ambos vivem na sala. O pedidoimplícito é “retirem o menino, pois ele é o problema”.No contato com a mãe, a criança e o padrasto, not<strong>ou</strong><strong>se</strong>que há um envolvimento emocional bastante saudável,explicitado no cuidado dos pais com os deveres, comhigiene, na proteção <strong>se</strong>m exageros, nas negociações ena possibilidade de autonomia e diferenciação (porexemplo, V. tem quarto só para ele, tempo e brincadeira<strong>se</strong>scolhidas pelo menino, etc).V. mostr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> atento à conversa, respondendoprontamente quando solicitado, com vocabulárioadequado e rico. Calmo, o menino de<strong>se</strong>nh<strong>ou</strong> o tempotodo, <strong>se</strong>m mostrar qualquer indício de hiperatividade.Quando questionado a respeito da escola, V. foi incisivo:“a professora não gosta de mim e a sala é chata”.Segundo relato da mãe, V. em casa é organizado,faz <strong>sua</strong>s tarefas diariamente com ajuda do padrasto, comquem tem uma boa relação afetiva, fato ob<strong>se</strong>rvado no<strong>se</strong>ncontros com a família. Dessa forma, a mãe nãoentende porque V. está “indo mal” na escola e acha quea professora está “resistindo” ao menino. Ela estranha


Família, escola e a dificuldade de aprendizagem: Intervindo sistemicamente 175o fato de o menino estar agitado, até agressivo comcolegas, e que ainda não lê <strong>ou</strong> escreve, pois em casa ele<strong>se</strong> mostra uma criança tranqüila.V. veio de uma escola que priorizava o lúdico atravésde atividades que eram mediadas com brincadeiras. Aescrita da professora era em caixa alta, não <strong>se</strong>ndonecessário nem exigido escrever com letra corrida, <strong>se</strong>ndoque o processo de passagem para letra corrida acontecianaturalmente. A professora e a escola negligenciaramo histórico escolar de V. e não compreendiam <strong>sua</strong>resistência à escrita corrida e <strong>sua</strong> vontade de brincar.Foram feitos dois encontros com a família e em<strong>se</strong>guida um encontro com V. e <strong>sua</strong> professora. Nes<strong>se</strong>encontro, o menino cont<strong>ou</strong> para a professora como era<strong>sua</strong> escola anterior e a questão da letra corrida, assimcomo das brincadeiras que muito <strong>se</strong>nte falta.Negociamos com a professora o uso de letra em caixaalta assim como momentos mais lúdicos na sala de aula.Foi levantada a hipóte<strong>se</strong> de que V. ainda não <strong>se</strong> <strong>se</strong>ntiaincluído na turma, visto que a professora não fez qualquermovimento para possibilitar <strong>sua</strong> inclusão quando elecheg<strong>ou</strong>. Nes<strong>se</strong> encontro contratei com a professoraalgumas ob<strong>se</strong>rvações na sala de aula.A ob<strong>se</strong>rvação da sala de aula tr<strong>ou</strong>xe <strong>ou</strong>tros dadosmuito relevantes: a professora mostrava-<strong>se</strong> in<strong>se</strong>gura eatrapalhada. Sem um plano de aula adequado nãocon<strong>se</strong>guia negociar com as crianças e tentava coagi-lascom gritos e até pequenos beliscões. V. demonstrava<strong>sua</strong> insatisfação com a maneira de dar aulas daprofessora “atrapalhando” diariamente a ponto de <strong>se</strong>rretirado da sala. Sua agitação fez a escola voltar <strong>se</strong>uolhar para a sala de aula como um todo, e somente assimfoi possível reorganizar a percepção do sistema e dafunção que V. estava exercendo na sala. O “problema”da criança pôde finalmente <strong>se</strong>r visto como positivo,levantando a necessidade de mudança no sistema.Dessa forma, junto com a orientação pedagógicadecidimos intervir diretamente no trabalho da professora,mediando o processo de elaboração dos planos de aula,avaliando com ela cada aula e o progresso da turma<strong>se</strong>manalmente. A orientação entr<strong>ou</strong> em sala com maisfreqüência e, junto com esta psicóloga, estabelecemosmomentos de encontro com a professora para que estapudes<strong>se</strong> resignificar <strong>se</strong>u papel de gestor da turma juntoàs crianças. A família foi informada das mudanças emencontro com a professora e a psicóloga, quandoalgumas dificuldades na comunicação professora-famíliaforam sanadas.Infelizmente, a professora por problemas particularesacab<strong>ou</strong> faltando muitas vezes e assim não pôde <strong>se</strong>guircom o plano estabelecido em conjunto. Sua aula e <strong>se</strong>upapel na sala não foram modificados e a professoraacab<strong>ou</strong> <strong>se</strong>ndo convidada a deixar a turma, visto aimpossibilidade de ela <strong>se</strong>r ela própria uma mediadora natransformação das interações no sistema sala de aula.V. foi conquistado pela professora substituta, quesabendo de toda a história desde que o menino entr<strong>ou</strong> naescola, possibilit<strong>ou</strong> um ambiente bastante lúdico e afetivo,garantindo assim a integração de V. com <strong>se</strong>us colegas deturma e com a escola como um todo. Segundo esta novaprofessora, V. mostra-<strong>se</strong> inteligente e tem toda a capacidadede acompanhar a turma, <strong>se</strong>ndo que <strong>sua</strong> agitação pôde <strong>se</strong>rcanalizada em atividades escolares mais lúdicas.A agitação de C.C., adolescente de 13 anos, filha única, <strong>se</strong>xta série. Moracom o pai, 31 anos, bancário e com a mãe, 30 anos, quetrabalha no restaurante dos <strong>se</strong>us pais. A aluna foiencaminhada pela direção pelos <strong>se</strong>guintes motivos: “C. émuito agitada, vive cantando e custa a concentrar-<strong>se</strong>”.Segundo a direção a aluna diz que lhe “falta cérebro natesta”. Segundo relato dos professores, “C. na matemáticafreqüentemente esquece compromissos e materiais,porém con<strong>se</strong>gue acompanhar o conteúdo. Em históriarealiza todas as tarefas e tem rendimento regular, bemcomo em português. Parece querer chamar <strong>se</strong>mpre aatenção, pois fica cantando o tempo todo”.Visto que esquece tarefas com freqüência, <strong>se</strong>urendimento baix<strong>ou</strong> muito. Suas notas em matemáticabaixaram visto que muitas vezes C. esquece que haviaestudado para determinada prova, <strong>ou</strong> simplesmente nãofaz provas alegando ter “dado um branco”. Nessassituações fica tão nervosa que acaba falando muito,ficando muito agitada e torna-<strong>se</strong> alvo fácil de gozaçõe<strong>se</strong> brincadeiras dos colegas de turma.Na primeira entrevista com a família C. estavabastante agitada, não con<strong>se</strong>guia terminar um assunto porinteiro, logo falava de <strong>ou</strong>tra coisa e a mãe comentava “távendo como é?”. C. admitiu não gostar de esquecer ascoisas e <strong>se</strong>gundo a mãe C. já foi ao neurologista que adiagnostic<strong>ou</strong> com déficit de atenção, recomendandopsicoterapia. No fim da conversa fic<strong>ou</strong> claro que a mãede C. não con<strong>se</strong>gue mais lidar com o esquecimento deC., pois “precisa ficar o tempo todo lembrando de tudo,até mesmo do banho”. C. confirm<strong>ou</strong> e acrescent<strong>ou</strong> quenão agüenta mais a mãe “pegando no pé”.Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 171-178


176 Edla Grisard Caldeira de AndradaO foco de trabalho com essa família foi a superproteçãoda mãe e a necessidade de C. ter <strong>se</strong>mpre alguém cuidandode <strong>sua</strong> vida nos mínimos detalhes, característicascomplementares. Assim, foi tema dos encontros acordadoscom a família a dificuldade de diferenciação de C., vistoque a família está passando para <strong>ou</strong>tro estágio no ciclo: ode pais com filhos adolescentes.A p<strong>ou</strong>ca diferenciação acaba <strong>se</strong>ndo reforçada peladificuldade de C. de lembrar de coisas importantes para<strong>sua</strong> vida, como <strong>sua</strong> higiene e <strong>se</strong>us estudos. Assim, amãe <strong>se</strong> coloca em um papel de <strong>se</strong> antecipar aosmovimentos de C. para que nada <strong>se</strong>ja esquecido, porémnão con<strong>se</strong>gue atingir a escola, <strong>ou</strong> melhor, dentro da escolaa mãe não pode <strong>se</strong> antecipar aos movimentos de C. Acomunicação foi também foco da nossa atenção no<strong>se</strong>ncontros, pois muitas vezes mãe antecipava-<strong>se</strong> erespondia perguntas por C., que <strong>se</strong> irritava e comentava“tá vendo com ela é?”.Na medida em que os encontros aconteciam h<strong>ou</strong>veum aumento no rendimento de C. na escola, assim comoa diminuição de <strong>se</strong>u comportamento agitado e nervoso,fato percebido por todos os professores. Um saltosignificativo foi quando C. começ<strong>ou</strong> a anotar em <strong>se</strong>udiário os fatos importantes da escola, como tarefas acumprir, provas para estudar, etc. Da mesma forma, C.em casa anotava o que havia feito, estudado <strong>ou</strong> cumpridoe assim ela <strong>se</strong>mpre con<strong>se</strong>guia executar e cumprir astarefas escolares, aumentando <strong>se</strong>u rendimento escolar.Quando nossa adolescente pass<strong>ou</strong> a executar <strong>sua</strong>starefas por conta própria, <strong>sua</strong> mãe mostr<strong>ou</strong> <strong>ou</strong>troscomportamentos em relação à C., perdendo <strong>sua</strong> funçãode eterna protetora. A comunicação entre ambasmelhor<strong>ou</strong>, C. pass<strong>ou</strong> a <strong>se</strong> cuidar mais e ambascomeçaram a <strong>se</strong> diferenciar.Nes<strong>se</strong> momento, alcançado o objetivo de aumentar orendimento escolar de C., de comum acordo com os pai<strong>se</strong> com a própria C., finalizamos o atendimento da famíliana escola. Depois disso acompanhei o de<strong>se</strong>nvolvimentode C. em conversas informais, em visitas a sala de aula eatravés dos professores. A família foi devidamenteencaminhada para terapia familiar fora da escola.CONCLUSÕESDiante das reflexões deste artigo e analisando adescrição de dois exemplos de atendimentos com queixas<strong>se</strong>melhantes, resta uma pergunta: qual o significado dostermos “aluno com problema” <strong>ou</strong> “dificuldade deaprendizagem?”. São várias as possíveis respostas, váriasas possíveis construções de significado acerca dos termos,<strong>se</strong>m que uma <strong>se</strong>ja a mais verdadeira que <strong>ou</strong>tra. Assim,não podemos previamente acreditar que alunos sãoproblemas <strong>ou</strong> que famílias são desajustadas, <strong>ou</strong> queprofessores são autoritários. Precisamos ver um “quebracabeças”,as partes e o todo!No caso de V., <strong>se</strong>u comportamento agitado foisignificado pela professora como “hiperatividade”, e aprofessora fic<strong>ou</strong> impossibilitada de questionar a funçãoque tal agitação estava exercendo na sala de aula. <strong>Para</strong>a equipe escolar, na qual me incluo, fic<strong>ou</strong> claro que V.nos prest<strong>ou</strong> um grande <strong>se</strong>rviço <strong>se</strong>ndo o menino“problema” da turma, pois assim pudemos ob<strong>se</strong>rvar quãoinadequadas estavam <strong>se</strong>ndo as aulas da professora,assim como alguns de <strong>se</strong>us comportamentos. Usandoas palavras da mãe do menino, na verdade ele é quem“estava resistindo” à professora. A necessidade demudar o sistema sala de aula era urgente e V. nosapont<strong>ou</strong> isso com um comportamento “agitado”.Trabalhando os dois microssistemas de V. foi possívelobter uma idéia clara de como o problema estava <strong>se</strong>ndosignificado e qual função exercia na escola. Comoafirmam Curonici e McCulloch (1999), “quando oprofessor descreve um problema, não <strong>se</strong> trata darealidade, uma entidade que existe fora de <strong>sua</strong>percepção. Estamos tratando da construção darealidade efetuada por uma pessoa singular emdeterminado momento”. (p.63).Assim, foi necessário reenquadrar o problema, dand<strong>ou</strong>m novo significado à agitação de V.: uma estratégiamuito inteligente de chamar a atenção da escola, atraindopara si a ajuda dos adultos para sanar as dificuldades da<strong>sua</strong> sala de aula. “É o que Malarewicz (apud Curonici& McCulloch, 1999) chama de competência interativada criança”. (p. 69)Já no atendimento de C., no primeiro encontro coma família evidenci<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a necessidade de estabelecercom es<strong>se</strong> microssistema uma ação colaborativa,priorizando a criação de um novo significado à dificuldadede C., visto que já era uma dificuldade existente nosistema familiar. Foram trabalhadas as fronteirasparentais, assim como as <strong>se</strong>qüências de comportamentospadronizados entre mãe e filha. A família pass<strong>ou</strong> aentender o problema como algo que não pertence à C.,que não faz parte dela, mas da interação entre os mem-


Família, escola e a dificuldade de aprendizagem: Intervindo sistemicamente 177bros da família, e <strong>se</strong>ndo assim poderia perfeitamente<strong>se</strong>r modificado.A agitação e esquecimento estavam exercendo umpapel fundamental no sistema familiar, pois ocomportamento de C. tanto mantinha a família no mesmoestágio do ciclo de vida familiar (pais com criançadependente) como de<strong>se</strong>quilibrava o sistema para queeste evoluís<strong>se</strong> (pais com adolescente). Quando a famíliacri<strong>ou</strong> <strong>ou</strong>tros significados para a dificuldade, diluindo entreos membros familiares a “culpa”, logo <strong>se</strong> perceberamevoluções de C. na escola.Quero finalizar deixando registrado como o trabalhodo psicólogo na escola é de fundamental importância,desde que este abra espaço para discussões, paraorientações colaborativas, <strong>se</strong>m fazer uso de somenteuma teoria para explicar todo e qualquer fenômeno,enquadrando nela as dificuldades que possam surgir nasrelações escolares.Cabe aqui uma metáfora sobre como perceber umfenômeno: o vale! Se cada um de nós <strong>se</strong> coloca emdeterminado ponto no alto de um vale teremos umaperspectiva limitada pela nossa própria posição. Unspoderão ver um rio, <strong>ou</strong>tros apenas árvores, etc.Podemos nos locomover e até trocar de perspectiva,mas é necessário um exercício de reflexão paraentendermos aquela <strong>ou</strong>tra perspectiva a partir das <strong>sua</strong>spróprias ba<strong>se</strong>s filosóficas e epistemológicas e fazer usodesta quando necessário. Quanto mais lentes diferentesnós tivermos para o olhar, a leitura e o entendimentode um mesmo fenômeno, mais rica <strong>se</strong>rá nossacompreensão do mundo.Dessa forma, ao iniciar qualquer atendimento, <strong>se</strong>jaeste qual for, o psicólogo deve valer-<strong>se</strong> de uma posiçãode “não-saber”, pois este <strong>se</strong>mpre precisa da informaçãodo <strong>ou</strong>tro, do <strong>se</strong>r humano a <strong>sua</strong> frente, e “a interpretaçãoé <strong>se</strong>mpre um diálogo entre terapeuta e o cliente e não oresultado de narrativas teóricas pré-determinadas,es<strong>se</strong>nciais para a significação, competência <strong>ou</strong> modeloteórico que o terapeuta defende” (Gergen e Warhuus,2001, p.38).REFERÊNCIASAnderson, H., & Goolishian, H. (1998). O cliente é oespecialista: a abordagem terapêutica do não saber. EmS. Macnamee & K. Gergen (Orgs.) A terapeia comoconstrução social (pp. 35-49). São Paulo: Artes Médicas.Andrada, E. G. C. (2001). Entre o dever-fazer e o viver dacriança: a significação das regras nas interações bebêprofessora-bebês.Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado, Programade pós-graduação em Psicologia, Universidade Federalde Santa Catarina.Andrada, E. G. C., & Zanella, A. V. (2002). Processos designifica;áo no brincar: problematizando a constituiçãodo sujeito. Psicologia em Estudo, 7 (2), 127-133).Bronfrenbrenner, U. (1994). Ecological models of humandevelopment. International Encyclopedia of Education(pp.37-43, v. 3, n. 2). England: El<strong>se</strong>vier Sciences.Carter, B., & Mcgoldrick, M. (1995). As mudanças do ciclo devida familiar. POA: Artes Médicas.Curonici, C., & McCulloch, P. (1999). Psicólogos e Professores:uma visão sistêmica acerca dos problemas escolares.SP: EDUSC.Duque, D. F. (1996). Cri<strong>se</strong>s normais do ciclo de vida familiar.Revista da Associação Brasileira de PsicoterapiaAnalítica de Grupo, 5, 78-86.Gergen, K., & Warhuus, L. (2001). Terapia como construçãosocial: características, reflexões, evoluções. Em M.Gonçalves, & O. F. Gonçalves (Orgs.), Psicoterapia,discurso e narrativa: a construção conversacional damudança. (pp.27-64). Coimbra: Quarteto Editor.Haley, J. (1979). Psicoterapia familiar. Belo horizonte:Interlivros.Minuchin, S. (1982). Famílias, funcionamento e tratamento.POA: Artes médicas.Papp, P. (1992). O processo de mudança. POA: Artes Médicas.Satir, V. (1980). Terapia do grupo familiar. Rio de Janeiro: Alves.Schaffer, H. R. (1996). Social Development. UK: BlackwellPublishers Ltda.Tilmans-<strong>Os</strong>tyn, E. (s/d). Algunos aportes de la TerapiaFamiliar a la Práctica Médica Cotidiana. Artigoapre<strong>se</strong>ntado ao Departamento de Psiquiatria Familiar,Hospital “Hermilio Valdizan”, 1-14.Tugde, J., Gray, J., & Hogan, D. (1997). Ecological Perspectives inHuman Development: a comparison of Gibson andBronfenbrenner. Em J. Tudge, M. J Shanahan & J. Valsiner(Org.) Comparisons in Human Development: understandingtime and context (pp.72-108). Cambridge University Press.Vygotsky, L. S. (1981). The genesis of higher mental function.Em Wertsch (Org.) The concept of activity in Sovietpsychology (pp. 114-188). New York: Sharpe.Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 171-178


178 Edla Grisard Caldeira de AndradaVygotsky, L. S. (1983). Obras Escojidas III. Moscú:Aprendizaje Visor.Vygotsky, L. S. (1998). Formação Social da Mente: ode<strong>se</strong>nvolvimento dos processos psicológicos superiores(6. ed.). São Paulo: Martins Fontes.Recebido em: 01/07/03Revisado em: 23/10/03Aprovado em: 12/12/03


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 179-183ADAPTAÇÃO DA PAVLOVIAN TEMPERAMENT SURVEY PARA A REALIDADE BRASILEIRA -VERSÃO 7 A 14 ANOSResumoRaquel S<strong>ou</strong>za Lobo Guzzo 1Patrícia do Carmo Pereira Ito 2Cristiane Valli 3Este estudo faz parte de um processo que objetiva adaptar à realidade brasileira uma escala para avaliação do temperamento de crianças eadolescentes. Opt<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> pela Pavlovian Temperament Survey - PTS - versão 7 a 14 anos, construída na Alemanha e destinada a avaliar a expressãocomportamental das propriedades do Sistema Nervoso Central, conforme entendido por Pavlov. A PTS é composta por 252 itens e avalia trêsdimensões de temperamento: Força de Excitação, Força de Inibição e Mobilidade. Sua adaptação envolveu o processo de tradução, retrotradução ecomparação entre a versão original e a que foi traduzida para o português e retrotraduzida para o alemão. Foram realizadas sucessivas análi<strong>se</strong>s erevisões até que os itens do instrumento estives<strong>se</strong>m adequados e apre<strong>se</strong>ntas<strong>se</strong>m uma linguagem clara, as<strong>se</strong>gurando <strong>sua</strong> compreensão pelos pais <strong>ou</strong>responsáveis. Em estudos preliminares, a PTS 7 a 14 anos obteve índices satisfatórios de consistência interna e indicadores favoráveis de validade.Palavras-chave: Temperamento do temperamento; Pavlovian Temperament Survey – PTS versão 7 a 14 anos; Adaptação de testespsicológicos.ADAPTATION THE PAVLOVIAN TEMPERAMENT SURVEY TO BRAZILIAN REALITY - VERSION FROM 7 TO 14 YEARSAbstractThis study is part of a process that aims at to adapt to the Brazilian reality a scale for as<strong>se</strong>ssment of the children’s temperament andadolescents. It was u<strong>se</strong>d the Pavlovian Temperament Survey - PTS - version 7 to 14 years, built in Germany and destined to evaluate the behavioralexpression Central Nerv<strong>ou</strong>s System’s properties, as understood by Pavlov. The PTS is compo<strong>se</strong>d by 252 items and it evaluates three temperamentdimensions: Strength of Excitation, Strength of Inhibition and Mobility. It’s adaptation involved the translation process, backtranslation andcomparison between the original version to the Portugue<strong>se</strong> and backtranslation for German. Successive analy<strong>se</strong>s and revisions were accomplisheduntil the items of the instrument were adapted and pre<strong>se</strong>nted in a clear language, assuring the understanding for the parents or caregivers. Inpreliminary studies, the PTS version 7 to 14 years obtained satisfactory consistence interns and favorable indicators of validity.Keywords: Temperament as<strong>se</strong>ssment; Pavlovian Temperament Survey - PTS version 7 to 14 years; Psychological tests adaptation.INTRODUÇÃO<strong>Os</strong> pais são freqüentemente chamados a descrevercaracterísticas pessoais de <strong>se</strong>us filhos para diferentespropósitos, <strong>se</strong>ja em situação de análi<strong>se</strong> clínica <strong>ou</strong> dequalquer evento em contextos acadêmicos <strong>ou</strong> de <strong>ou</strong>traordem em que as crianças devem <strong>se</strong>r melhor conhecidaspor aqueles em contacto direto com elas. As descriçõesde características, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre, estão relacionadas acaracterísticas comportamentais, de personalidade,<strong>se</strong>ntimentos e temperamento. O estudo do temperamentoinfantil tem <strong>sua</strong> importância, principalmente pelo caráterpreventivo da intervenção possível, quando a avaliaçãoé feita. Na orientação de pais, professores <strong>ou</strong> mesmono planejamento de estratégias de facilitação das relaçõesinterpessoais até a adolescência, o trabalho de psicólogo<strong>se</strong> educadores torna-<strong>se</strong> mais efetivo quando existe apossibilidade de uma avaliação de características1D<strong>ou</strong>tora em Psicologia e docente da PUC-Campinas.2D<strong>ou</strong>toranda em Psicologia e bolsista FAPESP.3Bolsista de IC/CNPQ.


180 Raquel S<strong>ou</strong>za Lobo Guzzo, Patrícia do Carmo Pereira Ito e Cristiane Vallitemperamentais. Com es<strong>se</strong>s propósitos, váriosinstrumentos foram de<strong>se</strong>nvolvidos para a avaliação dotemperamento de crianças através do relato de <strong>se</strong>us pais,respondendo a um questionário (Carey & McDevitt,1989; Rothbart, 1989) e análi<strong>se</strong>s dos mesmos vêm <strong>se</strong>ndoconduzidas para o estudo de <strong>sua</strong>s característicaspsicométricas (Angleitner & Wiggins, 1986).A avaliação do comportamento de crianças feita pormeio do relato de pais <strong>ou</strong> responsáveis, é uma técnicade coleta de dados bastante utilizada em pesquisas detemperamento infantil (Mangelsdorf, Schoppe & Buur,2000). Pais <strong>ou</strong> responsáveis tem a possibilidade deob<strong>se</strong>rvar o comportamento da criança em uma variedadede contextos e situações, eles proporcionam informaçõessobre o comportamento infantil que de <strong>ou</strong>tra maneira<strong>se</strong>riam inacessíveis (Bosa & Piccinini, 1994; DiLalla &Jones, 2000).O interes<strong>se</strong> pela compreensão e avaliação dotemperamento infantil tem como principais precursoresChess e Thomas (1987), que numa abordageminteracionista de temperamento iniciaram em 1956importante estudo longitudinal conhecido na literaturacomo “New York Longitudinal Study – NYLS”. Nes<strong>se</strong>estudo Chess e Thomas (1987), por meio de uma análi<strong>se</strong>de conteúdo do relato de mães sobre o comportamentode <strong>se</strong>us bebês durante os <strong>se</strong>is primeiros me<strong>se</strong>s de vida,identificaram nove dimensões de temperamento, quesubmetidas a análi<strong>se</strong>s qualitativas da significânciafuncional, apoiadas pela análi<strong>se</strong> fatorial, agruparam-<strong>se</strong>em três constelações temperamentais: crianças detemperamento fácil, de temperamento difícil e deaquecimento lento (Chess & Thomas, 1987, 1991).Influenciada por Chess e Thomas (1987), Rothbart(1986) também tem <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> predominante noestudo do temperamento infantil, particularmente nacompreensão do de<strong>se</strong>nvolvimento do temperamento e<strong>se</strong>us componentes e a influência exercida por eles noprocesso de socialização e interações sociais da criança(Rothbart, 1986).Numa perspectiva mais biológica e fisiológica, Strelau(1989) de<strong>se</strong>nvolveu a Teoria Regulativa doTemperamento, a qual teve <strong>sua</strong>s concepções básicasformuladas no final da década de 1960 e início da décadade 1970, tomando como ponto de partida as concepçõesde funcionamento do sistema nervoso de Pavlov epesquisas e teorias de<strong>se</strong>nvolvidas nos períodos de 1950e 1960 (Strelau, 1989). Nesta perspectiva teórica, umdos instrumentos utilizado para avaliação dascaracterísticas temperamentais é a escala PavlovianTemperament Survey – PTS (Strelau, Angleitner &Newberry, 1999).A PTS foi construída objetivando avaliar a expressãocomportamental das propriedades do sistema nervosocentral, conforme entendido por Pavlov. Estas propriedadesforam caracterizadas do ponto de vista funcional, reforçandoo papel de<strong>se</strong>mpenhado por elas no processo de adaptaçãodo indivíduo ao ambiente e referem-<strong>se</strong> a traços gerais,revelados em todos os tipos de comportamento, incluindocaracterísticas, atividades verbais e reações emocionaismotoras (Strelau & cols., 1999).Inicialmente construída para avaliar o temperamentode adolescentes e adultos acima de 14 anos, foi adaptadapor Hoogendorp (1992) para avaliar o temperamentode crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Nesta novaversão, os itens da PTS foram reformulados para que<strong>se</strong> tornas<strong>se</strong>m repre<strong>se</strong>ntativos de comportamentos decrianças e adolescentes, <strong>se</strong>ndo mantida a mesmafundamentação teórica, dimensões avaliadas, número deitens e forma de pontuação da versão original destinadaa avaliar pessoas maiores de 14 anos. Pais <strong>ou</strong>responsáveis são solicitados a responder aos itens daescala pensando nos comportamentos e característicasde <strong>sua</strong> criança.A PTS versão 7 a 14 anos de<strong>se</strong>nvolvida porHoogendorp (1992) é composta por 252 itens queavaliam três dimensões de temperamento, ba<strong>se</strong>adas naspropriedades pavlovianas do Sistema Nervoso Central:1) Força de Excitação (FE) - caracteriza como oindivíduo reage frente a estimulação, está pre<strong>se</strong>nte em90 itens da escala; 2) Força de Inibição (FI) – avalia acapacidade do indivíduo refrear dado comportamentoquando necessário, 84 itens compõem esta dimensão;3) Mobilidade (MO) – avalia a habilidade do indivíduoresponder adequadamente a contínuas mudanças noambiente, pre<strong>se</strong>nte em 78 itens. <strong>Os</strong> 252 itens sãoavaliados no formato Likert, com quatro possibilidadesde resposta: concordo plenamente, concordo, discordoe discordo plenamente.No Brasil, os primeiros estudos sobre temperamentorealizados com a PTS envolveram a versão destinada aavaliação de características temperamentais deadolescentes e adultos (Guzzo, Riello & Primi, 1996;Guzzo, Riello, Serrano & Primi, 1997; Riello, 1999;Guzzo, Primi, Ito & Valli, 2000).Dando continuidade aos estudos sobre avaliação dotemperamento utilizando a escala PTS, es<strong>se</strong> estudo


Adaptação da Pavlovian Temperament Survey para a realidade brasileira - versão 7 a 14 anos 181busc<strong>ou</strong> adaptar a PTS versão 7 a 1 4 anos de<strong>se</strong>nvolvidapor Hoogendorp (1992) para a realidade brasileira como propósito de <strong>se</strong>lecionar os itens mais repre<strong>se</strong>ntativospara a descrição de crianças através do relato de <strong>se</strong>uspais e, considerando a importância da adequação<strong>se</strong>mântica e psicométrica de instrumentos para aavaliação psicológica no Brasil, possibilitar estudosfuturos do temperamento nesta faixa etária.Durante esta primeira etapa do estudo, foramrealizadas as atividades de tradução da escala do originalalemão (Hoogendorp, 1992) para o português, e <strong>sua</strong>retrotradução, de tal sorte que as duas escalas pudes<strong>se</strong>m<strong>se</strong>r comparadas com a escala em <strong>sua</strong> versão original.O processo de adaptação de instrumentos paraavaliação psicológica deve as<strong>se</strong>gurar a <strong>sua</strong> equivalênciacom versões de <strong>ou</strong>tras línguas e culturas, de tal formaque possibilite o de<strong>se</strong>nvolvimento de pesquisastransculturais e comparações internacionais. Hambleton(1994) destaca que a busca de padrões para a práticaequivalência dos itens com ba<strong>se</strong> na igualdade de <strong>se</strong>usignificado. Depois que os itens são consideradosadequados, a escala passa para uma fa<strong>se</strong> experimentalde aplicação em pais, os quais são solicitados a emitiremjulgamento sobre a pertinência dos itens na avaliaçãodo temperamento de <strong>se</strong>us filhos. Por sucessivasaplicações, foram considerados como itens da escala,aqueles que obtiveram avaliação 70% de comentáriospositivos quanto à <strong>sua</strong> intelegibilidade e pertinência paradescrição do temperamento infantil.A escala em <strong>sua</strong> versão final, tal como em <strong>sua</strong> versãooriginal, está composta por 252 itens distribuídos entreas três dimensões Força de Excitação (90 itens), Forçade Inibição (84 itens) e Mobilidade (78 itens) avaliadaspela PTS. Exemplos dos itens constituintes de cada umadas dimensões podem <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvados na Tabela 1.Como continuidade dos trabalhos para busca depadrões psicométricos para a versão brasileira, foramrealizados novos estudos com o instrumento emTabela 1: Exemplos de itens que compõem as dimensões Força de Excitação (FE), Força de Inibição (FI) e Mobilidade (MO)da escala Pavlovian Temperament Survey – PTS versão infantil.Dimensão ItemFE 043) Prefere estudar com o rádio ligado.154) Tem facilidade em manter-<strong>se</strong> calmo (a) e tranquilo (a) mesmo num clima agitado.172) Mantém-<strong>se</strong> atento em <strong>sua</strong>s atividades, mesmo com gente conversando alto por perto.FI 53) Con<strong>se</strong>gue esperar para abrir um pre<strong>se</strong>nte que acab<strong>ou</strong> de ganhar.134) Continua uma atividade já planejada até o fim, mesmo que sinta vontade de fazer <strong>ou</strong>tra coisa.185) Con<strong>se</strong>gue guardar <strong>se</strong>gredos quando solicitado.MO 12) Acostuma-<strong>se</strong> rapidamente com uma visista que chega de surpresa117) Aceita, facilmente, mudanças em <strong>sua</strong> rotina177) É facil dadaptar-<strong>se</strong> a mudanças repentinas em <strong>se</strong>u horário escolar.de avaliação e de<strong>se</strong>nvolvimento de instrumentos diagnósticos,tais como validade, fidedignidade e normatização,tem recebido muita atenção de estudiosos e pesquisadore<strong>se</strong>m diversos paí<strong>se</strong>s. Entretanto, percebe-<strong>se</strong> queprocedimentos para adaptação são objeto de menorcontrole, quando deveriam estar também <strong>se</strong>ndo de<strong>se</strong>nvolvidoscom igual <strong>ou</strong> superior interes<strong>se</strong>, uma vez quefazem parte do processo de pesquisa transcultural degrande importância internacional.O pre<strong>se</strong>nte estudo utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> do processo de versõessucessivas (Brislin, 1970) em que duas versões de umamesma escala são comparadas e avaliadas por juizestanto da língua original como daquela que é alvo daadaptação. Este procedimento favorece a avaliação dadiferentes populações. Catini (1999) de<strong>se</strong>nvolveu umestudo preliminar sobre as qualidades psicométricas daescala PTS versão 7 a 14 anos, no qual 72 crianças deambos os <strong>se</strong>xos, com idades entre 7 e 13 anos tiveram<strong>sua</strong>s características de temperamento avaliadas a partirdas respostas de <strong>sua</strong>s mães aos itens da escala. Nesteestudo foram obtidos índices de consistência interna,calculada pelo Alpha de Cronbach, satisfatórios nas trêsdimensões avaliadas pela escala (FE=0,90; FI=0,92;MO=0,89). Além de aplicar a PTS versão 7 a 14 anos,Catini (1999) também utiliz<strong>ou</strong> em parte das mães, paraavaliação das crianças, a PTS versão 14 a 18 anos –em fa<strong>se</strong> de normatização (Guzzo & cols., 2000) – ecorrelacion<strong>ou</strong> os resultados obtidos. Na comparação dosPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 179-183


182 Raquel S<strong>ou</strong>za Lobo Guzzo, Patrícia do Carmo Pereira Ito e Cristiane Vallidados obtidos na PTS versão 7 a 14 anos e na PTS 14 a18 anos, foram constatadas correlações significativas eelevadas nas dimensões FE (0,584, p


Adaptação da Pavlovian Temperament Survey para a realidade brasileira - versão 7 a 14 anos 183diferentes profissões. [Resumo]. Em Cursos de PósGraduação e Graduação em Psicologia – Instituto dePsicologia da UFRGS (Orgs.). Resumos de comunicaçõescientíficas. VII Encontro Nacional sobre TestesPsicológicos e I Congresso Ibero Americano deAvaliação Psicológica (p. 325). Porto Alegre.Hambleton, R. K. (1994). Guidelines for Adapting Educationaland Psychological Tests: A Progress Report. EuropeanJ<strong>ou</strong>rnal of Psychological As<strong>se</strong>ssment, 10, 229- 244.Hoogendorp, N. (1992). Temperament bei kindern: dieentwicklung und überprünfung einer kinderform desPTS (Temperamento de crianças: o de<strong>se</strong>nvolvimento eavaliação de uma versão infantil da PTS). Diplomarbeitim Fakultät für psychologie und Sportwis<strong>se</strong>nschaft naDer Universität Bielefeld.Ito, P. C. P., & Guzzo, R. S. L. (2002). Temperamento:características e determinação genética. Psicologia:Reflexão e Crítica, 15 (2), 425-436.Mangelsdorf, S.C., Schoppe, S. J., & Buur, H. (2000). Themening of parental reports: a contextual approach to thestudy of temperament and behavior problems inchildhood. Em V. J. Molfe<strong>se</strong> & D. L.Molfe<strong>se</strong> (Orgs)Temperament and personality development across thelife span (pp. 121-140). New Jer<strong>se</strong>y: Lawrence ErlbaumAssociates.Riello, I. C. (1999). Temperamento: perfil de adolescentes comdiferentes competências em natação. Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>toradonão publicada, Curso de Pós Graduação, PontifíciaUniversidade Católica de Campinas. Campinas, São Paulo.Rothbart, M. K. (1986). A psychobiological approach to thestudy of temperament. Em G. A. Kohnstamm (Org.)Temperament discus<strong>se</strong>d – temperament and developmentin infancy and childhood (pp. 63-72). Lis<strong>se</strong>: Swets &Zeitlinger.Rothbart, M. K. (1989). Temperament in Childhood: AFramework. Em G. A. Kohnstamm, J. E. Bates & M. K.Rothbart. (Orgs.) Temperament in Childhood (pp.59 -73). Chichester: Wiley.Strelau, J. (1989). The regulative theory of temperament as aresult of East – West influences. Em G. A. Kohnstamm, J.E. Bates & M.K. Rothbart (Orgs), Temperament inChildhood (pp. 35-48). Chichester: Wiley.Strelau, J., Angleitner, A., & Newberry, B. H. (1999). PavlovianTemperament Survey (PTS) An International Handbook.Seattle: Hogrefe & Huber Publishers.Recebido em: 20/05/03Revisado em: 29/08/03Aprovado em: 19/09/03Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 179-183


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 185-195AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CRIANÇAS E INTERVENÇÃO EM UM JOGO DE SENHAResumoLino de Macedo 1Ana Lúcia Petty 2Gi<strong>se</strong>le Escorel de Carvalho 3Valquiria Carracedo 4<strong>Os</strong> objetivos foram analisar, na perspectiva construtivista de Piaget, como crianças resolviam e compreendiam problemas relativos a um jogode Senha e apre<strong>se</strong>ntar formas de intervenção face às respostas dos sujeitos e aos critérios propostos para a análi<strong>se</strong> das respostas. O procedimentoconsistiu em solicitar que 60 crianças, entre 7 e 12 anos de idade, preenches<strong>se</strong>m formulários, sobre <strong>sua</strong>s decisões em relação aos problemaspropostos. As respostas foram classificadas em três níveis: 55% dos sujeitos (N=33) apre<strong>se</strong>ntaram um de<strong>se</strong>mpenho correspondente ao nível I, 20%(N=12) ao nível II e 25% (N=15), ao nível III. Classificar as formas de resolução por níveis indic<strong>ou</strong> que recursos foram utilizados pelas crianças pararesolverem o desafio do Senha. Estas análi<strong>se</strong>s possibilitaram a sugestão de intervenções a <strong>se</strong>rem feitas por profissionais interessados na aprendizagemescolar de crianças por meio de jogos.Palavras-chave: Construtivismo; Jogos; Aprendizagem escolar.CHILDREN’S PERFORMANCE ASSESSMENT AND INTERVENTION IN A MASTER MINDGAMEAbstractThe re<strong>se</strong>arch had a two-fold objective. Firstly to analy<strong>se</strong> how children solved and comprehended problems related to a Master Mind game, ina constructivist perspective (Piaget). Secondly, to pre<strong>se</strong>nt different forms of intervention as a con<strong>se</strong>quence of collected ob<strong>se</strong>rvations within thecontext of the re<strong>se</strong>arch and the criteria propo<strong>se</strong>d to analy<strong>se</strong> the answers. In order to put data together, 60 children between 7 and 12 years of agefilled in forms, challenging them to register their decisions ab<strong>ou</strong>t the propo<strong>se</strong>d problems. Ba<strong>se</strong>d upon their answers, it was possible to submit threeperformance levels. Results show that 55% (N=33) were classified at level 1, 20% (N=12) at level 2 and 25% (N=25) at level 3. The res<strong>ou</strong>rces u<strong>se</strong>dby the children to solve the game’s challenge propitiated the proposition of intervention suggestions to be made by professionals who deal withchildren and are interested in using games in the school context.Key words: Constructivism; Games; School learning.INTRODUÇÃO<strong>Os</strong> jogos de Senha (Macedo, Petty & Passos, 1997)caracterizam-<strong>se</strong> pelo desafio de <strong>se</strong> descobrir algo,apoiando-<strong>se</strong> em informações parciais e indiretas. Nocaso do pre<strong>se</strong>nte estudo, fundamentado em Piaget(1983) trata-<strong>se</strong> de ordenar as letras A, B e C de algummodo, propondo à criança que encontre essa ordem,dispondo para isso da informação sobre o número deletras colocadas no lugar certo, mas <strong>se</strong>m que <strong>se</strong> digaonde. Es<strong>se</strong> tipo de jogos é particularmente interessante,pois pode promover o de<strong>se</strong>nvolvimento de raciocíniosdedutivos, na medida em que a combinação particular éinferida pelas antecipações possibilitadas pelo númerode “acertos” <strong>ou</strong> “erros” cometidos. Assim, <strong>se</strong> umapessoa diante da proposta “BCA” recebe a informação1Professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, coordenador do Laboratório de Psicopedagogia (LaPp) do Institutode Psicologia da USP.2Mestre em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da USP, técnica do LaPp/ IPUSP.3Especialista em atendimento a alunos com dificuldade escolar, integrante do LaPp/ IPUSP.4Mestre em Pedagogia do Movimento Humano pela Escola de Educação Física e Desporto da USP, integrante do LaPp/ IPUSP.


186 Miriam Cruvinel e Evely Boruchovitch“0” (significando isso que nenhuma das letras está naposição correspondente à combinação escondida), podeantecipar, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, eliminar como possibilidades, nasjogadas futuras, as combinações BAC, ACB, CBA.Es<strong>se</strong> foi justamente o objetivo deste estudo: verificarcomo crianças, depois de alguma prática com o jogo,antecipavam, de forma procedimental e explicativa, umaresposta <strong>ou</strong> regra.Um dos usos experimentais do jogo de Senha porPiaget (1983). está em <strong>se</strong>u livro sobre a “Evolução dosnecessários nas crianças”. A questão estudada refere<strong>se</strong>à conduta da criança em uma situação em que “asinformações condicionam-<strong>se</strong> mutuamente”. Nessasituação, a jogada <strong>se</strong>guinte é favorecida <strong>se</strong> asinformações já disponíveis nas jogadas anteriores foremconsideradas (combinações propostas para as letras enúmero de posições corretas <strong>ou</strong> não). Outra importânciateórica em termos do jogo de Senha refere-<strong>se</strong> àinterdependência, para <strong>se</strong>r bem sucedido, entre o realizaras jogadas e o compreender (interpretar) as informaçõesdisponíveis (jogadas anteriores e informação sobre onúmero de posições certas). Ou <strong>se</strong>ja, trata-<strong>se</strong> de umasituação em que realizar e compreender sãocomplementares, irredutíveis (já que um não <strong>se</strong> confundecom o <strong>ou</strong>tro) e indissociáveis.No pre<strong>se</strong>nte estudo, as duas considerações teóricas,acima mencionadas, foram investigadas por meio deproblemas a <strong>se</strong>rem resolvidos por crianças entre <strong>se</strong>te edoze anos. É importante destacar que esta pesquisarealiz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> em um contexto de oficinas de jogos eintervenções e que, ao contrário de Piaget, as criançasnão foram entrevistadas, e sim, responderam por escritoos problemas propostos, os quais foram analisadosposteriormente, considerando os objetivos da pesquisa.Tendo como referência os estudos de Piaget (1983)usando o jogo de Senha, muitas pesquisas foramrealizadas. Em <strong>sua</strong> te<strong>se</strong> de d<strong>ou</strong>torado, Ros<strong>se</strong>tti (2001)fez uma revisão das pesquisas sobre jogos de<strong>se</strong>nvolvidasnas duas últimas décadas. Com ba<strong>se</strong> nestas informações,é possível constatar que pesquisas recentes em que jogossão usados como recurso experimental, na perspectivade Piaget, utilizam o Senha como instrumento paraanalisar o pensamento de crianças e adolescentes.Dentre elas, destacam-<strong>se</strong> as análi<strong>se</strong>s microgenéticasrealizadas por Abreu (1993) e Queirós (1995, 2000),cujos resultados contribuem para compreender asformas de resolução dos desafios e identificar tipos deerros produzidos pelos sujeitos estudados, visandocaracterizar certas dificuldades e discutir as implicaçõespedagógicas no que <strong>se</strong> refere à aprendizagem e aode<strong>se</strong>nvolvimento infantil. Outra pesquisa, realizada porBrenelli (1996), apre<strong>se</strong>nta interessantes informaçõessobre a contribuição do uso de jogos, como o Senha,para investigar como raciocinam as crianças aoresolverem problemas, afirmando que a ação de jogarinterfere favoravelmente na construção do pensamentooperatório. Em <strong>sua</strong> pesquisa sobre a construção depossíveis, Piantivani (1999) também escolheu este jogo,relacionando duas situações de intervençãopsicopedagógica: uma relativa ao contexto do jogo e<strong>ou</strong>tra, propondo problemas a <strong>se</strong>rem resolvidos. Aindamerecem destaque as pesquisas de<strong>se</strong>nvolvidas porOrtega & cols. (1993, 1994, 1995). Nestas, mais umavez os jogos de Senha foram utilizados para analisar oraciocínio infantil. <strong>Os</strong> resultados indicaram que aintervenção psicopedagógica favorece a produção derespostas de qualidade superior, <strong>se</strong> comparados aosinicialmente ob<strong>se</strong>rvados, e que alunos de escolas deabordagem construtivista jogam Senha melhor que alunosde escolas “não-construtivistas”. Ainda tendo o Senhacomo referência, <strong>ou</strong>tros estudos foram realizados, tendoos jogos como instrumento e o construtivismo de Piagetcomo fundamentação teórica.De modo geral, pode-<strong>se</strong> afirmar que os autores jácitados e Macedo (1992, 1994), S<strong>ou</strong>za (1994), Petty(1995), Rabioglio (1995), Petty e Passos (1996), Macedo,Petty e Passos (1997), Carracedo (1998), Magalhães(1999) e Torres (2001) valorizam a contribuição da açãode jogar, tanto para fornecer informações aospesquisadores <strong>ou</strong> professores, como para de<strong>se</strong>nvolveratitudes e competências nas crianças.O valor dos jogos para o de<strong>se</strong>nvolvimento e aaprendizagem de alunos do Ensino Fundamental tambémé um dos temas que norteiam o trabalho de<strong>se</strong>nvolvidono Laboratório de Psicopedagogia (LaPp) do Institutode Psicologia da Universidade de São Paulo. O contextodas atividades supõe propostas de jogos e intervenções,por meio de questionamentos e realização de situaçõesproblema.<strong>Os</strong> objetivos são: (a) oferecer uma alternativade acompanhamento e intervenção para alunos comdificuldade de aprendizagem <strong>ou</strong> em recuperação, visandoa diminuição do fracasso escolar e (b) promover aconstrução de habilidades cognitivas e sociais própriasao pensamento operatório, oportunizando ode<strong>se</strong>nvolvimento de atitudes favoráveis ao jogo e, porextensão, à aprendizagem. No contexto das atividades


Avaliação do de<strong>se</strong>mpenho de crianças e intervenção em um jogo de <strong>se</strong>nha 187são valorizados aspectos como: atenção, organização eautonomia, bem como, conhecimentos matemáticos elingüísticos.Quadro 1: Apre<strong>se</strong>ntação do quadro que deveria <strong>se</strong>rcompletado.1) A B C 0XOBJETIVOS<strong>Os</strong> objetivos da pre<strong>se</strong>nte pesquisa foram, primeiro,analisar como crianças resolviam e compreendiamproblemas relativos a um jogo de Senha. Segundo,apre<strong>se</strong>ntar formas de intervenção como con<strong>se</strong>qüênciadas ob<strong>se</strong>rvações realizadas no contexto da pesquisa edos critérios propostos para a análi<strong>se</strong> das respostas.2) B C A 1X3) C B A 0B A C 03MÉTODOSujeitos e local<strong>Para</strong> realizar esta pesquisa, foram analisadosprotocolos de 60 crianças entre 7 e 12 anos de idade,estudantes de 1 ª a 4 ª séries do Ensino Fundamental, emescolas públicas <strong>ou</strong> particulares. Estes alunos fazemparte do projeto de apoio psicopedagógico para aaprendizagem escolar, realizado em forma de oficinasde jogos, no Laboratório de Psicopedagogia (LaPp) doInstituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.Estas oficinas têm duração de uma hora e meia, <strong>se</strong>ndoque em cada uma delas 12 alunos realizam práticas dejogos e desafios sob a direção de dois docentes e umestagiário (cursando a graduação do curso dePsicologia).MaterialForam elaborados três formulários diferentes. Umdeles <strong>se</strong>rviu para as crianças realizarem o registro daspartidas disputadas. Nes<strong>se</strong> registro em uma coluna acriança fazia <strong>sua</strong> proposta e em <strong>ou</strong>tra indicava o número(0, 1 <strong>ou</strong> 3) de acertos com referência à combinaçãoescondida pelo <strong>ou</strong>tro jogador.<strong>Os</strong> <strong>ou</strong>tros dois formulários continham questões paraa resolução de problemas, <strong>se</strong>ndo que nos dois casos ascrianças deveriam responder por escrito. No primeirodeles foram propostos três problemas do tipo RJS(“resolver jogada <strong>se</strong>guinte”), com o objetivo de avaliaro saber procedimental dos sujeitos. <strong>Para</strong> isso, foisolicitado que completas<strong>se</strong>m o quadro abaixo:O <strong>ou</strong>tro formulário tinha o objetivo de avaliar o saberoperatório dos sujeitos, isto é, verificar <strong>se</strong> compreendiamas relações entre proposta, escore obtido e próximaproposta. <strong>Para</strong> isso, foram formulados dois problemasdo tipo CJS (“compreender jogada <strong>se</strong>guinte”): 1) Sevocê joga e tira 0, o que faz na próxima tentativa? 2) Sevocê joga e tira 1, o que faz na próxima tentativa?<strong>Os</strong> problemas eram de diferentes naturezas e grausde desafio. No formulário sobre os problemas RJS, aproposta era completar três jogadas, como <strong>se</strong> fos<strong>se</strong>mpartes do contexto de uma partida: nos itens 1 e 2, ojogador deveria indicar qual <strong>se</strong>ria <strong>sua</strong> próxima tentativa,a partir do resultado de uma jogada já realizada. Já oitem 3, apre<strong>se</strong>ntava um desafio maior, uma vez que ojogador deveria considerar, simultaneamente, duasjogadas já realizadas. Nas três propostas, a informaçãonumérica (resultado da jogada) foi indicada. Estesproblemas foram denominados “resolver jogada<strong>se</strong>guinte” (RJS), pois a exigência era fazer um registro,que implicava uma tomada de decisão na prática, <strong>ou</strong><strong>se</strong>ja, particular a um conteúdo. No formulário sobre osproblemas CJS, o jogador deveria explicar, por escrito,qual o procedimento que adotava para realizar duasjogadas propostas. Neste caso, o jogador deveriaregistrar <strong>se</strong>u procedimento para realizar qualquersituação em que obtives<strong>se</strong> escore=0 e escore=1. Estesproblemas foram denominados “compreender jogada<strong>se</strong>guinte” (CJS), propondo explicar como fez, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja,tratava-<strong>se</strong> de formular uma regra que expressas<strong>se</strong> umjogar bem, de ordem geral.Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 185-195


188 Lino de Macedo, Ana Lúcia Petty, Gi<strong>se</strong>le Escorel de Carvalho e Valquiria CarracedoProcedimentos para coleta e análi<strong>se</strong> dos dadosUm docente explic<strong>ou</strong> as regras do jogo, realizandotrês partidas na l<strong>ou</strong>sa como ilustração. Em duas delas,deveria descobrir uma combinação escondida pelo grupode alunos e na <strong>ou</strong>tra, propôs que o grupo a descobris<strong>se</strong>.As dúvidas relativas às regras foram respondidas e, em<strong>se</strong>guida, foi explicado como deveriam proceder paraanotar as partidas. Cada criança jog<strong>ou</strong> quatro vezescomo quem descobre e <strong>ou</strong>tras quatro como quemesconde.Pode-<strong>se</strong> questionar o <strong>se</strong>ntido desta etapa, já que osprotocolos das partidas <strong>se</strong>rviram somente para ascrianças aprenderem as regras, tendo sido desconsideradospara a análi<strong>se</strong> de de<strong>se</strong>mpenho. Sua justificativadeve-<strong>se</strong> ao fato de fazer com que as crianças jogas<strong>se</strong>mvárias partidas para que aprendes<strong>se</strong>m as regras do jogo.Sem isto, <strong>se</strong>ria impossível exigir que elas pudes<strong>se</strong>mresponder aos problemas, já que estes pressupõem saberjogar (mas não necessariamente saber jogar “bem”).Há ainda uma <strong>ou</strong>tra ob<strong>se</strong>rvação sobre esta etapa deaprendizagem do jogo: caso um jogador acertas<strong>se</strong> acombinação escondida na primeira tentativa, deveriainiciar uma <strong>ou</strong>tra partida e esta era desconsiderada paraa contagem. Esta conduta justific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>, pois não <strong>se</strong>riapossível exercitar a ação de jogar propriamente dita, emuma partida bem sucedida por acaso. Neste jogo, éfundamental jogar várias partidas para assimilar as regra<strong>se</strong> construir procedimentos favoráveis. Com isso,valoriz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a lógica em detrimento da sorte, ainda queesta última fos<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre parte do contexto, pois acertar“<strong>se</strong>m pensar” é uma possibilidade (desde que o jogadorcombine as três letras, <strong>se</strong>m repetição).Ao final desta proposta (jogar oito partidas de Senha),foram entregues os formulários que continham osproblemas, para <strong>se</strong>rem resolvidos individualmente. <strong>Para</strong>preencher o formulário que continha os problemas dotipo RJS (“resolver jogada <strong>se</strong>guinte”), h<strong>ou</strong>ve p<strong>ou</strong>caconversa no ambiente da pesquisa, tanto das criança<strong>se</strong>ntre si como das crianças com os adultos. As instruçõesforam fornecidas individualmente e consistiram emapontar os quadros e pedir que cada espaço fos<strong>se</strong>preenchido com uma resposta, fazendo com que <strong>se</strong>ob<strong>se</strong>rvas<strong>se</strong> que era a continuação de uma partida jáiniciada. Quando uma criança terminava e ia entregar oprotocolo, solicitava-<strong>se</strong> que conferis<strong>se</strong> <strong>sua</strong>s respostas.Em alguns momentos, <strong>se</strong> ela não con<strong>se</strong>guia conferir epedia ajuda, um dos pesquisadores lia junto e ela própriaconferia <strong>se</strong> queria manter <strong>ou</strong> mudar o que tinha produzido.Com relação ao formulário sobre os problemas CJS(“compreender jogada <strong>se</strong>guinte”), h<strong>ou</strong>ve mais conversaentre adultos e crianças, pois era exigido um registropor escrito e nem todas as crianças con<strong>se</strong>guiamexpressar <strong>sua</strong> forma de jogar com clareza. Isto fez comque h<strong>ou</strong>ves<strong>se</strong> algumas colaborações, que foramconsideradas na análi<strong>se</strong> dos resultados, no item relativoà autonomia para realizar a tarefa, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, o tipo deajuda concedida e/ <strong>ou</strong> solicitada.No preenchimento do formulário sobre problemasCJS, portanto, quando alguma criança solicit<strong>ou</strong> apre<strong>se</strong>nça do adulto para responder às questões, estainformação foi anotada nos protocolos para <strong>se</strong>r levadaem consideração nos resultados. Diferentes tipos deauxílio foram concedidos às crianças, variando desde aleitura do enunciado e “ditado” do que queriam escrever(ajuda na produção escrita), até uma releitura de umaresposta já produzida pela própria criança, que só queriaum interlocutor. Cumpre ressaltar que, em nenhum caso,a resposta “certa” foi fornecida e nem tão p<strong>ou</strong>co foramdadas informações quanto aos “acertos” e “erros”produzidos.<strong>Para</strong> a coleta de dados, c<strong>ou</strong>be aos adultos pre<strong>se</strong>nteso papel de: (a) organizar a distribuição e recolha dosformulários; (b) tirar dúvidas restantes quanto às regras;(c) acompanhar as partidas, <strong>se</strong>m interferir nas tentativasdos jogadores, visando garantir a não produção de errospor parte dos “informantes” (quem escondia acombinação), e (d) apre<strong>se</strong>ntar e/ <strong>ou</strong> explicar as propostasdos problemas.Como procedimento de análi<strong>se</strong> dos dados, éimportante ressaltar que a classificação dos protocolosfoi realizada por três docentes das oficinas<strong>se</strong>paradamente, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, num primeiro momento, cadaum analis<strong>ou</strong> o conjunto de protocolos <strong>se</strong>m trocarinformações e só num <strong>se</strong>gundo momento, compararamas avaliações, chegando a um con<strong>se</strong>nso nos p<strong>ou</strong>cos caso<strong>se</strong>m que h<strong>ou</strong>ve dúvidas com relação à interpretação dosresultados apre<strong>se</strong>ntados nos protocolos.RESULTADOS<strong>Para</strong> realizar a análi<strong>se</strong> dos resultados foram considerada<strong>se</strong>xclusivamente as respostas aos formulários,visando interpretar (ob<strong>se</strong>rvar e compreender) o que cadacriança produziu para continuar uma partida (respostas


Avaliação do de<strong>se</strong>mpenho de crianças e intervenção em um jogo de <strong>se</strong>nha 189aos problemas RJS, “resolver jogada <strong>se</strong>guinte”) e paraexplicar uma jogada (respostas aos problemas CJS,“compreender jogada <strong>se</strong>guinte”).As Tabelas 1, 2 e 3 sintetizam os resultados obtidos.Ao analisar esta tabela, é possível identificar algunsaspectos interessantes. Dentre eles, pode-<strong>se</strong> destacar:(a) nas situações “RJS” (“resolver jogada <strong>se</strong>guinte”) 1e 2, há mais acertos do que erros e na situação “RJS” 3,há mais erros; (b) nas situações “CJS” (“compreenderjogada <strong>se</strong>guinte”) 1 e 2, há mais erros do que acertos;(c) comparando as situações “RJS” e “CJS”, há mai<strong>se</strong>rros nesta última; (d) a quantidade de erros produzido<strong>se</strong>m cada situação do tipo RJS é diferente, <strong>se</strong>ndo que omenor número refere-<strong>se</strong> à RJS2 e o maior à RJS3. Istopode <strong>se</strong>r explicado da <strong>se</strong>guinte maneira: na RJS2, acriança tem três chances de acerto (dentre 6combinações possíveis, poderia produzir como respostasBAC, ACB <strong>ou</strong> CBA), isto é, deveria “afirmar” o lugarde uma das letras, fixando-a. Na RJS3, tinha somenteuma chance de acerto, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, teria que produzir ACB.Neste caso, deveria considerar simultaneamente as duascombinações apre<strong>se</strong>ntadas, “negando” todos os lugaresjá “utilizados”. Por <strong>sua</strong> vez, a situação RJS1 permitiaduas possibilidades de respostas: CAB <strong>ou</strong> BCA, <strong>se</strong>ndoque a criança também teria que “negar” os lugares dacombinação já realizada.Ao analisar a Tabela 2, também é possível identificaralguns aspectos interessantes: (a) 2 crianças repetemjogadas já realizadas, <strong>se</strong>ndo que não há repetição dejogada quando o escore=0; (b) 4 crianças repetem olugar da 1 a letra de uma jogada anterior e, portanto, amaioria muda de lugar pelo menos esta letra; (c) <strong>se</strong> hárepetição do lugar de uma letra, é mais freqüente quandoesta não é a 1 a letra da combinação proposta pela criança;(d) na RJS2, h<strong>ou</strong>ve o maior número de acertos, <strong>se</strong>ndoque, das 44 crianças que acertaram, 18 fixaram a 1 aletra; (e) na RJS3, ocorreu o maior número de erros, <strong>ou</strong><strong>se</strong>ja, das 60 crianças, só 26 acertaram a resposta.Existe uma diferença dos resultados do problemaCJS1 da Tabela 1 (em que há 18 acertos e 42 erros)em relação à Tabela 3 (que apre<strong>se</strong>nta 34 acertos e26 erros, como dados referentes à mesma situação).Tabela 1: Sínte<strong>se</strong> da avaliação das respostas aos problemas propostos.RJS 1: RJS 2: RJS 3: CJS 1: CJS 2:A B C = 0 B C A = 1 C B A = 0 / B A C = 0 O que fazer com O que fazer com________ _______ ______= 3 escore = 0? escore = 1?acerto erro acerto erro acerto erro acerto erro acerto erro31 29 44 16 26 34 18 42 20 40Tabela 2: Sínte<strong>se</strong> das avaliações das respostas aos problemas RJS (“resolver jogada <strong>se</strong>guinte”).O QUE DEVERIA FAZER O QUE FEZRJS1= Trocar todas as letras Repetiu Repetiu a Repetiu Troc<strong>ou</strong> todasa jogada 1 a . letra <strong>ou</strong>tra letra as letrasNTOTAL= 60 N= 0 N=4 N=25N= 31RJS2= Fixar uma letra Repetiu Mud<strong>ou</strong> todas Fix<strong>ou</strong> umaa jogada as letras letra, <strong>se</strong>ndoque N=18fixaram a 1 aletraNTOTAL= 60 N=1 N=15N= 44RJS3= Trocar todas as letras Repetiu Repetiu a Repetiu a Repetiu a Repetiu Troc<strong>ou</strong> toda<strong>se</strong>m relação às duas proposições a jogada primeira 1 a . letra da 1 a . letra da <strong>ou</strong>tra letra as letras emanterior jogada jogada 1 a . jogada (não a relação àsanterior primeira) duas proposiçõesNTOTAL= 60 N=1 N=2 N=3 N=15 N=13N= 26Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 185-195


190 Lino de Macedo, Ana Lúcia Petty, Gi<strong>se</strong>le Escorel de Carvalho e Valquiria CarracedoTabela 3: Sínte<strong>se</strong> das avaliações das respostas aos problemas CJS (“compreender jogada <strong>se</strong>guinte”).O QUE DEVERIA FAZERO QUE FEZCJS1= Escrever que trocava Escreveu que tentava de novo Escreveu que mudava tudo de lugartodas as letras de lugarNTOTAL= 60 N= 26 N= 34CJS2= Escrever que fixava uma Escreveu que tentava de novo Escreveu que mantinha uma letraletra e mudava as <strong>ou</strong>tras de lugarno lugar e mudava as <strong>ou</strong>trasNTOTAL= 60 N= 40 N= 20Isto <strong>se</strong> deve ao fato de que, a Tabela 1 implic<strong>ou</strong>uma interpretação das respostas produzidas, paradefinir “acerto” <strong>ou</strong> “erro”, havendo uma relação deinterdependência entre as respostas das situaçõesCJS1 e CJS2. Na pre<strong>se</strong>nte tabela, o interes<strong>se</strong> eradescrever as respostas, independentes umas das<strong>ou</strong>tras.Esta tabela pode <strong>se</strong>r mais bem compreendida apartir da análi<strong>se</strong> dos conteúdos de cada resposta,apre<strong>se</strong>ntados abaixo e também por meio de algumasob<strong>se</strong>rvações. Problemas CJS 1 (O que fazer comescore 0?). Respostas consideradas certas: Eufaço BAC depois de tentar ACB. Mudo tudo delugar. Tiro todas do lugar. Ex: ABC–BCA. SeCBA=0, eu faço BAC para ver <strong>se</strong> acerto. Se é 0,faço ACB–BAC –CBA. Mudo a <strong>se</strong>nha e não repitoa letra naquele lugar. Tento fazer uma nova<strong>se</strong>nha <strong>se</strong>m usar a mesma ordem anterior. Trocotodas as letras de lugar. Inverto tudo. Tento <strong>ou</strong>tramaneira, mudo as três. Respostas considerada<strong>se</strong>rradas: Eu troco as letras: a primeira na últimae a última na primeira, e a do meio, no meio. Eutento de novo. Coloco diferente. Mudo todas.Tento não repetir. Embaralho as letras. Chutopara ver <strong>se</strong> acerto. Penso mais. Tento tirar umnúmero maior. Eu acerto. Jogo de novo atécon<strong>se</strong>guir as três respostas. Problemas CJS2 (Oque fazer com escore 1?). Respostasconsideradas certas: Eu faço CBA depois detentar CAB. Deixo uma e mudo duas. Tiro duasdo lugar. Ex.: ABC – CBA. Eu coloco esta letrana mesma posição. Repito uma letra e as <strong>ou</strong>trasduas mudo de lugar. Eu vejo <strong>se</strong> é o primeiro,<strong>se</strong>gundo <strong>ou</strong> terceiro nas jogadas. Aposto em umque esteja lá. Jogo uma letra repetida e as <strong>ou</strong>trasdiferentes do último jogo. Penso numa das três ecoloco uma igual. Respostas considerada<strong>se</strong>rradas: Tento colocar <strong>ou</strong>tra <strong>se</strong>qüência. Mudotodas. Faço diferente. Eu penso bastante no um.Escrevo o que escolho. Mudo o que não acertei.Eu tento descobrir o que errei. Eu penso na queeu não joguei. Eu acerto todas. Eu tentoimaginar a letra. Eu tento tirar 10 <strong>ou</strong> um númeromaior. Jogo de novo até con<strong>se</strong>guir as trêsrespostas.Como já mencionado anteriormente, há respostas aosproblemas CJS1 que, <strong>se</strong> consideradas independentes daCJS2, poderiam estar corretas. No entanto, aocompararmos ambas (interdependência), fica claro queo jogador não tinha uma hipóte<strong>se</strong> sustentável e/ <strong>ou</strong>generalizável no contexto como um todo. Por exemplo:respostas como “mudo tudo de novo”, “colocodiferente” <strong>ou</strong> “não ponho a mesma letra” <strong>se</strong>riamcorretas, <strong>se</strong>, na <strong>ou</strong>tra situação, não apre<strong>se</strong>ntas<strong>se</strong>m estas,respectivamente: “mudo tudo de novo”, “colocodiferente” e “troco de letra”.Uma <strong>ou</strong>tra análi<strong>se</strong> possível das respostasproduzidas pelas crianças é agrupá-las de acordo com<strong>se</strong>us acertos e erros. Assim, com ba<strong>se</strong> nas informaçõescontidas nas sínte<strong>se</strong>s das tabelas e quadrosapre<strong>se</strong>ntados acima, foi possível caracterizar trêsníveis de de<strong>se</strong>mpenho.Apre<strong>se</strong>ntamos a <strong>se</strong>guir os critérios utilizados para aclassificação das respostas das crianças, correspondentesao nível I. Combinações possíveis: a1-b1-c; a1-b2-c; a2-b1-c <strong>ou</strong> a2-b2-c:Formulário com três jogadas para completar(situação “próxima jogada”): (1) Err<strong>ou</strong> 1 jogada, <strong>se</strong>ndoa situação 3; (2) Err<strong>ou</strong> 2 <strong>ou</strong> 3 jogadas.Formulário com duas questões (situação “escrita”):(1) Err<strong>ou</strong> as 2 explicações; (2) Só acert<strong>ou</strong> porque teveajuda do adulto.Autonomia em relação ao adulto: nenhuma, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja,não con<strong>se</strong>guiu escrever sozinha (a criança recorre aoadulto para ajudá-la a elaborar a resposta, pois nãocon<strong>se</strong>gue traduzir em palavras a explicação das <strong>sua</strong>sjogadas).Exemplos de Nível 1:


Avaliação do de<strong>se</strong>mpenho de crianças e intervenção em um jogo de <strong>se</strong>nha 191(a) VIN (=a1-b1-c)(b) PAT (= a2-b1-c)(c) THI (= a2-b2-c)<strong>Para</strong> <strong>se</strong>rem classificadas como nível II, as respostasda criança deveriam <strong>se</strong>r as apre<strong>se</strong>ntadas a <strong>se</strong>guir,excluindo as <strong>se</strong>guintes combinações: a1-b1-c; a1-b2-c; a2-b1-c e a4-b3-c.(a)Formulário com três jogadas para completar(situação “próxima jogada”): (1) Err<strong>ou</strong> tudo; (2) Err<strong>ou</strong>até duas jogadas; (3) Err<strong>ou</strong> uma jogada, mas não asituação 3; (4) Acert<strong>ou</strong> tudo.(b)Formulário com duas questões (situação“escrita”): (1) Err<strong>ou</strong> as duas explicações; (2) Acert<strong>ou</strong>uma das explicações; (3) Acert<strong>ou</strong> as duas explicações,ainda que nem <strong>se</strong>mpre muito claras (com exemplo, aoinvés de escrever uma resposta completa).(c) Autonomia em relação ao adulto: Relativa, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja,recorreu ao adulto em vários momentos.Exemplos de Nível 2:(a) FEL (= a3-b1-c)(b) HEN (= a2-b2-c)(c) MAR (= a1-b3-c)(d) BRU (= a4-b1-c)Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 185-195


192 Lino de Macedo, Ana Lúcia Petty, Gi<strong>se</strong>le Escorel de Carvalho e Valquiria Carracedo<strong>Para</strong> a classificação das respostas como nível III,foram considerados os <strong>se</strong>guintes critérios:(a)Formulário com três jogadas para completar(situação “próxima jogada”): (1) Err<strong>ou</strong> uma jogada, masnão a situação 3; (2) Acert<strong>ou</strong> tudo.(b)Formulário com duas questões (situação“escrita”): Acert<strong>ou</strong> as 2 explicações, <strong>se</strong>ndo o textoescrito compreensível e comunicável.(c)Autonomia em relação ao adulto: Total, <strong>ou</strong><strong>se</strong>ja, con<strong>se</strong>guiu escrever sozinha (a criança recorreao adulto para contar o que fez, comentando <strong>sua</strong>estratégia, e não para ajudá-la a elaborar aresposta).Exemplos de Nível 3:(a) DAN (= a2-b-c)(b) MAC (= a1-b-c)<strong>Os</strong> resultados indicam que, dos 60 formuláriosanalisados 55% (N=33) são de nível 1; 20% (N=12) denível 2 e 25% (N=15) de nível 3. Como <strong>se</strong> pode ob<strong>se</strong>rvar,há uma predominância de protocolos de nível 1.Níveis “intermediários”Algumas respostas do tipo CJS, dependendo daexigência do avaliador, poderiam <strong>se</strong>r re-classificada<strong>se</strong>, portanto, merecem um destaque. Em <strong>ou</strong>traspalavras, não estão suficientemente claras, masapre<strong>se</strong>ntam indícios que sugerem uma forma“melhor” <strong>ou</strong> “superior” em relação à maioria dasproduções do nível em que foi “classificada”.Vejamos alguns exemplos:(a) LUI – (Nível 1)Escore=0 Þ “jogo mudando a letra”. (Comentário: não dá para ter certeza de que mudaria TODAS asletras).Escore=1 Þ “repito o mesmo número da minha escolha”. (Comentário: parece que fixaria uma letra, mas denovo, não é possível afirmar que é isto que faria).(b) NAL – (Nível 1)Escore=0 Þ “tento fazer uma nova <strong>se</strong>nha, <strong>se</strong>m usar a mesma ordem anterior”. (Comentário: não dá para tercerteza de que mudaria TODAS as letras).Escore=1 Þ “tento adivinhar qual a letra que estava certa”. (Comentário: a idéia do jogo não é adivinhar,mas deduzir. No entanto, a nomenclatura não <strong>se</strong>ria problema, <strong>se</strong> a criança tives<strong>se</strong> mencionado que mudariao lugar das <strong>ou</strong>tras letras “não certas”).(c) GUS – (Nível 1)Escore=0 Þ “embaralho as letras”. (Comentário: não dá para ter certeza de que mudaria TODAS as letras).Escore=1 Þ “escrevo o que escolho”. (Comentário: não dá para saber o que pretendia com esta fra<strong>se</strong>).(d) MIL – (Nível 1)Escore=0 Þ “eu penso uma <strong>ou</strong>tra ordem das letras”. (Comentário: não dá para ter certeza de que mudariaTODAS as letras).


Avaliação do de<strong>se</strong>mpenho de crianças e intervenção em um jogo de <strong>se</strong>nha 193Escore=1 Þ “tento descobrir a letra que acertei”. (Comentário: falt<strong>ou</strong> mencionar que critério utilizaria paradescobri-la).(e) NAT – (Nível 1)Escore=0 Þ “faço <strong>ou</strong>tra maneira, mudando a letra”. (Comentário: não dá para ter certeza de que mudariaTODAS as letras).Escore=1 Þ “tento imaginar a letra”. (Comentário: esta resposta sugere que a criança fixaria uma letra, masnão dá para ter certeza).(f) DAN – (Nível 2)Escore=0 Þ “faz uma <strong>ou</strong>tra <strong>se</strong>nha, não com as mesmas letras, mas com diferente”. (Comentário: não dá parater certeza de que mudaria TODAS as letras).Escore=1 Þ “vejo <strong>se</strong> é primeiro, <strong>se</strong>gundo <strong>ou</strong> terceiro nas jogadas”. (Comentário: esta resposta também sugereque a criança fixaria uma letra, mas não dá para ter certeza).DISCUSSÃOAs duas possibilidades de analisar protocolos(identificar qualitativamente o que foi produzido eclassificar por níveis), fornecem importantes informaçõessobre as formas de respostas apre<strong>se</strong>ntadas pelas criançaspara resolverem problemas. Assim, na perspectiva doprofissional, estas constatações contribuem paraestruturar o projeto de trabalho de<strong>se</strong>nvolvido nas oficinasno que <strong>se</strong> refere às intervenções, visando a melhoria naqualidade das produções e, como con<strong>se</strong>qüência, umamudança de nível das respostas das crianças. Alémdisso, dependendo do tipo de erro, há uma forma deintervenção diferente, adequada para a necessidade dosujeito e adaptada à <strong>sua</strong> compreensão da situação. Em<strong>ou</strong>tras palavras, <strong>se</strong> a criança produz uma respostaconsiderada insuficiente para resolver o problemaproposto e também apre<strong>se</strong>nta uma quantidade de errosque a classificam no nível I, é necessário um trabalhode intervenção que possa ajudá-la a perceber aincompletude <strong>ou</strong> insuficiência do que está produzindo(realizando), mesmo que ainda não possa superar <strong>se</strong>u<strong>se</strong>rros. Seria inadequado propor <strong>ou</strong> esperar que já pudes<strong>se</strong>corrigi-los <strong>ou</strong>, pior ainda, antecipá-los (compreendê-los).No caso específico do Senha ABC, uma intervençãoimportante com crianças cujas respostas são de “nívelI” <strong>se</strong>ria jogar junto várias partidas, pedindo explicaçõe<strong>se</strong>m ação, explicitando <strong>sua</strong>s contradições. Por exemplo:“Você tir<strong>ou</strong> 1, dis<strong>se</strong> que tinha que fixar uma letra emud<strong>ou</strong> todas. E agora?”. Neste nível, os melhoresresultados de intervenção referem-<strong>se</strong> à possibilidade decolocar a criança em contato com os erros produzidos,uma vez que, em geral, nem notam <strong>sua</strong> existência.No caso de produções de nível II, há uma oscilaçãonas respostas apre<strong>se</strong>ntadas. As crianças começam aerrar menos, têm dúvidas, sabem realizar, mas aindanão con<strong>se</strong>guem compreender. Em <strong>ou</strong>tras palavras, omomento é de de<strong>se</strong>quilíbrio em relação ao sistema, <strong>ou</strong><strong>se</strong>ja, a criança já começa a perceber erros, embora não<strong>se</strong>ja capaz de superá-los sozinha. Mais uma vez, interviradequadamente poderá contribuir para uma mudançade nível. Retomar uma partida e analisar as decisõestomadas pode <strong>se</strong>r um bom recurso de intervenção paracrianças que estão com dúvidas em relação aosprocedimentos adotados, revezando “boas” jogadas comjogadas puramente “no chute”. Ao <strong>se</strong> confrontar com<strong>se</strong>us erros, pode compreendê-los e evitá-los em <strong>ou</strong>traspartidas.É só no nível III que as respostas das criança<strong>se</strong>xpressam uma sínte<strong>se</strong> entre o realizar e o compreender.No entanto, esta sínte<strong>se</strong> não garante acertar <strong>se</strong>mpre,daí o valor que atribuímos às intervenções e ao diálogocom as crianças após jogar e resolver situaçõesproblema(Macedo, 2002).Todo este processo de intervenções durante <strong>ou</strong> apóso jogar tem como objetivo uma conscientização dasações executadas para melhorar o de<strong>se</strong>mpenho no jogo.No entanto, as mudanças que ocorrem não são restritasa este contexto. Como foi apre<strong>se</strong>ntado na introdução, otrabalho de<strong>se</strong>nvolvido nas oficinas visa à melhoria dode<strong>se</strong>mpenho escolar e este é o principal enfoque <strong>ou</strong>meta: ir melhor no jogo para ir melhor na escola. Nossoolhar é sobre “o que aprendo sobre a criança quandojoga” e isto significa dizer que <strong>se</strong> busca avaliarcontinuamente para intervir melhor. Avaliar, neste casopode <strong>se</strong>r definido como ob<strong>se</strong>rvar, regular, interpretar elocalizar. Intervir, por <strong>sua</strong> vez, é definido como adequarPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 185-195


194 Lino de Macedo, Ana Lúcia Petty, Gi<strong>se</strong>le Escorel de Carvalho e Valquiria Carracedoo desafio às necessidades de cada criança, visando aregulação da produção em função das informaçõesobtidas. Assim <strong>se</strong>ndo, o processo de avaliação formativa(Hadji, 1993; Perren<strong>ou</strong>d, 1998) implica a consideraçãosimultânea de duas ações: ob<strong>se</strong>rvação e regulação. Aregulação implica uma análi<strong>se</strong> da situação paraconfirmar o que está “certo” e corrigir o que está“errado”. Daí a importância das intervenções, tanto noque <strong>se</strong> refere ao realizar (no nosso caso, jogar mais) eao compreender (discutir o que foi produzido, questionarjogadas, explicar estratégias, compartilhar idéias).É possível fazer uma analogia entre o realizar e ocompreender na perspectiva de nossas pesquisas comjogos. Se no livro “4Cores, Senha e Dominó” (Macedo,Petty & Passos, 1997) os jogos são apre<strong>se</strong>ntados sob aótica de “o que fazer” e “como jogar” (destacando osprocedimentos <strong>ou</strong> a realização), na pre<strong>se</strong>nte pesquisapretendemos dar “pistas” sobre “o que ob<strong>se</strong>rvar”, sobre“como analisar” as respostas das crianças ao jogaremSenha (destacando as análi<strong>se</strong>s possíveis <strong>ou</strong> ocompreender). A idéia, portanto, foi focar o olhar dopesquisador sobre os resultados e, mais que isto, sobreas implicações destes resultados, bem como sobre osindícios do pensamento infantil, expressos nosprotocolos, visando contribuir para o trabalho pedagógico<strong>ou</strong> clínico, no que <strong>se</strong> refere à avaliação e intervençãopor meio de jogos. Com isto, valorizamos a importânciado trabalho com jogos como promotor de generalizações.Em sínte<strong>se</strong>, do ponto de vista do adulto, elaborarsituações-problema e analisar estratégias são recursosdidáticos que podem (e devem!) <strong>se</strong>rvir como ba<strong>se</strong> parao de<strong>se</strong>nvolvimento de muitas atividades que não sãonecessariamente relativas a contextos de jogos. E, doponto de vista da criança, enfrentar situações-problemae discutir estratégias para <strong>sua</strong> resolução, também sãorecursos preciosos para poderem lidar com os desafio<strong>se</strong>scolares tendo melhores condições de superaremdificuldades.REFERÊNCIASAbreu, A. R. (1993). O jogo de regras no contexto escolar:uma análi<strong>se</strong> na perspectiva construtivista. Dis<strong>se</strong>rtaçãode Mestrado. Instituto de Psicologia, USP. São Paulo.Brenelli, R. P. (1996). O jogo como espaço para pensar: aconstrução de noções lógicas e aritméticas. Campinas:Papirus.Carracedo, V. A. (1998). Jogo do carimbador: esquemas deresolução e importância educacional. Dis<strong>se</strong>rtação deMestrado. Escola de Educação Física e Esporte, USP.São Paulo.Hadji, C. (1993). A avaliação, regras do jogo- das intençõesaos instrumentos. Portugal: Porto.Macedo, L. (1992). <strong>Para</strong> uma psicopedagogia construtivista.Em E. S Alencar. (Org.). Novas contribuições daPsicologia aos processos de ensino e aprendizagem.(pp. 119-140). São Paulo: Cortez.Macedo, L. (1994). Ensaios construtivistas. São Paulo: Casado Psicólogo.Macedo, L., Petty, A. L. S., & Passos, N. C. (1997). 4Cores,Senha e Dominó: oficinas de jogos em uma perspectivaconstrutivista e psicopedagógica. São Paulo: Casa doPsicólogo.Macedo, L., Petty, A. L. S., & Passos, N. C. (1997). Aprendercom jogos e situações-problema. Porto Alegre: Artmed.Macedo, L. (2002). Situação-problema: forma e recurso deavaliação, de<strong>se</strong>nvolvimento de competências eaprendizagem escolar. Em P. Perren<strong>ou</strong>d & cols. (Orgs.) Ascompetências para ensinar no século XXI. (pp. 113-135).Porto Alegre: Artmed.Magalhães, L. A. M. (1999). O jogo Cara-a-cara em criançasde 7 a 13 anos: uma análi<strong>se</strong> construtivista. Dis<strong>se</strong>rtaçãode Mestrado. Faculdade de Educação, USP. São Paulo.Ortega, A. C., & cols. (1993). O raciocínio da criança no jogode regras: avaliação e intervenção psicopedagógica.Psicopedagogia, 12 (27), 27-30.Ortega, A. C., & cols. (1994). O possível e o necessário no jogoda Senha de escolares da pré-escola à 4 a . série do primeirograu. Cadernos de Pesquisa da UFES, (3), 48-54.Ortega, A. C., & cols. (1995). Raciocínio lógico e jogo de regras:contextos construtivista e não-construtivista. ArquivosBrasileiros de Psicologia, 47 (3), 105-112.Perren<strong>ou</strong>d, P. (1998). Avaliação: da excelência à regulaçãodas aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre:Artmed.Petty, A. L. S. (1995). Ensaio sobre o valor pedagógico dosjogos de regras: uma perspectiva construtivista.Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado. Instituto de Psicologia, USP.São Paulo.Petty, A. L. S., & Passos, N. C. (1996). Algumas reflexõessobre jogos de regras. Em F. F. Sisto (Org.) Atuação


Avaliação do de<strong>se</strong>mpenho de crianças e intervenção em um jogo de <strong>se</strong>nha 195psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis:Vozes.Piaget, J. (1983). O possível e o necessário: a evolução dosnecessários nas crianças. Porto Alegre: Artes Médicas.Piantivani, F. N. (1999). O Jogos de regras e construção depossíveis: análi<strong>se</strong> de duas situações de intervençãopsicopedagógica. Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado. Faculdadede Educação, UNICAMP. Campinas.Queiroz, S. S. (1995). Tipificação de erros em jogos de regras:uma abordagem construtivista. Dis<strong>se</strong>rtação deMestrado. Programa de Pós-graduação em Psicologia,UFES. Vitória.Queiroz, S. S. (2000). Inteligência e afetividade na dialéticade Jean Piaget: um estudo com o jogo da Senha. Te<strong>se</strong>de D<strong>ou</strong>torado. Instituto de Psicologia, USP. São Paulo.Rabioglio, M. B. (1995). Jogar: um jeito de aprender – análi<strong>se</strong>do Pega-varetas e da relação jogo-escola. Dis<strong>se</strong>rtaçãode Mestrado. Instituto de Psicologia, USP. São Paulo.Ros<strong>se</strong>tti, C. B. (2001). Preferência lúdica e jogos de regras:um estudo com crianças e adolescentes. Te<strong>se</strong> deD<strong>ou</strong>torado. Instituto de Psicologia, USP. São Paulo.S<strong>ou</strong>za, M. T. C. C. (1994) O jogo de regras e <strong>sua</strong> utilização peloprofessor. Revista de Educação AEC, 23 (90), 28-34.Torres, M. Z. (2001). Processos de de<strong>se</strong>nvolvimento eaprendizagem de adolescentes em oficinas de jogos. Te<strong>se</strong>de D<strong>ou</strong>torado. Instituto de Psicologia, USP. São Paulo.Recebido em: 01/07/03Revisado em: 06/08/03Aprovado em: 05/12/03Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 185-195


Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 197-201TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE:ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOSNayara Argollo 1ResumoTranstorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, caracterizado por pobre atenção sustentada, diminuição do controle dos impulsos eexcessiva atividade física, é encontrada em muitas culturas e em muitos paí<strong>se</strong>s. O objetivo do pre<strong>se</strong>nte artigo é revisar a literatura publicada sob oassunto, com ênfa<strong>se</strong> nos aspectos neuropsicológicos. As conclusões encontradas são que a farmacoterapia em conjunção com terapia individual <strong>ou</strong>familiar são, geralmente, aceitos como os mais efetivos tratamentos, <strong>se</strong>ndo os psicoestimulantes as drogas de escolha. A indicação de psicoterapiaé discutida. A necessidade de cuidadoso diagnóstico e condução médica e psicológica é enfatizada.Palavras-Chave: Desatenção; Hiperatividade; Impulsividade; Psicoestimulantes.AbstractATTENTION DEFICIT AND HYPERACTIVITY DISORDER: NEUROPSYCHOLOGICAL ASPECTSAttention-deficit hyperactivity disorder, characterized by poor sustained attention, diminished impul<strong>se</strong> control and excessive physical activity,is f<strong>ou</strong>nd in most cultures and most c<strong>ou</strong>ntries. The goal of this paper is to make a review ab<strong>ou</strong>t the literature. The conclusions were thatpharmacotherapy in conjunction with individual and family therapy is generally accepted as the most effective treatment, while psychostimulantsare the drugs of choice. Indication of psychotherapy is discus<strong>se</strong>d. The need for careful diagnosis and patient management is emphasized.KeyWords: Inattentive; Hyperactivity; Impulsive; Pharmachotherapy.INTRODUÇÃOSegundo a American Psychiatric Association(1994) o TDAH é um dos transtornos mais bemestudados na medicina e os dados gerais sobre <strong>sua</strong>validade são muito mais convincentes que a maioriados transtornos mentais e até mesmo que muitascondições médicas.O Transtorno do Déficit de Atenção comHiperatividade (TDAH) é uma síndrome comum, mascontroversa. Essa doença, que pode continuar por todaa vida (Barkley, Fischer, Edelbrock & Smallish, 1990),u<strong>sua</strong>lmente <strong>se</strong> inicia na infância e <strong>se</strong> caracteriza poratividade excessiva, muito superior a esperada para afaixa etária, associada a dificuldade de <strong>se</strong>guir ordens eatender aos limites impostos pelos pais e professores. Acriança gravemente afetada, na qual não existe controledo comportamento, é exaustiva para os <strong>se</strong>us cuidadores.TDAH é controversa apesar da aceitação doscritérios diagnósticos específicos. É uma formaextrema de tipos de comportamentos comuns mais queuma doença. Contudo, quando es<strong>se</strong> comportamento <strong>se</strong>encontra no extremo irá interferir com a funcionalidadeacadêmica, social e/<strong>ou</strong> familiar (Manzza, Klein,Bessler, Malloy & LaPadula, 1993). O TDAH <strong>se</strong>associa a <strong>ou</strong>tras morbidades, como o distúrbio deconduta, o comportamento desafiante-opositor edistúrbios de aprendizado, além de problema<strong>se</strong>mocionais em etapas sub<strong>se</strong>qüentes na vida(Organização Mundial de Saúde, 1993).1Neuropediatra, Professora do curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa, Mestre em Assistência Materno Infantil pela Universidade federalda Bahia e d<strong>ou</strong>toranda do Curso de Pós-graduação em Medicina e Saúde da Universidade Federal da Bahia.


198 Nayara ArgolloPrevalência<strong>Os</strong> estudos nacionais e internacionais situam aprevalência do TDAH em uma variação tão grandequanto 1,7% a 17,8%. Essa ampla variação pode <strong>se</strong>rexplicada pelas diferenças em informantes (pais <strong>ou</strong>professores), cultura e critérios para o diagnóstico.<strong>Os</strong>critérios atuais, com a inclusão de subtipos em que podeexistir a predominância de desatenção <strong>ou</strong> dehiperatividade-impulsividade, têm resultado em umprevisível aumento da taxa de diagnóstico (Rohde,Barbosa, Tramontina & Polanczyk, 2000).A prevalência por <strong>se</strong>xo varia. Entre as crianças quesão encaminhadas para psiquiatras <strong>ou</strong> psicólogos, a taxamasculina/feminina é de 3:1 a 9:1, enquanto estudosrealizados diretamente na comunidade com crianças emidade escolar esta taxa é de 2:1. Em contraste, entreadolescentes a taxa é de 1:1. E, entre adultos jovens, hápredominância em mulheres, com taxa de 2:1. Adiferença entre as taxas realizadas em estudos clínico<strong>se</strong> comunitários, pode estar associada à predominânciade hiperatividade em meninos, o que conduz a uma maiorqueixa comportamental e encaminhamento aoatendimento (Biederman, Faraone, Spencer, Wilens,Mick & Lapcy, 1996). Estudos nacionais situam aprevalência entre 3% e 6% (Rohde, Barbosa,Tramontina & Polanczyk, 2000). É difícil compararprevalência entre os estudos nacionais e internacionaispor causa dos diferentes critérios diagnósticos utilizados,métodos de avaliação e diferença cultural de interpretarcomportamento. Contudo, nenhuma grande diferençacultural tem sido relatada (Rohde & cols., 2000).GenéticaO TDAH tem um forte componente genético, comtaxa de hereditariedade de 0,75 a 0,91. Estudos genéticostêm sido dirigidos para genes que são envolvidos natransmissão dopaminérgica, uma vez que os circuitosdopaminérgicos fronto-estriatal estão envolvidos nafisiopatologia do transtorno (Gill, Daly, Heros, Hawi &Fitzgerald, 1997).EvoluçãoA persistência do TDAH e o <strong>se</strong>u diagnóstico noadulto tem sido <strong>ou</strong>tra fonte de controvérsias. A maioriados estudos prospectivos de crianças em idade escolartem mostrado persistência dos sintomas na adolescênciae vida adulta. O número dos sintomas diminui no finalda adolescência e na vida adulta. A persistência desintomas de TDAH na adolescência é associada comcomprometimento importante do comportamento, doajustamento social e rendimento acadêmico. Adultos comsintomas persistentes apre<strong>se</strong>ntam uma taxa mais elevadade abandono escolar, subempregos e transtornos depersonalidade. A freqüência de abuso de drogas(excetuando-<strong>se</strong> o álcool) é maior entre adolescentes eadultos jovens com TDAH, predominando entre aquelesno qual está associado o distúrbio de conduta e antisocialna infância (Shaffer, 1994). Entre aquelas criançascujos sintomas desapareceram na adolescência <strong>ou</strong> foramcorretamente tratadas, elas ficam comparáveis aos <strong>se</strong>uspares normais no que diz respeito à ocupação, funçãosocial e abuso de drogas, mas não em relação aode<strong>se</strong>mpenho acadêmico, pois anos de desatençãoprejudicam de forma importante a apreensão dosconhecimentos (Manzza & cols., 1993). O prognósticocom relação a habilidades sociais e auto-estima é melhornas crianças que utilizaram tratamento medicamentoso.Quadro ClínicoO quadro clínico da TDAH pode <strong>se</strong>r facilmenteidentificado por professores e pais. Desatenção,hiperatividade e impulsividade são a tríade clássica. Adesatenção leva a criança a ter dificuldade de prestaratenção a detalhes e errar por descuido em atividade<strong>se</strong>scolares e de trabalho (“err<strong>ou</strong> na prova o assunto quesabia”); a ter dificuldade para manter a atenção em tarefas<strong>ou</strong> atividades lúdicas (“fica no mundo da lua”); a parecernão escutar quando lhe dirigem a palavra (“quando estáassistindo à TV <strong>ou</strong> jogando vídeo-game, eu morro dechamar e ele não responde”); a não <strong>se</strong>guir instruções enão terminar tarefas escolares, domésticas <strong>ou</strong> deveresprofissionais (“é desobediente”); a ter dificuldade emorganizar tarefas e atividades (“é muito desorganizado, oquarto fica uma bagunça e na mochila da escola misturaas apostilas, os cadernos são riscados...”); evitar, <strong>ou</strong>relutar, em envolver-<strong>se</strong> em tarefas que exijam esforçomental contínuo (“quando o dever é grande, grita logoque não vai fazer aquilo tudo”); a perder coisasnecessárias para tarefas e atividades (“tenho que vivercomprando lápis e borracha”); e a <strong>se</strong>r facilmente distraídopor estímulos alheios à tarefa que está executando (“atéuma mosca voando desvia a atenção dele”) e a <strong>se</strong>resquecido em <strong>sua</strong>s atividades diárias (“de manhã quandovai para a escola, vai entrando no elevador <strong>se</strong>m a lancheiraque tem que levar todo dia”) . A hiperatividade leva acriança a agitar as mãos <strong>ou</strong> os pés <strong>ou</strong> <strong>se</strong> remexer na


Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade: Aspectos neuropsicológicos 199cadeira; a abandonar <strong>sua</strong> cadeira em sala de aula <strong>ou</strong> em<strong>ou</strong>tras situações na qual <strong>se</strong> espera que permaneça <strong>se</strong>ntado(“na sala de aula toda hora pede para ir ao banheiro”); acorrer <strong>ou</strong> escalar em demasia, em situações nas quaisisto é inapropriado (“enquanto esperava para <strong>se</strong>r atendido,estava correndo pelos corredores”); a ter dificuldade embrincar <strong>ou</strong> <strong>se</strong> envolver silenciosamente em atividades delazer (“é muito barulhento, quando chega da escola pareceque entr<strong>ou</strong> em casa 10 meninos”); a estar freqüentemente“a mil” <strong>ou</strong> “a todo vapor; e a falar demais (“me cansa detanto falar”). <strong>Os</strong> sintomas de impulsividade fazem comque a criança dê respostas precipitadas antes das perguntasterem sido completadas; a ter dificuldade de aguardar a<strong>sua</strong> vez em jogos (“<strong>se</strong> a fila está grande para ir em umbrinquedo no parque, ele não con<strong>se</strong>gue aguardar e ficaimpaciente, quer passar na frente <strong>ou</strong> ir embora”); efreqüentemente interrompe <strong>ou</strong> <strong>se</strong> mete nos assuntos dos<strong>ou</strong>tros (“os colegas não querem brincar com ele porquenão aceita as regras dos jogos, quer <strong>se</strong>mpre ganhar einterfere nas brincadeira dos <strong>ou</strong>tros quando não foichamado”). <strong>Os</strong> pré-escolares têm mais sintomasrelacionados com a hiperatividade-impulsividade, que vãodiminuindo progressivamente até a adolescência,predominando, então a desatenção (Rohde & cols., 2000).<strong>Para</strong> o diagnóstico é preciso que os sintomas listadosacima estejam pre<strong>se</strong>ntes antes dos 7 anos de idade e comuma duração mínima de 6 me<strong>se</strong>s; que pelo menos 6 dossintomas de desatenção e/<strong>ou</strong> 6 dos hiperatividadeimpulsividade<strong>se</strong>jam encontrados e persistência dossintomas em pelo menos dois contextos (social, familiare/<strong>ou</strong> escolar). Suspeitar que os sintomas de desatençãoe/<strong>ou</strong> hiperatividade-impulsividade <strong>se</strong>jam <strong>se</strong>cundários aproblemas na vida de relação da criança (com os pais e/<strong>ou</strong> com colegas e/<strong>ou</strong> amigos), a sistemas educacionaisinadequados <strong>ou</strong> a <strong>ou</strong>tros transtornos quando permanecepor um curto período (dois a três me<strong>se</strong>s), ocorrem apena<strong>se</strong>m um contexto, em casa <strong>ou</strong> na escola, e apre<strong>se</strong>ntamflutuações de sintomatologia com períodos assintomáticos.Sintomas de hiperatividade <strong>ou</strong> de impulsividade <strong>se</strong>mprejuízo clinicamente significativo na vida da criança podetraduzir estilo de funcionamento <strong>ou</strong> de temperamento maisdo que um transtorno neuropsiquiátrico (AmericanPsychiatric Association, 1994).As dificuldades de aprendizado são freqüentes nascrianças com TDAH, não somente pela desatençãodurante as aulas e durante o estudo, mas porque estámais freqüentemente associado a Transtorno de Leitura(dislexia), de Matemática (discalculia), de ExpressãoEscrita e da Linguagem (disfasia). Outras comorbidade<strong>se</strong>ncontradas são: depressão, ansiedade, TranstornoBipolar, Transtorno Opositor-Desafiante, transtorno deConduta, Transtorno Ob<strong>se</strong>ssivo-compulsivo, e Transtornode T<strong>ou</strong>rette (tiques vocais e motores) (August, Realmuto,MacDonald, Nugent & Crosby , 1996).Diagnóstico<strong>Os</strong> procedimentos necessários para o diagnóstico deTDAH envolvem a coleta de informações dos pais, dosprofessores e da própria criança. <strong>Os</strong> pais são, geralmente,bons informantes, enquanto os professores tendem asuperestimar os sintomas. Além de coletar as queixasdos pais, estes devem responder ao protocolopadronizado do DSM-IV, aos professores devem <strong>se</strong>rencaminhados questionários específicos para <strong>se</strong>remrespondidos (Barbosa, Dias & Gaião, 1997). Deverá <strong>se</strong>rrealizada testagem psicológica, com o teste do WISC,cujos subtestes de números e aritmética, que compõe ofator de resistência a distraibilidade importante parareforço do diagnóstico, <strong>ou</strong> <strong>ou</strong>tros testes, como oWisconsin Cart-Sortint test <strong>ou</strong> o STROOP test. <strong>Para</strong> odiagnóstico, os exames de neuro-imagem e EEG nãosão indicados (Zametkin & Ernst, 1999).TratamentoA intervenção terapêutica é realizada com psicoterapiae fármacos. A intervenção psicossocial <strong>se</strong> iniciacom a educação dos pais sobre o transtorno e treinamentode estratégias comportamentais para lidarem com os<strong>se</strong>us filhos; também os professores devem receberorientações sobre como organizar uma sala de aula paracrianças com TDAH, com p<strong>ou</strong>cos alunos, rotinas diária<strong>se</strong> previsíveis irão ajudar no controle emocional da criança.Tarefas curtas, com explicações divididas para cadaparte da atividade, intercaladas com atividades físicas,estar <strong>se</strong>mpre na primeira fila, longe da janela e da porta.Outras estratégias podem <strong>se</strong>r aplicadas como “<strong>se</strong>r oajudante” da professora para distribuir deveres <strong>ou</strong> pegaralgo fora da sala. Em casa, cada dever deverá <strong>se</strong>r<strong>se</strong>guido de um pequeno intervalo negociado previamentecom a mãe. Acompanhamento com psicopedagoga paraos casos com dificuldades específicas de aprendizagem.Muitas vezes existe necessidade de intervençãopsicoterapêutica para a família e/<strong>ou</strong> para a criança, <strong>se</strong>ndoa terapia cognitivista-comportamental a indicada. Apsicoterapia é indicada quando existem comorbidadeassociada (como depressão, ansiedade, comportamentoPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 197-201


200 Nayara Argollodisruptivos) e baixa auto-estima, dificuldade de controlede impulsos e desabilidades sociais (Bird, G<strong>ou</strong>ld &Staghezza, 1993). Terapia comportamental combinadacom tratamento farmacológico é muito mais efetiva quea terapia isolada (The MTA Cooperative Gr<strong>ou</strong>p, 1999).Contudo, terapia comportamental implementada em umambiente bem estruturado pode permitir o uso de do<strong>se</strong>smais baixas da medicação (Abikoff & Gittelman , 1985).As drogas psicoestimulantes têm sido as de escolhapara o tratamento do TDAH (Gillberg, Melarder & vonKnorring, 1997). Diversos estudos randomizados e bemcontrolados têm demonstrado a eficácia do metilfenidatotanto para crianças, como adolescentes e adultos (Gillberg& cols., 1997). Pacientes com retardo mental, por <strong>ou</strong>trolado, respondem mal à medicação. O uso de drogaspsicoestimulantes resulta em uma imediata efreqüentemente dramática melhora do comportamento.Ocorre melhora da atenção, e da interação interpessoal,assim como do rendimento escolar. Estudosneuropsicológicos demonstram que as medidas deatenção, impulsividade, aprendizado, processamento deinformação, memória de curto prazo e vigilância sãograndemente melhoradas (Greenhill, Halperin & Abikoff,1998). A principal desvantagem do metilfenidato é tercurto efeito de ação, <strong>se</strong>ndo necessário de três a quatrosdo<strong>se</strong>s no dia. <strong>Os</strong> principais efeitos colaterais são adiminuição do apetite, insônia, irritabilidade, cefaléia etontura (Elia, Ambrosini & Rapoport, 1999).Estudos demonstram a prevalência significativamentemaior de uso/abuso de drogas em adolescentes com TDAHque não foram tratados com psicoestimulantes quandocomparados com os que foram tratados, maior risco dedelinqüência na adolescência (Fischer, Barkley, Fletcher& Smallish, 1993; Biederman, Wilens, Mick & Spencer,1999). A medicação poderá <strong>se</strong>r suspensa após um anoassintomático, de preferência nas férias escolares e acriança <strong>ou</strong> o adolescente <strong>se</strong>rá ob<strong>se</strong>rvado para a necessidadede reintrodução da medicação (Spencer, Biederman, Wilens,Harding, O’Donnel & Griffin, 1996; Greenhill & cols., 1998).CONCLUSÃOO TDAH é uma doença crônica cujo diagnóstico éclínico.Existe hetereogenicidade do quadro clínico comvariação dos déficits sociais, comportamentais ecognitivos. Apesar da forte evidência de hereditariedade,o modo de herança ainda não está claro. É associadacom <strong>ou</strong>tras comorbidades neuropsiquiátricas como asdificuldades de aprendizado, distúrbios disruptivos (deconduta, transtorno desafiante-opositor), depressão eansiedade. O metilfenidato é a droga de escolha <strong>se</strong>ndo<strong>se</strong>gura para o uso em crianças. Em algumas dessascrianças, o tratamento farmacológico não é suficienteporque os sintomas persistem <strong>ou</strong> existe comorbidade.Nestes casos intervenção integrada com psicofármacoe intervenção psicossocial são necessárias. O tratamentoé imprescindível para prevenção de distúrbios de condutae delinqüência na criança e no adolescente com TDAH.REFERÊNCIASAbikoff H., & Gittelman, R. (1985). Hyperactive children treatedwith stimulants: is cognitive training a u<strong>se</strong>ful adjunct?Archives of General Psychiatry, 42, 953-61.American Psychiatric Association (1994). Diagnostic andStatistical Manual of Mental Disorders ( 4. ed).Washington (DC): Autor.August, G. J., Realmuto, G. M., MacDonald, A. W., Nugent,S. M., & Crosby, R. (1996). Prevalence of ADHD andcomorbid disorders among elementary school childrenscreened for disruptive behavior. J<strong>ou</strong>rnal of AbnormalChild Psychology, 24, 571-95.Barbosa, G. A., Dias, M. R., & Gaião, A. A. (1997). Validacíonfactorial de los índices de hiperactividad del cuestionáriode Conners em escolares de João Pessoa – Brasil. Infanto,5, 118-25.Barkley, R. A., Fischer, M., Edelbrock, C. S., & Smallish, I.(1990). The adolescent <strong>ou</strong>tcome of hyperactive childrendiagno<strong>se</strong>d by re<strong>se</strong>arch criteria. I. An 8-year prospectivefollow-up study. The J<strong>ou</strong>rnal of American Academia ofChild and Adolescent Psychiatry, 29, 546-57.Biederman, J., Faraone, S. V., Spencer, T., Wilens, T., Mick, E.,& Lapcy, K. A. (1996). Gender differences in a sample ofadults with attention deficit hyperactivity disorder.Psychiatry Re<strong>se</strong>arch, 53, 13-29.Biederman, J., Wilens, T., Mick, E., & Spencer, T. J. (1999).Pharmacotherapy of attention-deficit/hyperactivitydisorder reduces risk for substance u<strong>se</strong> disorder.Pediatrics, 104 (2), 20.


Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade: Aspectos neuropsicológicos 201Bird, H. R., G<strong>ou</strong>ld, M. S., & Staghezza, B. M. (1993). Patternsof diagnostic comorbidity in a community sample ofchildren aged 9 thr<strong>ou</strong>ght 16 years. The J<strong>ou</strong>rnal ofAmerican Academia Child and Adolescent Psychiatry,32,361-8.Elia, J., Ambrosini, P. J., & Rapoport, J. L. (1999): Treatment ofAttention-Deficit-Hypperactivity Disorder. The NewEngland J<strong>ou</strong>rnal of Medicine, 340, (10), 780-88.Fischer, M., Barkley, R. A., Fletcher, K. E., & Smallish, I. (1993).The adolescent <strong>ou</strong>tcome of hyperactivity children:predictors of psychiatric, academic, social, and emotionaladjustment. The J<strong>ou</strong>rnal of American Academia Childand Adolescent Psychiatry, 32, 324-32.Gill, M., Daly, G., Heros, S., Hawi, Z., & Fitzgerald, M. (1997).Confirmation of association between attention deficithyperactivity disorder and a dopamine transproterpolymorphism. Molecular Psychiatry , 2, 311-3.Gillberg, C., Melarder, H., & von Knorring, A. L. (1997). Longtermstimulant treatment of children with attention deficithyperactivity disorder symptoms: a randomized, d<strong>ou</strong>bleblind,placebo-controlled trial. Archives of GeneralPsychiatry, 54, 57-64.Greenhill, L. L., Halperin, J. M., & Abikoff, H. (1998). Stimulantmedications. The J<strong>ou</strong>rnal of American Academia Childand Adolescent Psychiatry, 38 (5), 503-12.Manzza, S., Klein, R. G., Bessler, A., Malloy, P., & LaPadula,M. (1993). Adult <strong>ou</strong>tcome of hyperactive boys:educational achievement, occupational rank, andpsychiatric status. Archives of General Psychiatry , 50,565-76.Organização Mundial de Saúde. (1993). Classificação deTranstornos Mentais e de Comportamento da CID-10:Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. PortoAlegre: Artes Médicas.Rohde, L. A., Barbosa, G., Tramontina, S., & Polanczyk, G.(2000). Transtorno do Déficit de Atenção eHiperatividade. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22(Supl II), 7-11.Shaffer, D. (1994). Attention deficit hyperactivity disorder inadults. American J<strong>ou</strong>rnal of Psychiatry, 151, 633-8.Spencer, T., Biederman, J., Wilens, T., Harding, M., O’Donnell,D., & Griffin, S. (1996). Pharmacotherapy of attentiondeficithyperactivity disorder across the life cycle. TheJ<strong>ou</strong>rnal of American Academic Child and AdolescentPsychiatry, 35, 409-32.The MTA Cooperative Gr<strong>ou</strong>p. (1999). A 14-month randomizedclinical trial of treatment strategies for attention-deficit/hyperactivity disorder. Archives of General Psychiatry,56, 1073-86.Zametkin, A. J., & Ernst, M. (1999). Problems in themanagement of attention-deficit-hyperactivity disorder.The New England J<strong>ou</strong>rnal of Medicine, 340, 40-6.Recebido em: 01/07/03Revisado em: 29/08/03Aprovado em: 07/11/03Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 197-201


Re<strong>se</strong>nhasAVALIAÇÃO DA ALFABETIZAÇÃOFehring, H. (Org.), (2003), Literacy As<strong>se</strong>ssment. Newark: ALEA & IRA, vi + 199 p.O livro é resultado de um esforço conjunto daAustralian Literacy Educators’ Association e daInternational Reading Association. Reúne uma coleçãode artigos, publicados entre 1992 e 2002 pela primeiraAssociação aqui referida.Heather Fehring foi a pessoa encarregada de organizaro livro, <strong>se</strong>ndo docente de Avaliação da Alfabetização noRoyal Melb<strong>ou</strong>rne Institute of Technology University, emVictória (Austrália). Escolheu 19 textos de vários autores,com enfoques diversos para repre<strong>se</strong>ntarem o que significaalfabetização hoje, como avaliar os vários tipos dealfabetização e como isto pode enriquecer as pessoas.Na Introdução apre<strong>se</strong>nta as preocupações quenortearam as escolhas feitas. Cabe aos educadoresconsiderar as necessidades dos estudantes, os direitosdos pares, a responsabilidade profissional com os colegas,os pressupostos e demandas do sistema governamentale a agenda macropolítica.A coleção de artigos foi composta com textospreviamente incluídos nos periódicos The AustralianJ<strong>ou</strong>rnal of Language and Literacy, LiteracyLearning: the Middle Years e Practically Primary,além de trabalhos apre<strong>se</strong>ntados na ALEA NationalConference.<strong>Os</strong> critérios adotados, além dos parâmetros temporaisforam contar com alguns artigos que explicas<strong>se</strong>mprincípios diferentes do prisma teórico sobre a avaliaçãoda alfabetização; relatas<strong>se</strong>m pesquisas de avaliação; queestabeleces<strong>se</strong>m padrões e especificidades; que demonstras<strong>se</strong>maplicações em sala de aula e técnicas derelatório, que incluís<strong>se</strong>m da escola primária <strong>ou</strong> elementaraté a <strong>se</strong>cundária <strong>ou</strong> ensino médio e que todos os artigosdestacas<strong>se</strong>m a importância da avaliação feita peloprofessor para relatar a alfabetização dos <strong>se</strong>us alunos.O primeiro texto (o livro não está organizado emcapítulos, partes <strong>ou</strong> algo similar, apenas <strong>se</strong> sucedem) éde autoria de Fehring, apre<strong>se</strong>ntado na conferência a que<strong>se</strong> fez menção. Enfoca as influências que os professoresrecebem quando avaliam e relatam a alfabetização dosalunos em sala de aula. Além do contexto da macropolíticadestaca: o conhecimento reflexivo internalizado,as expectativas que <strong>se</strong>rvem de padrão, a avaliação da<strong>se</strong>stratégias de <strong>se</strong>leção; a dis<strong>se</strong>minação, as consideraçõe<strong>se</strong>xternas e o poder dos pares. Naturalmente, subjazema estas questões o conceito de alfabetização e osmodelos teóricos de aprendizagem da linguagem.O artigo <strong>se</strong>guinte é de Kate M<strong>ou</strong>nt e trata do comoacessar a informação de alfabetização, mais especificamentede como a criança aprende a avaliar <strong>sua</strong>própria aprendizagem. Isto implica em dominar ashabilidades de: articular e registrar os fatos conhecidos,formular questões, localizar a informação, escrever eilustrar respostas claras, organizar um livreto de registros,apre<strong>se</strong>ntar eficientemente a informação, avaliar <strong>sua</strong>própria apre<strong>se</strong>ntação e monitorar o próprio progresso.É um texto prático.O trabalho de Robyn Perkins trata de como a criançafaz <strong>sua</strong> própria avaliação apre<strong>se</strong>ntando apenassucessivos exemplos de falas de crianças. Não hánovidade <strong>ou</strong> qualquer elaboração pessoal por parte dequem produziu o texto.Christina E. van Kraayenoord enfoca a auto-avaliaçãoda aprendizagem da alfabetização. A autora consideraque a auto-avaliação envolve auto-reflexão e auto-mensuração,<strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, habilidades metacognitivas, implicandotambém que o aluno avalie <strong>se</strong>us conhecimentos ehabilidades em relação ao <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>mpenho e <strong>se</strong>ntimentosanteriores, <strong>ou</strong> os padrões e critérios de realização. Esta éuma atividade que envolve a sala de aula e que é precisosaber quem, o que, e o como avaliar. As atividades desala de aula devem de<strong>se</strong>nvolver estas habilidades. Todavia,há várias questões a <strong>se</strong>rem resolvidas.Lynne Badger e Lyn Wilkinson enfocam a questãoquando os participantes são pobres <strong>ou</strong> de comunidades


204diversificadas. Embora <strong>se</strong>m usar a estrutura do discursocientífico para relato de pesquisa, o trabalho estáalicerçado em dados de um projeto de pesquisaenvolvendo este tipo de participantes, em salas de aulado sétimo grau. Concluem que é possível mudar osresultados da aprendizagem da alfabetização, o queimplica menos em encontrar procedimentos de avaliaçãomais eficientes do que mudar os programas de sala deaula. Mas destacam que ensinar e avaliar estãoin<strong>se</strong>paravelmente unidos.É de Jenni Connor o artigo que aparece em <strong>se</strong>guidae enfoca o mesmo problema tendo por ba<strong>se</strong> de dadospesquisa realizada com crianças indígenas, de formamuito sucinta e com ba<strong>se</strong> em <strong>sua</strong> leitura pessoal acríticada situação.O uso de registros contínuos em sala de aula éenfocado por Lorraine Wilson e Melissa Dash queregistraram a freqüência de erros em leitura de ummenino de oito anos. Limitam-<strong>se</strong> a reproduzir exemplosde registros <strong>se</strong>m maiores comentários <strong>ou</strong> análi<strong>se</strong>s.Concluem que a análi<strong>se</strong> de erros é produtiva, mas nãohá dados para alicerçar tal afirmação além do constantenas p<strong>ou</strong>cas referências de apoio.Anne Nelson teve reimpresso um breve registro quefez de avaliação de leitura de forma autêntica incluindoatitudes, envolvimento e satisfação com a tarefa. Sãoregistros qualitativos. Também lembra a importância deregistros feitos pelos pais e auto-avaliações feitas pelacriança. Aponta a importância dos registros atenderemaos quesitos governamentais.A necessidade de moderação ao <strong>se</strong> tratar daavaliação autêntica na escola como um todo é apreocupação de John Davidson em <strong>sua</strong> brevecomunicação. Lembra que o Registro Cumulativo é umaestratégia em uso por muitos anos que vem <strong>se</strong>ndocompletada por sínte<strong>se</strong>s (Profiles) para leitura ematemática, com um progressivo caráter cumulativo.<strong>Os</strong> registros feitos pelos alunos devem <strong>se</strong>r consideradoscom muita moderação uma vez que não <strong>se</strong> tem<strong>se</strong>gurança quanto a autenticidade, <strong>se</strong>gurança,fidedignidade e validade dos mesmos.Nas últimas décadas o uso de “portfolios” paraacompanhar a aprendizagem feita pelas crianças torn<strong>ou</strong><strong>se</strong>uma prática bastante difundida especialmente na áreada leitura e escrita. Jeff Wilson tece algumasconsiderações sobre a matéria de forma clara e sintética.Lembra que <strong>se</strong> está falando de coleção de trabalhosproduzidos pelas crianças ao longo do período escolar,Re<strong>se</strong>nhasusados para fornecer evidências de <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>nvolvimentoao longo do ano, fornecer informações aos pais,elementos sobre o de<strong>se</strong>nvolvimento curricular e manterum arquivo sobre o de<strong>se</strong>nvolvimento da criança ao longoda escolarização primária, portanto, é mais do que uminstrumento de avaliação. É um ótimo texto didático.Greer Johson em <strong>se</strong>u artigo trata das tarefas deavaliação da linguagem e o que está subjacente àsmesmas. Lembra que medir a fala em sala de aula éainda uma questão problemática e que tem implícito oconceito de leitura quando <strong>se</strong> enfoca também aalfabetização crítica e a posição da leitura no próprioensino. Relata a mudança de posição registrada emum estudo de caso indo de um controle da clas<strong>se</strong>, parauma resposta pessoal até alcançar um padrão de análi<strong>se</strong>tanto do texto como do autor.Michal McNamara descreve as opções de avaliaçãoda leitura disponíveis para os professores do ensinomédio cujos propósitos devem estar muito claros paraos professores que também devem estar <strong>se</strong>guros paraescolher os meios de avaliar os estudantes quesatisfaçam <strong>sua</strong>s necessidades específicas. Comoinstrumentos sugere: ob<strong>se</strong>rvação, escrutínio do processode leitura, colaboração, avaliação do currículo por testespadronizados, avaliação da comunicação, comparaçãodos objetivos previstos e efetivamente alcançados, umaampla mensuração. <strong>Os</strong> critérios incluem os definidospelo especialista em leitura, o comportamento de leituraanterior do estudante (nível operante <strong>ou</strong> inicial) e ocritério acadêmico pré-definido.Hoje a auto-avaliação é considerada como aspectoimportante do processo. É deste tópico que Kaye Lowetrata no <strong>se</strong>u artigo, mas voltada para a educação<strong>se</strong>cundária e tendo por ba<strong>se</strong> pesquisa realizada com1200 alunos que <strong>se</strong> auto-avaliaram, demonstrandoestarem cientes de que a alfabetização mud<strong>ou</strong> <strong>sua</strong>svidas. Destaca que os princípios básicos do ensinaraprenderdevem estar pre<strong>se</strong>ntes. <strong>Os</strong> alunos precisamrealmente estar querendo aprender, o respeito e averdade devem <strong>se</strong>r pre<strong>se</strong>rvados, o ambiente deaprendizagem precisa <strong>se</strong>r cuidado, bem comoaprendizagem e avaliação devem estar interligadas. Oprocesso de avaliação de aprendizado precisa <strong>se</strong>rexplícito para que funcione bem. Também não <strong>se</strong> podeesquecer que todos precisam monitorar a qualidade doque fazem.Alguns autores trataram dos testes como instrumentode avaliação. O primeiro deles incluído no livro foi o


Re<strong>se</strong>nhas 205texto de Brian Camb<strong>ou</strong>rne que lembra a receptividadedas comunidades na avaliação sistemática da leiturarecorrendo a testes, realizada pelo governo. <strong>Os</strong> testesaplicados têm por características: aplicação coletiva,padronização (de nível, de aplicação e de interpretação),são comparativos (têm normas) e orientam o produto.<strong>Os</strong> pressupostos estabelecidos são: avaliação é sinônimode medida; deve <strong>se</strong>r objetivo; os resultados de testespadronizados podem <strong>se</strong>r amplamente generalizados parao mundo real; o processo ocupa uma parte mínima node<strong>se</strong>mpenho efetivo em alfabetização (leitura) e emcomportamentos correlatos e os resultados dos testessão úteis e utilizáveis por professores e alunos.O mesmo autor é responsável pelo breve texto que<strong>se</strong> <strong>se</strong>gue, <strong>se</strong>ndo que, desta feita, aponta cinco itens queesclarecem os pontos obtidos quando <strong>se</strong> recorre a testesno sistema educacional. São repetição do ditoanteriormente, sobre as características fundamentaisdeste recurso. É mera redundância de parte do capítuloanterior e não precisaria <strong>se</strong>r incluído na pre<strong>se</strong>nte <strong>se</strong>leçãojá que não há qualquer acréscimo apreciável.Claire M. Wyatt Smith em <strong>se</strong>u texto explora asrelações entre os amplos programas de escalas deavaliação da alfabetização e a sala de aula ba<strong>se</strong>ada naavaliação, enfocando prioritariamente o professor.Apre<strong>se</strong>nta dados de pesquisa realizada com professoresda 1ª até a 7ª série que foram entrevistados sobre comoviam o ensino de leitura com ba<strong>se</strong> na avaliação em salade aula e o programa de avaliação governamental.Apontam vários pontos convergentes e concluem quehá necessidade de aproveitar melhor as relações entreas avaliações. A autora destaca a necessidade de levarem consideração as ob<strong>se</strong>rvações feitas pelos docentes.Nola Alloway e Pam Gilbert analisam os dados daavaliação geral da leitura nas escolas da Austrália,conduzida por meio de teste sob a responsabilidade dogoverno e que constaram do Literacy Standards inAustrália. Fazem uma análi<strong>se</strong> qualitativa tendo por ba<strong>se</strong>os resultados quantitativos obtidos. Concluem que osresultados descritivos embora úteis não permitemesclarecer muitos dos porquês que emergem de <strong>sua</strong>leitura. O acompanhamento de séries de testes mostrama necessidade dos responsáveis pesquisarem as causasdo baixo de<strong>se</strong>mpenho sistemático em algumas regiões.Há necessidade de investimento nos docentes paramudar a realidade. <strong>Os</strong> professores devem cuidar tantodos indicadores individuais como estarem atentos aospadrões esperados.O último trabalho é assinado por Marion Meiers efoi primeiramente apre<strong>se</strong>ntado em um evento sobrealfabetização sob a forma de conferência. A autora tentatraçar um mapa geral, com alguns p<strong>ou</strong>cos detalhes daeducação australiana nos anos 90 do século XX. Lembraque o público pass<strong>ou</strong> a <strong>se</strong> interessar e a acompanhar aavaliação e os relatórios das avaliações feitas em termosnacionais e a tomar ciência das <strong>sua</strong>s vantagens e limites.Inicialmente despontaram os professores como osprincipais personagens para em <strong>se</strong>guida <strong>se</strong>remdestacados também o Estado, a mídia, os pais e o<strong>se</strong>mpregadores. O Estado como maior provedor defundos para a escolarização deve estar profundamenteenvolvido com os objetivos e a natureza da alfabetizaçãoe do ensino da língua, fornecer os padrões (<strong>ou</strong> resultado<strong>se</strong>sperados) a <strong>se</strong>rem alcançados pelos alunos. Hánecessidade de mudanças no <strong>se</strong>tor público, naparticipação dos pais, nos resultados esperados e nasavaliações a <strong>se</strong>rem feitas periodicamente.Embora o cenário educacional e cultural tratado nolivro <strong>se</strong>ja australiano, pode-<strong>se</strong> dizer que há muitainformação que poderia <strong>se</strong>r útil quer aos pais, professore<strong>se</strong> administradores quer para romper a resistência àavaliação, especialmente as realizadas por pesquisadore<strong>se</strong> pelo governo no âmbito nacional de qualquer país. Adespeito das limitações apre<strong>se</strong>ntadas o livro é uma leituraenriquecedora para quantos <strong>se</strong> preocupem com leitura,escrita e avaliação educacional.Geraldina Porto WitterUMC/PUC-Campinas


HistóriaEntrevista com Maria Regina MalufEntrevistadora: Alacir Villa Valle CrucesMARIA REGINA MALUF é d<strong>ou</strong>tora emPsicologia pela Universidade de L<strong>ou</strong>vain (Bélgica) eLivre Docente em Psicologia Escolar pela Universidadede São Paulo. Vem trabalhando ativamente na área daeducação desde que volt<strong>ou</strong> ao Brasil, após <strong>sua</strong> formação,<strong>se</strong>ja como professora, <strong>se</strong>ja como pesquisadora eorientadora em cursos de pós-graduação. Atualmenteé professora de Psicologia do De<strong>se</strong>nvolvimento e daEducação do Programa de Pós-Graduação emPsicologia da Educação da Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo e de Psicologia do De<strong>se</strong>nvolvimentono Instituto de Psicologia da Universidade deSão Paulo. Junto aos cursos de pós-graduação vemrealizando pesquisas e orientando te<strong>se</strong>s e dis<strong>se</strong>rtaçõe<strong>se</strong>m duas áreas principais: de<strong>se</strong>nvolvimento infantil, comênfa<strong>se</strong> na aquisição inicial da escrita na pré-escola eensino fundamental; formação do psicólogo, com ênfa<strong>se</strong>no trabalho com educação. Seus orientandos, grupo noqual me incluo com enorme prazer, sabem de <strong>se</strong>udinamismo, de <strong>sua</strong> solicitude, de <strong>sua</strong> grande experiênciae dedicação que contagia a todos que estão a <strong>se</strong>u lado.Sempre envolvida em inúmeros projetos ela incentiva aparticipação e promove o de<strong>se</strong>nvolvimento de <strong>se</strong>u grupo,com experiências <strong>se</strong>mpre gratificantes em termos deaprendizagem e do crescimento que repre<strong>se</strong>ntam. Umexemplo deles, é o Grupo de Pesquisa “EscolarizaçãoInicial e De<strong>se</strong>nvolvimento Psicológico” no qual diversosmembros trabalham sob <strong>sua</strong> coordenação. Outro é aparticipação como membro da equipe constituída pelaSIP desde 1997 para de<strong>se</strong>nvolver estudos sobrePsicologia e Formação do Psicólogo nas Américas parao qual escreveu capítulos referentes ao Brasil nos livrosjá publicados: “ Psicología en las Américas” e“Problemas Centrales para la Formación Académica yel Entrenamiento Profesional del Psicólogo en lasAméricas” dos quais eu tive a oportunidade de participarsob <strong>sua</strong> orientação e coordenação. Possui, além dessas,numerosas publicações em periódicos científicos ecapítulos de livros, sobre temas de Psicologia daEducação e do De<strong>se</strong>nvolvimento e é membro deSociedades Científicas Brasileiras e Internacionais nasquais tem prestado <strong>se</strong>rviços de imensa relevância parao progresso da Psicologia como ciência e como profissão,<strong>se</strong>ndo repre<strong>se</strong>ntante nacional em SociedadesInternacionais e Presidente da Comissão Organizadorado XXVI Congresso Interamericano de Psicologia que


208 História<strong>se</strong> realiz<strong>ou</strong> em São Paulo em 1997. Por tudo isso e pelagrande contribuição que traz ao discutir conosco questõesrelativas ao preparo de profissionais para trabalharemna área da educação, às mudanças com as quais nosdeparamos em nossa realidade e em nossa profissãoque nos esclarecem e nos fazem refletir sobre nossasposições pessoais e profissionais, nosso reconhecimento.Cruces: Você poderia <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntar para nós efalar um p<strong>ou</strong>co sobre <strong>sua</strong> formação e <strong>sua</strong> trajetóriaprofissional? Sei que você tem uma formaçãodiferente da nossa por ter sido feita em L<strong>ou</strong>vain,na Bélgica, e acredito que ela caracteriza muito de<strong>sua</strong>s concepções, de <strong>sua</strong> maneira de atuar e defazer Psicologia, não é?Maluf: O meu interes<strong>se</strong> pela educação é “qua<strong>se</strong>genético”, nascido do cotidiano com uma mãe apaixonadapelo ensino de crianças, nos anos longínquos em que <strong>se</strong>rprofessora era não só uma missão de vida e cidadaniacomo também um reconhecimento de mérito pelasociedade e pelos órgãos públicos responsáveis pelaeducação nacional. As circunstâncias e um certo nívelde escolha pessoal levaram-me ao curso de Psicologiadepois de cursar Pedagogia.Minha formação em psicologia, que <strong>se</strong> estendeu atéo d<strong>ou</strong>torado, numa universidade estrangeira, de “primeiromundo”, a Universidade Católica de L<strong>ou</strong>vain, na Bélgica,proporcion<strong>ou</strong>-me um modo de entender a ciênciapsicológica que em alguns aspectos diferenci<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> doque mais tarde verifiquei que era mais comum no Brasil,nos cursos de psicologia nascentes: estamos no final dosanos 60. É verdade que, de volta ao meu país, que <strong>se</strong>debatia aprisionado por um governo de exceção, foinecessário um período de re-adaptação para dar-meconta das peculiaridades de <strong>se</strong> fazer psicologia daeducação nas contingências políticas, socioculturais eeconômicas vigentes em um país integrante da AméricaLatina conturbada daqueles anos difíceis, chamados noBrasil de anos de chumbo.Penso que recebi uma formação que me permitiuuma preocupação constante com a demarcação doconhecimento científico, com a ética e com asnecessidades concretas da sociedade brasileira, nacomplexidade das interações que nos colocam problema<strong>se</strong> contradições nunca completamente resolvidas. Por<strong>ou</strong>tro lado, minha convivência, às vezes muito intensa,com <strong>ou</strong>tras culturas – quero dizer, em diferentes paí<strong>se</strong><strong>se</strong> continentes, com pessoas diversas quanto à etnia,religião, visão de mundo, escolarização- bem como asnumerosas oportunidades de intercâmbio compesquisadores psicólogos através de reuniões científicas,congressos, sociedades científicas internacionais, fizeramcom que <strong>se</strong> consolidas<strong>se</strong> em mim uma visão de ciênciamuito proces<strong>sua</strong>l, em construção, distante de toda equalquer perspectiva dogmática e cristalizada. Não merefiro à adoção de uma epistemologia relativista etamp<strong>ou</strong>co ao ecletismo. Refiro-me ao reconhecimentoefetivo e ao respeito pelas diferenças, ao reconhecimentoda dignidade inerente do <strong>ou</strong>tro, à provisoriedadede muitas de nossas convicções. Por muito convictosque estejamos de nossas certezas, tudo pode mudar. Semlevar ao pé da letra, esta postura tem a ver com a te<strong>se</strong>de Heráclito para quem a água do rio nunca é a mesma.Resta responder: e o rio é o mesmo? Caberá a cada umdecidir, <strong>se</strong>gundo o <strong>se</strong>u conceito de rio. E haveremos deconvir que diferentes respostas poderão <strong>se</strong>r igualmenteverdadeiras!<strong>Para</strong> nosso pensamento ocidental analítico e linear, éas vezes muito difícil entender que para uma mesmaquestão possa existir mais de uma resposta verdadeira.Mas pode! Se as potencialidades humanas são universais,como admito, é porém a cultura que decide quais delas<strong>se</strong> expressam e a forma de que <strong>se</strong> revestem. Somos<strong>se</strong>melhantes a todos os indivíduos humanos em algunsaspectos, <strong>se</strong>melhantes a alguns em <strong>ou</strong>tros aspectos eem alguns aspectos somos únicos. A formação querecebi, os intercâmbios nacionais e internacionais queexperienciei, as reflexões sobre anos de prática docentederam-me uma mente muito aberta e me ensinaram aconviver com a dúvida <strong>se</strong>m me <strong>se</strong>ntir desconfortável.Tive uma formação muito generalista. E isto foi bomporque tive também muitas oportunidades deespecialização. Mas, a formação generalista, <strong>se</strong>gundoob<strong>se</strong>rvo, pode <strong>se</strong>r danosa <strong>se</strong> não for <strong>se</strong>guida por algumaforma de especialização. As vias que percorri meensinaram a conviver bem com a dúvida científica, istoé, admito que a ciência psicológica me ensina muitascoisas mas a experiência pessoal também ensina e aassimetria entre essas duas fontes de conhecimento nãoé constante. Aprendi a fazer escolhas provisórias. Porisso não s<strong>ou</strong> eclética, no <strong>se</strong>ntido de não comprometer<strong>se</strong>com coisa alguma, no <strong>se</strong>ntido do vale tudo. Mas tomodecisões diversas em circunstâncias diversas. Não adotoprincípios universais fora do tempo e do espaço. Ahistória dos grandes sofrimentos da humanidade no<strong>se</strong>nsina muita coisa. As duas grandes guerras do início


História 209do século 20 fizeram ruir grandes esperanças econfianças apressadas no poder humanizador doprogresso das ciências. Ciência e técnica produziramterríveis armamentos e procedimentos que transformaramsonhos em pesadelos. Con<strong>se</strong>qüentemente,convivo bem com a psicologia científica atual na qualcoexistem paradigmas diversos. Nenhum deles mefornece todas as respostas de que preciso para explicara complexidade do comportamento humano. Particularmentequando <strong>se</strong> trata de Psicologia e Educação: emcircunstâncias diferentes precisamos de respostasdiferentes, embora as coordenadas <strong>se</strong>jam aparentementeas mesmas. Estas respostas podem vir da psicanáli<strong>se</strong>,do comportamentismo, das neurociências do comportamento,da fenomenologia, do cognitivismo, doculturalismo... Meu ponto de partida é o problema, <strong>ou</strong><strong>se</strong>ja, a questão concreta para a qual est<strong>ou</strong> procurand<strong>ou</strong>ma explicação. Costumo alertar meus estudantes paraa necessidade de <strong>se</strong> fazer escolhas, mesmo que <strong>se</strong>jamescolhas muito provisórias, para que <strong>se</strong> possa conduzirpesquisas dentro dos paradigmas aceitos na atualsociedade do conhecimento em que estamos in<strong>se</strong>ridos.Na contemporaneidade o saber epistemológico é umconvite à reflexão constante, não no abstrato que gerafalsa erudição, mas sim na exposição ao real com o qualnos deparamos e que deve conduzir-nos ao movimentoconstante prática-teoria-prática. É deste movimento que,<strong>se</strong>gundo acredito, nasce o conhecimento útil compotencial transformador dos indivíduos e sociedades, cujobem-estar deve <strong>se</strong>r objetivo do pesquisador e doprofissional da Psicologia e da Educação.Cruces: Em que medida você considera que <strong>se</strong>jaimportante o treino em pesquisa na formação dopsicólogo e em especial para preparar o psicólogopara trabalhar na área da educação? Comoconciliar essa necessidade com as demais daformação em um curso noturno, por exemplo?Maluf: Pesquisar é produzir conhecimento:conhecimento útil. A utilidade do conhecimento não é<strong>se</strong>mpre evidente, mas assumo que ele <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong>rve ainteres<strong>se</strong>s. É portanto indispensável ao pesquisadorbuscar entender na medida de <strong>sua</strong>s possibilidades a queinteres<strong>se</strong>s ele <strong>se</strong>rve quando produz conhecimento.Afirmamos com facilidade que a formação dopsicólogo precisa incorporar a pesquisa. Penso queninguém atualmente afirmaria o contrário. Mas, formarpara a pesquisa parece estar tomando a forma de umfetiche. Há que responder: o que significa, no concreto,formar para a pesquisa? Diferentes significações sãofacilmente atribuíveis a um mesmo enunciado. <strong>Os</strong>teóricos da repre<strong>se</strong>ntação social provavelmente concordariamcomigo e verificariam essa hipóte<strong>se</strong> através depesquisa sistemática. <strong>Para</strong> mim, formar-<strong>se</strong> em pesquisasignifica aprender a não <strong>se</strong> contentar com respostasprontas, sobretudo com aquelas envoltas em falsa<strong>se</strong>rudições e em certezas apoiadas em pressupostosdistantes da verificação e da controvérsia. A pesquisa éuma especialidade. É falso afirmar, por exemplo, quetodo educador, <strong>ou</strong> professor, é <strong>ou</strong> tem que <strong>se</strong>r pesquisador!É possível <strong>se</strong>r um excelente educador <strong>ou</strong> professor<strong>se</strong>m <strong>se</strong>r pesquisador! Assim como um excelentepesquisador pode <strong>se</strong>r um péssimo professor! Pesquisarexige um saber específico, que envolve várias habilidadesa <strong>se</strong>rem sistematicamente aprendidas. Formar-<strong>se</strong> empesquisa significa também aprender a fazer perguntaspara o real e distinguir entre aquelas perguntas que podem<strong>se</strong>r respondidas através de procedimentos metodológicosapropriados e aquelas que não são respondíveis nocontexto da ciência psicológica atual.A certeza é inimiga da ciência. Também o é oceticismo. <strong>Os</strong> paradigmas da pós-modernidade nosconvidam a refletir sobre a complexidade, sobre aorganização do caos, sobre a diversidade e colocam nocentro das preocupações o papel da cultura naconstituição de nossas funções psicológicas superiores,no <strong>se</strong>ntido em que Vygotski as entendeu. Algunspsicólogos contemporâneos enxergam a psicologia comopsicologia cultural. Não penso que es<strong>se</strong> deva <strong>se</strong>r o pontode partida para a formação na pesquisa, mas é umhorizonte a <strong>se</strong>r apontado para os jovens pesquisadores.É preciso que eles o tenham como horizonte mas dêempequenos passos. Dar pequenos passos significa estudarmétodos, aprender diferentes delineamentos lógicos,refletir e experimentar formas possíveis de coletar dados,capacitar-<strong>se</strong> para entender o valor e os limites dosdiferentes tipos de análi<strong>se</strong>, confrontar o real com osconceitos verbais utilizados para expressá-lo.Preparar o psicólogo para trabalhar na área daeducação significa introduzi-lo no conhecimento dofenômeno educação e instrumentalizá-lo para trabalharem instituições, particularmente na escola, instrumentaliza-lopara entender o papel determinante dasinterações: adulto-criança, criança-criança, adulto-adulto,pais, funcionários, professores. <strong>Para</strong> trabalhar bem naárea da educação o psicólogo deve ter adquirido


210 Históriacompetências e habilidades para compreender e agirsobre as condições em que os comportamentos <strong>se</strong>constituem e <strong>se</strong> modificam. Assim <strong>se</strong>rá capaz depromover o de<strong>se</strong>nvolvimento e a aprendizagem. Essa éuma postura diametralmente oposta à produção dediagnósticos que cristalizam e estigmatizam os indivíduo<strong>se</strong> acabam por dificultar <strong>se</strong>não mesmo impedir <strong>sua</strong>evolução e crescimento psicológico. O psicólogoeducacional, <strong>ou</strong> escolar, ao qual nos referimos, tomacomo ponto de partida o reconhecimento das capacidadesdos educandos: o que eles já são, já sabem <strong>ou</strong> já podemfazer e ajuda-os a ir além. Jamais <strong>se</strong> apóia no que oeducando ainda não sabe <strong>ou</strong> ainda não é.Você mencion<strong>ou</strong> cursos noturnos. Penso que elesainda são o patinho feio de nosso sistema educacional.A demanda reprimida de jovens brasileiros que queremaceder ao ensino superior é enorme e crescente. Fazerum curso superior ainda é imenso privilégio. Um grandenumero de jovens de comunidades pobres que trabalhampara sustentar-<strong>se</strong>, quando acedem às instituições deensino superior só têm como opção dirigir-<strong>se</strong> a cursosnoturnos. Em muitos des<strong>se</strong>s cursos também <strong>se</strong> formampsicólogos para o trabalho em educação. Ali <strong>se</strong> encontramjovens com grandes potencialidades, precocementeamadurecidos para a vida adulta, com ricas experiênciasde vida. Não podemos simplesmente transpor para elesum conjunto de práticas pensadas para <strong>ou</strong>tra realidade.Conhecemos mal essa categoria de estudantes. Temosque exercitar nessa realidade o que sabemos sobreproduzir conhecimento para poder agir melhor, descrevere explorar o real, o que significa sobretudo <strong>ou</strong>vir os atoresdesta cena. Temos que de<strong>se</strong>nvolver formas de ensinoadequadas a essa realidade, explorar as possibilidades econtornar os limites: horas de estudo, bibliotecas,aquisição de livros, condições de estágio.Cruces: Que mudanças significativas você vêna atuação dos psicólogos que trabalham comeducação desde a <strong>sua</strong> volta para o Brasil até osdias de hoje?Maluf: A atuação de psicólogos na educação sofrede vícios já abundantemente explorados na literaturacrítica da área: atuam como técnicos <strong>se</strong>m conhecimentoteórico; abusam da psicometria que conhecem mal;patologizam dificuldades dos escolares; psicologizamquestões que são de caráter social, econômico <strong>ou</strong>cultural; não lidam adequadamente com o contextoescolar <strong>ou</strong> familiar, etc.É essa uma visão crítica, consolidada nos anos 80,que de<strong>se</strong>mpenh<strong>ou</strong> importante papel histórico, mas que hojesó reflete parcialmente a realidade. Falta-lhe dinamismotransformador na medida em que é externa e conduz àculpabilização das vítimas. Sim, porque muitos dosteóricos-críticos que integram a categoria dos formadoresde psicólogos contentam-<strong>se</strong> com análi<strong>se</strong>s externas ecristalizam o problema eximindo-<strong>se</strong> de estudar soluções.A atuação que está <strong>se</strong>ndo, com razão, criticada, nasceudos cursos de formação, foi ensinada e foi aprendida.Não penso que o problema esteja na Psicologia comociência, à qual alguns atribuem caráter ideológico denatureza simplista e reducionista. Já concordei, no passado,com esta análi<strong>se</strong>, porém hoje a considero equivocada.Ela transfere nossa responsabilidade para uma espéciede forças ocultas que atuariam mais além de nós mesmos,como <strong>se</strong> fôs<strong>se</strong>mos joguetes de forças sociais, <strong>se</strong>mnenhuma possibilidade de escolha, de decisão econ<strong>se</strong>qüentemente despidos de responsabilidade.Considero esta postura como gravemente equivocada,sobretudo na contemporaneidade em que apreocupação com a ética renasce face à necessidadede <strong>se</strong> resgatar a construção de um mundo mais humano.Se, como reconhecemos, profissionais de psicologiaaprenderam e utilizaram o aprendido para reforçarprivilégios e manter desigualdades numa sociedadeenormemente desigual, é tempo de resgatar nossos erro<strong>se</strong> produzir mudanças na formação. Antes de <strong>se</strong>r es<strong>se</strong>um problema científico é um problema de formação deconsciência social, de opção por valores humanizadores.Há que <strong>se</strong> distinguir o conhecimento em si e o uso doconhecimento. O conhecimento em si supõe, naPsicologia e na Psicologia Educacional, a exigência deatualizar-<strong>se</strong> no saber científico, basicamente em <strong>sua</strong>sduas grandes vertentes: por um lado os processos básico<strong>se</strong> <strong>sua</strong> influência no comportamento e por <strong>ou</strong>tro ainfluência da cultura, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, os determinantes socioculturaisdo comportamento. Entendo que o uso doconhecimento deve supor a ética e defendo uma visãode mundo humanizadora, o reconhecimento da diversidade,a luta contra as diferentes formas de discriminaçãosocial e de exclusão. Nas escolas isto deve significaque o conhecimento psicológico pode ajudar os professoresa enfrentar, no micro e face ao macro, o cotidianoda produção de <strong>se</strong>ntido de <strong>sua</strong> ação.<strong>Para</strong> alguns, cabe ao psicólogo escolar atuar tambémno âmbito do sociólogo, do economista, do político, doantropólogo, do filósofo. Meu ponto de vista é mais


História 211modesto. Penso que o psicólogo escolar pode ajudar oprofessor a lidar de modo mais eficaz com os processosde aprendizagem e de de<strong>se</strong>nvolvimento, levando <strong>se</strong>usalunos a aprender mais e melhor; pode conduzir o corpoescolar a conquistar para si uma vida mental maissaudável; pode agir para abrir eficazmente as portas daescola para as famílias e até mesmo para a comunidadelocal de modo que <strong>se</strong>jam de<strong>se</strong>nvolvidas ações conjunta<strong>se</strong>m benefício de todos; pode usar <strong>se</strong>u conhecimento paralevar os alunos a aprender melhor, mais além doindividualismo, usando técnicas de de<strong>se</strong>nvolvimentogrupal; pode identificar problemas e fazer o<strong>se</strong>ncaminhamentos necessários para que a atuação de<strong>ou</strong>tros profissionais possa completar a <strong>sua</strong>; pode trabalharcom a comunidade escolar técnicas apropriadas paraprevenir <strong>ou</strong> enfrentar mazelas contemporâneas como sãoas diversas formas de violência que atingem a escola,hábitos em consolidação de porte de armas, comércio econsumo de drogas. Cabe ao psicólogo sobretudoexplicitar comportamentos pro-sociais como asolidariedade, a cordialidade, a proteção ambiental, orespeito pela coisa pública. Quem melhor do que opsicólogo, particularmente o psicólogo na escola, paraensinar as pessoas a lidar melhor com o comportamentopróprio e alheio para viver melhor?Acredito que es<strong>se</strong> psicólogo já existe e atua em várioslugares em nosso pais. É hora de torna-lo mais visível ede apostar na formação des<strong>se</strong> novo psicólogo escolar.Cruces: E, pensando em mudanças, como vocêanalisa es<strong>se</strong> movimento de discussão e preparo denovas diretrizes curriculares em Psicologia? O quevocê poderia nos dizer sobre as diretrizes queestão <strong>se</strong>ndo analisadas para <strong>se</strong>rem votadas peloMEC? Que implicações você acredita que possamter sobre a formação e a atuação dos futurosprofissionais?Maluf: De fato, como todos sabemos, os Cursos deGraduação em Psicologia ainda não con<strong>se</strong>guiram teraprovadas e homologadas <strong>sua</strong>s diretrizes curriculares.Diferentemente de <strong>ou</strong>tras áreas do conhecimento, queatendendo à nova LDB já alcançaram o con<strong>se</strong>nso quelhes permitiu delinear o perfil de profissional que queremformar em <strong>se</strong>us cursos de graduação e as ba<strong>se</strong>s paraformá-lo através de diretrizes, a Psicologia, decorridos 8anos, ainda sustenta acalorados debates em torno daquestão. Seguindo os mesmos procedimentos utilizadoscom <strong>ou</strong>tras áreas do conhecimento, o MEC atribuiu auma comissão de especialistas em psicologia a tarefade elaborar as diretrizes curriculares que, <strong>se</strong>guindo anova legislação, deverão substituir as exigências do antigocurrículo mínimo, já ultrapassado face às característicasdos tempos atuais. Apesar das muitas consultas e debatesjá realizados, não <strong>se</strong> cheg<strong>ou</strong> ainda a um con<strong>se</strong>nsorazoável expresso pelas associações e sociedades quereúnem os psicólogos brasileiros, que têm <strong>se</strong> manifestadojunto ao CNE e junto ao MEC. Con<strong>se</strong>qüentemente,estamos ainda em compasso de espera <strong>ou</strong> em fa<strong>se</strong> dedebates, conforme <strong>se</strong> prefira entender o momento atual.De meu ponto de vista considero que é tempo deque a área <strong>se</strong> organize e <strong>se</strong> consolide em torno dasposições que <strong>se</strong> revelarem mais repre<strong>se</strong>ntativas damaioria. Não <strong>se</strong> deve esperar um con<strong>se</strong>nso total quando<strong>se</strong> adota procedimentos democráticos. Espera-<strong>se</strong> istosim a manifestação das várias posições e uma tomadade decisão que <strong>se</strong>ja repre<strong>se</strong>ntativa da área.Trata-<strong>se</strong> de formar o profissional no nível da graduaçãoe por essa razão considero fundamental a manifestaçãodos cursos de psicologia existentes. De meu ponto devista, a proposta apre<strong>se</strong>ntada ao CNE pela comissão deespecialistas e revisada em alguns pontos polêmicos apósparecer da relatora, preenche satisfatoriamente osrequisitos que <strong>se</strong> espera de diretrizes curriculares. Aproposta em meu entender é flexível, é atual, adere aoprincípio de uma formação generalista na graduação empsicologia, questão essa já exaustivamente discutida esobre a qual existe enorme con<strong>se</strong>nso na área. Aorecomendar que os cursos ofereçam aprofundamento emalgum domínio do conhecimento e da atuação profissional,a proposta visa criar condições para que o aluno saia dagraduação melhor preparado para atuar em algum domíniodentre os muitos que a psicologia possui. Penso que isto éimportante e de<strong>se</strong>jável, uma vez que os estudante<strong>se</strong>nfrentam um período longo de formação –cerca de 5anos- , com custos altos e diretos para eles mesmos namaioria dos casos, posto que freqüentam instituiçõesprivadas. É de <strong>se</strong> esperar que em muitos casos epossivelmente na maioria deles, a formação especializadasó ocorra muito mais tarde, <strong>ou</strong> mesmo não ocorra. Assim,ao salvaguardar a formação generalista mas garantir aomesmo tempo algum aprofundamento em campo deconhecimento e atuação a <strong>se</strong>r definido pelo próprio curso<strong>se</strong>gundo <strong>sua</strong>s possibilidades, estaremos mais próximos degarantir que o egresso pos<strong>sua</strong> competência e habilidadepara atuar imediatamente após um curso de formaçãoque já <strong>se</strong> estendeu por 5 anos.


212 HistóriaEu gostaria de acrescentar que a formação paraatuar na área clínica merece considerações aparte, pelacomplexidade dos riscos que comporta e levando emconsideração que os procedimentos atualmente emvigor em nosso país permitem que um jovem recémformadonum curso generalista obtenha licençaimediata junto aos Con<strong>se</strong>lhos profissionais e atue porsi só em um consultório particular. Esta me parece <strong>se</strong>ruma questão grave que ainda não foi objeto de análi<strong>se</strong>scondizentes com <strong>sua</strong> importância e con<strong>se</strong>qüências queimplica. Porém prefiro não discuti-la no âmbito destaconversa, pois creio que me alongaria mais do que oprevisto nesta entrevista. Limito-me então a agradecerpelo convite e oportunidade preciosa de me comunicarcom colegas e estudantes de psicologia através daRevista. Muito obrigada.


História 213PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: 50 ANOS DE ATIVIDADES 1 Geraldina Porto Witter 2O ciclo de vida profissional inclui etapas interligadasque influem umas nas <strong>ou</strong>tras: escolha da profissão,formação, atuação, preparo para apo<strong>se</strong>ntadoria eapo<strong>se</strong>ntadoria. Variáveis que influem numa etapa podempermanecer pre<strong>se</strong>ntes em todas as demais, como é, porexemplo o prazer de poder ajudar o <strong>ou</strong>tro a <strong>se</strong>de<strong>se</strong>nvolver <strong>ou</strong> da leitura. Outras são mais circunscritasa uma dada etapa como é o caso da influência doconteúdo específico de uma dada disciplina. As etapassão artifícios didáticos, de utilidade para a exposição, aanáli<strong>se</strong> <strong>ou</strong> o ensino, mas com variação de intensidade asvariáveis estão tão relacionadas entre si que é difícil,qua<strong>se</strong> impossível dizer que não estejam pre<strong>se</strong>ntes domomento que surgem no ciclo até o final do mesmo,para não dizer o final dos dias vividos. Além disso a vidapessoal não é um viver distinto da vida profissional, nãosão linhas paralelas, são linhas entrelaçadas como fiosde uma meada de linha. Estas influências estão pre<strong>se</strong>ntesna vida de qualquer profissional, formam o pano de fundode um evoluir que só <strong>se</strong> divide em etapas para facilitar aapre<strong>se</strong>ntação do complexo vivenciado de modo maislógico, <strong>se</strong>qüencial e <strong>se</strong>m múltiplos complicadores.Na apre<strong>se</strong>ntação que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue está subjacente ocomplexo destas variáveis para as quais não <strong>se</strong> estaráaqui chamando a atenção com a freqüência quemerecem. Entre elas podem <strong>se</strong>r lembradas pessoascomo avós, pais, amigos, colegas, professores de todosos níveis de escolaridade, esposo, filhos, diretores e<strong>ou</strong>tros como chefes, alunos, o próprio trabalho(especialmente de ensino e pesquisa) e as leituras.Quando <strong>se</strong> completa 50 anos de exercício profissional,trabalhando na Psicologia e na Educação parece <strong>se</strong>rum marco temporal adequado para <strong>se</strong> fazer um balançodo que foi realizado. Todavia, face ao espaço disponível<strong>se</strong>rá feita aqui uma apre<strong>se</strong>ntação de cunho maisquantitativo <strong>se</strong>m maiores avanços no significadoemocional que tiveram e <strong>se</strong>m adentrar nos prazeres,angústias e tristezas que povoam a vida profissional.A escolha da Educação como área de atuação foiqua<strong>se</strong> uma imposição materna, que temia ver a filhacasar e parar de estudar. Isto nunca ocorreria já quedesde os três <strong>ou</strong> quatro anos já havia aceito como naturala necessidade de aprender algo novo todos os dias(discurso e ação das avós). Mas a mãe (Custódia N.Porto) ao casar, com p<strong>ou</strong>co mais de 15 anos largara o<strong>se</strong>studos e isto <strong>se</strong>mpre foi uma nuvem em <strong>sua</strong> alegria deviver. Nuvem que ela afastava com muita leitura. Assim,por <strong>sua</strong> insistência e para <strong>sua</strong> tranqüilidade a filha foi<strong>se</strong>r normalista. Foi aí que encontr<strong>ou</strong> a Psicologia,conduzida pelas mãos de uma professora (MariaAparecida Ar<strong>ou</strong>ca) que sabia transmitir o conteúdo e oprazer que este conhecimento trazia, além disso, usavao saber psicológico muito bem em sala de aula. Não erauma produtora de conhecimento mas com criticidadeao transferir conhecimentos indicava a necessidade depesquisar. Assim a insistência da mãe, as<strong>se</strong>gur<strong>ou</strong> a duplaoportunidade: o prazer do ensinar e o encontro daPsicologia, como área do conhecimento tão rica e útilpara o <strong>se</strong>r humano.Formada professora normalista a Autora assumiu otrabalho, em agosto de 1953, tomando pos<strong>se</strong> de umacadeira (assim eram chamadas as vagas) na 3ª EscolaMista de Mogi das Cruzes. A experiência mostr<strong>ou</strong> anecessidade de dar continuidade aos estudos. Haviaproblemas, falta de recursos financeiros, universidadesó em São Paulo, filha com três anos, trabalho etc. Masnão são realmente barreiras quando <strong>se</strong> quer ir além e <strong>se</strong>encontra apoio na família e estímulo entre os amigos.Na USP a ênfa<strong>se</strong> em qua<strong>se</strong> todas as disciplina<strong>se</strong>ra o fazer ciência; <strong>se</strong>r auxiliar nas pesquisas dosprofessores; fazer pesquisas e ir às fontes originai<strong>se</strong>ram atividades comuns. Aprendia-<strong>se</strong> muito conteúdo,1Sínte<strong>se</strong> da apre<strong>se</strong>ntação feita no VI Congresso Brasileiro de Psicologia Escolar e Educacional, realizado em Salvador, Bahia, em abril de 20032Docente da UMC/PUC-Campinas


214 Históriamas criticamente também <strong>se</strong> discutia como o mesmofora gerado e <strong>sua</strong>s limitações. Acabava-<strong>se</strong> <strong>se</strong>mprecom a eterna e inevitável constatação que o universodesconhecido era imenso e só uma nesga eraconhecida, que após a pesquisa mais questõespairavam <strong>se</strong>m respostas do que <strong>se</strong> tinha con<strong>se</strong>guidodescobrir. Aos p<strong>ou</strong>cos isto perde o caráter defrustração para assumir o de propulsor na busca de<strong>se</strong> conhecer um p<strong>ou</strong>co mais. A pós-graduação torn<strong>ou</strong>isto mais marcante e mais premente a necessidadediária de busca de informação. D<strong>ou</strong>tor<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> emCiências em 1969 e obteve o título de livre docenteem Psicologia Escolar em 1977 na mesmaUniversidade (IPUSP).<strong>Para</strong>lelamente à formação, continu<strong>ou</strong> a vida comodocente no primário (hoje Fundamental), uma rápidavivência no ginasial e colegial (ensino médio) e, em<strong>se</strong>guida, ensino superior, primeiro em uma instituiçãoestadual isolada (Faculdade de Filosofia, Ciências eLetras de Rio Claro) depois na Universidade de SãoPaulo, na qual <strong>se</strong> apo<strong>se</strong>ntaria em 1983. Por umperíodo de dois anos (1970-1972) também atu<strong>ou</strong> emRibeirão no Curso de Psicologia que lá funciona, paraestabelecer uma ba<strong>se</strong> para a Psicologia Escolar. Em1977 começ<strong>ou</strong> a atuar na Pós-Graduação emEducação na Universidade Federal da <strong>Para</strong>íba e, aosp<strong>ou</strong>cos, também colabor<strong>ou</strong> em <strong>ou</strong>tros cursos. Apreocupação básica era formar recursos humanos,docentes pesquisadores para as regiões menosfavorecidas.Após a apo<strong>se</strong>ntadoria começ<strong>ou</strong> a trabalhar naEspecialização em Psicologia Escolar, recém criada naPUC-Campinas, como professor visitante e em 1985,após concurso, como docente da pós-graduação. Em1990 fez concurso para docente titular em Psicologia eao mesmo tempo em Biblioteconomia e Ciência daInformação já que também vinha atuando nesta área nareferida Universidade.Ao longo dos 50 anos, a Autora aprendeu muito,com muitos, professores, alunos, funcionários efamiliares. É devedora de todos que colaboraram paraque continuas<strong>se</strong> a <strong>se</strong>guir a solicitação da avó de estarciente de ter aprendido algo novo a cada dia. Tambémtem por certo que ajud<strong>ou</strong> a muitos caminhando comeles em parte de <strong>sua</strong>s trajetórias <strong>ou</strong> apenas cruzandocom eles por breves momentos. O balanço é de queestes contatos foram <strong>se</strong>mpre enriquecedores, mesmoquando doloridos, pois <strong>se</strong>mpre foi possível encontrar olado positivo, receber o que <strong>se</strong> necessitava e dar ao<strong>ou</strong>tro o apoio que esperava.Antes de apre<strong>se</strong>ntar alguns dados quantitativosrelacionados a esta trajetória cabe lembrar algunspontos: (1) resultam de uma formação da qual muitosparticiparam; (2) a inspiração e o estímulo veio tambémdo contato com muitos; (3) a in<strong>se</strong>rção em tópicosdiversos decorreu muitas vezes da necessidade derespeitar e de acompanhar a motivação de orientandos,tanto quanto da necessidade de pesquisa na área; (4)a preocupação subjacente predominante <strong>se</strong>mpre foiproduzir para as necessidades nacionais e de informaçãopara o profissional-pesquisador, <strong>ou</strong> mesmo o profissionalconsumidor brasileiro como forma de melhorar arealidade nacional; (5) os dados dizem respeito aoperíodo de início da profissão até março de 2003,incluindo o período de ensino fundamental e médio,quando só em agosto <strong>se</strong> completaria o ciclo de 50 ano<strong>se</strong> (6) de muitas atividades (como palestras e mesmomais recentemente apre<strong>se</strong>ntações de trabalhos emeventos, <strong>se</strong>m anais impressos) não tendo comprovantes<strong>ou</strong> registros não foram computadas.<strong>Para</strong> facilitar a contextualização da produção ao longoda carreira <strong>se</strong>gue a apre<strong>se</strong>ntação de um rol geral daexperiência de ensino da autora.Experiência de Ensino (níveis)1. Ensino Primário (1953-1962)3ª Escola MistaG.E. Braz Cubas2. Ensino SecundárioConcurso Público – 1961Dr. Washington Luiz (1965-1966)3. Ensino SuperiorAssistente – Cadeira de Psicologia e PsicologiaEducacional da FFCL de Rio Claro (1963-1965.Assistente – Cadeira de Psicologia e PsicologiaEducacional da FFCL da USP (1965-1969).Assistente D<strong>ou</strong>tor – Departamento de Psicologia daAprendizagem da USP (1969-1970).Assistente D<strong>ou</strong>tor – Departamento de Psicologia daAprendizagem, do De<strong>se</strong>nvolvimento e da Personalidadedo IP USP (1970-1977).Profª Regente da Disciplina Psicologia Escolar e


História 215Problemas de Aprendizagem da FFCCH da USPRibeirão Preto (1969-1972).Profª Orientadora do Curso de Pós-Graduação emLingüística da FFLCH da USP (1971-2002).Profª Orientadora do Curso de Pós-Graduação emPsicologia Escolar do IP USP (1970-2001).Profª Titular do Centro de Educação da UFPb (1977-1980).Profª Orientadora do Mestrado de Educação daUFPb (1978-1983).Profª Orientadora do Mestrado de Biblioteconomiada UFPb (1980-1985).Profª Orientadora do Mestrado de Psicologia daUFPb (1981-1985).Profª Orientadora do Mestrado de Biblioteconomiada PUC-Campinas (1988-1998).Profª Orientadora do Mestrado e D<strong>ou</strong>torado dePsicologia da PUC-Campinas (1985 até o pre<strong>se</strong>nte).Gestora do Curso de Psicologia da UMC (2000 atéo pre<strong>se</strong>nte.As tabelas a <strong>se</strong>guir apre<strong>se</strong>ntam uma sínte<strong>se</strong> quantitativada trajetória aqui considerada.Tabela 1: Orientações de trabalhos acadêmicos.Tipo de trabalhoFD<strong>ou</strong>torado 78Mestrado 147Especialização 64Iniciação Científica 8Total 297Orientação de trabalhos acadêmicos é uma atividademuito reforçadora pela oportunidade queen<strong>se</strong>ja de poder contribuir para o crescimento do <strong>ou</strong>troe ao mesmo tempo é uma situação em que <strong>se</strong> aprendemuito com o orientando, <strong>se</strong> vê a própria curiosidadecientífica estimulada. Orientação implica em trocasmuito ricas que vão, em muitos casos, além do conhecimentotécnico-científico, ocupa uma posição imparnas relações afetivas tanto interpessoais como dotrabalho em si mesmo.Associada às orientações estão a participação embancas e comissões examinadoras acadêmicas, em cujosbastidores e em <strong>sua</strong> ocorrência pública também <strong>se</strong> podecontar com trocas preciosas de experiência de vida quevão além da aprendizagem acadêmica. Esta atividadeaparece condensada na Tabela 2.Tabela 2: Participação em Bancas/Comissões Acadêmicas.Tipo de trabalhoFQualificação para Mestrado 326Mestrado 290D<strong>ou</strong>torado 142Qualificação para D<strong>ou</strong>torado 116TCC/IC 76Outras comissões de concursosacadêmicos 44Livre-docência 21Outras comissões acadêmicas 21Titular 12Adjunto/Associado 8Total 1.056Entre as várias formas de levar o conhecimentocientífico aos <strong>ou</strong>tros, integrantes <strong>ou</strong> não da comunidadeuniversitária está o discurso oral, que <strong>se</strong> concretiza emvários tipos e níveis distintos conforme a audiência. Éneste âmbito que muitas vezes são estabelecidas novasrelações entre as pessoas, <strong>se</strong> tem a oportunidade de <strong>se</strong>ntiras preocupações e as necessidades dos profissionais queestão atuando. A Tabela 3 apre<strong>se</strong>nta parte desta atuaçãoda Autora como responsável pela apre<strong>se</strong>ntação dediscurso técnico-científico em locais e para públicosdiversos. É aqui, especialmente no ensino hoje chamadode fundamental e médio (1º e 2º graus) que menoscomprovantes do realizado <strong>se</strong> tem acumulado, mastambém ocorre no ensino superior e em associações. Estedado tem importância para as agências avaliadoras decursos e para a avaliação do profissional. O que importamesmo é ter levado adiante a informação.Tabela 3: Palestras, Conferências, Comunicações, Painéis.AudiênciasFNacionais 272Cursos de Graduação 54Professores de 1º e 2º graus 36Cursos de Pós-Graduação 27Internacionais 26Docentes Universitários 12Total 427A publicação é <strong>ou</strong>tra forma de levar aos pares e àsociedade em geral o resultado do trabalho gerado pelo


216 Históriaprofissional. Ao longo dos 50 anos aqui enfocados estapreocupação não <strong>se</strong> fez pre<strong>se</strong>nte nos primeiros anos deformação e de atuação. Em parte isto decorre dascontingências educacionais, de trabalho e mesmo deveículos de divulgação científica então vigentes. Hojehá muito mais oportunidades e estímulo para a publicaçãodo que havia nos anos 60 e 70. O panorama mud<strong>ou</strong> paramelhor, embora não <strong>se</strong>ja inteiramente satisfatório e hajamuitos aspectos a merecer discussão mais ampla. Nesteúltimo tópico vale lembrar que embora a publicação e oimpacto de uma publicação em termos de citação noexterior <strong>se</strong>ja hipervalorizado hoje, a probalidade de <strong>sua</strong>influência no profissional que atua no Brasil e de mudançana realidade nacional acaba <strong>se</strong>ndo muito limitado. Háque <strong>se</strong> cuidar primeiro dos que aqui podem fazer adiferença, junto a todos que an<strong>se</strong>iam por aprender emelhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Eles é quepoderão fazer a diferença.A Tabela 4 apre<strong>se</strong>nta a contribuição da Autora emtermos de vários tipos de publicações.<strong>Os</strong> dados são indicativos de que à trajetória vividager<strong>ou</strong> uma produção aceitável, poderia <strong>se</strong>r maior <strong>se</strong><strong>ou</strong>tras fos<strong>se</strong>m as contingências de vida e <strong>ou</strong>tras decisõestives<strong>se</strong>m sido tomadas ao longo da mesma. Não foramaproveitadas todas as oportunidades surgidas nem foramcriadas chances, vivenci<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> o ocorrido. Mas ao ladodas relações pessoais, do atender ao chamado deorientandos, colegas e amigos tudo foi <strong>se</strong>mpre feito commuito cuidado, amor e disposição para doar-<strong>se</strong> e ajudaro <strong>ou</strong>tro ir além. Assim, pode-<strong>se</strong> dizer que há um<strong>se</strong>ntimento de dever cumprido, mas há também a<strong>se</strong>nsação da tarefa incompleta, de não ter cumprido atotalidade do que podia ter realizado. Mas valeu ter feitoo percurso e encontrado tantas pessoas.Tabela 4: Distribuição das Publicações.TipoFRe<strong>se</strong>nhas 262Artigos 137Resumos 123Livros – Capítulo de Livro 102Divulgação Científica 75Editoriais 58Prefácios 14Traduções 7Textos para 1º grau 4Total 782


Sugestões PráticasSELEÇÃO DE PROFESSORES: UMA EXPERIÊNCIA INOVADORALuciana P. de Avelar 1Rosana Lima de S<strong>ou</strong>za Dias Leitão 1Albertina Mitjáns Martínez 2A realização de concurso público é comumenteutilizada como forma de <strong>se</strong>lecionar os professores queingressam na Educação Infantil, Ensino Fundamental eEnsino Médio nas escolas do governo. Já as escolasparticulares optam por estar <strong>se</strong>lecionando <strong>se</strong>usprofessores por meio de indicação, entrevistas e às vezespelo acompanhamento do candidato, pelo professorregente, em sala de aula durante um período determinado.Robbins (1998) ob<strong>se</strong>rva que a meta do processo de<strong>se</strong>leção é identificar e indivíduos que tenham oconhecimento, as habilidades e capacidades de de<strong>se</strong>mpenharcom êxito <strong>sua</strong> função dentro da organização.Entretanto, para uma <strong>se</strong>leção eficaz deve-<strong>se</strong> não sóavaliar <strong>se</strong> es<strong>se</strong>s aspectos são consonantes com o cargo,mas também levar em conta o quanto os valoresindividuais dos candidatos <strong>se</strong> aproximam dos valores dainstituição. Uma <strong>ou</strong>tra combinação necessária é aconfluência entre os princípios teóricos que norteiam otrabalho da instituição e aqueles valorizados peloprofissional. Quando não há tal consonância há duaspossibilidades de ocorrência: o próprio candidato decidirnão mais participar do processo de <strong>se</strong>leção <strong>ou</strong> chegar a<strong>se</strong>r <strong>se</strong>lecionado mas não cumprir as exigências da escolarelacionadas à proposta educativa.Acreditando que o indivíduo deve <strong>se</strong>r avaliado deforma integral temos de<strong>se</strong>nvolvido um processo de<strong>se</strong>leção que contempla todos os aspectos supracitados.Desde o momento de <strong>sua</strong> implantação, janeiro de 2000,tal processo contempl<strong>ou</strong> várias etapas, cada uma voltadapara um aspecto diferente: conhecimentos, habilidades,características pessoais, crenças e valores pessoais.Apre<strong>se</strong>ntamos a <strong>se</strong>guir o relato da experiência comprocesso de <strong>se</strong>leção de professores realizado porpsicólogas que trabalham em uma instituição particularde ensino de Brasília. Essa atividade visa <strong>se</strong>lecionarprofessores com características consonantes com oprojeto pedagógica da instituição e também fornecersubsídios para a formação continuada dos professores.É importante ressaltar que o caráter inovador des<strong>se</strong>processo <strong>se</strong>letivo está exatamente na relação que eleestabelece com o projeto pedagógico, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, todas a<strong>se</strong>tapas estão relacionadas às te<strong>se</strong>s e princípiosnorteadores do projeto, assim como, no aproveitamentodas diversas informações obtidas sobre os professores<strong>se</strong>lecionados, as quais fornecem dados importantes paraa formação continuada dos mesmos.Características da Instituição de EnsinoA instituição onde es<strong>se</strong> trabalho é realizado é umaescola particular de Educação Infantil e EnsinoFundamental que funciona há quatro anos e possuiatualmente 42 professores e 400 alunos. Seu projetopedagógico tem como eixo teórico principal a abordagemhistórico-cultural do de<strong>se</strong>nvolvimento humano e, dentrodela, a linha teórica que tem de<strong>se</strong>nvolvido a concepçãoda subjetividade. As te<strong>se</strong>s que embasam o projeto fazemreferência à constituição social e única do sujeito, aocaráter ativo do sujeito, ao papel do <strong>ou</strong>tro no de<strong>se</strong>nvolvimentoe à unidade de cognição e afeto comodeterminantes no de<strong>se</strong>nvolvimento do indivíduo. <strong>Os</strong>princípios es<strong>se</strong>nciais des<strong>se</strong> projeto são: a formaçãointegral do indivíduo, o compromisso social, a relaçãoteoria-prática, a interdisciplinaridade, o ensino individualizadoe a comunicação entre os indivíduos comoprocesso intersubjetivo, dialógico.Apre<strong>se</strong>ntação das Etapas do Processo SeletivoO processo <strong>se</strong>letivo consta, ao todo, de cinco etapas,das quais a primeira é a análi<strong>se</strong> curricular. Após realizadoo recrutamento para buscar no mercado candidatos1Psicólogas.2Psicóloga e docente da Universidade de Brasília.


218potenciais, todos os currículos são analisados de formaa <strong>se</strong>lecionar dentre os candidatos aqueles que possuemas exigências mínimas necessárias ao cargo e melhoratendam às necessidades da escola.Na etapa <strong>se</strong>guinte busca-<strong>se</strong> avaliar os conhecimentosgerais dos candidatos na área da educação e <strong>sua</strong>sconcepções sobre o processo educativo. O objetivo éconhecer a visão do candidato em relação à educação eao processo de ensino-aprendizagem, verificar acapacidade de expressão de <strong>sua</strong>s idéias, a atualizaçãode <strong>se</strong>us conhecimentos sobre as políticas educacionaisvigentes e a <strong>sua</strong> possibilidade de formação. Ao avaliara concepção dos candidatos sobre os aspectos supracitados,verificamos o quanto ela <strong>se</strong> as<strong>se</strong>melha aosprincípios norteadores do projeto pedagógico, o que nospermite conhecer as reais possibilidades de formaçãodo professor dentro da concepção teórica da escola. Ocritério para avaliar o candidato é, então, a percepçãoque <strong>se</strong> pode ter da distância entre as <strong>sua</strong>s própriasconcepções e aquelas expressadas no projeto pedagógicoda instituição. O instrumento utilizado com esteobjetivo é uma variante de questionário contendo questõesrelativas à concepção do candidato sobre a educaçãoideal, <strong>sua</strong> função como educador, o aluno como sujeitoaprendiz, o papel da família na educação do aluno, dentre<strong>ou</strong>tras. O instrumento, mesmo que individual, é aplicadocoletivamente em uma <strong>se</strong>ssão de aproximadamente umahora e trinta minutos.A próxima etapa des<strong>se</strong> processo <strong>se</strong>letivo é arealização de uma dinâmica de grupo. Esta atividadetem como objetivo conhecer, ao menos de forma geral,algumas características pessoais dos candidatos quepossam ter relação com o ideal de professor almejado.É realizada <strong>se</strong>mpre uma atividade que implique naresolução de uma situação-problema. A duração médiadessa etapa é de duas horas. O candidato é ob<strong>se</strong>rvadodentro de um grupo e <strong>se</strong>us comportamentos sãoanalisados qualitativamente e anotados em fichaindividual, com ba<strong>se</strong> em critérios previamente definidos.Dentre os atributos ob<strong>se</strong>rvados estão: o nível deraciocínio, a forma de integração no grupo, as relaçõesinterpessoais, a comunicabilidade, a qualidade daargumentação, a natureza da liderança exercida, aflexibilidade para aceitar o novo, a iniciativa, acriticidade, etc.Na etapa <strong>se</strong>guinte, chamada de “Avaliação Didática”,avaliamos aspectos da competência didática de cadaum dos candidatos. No intuito de simular uma situaçãoSugestões Práticaspróxima à realidade do trabalho pedagógico, sã<strong>ou</strong>tilizadas duas formas alternativas de avaliação: umplanejamento escrito de uma aula <strong>se</strong>guido de <strong>sua</strong>exposição <strong>ou</strong> um planejamento escrito de uma <strong>se</strong>manade aula. A primeira é realizada com candidatos do<strong>se</strong>gmento de Ensino Fundamental e tem duração dequarenta minutos para o planejamento e cerca de trintaminutos para a exposição da aula. A <strong>se</strong>gunda é realizadacom candidatos da Educação Infantil e tem duração deduas horas. No primeiro caso, é dado um tema aoscandidatos para que eles preparem uma aula por escritoe a exponham aos avaliadores. São colocados àdisposição dos candidatos materiais para uso na aula eeles são livres para utilizá-los conforme <strong>sua</strong> preferência(papéis de diferentes tipos, revistas, livros didáticos,mapas, canetas hidrocor etc). No <strong>se</strong>gundo caso, oscandidatos de<strong>se</strong>nvolvem por escrito um planejamentopara uma <strong>se</strong>mana de aula, o qual é entregue àsavaliadoras para posterior análi<strong>se</strong>. São fornecidasinformações que contextualizam a realidade da escolaao candidato, além, é claro, do tema das aulas a <strong>se</strong>remplanejadas. Nessa etapa são avaliadas es<strong>se</strong>ncialmente:a capacidade de elaboração de um planejamento de aula,a coerência entre os objetivos propostos e os conteúdostratados, a estratégia didática utilizada, a organização,os recursos didáticos e a qualidade e a lógica daexposição <strong>ou</strong> da argumentação, no caso do planejamentoda <strong>se</strong>mana de aula.A última e decisiva etapa realizada é uma entrevista<strong>se</strong>mi-estruturada. Ela tem como objetivos:conhecer melhor o candidato e <strong>se</strong>u contexto de vida,esclarecer dúvidas surgidas durante as várias etapasda <strong>se</strong>leção, obter respostas para as hipóte<strong>se</strong>s levantadasacerca do candidato durante o processo,explorar a <strong>sua</strong> disposição para a aprendizagem, pensandona formação continuada de professores, efornecer feedback sobre <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>mpenho ao longodo processo <strong>se</strong>letivo. São ainda contextualizadas algumassituações de trabalho para que o candidato relatecomo agiria frente a elas, visando explorar <strong>se</strong>uposicionamento perante um conjunto de questõeséticas no ambiente de trabalho.É importante ressaltar que para avaliar os conhecimentos,habilidades e características pessoais doscandidatos é formada uma equipe multidisciplinarcujos membros participam como avaliadores na<strong>se</strong>tapas da <strong>se</strong>leção cujos conhecimentos e habilidadessão específicos de <strong>sua</strong> área de atuação.


Sugestões Práticas 219Fechamento do Processo SeletivoApós a escolha dos professores que comporão oquadro da escola é fornecido o parecer final do processo<strong>se</strong>letivo aos demais candidatos. Neste momento aspsicólogas colocam-<strong>se</strong> à disposição para comentar osaspectos que foram relevantes para a tomada de decisão.Isso é feito pessoalmente e a pedido do candidato.Terminado o processo <strong>se</strong>letivo, o dossiê de cadacandidato é cuidadosamente analisado de forma quepossamos identificar em quais aspectos a escola precisaformar o professor para que ele atenda às exigênciasdo projeto pedagógico. Portanto, como já mencionado,o processo <strong>se</strong>letivo constitui um importante ponto departida para o delineamento da formação continuadados professores que ingressam na instituição.Ao longo dos processos <strong>se</strong>letivos realizados pode<strong>se</strong>dizer que obtivemos bons resultados, pois dentre osvinte e três professores <strong>se</strong>lecionados, vinte mostraram<strong>se</strong>r boas escolhas. Ainda assim alguns deles têmdificuldade para realizar o trabalho pedagógico deacordo com o projeto da escola. Isso nos mostra quehá uma grande dificuldade em encontrar profissionaisno mercado que trabalhem com a abordagem teóricae as concepções educativas da escola e a necessidadede <strong>se</strong> investir em novos e melhores mecanismos deformação continuada.REFERÊNCIARobbins, S. T (1998). Políticas e práticas de recursos humanos.Comportamento Organizacional. Rio de Janeiro: LTC.


InformativoNOTÍCIAS BIBLIOGRÁFICASAlmeida, S. F. C. (Org.). (2003). Psicologia Escolar: ética ecompetências na formação e atuação profissional.Campinas: Alínea, 184 p. Participaram do livro váriosautores com longa vivência na área. Trata de temasdiversos como história, formação e atuação.Barreto, M. F. M. (Org.). (2003). Dinâmica de Grupo: história,prática e vivencias. Campinas: Alínea, 135 p. O livro foiescrito pela organizadora e Lilian A. de Lima e Isabel C.D. Bariani. Como o título bem indica trata da história, doensino-aprendizagem da dinâmica de grupo, da relaçãodesta última como o psicodrama, das relaçõesinterpessoais, além disso apre<strong>se</strong>nta vários jogos grupaismuito úteis quer como lazer, quer como técnica de atuaçãoprofissional <strong>ou</strong> ainda para atividade de lazer.Bragotto, D. (2003). Escola de Poetas - em busca do cidadãocriativo. Campinas: Komedi, 168 p. Enfoca ode<strong>se</strong>nvolvimento do <strong>se</strong>r criativo, com ênfa<strong>se</strong> nacriatividade verbal, mais especificamente da poesia.Discute o conceito de criatividade, o ambiente criativo, oprocesso de criação.Dias, R. 2003. Cultura Organizacional. Campinas: Alínea, 151p. É uma obra didática sobre cultura organizacional, emnível introdutório, bibliografia pobre, mas útil para quem<strong>se</strong> inicia no momento e para psicólogos e diretores.Gusmão, N. M. M. 2003. Infância e velhice: pesquisa deidéias. Campinas: Alínea, 157 p. Trata-<strong>se</strong> de mais umlivro da coleção Velhice e Sociedade, no qual aorganizadora reuniu textos de vários autore<strong>se</strong>nfocando na primeira parte as relações infância,velhice e educação. Na parte <strong>se</strong>guinte trata dasimagens envolvendo infância e velhice e finaliza comum trabalho específico dos velhos como contadoresde histórias em Angola.Peterson, S. (ed.) (2003). Untangling some knots in K-8writing instrucion. Newark: IRA, viii + 139 p. Umgrupo de estudiosos do processo envolvido na escritatrata do ensino desta competência, do trabalho emgrupo, da concepção da escrita, da escrita na <strong>se</strong>gundalíngua, da avaliação, das atividades extra-clas<strong>se</strong>, doprazer encontrado na poesia e em <strong>ou</strong>tras alegrias. Asanáli<strong>se</strong>s e sugestões são úteis a todos os quetrabalham na área.Rosas, P. (2003). Papéis avulsos sobre Paulo Freire, 1. Recife.UFPE, 164 p. Profundo admirador de Paulo Freire, o Autoraglutina reunir no livro textos publicados em <strong>ou</strong>troslugares, notadamente em períodicos e jornais, muito úteispara educadores e psicólogos educacionais. Enfoca atrajetória de vida, o alfabetizador e o educador o Centrode estudos e pesquisa a ele dedicado.


Informativo 223INFORMESAbril/2004 - dias 1 a 47 th EUROPEAN CONFERENCE ON PSYCHOLOGICAL ASSESSMENTLocation: Malaga, SPAINContato: Antonio Godoy, Facultad de Psicologia, Universidad de Malaga, 29071 Malaga. (SPAIN); F: (34)952 13 25 32; Fax (34) 95213 11 00E-mail: godoy@uma.es; URL: http://www.uma.es/petra/eapa2004/index2.htmlMaio/2004 – dias 5 a 8XIV BIENNIAL INTERNATIONAL CONFERENCE ON INFANT STUDIESLocal: Chicago, Illinois, USAURL: http://sheu-hp.psy.depaul.edu/~gmichel/isis/home.htmlMaio/2004 – dias 27 a 3016 th ANNUAL CONVENTION OF THE AMERICAN PSYCHOLOGICAL SOCIETYLocal: Chicago, Illinois, USAContato: mweiner@aps.washington.dc.us; URL: convention@aps.washington.dc.usJunho/2004 – dias 3 a 5MEETINGS OF THE JEAN PIAGET SOCIETYLocal: Toronto, Ontario, CANADAURL: www.piaget.orgJunho/2004 – dias 10 a 13III CONGRESSO MULTIDISCIPLINAR DE NEUROLOGIA E APRENDIZAGEMLocal: Poços de Caldas-MGOrganização: Sociedade Brasileira de NeuropsicologiaData para envio de trabalhos: 5 de maio de 2004Informações nos sites: www.ribeirodovalle.com.br e www.sbnp.com.brJulho/2004 - dias 27 a 3127 th ANNUAL COLLOQUIUM OF THE INTERNATIONAL SCHOOL PSYCHOLOGYASSOCIATION (ISPA)Local: Exeter, EnglandURL: www.ispaweb.orgJulho/2004 – dias 28 a 1 de agosto112 th ANNUAL CONVENTION OF THE AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA)Local: Honolulu, Hawaii, USAContato: Convention Office, APA, 750 First Street NE, Washington DC 20002-4242 USATel: +1-202-336-5500; URL: www.apa.org/convention


224InformativoAgosto/2004 – dias 8 a 13XXVIII INTERNATIONAL CONGRESS OF PSYCHOLOGYLocal: Beijing, CHINAContato: XiaoLan FU, Deputy Director, Committee for International Cooperation, Chine<strong>se</strong> Psychological Society,Institute of Psychology, Chine<strong>se</strong> Academy of Sciences, P.O. Box 1603, Beijing 100101, ChinaTel: +86-10-6202-2071; Fax: +86-10-6202-2070; URL: www.icp2004.psych.ac.cnSetembro/2004 – dias 15 a 18X CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: FORMAS ECONTEXTOSUniversidade do Minho - Campus de GualtarOrganização: Departamento de Psicologia, Universidade do MinhoInscrições e informações:X Conferência de Avaliação Psicológica, Departamento de Psicologia, Instituto de Educação e Psicologia,Universidade do Minho, 4710 – Braga/Portugal.Datas para envio de trabalhos: 31 de março de 2004E-mail: leandro@iep.uminho.pt <strong>ou</strong> mgoncalves@iep.uminho.pt


Informativo 225Forma de Apre<strong>se</strong>ntação dos ManuscritosPsicologia Escolar e Educacional adota as normas da APA (4 ª edição, 1994), exceto em situaçõe<strong>se</strong>specíficas em que há conflito com a necessidade de <strong>se</strong> as<strong>se</strong>gurar o cumprimento da revisão cega por pares,regras do uso da língua portuguesa, normas gerais da ABNT, procedimentos internos da revista, inclusive característicasde infra-estrutura operacional. A omissão de informação no detalhamento que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue implica em queprevaleça a orientação da APA. <strong>Os</strong> manuscritos devem <strong>se</strong>r redigidos em português, espanhol, inglês e francêsnas <strong>se</strong>guintes categorias:1. Artigos – trabalhos originais teóricos, de revisão de literatura e de relatos de pesquisa (até 25 laudas);2. Comunicação de Pesquisa – relatos originais sucintos de pesquisas realizadas (até 7 laudas);3. Re<strong>se</strong>nhas – apre<strong>se</strong>ntação e análi<strong>se</strong> de livros publicados na área nos últimos dois anos (até 5 laudas)4. História – reimpressão <strong>ou</strong> impressão de trabalhos <strong>ou</strong> documentos de difícil acesso relevantes para apesquisa e a pre<strong>se</strong>rvação da história da Psicologia Escolar; entrevistas com personagens relevantes da área etrabalhos originais sobre esta história;5. Sugestões Práticas – apre<strong>se</strong>ntação de procedimentos, tecnologias, propostas de trabalhos úteis paraa solução de problemas psicoeducacionais <strong>ou</strong> para a atuação do psicólogo escolar, de vivência do autor denovos instrumentos e de <strong>ou</strong>tras sugestões relevantes para a área (até 5 laudas);6. Registro Informativo – dados sobre eventos, publicações na área, assuntos diversos de interes<strong>se</strong> depsicólogos escolares e educacionais (até 2 laudas);7. Cartas dos leitores – inclui cópias de cartas, <strong>ou</strong> parte de cartas de leitores à direção da revista e aos<strong>se</strong>us autores, bem como respostas a eles.<strong>Os</strong> manuscritos originais deverão <strong>se</strong>r encaminhados em quatro vias impressas em papel e uma em disquete,digitadas em espaço duplo, em fonte tipo Times New Roman, tamanho 12, não excedendo o número de laudasda categoria em que o trabalho <strong>se</strong> in<strong>se</strong>re, paginado desde a folha de rosto personalizada, a qual receberánúmero de página 1. A página deverá <strong>se</strong>r tamanho A4, com formatação de margens superior e inferior (2,5 cm),esquerda e direita (3 cm).Em caso de reformulação, a nova versão deve <strong>se</strong>r encaminhada em três vias em papel e uma via noformato de disquete, <strong>se</strong>ndo que a formatação de texto e de página deve obedecer às mesmas característicasindicadas para a primeira versão. Todo e qualquer encaminhamento à revista deve <strong>se</strong>r acompanhado de cartaassinada pelos autores, na qual deve estar explicitada a intenção de submissão <strong>ou</strong> re-submissão do trabalho àpublicação. A apre<strong>se</strong>ntação dos trabalhos deve <strong>se</strong>guir a <strong>se</strong>guinte ordem:1. Folha de rosto despersonalizada contendo apenas:1.1. Título pleno em português, não devendo exceder 12 palavras.


226Informativo1.2. Sugestão de título abreviado para cabeçalho, não devendo exceder 4 palavras.1.3. Título pleno em inglês, compatível com o título em português.2. Folha de rosto personalizada contendo:2.1. Título pleno em português.2.2. Sugestão de título abreviado.2.3. Título pleno em inglês.2.4. Nome de cada autor, <strong>se</strong>guido por afiliação institucional por ocasião da submissão do trabalho.2.5. Indicação do autor a quem o leitor do artigo deve enviar correspondência, <strong>se</strong>guido de endereçocompleto, de acordo com as normas do correio.2.6. Indicação de endereço para correspondência com o editor sobre a tramitação do manuscrito, incluindofax, telefone e, <strong>se</strong> disponível, endereço eletrônico.2.7. Se necessário, indicação de atualização de afiliação institucional.2.8. Se apropriado, parágrafo reconhecendo apoio financeiro, colaboração de colegas e técnicos, origemdo trabalho (por exemplo, anteriormente apre<strong>se</strong>ntado em evento, derivado de te<strong>se</strong> <strong>ou</strong> dis<strong>se</strong>rtação, coleta dedados efetuada em instituição distinta daquela informada no item 2.4), e <strong>ou</strong>tros fatos de divulgação eticamentenecessária.3. Folha contendo Resumo, em português.O resumo deve ter o máximo de 150 palavras para trabalhos na categoria de Artigos. Ao resumodevem-<strong>se</strong> <strong>se</strong>guir de 3 a 5 palavras-chave para fins de indexação do trabalho. Devem <strong>se</strong>r escolhidas palavras queclassifiquem o trabalho com precisão adequada, que permitam que ele <strong>se</strong>ja recuperado com trabalhos <strong>se</strong>melhantes,e que possivelmente <strong>se</strong>riam evocadas por um pesquisador efetuando levantamento bibliográfico.No caso de relato de pesquisa, o resumo deve incluir: descrição sumária do problema investigado, característicaspertinentes da amostra, método utilizado para a coleta de dados, resultados e conclusões, <strong>sua</strong>s implicações<strong>ou</strong> aplicações.O resumo de uma revisão crítica <strong>ou</strong> de um estudo teórico deve incluir: tópico tratado (em uma fra<strong>se</strong>),objetivo, te<strong>se</strong> <strong>ou</strong> construto sob análi<strong>se</strong> <strong>ou</strong> organizador do estudo, fontes usadas (p. ex. ob<strong>se</strong>rvação feita peloautor, literatura publicada) e conclusões.4. Folha contendo Abstract, em inglês, compatível com o texto do resumo.O Abstract deve obedecer às mesmas especificações para a versão em português, <strong>se</strong>guido de key words,compatíveis com as palavras-chave.5. Texto propriamente dito.Em todas as categorias de trabalho original, o texto deve ter uma organização de reconhecimento fácil,sinalizada por um sistema de títulos e subtítulos que reflitam esta organização. No caso de relatos de pesquisa otexto deverá, obrigatoriamente, apre<strong>se</strong>ntar: introdução, metodologia, resultados e discussão. As notas não


Informativo 227bibliográficas deverão <strong>se</strong>r reduzidas a um mínimo e colocadas ao pé das páginas, ordenadas por algarismosarábicos que deverão aparecer imediatamente após o <strong>se</strong>gmento de texto ao qual <strong>se</strong> refere a nota. <strong>Os</strong> locaissugeridos para in<strong>se</strong>rção de figuras e tabelas deverão <strong>se</strong>r indicados no texto. As citações de autores deverão <strong>se</strong>rfeitas de acordo com as normas da APA, exemplificadas ao fim deste texto. No caso de transcrição na íntegrade um texto, a transcrição deve <strong>se</strong>r delimitada por aspas e a citação do autor <strong>se</strong>guida do número da páginacitada. Uma citação literal com 40 <strong>ou</strong> mais palavras deve <strong>se</strong>r apre<strong>se</strong>ntada em bloco próprio, começando emnova linha, com recuo de 5 espaços da margem, na mesma posição de um novo parágrafo. O tamanho da fontedeve <strong>se</strong>r 12, como no restante do texto. Todas as citações em itálico deverão vir sublinhadas e não em itálico.6. Referências, ordenadas de acordo com as regras gerais que <strong>se</strong> <strong>se</strong>guem. Trabalhos de autoria única edo mesmo autor são ordenadas por ano de publicação, a mais antiga primeiro. Trabalhos de autoria únicaprecedem trabalhos de autoria múltipla, quando o sobrenome é o mesmo. Trabalhos em que o primeiro autor éo mesmo, mas co-autores diferem são ordenados por sobrenome dos co-autores. Trabalhos com a mesmaautoria múltipla são ordenados por data, o mais antigo primeiro. Trabalhos com a mesma autoria e a mesma datasão ordenados alfabeticamente pelo título, desconsiderando a primeira palavra <strong>se</strong> for artigo <strong>ou</strong> pronome, excetoquando o próprio título contiver indicação de ordem; o ano é imediatamente <strong>se</strong>guido de letras minúsculas.Quando repetido, o nome do autor não deve <strong>se</strong>r substituído por travessão <strong>ou</strong> <strong>ou</strong>tros sinais. A formatação dalista de referências deve <strong>se</strong>r apropriada à tarefa de revisão e de editoração – além de espaço duplo e tamanhode fonte 12, parágrafo normal com recuo apenas na primeira linha, <strong>se</strong>m deslocamento das margens; os grifosdevem <strong>se</strong>r indicados por um traço sob a palavra (p. ex., sublinha). A formatação dos parágrafos com recuo edos grifos em itálico é re<strong>se</strong>rvada para a fa<strong>se</strong> final de editoração do artigo.7. Anexos, apenas quando contiverem informação original importante, <strong>ou</strong> destacamento indispensávelpara a compreensão de alguma <strong>se</strong>ção do trabalho. Recomenda-<strong>se</strong> evitar anexos.8. Figuras, incluindo legenda, uma por página em papel, ao término do trabalho. <strong>Para</strong> as<strong>se</strong>gurar qualidadede reprodução as figuras contendo de<strong>se</strong>nhos deverão <strong>se</strong>r encaminhadas em qualidade para fotografia; as figurascontendo gráficos não poderão estar impressas em impressora matricial. Como a versão publicada não poderáexceder a largura de 8,3 cm para figuras simples, e de 17,5 cm para figuras complexas, o autor deverá cuidarpara que as legendas mantenham qualidade de leitura, caso redução <strong>se</strong>ja necessária.9. Tabelas, incluindo título e notas, uma por página em papel e por arquivo de computador. Na publicaçãoimpressa, a tabela não poderá exceder 17,5 cm de largura x 23,7 cm de comprimento. Ao prepará-las, oautor deverá limitar <strong>sua</strong> largura a 60 caracteres, para tabelas simples a ocupar uma coluna impressa, incluindo 3caracteres de espaço entre colunas da tabela, e limitar a 125 caracteres para tabelas complexas a ocupar duascolunas impressas. O comprimento da tabela não deve exceder 55 linhas, incluindo título e rodapé(s). <strong>Para</strong><strong>ou</strong>tros detalhamentos, especialmente em casos anômalos, o manual da APA deve <strong>se</strong>r consultado.


228InformativoTipos Comuns de Citação no TextoCitação de artigo de autoria múltipla1. Dois autoresO sobrenome dos autores é explicitado em todas as citações, usando e <strong>ou</strong> & conforme abaixo:“ A revisão realizada por Guzzo e Witter (1987)” mas “a relação do psicólogo-escola pública foi descritacom ba<strong>se</strong> num estudo exploratório na região de Campinas” (Guzzo & Witter, 1987)”2. De três a cinco autoresO sobrenome de todos os autores é explicitado na primeira citação, como acima. Da <strong>se</strong>gunda citação emdiante só o sobrenome do primeiro autor é explicitado, <strong>se</strong>guido de “e cols.” e o ano, <strong>se</strong> for a primeira citação deuma referência dentro de um mesmo parágrafo:Vendramini, Silva e Cazorla (2000) verificaram que [primeira citação no texto]Vendramini e cols. (2000) verificaram que [citação sub<strong>se</strong>qüente, primeira no parágrafo]Vendramini e cols. verificaram [omita o ano em citações sub<strong>se</strong>qüentes dentro de um mesmo parágrafo]Na <strong>se</strong>ção de Referências todos os nomes são relacionados.3. Seis <strong>ou</strong> mais autoresNo texto, desde a primeira citação, só o sobrenome do primeiro autor é mencionado, <strong>se</strong>guido de “ecols.”, exceto <strong>se</strong> es<strong>se</strong> formato gerar ambigüidade, caso em que a mesma solução indicada no item anterior deve<strong>se</strong>r utilizada:Primi e cols. (2001).Na <strong>se</strong>ção de referências, todos os nomes são relacionados.Citações de trabalho discutido em uma fonte <strong>se</strong>cundáriaO trabalho usa como fonte um trabalho discutido em <strong>ou</strong>tro, <strong>se</strong>m que o trabalho original tenha sido lido(por exemplo, um estudo de Taylor, citado por Santos, 1990). No texto, u<strong>se</strong> a <strong>se</strong>guinte citação:Taylor (conforme citado por Santos, 1990) acrescenta que a avaliação da compreensão em leitura... <strong>ou</strong>Taylor (apud Santos, 1990) acrescenta que a avaliação da compreensão em leituraNa <strong>se</strong>ção de Referências informe apenas a fonte <strong>se</strong>cundária, no caso Santos, usando o formato apropriado.Exemplos de Tipos Comuns de Referência1. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado em congresso, mas não-publicadoSerpa, M.N.F., & Santos, A.A.A. (1997, <strong>ou</strong>tubro). Implantação e primeiro ano de funcionamento do


Informativo 229Serviço de Orientação ao Estudante. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado no XI Seminário Nacional das UniversidadesBrasileiras, Guarulhos - São Paulo.2. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado em congresso com resumo publicado em publicação <strong>se</strong>riada regularTratar como publicação em periódico, acrescentando logo após o título a indicação de que <strong>se</strong> trata deresumo.Silva, A.A., & Engelmann, A. (1988). Teste de eficácia de um curso para melhorar a capacidade de julgamentoscorretos de expressões faciais de emoções [Resumo]. Ciência e Cultura, 40, (7, Suplemento), 927.3. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado em congresso com resumo publicado em publicação especialTratar como publicação em livro, informando sobre o evento de acordo com as informações disponívei<strong>se</strong>m capa.Todorov, J.C., S<strong>ou</strong>za, D.G., & Bori, C.M. (1992). Escolha e decisão: A teoria da maximização momentânea[Resumo]. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Resumos de comunicações científicas, XXIIReunião Anual de Psicologia (p. 66). Ribeirão Preto: SBP.Witter, G.P. (1985). Quem é o psicólogo escolar: Sua atuação prática. [Resumo]. Em Sociedade Brasileirade Psicologia (org.), XVII Reunião Anual de Psicologia, Resumos (p. 261). Ribeirão Preto: SBP.4. Te<strong>se</strong>s <strong>ou</strong> dis<strong>se</strong>rtações não-publicadasPolydoro, S.A.J. (2001). O trancamento de matrícula na trajetória acadêmica do universitário:Condições de saída e de retorno à instituição. Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>torado, Universidade Estadual de Campinas,Campinas - SP.5. LivrosSolé, I. (1998). Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas.6. Capítulo de livro.Anderson, R.C., & Pearson, P.D. (1984). A schema-theoretic view of basic proces<strong>se</strong>s in readingcomprehension. Em P.D. Pearson, R. Barr, M.L. Kamil & P. Mo<strong>se</strong>nthal (Orgs.), Handbook of reading re<strong>se</strong>arch(vol. 1, pp 251-291). New York: Longman.Pasquali, L. (1996). Teoria da resposta ao item - IRT: uma introdução Em L. Pasquali (Org.), Teoria emétodos de medida em ciências do comportamento (pp. 173-195). Brasília, INEP.7. Livro traduzido, em língua portuguesaSalvador, C.C. (1994). Aprendizagem escolar e construção de conhecimento. (E. O. Dihel, Trad.)Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1990)Se a tradução em língua portuguesa de um trabalho em <strong>ou</strong>tra língua é usada como fonte, citar a traduçãoem português e indicar ano de publicação do trabalho original.


230 HistóriaNo texto, citar o ano da publicação original e o ano da tradução: (Salvador, 1990/1994).8. Artigo em periódico científicoKintsch, W. (1994). Text comprehension, memory, and learning American Psychologist, 49, (4), 294-303.9. Obra no preloNão forneça ano, volume <strong>ou</strong> número de páginas até que o artigo esteja publicado. Respeitada a ordem denomes, é a ultima referência do autor.Sonawat, R. (no prelo). Families in India. Psicologia: Teoria e Pesquisa.10. Autoria institucionalAmerican Psychiatric Association (1988). DSM-III-R, Diagnostic and statistical manual of mentaldisorder (3 a ed. revisada). Washington, DC: Autor.A remessa de manuscritos para publicação, bem como toda a correspondência de <strong>se</strong>guimento que <strong>se</strong>fizer necessária, deve enviada para a Revista Psicologia Escolar e Educacional, conforme endereço abaixo:ABRAPEEAv. John Boyd Dunlop, s/nCampus II da PUC-CampinasPrédio da Psicologia Clínica.13059-900 – Campinas/SPe-mail: revista@abrapee.psc.brProcedimentos de submissão e avaliação dos manuscritos<strong>Os</strong> manuscritos que <strong>se</strong> enquadrarem nas modalidades de trabalho especificadas acima passarão pelo<strong>se</strong>guinte procedimento:1.Encaminhamento para emissão de parecer a membros do Corpo Editorial da revista e/<strong>ou</strong> consultoresad hoc.2.Recepção dos pareceres, com recomendação para aceitação (com <strong>ou</strong> <strong>se</strong>m modificações) <strong>ou</strong> rejeição.No caso de aceitação com modificações, os autores <strong>se</strong>rão notificados com a maior brevidade possível dassugestões (cópias dos pareceres <strong>se</strong>rão enviados aos autores, exceto quando h<strong>ou</strong>ver restrição expressa porparte do consultor).3.No caso de aceitação para publicação, o Con<strong>se</strong>lho Editorial re<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong> o direito de introduzir pequenasalterações para efeito de padronização conforme os parâmetros editoriais da Revista.


História 2314.O processo de avaliação utiliza o sistema de revisão cega por pares, pre<strong>se</strong>rvando a identidade dosautores e consultores.5.A decisão final acerca da publicação <strong>ou</strong> não do manuscrito é <strong>se</strong>mpre do Con<strong>se</strong>lho Editorial.Direitos autorais<strong>Os</strong> direitos autorais das matérias publicadas são da Revista Psicologia Escolar e Educacional. Areprodução total <strong>ou</strong> parcial (mais de 500 palavras do texto) requererá autorização por escrito do Editor.O autor principal da matéria receberá três exemplares da edição em que esta foi publicada. <strong>Os</strong> originaisnão-publicados não <strong>se</strong>rão devolvidos.


FORMULÁRIO PARA PAGAMENTO DA ANUIDADE 2003Nome: _________________________________________________________________________________________Forma de pagamento:( ) Cheque nº__________________________Banco nº__________________Data ________/________/_______VALOR: R$ ___________________________________( ) Depósito em conta bancária: Banco Itaú - ag. 1025 CC: 04716-6 - VALOR: R$ ______________________(enviar cópia do recibo do depósito com esta ficha).Valor da <strong>anuidade</strong> 2003 (incluindo revistas)(valor para pagamento até 30/4/2003)R$ 70,00 (profissionais)R$ 35,00 (estudantes de graduação e pós-graduação – enviar xerox de documento de comprovação)(valor para para pagamento após 30/4/2003)R$ 100,00 (profissionais)R$ 50,00 (estudantes de graduação e pós-graduação)Data _______/________/________ assinatura sócio ___________________________________________ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _Por favor, atualize os dados abaixo:Endereço: ______________________________________________________Bairro:__________________________Cep:_________________________Cidade:____________________________________________UF:_____________Tel.: (_____) ____________________________________Fax:(_____) _____________________________________CRP nº: ___________________________________________ (para atualização do cadastro)E-mail: ______________________________________________________________________(incluir <strong>ou</strong> atualizar)(PARA USO DA ABRAPEE)————————————————————————————————————————————(Devolveremos o recibo após carimbo e assinatura da Secretaria da ABRAPEE)ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONALCNPJ 66 068 818 / 0001- 54RECIBO DA ANUIDADE DE 2003Recebemos de ____________________________________________________________CODAB_______________o valor de R$______________________________________________________________________________________________,referente à <strong>anuidade</strong> de 2003.Campinas, ________de ______________________ de 2003.Tes<strong>ou</strong>raria da ABRAPEEENDEREÇO DA ABRAPEE: Rua Marechal Deodoro, 1019 Campinas/SP Fone: (19) 9127 9566 Site: http://www.abrapee.psc.brFale conosco: abrapee@abrapee.psc.br


ALGUNS TÍTULOS DA CASA DO PSICÓLOGOTítuloAutor/OrganizadorEducação, PedagogiaCinco Estudos de Educação MoralMacedo, Lino de (Org.)Computador no Ensino e a Limitação da ConsciênciaCrochik, Jo<strong>se</strong> LeonCrianças de Clas<strong>se</strong> EspecialMachado, AdrianaCrianças Querem Saber, e Agora?, AsCosta, MoacirDifusão Das Idéias de Piaget No Brasil, AVasconcelos, Mario SérgioEncontros com Sara PaínParente, Sonia MariaEnsaios ConstrutivistasMacedo, Lino deEra Assim ... Agora NãoScarpa, ReginaÉtica e Valores: Métodos para um Ensino TransversalPuig, Jo<strong>se</strong>p MariaFormas Elementares da Dialética, AsPiaget, JeanGuia de Orientação SexualGtpos – Abia – EcosHistórias de Indisciplina EscolarCíntia Copit FrellerIntrodução à Psicologia Escolar Patto, Maria Helena S.Jean Piaget Sobre a PedagogiaParrat, SílviaOficina Criativa e PsicopedagogiaAllessandrini, CristinaPelos Caminhos da Ignorância e do ConhecimentoParente, Sonia MariaProfessores e Alunos – Problema: um círculo viciosoMantovanini, Maria CristinaProdução do Fracasso Escolar, AMaria Helena S. PattoPrograma de Leitura SilenciosaCondemarin, MabelPsicanáli<strong>se</strong> e Educação – Laços RefeitosBacha, Márcia NederPsicologia e EducaçãoMarilene ProençaPsicologia Escolar: em Busca de Novos RumosMachado, Adriana M. (Org.)Psicopedagogia: Uma Prática, Diferentes EstilosRubinstein, EdithSaúde e Educação. Muito prazer!Maria Salum e Morais; Beatriz S<strong>ou</strong>za (Orgs.)Quatro Cores, Senha e DominóMacedo, Lino (Org.)Quatro Cores, Senha e Dominó – Caderno para AtividadesMacedo, Lino (Org.)Reunião de Pais: Sofrimento Ou Prazer? Althuon, Beate G.

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