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Livro Psic. escolar e educ - Para associar-se ou renovar sua ...

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ISSN 1413-8557Revista Semestral da Associação Brasileira de <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional (ABRAPEE)Volume 7 Número 1 Janeiro/Junho 2003ABRAPEE


ExpedienteA revista <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional é um veículo de divulgação e debate da produção científica na área específica e está vinculadaà Associação Brasileira de <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). Seu objetivo é constituir um espaço para a apre<strong>se</strong>ntação de pesquisas atuaisno campo da <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional e <strong>se</strong>rvir como um veículo de divulgação do conhecimento produzido na área, bem como deinformação atualizada a profissionais psicólogos e de áreas correlatas. Trabalhos originais que relatam estudos em áreas relacionadas à <strong>Psic</strong>ologiaEscolar e Educacional <strong>se</strong>rão considerados para publicação, incluindo processos básicos, experimentais, aplicados, naturalísticos, etnográficos,históricos, artigos teóricos, análi<strong>se</strong>s de políticas e sínte<strong>se</strong>s sistemáticas de pesquisas, entre <strong>ou</strong>tros. Também, revisões críticas de livros, instrumentosdiagnósticos e softwares. Com vistas a estabelecer um intercâmbio entre <strong>se</strong>us pares e pessoas interessadas na <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, contacom uma revisão às cegas por pares e é publicada <strong>se</strong>mestralmente. Seu conteúdo não reflete a posição, opinião <strong>ou</strong> filosofia da Associação Brasileirade <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional. Os direitos autorais das publicações da revista <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional são da Associação Brasileira de<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, <strong>se</strong>ndo permitida apenas ao autor a reprodução de <strong>se</strong>u próprio material, previamente autorizada pelo Con<strong>se</strong>lhoEditorial da Revista. As transcrições e traduções são permitidas, desde que no limite dos 500 vocábulos e mencionada a fonte. São publicados texto<strong>se</strong>m português, espanhol e inglês.C O N S E L H O ED I T O R I A LEditora: Acácia Aparecida Angeli dos SantosPrimeira Secretária: Geraldina Porto WitterSegunda Secretária: Maria Cristina Rodrigues Azevedo JolyTes<strong>ou</strong>reira: Isabel Cristina Dib BarianiArrigo Leonardo AngeliniEliana M. B. BheringEunice M. L. Soriano de AlencarEvely BoruchovitchFermino Fernandes SistoHermínia Vicentelli de CastilloJorge Castellá SarrieraJosé Aloy<strong>se</strong>o BzuneckJosé Fernando B. LomônacoLeandro AlmeidaMaria Helena M<strong>ou</strong>rão A. OliveiraMaria Helena NovaesMari<strong>se</strong>te F. LimaNádia Maria D<strong>ou</strong>rado da RochaRaquel S<strong>ou</strong>za Lobo GuzzoSamuel Pfromm NetoSebastián UrquijoThomas OaklandCONSULTORES AD-HOCEliane Di Nucci– Universidade São FranciscoEulália Maimoni– Uniube-MGSelma Martineli – FE-UnicampASSISTENTE DO CONSELHO EDITORIALKatya Luciane de Oliveira – mestranda em <strong>Psic</strong>ologiaIndexação em:Index PsiLILACSTiragem:600 exemplaresApoio Financeiro:Programa de Auxílio à Editoração do CNPqC ORPO EDITORIALUniversidade de São PauloUniversidade do Vale do ItajaíUniversidade Católica de BrasíliaUniversidade Estadual de CampinasUniversidade São FranciscoUniversidad Pedagógica Experimental LibertadorPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do SulUniversidade Estadual de LondrinaUniversidade de São PauloUniversidade do MinhoPontifícia Universidade Católica de CampinasPontifícia Universidade Católica do Rio de JaneiroUniversidade Federal da <strong>Para</strong>íbaFaculdades Ruy BarbosaPontifícia Universidade Católica de CampinasPontifícia Universidade Católica de CampinasUniversidad del Mar del PlataUniversity of Florida<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional./ Associação Brasileira de<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional.- v. 1, n. 1. 1996-Campinas : ABRAPEE, 1996.Quadrimestral : 1996-1999.Semestral : 2000-ISSN 1413-8557l. <strong>Psic</strong>ologia <strong>educ</strong>acional. 2. <strong>Psic</strong>ologia <strong>escolar</strong>.3. Educação. 4. Brasil. I. Associação Brasileira de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar e Educacional.ABRAPEEAv. John Boyd Dunlop, s/n – Campus II da PUC-Campinas Prédio da <strong>Psic</strong>ologia Clínica – l3059-900 – Campinas/SPTel/Fax: (19) 3735 5840 – Home-page: http://www.abrapee.psc.br – E-mail: abrapee@abrapee.psc.br


<strong>Psic</strong>ologia Escolare EducacionalISSN 1413-8557PUBLICAÇÃO SEMESTRAL 2003 Volume 7Número 17 EditorialArtigos11 Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagemClara VasconcelosJoão Félix PraiaLeandro S. Almeida21 Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeiraJavier Vivaldo-LimaMiguel López-OlivasRosa Obdulia González-Robles33 Professor-estres<strong>se</strong>: análi<strong>se</strong> de produção científicaGeraldina Porto Witter47 Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais depsicologiaAna Paula Porto NoronhaFlávia Nunes de Moraes BeraldoKatya Luciane de Oliveira57 Inglês instrumental: eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologiaNeusa Haruka Sezaki Gritti67 Aprendizagem por interação e traços de personalidadeLílian PachecoFermino Fernandes Sisto77 Depressão infantil: uma contribuição para a prática <strong>educ</strong>acionalMiriam CruvinelEvely Boruchovitch85 A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínicaPatrícia Fernanda Carmem Kebach


Re<strong>se</strong>nhas97 Estratégias de compreensão de leituraMaria Helena M<strong>ou</strong>rão Alves de OliveiraHistória99 Entrevista com Marilene Proença Rebello de S<strong>ou</strong>zaEntrevistadora: Elenita TanamachiSugestões práticas103 Sexualidade e escola: um espaço de intervençãoFlávia Nunes de Moraes BeraldoInformativo105 Notícias bibliográficas107 Informe108 Forma de Apre<strong>se</strong>ntação do Manuscrito115 Ficha para novos sócios da ABRAPEE


SUMMARYISSN 1413-85577 EditorialPapers11 Theory of learning and the teaching-learning of sciences - from instruction to apprenticeshipClara VasconcelosJoão Félix PraiaLeandro S. Almeida21 Psycholinguistic determinants of reading comprehension in english as a foreign languageJavier Vivaldo-LimaMiguel López-OlivasRosa Obdulia González-Robles33 Teacher-stress: Analysis of scientific productionGeraldina Porto Witter47 Well-know psychological instruments u<strong>se</strong>d by psychology students and professionalAna Paula Porto NoronhaFlávia Nunes de Moraes BeraldoKatya Luciane de Oliveira57 Instrumental english: teaching efficiency for psychology c<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> freshman studentsNeusa Haruka Sezaki Gritti67 Peer interaction learning and personality traitsLílian PachecoFermino Fernandes Sisto77 Depression in children: A contribution to the work <strong>educ</strong>ationalMiriam CruvinelEvely Boruchovitch85 The construction of the hearing <strong>se</strong>riation: An analysis thr<strong>ou</strong>gh clinical methodologyPatrícia Fernanda Carmem KebachReviews97 Reading comprehension strategiesMaria Helena M<strong>ou</strong>rão Alves de Oliveira


History99 Interviewing Marilene Proença Rebello de S<strong>ou</strong>zaElenita TanamachiPractical Sugestions103 School and <strong>se</strong>xuality: Intervention spaceFlávia Nunes de Moraes BeraldoInformative105 Events107 Bibliographic Notes108 Instructions to Authors115 ABRAPEE Membership


EDITORIALAs perspectivas da psicologia <strong>escolar</strong>/ <strong>educ</strong>acionalCom ba<strong>se</strong> nes<strong>se</strong> tema, psicólogos, pesquisadores e muitos estudantes interessados na área reuniram-<strong>se</strong>em Salvador-BA, no mês de abril, para o VI Congresso de <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional (VI CONPE). Oevento teve a participação de aproximadamente mil inscritos e os trabalhos apre<strong>se</strong>ntados foram atinentes adiferentes sub-temas a saber, Avaliação e medidas no contexto <strong>escolar</strong>; De<strong>se</strong>nvolvimento humano; Educaçãoinfantil; Educação informal; Ensino de psicologia; Ensino fundamental; Ensino médio; Ensino superior; Família;Formação do <strong>educ</strong>ador; Formação do psicólogo <strong>escolar</strong>/<strong>educ</strong>acional; Fracasso <strong>escolar</strong>/evasão; Leitura/escrita;Necessidades especiais/inclusão; Orientação profissional; Pesquisa em psicologia <strong>escolar</strong>/<strong>educ</strong>acional; Prevenção;Tecnologia <strong>educ</strong>acional e Terceira idade.Pudemos contar com o acolhimento carinhoso do povo baiano e, em especial, com o apoio irrestrito docorpo diretivo e dos docentes e alunos da Faculdade Ruy Barbosa, que <strong>se</strong>di<strong>ou</strong> nosso evento. A ComissãoOrganizadora, coordenada pela Profa. Dra. Nádia Rocha, teve um papel preponderante para que o VI CONPEpudes<strong>se</strong> acontecer nos padrões de<strong>se</strong>jados. Foi uma oportunidade ímpar de agregarmos congressistas advindosda grande maioria dos estados brasileiros, o que reforç<strong>ou</strong> nosso propósito de que cada um dos nossos congressos,que têm caráter nacional, ocorra em uma das diversas regiões do país para permitir uma participação maisampla daqueles que <strong>se</strong> encontram fora do eixo Rio - São Paulo.As atividades apre<strong>se</strong>ntadas, nos quatro dias de duração do evento, foram propostas por professoresuniversitários, pós-graduandos e profissionais da área, que ofereceram uma extensa gama de trabalhos emforma de conferências, mesas-redondas, simpósios, cursos e workshops que demonstraram as característicasda produção científica na área, bem como, a diversidade de práticas profissionais. É importante ressaltar que as<strong>se</strong>ções de comunicação oral e os painéis apre<strong>se</strong>ntados contribuíram, em muito, para que pudés<strong>se</strong>mos registrare divulgar a amplitude de interes<strong>se</strong>s e de abordagens pre<strong>se</strong>ntes em nossa área. Duas novas modalidades, nãoexistentes nos congressos anteriores – ‘Depoimento’ e ‘Partilhando Experiências’ foram ricas o suficiente para<strong>se</strong>rem citadas positivamente na avaliação dos participantes, o que significa que vale a pena mantê-las e incrementálasnos próximos eventos a <strong>se</strong>rem realizados.O apoio de órgãos de fomento (CAPES, CNPq e FAPESB) e de <strong>ou</strong>tras instituições públicas (UniversidadeFederal de Bahia e Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador) e particulares (Casa do<strong>Psic</strong>ólogo; Colégio Módulo; Pinheiro Viagens e Turismo) foi indispensável para a viabilização financeira doevento. Além disso, merece destaque especial o auxílio do Con<strong>se</strong>lho Federal de <strong>Psic</strong>ologia e os Con<strong>se</strong>lhosRegionais de São Paulo (CRP-06) e da Bahia (CRP-03), o que nos mostra a importância da aproximação da<strong>se</strong>ntidades científicas com as entidades profissionais, ambas buscando o fortalecimento da psicologia como ciênciae como profissão. Sem dúvida, a quantidade e qualidade dos trabalhos apre<strong>se</strong>ntados não <strong>se</strong>ria a mesma <strong>se</strong>ma participação da Comissão Científica e dos avaliadores ad-hoc que dedicaram parte significativa do <strong>se</strong>u tempona análi<strong>se</strong> cuidadosa das propostas encaminhadas.


Ainda com a preocupação de registrar o grande valor da divulgação das temáticas relevantes para osinteressados na área de psicologia <strong>escolar</strong> e <strong>educ</strong>acional queremos expressamente agradecer o apoio financeiroque esta revista pass<strong>ou</strong> a ter no ano de 2003 do Programa de Auxílio Editoração do CNPq, que viabiliz<strong>ou</strong> <strong>sua</strong>impressão e nos possibilit<strong>ou</strong> garantir <strong>sua</strong> periodicidade. Esperamos que essa ajuda, somada ao nosso empenhode buscar <strong>se</strong>mpre uma melhor qualidade para nossa revista <strong>se</strong> reflita no conteúdo e no alcance que os artigosaqui publicados possam ter, favorecendo o impacto que um periódico científico pretende alcançar na <strong>sua</strong> áreade abrangência. Assim, estaremos de fato abrindo novas e amplas perspectivas para a área de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar/Educacional.Acácia Aparecida Angeli dos SantosEditora


Artigos


<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19TEORIAS DE APRENDIZAGEM E O ENSINO/APRENDIZAGEM DAS CIÊNCIAS: DAINSTRUÇÃO À APRENDIZAGEMResumoClara Vasconcelos 1João Félix Praia 2Leandro S. Almeida 3Uma preocupação <strong>se</strong>mpre pre<strong>se</strong>nte da investigação na área da <strong>Psic</strong>ologia Educacional, é a da compreensão do processo de aprendizagem doaluno, nomeadamente em contexto formal de ensino. Nessa linha, o ensino das ciências recorre a essa área de conhecimento para fundamentarteoricamente concepções e práticas de ensino/aprendizagem, no contexto e ecologia de sala de aula específicos. Neste artigo apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> ocontributo das diversas teorias de aprendizagem no processo de ensino/aprendizagem das ciências, especificando a influência de algumas delas nasperspectivas de ensino que foram <strong>se</strong>ndo evolutivamente assumidas. Des<strong>se</strong> modo, inicia-<strong>se</strong> uma descrição histórica, referindo perspectivas de ensinoapoiadas na vertente behaviorista e termina-<strong>se</strong> a <strong>sua</strong> abordagem referindo teorias cognitivo-construtivistas, que deram lugar a perspectivas deensino voltadas para o papel do aluno, como sujeito ativo na construção do conhecimento, e para o reconhecimento do valor meramenteinstrumental dos conteúdos curriculares.Palavras chave: Ensino; Aprendizagem; Construção do conhecimento.AbstractTHEORY OF LEARNING AND THE TEACHING-LEARNING OF SCIENCES - FROM INSTRUCTION TOAPPRENTICESHIPIt is always a concern for re<strong>se</strong>arch in the area of Educational Psychology, to understand the process of learning of the student, namely in aformal context of teaching. In this <strong>se</strong>n<strong>se</strong>, the teaching of Sciences u<strong>se</strong>s this area of knowledge in an attempt to gr<strong>ou</strong>nd theoretically conceptionsof teaching/learning. Here, the authors attempt to underline the contribution of the learning theories in the process of learning/teaching ofSciences, specifying their influence in the perspectives of teaching that have been previ<strong>ou</strong>sly assumed. In this way, an historical description isstarted, referring perspectives of teaching supported in the behavi<strong>ou</strong>rist approach, and finish by referring cognitive-constructive theories that gaveri<strong>se</strong> to teaching perspectives more focus<strong>se</strong>d on the role of the student in the construction of knowledge, and for the recognition of the innateinstrumental value of the curricular subjects.Key words: Learning; Teaching-learning; Construction of knowledge.INTRODUÇÃOTodos aprendemos <strong>se</strong>m nos preocuparmos verdadeiramentecom a natureza des<strong>se</strong> processo e todos ensinamos<strong>se</strong>m buscarmos um suporte teórico explicativodo processo de ensino-aprendizagem. Como professorestemos alguns referenciais explicativos e, também,de forma implícita <strong>ou</strong> explícita, orientamos a nossa práticapor tais referenciais. De qualquer modo, as teoriasde aprendizagem, tendo surgido, possivelmente, porqueconforme salienta Bigge (1977) “o homem não só quisaprender como também, frequentemente, <strong>sua</strong> curiosidadeo impeliu a tentar aprender como <strong>se</strong> aprende”(p.3), são diversas e acompanharam de perto a evoluçãoob<strong>se</strong>rvada na <strong>Psic</strong>ologia e na Educação em Ciências.Assim, apre<strong>se</strong>ntamos ao longo deste artigo diversasteorias de ensino-aprendizagem, reportando-nos <strong>se</strong>mpreque possível ao ensino-aprendizagem nas ciências,1Centro/Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.2Centro/Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.3Instituto de Educação e <strong>Psic</strong>ologia da Universidade do Minho.


12iniciando pela teoria do Ensino por Transmissão, perspectivafortemente marcada pelas teorias behavioristasda aprendizagem. Após referirmos a influência de autorescomo Gagné (1975) <strong>ou</strong> Bandura (1977), que mantiveramlatente a influencia comportamentalista, referirmosa Aprendizagem por Descoberta e a Aprendizagempor Mudança Conceptual. Por último, mencionamoso Ensino por Pesquisa, processo fortemente marcadopelo cognitivismo-construtivismo que realça o papeldo aluno como construtor do conhecimento, movidopela curiosidade, descoberta e resolução de problemas.Esta perspectiva de ensino é referida como a mais actualao nível da didática das ciências e, implicitamente,aquela que deverá <strong>se</strong>r mais valorizada na formação dosprofessores.Com este artigo pretendemos listar este conjunto deperspectivas de análi<strong>se</strong> e definição de processos de ensino-aprendizagem,sobretudo quando este processo ocorrenos contextos formais <strong>escolar</strong>es. Sem pretendermos<strong>se</strong>r exaustivos e profundos no conjunto de tais perspectivas,procuramos, no entanto, salientar algumas implicaçõespráticas e assumir as vantagens de uma abordagemque reconhece o aluno como tendo um papel ativo e centralnas aprendizagens, entendidas como co-construçõesprogressivas de conhecimento e destrezas.As teorias de aprendizagem e o ensino-aprendizagemdas ciênciasA Aprendizagem por Transmissão (APT) pode <strong>associar</strong>-<strong>se</strong>às perspectivas behavioristas <strong>ou</strong>comportamentais da aprendizagem. O ensino por transmissãotem o <strong>se</strong>u fulcro nas exposições orais do professor,que transmite as ideias (estímulos) aos alunos, istoé, “...o professor ‘dá a lição’, imprime-a em arquivadoresdo conhecimentos e pede, em troca, que os alunos u<strong>se</strong>ma <strong>sua</strong> atividade mental para acumular, armazenar e reproduzirinformações” (Santos & Praia, 1992 p.13).Nessa lógica instrucional de organizar o ensino, o alunotem um papel cognitivo passivo, <strong>se</strong>ndo encarado com<strong>ou</strong>m mero receptáculo de informações que, mais tarde,<strong>se</strong>rão úteis para a vida. <strong>Para</strong> além do professor usartécnicas que salientem novas informações e informaçõesmais corretas, deverá recorrer também ao reforço,preferencialmente a reforços diretos e imediatos,tendo em vista produzir mudanças comportamentais dosalunos e a <strong>sua</strong> estabilidade. O papel tutelar do professor,que exerce autoridade face aos <strong>se</strong>us conhecimentoscientíficos, sobrepõe-<strong>se</strong> ao papel do aluno. Este, aoinvés de aprender, e menos ainda aprender a aprender,Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeidaapenas acumula saberes que deverá <strong>se</strong>r capaz de repetirfielmente. Assim <strong>se</strong>ndo, Cachapuz, Praia e Jorge(2000) ob<strong>se</strong>rvam “qua<strong>se</strong> tudo <strong>se</strong> reduz ao professor injectarnos alunos as ‘matérias’ que centralmente sãodefinidas e obrigatórias dar ao longo do ano, importandosobretudo os resultados finais obtidos pelos alunos nostestes sumativos - afinal quem mais ordena – enquantoprodutos acabados e que são os elementos principaispara a atribuição de uma classificação. Cumprir o programae preparar para os exames é compreendido comoaprender o programa” ( p.7).Enfatiza-<strong>se</strong>, aqui, o papel do professor, relegando-<strong>se</strong>para <strong>se</strong>gundo plano a intervenção do aluno no <strong>se</strong>u próprioprocesso de aprendizagem. Se um aluno sabe falare escrever numa dada área, subentende-<strong>se</strong>, então, quecompreendeu a matéria dessa área de conhecimento.A valorização do aluno como transformador dessa informaçãonão aparece suficientemente repre<strong>se</strong>ntadanesta abordagemDo exposto, depreende-<strong>se</strong> que alguns princípios epráticas <strong>educ</strong>ativas para a escola foram elaborados deacordo com os pressupostos behavioristas. Falamos,então, das teorias behavioristas da aprendizagem <strong>escolar</strong>,tendo como objetivo principal alcançar comportamentosapropriados por parte dos alunos, basicamenteentendidos como apropriação e modificação de respostas.Assim, <strong>se</strong> a resposta emitida for de<strong>se</strong>jada haveráreforço, cuja natureza dependerá, necessariamente, donível etário e do esforço dos alunos, por exemplo. Acredita-<strong>se</strong>que a ineficácia do ensino tradicional foi o fatodos professores não usarem contingências de reforçoque aceleras<strong>se</strong>m a aprendizagem (Skinner apud Bigge,1997).Algumas dificuldades são apontadas a esta teoria.Numa concepção behaviorista de aprendizagem, o alunoé passivo, acrítico e mero reprodutor de informaçãoe tarefas. O aluno não de<strong>se</strong>nvolve a <strong>sua</strong> criatividade e,embora <strong>se</strong> possam respeitar os ritmos individuais, não<strong>se</strong> dá suficiente relevo à <strong>sua</strong> curiosidade e motivaçãointrín<strong>se</strong>cas. O aluno pode, inclusive, correr o risco de <strong>se</strong>tornar apático, porque excessivamente dependente doprofessor. Por <strong>ou</strong>tro lado, não há preocupação em ensinara pensar. O ensino realça o saber fazer <strong>ou</strong> a aquisiçãoe manutenção de respostas. A aula deve <strong>se</strong>rcentrada no professor, que controla todo o processo, distribuias recompensas e, eventualmente, a punição. Pretende-<strong>se</strong>,acima de tudo, que haja por parte do professoruma minuciosa exatidão na determinação do que


Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 13pretende ensinar, do tempo que necessita para o fazer euma definição específica dos objetivos comportamentaisque pretende obter.A concepção de uma aprendizagem <strong>se</strong>m erros temna abordagem skinneriana forte defensa, <strong>se</strong>não o principalapoio. O erro deve <strong>se</strong>r evitado, punido e exigidanova resposta. A avaliação, centrada nos resultados enos objetivos não alcançados, deve permitir um feedbackpreciso do que ainda falta ensinar. Os exercícios de repetição<strong>ou</strong> de demonstrações de atividades, por vezesorganizados e apre<strong>se</strong>ntados como <strong>se</strong> o aluno tives<strong>se</strong> queimitar, <strong>se</strong>m grandes explicações, preenchem largos espaçosdo tempo da aula. Tudo, no entanto, deve encontrar-<strong>se</strong>meticulosamente justificado e organizado, o quealiás condiz com a tradição do ensino programado na<strong>se</strong>scolas, como era defendido por esta abordagem.Embora atualmente <strong>se</strong>jam as perspectivas cognitivoconstrutivistaas que mais influenciam as concepçõesde ensino-aprendizagem nas ciências, ainda surgem algumasformas “mascaradas” dessa pedagogiatransmissiva (Praia & Marques, 1997). Por <strong>ou</strong>tro lado,e porque os pressupostos cognitivistas não são, de todo,incompatíveis com os neobehavioristas, são vários osautores que apre<strong>se</strong>ntam abordagens mistas, quer a nívelmetodológico quer a nível teórico (Pozo, 1989). Comoexemplo, destacamos a teoria social cognitiva de Bandura(1977), <strong>ou</strong> a <strong>sua</strong> mais recente teoria de auto-eficácia(Bandura, 1986), <strong>ou</strong> mesmo a teoria da instrução deGagné (1975, 1985).Os objetivos de instrução, a que Gagné (1975) associaobjetivos comportamentais (os objetivos de aprendizagemrefletem alterações no comportamento dos estudantes),devem <strong>se</strong>r definidos em termos de performanceshumanas, bem como especificar a situação em que estas<strong>se</strong>rão ob<strong>se</strong>rvadas. Operacionalmente bem definido<strong>se</strong> mensuráveis, tais objetivos devem <strong>se</strong>r elaborados noinício do processo de instrução, pois são eles que determinamqual o input que deve <strong>se</strong>r fornecido ao aluno.<strong>Para</strong> o professor constituem a ba<strong>se</strong> da instrução e osuporte de verificação dos resultados de aprendizagem.<strong>Para</strong> o aluno <strong>se</strong>rvem como motivação e permitem umfeedback no final des<strong>se</strong> processo. A objetividade nadefinição dos objetivos torna-<strong>se</strong> notória no recurso averbos de ação, que facilitam a compreensão do que <strong>se</strong>pretende ob<strong>se</strong>rvar na performance do aluno. Essa mesmaobjetividade auxilia a clarificação do tipo de aprendizagempretendida e as condições requeridas para queestes objetivos <strong>se</strong>jam alcançados pelos alunos. Osobjetivos devem <strong>se</strong>r elaborados para cada ato de aprendizagem,situação que levará a que uma unidadeprogramática a ensinar <strong>se</strong>ja constituída por objetivos iniciaismais simples e por objetivos terminais que envolvemcapacidades mais complexas.A teoria sócio-cognitiva de Bandura (1977) preocupa-<strong>se</strong>com a aprendizagem que tem lugar no contextode uma situação social e sugere que uma parte significativadaquilo que o sujeito aprende resulta da imitação,modelagem <strong>ou</strong> aprendizagem ob<strong>se</strong>rvacional (Cruz,1997). Esta teoria repre<strong>se</strong>nta uma teoria de aprendizagemcom largas capacidades de adaptação e aplicaçãoao contexto <strong>escolar</strong>. Na sala de aula, a conduta do professor<strong>ou</strong> a ação de um colega podem facilmente originaruma aprendizagem modelada junto dos alunos. Nestaperspectiva, a aprendizagem é, es<strong>se</strong>ncialmente, umaatividade de processamento de informação, permitindoque condutas e eventos ambientais <strong>se</strong>jam transformado<strong>se</strong>m repre<strong>se</strong>ntações simbólicas que <strong>se</strong>rvem comoguias de ação (Bandura, 1986). Enquanto processamentode informação, a modelagem não corresponde nem auma simples imitação, nem a uma mera identificação doob<strong>se</strong>rvador com o modelo. Embora es<strong>se</strong> processo deaprendizagem não requeira o prêmio <strong>ou</strong> o castigo, nempara o ob<strong>se</strong>rvador nem para o modelo, a teoria reconheceque estes podem melhorar a aquisição e execuçãoda performance. Se numa perspectiva behaviorista,o comportamento deve <strong>se</strong>r reforçado tendo em vista a<strong>sua</strong> aquisição e manutenção, na aprendizagem modelada,mesmo quando reforçadas, as aprendizagens pressupõemexperiências prévias de ob<strong>se</strong>rvação. Porém,incentivos <strong>ou</strong> antecipação dos benefícios podem influenciaro sujeito, determinando quais as condutas a ob<strong>se</strong>rvar.A expectativa de uma resposta efetiva <strong>ou</strong> de umcastigo, podem favorecer, por exemplo, o nível de atençãodo aprendiz na ação do modelo. A antecipação dosbenefícios pode, ainda, permitir uma melhor retençãodo que foi ob<strong>se</strong>rvado, dado que o sujeito fica motivadopara simbolizar e ensaiar as atividades modeladas.Pelo exposto <strong>se</strong> depreende que as teorias de Bandura(1977) e de Gagné (1975) não marcaram uma clara distinçãoentre o aluno passivo, mero reprodutor de informação,e o aluno ativo, que aprende, organiza ereestrutura a informação recebida. Com efeito, só emmeados dos anos 60-70, rejeitando a passividade do alunoface a essa pedagogia de ba<strong>se</strong> memorística, de ritm<strong>ou</strong>niforme e muito as<strong>se</strong>nte numa motivação extrín<strong>se</strong>cado aluno (Santos & Praia, 1992), surgem, no ensino das<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19


14Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeidaciências, pressupostos de uma pedagogia ativa que reconhecee valoriza uma maior intervenção do aluno na<strong>sua</strong> aprendizagem. Assim, opondo-<strong>se</strong> a um modelo pedagógicodominantemente marcado, ao nível psicológico,pela corrente neobehaviorista, surge o modelo daAprendizagem por Descoberta (APD). Este modelo irá,progressivamente, “desinstalar” os referenciais teóricosde uma pedagogia transmissiva reinante nas práticas dosprofessores. De acordo com essa teoria, defende-<strong>se</strong> umaaprendizagem ativa, requerendo explorações e descoberta<strong>se</strong>fetivas para o alcance de uma verdadeira compreensão.As relações que as crianças descobrem apartir das <strong>sua</strong>s próprias explorações são mais passíveisde <strong>se</strong>rem utilizadas e tendem a <strong>se</strong>r melhor retidas doque os fatos meramente memorizados. Bruner (1961)alega que a aquisição do conhecimento é menos importantedo que a aquisição da capacidade para descobrir oconhecimento de forma autónoma. Assim, devem osprofessores promover uma aprendizagem pela descobertapor meio de atividades exploratórias por parte dosalunos. Nessa perspectiva, cabe ao professor a capacidadede lançar perguntas que despertem a curiosidade,mantenham o interes<strong>se</strong> e provoquem e de<strong>se</strong>nvolvam opensamento.A abordagem da aprendizagem de Bruner (1961)impulsion<strong>ou</strong> reformas no ensino das ciências. De salientara <strong>sua</strong> concepção de currículo em espiral na aquisiçãode conceitos científicos, a retomar em anos sucessivosde <strong>escolar</strong>idade num crescendo de abstracção(Cachapuz, Praia & Jorge, no prelo a). Contudo, emboraimplicando o aluno no processo de aprendizagem, aAPD poderá exagerar ao pretender assumir a convicçãode que o aluno aprende por conta própria qualquerconteúdo científico. Se por um lado, o papel central daaprendizagem é, agora, do aluno e não do professor, por<strong>ou</strong>tro lado, dá-<strong>se</strong> relevo à análi<strong>se</strong> da estrutura do assuntocientífico a aprender e p<strong>ou</strong>co significado é atribuídaao contexto da aprendizagem. Essa perspectiva de ensinoé especialmente apropriada para a aprendizagemdo método científico (como o novo conhecimento é descoberto),isto é, o método torna-<strong>se</strong> útil para certos finspedagógicos e em certos contextos <strong>educ</strong>acionais. Assume-<strong>se</strong>que ao exercitar as capacidades proces<strong>sua</strong>is eprocedimentais, relativamente ao método científico, oaluno de<strong>se</strong>nvolve o pensamento e a aprendizagem. Podemosreferir que es<strong>se</strong> modelo resulta de “... umacolagem de ideias de raiz empirista e indutivista a novasideias de índole construtivista na esteira de contribuiçõespiagetianas que haviam descolado o olhar para oaluno como sujeito de aprendizagem” (Cachapuz & cols.,2000 p.11).Pelo exposto, depreende-<strong>se</strong> que a aprendizagem pordescoberta é um processo difícil e moroso. Será um processoporventura compensado, entre <strong>ou</strong>tros fatores,porque ajuda o aluno a ter uma aprendizagem mais ba<strong>se</strong>adana compreensão e no significado, do que namemorização. No entanto, essa atividade que é mobilizadaem termos <strong>se</strong>nsoriais e cinestésicos para a construçãosistemática de ideias a partir de fatos, ignora quea construção ativa do conhecimento deve também terem conta a construção de idéias a partir de idéias (Santos& Praia, 1992).A verdadeira ênfa<strong>se</strong> do aluno como construtor do<strong>se</strong>u próprio conhecimento surge com as teorias cognitivoconstrutivistasda aprendizagem, que imprimem umcaráter determinante às concepções prévias dos alunos.Essa perspectiva cognitivo-construtivista da aprendizagemdeve-<strong>se</strong> ao modelo piagetiano e de Ausubel,Novak e Hanesian (1981). Ao contrário dosbehavioristas, es<strong>se</strong>s autores preocuparam-<strong>se</strong> com oaprender a pensar e o aprender a aprender, e não com aobtenção de comportamentos ob<strong>se</strong>rváveis. No entanto,já não <strong>se</strong> trata de falar nos estádios de de<strong>se</strong>nvolvimentopiagetiano com o entusiasmo dos anos 50 e 60, mas deresponsabilizar o aluno pelo <strong>se</strong>u percurso pessoal deaprendizagem e ajudá-lo a <strong>se</strong>r cognitiva e afetivamentepersistente (Cachapuz & cols., 2000). Comparativamenteà teoria de Bruner (1961), a teoria de Ausubel e cols.(1981) dá p<strong>ou</strong>ca atenção à aprendizagem por descoberta.Essa é importante, apenas, por <strong>se</strong>r o processo inicialde formação de conceitos relevantes na estruturacognitiva. Em níveis etários baixos, a formação de conceitosé o principal processo de aquisição de saberes,<strong>se</strong>ndo es<strong>se</strong>ncialmente “(...) um tipo de aprendizagempor descoberta envolvendo formulação e testagem dehipóte<strong>se</strong>s” (Novak, 1981 p.59).Duas dimensões do processo de aprendizagem, relativamenteindependentes, são importantes na teoria deassimilação de Ausubel e cols. (1981): (i) o modo comoo conhecimento a <strong>se</strong>r aprendido é tornado disponível aoaluno (por recepção <strong>ou</strong> por descoberta); e (ii) o modocomo os alunos incorporam essa informação nas <strong>sua</strong><strong>se</strong>struturas cognitivas já existentes (mecânica <strong>ou</strong> significativa).Assim, <strong>se</strong>gundo Ausubel e cols. (1981), há quatrotipos básicos de aprendizagem por recepção mecânica,por recepção significativa, por descoberta me-


Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 15cânica e por descoberta significativa. Numa primeirafa<strong>se</strong>, a informação torna-<strong>se</strong> disponível ao aluno numaaprendizagem por recepção e/<strong>ou</strong> por descoberta. Numa<strong>se</strong>gunda fa<strong>se</strong>, <strong>se</strong> o aprendiz tenta reter a informaçãonova, relacionando-a ao que já sabe, ocorre aprendizagemsignificativa, <strong>se</strong> o aluno tenta meramente memorizara informação nova, ocorre aprendizagem mecânica.Embora referindo estes quatro tipos de aprendizagem,na teoria de Ausubel e cols. (1981) a ênfa<strong>se</strong> écolocada na aprendizagem significativa, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, umprocesso no qual uma nova informação é relacionada aum aspecto relevante da estrutura de conhecimento doindivíduo. Segundo Moreira e Masini (1982), a aprendizagemsignificativa só ocorre quando o novo material,que apre<strong>se</strong>nta uma estrutura lógica, interage comconceitos relevantes e inclusivos, claros e disponíveisna estrutura cognitiva. Quando conceitos relevantes nãoexistem na estrutura cognitiva do sujeito, novas informaçõestêm que <strong>se</strong>r aprendidas mecanicamente, não <strong>se</strong>relacionando a nova informação com os conceitos jáexistentes. Ausubel (apud Novak, 1981) afirma: “o maisimportante factor isolado que influencia a aprendizagemé o que o aprendiz já sabe. Determine isto e ensine-o deacordo” (p. 9).À medida que o sujeito adquire conhecimento emvárias áreas de conteúdo, estas organizam-<strong>se</strong> numa estruturacognitiva relacionada com cada área. O melhormodo de <strong>se</strong> obter nova informação, a partir da estruturacognitiva, é assimilá-la como parte da estrutura existentepor um processo de conexão. Es<strong>se</strong> processo estáenvolvido no relacionamento de uma idéia nova com umconceito prévio e, ao mesmo tempo, na modificação deambos, isto é, dando significado a ambos. A aprendizagemsignificativa só ocorre quando a informação novaé ligada a conceitos existentes, assumindo que “é nesteprocesso interativo entre o material recém-aprendido eos conceitos existentes (subsumer) que está o cerne dateoria de assimilação de Ausubel” (Novak, 1981 p. 63).Novak (1981), ao referir-<strong>se</strong> ao trabalho de Ausubel,menciona, ainda, o conceito de organizadores prévios eo <strong>se</strong>u valor para facilitar a aprendizagem. Es<strong>se</strong>s funcionamcomo uma ponte cognitiva já que deveriam <strong>se</strong>rvirde ancorad<strong>ou</strong>ro, na estrutura cognitiva, para o novo conhecimento.Se conceitos relevantes não estiverem disponíveisna estrutura cognitiva de um aluno, osorganizadores prévios <strong>se</strong>rviriam para ancorar as novasaprendizagens e levar ao de<strong>se</strong>nvolvimento de umsubsumer que facilitas<strong>se</strong> a aprendizagem sub<strong>se</strong>qüente(Novak, 1981). Seguindo essa perspectiva, de que osorganizadores prévios são mais gerais, mais abstratos emais inclusivos do que o material de aprendizagem sub<strong>se</strong>quente,então, a nível de de<strong>se</strong>nvolvimento e planificaçãocurricular, devem <strong>se</strong>r es<strong>se</strong>s elementos mais geraisa <strong>se</strong>rem introduzidos em primeiro lugar, <strong>se</strong>ndo o conceitoprogressivamente diferenciado em termos de detalhee especificidade.A teoria de Ausubel e cols. (1981) ocupa-<strong>se</strong>, especificamente,dos processos de ensino-aprendizagem dosconceitos científicos a partir dos conceitos previamenteformados pelos alunos na <strong>sua</strong> vida quotidiana (Pozo,1989). A aprendizagem passa a <strong>se</strong>r encarada como umprocesso interno e pessoal que implica o aluno na construçãoativa do conhecimento e que progride no tempode acordo com os interes<strong>se</strong>s e capacidades de cada um.Aplicado ao ensino das ciências, o construtivismo surgecomo o fundamento epistemológico duma reação às reformascurriculares dos anos 60 e 70, e que procuraconcentrar as atenções para a individualidade do aprendiz,para os contextos onde aprendeu e aprende, e parao envolvimento social das aprendizagens (Osborne, 1996;Canavarro, 1999).Os modelos pedagógicos construtivistas dão especialrealce às construções prévias dos alunos na medida emque filtram, escolhem, decodificam e reelaboram informaçãoque o indivíduo recebe do meio (Santos & Praia,1992; Duit, 1995; Almeida, 1996; Canavarro, 1999;Cachapuz & cols., 2000). Por <strong>ou</strong>tras palavras, o conhecimentoprévio <strong>ou</strong> as concepções pré-existentes orientamos alunos na compreensão da nova informação apre<strong>se</strong>ntadapelos professores <strong>ou</strong> pelos manuais. Se as concepçõesprévias dos alunos <strong>se</strong> articulam com a versão científica,ocorre apreensão conceptual, mas <strong>se</strong> entram emconflito com a versão científica, ocorre, então, mudançaconceptual. No entanto, em ambos os processos de construçãode idéias, está latente o pressuposto de que dificilmente<strong>se</strong> aprende <strong>se</strong>m integrar nas redes de conhecimentoanterior a nova informação (Ausubel & cols., 1980;Almeida, 1996; Praia, 1999). O papel do conhecimentoprévio do sujeito é referido em estudos que envolvem disciplinascomo a física e a química (Chi, Gla<strong>se</strong>r, Davies &Olton, 1982; Martins, 1993; L<strong>ou</strong>reiro, 1993), a matemática(M<strong>ou</strong>rão, Barros, Almeida & Fernandes, 1993), e abiologia e a geologia (Bettenc<strong>ou</strong>rt & Amaral, 1994; Faria& Marques, 1994). No entanto, e no que <strong>se</strong> refere a trabalhospublicados sobre as concepções alternativas emalunos de ciências, todos os estudos efetuados nessa área<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19


16refletem a idéia de que a aprendizagem prévia é decisivanas novas aprendizagens, isto é, o conhecimento préviodo sujeito e o grau com que o pode ativar nas situaçõesde aprendizagem determina as <strong>sua</strong>s novas aquisições(Almeida, 1996). <strong>Para</strong> além do diagnóstico das concepçõesalternativas, o professor tem à <strong>sua</strong> disposição instrumentosdidáticos que promovem a atividade do sujeitona organização da informação com vista à reorganizaçãodo conhecimento (Sequeira & Freitas, 1989; Praia, 1999;Cachapuz & cols., 2000; Marques & Praia, 2000; Palmero& Moreira, 2000).Assim <strong>se</strong>ndo, valorizando-<strong>se</strong> a atividade cognitiva dosujeito e remarcando-<strong>se</strong> a importância das concepçõesprévias, surge no ensino das ciência a perspetiva doEnsino por Mudança Conceptual (EMC), que não visaapenas a aquisição de novos conhecimentos pelos alunos,mas reclama a <strong>sua</strong> reorganização conceptual. Essaperspectiva tem hoje a suportá-la numerosas investigaçõesnas aulas de ciências (Nussbaum & Novick, 1982;Osborne & Freyberg, 1985; Driver, 1988). Como referemCachapuz e cols. (2000) na perspectiva do EMCestá subjacente a utilização de estratégias metacognitivasque envolvem os alunos num exercício continuado sobreo pensar, onde o recurso a atividades que envolvemo espírito crítico e criativo ajuda a de<strong>se</strong>nvolver competênciasde nível superior.No EMC, <strong>ou</strong>tro papel é exigido ao professor, <strong>ou</strong>trastarefas são reclamadas aos alunos. Numa lógica deaprendizagem por construção de conhecimento, exige<strong>se</strong>a iniciativa do aluno e fala-<strong>se</strong> no papel mediador doprofessor: “... apela-<strong>se</strong> a um professor que consiga caminharao lado e à frente dos alunos, a uma distânciaadequada, <strong>se</strong>rvindo de mediador entre os alunos e a novainformação <strong>ou</strong> tarefa” (Almeida, 1998 p.57). O importanteé centrar no aluno o processo de ensino-aprendizagem,criando condições para o envolvimento pessoalque <strong>se</strong> torna necessário (Praia, 1989; M<strong>ou</strong>rão & cols.,1993; Almeida, 1998).Ao destacar as contribuições pedagógicas doconstrutivismo, Champagne (1996) refere que, comoreferente teórico, o construtivismo pode legitimar (<strong>ou</strong><strong>se</strong>r utilizado como tal) todo o tipo de práticas supostamentecentradas no aluno e no <strong>se</strong>u contexto. Assim,passados quinze anos de intensa investigação didáticana área do EMC, surge, atualmente, no ensino das ciências,a perspectiva de Ensino Por Pesquisa (EPP). Essaperspectiva visa não só a compreensão do corpo deconhecimentos e processos científicos, mas pretendeClara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeidaigualmente contribuir para o de<strong>se</strong>nvolvimento pessoal esocial dos jovens (Cachapuz & cols., 2000). O ensinopor pesquisa faz apelo a conteúdos inter etransdisciplinares, cultural e <strong>educ</strong>acionalmente relevantes.Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, um dos objetivos es<strong>se</strong>nciais é a compreensãodas relações C-T-S-A (Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente), procurando garantir que as aprendizagens<strong>se</strong> tornem úteis aos alunos numa perspectivade ação (Canavarro, 1999; Praia, 1999). Trata-<strong>se</strong>, agora,de valorizar objetivos <strong>educ</strong>acionais (e não meramenteinstrucionais) que promovam uma avaliação formadoraem detrimento da classificatória. Importa avaliarcapacidades, atitudes e valores, e não apenas os conteúdoscientíficos sobrevalorizados no EMC. Assim, oEPP preconiza momentos avaliativos ao longo de todo opercurso, auxiliando o aluno a perceber o que faz e asaber quais as estratégias metacognitivas a utilizar emcada tarefa (Cachapuz & cols., 2000). A pesquisa partilhadae a discussão promovidas na sala de aula desviama atenção do professor para uma avaliação mai<strong>se</strong>fetiva, tendo em vista regular o processo de ensinoaprendizageme implicando o aluno na construção do<strong>se</strong>u conhecimento. O papel ativo do sujeito aparece reclamado,a <strong>sua</strong> autonomia no ato de conhecer e o papelcentral dado à descoberta e à exploração são tidos comodecisivos na aprendizagem.CONCLUSÃOA análi<strong>se</strong> efetuada às abordagens comportamentais,permitiu-nos constatar que, embora de forma dissimulada,prescutam-<strong>se</strong> algumas tendências behaviorista<strong>se</strong>m perspectivas de ensino/aprendizagem atuais. O condicionamentooperante de skinneriano prolifer<strong>ou</strong> a nível<strong>educ</strong>acional nos anos trinta e estendeu-<strong>se</strong> aos sistemasde instrução programada. Ao nível do ensinoem ciências, tais abordagens teóricas <strong>se</strong>rviram de suportea uma pedagogia transmissiva, memorística, ba<strong>se</strong>adano reforço e com o intuito de obter comportamentosde<strong>se</strong>jáveis (Cachapuz & cols., 2000). Sendo oreforço responsável pelo fortalecimento da resposta,aumentando a probabilidade desta ocorrer, de<strong>se</strong>ncade<strong>ou</strong>,a nível de sala de aula, prémios e castigos com ointuito de promover o controle dos alunos e mudançascomportamentais significativas (Vasconcelos, 2000). Ateoria do condicionamento realça o ‘saber fazer’, ocomportamento exterior, ob<strong>se</strong>rvável e susceptível de


Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 17<strong>se</strong>r medido (Tavares & Alarcão, 1992). Com ocomportamentalismo, os exercícios de repetição, oensino programado e as demonstrações de atividadesa imitar fielmente, foram técnicas de ensino bastantedifundidas nas sala de aula.Até ao apogeu <strong>educ</strong>acional das correntes cognitivoconstrutivistasda aprendizagem, vários autores mantiveramvivo o behaviorismo, por meio da apre<strong>se</strong>ntaçãode projetos mistos que, embora marcadamentevoltados para o processamento da informação, continuavama reflectir uma influência comportamentalista(Pozo, 1989). <strong>Para</strong> este autor, as teorias de Bandura(1977) e de Gagné (1975), por exemplo, não marcaramuma clara distinção entre o aluno passivo, ememorizador de conteúdos, e o aluno ativo, capaz dereestruturar a informação.Em Portugal, e a nível do ensino das ciências, aconcepção de aprendizagem pela descoberta de Bruner(1961) marc<strong>ou</strong> os finais da década de 70 e, sobretudo,os anos 80, nomeadamente pelo acolhimento dado aosprojetos Nuffield, BSCS (Bilogical ScienceCurriculum Studies) e ESCP (Earth ScienceCurriculum Project). Não obstante o impacto destaconcepção de aprendizagem, o dinamismo pretendidoe atribuído ao aluno torn<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> redutor ao centrar-<strong>se</strong> nadescoberta, que resulta da ob<strong>se</strong>rvação cuidada e sistemáticaque supostamente faz descobrir <strong>se</strong>m pensar(Cachapuz & cols., 2000).Deve-<strong>se</strong>, principalmente ao modelo piagetianoo reconhecimentodo aluno como construtor do <strong>se</strong>u conhecimentoe sujeito responsável pelas <strong>sua</strong>s aprendizagens.As concepções construtivistas tiveram forte impactoao nível do ensino das ciências, nomeadamentea noção de que as pré-concepções orientam e determinama compreensão dos alunos. Torna-<strong>se</strong> então necessáriopromover a mudança conceptual, <strong>se</strong>ndo apartir da concorrência entre construtos pessoais econstrutos científicos que o indivíduo (re)constrói o <strong>se</strong>uconhecimento acerca dos fenômenos científicos(Ausubel & cols., 1980; Duit, 1995; Canavarro, 1999;Praia, 1999). Porém, apoiar e estimular es<strong>se</strong> processode reconstrução de conhecimento do aluno não <strong>se</strong> afiguratarefa fácil para o professor. Sobretudo, estãoem causa metodologias e estratégias que conduzam auma aprendizagem ativa e com significado pessoal paraos alunos.Ao questionar o papel dos conteúdos do ensino,perspectivando-os, não como fins de ensino, mascomo meio para atingir fins <strong>educ</strong>acionalmente relevante<strong>se</strong> não meramente instrucionais, podemos caminharno <strong>se</strong>ntido do ensino por pesquisa. Ligada aconteúdos do quotidiano e interes<strong>se</strong>s pessoais do aluno,essa perspectiva implica uma mudança de atitudes,de processos e de metodologias, que cabe aoprofessor promover. Ao realçar, de forma explicitae fulcral o papel do aluno na construção do <strong>se</strong>u conhecimento,essa perspectiva apoia-<strong>se</strong> nos postuladosdo construtivismo e aposta no de<strong>se</strong>nvolvimentopessoal e social dos jovens. Tal pretensão requeralterações profundas ao nível do processo de ensino-aprendizagem.Assim, a transdisciplinaridade, aabordagem de situações problema, a importância dopluralismo metodológico e a necessidade de uma avaliaçãoformadora são aspectos a de<strong>se</strong>nvolver e amobilizar por esta nova perspectiva de ensino(Cachapuz & cols., 2000).Finalizamos a nossa abordagem em torno das perspectivasde ensino-aprendizagem das Ciências salientandoalguns aspectos es<strong>se</strong>nciais da evoluçãohavida. Em primeiro lugar, o aluno assume um papelcentral no processo de ensino-aprendizagem. Cabelheum papel activo de construção de conhecimentoe, para isso, importa que o professor conheça es<strong>se</strong>aluno e a fa<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolvimental em que <strong>se</strong> encontra.Em <strong>se</strong>gundo lugar, “aprender” deixa de <strong>se</strong>r sobretudoinformar-<strong>se</strong> e passa a <strong>se</strong>r “conhecer”. Essa idéiatorna o processo de ensino-aprendizagem mais ativo,mais as<strong>se</strong>nte na descoberta e resolução de problemas,na construção e desconstrução de significadospessoais. Finalmente, aposta-<strong>se</strong> cada vez mais naconvergência e diversidade de metodologias de ensino,no papel instrumental dos conteúdos curriculare<strong>se</strong> na ação do “<strong>ou</strong>tro” nas nossas próprias aprendizagens.Nessa altura, o professor assume também umpapel importante de “tutor” do aluno, não o substituindomas acompanhando e modelando as <strong>sua</strong>s aprendizagens.Igualmente interessante <strong>se</strong>rá o recurso, porparte do professor, à simulação de problemas por meiodo acesso mais generalizado às novas tecnologias <strong>ou</strong>ao trabalho de grupo por parte dos alunos, estimulando-<strong>se</strong>a aprendizagem por confronto de posições individuai<strong>se</strong> cooperação dos pares.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19


18REFERÊNCIASAlmeida, L. S. (1996). Cognição e aprendizagem: como a <strong>sua</strong>aproximação conceptual pode favorecer o de<strong>se</strong>mpenhocognitivo e a realização <strong>escolar</strong>. <strong>Psic</strong>ologia: Teoria, Investigaçãoe Prática, I (1), 17-32.Almeida, L. S. (1998). Aprendizagem <strong>escolar</strong>: dificuldades e prevenção.Em L. S. Almeida & J. Tavares (Orgs.), Conhecer,aprender, avaliar (pp.51-74). Porto: Porto Editora.Ausubel, D., Novak, J. D., & Hanesian, H. (1980). <strong>Psic</strong>ologiaEducacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana.Bandura, A. (1977). Social learning theory. Englewood Cliffs,N. J.: Prentice-Hall.Bandura, A. (1986). Social f<strong>ou</strong>ndations of th<strong>ou</strong>ght & action:A social cognitive theory. New Jer<strong>se</strong>y: Prentice-Hall.Bettenc<strong>ou</strong>rt, T., & Amaral, I. (1994). A nutrição das plantas.Em F. Cachapuz (Orgs.), Ensino das ciências e formaçãode professores: Projecto MUTARE 3. (pp. 33-87). Aveiro:Universidade de Aveiro.Bigge, M. L. (1977). Teorias da aprendizagem para professores.São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária.Bruner, J. (1961). The act of discovery. Harvard EducationalReview, 31, 21-32.Cachapuz, A. F., Praia, J. F., & Jorge, M. P. (2000). Perspectivasde Ensino das Ciências. Em A. Cachapuz (Org.), Formaçãode Professores/Ciências. Porto: CEEC.Cachapuz, A., Praia, J. F., & Jorge, M. P. (no prelo). Educaçãoem Ciências: Contributos para uma reflexão crítica.Lisboa: IIE.Canavarro, J. M. (1999). Ciência e Sociedade. Coimbra: QuartetoEditora.Champagne, A. B. (1996). National Science EducationStandards, Conferêcia apre<strong>se</strong>ntada na Universidade deCoimbra. Coimbra: Universidade de Coimbra.Chi, M. T. H., Gla<strong>se</strong>r, R., Davies, L., & Olton, R. M. (1982).Expertice in problem solving. Em R. Sternberg (Orgs.),Advances in psychology of human intelligence, I (pp.).Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.Cruz, V. (1997). Uma abordagem às teorias de aprendizagem.Sonhar, IV (2), 45-83.Driver, R. (1988). Un enfoque constructivista para el desarrollodel currículo en Ciências. En<strong>se</strong>ñanza de las Ciencias,6(2), 109-120.Duit, R. (1995). The constructivist view: A fashionable andfruitful paradigm for science <strong>educ</strong>ation re<strong>se</strong>arch andpractice. Em L. P. Steffe & J. Gale (Orgs.), Constructivismin <strong>educ</strong>ation (pp.) Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum.Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. AlmeidaFaria, M. A., & Marques, L. (1994). A Terra no Sistema Solar.Em F. Cachapuz (Org.), Ensino das ciências e formaçãode professores: Projecto MUTARE 3 (pp. 152– 34). Aveiro:Universidade de Aveiro.Gagné, R. M. (1975). Es<strong>se</strong>ntials of learning for instruction.New York: Holt, Rinehart and Winston.L<strong>ou</strong>reiro, M. J. (1993). Concepções Alternativas em Física:Conceitos básicos de electricidade. Em F. Cachapuz(Coord.), Ensino das ciências e formação de professores:Projecto MUTARE 2 (pp. 39-74). Aveiro: Universidadede Aveiro.Marques, L., & Praia, J. F. (2000). Os mapas de conceitos:Instrumentos para uma aprendizagem significativa. EmActas do III Encontro Internacional sobre AprendizagemSignificativa (pp. 343-350). Lisboa: UniversidadeAberta.Martins, I. P. (1993). Concepções alternativas sobre a energianas concepções químicas. Em F. Cachapuz (Coord.), Ensinodas ciências e formação de professores: ProjectoMUTARE 2 (pp. 7-38). Aveiro: Universidade de Aveiro.Moreira, M. A., & Masini, E. F. S. (1982). Aprendizagem significativa:A teoria de David Ausubel. São Paulo: EditoraMoraes.M<strong>ou</strong>rão, A. P., Barros, A. M., Almeida, L. S., & Fernandes, J.A. (1993). O baixo de<strong>se</strong>mpenho na Matemática: Avaliaçãopara a definição do programa. Em L. S. Almeida, J. A.Fernandes & A. P. M<strong>ou</strong>rão (Orgs.), Ensino-aprendizagemda Matemática: Recuperação de alunos com baixode<strong>se</strong>mpenho (pp.). Braga: Didáxis.Novak, J. D. (1981). Uma teoria de <strong>educ</strong>ação. São Paulo: EditoraPioneira.Nussbaum, J., & Novick, S. (1982). Alternative frameworks,conceptual conflict and accommodations: Toward aprincipled teaching strategy. Instructional Science, 11,183-200.Osborne, J. (1996). Beyond constructivism. ScienceEducation, 80, 53-82.Osborne, R. J., & Freyberg, P. (1985). Learning in science:The implication of children’s science. London:Heinemann Publishers.Palmero, M. R. L., & Moreira M. A. (2000) Mapas conceptualesy repre<strong>se</strong>ntaciones mentales. Una experiencia con elconcepto célula. In Actas do III Encontro Internacionalsobre Aprendizagem Significativa. Lisboa: UniversidadeAberta, p. 175-187.Pozo, J. I. (1989). Teorías cognitivas del aprendizaje. Madrid:Morata.


Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 19Praia, J. F. (1989). A formação de professores de Ciências e adidáctica específica: Uma perspectiva de mudança dasconcepções de ensino. Revista Portuguesa de Educação,2 (3), 141-146.Praia, J. F. (1999). Relatório da disciplina de Didáctica daGeologia. Porto: Universidade do Porto.Praia, J. F., & Marques, L. (1997). Das práticas dos professoresde Ciências (Geologia/Biologia) à mudança em tornodas <strong>sua</strong>s concepções de ensino. Em A. Estrela, R.Fernandes, F. A. Costa, I. Narciso & O. Valério (Orgs.),Contributos da Investigação Científica para a qualidadedo ensino (pp. 145-154). Lisboa: SPCE II .Santos, M. E., & Praia, J. F. (1992). Percurso de mudança naDidáctica das Ciências: Sua fundamentação epistemológica.Em F. Cachapuz (Org.), Ensino das Ciências eFormação de Professores: Projecto MUTARE 1 (pp. 7-34). Aveiro: Universidade de Aveiro.Sequeira, M., & Freitas, M. (1989). Os “Mapas de Conceitos”e o ensino-aprendizagem das Ciências. Revista Portuguesade Educação, II (3), 107-116.Tavares, J., & Alarcão, I. (1992). <strong>Psic</strong>ologia do de<strong>se</strong>nvolvimentoe da aprendizagem (4ª ed.). Coimbra: LivrariaAlmedina.Vasconcelos, C. (2000). Métodos de Estudo em Alunos do 3ºCiclo do Ensino Básico: Um contributo à intervenção<strong>educ</strong>ativa dos professores. Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>toramento.Braga: Universidade do Minho.Recebido em: 29/10/02Revisado em: 10/12/02Aprovado em: 03/06/03<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19


<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31DETERMINANTES PSICOLINGÜÍSTICOS DA COMPREENSÃO DE LEITURA EM INGLÊSCOMO LÍNGUA ESTRANGEIRAResumoJavier Vivaldo-Lima 1Miguel López-Olivas 2Rosa Obdulia González-Robles 3O objetivo deste estudo foi analisar a contribuição das variáveis lingüísticas e psicológicas da variância associada à compreensão de leitura eminglês (L2). A amostra esteve integrada por 280 estudantes universitarios, falantes nativos do espanhol. A dimensão lingüística da análi<strong>se</strong> avali<strong>ou</strong>a influência das habilidades de processamento de texto do leitor em espanhol (L1), da <strong>sua</strong> competência lingüística em L2 e da <strong>sua</strong> habilidade paraperceber transparência léxica entre as duas línguas, enquanto a dimensão psicológica analis<strong>ou</strong> a influência do estilo cognoscitivo, do locus decontrole e do controle de ação sobre a capacidade do leitor para construir significado a partir do texto. Administr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> aos sujeitos uma bateria de<strong>se</strong>te instrumentos de avaliação. Uma série de análi<strong>se</strong> de regressão múltipla indic<strong>ou</strong> a existência dum modelo explicativo da leitura em L2 em dua<strong>se</strong>tapas. Na primeira, as variáveis psicológicas explicaram 10.2% da variância associada ao processamento do texto em L1, variável que, na <strong>se</strong>gundaetapa, explic<strong>ou</strong> 35.8% da variância associada à compreensão de leitura em inglês, ajuntada à competência lingüística do leitor em L2 e à <strong>sua</strong>capacidade para perceber transparência léxica entre L1 e L2.Palavras chave: Compreensão de leitura em inglês; Competência lingüística.PSYCHOLINGUISTIC DETERMINANTS OF READING COMPREHENSION IN ENGLISH AS A FOREIGN LANGUAGEAbstractThe purpo<strong>se</strong> of this study was to analyze the contribution of linguistic and psychological variables in the explanation of the variance associatedwith reading comprehension in English (L2). Two hundred and eighty Mexican university students participated in the study. The variables analyzedwithin the linguistic dimension were: reading strategies in Spanish, linguistic competence in English, and ability to perceive lexical transparencybetween L1 and L2. The psychological dimension evaluated the influence of the reader’s cognitive style, locus of control, and action controlorientation on reading comprehension in L2. Subjects were administered a battery of <strong>se</strong>ven evaluation instruments. Multiple regression analy<strong>se</strong>ssuggested a two-stage explanatory model of reading in L2. Firstly, psychological variables acc<strong>ou</strong>nted for 10.0% of the variance in readingcomprehension in the first language. Secondly, reading comprehension in Spanish, linguistic competence in L2, and perception of lexicaltransparency, acc<strong>ou</strong>nted for 35.5% of the variance in reading comprehension in English.Key words: Reading comprehension, foreign language, psycholinguistic re<strong>se</strong>arch.INTRODUCTIONThe ability to read proficiently in at least one foreignlanguage has become a major requirement of thecurricula of institutions of higher <strong>educ</strong>ation thr<strong>ou</strong>gh<strong>ou</strong>tthe world. This increasing demand for proficiency inspecific skills in foreign languages (reading being themost <strong>ou</strong>tstanding) has led to the development of c<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>sfor specific objectives, designed to meet concreteacademic priorities.Given the current need to improve the reading skillsof <strong>ou</strong>r university students, it is considered of utmostimportance to achieve a deep comprehension of themechanisms, proces<strong>se</strong>s, and variables that promote theacquisition of relevant disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> processing skills in a<strong>se</strong>cond or a foreign language, with particular emphasison reading. Such understanding w<strong>ou</strong>ld address a majorre<strong>se</strong>arch priority (Pugh & Ulijn, 1984) and promote thedevelopment of re<strong>se</strong>arch-gr<strong>ou</strong>nded instructionalapproaches in the field.Fearch and Kasper (1986) have stres<strong>se</strong>d the need toextrapolate the re<strong>se</strong>arch done in the field of reading in a1Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa - Área de Investigación en Lenguas y Culturas Extranjeras.2Universidad Nacional Autónoma de México - Facultad de <strong>Psic</strong>ología.3Universidad Autónoma Metropolitana - Unidad Iztapalapa - Departamento de Matemáticas.


22Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.first language (L1) to the study of reading proces<strong>se</strong>s inforeign languages (L2) with specific reference to thedevelopment of reading comprehension models, theformulation of re<strong>se</strong>arch hypothesis, and the <strong>se</strong>lection ofrelevant instructional methodologies. They contend thatalth<strong>ou</strong>gh the reader’s linguistic competence in L2 mayplay an important role in the construction of meaningfrom text in a foreign language, it is not necessarily themain determinant, considering the facilitation effectassociated with the reader’s knowledge of the linguisticsystem of the L1 and its strategic application.The problemA constant f<strong>ou</strong>nd among students registered inreading comprehension c<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>s in English at theUniversidad Autónoma Metroplitana in Mexico is theirwide variation in reading achievement, variation that cannot be uniquely associated with deficits in linguisticcompetence in L2. That is, alth<strong>ou</strong>gh most of <strong>ou</strong>r student<strong>se</strong>nter with a limited linguistic competence in English,some of them eventually develop powerful readingcomprehension strategies, and achieve an efficientcomprehension of textual information in L2, thusovercoming their original linguistic limitations. However,ca<strong>se</strong>s of students with rigid and inefficient text processingstrategies are invariably detected, most of them showinga lack of ability to integrate to their reading repertoiresstrategies which demand a flexible and interactiveprocessing of information.Hence, and alth<strong>ou</strong>gh the utmost importance oflinguistic determinants for L2 reading comprehension isacknowledged, this study is ba<strong>se</strong>d on the assumptionthat the construction of meaning from text in a foreignlanguage may also be determined by psychologicalfactors associated with the reader’s perceptual, cognitiveand volitional orientation. In such regard, the mainpurpo<strong>se</strong> of this study is to validate a multivariate modelof reading comprehension in L2 integrated by two mainexplanatory dimensions of analysis: the linguistic and thepsychological.text) and internal information (cognitive presuppositions).Disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> is analyzed from the word as the basic unit atthe lower level to whole themes as units at the higherlevel, with a continu<strong>ou</strong>s interaction among different textprocessing levels. In their words: “The model movesfrom the comprehension of words to the comprehensionof clau<strong>se</strong>s in which words have different functions, andfrom there to complex <strong>se</strong>ntences, <strong>se</strong>ntence <strong>se</strong>quencesand whole textual structures, with a continu<strong>ou</strong>s feedbackexisting among less and more complex units ... insteadof operating with a conventional structural processingmodel we operate with a strategic model”(p. 10).The modelThe model evaluated in this study (figure 1) is ba<strong>se</strong>don the tenet that the variability ob<strong>se</strong>rved in academicreading comprehension in English in Mexican universitystudents can be acc<strong>ou</strong>nted for by the interaction of twolinguistic and psychological variables. The first dimensionof the model (linguistic) is threefold and analy<strong>se</strong>s theimpact of (1) the reader’s strategies in his/her firstlanguage (Spanish), (2) his/her level of linguisticcompetence in the foreign language (English), and (3)his/her ability to perceive lexical transparency betweenboth languages (cognate perception). On the other hand,the psychological dimension, which is also threefold,evaluates the influence of the reader’s cognitive style,locus of control and action control orientation on her/hisconstruction of meaning from text.Conceptualization of the reading processThe theoretical approach to reading comprehensionthat underlies this re<strong>se</strong>arch is ba<strong>se</strong>d on the StrategicModel of Disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> Processing developed by Van Dijkand Kintsch (1983). Disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> processing isconceptualized as a strategic and interactive process inwhich the reader constructs a mental repre<strong>se</strong>ntation ofdisc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> in memory using both external information (theFigure 1: A multivariate model of linguistic and psychologicaldeterminants of reading. Original proposal.Following, a summarized revision of the variablesincorporated in the propo<strong>se</strong>d model is pre<strong>se</strong>nted in order toprovide a theoretical and re<strong>se</strong>arch backgr<strong>ou</strong>nd to the reader.


Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 23Reading comprehension in Spanish. The firstvariable propo<strong>se</strong>d in the explanation of the readingperformance of university students in English is theirability to strategically process textual information in theirfirst language. Its integration into the model was ba<strong>se</strong>don theoretical considerations ab<strong>ou</strong>t the preeminent roleof the first language in the acquisition of a foreignlanguage. In such regard, Beaugrande (1984)underscored the decisive influence of the learner’sknowledge of L1 in learning a foreign language, andpropo<strong>se</strong>d that the mother tongue plays the role of a metamodelof language (of a <strong>se</strong>t of expectancies regardingthe way in which any particular language is organized),which according to him, w<strong>ou</strong>ld eventually adjust toaccommodate the divergence among the L1 and the L2.Linguistic Competence in English. The importanceof linguistic competence in L2 for reading comprehensionhas been vastly acknowledged, alth<strong>ou</strong>gh perhapsunderestimated in current L2 teaching methodologies.Specifically, Beck and Carpenter (1986) propo<strong>se</strong> theexistence of a “threshold level” of linguistic competencefor reading, which may fluctuate according to specifictask demands but, below which, a reader cannot constructmeaning from text. Williams and Moran (1989), on theother hand, make reference to a “linguistic ceiling” forreading which, if extremely low, “w<strong>ou</strong>ld limit the ability ofthe reader to interact with the text” (p. 221).Perception of Lexical Transparency between L1and L2. According to a conceptualization of reading asa strategic process, it was considered that the ability toperceive and exploit cognate relationships between L1and L2 w<strong>ou</strong>ld become a most powerful strategy inreading, helping the reader to overcome limitations inhis/her lexical repertoire. Such contention has also beenendor<strong>se</strong>d by Beaugrande (1984) in the following terms:“If we presuppo<strong>se</strong> the existence of a general memorystore for both languages (the native and the foreign), alltactics that lead from elements in the mother tongue totheir equivalents in the foreign language help to enhanceboth the efficiency and the <strong>se</strong>arch in memory improvingfamiliarity ... the similarity supports learning enabling thetransference of elements, assumptions, and proces<strong>se</strong>salready familiar” (p.10).Cognitive Style. Cognitive style is defined as thetypical way to solve problems, think and perceive of agiven subject. Re<strong>se</strong>arch literature in the field makesreference to <strong>se</strong>veral categorizations of the constructincluding field dependence-independence, conceptualtempo, and attentional style, among others. This studycenters in the analysis of the first of the<strong>se</strong> categoriesgiven its relevance to the study of reading as a complexproblem-solving skill as well as the vast am<strong>ou</strong>nt of experimentalre<strong>se</strong>arch relating cognitive style and readingcomprehension. According to Witkin (in Pitts &Thompson, 1984), the field independent (FI) person hasa greater ability to discover <strong>ou</strong>tstanding features in acomplex field as well as to react to ambigu<strong>ou</strong>s stimuli inan analytical way, while the field dependent (FD) personvi<strong>sua</strong>lizes patterns more globally. Field independence hasalso been associated with a greater articulation andcompetence in cognitive analysis and restructuring, whilefield dependence has been related to a more globalapproach and to a greater interpersonal competence.Re<strong>se</strong>arch on the relationship between readingcomprehension and cognitive style has shown that FIreaders are more capable of making inferences thantheir dependent c<strong>ou</strong>nterparts when confronted with tasksthat demand an inferential interpretation from pro<strong>se</strong>; thatFD subjects tend to constrain their reasoning to realevents, whereas FI individuals consider multiplealternatives (Linn, 1978); and that FD readers stronglyrely on information in the text, not exploiting theirprevi<strong>ou</strong>s knowledge as efficiently as FI independentsubjects (Spiro & Tirre, 1980).Locus of Control. Locus of control is defined as a<strong>se</strong>t of generalized expectancies that reflect consistentindividual differences among subjects regarding theextent to which they perceive a contingency betweentheir behavior and sub<strong>se</strong>quent events. According toStrickland (1989), subjects with an internal locus ofcontrol perceive a contingency between their ownbehavior and sub<strong>se</strong>quent events, whereas individuals withan external orientation have more probability of perceivingtho<strong>se</strong> events as resulting from fate, chance orcircumstances beyond their personal control. Re<strong>se</strong>archliterature in the field includes studies analyzing therelationship between locus of control and intentional andincidental memorization (Beaule & Mckelvie, 1986), andlocus of control and academic achievement(Mwamwenda & Mwamwenda, 1986). Findley andCooper (1988) report a literature review of 98 re<strong>se</strong>archstudies analyzing the relationship between locus ofcontrol and academic achievement. According with theirresults, internal control beliefs showed to be consistentlyand significantly correlated with higher academicachievement.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31


24Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.Action Control. The construct of action control,advanced by Kuhl (1987), refers to a meta-cognitiveprocess that mediates the execution of an action relatedto an intention of an individual. The process organizesand controls cognitive operations, such as <strong>se</strong>lectiveattention and the am<strong>ou</strong>nt and quality of informationproces<strong>se</strong>d in a way that maximizes the congruencebetween intention and performance. The extent of actioncontrol evoked in a particular situation varies along thetwo ends of a continuum between action and stateorientation. State-oriented cognitions do not evoke anytendency to action but can actively inhibit the expressionof action tendencies as a result of a partial incompatibilitybetween action and state orientation. That is, accordingto Kuhl (1987), in a complex problem-solving situation,as the am<strong>ou</strong>nt of state-oriented cognitions increa<strong>se</strong>s,the likelihood that the individual performs an expectedaction tends to decrea<strong>se</strong>. It is assumed that an actionthat demands complex preparatory planning cannot becarried <strong>ou</strong>t when the organism is state-oriented sincepart of the attentional capacity required is employed instate-oriented proces<strong>se</strong>s. Re<strong>se</strong>arch studies focu<strong>se</strong>d onthe analysis of the relationship between action controland reading comprehension are not reported in theliterature. Nevertheless, ba<strong>se</strong>d on a conceptualizationof the reading process in L2 as a complex problemsolvingendeavor, and on the results of preliminaryexploratory studies conducted with Mexican universitystudents, it was considered that the reader’s actioncontrol orientation may also contribute to explain thevariability in L2.Re<strong>se</strong>arch hypothesisAs can be concluded from the previ<strong>ou</strong>s revision ofliterature, the individual influence on readingcomprehension of the linguistic and psychologicalvariables incorporated into the model has beendocumented on the re<strong>se</strong>arch literature. However, noprevi<strong>ou</strong>s attempts to integrate the two dimensions into asingle, comprehensive model of reading have beenreported. Therefore, the purpo<strong>se</strong> of this study was toexamine the explanatory power of a multivariate modelof reading centered ar<strong>ou</strong>nd two dimensions of analysis:the linguistic and the psychological. The model wastranslated into the following re<strong>se</strong>arch hypothesisReading comprehension in English in Mexicanuniversity students, native speakers of Spanish, is afunction of their level of reading comprehension inSpanish (reading strategies in L1); of their level oflinguistic competence in the foreign language; of theirability to perceive lexical transparency between boththe first and the foreign language; of their cognitive style(field dependence vs. field independence); of their locusof control (internal vs. external); and of the type of actioncontrol orientation.METHODParticipants. Two hundred and eighty voluntaryundergraduate college students from two Mexican publicuniversities participated in the study, 118 males and 162females. As to the institution of reference, 105 werefrom the Universidad Nacional Autónoma de México(UNAM) and 175 from the Universidad AutónomaMetropolitana (UAM).Instruments. The evaluation of the sample wasba<strong>se</strong>d on the administration of a battery of testsintegrated by the following instruments: (1) Test ofDisc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> Processing in English as a Foreign Language(Vivaldo, 1994); (2) Test of Disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> Processing inSpanish as a First Language (Vivaldo, 1994); (3) NelsonEnglish Language Test-Level 150 (Fowler & Coe,1976); (4) Test of Perception of Lexical Transparencybetween English and Spanish (Vivaldo, 1992); (5) TheEmbedded Figures Test (Witkin, Oltman, Raskin & Karp,1971); (6) Internality-Externality Scale (Romero-García& Pérez, 1983); and (7) Action Control Scale (Kuhl,1990). Following a brief description of each instrumentis pre<strong>se</strong>nted.Tests of Disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> Processing Strategies inEnglish and Spanish. Two equivalent tests for theevaluation of reading comprehension in English andSpanish were developed specifically for the study. Thetheoretical and methodological approach to theevaluation of reading comprehension was ba<strong>se</strong>d on anextrapolation of the strategic model of disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>processing developed by Van Dijk and Kintsch (1983).The evaluation involved the analysis of the reader’sperformance at the following major levels of disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>processing: schematic, macro propositional, localcoherence and propositional.Given that a major methodological challenge of thestudy was to assure the equivalence between theevaluation of reading strategies in English and in Spanish,a major consideration in the design of the<strong>se</strong> instruments


Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 25was to control for textual variables (text length, lexicaldensity, conceptual density, structure, typographical clues).Multiple-choice items evaluating the reader’sperformance on each of the f<strong>ou</strong>r main levels of strategicdisc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> processing propo<strong>se</strong>d by Van Dijk and Kintsch(1983) were developed for each text. Items werepre<strong>se</strong>nted in Spanish in both tests in order to avoidadditional task demands associated to the understandingof the evaluation items in the foreign language. Finalversions of the tests were revi<strong>se</strong>d and piloted usingteachers of English as judges. The final version for eachinstruments contained 45 items classified as follows:Sections 1 and 2. Macropropositional Level (Items1-17) Included 10 multiple choice and 7 true-fal<strong>se</strong> item<strong>se</strong>valuating the ability of the reader to discriminate andintegrate the main macro ideas in the text both at a globaland at a local level.Section 3. Local Coherence Level (Items 18-25).Included 8 multiple-choice items centered on theevaluation of contextual referents within the text, as wellas on the ability of the reader to follow the argumentativenetwork in the text.Section 4. Propositional Level (Items 26-40). This<strong>se</strong>ction was ba<strong>se</strong>d on a “cloze” format and focu<strong>se</strong>d onthe evaluation of the reader’s ability to integrate syntactic,morphological, discursive, lexical and grammaticalinformation at a propositional level.Test of Perception of Lexical Transparencybetween L1 and L2. The test measured the ability ofthe reader to perceive cognates (words sharing bothsimilar form and meaning in two languages) within anacademic text. The test was ba<strong>se</strong>d on a short expositorytext ab<strong>ou</strong>t chemistry (“The Nobel Prizes”), publishedin Scientific American. The text was initially pilotedwith a gr<strong>ou</strong>p of experts who were asked to underlineall English-Spanish cognates included in it, with exactregistration made of their respon<strong>se</strong> times. From theprevi<strong>ou</strong>s procedure 134 words were categorized ascognates (tho<strong>se</strong> words <strong>se</strong>lected as such by all theexperts). On the other hand, and according to the meanrespon<strong>se</strong> time between experts, a respon<strong>se</strong> time of 5min. was established for the administration of the test(the idea being to obtain an indicator of the reader’sfirst impression during a first read of the article andnot of a word-by word analytical process not naturalduring normal reading). The grading for the test rangesbetween 0 (minimum possible value) and 134(maximum possible value).Action Control Scale. The Action Control Scale(Kuhl, 1991) is a 36-item instrument divided into threesubscales (action control during performance, failure anddecision taking). Each subscale is integrated by 12 itemsdescribing particular problem situations. For eachsituation the subject is given an alternative between twopossible respon<strong>se</strong> alternatives, either A or B (one orientedtowards action and the other towards an emotional state).The grading of the subjects’ respon<strong>se</strong>s for each subscaleis ba<strong>se</strong>d o the c<strong>ou</strong>nt of the total of action-orientedrespon<strong>se</strong>s (between 0 and 12). In order to provide foreffects associated with item pre<strong>se</strong>ntation, items aredistributed at random as well as options A and B. In theca<strong>se</strong> of this study, only the subject’s scores for the AOFscale were taken into consideration.Levenson Internality-Externality Scale. (Romero-García & Pérez, 1985). This instrument is centered onthe analysis of the subjects´ locus of control within aninternal-external dimension. It includes 24 Likert-typeitems ranging between 0 (totally disagree) and 6 (totallyagree). The total internality score for the subject (IT) isobtained adding <strong>se</strong>parately the scores for each one ofthe three subscales of the instrument.Procedure. Administration of instruments wascarried <strong>ou</strong>t on a gr<strong>ou</strong>p basis and involved three twoh<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>ssions per gr<strong>ou</strong>p. A total of 27 gr<strong>ou</strong>p <strong>se</strong>ssionswere held (9 gr<strong>ou</strong>ps analyzed). The administration ofreading comprehension tests was carried <strong>ou</strong>t on the basisof a c<strong>ou</strong>nterbalance procedure regarding the followingcriteria: (1) order of language evaluation (L1 or L2);and (2) version of exam administered (Text A or Text Bin each language). Statistical analy<strong>se</strong>s included a <strong>se</strong>riesof descriptive, correlational, and multiple regressionanaly<strong>se</strong>s, an were conducted using the StatisticalPackage for Social Sciences (SPSS).RESULTSThe final sample for the study included 280undergraduate college students, 118 males (42.1%) and 162females (57.9%). The mean age for the sample 23.06 years.105 of the participants were from the UNAM whereas175 of them were students at UAM. As to their field ofstudies, 208 (74.3%) were from the Division of SocialSciences and Humanities; 38 (13.6%) from the Division ofBasic Sciences and Engineering; and 34 (12.0% from theDivision of Biological and Health Sciences.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31


26Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.The descriptive analysis of the main variables understudy yielded the following results: (1) Readingcomprehension in English: mean score of 19.32,equivalent to 52/100, with an standard deviation of 4.99;(2) Reading comprehension in Spanish: mean score of25.62 (equivalent to 69/100) with a standard deviationof 4.75; (3) Linguistic competence in English: meanscore of 15.85 (equivalent to 31/100) with a standarddeviation of 5.87; (4) Perception of lexical transparencybetween English and Spanish: mean score of 93.8(equivalent to 69% of correctly identified cognateswithin the corresponding test) with a standard deviationof 19.46; (5) Cognitive style: mean score of 9.55 (slightlyabove de median of possible scores for such test) witha standard deviation of 4.72; (6) Locus of control: meanscore of 20.24 (slightly above the median of possiblescores for the corresponding test 20) with a standarddeviation of 6.84, (7) Action Orientation (AOFsubscale): mean score of 6.57 (slightly above themedian of possible scores for the correspondingsubscale of Kuhl’s scale=6.0) with a standard deviationof 6.57.Multiple regression analysis. The regressionmodel originally propo<strong>se</strong>d to explain the variability ofreading comprehension in English (RCE) -Model 1-estimated from the scores of the 280 subjects includedin the sample under study, yielded the following results(Table 1): An F=25.46627 for the associated analysis ofvariance, indicating a significant regression of model 1(p


Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 27However, under Model 1 only three variables showedto be significant, namely, reading comprehension inSpanish, linguistic competence in English and perceptionof lexical transparency between L1 and L2 (p < 0.0000;0.0000; and 0.05, respectively). Therefore, alternativemodels were examined, withdrawing each of the nonsignificantvariables. Models with 5, 4 and 3 independentvariables were tested. The model with three independentvariables (RCS, LCE, and PLT) was the only one inwhich all explanatory variables were significant (Table2 - “Sig T column”).RCE = b 0+ b 1RCS + b2LCE + b 3PLT+e...............................(Model 2)hypothesized that they c<strong>ou</strong>ld have not a direct but anindirect influence on he disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> processing skills inEnglish. That is, it c<strong>ou</strong>ld be the ca<strong>se</strong> that the psychologicalvariables did not explain RCE in the pre<strong>se</strong>nce of RCS,LCI and PLT due to the fact that they c<strong>ou</strong>ld be involvedin the explanation of the variability of any of tho<strong>se</strong>variables. Hence, and as a first step in such direction, itwas decided to analyze the influence of the reader’scognitive style, locus of control and action control onhis/her text processing skills in Spanish, ba<strong>se</strong>d on thefollowing considerations: (1) The knowledge of the firstlanguage is considered to be play the role of a metamodelin the acquisition of a foreign languageTable 2: Multiple regression analysis. Model 2.The regression analysis for Model 2 (Table 2) yieldeda multiple correlation coefficient of 0.59652, adetermination coefficient of 0.35584 (that is, RCS, LCE,and PLT explained 35.584% of RCE’s variability undermodel 2, r<strong>ou</strong>ghly equivalent to the percentage obtainedunder model 1), and an F value of 50.82 indicating theexistence of a significant regression for model 2 (p


28Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.Table 3: Analysis of correlations among variables.independent variables (cognitive style, locus of controland action control) significant (p


Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 29actually have is a rather indirect effect of tho<strong>se</strong> variablesa two-pha<strong>se</strong> model which is explained as follows:PHASE 1Reading comprehension in Spanish is a function ofthe reader’s cognitive style, locus of control, and actioncontrol orientation. Model 3PHASE 2Reading comprehension in English is a function ofthe reader’s level of reader comprehension in Spanish,linguistic competence in English, and ability to perceivelexical transparency between L1 and L2. Model 2DISCUSSION AND CONCLUSIONSThe main re<strong>se</strong>arch hypothesis of this study was thatthat the variation in reading comprehension in English inMexican university students was a function of theinteraction of both linguistic variables (text processingstrategies in L1, linguistic competence in L2 and perceptionof lexical transparency between L1 and L2) andpsychological variables (cognitive style, locus of controland action control). However, and even th<strong>ou</strong>gh theinfluence of the aforementioned variables was partiallyvalidated from the <strong>se</strong>ries of regression analy<strong>se</strong>s performed,it became evident that the explanation of the variability inreading comprehension in L2 was not straightforward (i.e.,one that c<strong>ou</strong>ld be acc<strong>ou</strong>nted for on the basis of the directcontribution of the complete <strong>se</strong>t of originally propo<strong>se</strong>dvariables). Rather, such variability was partially explainedon the basis of a two-stage process in which the influenceof the three linguistic variables integrated into the modelshowed to be direct, whereas the influence of the threepsychological variables was indirect (Figure 2).Figure 2: A preliminary explanatory model of text processingvariability in English (L2).Specifically, and as originally hypothesized, thereaders’ ability to process academic written disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>in English has shown to be a function of three majorpredictor variables, namely, reading comprehension inSpanish, linguistic competence in the foreign language,and ability to perceive lexical transparency between thetwo languages. In such regard, a model has beenvalidated that acc<strong>ou</strong>nts for an initial 35% of the varianceof reading comprehension in English taking as predictorvariables the three linguistic variables incorporated intothe original model. On the other hand, and even th<strong>ou</strong>ghthe <strong>se</strong>t of psychological variables did not show a direct,significant contribution in the explanation of readingcomprehension in English, an alternative multipleregression analysis, which considered the readers’ textprocessing strategies in L1 as the dependent variable,revealed that the reader’s cognitive style, locus of controland action control orientation have a slight, th<strong>ou</strong>ghsignificant contribution, in the explanation of the variabilityof text processing strategies in L1. Hence, given thefact that reading comprehension in Spanish constitute in<strong>ou</strong>r model the most important predictor of the variabilityassociated with disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> processing in English, and thatthe former is in it<strong>se</strong>lf partially explained by the complete<strong>se</strong>t of psychological variables, a two-stage explanatorymodel of reading in LLL2 is suggested from this studyba<strong>se</strong>d on the following considerations.First, it has been f<strong>ou</strong>nd that the ability of the readerto process written academic disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> in L1 is the mostpowerful predictor of his/her reading comprehension inthe foreign language, maybe in the form of the metamodelof language propo<strong>se</strong>d by Beaugrande (1984)paving the way for the extrapolation of reading strategiesfrom L1 to L2. Second, text processing skills in Englishhave also been explained by the reader’s level oflinguistic competence in the foreign language,competence that w<strong>ou</strong>ld repre<strong>se</strong>nt the linguisticknowledge ba<strong>se</strong> of the reader and that w<strong>ou</strong>ld play amajor role in the successful construction of meaning fromtext. Third, the ability to perceive and exploit lexicaltransparency between L1 and L2 has also been f<strong>ou</strong>ndto constitute a determinant of text processing ability inthe foreign language.Furthermore, it has been f<strong>ou</strong>nd that cognitive style,locus of control, and action control orientation function asindirect psychological mediators of reading comprehensionin English, exerting an indirect impact on such variablevia their influence on the reader’s disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> processing<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31


30Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc.ability in the first language, the first major predictor of L2reading in <strong>ou</strong>r study. In such regard, it may be the ca<strong>se</strong>that the influence of psychological variables can be morestrongly differentiated in the explanation of readingcomprehension in L1 due to the fact that the reader w<strong>ou</strong>ldhave already developed and internalized a s<strong>ou</strong>nd spectrumof lexical, <strong>se</strong>mantic, syntactic and grammatical decodingskills, thus making it more feasible to discriminate thedifferential impact of psychological variables, inthem<strong>se</strong>lves more distal to the central process under study.On the other hand, the impact of linguistic variables in theexplanation of text processing variability in L2 w<strong>ou</strong>ld beexpected to be more preeminent, since the readers’ lexical,syntactic and grammatical repertories w<strong>ou</strong>ld tend to bemore limited as a result of the limited level of linguisticcompetence in the foreign language. Hence, uponconstructing meaning from text the specialized proces<strong>se</strong>sassociated with the linguistic dimension of analysis w<strong>ou</strong>ldconstitute the strongest determinants in the constructionof meaning from text.To conclude, the model validated from this studyprovides a preliminary, non-exhaustive explanationof an otherwi<strong>se</strong> extremely complex phenomenon: thedevelopment of academic written disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>processing skills in a foreign language. In suchregard, further re<strong>se</strong>arch is needed in order tobroaden <strong>ou</strong>r explanatory framework, integrating theanalysis of the contribution of additional predictivevariables not considered in this investigation whichmay include vocabulary knowledge in L2 (Nation,1983), lexical access (Baddeley, Loggie, Nimmo-Smith & Brereton, 1985), previ<strong>ou</strong>s knowledge(Afferbach, 1990); and socially-related factors(Parry, 1993; Street, 1993; Au, 1998)REFERENCESAfferbach, P. P. (1990). The influence of prior knowledge onexpert readers’ main idea construction strategies. ReadingRe<strong>se</strong>arch Quarterly, 25 (1), 31-41.Au, K. H. (1998). Social constructivism and the school literacylearning of students of diver<strong>se</strong> backgr<strong>ou</strong>nds. J<strong>ou</strong>rnal ofLiteracy Re<strong>se</strong>arch, 30 (2), 297-319.Baddeley, A., Logie, R., Nimmo-Smith, I., & Brereton, N. (1985).Components of fluent reading. 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Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira 31Spiro, R. J., & Tirre, W.C. (1980). Individual differences inschema utilization during disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> processing. J<strong>ou</strong>rnalof Educational Psychology, 72, 204-208.Street, B. V. (1993). The new literacy studies, guest editorial.J<strong>ou</strong>rnal of Re<strong>se</strong>arch in Reading, 16 (2).Strickland, B. R. (1989). Internal-external control expectancies.American Psychologist, 44 (1), 1-12.Van Dijk, T. A., & Kintsch, W. (1983). Strategies of disc<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>comprehension. New York: Academic Press.Vivaldo, L. J. (1992). Determinantes lingüísticos y psicológicosde la variabilidad del procesamiento del discursoacadémico escrito en lengua extranjera (inglés) enestudiantes universitarios. Master in EducationDis<strong>se</strong>rtation. Universidad Nacional Autónoma de México,México.Vivaldo, L. J. (1994). Lectura y evaluación: Un enfoque estratégico.Imágenes Educativas,1 (4), 3-13.Williams, E., & Moran, C. (1989). Reading in a foreign languageat intermediate and advanced levels with particularreference to English. Language Teaching (TheInternational Abstracting J<strong>ou</strong>rnal of Language Teachersand Applied Linguists), Cambridge University Press.Witkin, H., Oltman, P., Raskin, E., & Karp, S. (1971). A manualfor the Gr<strong>ou</strong>p Embedded Figures Test. Palo Alto, CA:Consulting Psychologist.Recebido em: 19/12/02Revisado em: 01/04/03Aprovado em: 03/06/03<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31


<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46PROFESSOR-ESTRESSE: ANÁLISE DE PRODUÇÃO CIENTÍFICAGeraldina Porto Witter 1ResumoA associação professor-estres<strong>se</strong> é examinada no contexto <strong>educ</strong>acional. O estres<strong>se</strong> do professor está relacionado a variáveis do meioacadêmico, de fora da escola e do professor. O impacto desta associação influi na saúde do professor, no <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>mpenho e na qualidade do processoensino-aprendizagem. Com o objetivo de apre<strong>se</strong>ntar uma perspectiva de como a matéria está <strong>se</strong>ndo considerada na literatura internacional, foianalisada a produção arrolada na ba<strong>se</strong> bibliográfica PsycArticle, de 1987 a 2002. Somente 28 artigos consideraram a relação professor-estres<strong>se</strong>.Eles foram analisados quanto aos indicadores de progresso científico: autoria, tipo de trabalho e área específica de conteúdo. Há p<strong>ou</strong>cas pesquisasna área, elas são descritivas e produzidas por grupos de pesquisadores.Palavras-chave: Qualidade de vida; Educação; Grupo de pesquisa.AbstractTEACHER-STRESS: ANALYSIS OF SCIENTIFIC PRODUCTIONIn the <strong>educ</strong>ational context it is examined the teacher-stress association. The teacher’s stress is related with variables of academic environment,of <strong>ou</strong>t of the school and of the teacher. The impact of that association can be <strong>se</strong>e in the teacher’s health, in his achievement and in the qualityof the teaching-learning process. With the objective to pre<strong>se</strong>nt one view of how issue is being considered in international literature it is focu<strong>se</strong>dthe production pre<strong>se</strong>nted in the bibliographic ba<strong>se</strong> PsycArticle, from 1987 until 2002. Only 28 papers considered the relation teacher-stress. Theywere analyzed in relation to the progress indicators: authorship, kind of work and specific content area. There are few re<strong>se</strong>arch in the area, theyare descriptives and produced by scientists’ gr<strong>ou</strong>ps.Key-words: Life quality; Education; Gr<strong>ou</strong>p of re<strong>se</strong>arch.INTRODUÇÃOEnfoca-<strong>se</strong> neste trabalho a questão do estres<strong>se</strong> noque concerne ao professor, com destaque para a produçãocientífica. Não <strong>se</strong> pretendeu fazer uma revisãoexaustiva em várias ba<strong>se</strong>s de dados, nem <strong>se</strong>quer verificaresta produção em um país específico (Brasil, porexemplo). Análi<strong>se</strong>s essas que poderiam <strong>se</strong>r objeto dedis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s. Considerando a relevância do temapara a <strong>educ</strong>ação e para os que nela atuam, especialmenteo professor, o objetivo foi explorar uma ba<strong>se</strong> dedados e ver como a produção arrolada <strong>se</strong> situava emtermos de volume, temática específica e de indicadorescientíficos.Como é freqüente no Brasil o uso de stress, aqui <strong>se</strong>fará uma breve explicação da razão pela qual <strong>se</strong> opt<strong>ou</strong>pelo uso do vocábulo estres<strong>se</strong>. Stress é vocábulo inglês,surgido para nomear aspecto específico da Resistênciade Materiais, que corresponde em português à pressão<strong>ou</strong> tensão. Por razões ainda p<strong>ou</strong>co claras, referindo-<strong>se</strong>a Portugal, como diz Pereira (1999), mas que não estáalheio ao “novo pretencionismo nacional de usar vocábulosingle<strong>se</strong>s, que sucedeu ao de usar vocábulos france<strong>se</strong>s– são épocas, são modos! O termo nunca foi traduzido,nem por médicos, nem mais tarde por psicólogos”(p. 245).As condições sociolingüísticas no Brasil são similaresàs de Portugal quanto à inclusão de termos estrangeirosna língua <strong>se</strong>m o cuidado de exame etimológico e<strong>se</strong>m verificar <strong>se</strong> já não existe o vocábulo com o conteúdo<strong>se</strong>mântico pretendido. Possivelmente é até maior pelaevolução da história nacional incluir um longo período1Universidade de Mogi das Cruzes e PUC-Campinas.


34 Geraldina Porto Wittercolonial. Todavia, o fenômeno de inclusão do inglês e doespanhol no Brasil, até mesmo descaracterizando a línguae com ela a nacionalidade é, possivelmente, maisintenso aqui. Entretanto, há um esforço imenso de estudiososde lexicografia, da lingüística geral, dasociolingüística e dos dicionaristas para corrigir esta submissãoe distorção lingüístico-cultural.Pressão e tensão foram muito usadas, estandodicionarizadas há muito tempo. Com o crescimento d<strong>ou</strong>so de stress, os estudiosos do léxico e os dicionaristasbrasileiros acabaram por incluir estres<strong>se</strong> entre os vocábulosque constituem a língua portuguesa falada no Brasil.Isto já ocorre há algumas décadas e pode-<strong>se</strong> verificaresta aceitação nos manuais de redação até mesmode grandes jornais como O Estado de São Paulo e aFolha de São Paulo. Todavia, é superior em questãode vocábulos e respeito à língua, especialmente com<strong>ou</strong>m dos símbolos nacionais, a inclusão do vocábulo nosgrandes dicionários e <strong>sua</strong> aprovação pela AcademiaBrasileira de Letras como pré-requisito para <strong>se</strong>u uso.Por exemplo, em H<strong>ou</strong>aiss, Villar e Franco (2001) oleitor é informado que, desde 1975 o termo estres<strong>se</strong> jáestava oficialmente incluso no léxico, que <strong>sua</strong> origem émédica, indicando um estado de “percepção de estímulosque provocam excitação emocional e, ao perturbarema homeostasia, levam o organismo a disparar umprocesso de adaptação da <strong>se</strong>creção de adrenalina, comvárias con<strong>se</strong>qüências sistêmicas” (p. 1264).A ênfa<strong>se</strong> é na descrição biológica dada à área deorigem do termo. Lembra que o termo inglês é bem maisantigo aos atuais estudos. Surgiu depois do século XIV,visto como tensão e passa a <strong>se</strong>r considerado como distúrbiotanto fisiológico como psicológico causado porcircunstâncias adversas, por volta de 1942. Na medicinafoi incorporado pelos trabalhos do fisiologista norteamericanoWalter Cannon (1871-1945) e do fisiologistacanaden<strong>se</strong> Hans Selye (1907-1982), o qual despont<strong>ou</strong>nos anos 30, <strong>se</strong>ndo mais divulgado no Brasil. Como variação<strong>ou</strong> sinônimo pode <strong>se</strong>r usado o termo estricção e overbo vinculado é estressar.Dentre as con<strong>se</strong>qüências negativas do estres<strong>se</strong> aparecem:fadiga, adinamia, agitação, inadaptação. Quandoo estres<strong>se</strong> é mantido dentro de um bom nível de controleas con<strong>se</strong>qüências podem <strong>se</strong>r positivas. Desde quehaja possibilidade de correção, as pessoas manifestamprazer e produtividade. Em qualquer organização, inclusivenas escolas, é necessário gerenciar o estres<strong>se</strong> quando<strong>se</strong> pretende ter produtividade e satisfação. O climaorganizacional deve <strong>se</strong>r favorável para que o nível detensão, as exigências contínuas e <strong>ou</strong>tros estressores nã<strong>ou</strong>ltrapas<strong>se</strong>m o ponto ideal.Estres<strong>se</strong> e docênciaNo cenário <strong>educ</strong>acional muitos são os que assumempapéis e funções em níveis diversos. Todavia, mesmonão ocupando altos cargos e não participando do processoprincipal de decisões, certamente é o professoruma das duas figuras mais importantes. A <strong>ou</strong>tra, <strong>se</strong>mdúvida, é o aluno. Embora <strong>se</strong> possa dizer que no processointerativo entre professor e aluno, um exerce influênciasobre o <strong>ou</strong>tro, cabe ao professor influir mais no processode formação e de<strong>se</strong>nvolvimento dos alunos quelhe são confiados, <strong>se</strong>jam eles crianças do maternal <strong>ou</strong>mesmo universitários.Nessas circunstâncias, não é de estranhar a constantepreocupação de administradores e de pesquisadores dediversas áreas em conhecer o professor. Entre os pesquisadore<strong>se</strong>stá o psicólogo que tem <strong>se</strong> ocupado em conhecerdiretamente o professor, trabalhar com <strong>se</strong>us problemas, <strong>sua</strong>srelações interpessoais, <strong>sua</strong> eficácia e eficiência enquantoprofissional do ensino. Também não é de <strong>se</strong> surpreenderque universalmente <strong>se</strong>ja constatada a preocupação emaprimorar cada vez mais a formação do professor, quergerando legislação específica, quer pesquisando intensamentea formação do referido profissional.Entre a problemática vivenciada e pesquisada no queconcerne ao docente está a questão do estres<strong>se</strong>.Estres<strong>se</strong> (Witter, 2002b) é um problema mundial de saúdebiopsicossocial que tem sido objeto de pesquisas descritiva<strong>se</strong> funcionais, que buscam as causas e as soluções,que <strong>se</strong> refletem nas programações de prevenção e deintervenção. Embora o estres<strong>se</strong> apareça como um dosproblemas de saúde do trabalhador, este não tem sidoobjeto suficiente de pesquisas específicas. Há muito quepesquisar já que o estres<strong>se</strong> tem sido indicado como pre<strong>se</strong>nteno quadro de problemas de saúde das várias profissões.Um destes profissionais é o professor.O contexto <strong>educ</strong>acional pode gerar estres<strong>se</strong> em todosos que o partilham, resultante do próprio ambiente,das relações interpessoais, das tarefas etc. (Witter, 1997).Como isso ocorre em relação ao professor é o cerne dotema aqui enfocado, mas não <strong>se</strong> pode esquecer que <strong>se</strong>trata, na maioria das vezes, de pacotes de variáveis interligadas,podendo ocorrer de uma potencializar a <strong>ou</strong>tra.Certamente não é um quadro fácil de pesquisar <strong>ou</strong>mesmo de intervir.


Professor-estres<strong>se</strong>: Análi<strong>se</strong> de produção científica 35Programas (tanto de prevenção como de intervenção)para redução dos níveis de estres<strong>se</strong> procurammanipular as variáveis geradoras do problema para controlaro efeito das mesmas. Daí a relevância da pesquisapara detectá-las e, posteriormente, das pesquisas deavaliação dos referidos programas. No caso do professor,atue ele nos primeiros níveis de ensino <strong>ou</strong> mesmono ensino superior, há variáveis similares que podem terformas e intensidades diferentes, mas que estão pre<strong>se</strong>nte<strong>se</strong>m todos os níveis. Algumas estão pre<strong>se</strong>ntes emqualquer profissão, como é o caso do sistema administrativo<strong>ou</strong> organizacional.O modelo de administração adotado na escola propiciaa ocorrência de estres<strong>se</strong> na mesma, principalmenteno caso do professor. Considere-<strong>se</strong>, por exemplo, umaorganização de sistema aberto. Na entrada des<strong>se</strong> sistemaestão as pessoas (inclusive o professor), a informação,os materiais e a energia. As pessoas precisam estarformadas e terem treino freqüente para atualizaçãode modo a convergirem <strong>sua</strong>s ações para os objetivos dainstituição <strong>escolar</strong>. A informação fornece uma rede deapoio social para a liderança e para a atualização profissional.Os materiais são elementos de ba<strong>se</strong> para aatuação. A energia é despendida pela equipe profissionalpara que metas e objetivos específicos <strong>se</strong>jam alcançados.No centro da organização é preciso considerarvariáveis que levam ao envolvimento das pessoas (variáveisfísicas, biológicas, psicológicas, laboriais, culturais)e o que ocorre em <strong>ou</strong>tras organizações similares. Nasaída do sistema tem-<strong>se</strong>: trabalho e produção, estres<strong>se</strong>e satisfação/insatisfação. Na escola, o trabalho maisdiretamente vinculado à produção é o realizado pelo professor,daí a maior pressão do sistema incidir sobre ele.O resultado da produção é constituído pelo que <strong>se</strong> constatano aluno em termos do de<strong>se</strong>nvolvimento de competência<strong>se</strong> de habilidades estabelecidas e interligadas nosobjetivos da escola. Esta situação pode gerar muitoestres<strong>se</strong> no professor.O sistema produz satisfação e insatisfação nas pessoas,<strong>se</strong> a insatisfação for preponderante os níveis deestres<strong>se</strong> tenderão a subir e as con<strong>se</strong>qüências terão reflexoem todo o sistema (Pereira, 1999). Cabe ao administrador<strong>escolar</strong> criar parte das condições que garantama cultura organizacional. É importante que as variáveisorganizacionais <strong>se</strong>jam controladas para reduzir oestres<strong>se</strong>. Outras variáveis escapam ao controle do administradordireto (diretor, coordenador). Estão na esferado governo <strong>ou</strong> decorrem de variáveis pessoais doprofessor (<strong>sua</strong> formação, <strong>sua</strong> personalidade, <strong>se</strong>u controlede estres<strong>se</strong>, fa<strong>se</strong> de de<strong>se</strong>nvolvimento pessoal emque está, <strong>se</strong>us objetivos pessoais, <strong>sua</strong> vida familiar etc.).Como lembra Pereira (1999) é indispensável que asorganizações entendam o ajustamento das pessoas naorganização, a <strong>sua</strong> interdependência, a produção, a satisfação,as tensões. A ideologia da gestão deve cuidarde um “contrato psicológico” pelo qual <strong>se</strong> ajustam a<strong>se</strong>xpectativas das pessoas envolvidas, <strong>se</strong> estabelece amotivação das mesmas e são criados esquemasreforçadores.Hoje, é ilusório manter o velho adágio de que “o clientetem <strong>se</strong>mpre razão”. Há muito mais a <strong>se</strong> considerare o trabalhador é fundamental no confronto das relaçõesorganização-clientela. Na escola também é precisoter este cuidado, mesmo quando <strong>se</strong> trata de escolapública, talvez até mais aí, no caso brasileiro, dadas ascondições atuais da escola pública nacional.Garantir condições motivadoras as<strong>se</strong>gura a manutençãodo estres<strong>se</strong> em nível adequado ao bom de<strong>se</strong>mpenhodo docente. É necessário as<strong>se</strong>gurar, por exemplo,condições para auto-atualização (implica, pela ordem,em garantir o atendimento de necessidades universais:fisiológicas, de <strong>se</strong>gurança, social e pessoal, deamor/paternal – estar com os <strong>ou</strong>tros, de estima, de sabere conhecer) (Maslow, 1954, 1962).A organização que viabiliza a auto-realização de <strong>se</strong>usdocentes contará com professores com melhor percepçãoda realidade envolvente, melhores relações com esta realidade,mais independentes, mais criativos, mais envolvidoscom a solução dos problemas da organização e do ensinoaprendizagemdo que voltados para <strong>se</strong>us interes<strong>se</strong>s pessoais.Dessa forma, tendem a não apre<strong>se</strong>ntar estres<strong>se</strong> acadêmico-institucionalelevado e terão melhor de<strong>se</strong>mpenho.Quando a escola é motivo de constante frustraçãopara o docente as con<strong>se</strong>qüências tendem a <strong>se</strong>r negativas.Ocorrendo a frustração, a impossibilidade de atingirmetas <strong>ou</strong> objetivos pessoais, gera-<strong>se</strong> o estres<strong>se</strong> e <strong>ou</strong>troscomportamentos negativos como a agressão, a fuga, aesquiva (faltas, ab<strong>se</strong>nteísmo, doença), persistência emrespostas inoperantes, desvio de atenção e de compromisso,negação do fato, mudanças constantes de planode ação e de estratégia, falta de adesão ao projeto pedagógico,crítica pela crítica, oposição descabida etc.O gestor acadêmico pode contribuir para melhoriado de<strong>se</strong>mpenho dos docentes reduzindo o impacto devariáveis que geram estres<strong>se</strong> <strong>ou</strong> cuidando de potencializaras que garantem um nível adequado do mesmo.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46


36 Geraldina Porto WitterComo lembra Pereira (1999), há condições para recorrera aspectos característicos pré-existentes na culturanacional, na comunidade <strong>ou</strong> mesmo na clas<strong>se</strong> <strong>ou</strong>grupo a que a empresa está vinculada. Segundo o referidoautor, podem <strong>se</strong>r considerados aspectos como os a<strong>se</strong>guir enfocados, feita a adaptação para o meio <strong>escolar</strong>pela autora do pre<strong>se</strong>nte artigo.Identidade Pessoal e Profissional dos docentes ecomo elas <strong>se</strong> relacionam em geral com a organização <strong>escolar</strong>e, em particular, com a escola em que atua. Isso pedeque o diretor conheça o docente com que trabalha de formatécnica-científica. <strong>Para</strong> tanto, precisa contar com oapoio de um <strong>Psic</strong>ólogo Escolar competente que também oas<strong>se</strong>ssore no planejamento do clima organizacionalotimizando o uso das características pessoais.Autonomia Pessoal é necessária, deve <strong>se</strong>r estimuladae oferecidas oportunidades para que os docentesatuem com autonomia, responsabilidade, criatividade ecriticidade, porém, de acordo com o projeto pedagógicoda escola em cuja elaboração devem ter participado.No sistema <strong>educ</strong>acional brasileiro muitas são as barreirasformais e informais encontradas neste aspecto. Atémesmo os gestores usufruem de p<strong>ou</strong>cas oportunidadesreais neste <strong>se</strong>ntido, <strong>se</strong>ndo sufocados pelos procedimentosburocráticos e geradores de índices elevados deestres<strong>se</strong> tanto para os diretores como para os docentes.A centralização, a determinação de usos de modelosteóricos e procedimentos específicos reduzem a autonomiaem detrimento da qualidade.Estrutura organizacional é um aspecto que deve<strong>se</strong>r flexível, aberta, dispor de práticas diversificadas e redede comunicação eficiente. Em escolas particulares, emte<strong>se</strong>, é mais fácil dispor de modelos administrativos menosburocráticos, modernos e mais facilmente renováveisdo que ocorre na escola estatal. No Brasil a estruturaorganizacional, com a municipalização do ensino fundamental,poderia alcançar esta condição mais facilmente<strong>se</strong> tives<strong>se</strong> ela própria mais autonomia da estadual.Rede de Apoio Social é uma característica que <strong>se</strong>espera existir no âmbito <strong>escolar</strong> propiciando ao docentea expectativa de <strong>se</strong>r apoiado nas circunstâncias em quevivencie dificuldades pessoais <strong>ou</strong> profissionais. Esta rededeve <strong>se</strong>r estimulada pela equipe técnica, especialmenteno que concerne às habilidades e competências relevantespara o êxito do processo ensino-aprendizagem.Face ao rápido e mutável avanço nas tecnologias <strong>educ</strong>acionais,as condições de formação e de atualizaçãodos docentes precisam <strong>se</strong>r cuidadas para não gerarestres<strong>se</strong> negativo alto que vai <strong>se</strong> evidenciar no contextoda sala de aula. Mas os problemas pessoais, inclusiveos de vida privada, precisam também do apoio aqui referido.<strong>Psic</strong>ólogos <strong>escolar</strong>es, grupos de trabalho e <strong>ou</strong>traspossibilidades podem <strong>se</strong>rvir neste contexto.Estilo de liderança é entendido como forma pela quala chefia direciona <strong>ou</strong> comanda a escola, inclusa está aliderança natural. O estilo de liderança espera-<strong>se</strong> que nãogere uma cultura de pressão, punitiva, com exagero dedemanda, de regras e de normas. Novamente, o psicólogo<strong>escolar</strong> com ba<strong>se</strong> na psicologia organizacional <strong>ou</strong> opsicólogo organizacional atuando em projeto <strong>escolar</strong> específicopodem <strong>se</strong>r de grande valia para os diretores.Sistema de recompensa é um aspecto que deve existirem toda organização para garantir o de<strong>se</strong>nvolvimentopessoal e profissional, a adesão, a organização e o climaadequado. U<strong>sua</strong>lmente, em especial no que concerne aoprofessor, em todos os níveis, não há realmente, no Brasil,um sistema de recompensas <strong>ou</strong> reforços. Só o salárioé ineficiente para <strong>se</strong> falar em sistema. No Estado e nasinstituições particulares, encontram-<strong>se</strong> alguns incentivos,mas como tendem a não ocorrer concomitantemente aode<strong>se</strong>mpenho perdem poder como reforçadores potenciais;além disso, tendem a estar associados apenas ao ladofinanceiro. Como exemplo podem <strong>se</strong>r lembradas as vantagensde qüinqüênios, as mudanças salariais decorrentesde obtenção de título (mestre, d<strong>ou</strong>tor etc), raramentecontingentes. Escapam ao gestor as possibilidades demelhorar estes aspectos e u<strong>sua</strong>lmente fazer que <strong>se</strong>jamreforçados em contiguidade com a resposta. Implanta-<strong>se</strong>a ineficiência. Todavia, o gestor pode cuidar para que<strong>ou</strong>tros reforçadores formem um sistema provendo reconhecimentoe <strong>ou</strong>tros reforços positivos para os docentes,para o que precisa conhecer o que é realmente reforçadorpara os professores. O <strong>Psic</strong>ólogo Escolar pode ajudaraplicando instrumentos específicos para detectar osreforçadores potenciais aplicáveis com êxito provável emcada caso. Isto pode <strong>se</strong>r de grande valia no planejamentodas contingências administrativas e do estabelecimentodo sistema de recompensas.Sistema de Gestão de Conflito é <strong>ou</strong>tro aspecto quetambém deve <strong>se</strong>r preocupação dos gestores acadêmicosjá que, em situação de conflito, <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> tem altosníveis de estres<strong>se</strong> com sérios efeitos no clima da escola,no trabalho com e dos alunos (quanto mais alta a <strong>escolar</strong>idade,pior o resultado), na liderança etc. É precisoque os conflitos <strong>se</strong>jam resolvidos com prontidão, justiça(transparente e com regras explícitas) e eficiência.


Professor-estres<strong>se</strong>: Análi<strong>se</strong> de produção científica 37Valorização do Risco é um cuidado que <strong>se</strong> precisater para as<strong>se</strong>gurar a renovação metodológica,tecnológica, conceitual e <strong>ou</strong>tras. Professores que <strong>se</strong>envolvem em novas propostas, que <strong>se</strong> renovam, precisamde apoio, de reforço para <strong>se</strong> manterem inovadores,por terem assumido o risco do progresso. Ao mesmotempo é preciso cuidar de reforçar <strong>sua</strong> responsabilidade,criatividade e cuidado ao assumir risco, tendo porlastro o conhecimento científico, e experimentar as inovaçõesdentro dos parâmetros da metodologia científica.Nem <strong>se</strong>mpre estes cuidados são tomados e valorizados.Surgem resultados negativos cuja origem é desconhecida,emerge o estres<strong>se</strong> e o quadro <strong>se</strong> complica.Símbolos são itens a <strong>se</strong>rem valorizados como formade dar maior coesão ao grupo. Isto implica em de<strong>se</strong>nvolvere manter ritos, cerimônias, metáforas, festas informai<strong>se</strong> a própria história da instituição, de cada escolaem particular.Valores da sociedade, da comunidade e da própriaescola precisam <strong>se</strong>r cuidados de modo a não <strong>se</strong>constituirem em controles repressivos. É importante queos valores contribuam para integrar as pessoas e paraaumentar a eficiência do grupo. Estratégias de comportamentodevem <strong>se</strong>r usadas para que ocorram afirmaçãopessoal e ativismo em favor dos objetivos da escola.Diversidade Cultural - não <strong>se</strong> pode ignorar que muita<strong>se</strong>scolas convivem hoje com grande diversidade cultural,o que pode gerar conflitos, inadequaçõesmetodológicas, valores divergentes. Isto pede a gestãoda diversidade cultural e a formação do docente para lidarcom ela, conhecendo tecnologias de ensino compatíveis.Caso contrário, poderá ficar alienado e prejudicar<strong>se</strong>nsivelmente o aluno diferente, <strong>ou</strong> ficar muito estressadoface a <strong>sua</strong> incompetência para responder adequadamenteà situação. Isto conduz a <strong>ou</strong>tra ba<strong>se</strong> importante doestres<strong>se</strong> do docente - o contexto da sala de aula.Na sala de aula o professor <strong>se</strong> depara com alunoscom várias características pessoais distintivas e oriundosde famílias cujo ambiente é muito variado emleiturabilidade, valores, clima, estrutura, relaçõesinterpessoais etc. Não estando adequadamente preparadopara tanto acaba enfrentando uma situação de altapressão. O estres<strong>se</strong> atinge níveis que tornam <strong>se</strong>u comportamentoainda mais inadequado à situação. Não tendoaprendido a controlar o estres<strong>se</strong>, o problema evolui paraum quadro ainda mais negativo. Forma-<strong>se</strong> um círculo viciosoe <strong>se</strong> impõe a necessidade de apoio ao docente. Um<strong>Psic</strong>ólogo Escolar competente torna-<strong>se</strong> de grande valia,por um lado, ensinando o professor a lidar com situaçõe<strong>se</strong>stressantes e ajudando-o a controlar os efeitos negativosdo estres<strong>se</strong>. Por <strong>ou</strong>tro lado, informando-o e capacitando-ono uso de procedimentos e tecnologias de ensinomais compatíveis com a diversidade cultural que encontrana sala de aula (Elliot & Dupuis, 2002).Assim, o estres<strong>se</strong> do professor tem muita relaçãocom a <strong>sua</strong> formação acadêmica, que deve capacitá-lomuito bem em <strong>Psic</strong>ologia em tópicos diversos como:tecnologia do ensino, capacidade de planejar e garantir<strong>sua</strong> <strong>educ</strong>ação continuada, conhecimento científico dasvariáveis que influem em docentes e alunos, e mesmoem conhecimento de metodologia científica para quepossa trabalhar com mais <strong>se</strong>gurança, assumir os riscosnas inovações, testando-as adequadamente etc. A salade aula é um laboratório e o docente deve <strong>se</strong>r um pesquisadorcapaz de contribuir para que <strong>se</strong> conheça cadavez mais sobre o que nela ocorre, <strong>se</strong>us personagens, oensino-aprendizagem, as relações interpessoais, os materiais,a organização, a ergonomia etc. O professor deveestar preparado para trabalhar com todos estes aspectos,estes pacotes de variáveis, usando estratégiascomportamentais que evitem os efeitos negativos do<strong>se</strong>stressores que estão associados a esta variedade desituações. Precisa ter competência para pesquisar arealidade em que atua e avaliar cientificamente o impactode <strong>sua</strong> ação.No Brasil, a preocupação com a pesquisa sobreestres<strong>se</strong> vem crescendo e apre<strong>se</strong>ntando resultados muitoúteis e interessantes (Lipp, 1996) e a preocupação emlevar conhecimentos específicos aos professores ger<strong>ou</strong>O stress do professor (Lipp, 2002) em que aspectosgerais e específicos do estres<strong>se</strong> são tratados, tendo porfoco desde o docente alfabetizador ao professor da pósgraduação.Sendo tão complexa a relação estres<strong>se</strong>-professor etão importante a resolução dos problemas decorrentes,é natural que <strong>se</strong> espere uma produção científica queofereça ba<strong>se</strong> para a atuação. Alguns aspectos destaprodução são enfocados a <strong>se</strong>guir.Estres<strong>se</strong>/ Professor: produção no PsycArticleSeria de <strong>se</strong> esperar que a produção científica focalizas<strong>se</strong>a promoção da saúde do professor, a prevençãode problemas como o estres<strong>se</strong>, <strong>sua</strong> satisfação com otrabalho, a remediação <strong>ou</strong> solução de <strong>se</strong>us problemasbiopsicológicos em programas de intervenção, bem comoa avaliação, tanto dos programas de prevenção como<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46


38 Geraldina Porto Witterde remediação. Além disso, espera-<strong>se</strong> que <strong>se</strong>jam trabalhadasas con<strong>se</strong>qüências do estres<strong>se</strong> do professor paraele próprio, para o aluno, para o processo ensino-aprendizagempara a escola como um todo (Witter, 2002a).Alguns destes aspectos são destacados nos trabalhosteóricos organizados por Lipp (2002).A fim de dispor de um quadro de referência sobre aprodução científica envolvendo o professor e o estres<strong>se</strong>foi feita uma pesquisa no PsycArticle, ba<strong>se</strong> de dadosgerenciada pela American Psychological Association,que cobre a publicação efetivada via 47 periódicos demaior relevância na <strong>Psic</strong>ologia. A solicitação foi feitatendo por quesito a relação professor-estres<strong>se</strong>, cobrindoo período de 1987 até 2002 (janeiro/fevereiro). Foramlocalizados apenas 30 documentos indicando que, adespeito de <strong>se</strong> reconhecer a importância da matéria, elatem sido p<strong>ou</strong>co pesquisada. O quadro revel<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> aindamais negativo quando <strong>se</strong> constat<strong>ou</strong> que dois textos nãodiziam respeito à temática em estudo neste trabalhoconforme é explicitado a <strong>se</strong>guir.Embora muito interessante, o trabalho de Town<strong>se</strong>nd,Hicks, Thompson, Wilton, Tuck e Moore (1993) temqua<strong>se</strong> nada em comum com o tema aqui enfocado. Refere-<strong>se</strong>à ênfa<strong>se</strong> dada pelos professores na introduçãoe conclusão de textos informativos e argumentativos,cujas estruturas retóricas influem na compreensão dotexto. Verificaram a qualidade das conclusões. Possivelmentea recuperação na ba<strong>se</strong> de dados incluiu o trabalhode Town<strong>se</strong>d e cols. (1993) porque no resumo aparece:“Teachers... stress the importance of...” Peloexposto, excluiu-<strong>se</strong> da análi<strong>se</strong> o trabalho aqui referido.Também foi excluído da análi<strong>se</strong> um trabalho <strong>se</strong>mautor que apre<strong>se</strong>nta sínte<strong>se</strong> dos currículos dos homenageadosde 1993 pela APA, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, Meehl eSpielberger, <strong>se</strong>m relação com o aqui estudado. A inclusãodeveu-<strong>se</strong> à ênfa<strong>se</strong> (stress) do evento nas realizaçõesdos homenageados. Essas exclusões atestamproblemas ainda não solucionados pelos cientistas dainformação e bibliotecários na alimentação das ba<strong>se</strong>sde dados. Servem também de alerta aos pesquisadoresque recorrem freqüentemente às ba<strong>se</strong>s bibliográficasquanto a possíveis distorções no processo de inclusãode textos nas ba<strong>se</strong>s. Dessa maneira fic<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>com 28 trabalhos para <strong>se</strong>rem analisados. Os mesmoscompreendem o período de 1988 até 2001, já que em1987 nenhum trabalho foi incluído na ba<strong>se</strong> pesquisada.Considerando que, em metaciência, a autoria é umbom indicativo de de<strong>se</strong>nvolvimento, que a autoria múltiplaé forte indício de grupos de pesquisa, com maiorpotencial de avanço que o trabalho isolado, foi feita aanáli<strong>se</strong> deste aspecto. Também enfoc<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> o gênero dosautores. Posto que a docência é uma profissão predominantementefeminina, pareceu de interes<strong>se</strong> verificar<strong>se</strong> a mulher também prevalece no campo da pesquisasobre o professor.Os resultados aparecem na Tabela 1. Apenas <strong>se</strong>tetrabalhos eram de autoria única <strong>se</strong>ndo os demais deautoria múltipla, portanto é significativa a concentraçãonos trabalhos realizados em equipe (χ² o= 40,96, n.g.l.=1,χ² c=3,84). Este resultado é positivo e na direção esperadaem termos de de<strong>se</strong>nvolvimento científico. Não h<strong>ou</strong>venecessidade de cálculo quanto ao gênero já que foiigual no total, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, 28 homens e 28 mulheres produzindona área, além de 10 autores para os quais não foiviável identificar o <strong>se</strong>xo.Foi feita também uma análi<strong>se</strong> da temática enfocadanos referidos artigos, começando pelos participante<strong>se</strong>studados. Em 15 trabalhos, além do professor, os alunostambém mereceram a atenção dos pesquisadores,por vezes <strong>se</strong>ndo o alvo principal; em cinco os pais tambémparticiparam, além de <strong>ou</strong>tros personagens menosfreqüentes. O professor propriamente dito foi objeto deatenção direta <strong>ou</strong> indireta nos 28 estudos, justificando<strong>se</strong>assim a in<strong>se</strong>rção do trabalho na ba<strong>se</strong>.Tabela 1: Freqüência da autoria dos trabalhos sobre Estres<strong>se</strong> e Professor (1987-2002).


Professor-estres<strong>se</strong>: Análi<strong>se</strong> de produção científica 39A qua<strong>se</strong> totalidade dos trabalhos constituiu-<strong>se</strong> deestudos descritivos da relação de estres<strong>se</strong> aqui focalizada,apenas dois enfocaram o efeito da atuação dodocente e em várias pesquisas os professores <strong>se</strong>rviramcomo juízes avaliando o estres<strong>se</strong> <strong>ou</strong> o resultado de condiçõe<strong>se</strong>stressoras <strong>ou</strong> remediativas deste problema nosalunos. Face ao número limitado de trabalhos, foi possívelfazer uma sínte<strong>se</strong> dos mesmos para melhorexplicitação da temática para os leitores. No primeirobloco aparecem os textos em que o docente assume opapel de avaliador, no <strong>se</strong>gundo os trabalhos que enfocammais diretamente o estres<strong>se</strong> do professor.Professor-avaliadorO professor-avaliador é integrante dos estudos a<strong>se</strong>guir descritos. Alguns deles enfocam o estres<strong>se</strong> póstraumático,<strong>se</strong>ndo que o docente também pode aparecercomo membro da equipe de intervenção.Considerando que desastres naturais são eventos quegeram estres<strong>se</strong> pós-traumático com con<strong>se</strong>qüências psicológicas,Olson (2000) lembra que, a partir do começo dadécada de oitenta, do século passado, surgiram <strong>se</strong>rviço<strong>se</strong>specializados na área (Disaster Mental Health Services– DMHS) <strong>se</strong>ndo hoje, nos USA, a 5ª maior divisão entreas várias organizações de voluntários, <strong>se</strong>ndo treinados pelaCruz Vermelha Americana. Em 1982, a AmericanPsychological Association recrut<strong>ou</strong> psicólogos para atuarnos grupos de DMHS e, em 1991, em conexão com oAPA’S Disaster Respon<strong>se</strong> Network, cri<strong>ou</strong> em 50 estadosgrupos treinados para atuar nos DMHS. Es<strong>se</strong>s grupos reúneme treinam <strong>ou</strong>tras pessoas. O autor relata rapidamentea atuação de um des<strong>se</strong>s grupos envolvendo alunos eprofessores que atuaram em um grande desastre. Não háqualquer informação mais relevante do que o fato de docentesterem <strong>se</strong> envolvido, após o treinamento, na avaliaçãoe no atendimento ao público estressado.O estres<strong>se</strong> pós traumático em 92 crianças (da 4ª sériedo 1º grau) que vivenciaram o Furacão Andrew foi estudadopor La Greca, Silverman e Was<strong>se</strong>rtein (1998).Dispunham de medidas anteriores ao evento indicandoansiedade (auto-relato), avaliação de problemascomportamentais (ansiedade, desatenção, comportamento)feita por colegas e professores. Decorridos 3 e7 me<strong>se</strong>s após o desastre repetiram as medidas. Os sintomasde estres<strong>se</strong> pós-traumático pela exposição aodesastre natural ainda estavam pre<strong>se</strong>ntes e afetando ashabilidades acadêmicas. Aqui o professor aparece apenascomo um avaliador do estres<strong>se</strong> na criança.A mesma posição como participante-juíz ocupam osprofessores que participaram do trabalho de Hahn eDiPietro (2001), que avaliaram às cegas o comportamentode mães de crianças resultantes de fertilizaçãoartificial (N=54) e mães de crianças concebidas normalmente(N=54). Os alunos tinham entre três e <strong>se</strong>teanos de idade. Os professores consideraram as mãesdo primeiro grupo mais amorosas, mas nãosuperprotetoras <strong>ou</strong> impositivas. Elas avaliaram <strong>se</strong>us filhoscomo tendo menos problemas do que as criançasdo grupo de controle.Cresce a concordância de que, no atendimento (clínico<strong>ou</strong> não) de uma criança <strong>ou</strong> de um jovem, é necessáriocontar com informações de várias fontes, estabelecera validade das mesmas para superar obstáculostécnico-científicos e profissionais. Há muita controvérsiasobre a validade das diversas fontes de informação.Y<strong>ou</strong>ngstrom, Loeber e St<strong>ou</strong>thamer-Loeber (2000) lembramque clínicos e pesquisadores tendem a perceber oautorelato feito por jovens como a fonte de menor relevânciapara avaliar hiperatividade, desatenção, oposição.Neste caso os professores parecem oferecer dadosmais <strong>se</strong>guros. Todavia, quando <strong>se</strong> trata de conheceros problemas internos, os próprios jovens e os empregadosque cuidam deles são melhores que os professores.Na opinião dos autores h<strong>ou</strong>ve falhas na avaliação. Istolev<strong>ou</strong> os autores a estudarem os padrões de concordânciaentre pais, professor e aluno adolescente noexternalizar/internalizar <strong>se</strong>us problemas. Examinaram394 tríades de jovens masculinos, <strong>se</strong>us cuidadores e professoresquanto à concordância no uso de uma escalaque avalia problemas de jovens. Os professores relataramp<strong>ou</strong>cos problemas de internalização e exteriorização,menos do que fizeram os jovens e os <strong>se</strong>us cuidadores.Os professores avaliaram de forma diferente em funçãodo grupo étnico do aluno. Parece haver um crescenteacordo entre os pesquisados quanto à ocorrênciade depressão e estres<strong>se</strong> no que concerne ao nível dosproblemas, mas não aos padrões específicos dos sintomas.Os professores no pre<strong>se</strong>nte estudo atuaram novamentecomo juizes e o foco foi <strong>sua</strong> competência comoavaliador.Gillmore e Guenwald (1999) discutem o possível viésde avaliação feita pelo próprio aluno, já que professore<strong>se</strong> pesquisadores freqüentemente consideram que os alunosnão fazem boa auto-avaliação, nem avaliamcorretamente as condições de ensino. Revendo a literaturacientífica sobre a matéria, mostram que tal conclu-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46


são é pelo menos apressada, em certos casos, pois nãohá dados consistentes. Lembram que a avaliação pelosalunos pode <strong>se</strong>r útil para o professor melhorar <strong>se</strong>u ensino,por exemplo, evitando indicar procedimento<strong>se</strong>stressores, exagero de leitura, p<strong>ou</strong>co tempo para análi<strong>se</strong>de matéria mais difícil. Trata-<strong>se</strong> de trabalho teóricoem que o papel de avaliador assumido pelo professor epelo pesquisador é o foco principal.Webster-Stratton (1988) estud<strong>ou</strong> 120 mães, 80 pai<strong>se</strong> 107 professores. Seu objetivo era comparar comopercebem problemas de comportamento da criança eajustamento do casal. Encontr<strong>ou</strong> correlações entre comoprofessores e pais avaliam as crianças, mas não com ocomo as mães o fazem. Mães estressadas <strong>ou</strong> deprimidasdevido a problemas conjugais tenderam a percebermais comportamentos desviantes entre <strong>se</strong>us filhos e tenderama interagir com eles de forma mais autoritária ecrítica. Os pais apre<strong>se</strong>ntaram um comportamento diferente,perceberam os filhos e tenderam a <strong>se</strong> comportarem relação a eles de maneira p<strong>ou</strong>co afetada pelo <strong>se</strong>upróprio ajustamento pessoal, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, são menos afetadospelas <strong>sua</strong>s variáveis pessoais, nos <strong>se</strong>us julgamentos enas <strong>sua</strong>s relações com os filhos. Foram menos subjetivos.Possivelmente, isto os aproxim<strong>ou</strong> mais das avaliaçõesdo docentes.McKinnon-Lewis (1994) examin<strong>ou</strong> a extensão emque comportamentos hostis e coercitivos das mães efilhos estão associados aos índices de agressão, aceitaçãoe competência social. Recorreu à avaliação peloprofessor. Selecion<strong>ou</strong> 104 mães de crianças entre 7 e 9anos que tinham apre<strong>se</strong>ntado agressão em sala de aula.Os meninos, que vivenciaram vários evento<strong>se</strong>stressantes e eram coercitivos com <strong>sua</strong>s mães, foramavaliados pelos professores como <strong>se</strong>ndo mais agressivo<strong>se</strong> menos competentes do que <strong>se</strong>us colegas. A agressãoparece <strong>se</strong>r uma resposta mediadora entre o estres<strong>se</strong>vivenciado pelo aluno e <strong>se</strong>u comportamento em relaçãoaos colegas. Novamente, é o papel de docente-avaliadoro assumido pelo professor em busca de conhecer oestres<strong>se</strong> do aluno.Comportamentos antissociais no ambiente de trabalhoestão cada vez mais freqüentes incluindo-<strong>se</strong> aqui a<strong>se</strong>scolas. Sinclair, Martin e Croll (2002) examinaram o<strong>se</strong>stímulos antecedentes e os con<strong>se</strong>qüentes a comportamentosantissociais apre<strong>se</strong>ntados em uma escola públicaurbana e compararam professores vs não professores,escola média vs superior vs fundamental quanto àperspectiva de perigo face ao referido tipo de comportamento.Verificaram que a avaliação de possibilidadede perigo, da relação pre<strong>se</strong>nça de comportamentoantissocial e satisfação no trabalho, influem indiretamentena intenção e mudança de trabalho, havendo consistênciaem todos os níveis de <strong>escolar</strong>idade. Recomendamque os professores <strong>se</strong>jam <strong>ou</strong>vidos e <strong>se</strong>jam tomadasmedidas administrativas que garantam a <strong>se</strong>gurança, umavez que os docentes <strong>se</strong> mostraram avaliadores muitocompetentes.Uma <strong>ou</strong>tra pesquisa em que o professor foi o avaliadorde comportamentos de <strong>se</strong>us alunos é a realizada porAlpert-Gillis, Pedro-Carrol e Cowen (1989). Nes<strong>se</strong> trabalho,crianças filhas do divórcio foram submetidas aum programa em que aprenderam a buscar e a atuarcomo grupo de apoio, expressar <strong>se</strong>us <strong>se</strong>ntimentos emrelação ao divórcio, compreender os conceitos relacionadosa esta situação, de<strong>se</strong>nvolver habilidades para resolverproblemas e foram fortalecidas as percepçõesde si mesmo e da família. As crianças treinadas foramcomparadas com um grupo não treinado de filhos dodivórcio e com crianças de lares completos. Os professoresavaliaram o comportamento das crianças antes eapós o treino. Verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que no grupo experimentalh<strong>ou</strong>ve progresso em competência social alcançando nívelde significância pré-estabelecido, o que não ocorreunos dois grupos de comparação. Verificaram progressoem todos os grupos para tolerância à frustração,as<strong>se</strong>rtividade e habilidades sociais no contato com ospares. Todavia, só para o grupo experimental em todasas avaliações h<strong>ou</strong>ve progresso que atingiu o nível designificância.Saigh (1989) também recorreu aos professores paraavaliarem as crianças de <strong>sua</strong> pesquisa, tomando a avaliaçãofeita pelos mesmos como critério. Os docentesusaram a Conners Teacher Rating Scale. O pesquisadortrabalh<strong>ou</strong> com três grupos: 231 crianças com estres<strong>se</strong>pós-traumático, 32 com fobia simples e 35 <strong>se</strong>m problemasclínicos (grupo de controle). Encontr<strong>ou</strong> diferençasde gênero e grupo, <strong>se</strong>m efeito de interação, <strong>se</strong>ndo maisgrave a situação dos sujeitos com estres<strong>se</strong> pós-traumático,<strong>se</strong>guido dos fóbicos que também eram mais problemáticosque os de controle, mas <strong>se</strong>m <strong>se</strong>remsignificantemente diferentes. Outra vez a relação professor-estres<strong>se</strong><strong>se</strong> restringe ao papel de avaliador.A habilidade preditiva de professores, mães e paisquanto à pre<strong>se</strong>nça e à evolução de problemascomportamentais em pré-<strong>escolar</strong>es, em decorrência dasrelações <strong>ou</strong> comportamentos dos pais (gênero masculi-


Professor-estres<strong>se</strong>: Análi<strong>se</strong> de produção científica 41no), foi testada comparando-<strong>se</strong> pais com e <strong>se</strong>m problemas.Os dois grupos de pais diferiram estatisticamenteem estres<strong>se</strong>, sintomas psicológicos, atitudes parentais,envolvimento positivo e tipo de disciplina. Só não diferiramem apoio social. Os professores avaliaramcorretamente a <strong>se</strong>veridade do problema clínico nos alunos,um ano antes perceberam o estres<strong>se</strong> dos pais e os<strong>se</strong>us sintomas psicológicos, bem como quando tinhamum envolvimento positivo com os filhos. As mães apre<strong>se</strong>ntaramautorelatos com melhor previsão clínica, omesmo não ocorrendo com os pais. Os professores-avaliadoresmostraram alta eficiência na avaliação doestres<strong>se</strong> infantil, <strong>se</strong>ndo superiores aos pais e mães.Caplan, Weissberg, Grober, Sivo, Grady e Jacoby(1992) recorreram a avaliações feitas por docentes paraanalisar o efeito de um programa de 20 <strong>se</strong>ssões aplicadoa alunos do 6º e 7º graus, num total de 282, viciado<strong>se</strong>m álcool e <strong>ou</strong>tras substâncias. O programa enfoc<strong>ou</strong>:manejo do estres<strong>se</strong>, auto-estima, solução de problemas,informação sobre saúde e drogas, as<strong>se</strong>rtividade e redessociais. As avaliações feitas pelos professores mostraramque os sujeitos progrediram na resolução de conflitoscom os colegas, controle da impulsividade, avançona popularidade pessoal. Concordam com resultados de<strong>ou</strong>tras pesquisas quanto à competência avaliativa doprofessor.Trabalho similar realizado por Mesman e Koot (2000)compar<strong>ou</strong> avaliações feitas por professores e pais paraanalisar a avaliação feita pelos docentes em relação aosavanços quanto a aspectos psicopatológicos. Encontraramsimilaridade nas avaliações de um modo geral. Namesma direção os resultados do trabalho de Bates,Marvinney, Kelly, Dodge, Bennett e Pettit (1994) apareceram.Os autores compararam as histórias de 589crianças relatadas pelos pais antes de entrarem na préescolacom avaliações feitas por professores, colegas eob<strong>se</strong>rvadores quanto ao afastamento social. Os professoresnovamente aparecem como bons avaliadores.Outro estudo em que o professor foi apenas avaliadordos sujeitos principais (adolescentes) foi o realizado porIram e Cole (2000). Participaram professores, colegas eos próprios adolescentes. Os adolescentes <strong>se</strong> auto-avaliaramquanto aos eventos estressores que os afetavam ecomo percebiam <strong>sua</strong> competência, <strong>se</strong>ndo esta tambémavaliada pelos professores e colegas quanto a sintomasde depressão. Os eventos estressantes negativos estãorelacionados com a depressão. A competênciaautopercebida <strong>se</strong>rve de mediador, mas não de moderadordesta relação. Eventos negativos permitem prever mudançasna forma como o adolescente percebe <strong>sua</strong> competência.Quando há redução na competência pode-<strong>se</strong>prever o aparecimento de depressão, que pode <strong>se</strong>r diminuídaquando <strong>se</strong> controla a competência autopercebida.Os professores foram avaliadores efetivos.Allison e Furstenberg (1989) estudaram o efeito dadissolução do casamento em 1197 crianças, variandoem <strong>se</strong>xo e idade. <strong>Para</strong> tanto recorreram aos pais, professore<strong>se</strong> à própria criança para relatarem a influênciada <strong>se</strong>paração nos problemas comportamentais, estres<strong>se</strong>psicológico e de<strong>se</strong>mpenho acadêmico. De um modo geral,a dissolução do casamento teve efeitos negativos emtodas as áreas, tendendo a <strong>se</strong>r pior entre as criançasmais jovens e entre as meninas. H<strong>ou</strong>ve concordânciaentre as avaliações.Stipek, Weiner e Li (1989) recorreram a avaliaçõesde professores para comparar com as auto-avaliaçõesde universitários quanto às relações atribuições-emoçõe<strong>se</strong> para <strong>se</strong>lecionar alunos mais e menos esforçados,comparando grupos de universitários norte-americano<strong>se</strong> chine<strong>se</strong>s. Os resultados referem-<strong>se</strong> exclusivamenteaos dados dos alunos. A partir dos cinco estudos realizados,concluíram que os chine<strong>se</strong>s destacaram o esforçocomo a causa da realização alcançada como resultado,mas os dados não são conclusivos quanto à teoria daatribuição. Este é mais um trabalho em que o professoraparece como eficiente juiz avaliador de emoções de<strong>se</strong>us alunos e não como portador de estres<strong>se</strong>.Em resumo, os trabalhos descritos mostram que oprofessor é um avaliador competente no que concernea aspectos relacionados com as emoções e o estres<strong>se</strong>em <strong>se</strong>us alunos e respectivos familiares. Todavia, é necessáriocautela na generalização, uma vez que são docentesde paí<strong>se</strong>s nos quais o professor tem formaçãoem nível superior e há exigências de pós-graduação emmuitos deles.Estres<strong>se</strong> e ProfessorO <strong>se</strong>gundo grupo de trabalhos é composto pelos queenfocaram mais especificamente o estres<strong>se</strong> e as condiçõe<strong>se</strong>stressoras relacionadas com o professor, como<strong>se</strong> evidencia nos trabalhos arrolados a <strong>se</strong>guir.Ostroff (1992) investig<strong>ou</strong> as relações entre satisfaçãodo trabalhador, atitudes relacionadas ao trabalho(comedimento, ajustamento, estres<strong>se</strong> psicológico e de<strong>se</strong>mpenhoorganizacional). Os dados foram colhidos em298 escolas <strong>se</strong>cundárias e os instrumentos aplicados em<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46


42 Geraldina Porto Witter13.808 professores que nelas trabalhavam. A análi<strong>se</strong>correlacional mostr<strong>ou</strong> significância nas relações deestres<strong>se</strong> com as <strong>ou</strong>tras variáveis estudadas. Isto temimplicações para o gerenciamento das condições deensino. É necessário garantir condições de adaptaçãoque atendam à variedade interna e externa, as<strong>se</strong>gurandomelhores condições de eficiência aos professores no<strong>se</strong>u trabalho.Um estudo longitudinal foi realizado por Sehonfeld(1996). Trabalh<strong>ou</strong> com 250 professores tendo porobjetivo analisar a influência da afetividade negativa noautorelato de resultados psicológicos e de medidasambientais. Os resultados mostraram que as medidasambientais estavam moderadamente relacionadas comsintomas depressivos pós-trabalho e que a satisfaçãono trabalho em todas as sub-amostras relacion<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> comas medidas ambientais. A motivação mostr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>correlacionada na sub-amostra de professoras brancas,mas não nas negras e de origem hispânica. As correlaçõe<strong>se</strong> coeficientes de regressão foram altos. Os resultadossugerem que não h<strong>ou</strong>ve distorção da relação estudadanos autorelatos de sintomas depressivos, de satisfaçãoe de motivação. A afetividade negativa é variávelrelevante no estres<strong>se</strong> manifestado especialmentepelas professoras brancas.A pesquisa de Parkes (1990) teve por finalidade testara hipóte<strong>se</strong> de que o enfrentamento direto pode moderaros efeitos das relações entre estres<strong>se</strong> no trabalhoe saúde mental resultante. Entretanto, a supressão (formafocal de enfrentamento) pode ter um efeito geral noresultado. Sua pesquisa foi realizada com 157 professore<strong>se</strong>m treinamento, cruzando-<strong>se</strong> dados deenfrentamento, demandas e apoios percebidos no trabalhoe sintomas afetivos. Os resultados confirmaramas hipóte<strong>se</strong>s iniciais. Foram verificadas também diferençasde gênero, com os homens usando mais supressãodo que as mulheres. A afetividade negativa apareceucomo uma variável que engloba o índice dereatividade nas relações estres<strong>se</strong>-resultado. O índice dereatividade atua em associação com as percepções sobreo trabalho e os sintomas afetivos. Todavia, é ummoderador que não atingiu o nível de significância. Osdocentes com alto índice de afetividade negativa demonstrarammaior reatividade negativa às exigências<strong>ou</strong> demandas do trabalho do que o fizeram os professorescom baixa afetividade negativa, predispondo os primeirosao estres<strong>se</strong>.O trabalho de De Mulder, Denham, Schmidt, eMitchell (2000) enfoca as relações entre os comportamentosde <strong>se</strong>gurança demonstrados na relação mãepré-<strong>escolar</strong>,as condições estressantes da família e asrelações das crianças com a professora e os colegas naescola. Seus resultados mostraram que em famílias combaixo nível de estres<strong>se</strong>, os filhos apre<strong>se</strong>ntavam melhorrelação com as mães; famílias com alto nível de estres<strong>se</strong>tinham filhos com maior incidência de medo, agressão eproblemas de competência social. Meninos com melhorrelação com as mães também apre<strong>se</strong>ntavam melhorrelação com as professoras e eram mais populares com<strong>se</strong>us colegas. Neste último caso, são menos estressantespara os professores.Especificamente em relação ao professor, os autoresverificaram que a <strong>se</strong>gurança junto às mães era maisimportante para os meninos do que para as meninas noestabelecimento da <strong>se</strong>gurança junto aos professores.<strong>Para</strong> os meninos foi encontrada uma relação linear entrerelação com a mãe e relação com a professora. Essarelação não ocorreu entre as meninas. Estudaram estasrelações como variáveis geradoras de estres<strong>se</strong> entre osdocentes.Taris, Peeters, Le Blanc, Schreurs e Schaufeli (2001)estudaram o esgotamento (burn<strong>ou</strong>t), entendido comoexaustão emocional, despersonalização e falta de realizaçãopessoal em duas amostras de professores alemães,uma com relato de estres<strong>se</strong> decorrente do trabalhoe <strong>ou</strong>tra <strong>se</strong>m este tipo de problema. Os docente<strong>se</strong>stressados compunham três grupos distintos quanto ao<strong>se</strong>stressores: alunos, colegas e escola de um modo geral.Verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que os estressores não afetam igualmentetodos os professores, uns são mais afetados pelos colegas,<strong>ou</strong>tros pelos alunos e <strong>ou</strong>tros pela escola de umaforma global.O estudo teve abrangência nacional e trabalh<strong>ou</strong> coma teoria de Lazarus (1966). (De Longis, Folkman &Lazarus, 1988; Lazarus, 1966, 1982). Consideram oestres<strong>se</strong> como uma forma de relação da pessoa com oambiente em que este a pressiona além de <strong>sua</strong>s possibilidadesde superar, para as autoridades significa que poressa razão a pessoa apre<strong>se</strong>nta um comportamento maladaptado, respostas somáticas e psicológicas inadequadasao estressor como resultado de vivências intensas eprolongadas que afetam <strong>sua</strong>s reações, inclusive as fisiológicas.No âmbito do trabalho, as pessoas que <strong>se</strong>ntemnão ter <strong>ou</strong> ter p<strong>ou</strong>cos recursos para atender às demandas<strong>ou</strong> exigências do <strong>se</strong>u trabalho ficam estressadas. Énecessário buscar a equidade entre a demanda e as


Professor-estres<strong>se</strong>: Análi<strong>se</strong> de produção científica 43possibilidades do trabalhador para manter a relação emnível adequado.Taris e cols. (2001), em um primeiro estudo, verificaramentre 312 professores <strong>se</strong>cundários da Alemanhafalta de reciprocidade entre eles <strong>ou</strong> ineqüidade entre osmesmos como geradora de estres<strong>se</strong>, tendo encontradoesta situação <strong>se</strong>ndo vivenciada por 271 deles.Em um <strong>se</strong>gundo estudo de caráter longitudinal acompanharamuma amostra repre<strong>se</strong>ntativa (N=1309) de docentesdo ensino primário e <strong>se</strong>cundário da Alemanha.Verificaram que a ausência <strong>ou</strong> ineficiência de sistemasde recompensas, a falta de investimento no professor e afalta de reciprocidade entre demanda e possibilidade deatendê-la estão altamente correlacionadas com o estres<strong>se</strong>,com con<strong>se</strong>qüente abandono do trabalho.Westman e Etzion (1999) analisaram as condiçõesde estres<strong>se</strong> vivenciadas por 47 diretores e 183 professoresde escolas de Israel. O objetivo era verificar <strong>se</strong> aexistência de estres<strong>se</strong> entre casais também aparecia nolocal de trabalho e os mecanismos subjacentes ao cruzamentodo estres<strong>se</strong> em duplas (diretor vs professor).Verificaram significância no estres<strong>se</strong> induzido pelo trabalho,mas não em esgotamento (burn<strong>ou</strong>t) resultanteda relação professor-diretor e vice-versa. H<strong>ou</strong>vesignificância no cruzamento entre estres<strong>se</strong> no trabalhoe na família.Steptoe, Cropley e Joekes (2000), retomando estudosque mostram associação entre reaçõescardiovasculares e pressão sangüínea com testes deestres<strong>se</strong>, estudaram a questão em 102 professoras e 60professores submetidos a tarefas de alta e baixa demandaem condições padronizadas, usandomonitoramento biológico durante todo o período do trabalho.Verificaram que as medidas de estres<strong>se</strong> permaneciambaixas e constantes durante o dia inteiro incluindointerações de baixa demanda. As reações e as situaçõesde baixa demanda <strong>se</strong> mostraram preditivas quantoà pressão sangüínea e ao ritmo cardíaco, independentementeda linha de ba<strong>se</strong>, idade, gênero e massacorporal. As medidas tomadas quando os participante<strong>se</strong>stavam <strong>se</strong>ntados foram mais consistentes do que quandoestavam em pé. As associações laboratoriais medidassugerem que dependem da con<strong>se</strong>qüência entre situaçãoestressante e nível da atividade em que o professor<strong>se</strong> envolve.<strong>Para</strong> evitar o estres<strong>se</strong> em professoras de escola elementar(N=10) de Quebec, foi usado um procedimentode ob<strong>se</strong>rvação e análi<strong>se</strong> de <strong>sua</strong>s atividades enquantolecionavam. Messing, Seifert e Escalona (1991) ob<strong>se</strong>rvaramos docentes durante 48 horas e 24 minutos buscandoidentificar os elementos estressores e os recursosusados pelos docentes para evitar o estres<strong>se</strong>. Verificaramque os docentes usam diversas estratégias parareduzir o impacto dos estressores, entre os quaisregistraram: mudanças bruscas nas <strong>se</strong>qüências de ação,fixação dos olhos por breve lapso de tempo, rápido relaxamentofísico <strong>ou</strong> mental, de<strong>se</strong>nvolvimento simultâneode muitas atividades, níveis de temperatura e umidadedesconfortáveis. O empenho dos professores para reduçãodo estres<strong>se</strong> inclui o uso variado de estratégias deensino para criar um ambiente de aprendizagem e paramanter a atenção dos alunos sob condições adversas.O exame destas estratégias levaram as autoras a recomendara melhoria das relações entre professores esupervisores para que estes os ajudem a tornar a salade aula um lugar mais fácil de ensinar. É uma forma dereduzir o estres<strong>se</strong> do docente.Sonnentag (2000) estud<strong>ou</strong> o uso de tempo de lazer ea recuperação do trabalho tendo em vista o bem estardas pessoas. Seus sujeitos foram 100 professores alemãesque fizeram um diário de <strong>sua</strong>s atividades de lazerpor um período de cinco dias e responderam a um questionáriosobre o trabalho. A autora concluiu que <strong>se</strong>u estudomostr<strong>ou</strong> que as atividades de lazer e o nível deestres<strong>se</strong> baixo na situação de trabalho contribuem independentementepara o bem estar das pessoas.O trabalho de Bonanno e Kaltman (1999) diz respeitoa uma Perspectiva Integrativa sobre a perda (<strong>ou</strong> luto),problema com o qual eventualmente o professor <strong>se</strong> depara,quer em <strong>sua</strong> vida pessoal, quer no que diz respeitoa <strong>se</strong>us alunos. Só superficialmente enfocam a questãono que concerne ao mundo <strong>escolar</strong>. Todavia, é uma propostateórica muito rica e com grande potencial. O esforçode análi<strong>se</strong> dos autores emergiu do fato de ter decorridoqua<strong>se</strong> um século que os teóricos sobre a matériatecem considerações, afirmam que a perda requer<strong>se</strong>mpre um período em que <strong>se</strong> trabalhe a tristeza com oobjetivo de romper os elos de ligação com o falecido.As revisões feitas dos anos oitenta do século passadopara cá surpreenderam os autores pela falta de suporteempírico para esta perspectiva, ficando-<strong>se</strong> com uma ba<strong>se</strong>teórica insustentável. Os autores propõem uma alternativade sínte<strong>se</strong> unindo cognitivismo, teoria do apego, teoriasocial da emoções e teoria do trauma, criando umaestrutura de referência para pesquisas futuras mais plausívele consoante com os dados de pesquisas na área.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46


44 Geraldina Porto WitterÉ uma proposta de unificação. Bonanno (2001) retomaa discussão face à contestação que teriam ignoradoo processo de esquiva para <strong>se</strong> distanciar da perda.Enfatiza a falta de dados para sustentar a contestação.Destaca que a leitura feita por eles valoriza a esquivacomo forma de distanciamento do processo o que nãofoi percebido pelos <strong>se</strong>us opositores. Na ba<strong>se</strong> de dadosapareceram também dois textos teóricos trataram deassunto subjacente a atuação do professor que ocasionalmentepode estar estressado. Pelo exposto é evidenteque embora <strong>se</strong> fale muito do estres<strong>se</strong> do professor eda necessidade de uma devida prevenção e intervenção(Lipp, 2002) os pesquisadores não estão dando a devidaatenção ao problema.De acordo com os dados constantes na ba<strong>se</strong>pesquisada, o estres<strong>se</strong> do professor tem sido p<strong>ou</strong>copesquisado enquanto profissional submetido a condiçõe<strong>se</strong>stressoras, predominando os estudos em que atuamcomo avaliadores destas condições e da pre<strong>se</strong>nça doestres<strong>se</strong> entre alunos e familiares. Estas consideraçõestêm apoio no resultado encontrado por Witter (2002a)no PsycLIT sobre prevenção de estres<strong>se</strong> em geral (1994-1999), no qual foram registrados apenas 12 trabalhossobre estres<strong>se</strong> profissional em um total de 1.639 trabalhos.Ao que tudo indica, há necessidade de maioresinvestimentos na pesquisa na área do que vemefetivamente ocorrendo.CONCLUSÕESPelos dados aqui apre<strong>se</strong>ntados é evidente que <strong>se</strong> estádiante de uma área extremamente carente de pesquisas.As pesquisas encontradas são predominantemente descritivasnão havendo praticamente produção que teste aeficiência de programas de prevenção e de intervençãopara cuidar do estres<strong>se</strong> do professor. As situações detrabalho responsáveis por um quadro exacerbado deestres<strong>se</strong> docente estão requerendo pesquisas cuidadosas.Usando situações variadas, instrumentos diversos,problemas distintos, as pesquisas que recorreram aoprofessor como avaliador foram consistentes em mostrarque o docente é um juiz competente, um bom avaliadordo estres<strong>se</strong> e do comportamento emocional. Pesquisassimilares precisam <strong>se</strong>r realizadas no contextobrasileiro com objetivo de verificar <strong>se</strong> aqui o professordemonstra esta competência. A sugestão decorre dasdiferenças de formação do docente nos vários paí<strong>se</strong>s.As pesquisas do <strong>se</strong>gundo grupo enfocam variáveismuito diversificadas, instrumentos distintos de avaliação,são de tipos variados, predominantemente descritivas eos resultados não são coincidentes. Parecem refletir umafalta de metas para a pesquisa, a falta de continuidadenos projetos. Embora <strong>se</strong>jam pesquisas de mérito, nãopermitem estruturar um quadro claro do estres<strong>se</strong> do professore das variáveis relevantes.São pérolas esparsas, como <strong>se</strong> pode deduzir dos resumosapre<strong>se</strong>ntados. Não há coesão metodológica, deobjetivos <strong>ou</strong> de resultados. Possivelmente, a impossibilidadede compor um quadro consistente decorre do p<strong>ou</strong>coque já foi efetivamente pesquisado.Parkes (1990) relata que as “relações entre percepçõesdo ambiente de trabalho e autorelato de saúdemental e física estão amplamente documentadasna literatura. Muitas das pesquisas nesta área são decorrelação de partes e, con<strong>se</strong>quentemente, não permiteminferência causal, mas resultados empíricos deestudos longitudinais apoiam a perspectiva de que oambiente de trabalho exerce uma influência causalna saúde física e mental, incluindo tanto resultados acurto e a longo prazo, afetando a saúde, particularmenteno que concerne às doenças cardiovasculares.Resultados destes estudos também ilustram um processono qual as percepções do ambiente de trabalhomedeiam os efeitos das características objetivas dotrabalho nos resultados relacionados com a saúde.Este processo não é invariante, contudo, nos modelosteóricos e nos resultados empíricos, as diferençasocupam papel como determinantes da natureza emagnitude das respostas ao estres<strong>se</strong> decorrente dotrabalho” (p. 399).Há que <strong>se</strong> considerar a necessidade de <strong>se</strong> conhecermelhor as variáveis das condições de trabalho que geramestres<strong>se</strong> no professor. Sem este conhecimento é inviávelplanejar, executar e avaliar programas de prevenção e deintervenção que realmente <strong>se</strong>jam eficientes. É provávelque a carência de pesquisas com tais programas não tenhamsurgido nos dados aqui relatados em decorrênciado nível de conhecimento disponível.O predomínio de trabalhos de autoria múltipla é umindício de que grupos de pesquisadores estão <strong>se</strong> firmandona área, com tendência para maturidade. Todavia anatureza e a temática dos trabalhos estão longe de darconta do necessário para <strong>sua</strong> evolução em profundidadee para suprir as necessidades básicas de conhecimentona área.


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<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 47-56INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS MAIS CONHECIDOS E UTILIZADOS POR ESTUDANTES EPROFISSIONAIS DE PSICOLOGIAResumoAna Paula Porto Noronha 1Flávia Nunes de Moraes Beraldo 2Katya Luciane de Oliveira 3O pre<strong>se</strong>nte estudo objetiv<strong>ou</strong> identificar os instrumentos psicológicos mais conhecidos por estudantes e profissionais de psicologia e levantar osinstrumentos mais utilizados pela amostra. Participaram 82 alunos último-anistas, de uma universidade particular do interior paulista e 52profissionais. O material utilizado constituiu-<strong>se</strong> de uma relação de instrumentos de avaliação psicológica e a tarefa dos sujeitos era assinalar osinstrumentos conhecidos, os utilizados, e os desconhecidos. A aplicação <strong>se</strong> deu no próprio período de aula, com a respectiva autorização dacoordenação e dos professores. <strong>Para</strong> a coleta dos dados dos profissionais formados, os questionários foram enviados pelo correio, pois o instrumentoé auto-aplicável. Os resultados indicaram uma diferença entre os grupos no que diz respeito aos instrumentos mais conhecidos e utilizados porestudantes e profissionais. Estudos comprovam que alguns dos instrumentos mais conhecidos são também os mais freqüentes nos cursos de formaçãode psicologia. Sugere-<strong>se</strong> que novas pesquisas desta natureza <strong>se</strong>jam realizadas.Palavras Chave: Avaliação psicológica; Instrumentos psicológicos; Testes psicológicos.AbstractWELL-KNOW PSYCHOLOGICAL INSTRUMENTS USED BY PSYCHOLOGY STUDENTS AND PROFESSIONALThis study aimed to identify well-know psychology instruments u<strong>se</strong>d by psychology students and professionals and list u<strong>se</strong>d instruments in thesample. 82 <strong>se</strong>nior students in a private university of São Paulo c<strong>ou</strong>ntryside participated in the study along with 52 professionals. The material u<strong>se</strong>din this study compri<strong>se</strong>d a <strong>se</strong>toff psychological as<strong>se</strong>ssment instruments and the task assigned to subjects was to check know, u<strong>se</strong>d and unknown tools.The task was performed during class h<strong>ou</strong>rs, authorized by teachers and coordination. To collect data from majored professional, questionnaires were<strong>se</strong>nt by mail becau<strong>se</strong> it is a <strong>se</strong>lf-applied questionnaire. Results indicated a difference between the 2 gr<strong>ou</strong>ps concerning well-know and u<strong>se</strong>d instrumentsby students and professionals. Studies show that some well-known instruments are also the most frequent in psychology c<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>s. New re<strong>se</strong>arches onthis topic sh<strong>ou</strong>ld be done to gather further data.Key words: Psychological as<strong>se</strong>ssment; Psychological instruments; Psychological tests.INTRODUÇÃOAvaliação psicológica é um processo de coleta dedados, cuja realização inclui métodos e técnicas de investigação.Os testes psicológicos, por <strong>sua</strong> vez, são instrumento<strong>se</strong>xclusivos do psicólogo e são úteis à medidaque, quando utilizados adequadamente, podem oferecerinformações importantes sobre os testandos.Embora na literatura haja registros de que os primeirostestes simples, com estruturas frágeis, tenham sidocriados no final do século XIX e apesar de haver maisde um século de história na área, os instrumentos atuaisainda apre<strong>se</strong>ntam falhas e sofrem críticas. <strong>Para</strong> Almeida(1999) os instrumentos psicológicos não acompanharamo de<strong>se</strong>nvolvimento das demais áreas de conhecimento,como a informática <strong>ou</strong> a tecnologia, tendo em vista queos instrumentos atuais muito <strong>se</strong> aproximam dos iniciais.Em contrapartida, há perspectivas para a superaçãodas dificuldades apre<strong>se</strong>ntadas, pois <strong>se</strong>gundo Sisto,Sbardelini e Primi (2001) tal quadro parece estar <strong>se</strong>ndorevertido, considerando que o Con<strong>se</strong>lho As<strong>se</strong>ssor de<strong>Psic</strong>ologia no CNPq definiu a subárea de “Fundamen-1D<strong>ou</strong>tora em <strong>Psic</strong>ologia: ciência e profissão pela PUC-Campinas; Docente do Curso de <strong>Psic</strong>ologia e do Programa de Estudos Pós-graduado<strong>se</strong>m <strong>Psic</strong>ologia, da Universidade São Francisco, campus Itatiba-SP.2<strong>Psic</strong>óloga, mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em <strong>Psic</strong>ologia da Universidade São Francisco e docente da UNIFENAS.3<strong>Psic</strong>óloga e mestranda bosista Capes do Programa de Estudos Pós-Graduados em <strong>Psic</strong>ologia da Universidade São Francisco.


48 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de Oliveiratos e Medidas em <strong>Psic</strong>ologia” como uma das cinco, dentredez existentes, que mereceriam atenção e investimentos,o que pode gerar um avanço na área.A Formação Profissional em Avaliação<strong>Psic</strong>ológicaFormar profissionais competentes não é tarefa fácil.A cada ano muitos psicólogos <strong>se</strong> formam e devem de<strong>se</strong>nvolveratividades pertinentes à <strong>sua</strong> atuação profissional,o que inclui a realização da avaliação psicológica;tal atividade repre<strong>se</strong>nta a psicologia e a difunde na sociedade.Portanto é importante que haja esmero neste trabalhoe em todos os <strong>ou</strong>tros, a fim de que a ciência psicológica<strong>se</strong>ja mais divulgada reconhecida.No Brasil, os psicólogos <strong>se</strong> formam nos cursos promovidospor instituições de ensino superior, com duraçãode dez/doze <strong>se</strong>mestres, para cursos diurnos/noturno<strong>se</strong>, <strong>se</strong>gundo Pfromm Netto (1991), a preparação possuios <strong>se</strong>guintes objetivos: atender às necessidades do profissionalpara a atuação; proporcionar ao aluno um conjuntoamplo e diversificado de conhecimento, habilidades,atitudes e procedimentos; contribuir para com oprocesso científico e estimular a produção brasileira deconhecimento.Embora tais objetivos tenham sido traçados para aformação geral em psicologia, também são pertinentespara a formação específica em avaliação <strong>ou</strong> em qualquer<strong>ou</strong>tra área de conhecimento, considerando que opsicólogo avaliador deve estar preparado para as demandasdo mercado profissional, deve conhecer profundamenteconceitos teóricos e metodológicos fundamentai<strong>se</strong> deve contribuir para o progresso da avaliaçãopsicológica.No entanto, na prática, nem <strong>se</strong>mpre é isto que <strong>se</strong>encontra. Segundo Buettner (1997) “o que ob<strong>se</strong>rvamosé que o aluno sai da universidade <strong>se</strong>m a competêncianecessária para o exercício profissional. Os cursos degraduação, mesmo quando propiciam uma boa formação,o que não ocorre com a grande maioria, enfocamuma formação básica e genérica” (p. 16). Witter, Witter,Yukmitsu e Gonçalves (1992) enfocam que a formaçã<strong>ou</strong>niversitária do psicólogo muitas vezes não é ideal, evidenciandoa necessidade da busca de um curso de pósgraduaçãoque em parte <strong>se</strong>ria remediativo, porém p<strong>ou</strong>cossão os profissionais que buscam uma especialização.Corroborando a afirmação, Cardoso (1994) apontaque a <strong>educ</strong>ação superior não deve <strong>se</strong>r entendida comooportunidade de emprego, tendo em vista a qualificaçãorecebida pelo o aluno durante o curso superior, pois deuma forma geral, os alunos chegam ao final do cursocom sérias deficiências nas questões teóricas emetodológicas o que resulta em uma baixa qualificaçãono mercado profissional.Atualmente a profissão sofre com a constante concorrênciade <strong>ou</strong>tros profissionais que atuam nos maisdiversificados <strong>se</strong>tores como escolas, empresas entre<strong>ou</strong>tros. Em parte o profissional tem uma grande contribuiçãoquanto a esta situação, pois quando do términoda graduação, os profissionais não dão continuidade àformação, a fim de melhor qualificação profissional. Umprofissional desqualificado contribui para uma imagemnegativa da profissão. Dentro desta perspectiva, Wittere cols. (1992) destacam que toda profissão tem umaimagem social e com o psicólogo não poderia <strong>se</strong>r diferente,<strong>se</strong>ndo que tal imagem é construída pelo profissionale está diretamente relacionada com o respeito, autoridade,confiança e espaço de atuação.Ainda em relação à formação do psicólogo, no trabalhode<strong>se</strong>nvolvido por Rocha Jr. e Sá (1997) pertinenteà análi<strong>se</strong> dos currículos de psicologia, de nove universidadesbrasileiras, verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que a pesquisa e a extensãodeveriam estar mais pre<strong>se</strong>ntes nos cursos, que aformação <strong>se</strong> volta mais para ações curativas, que preventivas,que a formação é generalista e que, <strong>se</strong>gundoos alunos entrevistados, o currículo não é integrado.Discussões sobre a questão da formação do psicólogona psicologia <strong>ou</strong> especificamente na área de avaliaçãopsicológica não têm faltado. E, <strong>se</strong>gundo Witter (1996) têminteressado aos pesquisadores nacionais e internacionais,uma vez que vêm consolidar as questões relativas à formaçãoe atuação profissional, para que as práticas profissionais<strong>se</strong> mantenham críticas, atualizadas e atentas àsnecessidades sociais. Alguns estudos versam sobre a crençade que os testes deveriam <strong>se</strong>r ensinados de formaintegrada com os <strong>ou</strong>tros conceitos psicológicos (Kroeff,1998). Jacquemin (1995) defende que deve existir umaprogramação mínima básica para a formação e que <strong>se</strong>japriorizada a qualidade do ensino, e não a quantidade detestes ensinados; e Hays e Wellard (1998) acreditam queé evidente a necessidade de continuidade dos estudosapós a graduação, em relação à área.Portanto, os estudos revelam a necessária modificaçãoem relação aos currículos existentes nas instituiçõesbrasileiras de ensino superior, em relação àmetodologia de ensino utilizada (quantidade <strong>ou</strong> quali-


Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia 49dade) e à criação de cursos de pós-graduação na área.Já em relação aos alunos parece também haver necessidadede maior compromisso com a <strong>sua</strong> preparaçãoprofissional, uma vez que estudos revelam que aproficiência em disciplinas de T.E.P. depende de fatoresrelacionados aos alunos como motivação,freqüência às aulas, participação, capacidade de raciocínioe integração ao ensino superior, dentre <strong>ou</strong>tros; ede fatores relacionados à complexidade do conteúdoensinado (Primi & Munhóz, 1998).Testes <strong>Psic</strong>ológicosOs testes psicológicos, apesar de <strong>se</strong> constituírem eminstrumentos úteis ao psicólogo, recebem muitas crítica<strong>se</strong> vêm <strong>se</strong>ndo questionados. Dentre os estudos recentesque <strong>se</strong> destinaram a estudar o status do instrumentopsicológico, destaca-<strong>se</strong> o de Noronha (1999) queidentific<strong>ou</strong> que grande parte da amostra de psicólogo<strong>se</strong>studada não utiliza testes psicológicos e que dentre osproblemas listados, encontra-<strong>se</strong> a própria fragilidade domaterial, o uso inadequado dele e a formação profissionalinsatisfatória em relação à área. Em <strong>ou</strong>tro estudode<strong>se</strong>nvolvido por Azevedo, Almeida, Pasquali e Veiga(1996), o baixo teor científico dos testes foi denunciado,além da urgente necessidade de melhoria. Almeida,Prieto, Muñiz e Bartram (1998) revelaram que usarmateriais inadequados para os objetivos da avaliação,xerocar folhas de resposta, realizar avaliaçõesincorretas, não ter clareza das limitações dos instrumentos,usar testes não adaptados para as diferentes realidades,dentre <strong>ou</strong>tros, são os problemas mais delatadosna prática dos testes.Na literatura internacional são freqüentes os estudossobre o tema. Numa consulta ao PsycINFO (1999-2000) é possível encontrar 27554 artigos na área de psicologia,<strong>se</strong>ndo que 11275 são relativos à testes. Já notrabalho de<strong>se</strong>nvolvido por Alchieri e Scheffel (2000) como objetivo de documentar e resgatar a produção científicabrasileira em periódicos nacionais na área de psicologia,foram encontrados 1090 artigos sobre avaliaçãopsicológica num período de <strong>se</strong>is décadas (1930-1999).Como <strong>se</strong> vê é urgente a necessidade de estudos científicosna área, portanto, tendo em vista as questõesdestacadas o pre<strong>se</strong>nte trabalho teve como objetivo avaliaro conhecimento que psicólogos e formandos em psicologiatêm a respeito dos instrumentos psicológicos.Além disto, o estudo pretende listar os instrumentos maisutilizados pelos sujeitos na <strong>sua</strong> prática profissional.ParticipantesMÉTODOParticiparam como sujeitos deste estudo 134 indivíduo<strong>se</strong>ntre estudantes de psicologia e psicólogos, queforam divididos em dois grupos, a saber:Grupo I: alunos último anistas do curso de psicologia,de uma instituição de ensino superior particular dointerior paulista, repre<strong>se</strong>ntando 61,2% (N=82) da amostra.A idade vari<strong>ou</strong> de 21 a 49 anos, com média 26,41(DP=5,31). Em relação aos gêneros, 7,32% (N= 6) eramdo <strong>se</strong>xo masculino e 92,68% (N= 76) do <strong>se</strong>xo feminino;Grupo II: psicólogos, repre<strong>se</strong>ntando 38,8% (N=52)da amostra, com idade variando de 23 a 58 anos e média34,1 (DP=8,2). Os sujeitos do <strong>se</strong>xo feminino repre<strong>se</strong>ntaram84,6% (N=44) da amostra e do <strong>se</strong>xo masculino,15,4% (N=8). Os sujeitos são formados em médiahá 7,6 anos (DP=8,0).Vale ressaltar que três sujeitos do grupo I não preencheramos dados de identificação e, portanto, não foramcomputados nestes aspectos.Instrumentos<strong>Para</strong> a viabilização da pesquisa foi utilizada umarelação elaborada pelas autoras, contendo instrumentosde avaliação psicológica. Na relação estavam pre<strong>se</strong>ntes169 instrumentos das <strong>se</strong>guintes editoras: 49do CEPA, 50 da VETOR, 16 da CASA DO PSICÓ-LOGO, 12 da EDITES, 8 da CETEPP, 1 da ARTESMÉDICAS, 14 testes estrangeiros, 5 da EDITORI-AL PSY, 4 da MESTRE JOU, 1 da MELHORA-MENTOS, 1 da ENTRELETRAS e 8 testes de editorasnão localizadas.Os sujeitos tinham quatro possibilidades de respostapara cada instrumento listado, a saber: (a) conheci nagraduação / pós-graduação; (b) já utilizei; (c) conhecipor procura espontânea; (d) desconheço. Não havia nainstrução a obrigatoriedade de que o sujeito assinalas<strong>se</strong>uma única alternativa por instrumento, portanto as respostasque possuíam mais de uma alternativa foramconsideradas, desde que não h<strong>ou</strong>ves<strong>se</strong> incoerências,como o assinalamento de “(a) e (d)”.Além da relação de instrumentos, o material possuíaum quadro para os dados de identificação no que <strong>se</strong>refere aos <strong>se</strong>guintes aspectos: idade, <strong>se</strong>xo, área deatuação e tempo de profissão (no caso de profissionais)e, no caso de alunos, idade e <strong>se</strong>xo.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 47-56


50 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de OliveiraProcedimentoOs instrumentos foram aplicados com a devida autorizaçãodos sujeitos. H<strong>ou</strong>ve diferentes tipos de procedimentode acordo com os grupos estudados. <strong>Para</strong> os alunos, osquestionários foram aplicados coletivamente, em horáriode aula previamente cedida pelo professor, e com a autorizaçãoda coordenadora de curso, <strong>se</strong>ndo que a participaçãoera voluntária. As aplicações aconteceram em três salasdistintas, de último ano de curso (turnos matutino e noturno).<strong>Para</strong> a coleta dos dados dos profissionais formados, osquestionários foram enviados pelo correio. Foram encaminhadospara 87 psicólogos e foram devolvidos, 48, o querepre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> 55,2% do total. Juntamente com a relação deinstrumentos e a carta de apre<strong>se</strong>ntação, foi enviado umenvelope <strong>se</strong>lado e etiquetado para facilitar a devolução.Vale ressaltar que fizeram parte do grupo de psicólogosformados 14 alunos de pós-graduação da mesma instituiçãodo grupo de estudantes; para os sujeitos do grupo II, aaplicação foi coletiva, nas mesmas condições do grupo I.RESULTADOSApós a coleta de dados, os resultados foram organizado<strong>se</strong>m tabelas, de acordo com os objetivos do estudo.A análi<strong>se</strong> foi realizada a partir da freqüência dasrespostas e das respectivas porcentagens.Em relação ao primeiro objetivo (identificar os instrumentospsicológicos mais utilizados pelos estudante<strong>se</strong> profissionais de psicologia), os resultados revelaramque, para o grupo I, a média de testes conhecidos foi37,82 (DP=36,87) o que indica um conhecimento de21,82% da relação apre<strong>se</strong>ntada. Os 15 instrumentos commaior freqüência de resposta foram (Tabela 1): Testede Apercepção Temática - T.A.T. (97,56%; N=80);Raven – Matrizes Progressivas – escala avançada(95,12%; N=78); O De<strong>se</strong>nho da Figura Humana (93,9%;N=77); Bender – Teste Gestáltico Viso-Motor (91,46%;N=75); Wartegg, Teste de Apercepção Temática paraCrianças – C.A.T. (animais) e Raven – Martrizes Progressivas– escala geral (90,24%; N=74); Teste deApercepção Temática para Crianças – C.A.T. / humanas(89,02%; N=73); Teste de Zulliger (86,59%; N=71);Escala de Maturidade Mental Columbia – CEPA(81,71%; N=67); Teste da Árvore (80,49%; N=66); Testede Apercepção Temática para Crianças – suplementoanimais, Matrizes Progressivas Coloridas e M.M.P.I.(78,05%; N=64) e WISC (59%; N=71,95).Tabela 1: Freqüência e respectiva porcentagem dosinstrumentos mais conhecidos porestudantes de <strong>Psic</strong>ologiaNome do Instrumento F %Teste de Apercepção Temática – T.A.T 80 97,56Raven – escala avançada 78 95,12O De<strong>se</strong>nho da Figura Humana 77 93,9Bender – Teste Gestaltico Viso-Motor 75 91,46Wartegg 74 90,24Teste de Apercepção Temática C.A.T- A 74 90,24Raven – escala geral 74 90,24Teste de Apercepção Temática C.A.T. - H 73 89,02Teste Zulliger 71 86,59Escala de Maturidade Mental Columbia – CEPA 67 81,71Teste da Árvore 66 80,49Teste de Apercepção Temática – C.A.T.-A sup. 64 78,05Matrizes Progressivas Coloridas 64 78,05MMPI 64 78,05WISC 59 71,95Escala de Mat. Mental Columbia – Casa <strong>Psic</strong>ól. 58 70,73Teste das Fábulas 58 70,73Rorschach 58 70,73Teste de Aptidão Mecânica 53 64,63Fábulas de Düss 49 59,7616 PF – 5 ª edição 45 54,88WISC III 44 53,66Bateria Fatorial CEPA 44 53,66Teste Palográfico 44 53,66Pré-Bender 40 48,78PMK 32 39,02IAR 32 39,02Teste das Pirâmides das Cores – 14M - Pfister 30 36,59Inventário de Interes<strong>se</strong>s Angelini e Thurstone 30 36,59DAT – Teste de Aptidões Específicas 28 34,15Teste das Pirâmides das Cores – 24M - Pfister 27 32,93Escala de Beck 25 30,49G36 – Teste não Verbal de Inteligência 25 30,49Bender Hutt 21 25,61G38 – Teste não Verbal de Inteligência 21 25,61Os contos de fada e a psicopedagogia 21 25,61Escala Ge<strong>se</strong>ll 20 24,39WAIS 20 24,39LIP – Levantamento de Interes<strong>se</strong>s Profissionais 20 24,39Teste das Cores 19 23,17Escala Intelig. Stanford-Binet (Terman-Merrill) 19 23,17IFP – Inventário Fatorial de Personalidade 18 21,95AC – Teste de Atenção Concentrada 18 21,95RF – Reprodução de Figuras 17 20,73INV 16 19,51Teste de Aptidão Mecânica 16 19,51Teste de Gooden<strong>ou</strong>gh 16 19,51Teste Piaget-Head 16 19,51GEIST – Inventário Ilustrado de Interes<strong>se</strong>s 15 18,29IDATE 15 18,29Inventário Profissional de Interes<strong>se</strong>s 15 18,29WPPSI 15 18,29BTAG – Bateria de Testes de Aptidão Geral 14 17,07Kuder – Inventário de Interes<strong>se</strong>s 14 17,07Questionário de Orientação Individual 14 17,07


Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia 51Teste de Organização Percepto-Motora 14 17,07AC15 – Teste de Atenção Concentrada 14 17,07BPR-5 13 15,85CIA 13 15,85DHP – Teste Diagnóstico Habilidade Pré-<strong>escolar</strong> 13 15,85Teste Prontidão Leitura 13 15,85Test Guest Visomotor (Lauretta Bender) 12 14,63IAT – Inventário de Atitudes do Trabalho 12 14,63D48 12 14,63IDATE-C 12 14,63Teste Projetivo Omega 12 14,63SAT – Teste de Apercepção para Idosos 11 13,41Teste de Prontidão para Alfabetização 10 12,2ADT – Inventário de Administração de Tempo 10 12,2ESI – Escala de Stress Infantil 10 12,2D2 – Teste de Atenção Concentrada 10 12,2HTM – Teste Habilidade para Trabalho Mental 10 12,2QVI – Questionário Vocacional de Interes<strong>se</strong>s 10 12,2R1 – Teste não Verbal de Inteligência 10 12,2A média de testes conhecidos do grupo II foi 48,79(DP=18,2), o que indica um conhecimento de 28,87%da lista de instrumentos apre<strong>se</strong>ntada. A Tabela 2 apre<strong>se</strong>ntaos instrumentos mais conhecidos pelos sujeitosdeste grupo, <strong>se</strong>ndo que os 15 instrumentos maisfreqüentemente identificados pelos sujeitos foram: WISC(98,1%; N=51); Rorschach, Teste de Zulliger e De<strong>se</strong>nhoda Figura Humana (98,1%; N=48); Raven – escalageral e escala avançada, Bender e Teste de ApercepçãoTemática (88,5%; N=46); Teste de Wartegg, C.AT. animale humano e Teste da Árvore (86,5%; N=45); WISCIII, M.M.P.I. e Escala de Maturidade Mental Columbia(82,7%; N=43).Tabela 2: Freqüência e respectiva porcentagem dosinstrumentos mais conhecidos por psicólogos.Nome do Instrumento F %WISC 51 98,1Rorschach 48 92,3Zulliger 48 92,3O De<strong>se</strong>nho da Figura Humana 48 92,3Raven Matrizes Progressivas-escala geral 47 90,4Raven Matrizes Progressivas-escala avançada 46 88,5Bender-Teste Gestaltico Visomotor 46 88,5Teste de Apercepção Temática – T.A.T. 46 88,5Teste Wartegg 45 86,5CAT – Animais 45 86,5CAT – Humanas 45 86,5Teste da Árvore 45 86,5WISC III 43 82,7MMPI 43 82,7Escala de Mat. Mental Columbia – CEPA 43 82,7Escala de Mat. Mental Columbia – Casa <strong>Psic</strong>ól. 42 80,8G-36– Teste não Verbal de Inteligência 41 78,8G-38– Teste não Verbal de Inteligência 41 78,8PMK 41 78,8CAT – A (suplemento) 40 76,9Bateria Fatorial CEPA 39 75Teste Raven de Operações Lógicas 38 73,1Teste das Pirâmides das Cores-14M 38 73,1Matrizes Progressivas Coloridas 38 73,1WAIS 37 71,1Escala de Inteligência Stanford-Binet 35 67,3D-48 35 67,316 PF – 5 A . edição 33 63,5DAT 33 63,5INV 32 61,5Pré-Bender 31 59,6Cubos de Kohs 31 59,6Inventário de Interes<strong>se</strong>s Angelini e Thurstone 30 57,7Teste das Fábulas 29 55,8Benton 28 53,8Escala de Beck 27 51,9Kuder – Inventário de Interes<strong>se</strong>s 27 51,9Test Guest Visomotor 25 48,1Fábulas de Düss 24 46,2Teste Palográfico 24 46,2Teste das Pirâmides das Cores-24M 24 46,2Teste de Prontidão para Leitura 23 44,2Bender Hutt 22 42,3LIP 22 42,3Teste das Cores 21 40,4Escala de Ge<strong>se</strong>ll 21 40,4WPPSI 21 40,4Teste de Gooden<strong>ou</strong>gh 20 38,5CIA 20 38,5AC 19 36,5Teste Metropolitano de Prontidão 19 36,5Inventário de Sintomas de Stress – ISSL 19 36,5IDATE 18 34,6Teste de Organização Percepto-Motora 18 34,6D-70 18 34,6Teste Piaget-Head 18 34,6R-1 17 32,7Teste de Aptidão Mecânica 16 30,8IDATE-C 16 30,8Questionário Vocacional de Interes<strong>se</strong>s 16 30,8IFP – Inventário Fatorial de Personalidade 16 30,8Inventário Profissional de Interes<strong>se</strong> 15 28,8Teste de Reproduções de Figuras 15 28,8GEIST – Inventário Ilustrado de Interes<strong>se</strong>s 14 26,9Escala de Stress Infantil 14 26,9Questionário Desiderativo 14 26,9ACRE 14 26,9Bateria de Testes de Aptidão Geral 13 25IAR 13 25R-2 13 25Teste de Prontidão para Alfabetização 12 23,1Inventário de Atitudes de Trabalho 12 23,1BBT 12 23,1Teste Diagnóstico de Habilidade pré-<strong>escolar</strong> 12 23,1Teste de Maturidade para Leitura 12 23,1Escala de Maturidade para a Escolha Profissional 12 23,1AC 15 11 21,2Diagnóstico Organizacional 11 21,2Teste de De<strong>se</strong>mpenho Escolar 11 21,2<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 47-56


52 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de OliveiraComo chefiar? 10 19,2Questionário de Personalidade de Dadahie 10 19,2QUATI 10 19,2BPR-5 10 19,2Phillipson – Teste de Relações Objetais 10 19,2Tais dados estão pre<strong>se</strong>ntes em <strong>ou</strong>tros estudos denatureza <strong>se</strong>melhante, como o proposto por Alves,Alchieri e Marques (2001), em que T.A.T., Raven, WISC,HTP, C.A.T., Bender e Rorschach aparecem como ostestes mais ensinados em 64 cursos de graduação. Por<strong>ou</strong>tro lado, no trabalho de<strong>se</strong>nvolvido por Vasconcelos eToledo de Santana (2001), além de Raven, HTP, De<strong>se</strong>nhoda Figura Humana, T.A.T. e Rorschach, dois <strong>ou</strong>trosinstrumentos que tiveram porcentagens pequenasno pre<strong>se</strong>nte estudo, apareceram como parte do conteúdodas disciplinas na Universidade Federal da <strong>Para</strong>íba(INV e LIP).Comparando os resultados dos grupos I e II, ob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong>que, da relação de 15 instrumentos mais conhecidos,dois do grupo I (C.A.T. animais suplemento e MatrizesProgressivas Coloridas) não aparecem na lista dogrupo II, e vice-versa (Rorschach e WISC III). O destaquevai para o Rorschach que é o <strong>se</strong>gundo mais conhecido(92,3%) entre os sujeitos formados e que nãofigura entre os mais conhecidos entre alunos últimoanistas; tal fato certamente <strong>se</strong> explica pela ausênciades<strong>se</strong>s testes na formação dos sujeitos.Em relação aos instrumentos menos pontuados, osque <strong>se</strong>guem não foram identificados por nenhum sujeitodo grupo de estudantes: Lendo e Escrevendo, STAXI –Inventário de Expressão de Raiva Traço-estado, TesteProntidão Horizontes, VIG – Bateria Burocrática, Escalade Avaliação do Comportamento Infantil para Professor,Escala Fatorial de Ajustamento Emocional-Neuroticismo e Teste de Quadros para Adolescentes.Já no grupo de psicólogos, três <strong>ou</strong>tros instrumentos nãoforam identificados: OPK – Teste de AgradabilidadeBásica, Coordenação Bi-manual e Teste Locus de Controle– Rotter.Quanto ao <strong>se</strong>gundo objetivo do estudo (identificar osinstrumentos mais utilizados pelos sujeitos), os resultado<strong>se</strong>stão apre<strong>se</strong>ntados na Tabela 3. Os instrumentosmais utilizados são também os instrumentos mais conhecidospelos estudantes de uma maneira geral. A <strong>se</strong>guirencontra-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>qüência dos instrumentos mais utilizado<strong>se</strong> entre parênte<strong>se</strong>s apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> a posição emrelação aos instrumentos mais conhecidos: Teste deApercepção Temática – T.A.T. (1), O De<strong>se</strong>nho da FiguraHumana (3), Teste de Zulliger (9), Bender – TesteGestáltico Viso-Motor (4), Teste da Árvore (11), C.A.T.A (6), Escala de Maturidade Mental Columbia (10),C.A.T. H (8), C.A.T. S (11), Matrizes Progressivas –escala geral (6), Matrizes Progressivas – escala avançada(2), Teste de Wartteg (5), Teste das Fábulas (16),M.M.P.I. (11) e Matrizes Progressivas Coloridas (11).Tabela 3: Freqüência e respectiva porcentagem dosinstrumentos mais utilizados porestudantes de <strong>Psic</strong>ologia.Nomes dos Instrumentos F %Teste de Apercepção Temática – T.A.T. A 50 60,98O De<strong>se</strong>nho da Figura Humana 44 53,66Teste Zulliger 43 52,44Bender – Teste Guestáltico Visomotor 43 52,44Teste da Árvore 43 52,44Teste de Apercepção Temática C.A.T. A 31 37,8Escala de Maturidade Mental Columbia - CEPA 28 34,15Teste de Apercepção Temática C.AT. H 27 32,93Teste de Apercepção Temática C.A.T.A – suplem. 23 28,05Raven – escala geral 23 28,05Raven – escala avançada 21 25,61Wartegg 19 23,17Teste das Fábulas 19 23,17MMPI 19 23,17Matrizes Progressivas Coloridas 16 19,51Escala Maturidade Mental Columbia – Casa <strong>Psic</strong>. 16 19,51Fábulas de Düss 15 18,29WISC 10 12,2Teste Palográfico 9 10,98BPR-5 9 10,9816 PF – 5 ª edição 9 10,98AC – Atenção Concentrada 9 10,98Bateria Fatorial CEPA 8 9,76Pré-Bender 7 8,54IAR 7 8,54IAT Inventário Atitudes para o Trabalho 7 8,54PMK 7 8,54Teste Raven de Operações Lógicas 7 8,54LIP – Levantamento de Interes<strong>se</strong>s Profissionais 6 7,32Bender Hutt 6 7,32Teste Piaget-Head 5 6,1G36 Teste não Verbal d Inteligência 5 6,1Rorschach 4 4,88Teste de Organização Percepto-Motora 4 4,88ACRE 4 4,88G38 Teste não Verbal de Inteligência 4 4,88WISC III 4 4,88Inventário de Interes<strong>se</strong>s Angelini e Thurstone 3 3,66Teste de Aptidão Mecânica 3 3,66Teste de Gooden<strong>ou</strong>gh 3 3,66IDATE 2 2,44Questionário de Orientação Individual 2 2,44INV 2 2,44AC15 – Teste de Atenção Concentrada 2 2,44Teste Metropolitano de Prontidão 2 2,44


Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia 53Teste das Pirâmides das Cores – 24M – Pfister 2 2,44Diagnóstico Organizacional 2 2,44Escala de Ge<strong>se</strong>ll 2 2,44IFP – Inventário Fatorial de Personalidade 2 2,44Inventário de Sintomas de Stress de LIPP 2 2,44Inventário Profissional de Interes<strong>se</strong>s 2 2,44D70 2 2,44Escala de Intelig. Stanford-Binet (Terman-Merrill) 2 2,44D48 2 2,44Kuder – Inventário de Interes<strong>se</strong>s 2 2,44Teste das Cores 2 2,44Prontidão de Leitura 2 2,44RF – Reprodução de Leituras 2 2,44Benton – Teste de Retenção Vi<strong>sua</strong>l 1 1,22BTAG – Bateria de Testes de Aptidão Geral 1 1,22BTBC – Bateria dos Conceitos Básicos de Bohen 1 1,22CIA 1 1,22Cubos de Kohs 1 1,22EDDP – Escore Deteriorização De<strong>se</strong>nho da Pessoa1 1,22MM – Teste as Minhas Mãos 1 1,22Teste de Maturidade para Leitura 1 1,22APO – Área, Profissões e Objetos 1 1,22EMEP –Escala de Maturidade Escolha Profissional 1 1,22Escalas de Personalidade de Comrey 1 1,22Kit brinquedos e brincadeiras para o bebê 1 1,22Os contos de fada e a psicopedagogia 1 1,22QUATI – Questionário de Avaliação Tipológica 1 1,22QVI – Questionário Vocacional de Interes<strong>se</strong>s 1 1,22R-1 Teste não Verbal de Inteligência 1 1,22R-2 Teste não Verbal de Inteligência 1 1,22RLN Raciocínio Lógico Numérico 1 1,22TC Teste de Destreza Digital 1 1,22TEPEM Teste de Prontidão Emocional para Motorista1 1,22Teste dos Relógios 1 1,22Teste Prontidão para Alfabetização 1 1,22Teste das Pirâmides das Cores 14M – Pfister 1 1,22ADT Inventário de Administração de Tempo 1 1,22Questionário Desiderativo 1 1,22Coordenação Bi-manual Edites 1 1,22Relações Lógicas – raciocínio lógico 1 1,22D2 Teste de Atenção Concentrada 1 1,22MTB série Both de testes manuais 1 1,22Escala de Beck 1 1,22Teste de Symonds 1 1,22Teste de Szondi 1 1,22WAIS Escala de Inteligência Wechsler para Adultos 1 1,22WPPSI Escala Wechsler de Inteligência Pré-<strong>escolar</strong>es 1 1,22TAA Teste de Aptidão Acadêmica 1 1,22Test de Luscher 1 1,22TIPITI exame de linguagem 1 1,22Teste de Liderança Situacional 1 1,22Quanto aos resultados do grupo II, eles possuem asmesmas características ob<strong>se</strong>rvadas no grupo I, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja,os instrumentos mais conhecidos também aparecemcomo os mais utilizados. Os dados estão apre<strong>se</strong>ntadosna Tabela 4 e a <strong>se</strong>guir encontram-<strong>se</strong> os mais citados:WISC (1); O De<strong>se</strong>nho da Figura Humana (4); Teste deApercepção Temática (8); Escala de Maturidade MentalColumbia - CEPA (15); Teste de Wartegg (9); C.A.T.humanas (11); Teste da Árvore (12); Bender (7); Raven-Matrizes Progressivas – escala geral (5); Bateria FatorialCEPA (21); Raven – Matrizes Progressivas –escalaavançada (6); C.A.T. animais (10); M.M.P.I. (14),Rorschach (2) e Inventário de Interes<strong>se</strong>s Angelini eThurstone. Vale destacar que os valores entre parênte<strong>se</strong>sindicam as posições dos instrumentos mais conhecidospelos psicólogos.Tabela 4:Freqüência e respectiva porcentagem dosinstrumentos mais utilizados porpsicólogos.Nomes dos Instrumentos F %WISC 28 53,8O De<strong>se</strong>nho da Figura Humana 28 53,8Teste de Apercepção Temática 26 50Escala de maturidade Mental Columbia - CEPA 26 50Teste de Wartegg 25 48,1C.A.T. humanas 23 44,2Teste da Árvore 23 44,2Bender 21 40,4Raven – Matrizes Progressivas – escala geral 21 40,4Bateria Fatorial CEPA 20 38,5Raven – Matrizes Progressivas – escala avançada19 36,5C.A.T. animais 18 34,6M.M.P.I. 16 30,8Rorschach 15 28,8Inventário de Interes<strong>se</strong>s Angelini e Thurstone 15 28,8Escala de Maturidade Mental Columbia –Casa do <strong>Psic</strong>.14 26,9Pré-Bender 14 26,9PMK 13 25Matrizes Progressivas Coloridas 13 25WISC III 13 25G-36 12 23,1Zulliger 11 21,116 PF 11 21,1G-38 11 21,1Teste Palográfico 10 19,2WAIS 10 19,2D-48 10 19,2Kuder 10 19,2INV 10 19,2DAT 9 17,3Fábulas de Düss 9 17,3Test Guest Visomotor 9 17,3Escala de Inteligência Stanford-Binet 8 15,4Teste Piaget-Head 8 15,4LIP 8 15,4Teste Metropolitano de Prontidão 7 13,5Teste de Gooden<strong>ou</strong>gh 7 13,5Teste de Prontidão para Leitura 7 13,5Questionário Vocacional de Interes<strong>se</strong> 7 13,5Teste das Fábulas 6 11,5C.A.T. Animais suplemento 6 11,5CIA 6 11,5<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 47-56


54 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de OliveiraTeste Raven de Operações Lógicas 5 9,6Cubos de Kohs 5 9,6Teste das Cores 5 9,6Teste de Organização Percepto-Motora 5 9,6Teste de Prontidão para Alfabetização 5 9,6Teste das Pirâmides das Cores – 14M 5 9,6Teste das Pirâmides das Cores – 24M 5 9,6IAT 4 7,7IFP 4 7,7D-70 4 7,7Escalas de Beck 4 7,7Benton 4 7,7Teste Diagnóstico de Habilidade Pré-<strong>escolar</strong> 4 7,7Teste de Aptidão Mecânica 4 7,7ACRE 4 7,7R-1 4 7,7QUATI 4 7,7AC 15 3 5,8Escala de Maturidade para Escolha Profissional 3 5,8Teste de habilidade para o Trabalho Mental 3 5,8Questionário Confidencial 3 5,8Teste Eqüicultural de Inteligência – escala 2 3 5,8Diagnóstico Organizacional 3 5,8Escala de Ge<strong>se</strong>ll 3 5,8Inventário de Expectativas sobre o Álcool 3 5,8BPR-5 3 5,8Inventário Profissional de Interes<strong>se</strong>s 3 5,8Teste de Rapidez Numérica 3 5,8Bender Hutt 3 5,8WPPSI 3 5,8Teste de Apercepção para Idosos 3 5,8IAR 3 5,8Teste de Compreensão Mecânica 3 5,8Inventário de Interes<strong>se</strong>s Bessa-Tramer 3 5,8Lista de problemas Pessoais de Mooney 3 5,8Como chefiar? 2 3,8EDDP 2 3,8GEIST 2 3,8IDATE 2 3,8Teste de Reproduções de Figuras 2 3,8TIPITI 2 3,8Escala Fatorial de Ajustamento em.-neuroticismo 2 3,8Teste de Symonds 2 3,8Teste de Maturidade para Leitura 2 3,8PHD 2 3,8Inventário de Sintomas de Stress – ISSL 2 3,8O de<strong>se</strong>nvolvimento do comportamento no 1 ano 2 3,8Teste de Rapidez Numérica 2 3,8Bateria de Testes de Aptidão Geral 1 1,9Cornell Index 1 1,9Escala de Preconceito Profissional 1 1,9IDATE C 1 1,9Teste de Nível Mental 1 1,9Questionário de orientação Individual 1 1,9Teste Eqüicultural de Inteligência – escala 3 1 1,9Teste de Sondagem Intelectual 1 1,9Teste Projetivo Ômega 1 1,9AC 1 1,9Área, Profissões e Objetos 1 1,9Coleção Papel de Carta 1 1,9Escalas de Personalidade de Comrey 1 1,9Lendo e Escrevendo 1 1,9Questionário Íntimo 1 1,9R-2 1 1,9Raciocínio Lógico-Numérico 1 1,9SSO de Liderança 1 1,9Teste de Destreza Digital 1 1,9Teste Becas<strong>se</strong> de Maturidade Escolar 1 1,9Teste de Mandala de Palavras 1 1,9Teste Projetivo Sonoro 1 1,9Teste de Estruturas Vocacionais 1 1,9Inventário de Administração do Tempo 1 1,9Escala de Stress Infantil 1 1,9Figuras Complexas de Rey 1 1,9Questionário de Saúde Geral 1 1,9Questionário Desiderativo 1 1,9Teste do De<strong>se</strong>nho de Silver 1 1,9Teste de De<strong>se</strong>mpenho Escolar 1 1,9Bateria TSP 1 1,9BBT 1 1,9Escala de Hamilton 1 1,9Teste de Relações Objetais 1 1,9Teste de Szondi 1 1,9Diagnóstico do De<strong>se</strong>nvolvimento 1 1,9Diagnóstico Tipológico Organizacional 1 1,9Teste de Atenção Difusa 1 1,9Test de Luscher 1 1,9Teste de Quadros para Adolescentes 1 1,9Comparando os dois grupos, é possível ob<strong>se</strong>rvar quemuitos dos instrumentos aparecem como os mais utilizado<strong>se</strong>m ambos os grupos, exceto os <strong>se</strong>guintes queaparecem como mais freqüentes em apenas um: Testede Zulliger, C.A.T. animais suplemento, Teste das Fábula<strong>se</strong> Matrizes Progressivas Coloridas (grupo I);WISC, Bateria Fatorial CEPA e Rorschach (grupo II).DISCUSSÃOO pre<strong>se</strong>nte estudo teve como objetivo identificar osinstrumentos mais conhecidos e utilizados pelos psicólogo<strong>se</strong> por estudantes de psicologia. Constat<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>, a partirda análi<strong>se</strong> dos dados, que os instrumentos mais conhecidossão também os mais utilizados, na grande maioria dasvezes, com alguma variação na <strong>se</strong>qüência apre<strong>se</strong>ntadaem uma <strong>ou</strong> <strong>ou</strong>tra situação, por ambos os grupos.Tal constatação, já esperada, confirma a tendênciade <strong>se</strong> reproduzir o conhecido e dominado, e a falta deabertura para o novo. Por mais que isso esteja pre<strong>se</strong>nteem diferentes áreas de conhecimento, a con<strong>se</strong>qüênciaé complicada e desastrosa, pois <strong>se</strong> perpetua o ensinodas mesmas técnicas e não <strong>se</strong> possibilita que concepçõesmais recentes <strong>se</strong>jam integradas à prática profissional,<strong>se</strong>m que, por <strong>ou</strong>tro lado, as boas técnicas antigas


Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia 55<strong>se</strong>jam valorizadas. Almeida (1999) aponta que o fracodiálogo entre investigadores e profissionais impede oavanço dos testes psicológicos, e que o de<strong>se</strong>nvolvimentodeste instrumental está fortemente associado ao de<strong>se</strong>nvolvimentodo país, portanto paí<strong>se</strong>s em ascensão tendema oferecer melhores e mais novos materiais.Outro dado merece atenção. A diferença encontradaentre os grupos no que diz respeito ao conhecimentodos instrumentos, revel<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> pequena, o que remeteàquela discussão que evidencia que apenas uma parcelada comunidade de psicólogos <strong>se</strong> atualiza e continua aestudar, enquanto grande parte <strong>se</strong> satisfaz com os conhecimentosadquiridos na graduação.Pesquisas futuras poderiam <strong>se</strong>r realizados a fim de <strong>se</strong>levantar a qualidade dos instrumentos que estão <strong>se</strong>ndoensinados nos vários cursos de graduação nas universidadesbrasileiras, pois como sugere Castro (2001) a avaliaçãosobre os elementos inerentes ao processo ensinoaprendizagemde disciplinas de avaliação psicológica, é<strong>se</strong>mpre oportuna, uma vez que pode gerar reflexões sobreestratégias de ensino, de forma a valorizar e consolidaro papel das técnicas na formação do psicólogo. Noestudo de<strong>se</strong>nvolvido por Wechsler e cols. (2000) entreestudantes universitários, com o objetivo de identificar asnecessidades de pesquisa em avaliação psicológica,WISC, Bender, Columbia, HTP e Rorschach foram consideradosos testes que mais necessitam de pesquisas noBrasil. Certamente, os sujeitos <strong>se</strong> ba<strong>se</strong>aram nos instrumento<strong>se</strong>nsinados nas <strong>sua</strong>s respectivas formações profissionaispara poder avaliar, o que pode sugerir que <strong>ou</strong>niverso de conhecimento é também restrito e parcial.Em contrapartida, não é exeqüível que muitos <strong>ou</strong> todosos instrumentos <strong>se</strong>jam discutidos ao longo da graduação,tendo em vista que o número de instrumentos nãopermite e que a prioridade é a qualidade de ensino, emdetrimento da quantidade de técnicas. Em relação ao tema,Alves (2001) procur<strong>ou</strong> avaliar, de maneira ampla, o ensinodas técnicas de exame psicológico. O estudo revel<strong>ou</strong>que os professores ensinam mais instrumentos do que éconsiderado como básico <strong>ou</strong> mínimo pelos próprios e quehá p<strong>ou</strong>ca diferença entre a lista de instrumentos psicológico<strong>se</strong>fetivamente ensinados e a lista daqueles que foramconsiderados como mais indicados para o ensino e,sob esta perspectiva, erroneamente poderia <strong>se</strong> dizer queo ensino em avaliação psicológica está satisfatório.<strong>Para</strong> Pasquali (1999) o descrédito que ainda <strong>se</strong> encontraatualmente em relação aos instrumentos psicológicos,muito <strong>se</strong> deve à deficiente formação na área. Oautor acredita que, embora a pesquisa na área ainda<strong>se</strong>ja incipiente, os p<strong>ou</strong>cos pesquisadores que estão trabalhando,de alguma forma, já estão incomodando a clas<strong>se</strong>de psicólogos, no que <strong>se</strong> refere ao problema dainstrumentalização, da qualidade, do uso e da melhoriade testes psicológicos.O pre<strong>se</strong>nte estudo constituiu-<strong>se</strong> num trabalho delevantamento e, embora este tipo de metodologia aindareceba críticas, mudanças <strong>se</strong> fazem a partir da reflexãode conjuntos de dados que revelam os diferente<strong>se</strong>stados das áreas de conhecimento. Portanto, estudosdesta natureza são ainda importantes na área deavaliação psicológica para que as mudanças aconteçame <strong>se</strong>jam pautadas nos dados já estudados.REFERÊNCIASAlchieri, J. C., & Scheffel, M. (2000). 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<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68INGLÊS INSTRUMENTAL:EFICIÊNCIA DO ENSINO PARA INGRESSANTES DO CURSO DE PSICOLOGIAResumoNeusa Haruka Sezaki Gritti 1O objetivo do trabalho foi verificar a eficiência de um curso de inglês instrumental na habilidade de leitura. Foram voluntários 14 alunos dodiurno e 14 do noturno do 1º ano de <strong>Psic</strong>ologia. Nos testes (Pré-Teste, Intermediário e Pós-Teste) foram solicitadas atividades de vocabulário,escrita de orações em inglês, resumo em português e inglês. Os dados foram tratados quantitativa e qualitativamente. Os resultados indicaram queh<strong>ou</strong>ve melhora em termos de leitura em inglês. Os voluntários do diurno apre<strong>se</strong>ntaram de<strong>se</strong>mpenho um p<strong>ou</strong>co melhor que os do noturno, porém osdo noturno assimilaram vocábulos específicos em maior número que os do diurno. Ob<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>, no entanto, a necessidade de um novo planejamentopara um curso instrumental, envolvendo não apenas a habilidade de leitura, mas também a de escrita e estratégias que possam enriquecer ovocabulário.Palavras-chave: aprendizagem de inglês, leitura e escritaINSTRUMENTAL ENGLISH: TEACHING EFFICIENCY FOR PSYCHOLOGY COURSE FRESHMAN STUDENTSAbstractEnglish in a higher <strong>educ</strong>ation is helpful to the students becau<strong>se</strong> expands their possibilities to communication and academic, professional andscientific performance. The purpo<strong>se</strong> of this study was to analy<strong>se</strong> the efficiency of English for Specific Purpo<strong>se</strong> c<strong>ou</strong>r<strong>se</strong> (reading). In order to fulfillthis purpo<strong>se</strong>, a Pre-test, a Mid-test and a Post-test were taken. The 28 volunteers were cho<strong>se</strong>n at random from students in the first grade ofPsychology c<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>: 14 studying in the morning and 14 in the evening. They were evaluated on f<strong>ou</strong>r aspects: vocabulary, <strong>se</strong>ntences in English andsummary in English and Portugue<strong>se</strong>. The performance of students who study in the morning was better, but the students who study in the eveninglearnt more specific words in Psychology than the students in the morning. Analysis of the data, using statistical methods, permitted the followingconclusions: it is necessary to design another ESP c<strong>ou</strong>r<strong>se</strong>, including not only reading but also writing skills. Actions sh<strong>ou</strong>ld be taken to improve thestudents’ vocabulary.Key words: English learning, reading, writing.INTRODUÇÃOAprender a língua materna implica aprender a <strong>sua</strong>própria cultura, e aprender uma <strong>se</strong>gunda língua implica aaprendizagem de uma <strong>se</strong>gunda cultura. É aprendizagemcom con<strong>se</strong>qüências psicológicas e sociais como o reconhecimentodo vocabulário, que é um reflexo da culturado povo, e também em relação ao grupo de falantes com<strong>se</strong>us valores simbólicos (Savilee-Troike, 1976).A aprendizagem de uma língua estrangeira, principalmente,a língua inglesa, é imprescindível no contextoglobalizado atual, principalmente para o mercado de trabalho.Ela está pre<strong>se</strong>nte em todos os <strong>se</strong>tores profissionai<strong>se</strong>, <strong>se</strong>m dúvida, na área científica, em que é precisodominar a leitura e a escrita dessa língua. A universidadeé, geralmente, a última etapa da <strong>educ</strong>ação formal; éimportante, portanto, incentivar o estudante a interessar-<strong>se</strong>cada vez mais pelo conhecimento de pelo menosuma língua estrangeira, no caso, o inglês e de as<strong>se</strong>gurara habilidade de compreensão de leitura e de escrita dessalíngua ao futuro profissional.Traça-<strong>se</strong>, assim, uma linha histórica que evidencia,no ensino de línguas, duas vertentes: o enfoqueformalista <strong>ou</strong> estrutural e o enfoque comunicativo. Nosanos 60 e 70 h<strong>ou</strong>ve um intenso movimento de ensino delínguas no Brasil, e a busca, nessa época, foi justamentea ênfa<strong>se</strong> do melhor método, das melhores técnicas edos mais eficientes recursos para ensinar idiomas emambientes formais. Nos anos 80, após experiências comalguns métodos que visavam à aprendizagem eficiente1D<strong>ou</strong>tora pela PUC-Campinas e docente da Universidade de Mogi das Cruzes.


58 Neusa Haruka Sezaki Grittide língua estrangeira, lingüistas verificaram que oenfoque estruturalista necessitava de reformas e tentarammudá-lo, dessa vez, centrado no aluno, na <strong>sua</strong> realidade,com enfoque no uso apropriado da língua eminterações comunicativas. Essa visão dá origem ao chamadomovimento comunicativo que pretendia ir além doformal e das normas, oferecendo oportunidades para oaluno poder interagir usando a língua-alvo.Em 1983, ainda em destaque o enfoque comunicativo,instal<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> definitivamente no Brasil a propostade Ensino Instrumental de Línguas, internacionalmentepesquisada desde os anos 70. Es<strong>se</strong> ensino instrumentalexplicita como e por que é possível aprender ade<strong>se</strong>mpenhar-<strong>se</strong> adequadamente para fins específicos,em contextos também específicos de uso da línguamaterna <strong>ou</strong> de uma língua estrangeira. Possibilita que<strong>se</strong>jam focalizadas certas habilidades (leitura e escrita,por exemplo), áreas de conhecimento e necessidadesde estratégias específicas (ler para resumir, escreverrelatórios, tomar notas, por exemplo), com con<strong>se</strong>qüenteeconomia de tempo e alcance relativamente precocedas metas pretendidas. Enfim, qualquer habilidadepode <strong>se</strong>r focalizada dependendo da habilidade que oaprendiz necessita.Buscando ensinar o inglês dentro dessa proposição,em uma universidade, situada na região leste da GrandeSão Paulo, foi implantado o Projeto de Curso Instrumentalpara Leitura de Textos em Inglês, cujo objetivo éinstrumentalizar os alunos a ler em inglês. O pre<strong>se</strong>ntetrabalho é uma pesquisa da eficiência do processo ensino/aprendizagemem termos de vocabulário, leitura eescrita, enfocando a aplicação do referido projeto emum curso de graduação na área de <strong>Psic</strong>ologia.A necessidade des<strong>se</strong> estudo <strong>se</strong> fez pre<strong>se</strong>nte na medidaem que a instituição <strong>educ</strong>acional <strong>se</strong> preocupa emcapacitar alunos na formação de futuros profissionaiscompetentes, capazes de atuar em qualquer instituição<strong>ou</strong> empresa. Na verdade, a universidade, como instituiçãoem constante evolução, é responsável pela difusão,geração e de<strong>se</strong>nvolvimento de grande parte do conhecimentocientífico, preparando o cidadão também parauma profissão, além de prepará-lo para a vida. A sociedade,por <strong>ou</strong>tro lado, necessita de profissionais altamentepreparados para ajudá-la a atingir os objetivos socialmentedeterminados, além de favorecer o alcance dasmetas individuais de <strong>se</strong>us membros.É necessário, portanto, a instituição superior oferecercondições reais a fim de que os alunos adquiramconhecimento científico além de fornecer sólida formaçãode qualidade. Assim, é necessário que nas pesquisasos múltiplos aspectos <strong>se</strong>jam enfocados.MÉTODOSituaçãoA coleta de dados foi realizada em uma universidadeparticular situada na zona leste da Grande São Paulo,especificamente no curso de <strong>Psic</strong>ologia. Atualmenteo curso funciona com habilitação em Formação do <strong>Psic</strong>ólogocom ênfa<strong>se</strong> na Área de Saúde, Licenciatura eBacharelado, nos períodos diurno e noturno. O objetivodo curso é atualizar o curso e voltá-lo mais para ciência.O corpo discente está <strong>se</strong>ndo estimulado à produção científicae à participação em congressos, publicações e<strong>ou</strong>tros eventos relevantes na formação do futuro profissionale/<strong>ou</strong> cientista. Atividades de enriquecimentocurricular são freqüentes e a iniciação científica <strong>se</strong> ampli<strong>ou</strong>neste último ano.VoluntáriosA coleta de dados foi realizada com alunos de graduaçãodo Curso de <strong>Psic</strong>ologia. Os sujeitos cursavam o1º ano de <strong>Psic</strong>ologia, <strong>se</strong>ndo uma turma no período diurnoe <strong>ou</strong>tra no período noturno. Os voluntários foramcaracterizados quanto a <strong>se</strong>xo, idade, <strong>escolar</strong>idade anterior,conhecimento de inglês e hábitos de leitura.A amostra ca<strong>sua</strong>l tomada para coleta de dados fic<strong>ou</strong>composta de 28 alunos, <strong>se</strong>ndo 14 do período diurno –GD (grupo diurno) e 14 do período noturno – GN (gruponoturno). A faixa etária des<strong>se</strong>s sujeitos fic<strong>ou</strong> compreendidaentre 17 e 40 anos de idade (GD e GN).Quanto à <strong>escolar</strong>idade anterior, 57% dos voluntáriosdo GD e 93% dos voluntários do GN cursaram o ensinofundamental em escola pública; 43% do GD e 7% doGN em escola particular. Em relação ao ensino médio,50% dos sujeitos do GD cursaram escola pública, e 50%,particular; 64% dos voluntários do GN, escola pública e36%, escola particular.Quanto ao curso particular de inglês, 64% dos voluntáriosdo GD e apenas 36% do GN fazem <strong>ou</strong> já fizeramalgum curso. Em relação à leitura em inglês, 29%dos voluntários do GD e 21% do GN o fazem <strong>se</strong>manalmente;35% do GD e 29% do GN lêem mensalmente, e35% do GD e 50% do GN, respectivamente, nunca lêemem inglês.


Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia 59MaterialForam utilizados os instrumentos aqui arrolados edescritos.a) Questionário informativo - por meio do qual foramobtidas as <strong>se</strong>guintes informações: identificação;cursos realizados; atividades profissionais; hábitos deleitura e expectativas quanto ao curso de Inglês.b) Habilidades de Língua Inglesa – busc<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> verificaro conhecimento de inglês em relação ao vocabulário,leitura e escrita. A avaliação foi dividida em quatropartes.1. Protocolo de Vocabulário, em Inglês – os sujeito<strong>se</strong>screveram uma relação de palavras soltas, em inglês,envolvendo qualquer área de conhecimento, bem comopalavras de qualquer categoria gramatical;2. Protocolo de Orações, em Inglês, – os sujeito<strong>se</strong>screveram uma <strong>ou</strong> várias orações, em inglês, relacionadascom a área de <strong>Psic</strong>ologia;3. Texto, em Inglês, – leitura de um trecho de umtexto em inglês e escrita de um resumo do que foi lido(resumo em português);4. Texto, em Inglês, – leitura de um trecho de umtexto, em inglês e escrita de um resumo sintetizandoaquilo que foi lido dessa vez em inglês.c) Material para Tradução/ Compreensão de Texto -No final do curso, foram utilizados três ‘abstracts’ deartigos, te<strong>se</strong>s, dis<strong>se</strong>rtações e livros extraídos da ba<strong>se</strong> dedados ERIC da área de Educação e de <strong>Psic</strong>ologia, emque foi solicitada a tradução/compreensão dos três texto<strong>se</strong>m português para verificar o grau de habilidade deleitura e compreensão apre<strong>se</strong>ntado pelo sujeitos. Foipermitido o uso de dicionário bilíngüe.ProcedimentoA coleta foi efetivada em situação natural de sala deaula e dividida em três fa<strong>se</strong>s (pré-teste; intermediário epós-teste). Toda coleta de dados foi feita pela própriaAutora, que assumiu o papel de docente-pesquisadora,contando com o con<strong>se</strong>ntimento dos alunosPré-Teste e IntermediárioFoi distribuído, no início do ano, na sala de aula decada período, o questionário informativo. Em <strong>se</strong>guida,os sujeitos receberam uma folha e foi solicitado que escreves<strong>se</strong>mpalavras em inglês com tempo estipulado deum minuto e meio; escreves<strong>se</strong>m palavras em inglês relacionadascom a área de psicologia – tempo de umminuto e meio (este item foi solicitado apenas no TesteIntermediário); escreves<strong>se</strong>m orações em inglês tambémcom tempo estipulado (dois minutos); les<strong>se</strong>m o texto eminglês e, a <strong>se</strong>guir, foi solicitado que eles escreves<strong>se</strong>mum resumo, em português, e les<strong>se</strong>m <strong>ou</strong>tro texto em inglê<strong>se</strong> que escreves<strong>se</strong>m um resumo, dessa vez em inglês,sintetizando aquilo que foi lido.No final do primeiro <strong>se</strong>mestre, foi aplicado um teste<strong>se</strong>melhante, <strong>se</strong>ndo que os textos em inglês não foram osmesmos aplicados no Pré-Teste.Pós-TesteNo final do curso foi aplicado o mesmo material aplicadono Pré-Teste.Tradução/ Compreensão de TextosA partir dos resumos coletados (abstracts) de artigos,dis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s da área de <strong>Psic</strong>ologia da ba<strong>se</strong>de dados ERIC, foi feito um acompanhamento e orientaçãona tradução/ compreensão de texto na linguagemescrita para que os sujeitos pudes<strong>se</strong>m familializar-<strong>se</strong> como vocabulário específico da área de <strong>Psic</strong>ologia.RESULTADOSA análi<strong>se</strong> dos resultados foi realizada com a comparaçãodos sujeitos intragrupo, isto é, ob<strong>se</strong>rvando-<strong>se</strong> o de<strong>se</strong>mpenhodo GD e do GN e intergrupos. <strong>Para</strong> essas comparações,foi utilizado o T de Wilcoxon (Siegel, 1956).Toda a análi<strong>se</strong> estatística foi conduzida, tendo por margemde erro o n. sig.=0,02, posto que <strong>se</strong> pretendeu <strong>se</strong>rmais exigente do que comumente <strong>se</strong> faz em CiênciasHumanas, pois buscava-<strong>se</strong> melhor qualidade de ensino eefetivamente capacitar o aluno no uso instrumental deinglês na <strong>sua</strong> área de atuação. Os critérios de avaliação,em alguns itens, têm margem expressiva de subjetividade,o que impede, por <strong>se</strong>u nível de mensuração, usar com<strong>se</strong>gurança estatística paramétrica (Witter, 1996).Análi<strong>se</strong> intragrupoVocabulárioNessa atividade a maior parte das palavras era constituídapor substantivo nos três testes. No GD, o maiornúmero de vocábulos foi 32 no primeiro teste; 34, no<strong>se</strong>gundo; e 51,5 no terceiro. No GN, o maior número foi32 no primeiro teste; 37,5, no <strong>se</strong>gundo; e 45 no terceiro.O Pré-Teste foi nomeado T 1, o <strong>se</strong>gundo teste T 2, e oPós-Teste T 3. A comparação feita foi do número totalde vocábulos apre<strong>se</strong>ntados pelos sujeitos dos T 1e T 2;<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68


60 Neusa Haruka Sezaki GrittiT 2e T 3e T 1e T 3. O número de sujeitos foi N=26 quandoanalisados todos os sujeitos como um grupo; N = 13para o GD e GN. Foram tomados como parâmetros:H 0: T 1=T 2; T 2=T 3; T 1=T 3H a: T 1< T 2 ;T 2< T 3 ;T 1< T 3 nonível de significância definido.Os resultados obtidos quando analisados como um grupoforam: T 0=47,5 na comparação do T 1e T 2; T 0=3,5 nacomparação do T 2e T 3e T 0=14,5 na comparação do T 1eT 3. Em todas as comparações, a H 0foi rejeitada em favorda alternativa, isto é, ocorreu o progresso esperado.No GD obteve-<strong>se</strong> T 0=27 na comparação do T 1e T 2em que <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rva que a H 0não foi rejeitada; T 0=1nacomparação do T 2e T 3em que a H 0foi rejeitada e T 0=12na comparação do T 1e T 3em que a H 0foi rejeitada.No GN obteve-<strong>se</strong> T 0=13 na comparação do T 1e T 2em que <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rva que a H 0não foi rejeitada; T -=2,5 nacomparação do T 2e T 3em que a H 0foi rejeitada e T 0=2,5na comparação do T 1e T 3em que a H 0foi rejeitada. Arepre<strong>se</strong>ntação dessas comparações pode <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvada,a <strong>se</strong>guir, na Tabela 1.e a menor +1; do T 2e T 3foi 34 e a menor +1 e do T 1e T 3a maior foi 26,5 e a menor +2. No GN a maior diferençado T 1e T 2foi +11,5 e a menor +0,5; do T 2e T 3foi 19 e amenor +1,5 e do T 1e T 3a maior foi 19 e a menor +1.Vocábulos específicos da áreaDo T 1e T 2não há praticamente ocorrência nenhumade vocábulos específicos da área, porém nota-<strong>se</strong> que doT 2e T 3<strong>ou</strong> do T 1e T 3os sujeitos apre<strong>se</strong>ntaram muitosvocábulos pertinentes da área. De um total de 28 sujeitos,tanto considerados como um grupo quanto <strong>se</strong>paradospor GD <strong>ou</strong> GN, do T 2e T 3<strong>ou</strong> do T 1e T 3, ob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong>que as H 0foram rejeitadas uma vez que em ambos oscasos o T=0, conforme Tabela 2.Sentenças em InglêsOs voluntários tiveram muita dificuldade na construçãodas <strong>se</strong>ntenças. Assim <strong>se</strong>ndo, a maior parte delesnão apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> <strong>se</strong>ntenças com a estrutura correta dalíngua nem com o vocabulário específico da área.Tabela 1: Comparações Intragrupo - palavras em inglês.A maior diferença no di considerando H a: T 1


Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia 61paração do T 2e T 3e T 0=7,5 na comparação do T 1e T 3.No T 1e T 2a H 0não foi rejeitada, porém nos T 2e T 3e T 1e T 3as H 0foram rejeitadas.No GD, em que foram considerados 8 voluntários noT 1e T 2; 7 sujeitos no T 2e T 3, e 10 sujeitos no T 1e T 3, os<strong>se</strong>guintes resultados foram obtidos: T 0=10 na comparaçãodo T 1e T 2, em que <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rva que a H não foi0rejeitada; T 0=0 na comparação do T 2e T 3, em que a H 0foi rejeitada e T 0=10 na comparação da T 1e T 3, em quea H 0foi rejeitada.No GN, o T 1e T 2, a comparação fic<strong>ou</strong> prejudicada,pois havia apenas 5 voluntários a <strong>se</strong>rem considerados,isto é, 9 sujeitos apre<strong>se</strong>ntaram empate e não é possíveltrabalhar com a comparação; no T 2e T 3foram considerados6 sujeitos e no T 1e T 3foram considerados 8 voluntários.Os <strong>se</strong>guintes resultados foram obtidos: T 0=0na comparação do T 2e T 3em que a H 0foi rejeitada eT 0=2,5 na comparação da T 1e T 3em que a H 0foi rejeitada.A repre<strong>se</strong>ntação dessas comparações pode <strong>se</strong>rob<strong>se</strong>rvada na Tabela 3.Resumo em PortuguêsDe um total de 28 voluntários, os dados foram reduzidosa 18 na comparação do T 1e T 2porque os demaisnão apre<strong>se</strong>ntaram nenhum progresso; da T 2e T 3foramconsiderados 19 voluntários e do T 1e T 3, 13 voluntários,pela mesma razão.Os resultados obtidos quando analisados comogrupo foram: T 0=17,5 na comparação do T 1e T 2;T 0=27,5 na comparação do T 1e T 2e T 0=7,5 na comparaçãodo T 1e T 3. Nas três comparações, as H 0foram rejeitadas.No GD, em que foram considerados 10 voluntáriosno T 1e T 2; 10 sujeitos no T 2e T 3, e 8 voluntários no T 1e T 3, os <strong>se</strong>guintes resultados foram obtidos: T = 7,5 na-0comparação do T 1e T 2em que <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rva que a H 0foirejeitada; T 0=20 na comparação do T 2e T 3em que a H 0não foi rejeitada e T 0=0 na comparação da T 1e T 3emque a H 0foi rejeitada.No GN, foram considerados 8 voluntários no T e T ; 9 1 2voluntários no T 2e T 3, e 8 voluntários na comparação T 1eT 3ficaram prejudicados, pois havia apenas 5 voluntários a<strong>se</strong>rem considerados, isto é, 9 s voluntários apre<strong>se</strong>ntaramempate, e não é possível trabalhar com a comparação emque há cinco <strong>ou</strong> menos sujeitos. Foram obtidos os <strong>se</strong>guintesresultados: T -=10 na comparação do T 1e T 2, em que aH 0não foi rejeitada e T -=7,5 na comparação da T 2e T 3,em que a H 0não foi rejeitada. A repre<strong>se</strong>ntação dessascomparações pode <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvada na Tabela 4.Resumo em InglêsA maior parte dos voluntários teve, além da dificuldadena compreensão do texto, muita dificuldade naescrita do inglês.Tabela 3: Comparações Intragrupo - <strong>se</strong>ntenças em inglês.Tabela 4: Comparações Intragrupo - resumo em Português.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68


62 Neusa Haruka Sezaki GrittiO total de 28 voluntários, foi reduzido a 11 na comparaçãodo T 1e T 2porque o restante não apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong>nenhum progresso; da T 2e T 3foram considerados 10sujeitos, e do T 1e T 3, 10 voluntários.Os resultados obtidos quando analisados como grupoforam: T 0=15 na comparação do T 1e T 2; T 0=15 na comparaçãodo T 2e T 3e T 0=12,5 na comparação do T 1e T 3.Nas três comparações, as H 0não foram rejeitadas.No GD, foram considerados apenas 6 voluntários noT 1e T 2; 7 voluntários no T 2e T 3, e 5 voluntários no T 1eT 3. Nes<strong>se</strong> caso, não h<strong>ou</strong>ve possibilidade de fazer a comparação.Os <strong>se</strong>guintes resultados foram obtidos: T 0=0na comparação do T 1e T 2, em que <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rva que a H 0foi rejeitada; T 0=12,5 na comparação do T 2e T 3, em quea H 0não foi rejeitada.No GN, não foi possível realizar a comparação emnenhum dos três casos, pois o número total de voluntáriosnão permitiu a comparação. A repre<strong>se</strong>ntação das comparaçõesanteriores pode <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvada na Tabela 5.como parâmetro - H a:T 1> T 2 .Na comparação do de<strong>se</strong>mpenho dos Textos 1 e 2, o de<strong>se</strong>mpenhodo Texto 1 foi melhor que do Texto 2, possivelmente,em virtude de a atividade ter tido auxílio do docente.Análi<strong>se</strong> intergruposA análi<strong>se</strong> intergrupo estatística foi feita recorrendo<strong>se</strong>a um teste não-paramétrico na comparação de duasamostras independentes (Teste U, Siegel, 1956), <strong>se</strong>ndon 1=14 e n 2=14 e mantendo-<strong>se</strong> o nível de erro jáexplicitado, isto é, 0,02. No pre<strong>se</strong>nte estudo, H o: GD=GNe H a: GD ¹ GN.Nas comparações do teste de vocabulário em gerale do vocabulário específico, verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a rejeição daH oem todos os casos, <strong>se</strong>ndo o GD superior nos trêstestes, porém, o GN apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> de<strong>se</strong>mpenho melhor novocabulário específico.Nas comparações dos resumos em português, nota<strong>se</strong>que, também, em nenhum dos três testes a hipóte<strong>se</strong>Tabela 5: Comparações Intragrupo - resumo em Inglês.Tabela 6: Comparações Intergrupos em Vocabulário (geral e específico).Tradução/ Compreensão dos TextosO de<strong>se</strong>mpenho da tradução do <strong>se</strong>gundo texto, nomeadocomo T 1( o primeiro texto não foi avaliado) foimelhor que do terceiro texto T 2, uma vez que h<strong>ou</strong>ve umaajuda parcial do docente naquele texto.Como o número total de pontos do T 1é de 40, e doT 2, de 30, opt<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> pela porcentagem de acertos paracomparar os resultados do de<strong>se</strong>mpenho. Foi tomadonula foi rejeitada.Nas comparações dos resumos em inglês, ob<strong>se</strong>rva<strong>se</strong>que no Pré-Teste e no Teste Intermediário a H onãofoi rejeitada, porém, no Pós-Teste, foi rejeitada, <strong>se</strong>ndoque o GD mostr<strong>ou</strong> melhor de<strong>se</strong>mpenho.Na comparação do de<strong>se</strong>mpenho no Texto 1 e texto 2da tradução/ compreensão dos textos, ob<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> queo GD apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> um resultado melhor que o GN.


Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia 63Tabela 7: Comparações Intergrupos em Orações.Tabela 8: Comparações Intergrupos em Resumos em Português.Tabela 9: Comparações Intergrupos em Resumos em Inglês.DISCUSSÃOVocabulárioConstat<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que os voluntários tinham um vocabulárioaquém do esperado para o uso de inglês instrumental.Gattolin (1998), ao ilustrar a importância des<strong>se</strong>tópico, ressalta que, <strong>se</strong> o objetivo é preparar o alunopara a leitura de textos em inglês e <strong>se</strong> a falta de vocabulárioé um dos maiores bloqueios para a realização dessatarefa, deve-<strong>se</strong> dispensar uma atenção especial aoensino do léxico.Parece válido introduzir um curso rápido <strong>ou</strong> a aplicaçãode estratégias para aquisição de vocabulário antesdo início de um curso instrumental, pelo menos para atingiro mínimo do léxico de alta freqüência, pois os estudantesiniciantes de um curso universitário, pelo menosna instituição em que foi feita a pesquisa, não parecemconhecer o mínimo do léxico que Nation (1993) propõecomo de 2.000 palavras de alta freqüência.Pelos resultados obtidos nas atividades porém, é notóriono final do curso, o progresso na aquisição de vocabulário.É necessário trabalhar, mesmo num curso instrumental,a aquisição de vocabulário para que o processode leitura <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolva de maneira mais eficaz,isto é, dessa forma o aprendiz terá mais ferramentasque possam facilitar <strong>se</strong>u aprendizado.Scaramucci (1995), que pesquis<strong>ou</strong> o de<strong>se</strong>mpenhodo inglês dos graduandos, verific<strong>ou</strong> que a dificuldadedos alunos durante a tarefa de compreensão de leituraera exatamente a falta de vocabulário, apontando,portanto, a necessidade de um nível limiar de competêncialexical para a compreensão de textos na línguaalvo. Cabe, portanto, aos professores, por meiode pesquisas já existentes, <strong>ou</strong> de <strong>sua</strong>s próprias, aplicandoatividades que auxiliam no de<strong>se</strong>nvolvimento doprocesso da aquisição de vocabulário e até troca deexperiências entre os pares, alcançar um nível limiarde competência lexical para a compreensão de textosna língua alvo. Em <strong>se</strong> tratando de ensino instrumentalpara o ensino superior, cuidar do vocabulárioda área de conhecimento específica <strong>se</strong> faz necessáriopara as<strong>se</strong>gurar êxito.Reitera-<strong>se</strong> aqui a importância de trabalhar com texto<strong>se</strong>specíficos considerados de leitura fácil, para que,ao aprenderem a língua inglesa, estejam também motivadospara adquirir vocabulário específico da área, oque viabiliza transferência mais pronta para que alcancemêxito na leitura de textos acadêmicos da área. Valedizer que é importante na <strong>se</strong>leção de textos levar em<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68


64 Neusa Haruka Sezaki Gritticonsideração o princípio da modelagem com texto decomplexidade crescente (Bandura, 1986).Como sugestão para melhorar o vocabulário dos discentes,<strong>se</strong>ria necessário um trabalho interdisciplinar, emque todos os docentes do curso tomariam as mesmasposições no <strong>se</strong>ntido de os estudantes adquirirem vocabuláriotanto geral quanto específico. Posteriormente emséries mais avançadas, os estudantes estarão redigindoresumos em inglês em <strong>se</strong>us artigos científicos.Orações em inglêsConstata-<strong>se</strong> que a falta de conhecimento prévio prejudicao aprendizado da língua estrangeira num cursoinstrumental. A maior parte das orações apre<strong>se</strong>ntadaspelos voluntários não evidencia qualquer conhecimentode estrutura de uma oração – SVO (sujeito, verbo,objeto) <strong>ou</strong> SVC (sujeito, verbo, complemento) – que é omesmo da língua materna. Aí, novamente, surge a questãoem relação à língua materna, <strong>se</strong>rá que essa falta deconhecimento ocorre também em português? Estudoscorrelacionais poderiam <strong>se</strong>r de grande utilidade paraesclarecer a questão. Era de esperar, no entanto, que,nes<strong>se</strong> teste, os sujeitos já pudes<strong>se</strong>m apre<strong>se</strong>ntar algumasorações simples.Nos dois grupos GD e GN, verifica-<strong>se</strong> que as hipóte<strong>se</strong>snulas foram rejeitadas nas comparações tanto doT 1e T 3quanto do T 2para o T 3. Ao que parece, há possibilidadesde obter bons resultados na escrita, num cursoinstrumental, pois <strong>se</strong>m a habilidade da escrita ter sidoenfatizada, os voluntários foram capazes de produzirpequenas orações em inglês. Reitera-<strong>se</strong>, novamente, anecessidade urgente de trabalhar com a língua, tanto amaterna quanto a estrangeira, envolvendo todas as competênciaspertinentes na aprendizagem da língua, mesmonum estágio de ensino superior.Resumo em portuguêsConstat<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que o de<strong>se</strong>mpenho dos voluntários nessaatividade de resumo em português não foi satisfatóriopraticamente em nenhum dos três testes. O GD apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong>um de<strong>se</strong>mpenho melhor que o GN, e este nãoapre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> progresso algum em nenhum dos três testes.Vale lembrar que os alunos estavam paralelamenteassistindo a aulas de Português (4 h/a <strong>se</strong>manais) e nemassim foi registrado progresso na habilidade de fazerresumo de texto.Além da leitura, constata-<strong>se</strong> que a produção do texto,isto é, a escrita, também necessita de atenção especialna língua materna, mesmo porque os estudantes domeio acadêmico devem, em dado momento, produzirtextos conforme certas especificações que sãofreqüentemente rigorosas, conforme lembra Robinson(1991).Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, Domingos (1999), em <strong>sua</strong> pesquisasobre a análi<strong>se</strong> de resumos de dis<strong>se</strong>rtações e te<strong>se</strong>s, constat<strong>ou</strong>que há necessidade de inclusão direta <strong>ou</strong> indireta,nos programas universitários, de tópicos, disciplinas,minicurso <strong>ou</strong> <strong>se</strong>minários que informem vários tipos dediscurso científico, entre os quais o resumo.Seria de grande utilidade que docentes de todas asdisciplinas passas<strong>se</strong>m a solicitar a apre<strong>se</strong>ntação de resumo<strong>ou</strong> summary em todas as tarefas escritas, especialmentenos relatos de pesquisa. Sabendo fazer resumo<strong>se</strong>m língua materna, o estudante terá menor dificuldadepara resumir em língua estrangeira, pois a dificuldadeestará apenas na aprendizagem da língua.Ainda nes<strong>se</strong> contexto de avaliação, é preciso levarem consideração e medir as atitudes dos alunos em relaçãoao ensino superior (Wilcox, 1999) e em relação aoinglês como língua estrangeira. São aspectos para osquais, já no processo de <strong>se</strong>leção, poderiam <strong>se</strong>r colhidasinformações úteis ao planejamento <strong>educ</strong>acional e quepoderiam gerar <strong>ou</strong>tros estudos como o de Nassri (2000).Resumo em inglêsCom relação à escrita em língua inglesa, os problemassão mais marcantes. Na pre<strong>se</strong>nte pesquisa, nota<strong>se</strong>,pelos resultados estatísticos, a comprovação dessafalha, oriunda, ao que parece, do ensino fundamental edo ensino médio. Os resultados nada satisfatórios sugerema inclusão do ensino da habilidade de escrita nocurso instrumental, uma vez que ela é necessária - principalmentenum curso acadêmico - para trabalhos científico<strong>se</strong>m que a escrita em língua inglesa é solicitada.Essa habilidade em um curso instrumental pode apre<strong>se</strong>ntarbons resultados conforme mostra Augusto (1997),que implement<strong>ou</strong> uma pesquisa com <strong>se</strong>us alunos usand<strong>ou</strong>m enfoque alternativo ao ensino instrumental tradicional,enfoque es<strong>se</strong> que dá ênfa<strong>se</strong> a determinada habilidade– a escrita – <strong>se</strong>m porém, abandonar as demaisque são trabalhadas, entre <strong>ou</strong>tros procedimentos, pormeio da utilização da língua alvo no de<strong>se</strong>nvolvimentodas aulas e da escolha do material didático. Essa propostafoi bem aceita pelos alunos, e os resultados apontampara novas possibilidades nas formas de ensinarlíngua estrangeira em ba<strong>se</strong>s instrumentais. Há necessi-


Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia 65dade de novas pesquisas para verificar várias modalidadesde ensino instrumental na busca de soluções paraos problemas existentes nes<strong>se</strong> ensino.Tradução/ Compreensão de textoConforme já foi mencionado, até hoje não <strong>se</strong> tem umconceito definitivamente consolidado do que é tradução.Analisando os conceitos de vários autores sobre tradução(Catford, 1965; Nida, 1975; Newmark, 1981;Guidicini, 1987, entre <strong>ou</strong>tros), verifica-<strong>se</strong> que repre<strong>se</strong>ntam<strong>se</strong>mpre o resumo de uma teorização, condensandopontos importantes a respeito do de<strong>se</strong>nrolar de um processoque dá como resultado o produto, isto é, o textotraduzido.De modo geral, o termo crucial numa tradução é oaspecto da equivalência, é a palavra-chave em qua<strong>se</strong>todas as teorias sobre tradução.Nas atividades de tradução desta pesquisa aconteceuexatamente o que muitos normalmente acham queé fazer uma tradução: simplesmente ir traduzindo palavrapor palavra literalmente. Dessa forma, muitas oraçõesficaram <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido, isto é, não ocorreu o trabalhode tradução; não <strong>se</strong> busc<strong>ou</strong> a equivalência de <strong>se</strong>ntidodas orações. As associações entre as palavras ficamdifíceis e sujeitas também à influência da língua alvo,afirma Yorio (1971). Outra dificuldade dos sujeitos foiem relação aos grupos nominais (<strong>ou</strong> sintagmas nominais)pois, na língua inglesa, a ordem das palavras dentrodo grupo é diferente do português. Por exemplo: racehor<strong>se</strong> quer dizer cavalo de corrida ao passo que hor<strong>se</strong>race já muda completamente de significado, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja,significa corrida de cavalo e há muitos grupos nominai<strong>se</strong>m qualquer texto em língua inglesa.A classificação das funções das palavras dentro dasorações é <strong>ou</strong>tra dificuldade por parte dos alunosingressantes. <strong>Para</strong> eles, é difícil diferenciar um adjetivode um substantivo dentro das orações em inglês; nessascircunstâncias, há mais por aprender do que recorrer aum dicionário.A vantagem dessa atividade é que, como <strong>se</strong> podeob<strong>se</strong>rvar nas tabelas anteriores, a maioria dos sujeitoscon<strong>se</strong>guiu absorver muitas palavras novas específicasda área de <strong>Psic</strong>ologia, que <strong>se</strong>rão freqüentemente usadasno decorrer do curso quando <strong>se</strong> tratar de textos emlíngua inglesa, (as quais os docentes devem requerer de<strong>se</strong>us alunos como leitura específica). Sugere-<strong>se</strong>, portanto,que a maior parte dos textos <strong>se</strong>lecionados <strong>se</strong>jamespecíficos da área, com dificuldades gradativas. Novamente,<strong>se</strong> reitera a necessidade do trabalho deinterdisciplinaridade em que os docentes do curso estariam<strong>se</strong>lecionando textos específicos de <strong>sua</strong> disciplinaem inglês para que os alunos aprendam e aumentem o<strong>se</strong>u repertório de vocabulário.Comparações intergruposNos três testes, o GD apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> melhor de<strong>se</strong>mpenhona atividade de vocabulário como era de <strong>se</strong> esperar,tendo em vista que alunos do curso diurno e es<strong>se</strong>s normalmenteapre<strong>se</strong>ntam melhores condições de estudo alémde uma <strong>escolar</strong>idade anterior mais bem estruturada, <strong>se</strong>mcontar que têm mais tempo para <strong>se</strong> dedicar ao estudo eà pesquisa e também mais experiências com o inglês.Nenhum dos dois grupos parece indicar, pelos resultados,o de<strong>se</strong>jado em termos de aquisição de vocabulário.Se, porventura, o ensino do léxico fos<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolvidodurante o curso, o leque de vocabulário talvez fos<strong>se</strong>maior. Constata-<strong>se</strong>, portanto, que há várias questõesrelevantes para <strong>se</strong>rem investigadas em estudos posteriores,inclusive a forma pela qual <strong>se</strong> fez a avaliação.Fato interessante ocorreu com o vocabulário específicoem que o GN apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> melhor de<strong>se</strong>mpenho queo GD. Isso demonstra que o vocabulário foi mais bemassimilado quando os alunos tinham p<strong>ou</strong>co conhecimentoda língua, isto é, o crescimento fic<strong>ou</strong> mais evidente.Parece que os procedimentos de ensino de vocabulárionão foram suficientemente eficazes. Outros precisam<strong>se</strong>r testados.Na <strong>se</strong>gunda atividade de orações em inglês, nem oGD, nem o GN apre<strong>se</strong>ntaram de<strong>se</strong>mpenho satisfatório,con<strong>se</strong>quentemente as hipóte<strong>se</strong>s nulas não foram rejeitada<strong>se</strong>m nenhum dos três testes. H<strong>ou</strong>ve uma dificuldademuito grande nessa atividade, isto é, nas que envolvemescrita de modo geral. A agravante é que, além deterem dificuldade na escrita, os sujeitos tinham muitop<strong>ou</strong>co conhecimento da língua alvo em termos de estruturada fra<strong>se</strong> e a falta de vocabulário certamente influiuna atividade escrever orações. Além da leitura em inglês,há necessidade de trabalhar, em todas as disciplinas,a escrita. A inclusão direta <strong>ou</strong> indireta nos programas,nas disciplinas, nos minicursos <strong>ou</strong> nos <strong>se</strong>mináriosque dêem informações sobre vários tipos de discurso,entre os quais o resumo, é o que recomenda Domingos(1999) em <strong>sua</strong> te<strong>se</strong>, e aqui <strong>se</strong> reitera.A mudança curricular no curso pesquisado instituiua iniciação científica para todos os alunos, e isso certamenteestimulará o uso do inglês e, pelo menos em par-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68


66 Neusa Haruka Sezaki Grittite, corrigirá algumas das distorções aqui registradas.Caberá aos orientadores a maior parte dessa responsabilidade.Em sínte<strong>se</strong>, a falta <strong>ou</strong> a correção das limitações dode<strong>se</strong>mpenho aqui verificado pode encaixar-<strong>se</strong> em umadas possíveis hipóte<strong>se</strong>s levantadas por Dally III, Witt,Martens e Dool (1997) que destacam que a falta demotivação, atividade insuficiente para responder à tarefa,e p<strong>ou</strong>ca precisão nas habilidades alvo encontradasno aluno.No primeiro caso, é necessário fornecer incentivospara a aprendizagem da língua alvo, quer na sala deaula quer fora dela, isto é, estimular os alunos a estaremem contato com qualquer material em língua inglesa (livros,revistas, internet, jornais, programas e filmes natelevisão entre <strong>ou</strong>tros).A <strong>se</strong>gunda possibilidade pode ocorrer especialmenteentre os alunos do noturno, os quais, em função dotrabalho, podem estar insuficientemente ativos para cumpriratividades acadêmicas <strong>ou</strong> extra-acadêmicas. Nes<strong>se</strong>scasos, Dally III e cols. (1997) recomendam que ospsicólogos <strong>escolar</strong>es e docentes de<strong>se</strong>nvolvam estratégiasque permitam estimular o ritmo de respostas egradativamente aumentar os critérios de exigência. <strong>Para</strong>a realidade brasileira, é necessário pesquisar a viabilidadedessas estratégias. Isto implicaria ter psicólogos<strong>escolar</strong>es atuando nos cursos superiores no papel deas<strong>se</strong>ssoria aos professores.No caso da falta de precisão das habilidades alvo, asinúmeras estratégias propostas por vários autores e citadasno pre<strong>se</strong>nte trabalho são recomendadas. Entretanto,vale reiterar a necessidade de pesquisar as estratégiasna realidade brasileira.CONCLUSÕESAo longo da apre<strong>se</strong>ntação dos dados da pesquisa eda discussão dos mesmos, um aspecto fic<strong>ou</strong> muito evidente:a necessidade de reformular o curso de línguainglesa instrumental, no <strong>se</strong>ntido de estar incluindo <strong>ou</strong>trashabilidades como a escrita e a de um programapara aquisição de vocabulário. Mesmo não trazendonenhum conhecimento de inglês no início do curso, aotérmino, pôde-<strong>se</strong> constatar, pelo Pós-Teste, que os sujeitosadquiriram o mínimo do léxico. Não <strong>se</strong> tem evidência,porém, de que atingiram o número ideal referidona literatura. Pelos resultados obtidos, no entanto, ossujeitos estão prontos para dar continuidade aos <strong>se</strong>u<strong>se</strong>studos em LE completamente independentes na habilidadede leitura.O que <strong>se</strong> pôde constatar, no entanto, é que há falhasmesmo na língua materna. Isso demonstra que osingressantes na universidade têm dificuldades de escritamesmo na língua materna e, con<strong>se</strong>quentemente, naLE. Compete à universidade suprir essas falhas parapoder dar continuidade aos estudos acadêmicos de maneiraeficaz.Pelos resultados da pre<strong>se</strong>nte pesquisa, no entanto,verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que há possibilidades de <strong>se</strong> obter em bonsresultados na escrita, pelo menos num curso instrumental,pois os sujeitos puderam produzir pequenas oraçõe<strong>se</strong>m inglês no final do curso, embora essa habilidade nãotives<strong>se</strong> sido trabalhada com afinco.De qualquer forma, há necessidade de implementarum curso de escrita, principalmente no que diz respeitoà confecção de resumos em LE, no curso de <strong>Psic</strong>ologia,nessa instituição, pois os estudantes estão <strong>se</strong>ndo encaminhadospara o mundo científico. Essa é, pelo menos,a proposta do novo currículo. Há, na universidade, umlaboratório de discurso científico em que devem <strong>se</strong>r de<strong>se</strong>nvolvidas,inclusive, atividades de tradução. A práticade resumos <strong>se</strong>ria uma das sugestões. Es<strong>se</strong> laboratório(LDC), em fa<strong>se</strong> inicial de implantação prevê es<strong>se</strong> tipode atividade.A prática de tradução também é importante, pois,como é de conhecimento, traduzir não <strong>se</strong> resumeem apenas verter literalmente as palavras da línguafonte para a língua meta. Questões lingüísticas, culturais,entre <strong>ou</strong>tras, interferem muito na traduçãode textos.Se h<strong>ou</strong>ver um trabalho interdisciplinar que envolvao corpo docente e discente na busca de melhoriade ensino e supra as lacunas existentes, principalmentenas habilidades que envolvem leitura e escrita, ocurso caminhará com a certeza de estar formandoprofissionais competentes e capacitados e a par daprodução científica nacional e da internacional.Retomando os objetivos propostos nesta pesquisa,pode-<strong>se</strong> concluir o que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue. O curso do inglêsinstrumental na instituição é válido em termosde estratégias utilizadas para compreensão de textos,alguns pontos gramaticais es<strong>se</strong>nciais para leituraem língua inglesa e o ensino do uso do dicionário,porém os objetivos propostos não foram totalmenteatingidos, possivelmente, porque os sujeitos não apre-


Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia 67<strong>se</strong>ntavam os pré-requisitos para acompanhar es<strong>se</strong>curso instrumental.Verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que o léxico dos sujeitos em línguainglesa era muito escasso e, durante o curso eles absorverammuito p<strong>ou</strong>co, pois o foco principal não estavavoltado para aquisição de vocabulário. O que <strong>se</strong>verific<strong>ou</strong> é que nas palavras desconhecidas buscava<strong>se</strong>significado por meio do contexto, das palavrascircunvizinhas e até mesmo por meio de conhecimentode mundo, porém isso também não caracterizava absolutaaprendizagem do vocabulário.Embora o curso instrumental tenha como objetivopreencher as lacunas dos cursos anteriores, os alunosnão trazem o vocabulário mínimo exigido. Portanto,antes de iniciar um curso instrumental, é precisobuscar es<strong>se</strong> mínimo para <strong>se</strong>u início propriamentedito.Os sujeitos não apre<strong>se</strong>ntaram nenhuma habilidadeem escrita, que também não fazia parte dosobjetivos do curso. O curso de leitura, portanto, nãoforneceu condições para que os sujeitos adquiris<strong>se</strong>mhabilidade na escrita, porém, como há correlação entrees<strong>se</strong>s dois comportamentos, é de esperar algumageneralização.A maior parte dos sujeitos era oriunda de escolaspúblicas, principalmente os do noturno; a minoria, deescolas particulares. Traziam p<strong>ou</strong>co conhecimentoprévio (conhecimento de mundo, lingüístico e textual)ao iniciar a universidade e, con<strong>se</strong>quentemente,muito p<strong>ou</strong>co vocabulário em língua inglesa e p<strong>ou</strong>cahabilidade em leitura e escrita. O melhor de<strong>se</strong>mpenho,em qua<strong>se</strong> todas as atividades, foi do grupo dodiurno. Na atividade de vocabulário específico, porém,o grupo noturno super<strong>ou</strong> o diurno, concluindo<strong>se</strong>,portanto, que h<strong>ou</strong>ve maior probabilidade de aquisiçãode vocabulário num grupo que tem menos conhecimentoda língua.O que <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rva, de modo geral, é a necessidadede melhorar o ensino de língua estrangeira. Essanecessidade já tinha sido enunciada por Carroll(1967) há muito tempo nos Estados Unidos, porémisso ainda persiste nos dias de hoje aqui no Brasil.O autor, relatando as necessidades, lança questõescomo: a quem a língua estrangeira deveria <strong>se</strong>r ensinada?;em que série <strong>ou</strong> idade?; qual a duração docurso?; quais objetivos e métodos deveriam <strong>se</strong>rpriorizados? Essas questões continuam atuais atéhoje. Embora a literatura dê algumas respostas paraalgumas, há necessidade de verificar <strong>sua</strong> adequaçãoà situação nacional.Uma programação para um curso instrumental,como sugestão, poderia <strong>se</strong>r a <strong>se</strong>guinte:1. No início do curso, para melhorar o vocabuláriodos discentes, um trabalho interdisciplinar <strong>se</strong>ria proposto,no qual todos os docentes do curso tomariamas mesmas posições no <strong>se</strong>ntido de os estudantes estaremadquirindo vocabulário tanto geral quanto específico.Todos os professores do curso buscariamtextos em língua inglesa. <strong>Para</strong> auxiliar os professores,o professor de inglês estaria subsidiando as dificuldadesprovenientes dos textos <strong>se</strong>lecionados pelosdocentes. Es<strong>se</strong> trabalho teria continuidade em todasas séries do curso, atuando o docente de inglês comoas<strong>se</strong>ssor <strong>ou</strong> operando no laboratório de discurso científico.2. O curso propriamente dito <strong>se</strong>ria iniciado após aaquisição de um vocabulário mínimo, geral e específico.Nessa etapa, o docente do curso trabalharia, namaior parte das vezes, com textos voltados à área de<strong>Psic</strong>ologia, porém p<strong>ou</strong>co complexos. A metodologiae os tópicos <strong>se</strong>riam os mesmos já citados no procedimento– curso de inglês instrumental – deste pre<strong>se</strong>ntetrabalho.3. No decorrer do curso, a habilidade de escritatambém deve <strong>se</strong>r trabalhada. Inicialmente, na línguamaterna e, posteriormente, na língua inglesa. Um textoem português <strong>se</strong>rá apre<strong>se</strong>ntado ao aluno, e ele redigirá<strong>se</strong>ntenças em torno do assunto tratado, resumiráparágrafos e, posteriormente sintetizará o texto todo.Em língua inglesa, o mesmo procedimento <strong>se</strong>ria <strong>se</strong>guido.É imprescindível, portanto, a integração do<strong>se</strong>sforços dos docentes de Inglês, de Português e dasdemais disciplinas.Outras competências como a leitura e escrita,principalmente, devem <strong>se</strong>r intensamente trabalhadaspor todos os professores do curso. Todas assugestões e mudanças relacionadas neste trabalhoem torno da formação acadêmica do indivíduodevem <strong>se</strong>r introduzidas e pesquisadas posteriormenteem busca de um ensino mais eficaz. Nisso<strong>se</strong> considera <strong>se</strong>ndo o mais importante a interdisciplinaridadeque deve haver entre as disciplinasdo curso na busca não apenas da aprendizagemda língua estrangeira mas também da línguamaterna para que os estudantes possam ler e escrevercorretamente.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68


68 Neusa Haruka Sezaki GrittiREFERÊNCIASAugusto, E. H. (1997). Ensino Instrumental na Língua Alvo:uma proposta de ensino da escrita de língua estrangeiraem ambiente acadêmico. Dis<strong>se</strong>rtação de Mestradonão-publicada. Unicamp, Campinas.Bandura, A. (1986). Social F<strong>ou</strong>ndations of Th<strong>ou</strong>ghtAndaction: a Social Cognitive Theory. New Yer<strong>se</strong>y:Prentice Hall.Carroll, J. B. (1967) Wanted: A Re<strong>se</strong>arch Basis for EducationalPolicy on Foreign Language Teaching. Em J. P. Cecco.The Psychology of Language, Th<strong>ou</strong>ght, and Instruction.New York: Holt, Rinehart and Winston.Catford, J. C. (1965).A linguistic theory of translastion. OxfordUniversity. Uma teoria lingüística da tradução. SãoPaulo: Cultrix 1980.Dally III, E. J., Witt, J. C., Martens, B. K., & Dool, E. J. (1997).A Model for Conducting a Functional Analysis ofAcademic Performance Problems. School PsychologyReview, 26 (4)-554-574.Domingos, N. A. M. (1999). Produção Científica: Análi<strong>se</strong> deResumos de Dis<strong>se</strong>rtações e Te<strong>se</strong>s em <strong>Psic</strong>ologia. Te<strong>se</strong> deD<strong>ou</strong>torado não-publicado. PUC Campinas, Campinas.Gattolin, S. R. B. (1998). O Ensino de Vocabulário em LínguaEstrangeira: uma Proposta para <strong>sua</strong> Sistematização. Dis<strong>se</strong>rtaçãode Mestrado não-publicado. Unicamp, Campinas.Guidicini, L. M. (1987). Análi<strong>se</strong> dos Aspectos Lingüísticos e<strong>Psic</strong>olingüisticos da Tradução. Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>torado nãopublicado.Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanasda Universidade de São Paulo, São Paulo.Nassri, R. C. B. M. (2000). Perfil dos Inscritos no ProcessoSeletivo de uma Universidade Particular (1995/ 1999).Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado não-publicado. PUC Campinas,Campinas.Nation, I. S. P. (1993). Teaching and Learning Vocabulary.Rowley, MA: Newbury H<strong>ou</strong><strong>se</strong>.Newmark, P. 1981. Approaches toTranslation. Oxford:Pergamon Press.Nida, E. (1975). Language Structure and Translation.California: Standford University Press.Robinson, P. C. (1991) ESP Today: A Practitioner’s Guide.New Jer<strong>se</strong>y: prentice Hall.Saville Troike , M. (1976). F<strong>ou</strong>ndations for Teaching Englishas a Second Language Theory and Method forMulticultural Education. New Jer<strong>se</strong>y: Prentice Hall.Scaramucci, M. V. R. (1995) O Papel do Léxico na Compreensãoem Leitura em Língua Estrangeira: Foco no Produtoe no Processo. Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>torado não-publicado.Unicamp, Campinas.Siegel, S. (1956) Nonparametric Statistics for the BehavioralSciences. New York: McGraw-Hill Book Company.Wilcox, D. M. (1999) Attitudes Toward Higher Education andAcculturation Among Native American College Students.Dis<strong>se</strong>rtation Abstracts International, 60 (6), 2968-B.Witter, G. P. (1996) Pesquisa Científica e Nível de Significância.Estudos de <strong>Psic</strong>ologia, 13 (1), 55-64.Yorio, C. A. (1971) Some S<strong>ou</strong>rces of Reading Problems forForeign Language Learners. Language Learning, 21,107-115.Recebido em: 08/03/02Revisado em: 07/02/03Aprovado em: 25/04/03


<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 69-76APRENDIZAGEM POR INTERAÇÃO E TRAÇOS DE PERSONALIDADELílian Pacheco 1Fermino Fernandes Sisto 2ResumoEsta pesquisa estud<strong>ou</strong> a relação entre traços de personalidade e aprendizagem por conflito sócio-cognitivo. Participaram da pesquisa 120sujeitos, de 5 a 7 anos, de três escolas públicas. Todos os sujeitos foram avaliados pela Escala Infantil de Personalidade e pela prova piagetiana decon<strong>se</strong>rvação de comprimento. Foram <strong>se</strong>lecionados para o experimento 36 sujeitos que apre<strong>se</strong>ntaram nível não-con<strong>se</strong>rvador. Quatro traços depersonalidade foram avaliados, neuroticismo, psicoticismo, extroversão e adequação. O experimento constituiu-<strong>se</strong> por três <strong>se</strong>ssões de intervençãocom <strong>se</strong>te situações de aprendizagem por conflito sócio-cognitivo em cada <strong>se</strong>ssão, com pares de sujeitos, na prova de comprimento. Um dia após asintervenções realiz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> o pós-teste 1 e 25 dias após o pós-teste 2, ministrando a prova de con<strong>se</strong>rvação de comprimento, individualmente. Aaprendizagem no pós-teste imediato foi explicada pelo traço psicoticismo e adequação.Palavras chave: traços de personalidade, aprendizagem, conflito sócio cognitivo, interação entre pares.AbstractPEER INTERACTION LEARNING AND PERSONALITY TRAITSThis re<strong>se</strong>arch studied the relationship between personality traits and learning thr<strong>ou</strong>gh socio-cognitive conflict. 120 subjects aged from 5 to7years old, from three public schools, were investigated. All the subjects were as<strong>se</strong>s<strong>se</strong>d by the Escala Infantil de Personalidade and by the piagetianlength con<strong>se</strong>rvation task. 36 subjects who showed a non-con<strong>se</strong>rvative level were <strong>se</strong>lected for the experiment. F<strong>ou</strong>r personality traits were as<strong>se</strong>s<strong>se</strong>d:neuroticism, psychoticism, extraversion and adjustment. The experiment was constituted by three intervention <strong>se</strong>ssions with <strong>se</strong>ven learningsituations in each <strong>se</strong>ssion, ba<strong>se</strong>d on the length con<strong>se</strong>rvation task and structured by socio-cognitive conflict theory with pairs of subjects. On the dayafter the three intervention <strong>se</strong>ssions was individually administered the posttest 1 and 25 days later the posttest 2, using the length con<strong>se</strong>rvationtask. The learning in the posttest 1 was explained by the psychoticism and adjustment traits.Key words: Personality traits; Learning; Socio cognitive conflict; Peer interaction.INTRODUÇÃOA contribuição do sujeito no processo de aquisiçãode conhecimento ocorre, principalmente, de duas formas.Por um lado, cognitivamente, dispondo de alguns modosde estruturação dos dados; por <strong>ou</strong>tro, afetivamente, enquantomanifestação de interes<strong>se</strong>s <strong>ou</strong> necessidades quepoderão <strong>se</strong>r facilitadores <strong>ou</strong> não. Piaget (1981) argumentaque o afeto está relacionado com a função da inteligência,repre<strong>se</strong>ntando uma força energética e emergindoda de<strong>se</strong>quilibração entre a assimilação e a acomodaçãocognitiva. O afeto influencia a escolha de objetivos específico<strong>se</strong> funciona como um regulador da ação, além dede<strong>se</strong>mpenhar um papel na determinação de valores; influenciaa tendência a <strong>se</strong> aproximar <strong>ou</strong> <strong>se</strong> distanciar dassituações e, por <strong>sua</strong> vez, estas influenciam o ritmo peloqual o conhecimento torna-<strong>se</strong> mais rápido em algumasáreas <strong>ou</strong> mais lento em <strong>ou</strong>tras.O <strong>se</strong>r humano interage com o meio ambiente físico esocial e responde enquanto totalidade integrada. Esteorganismo psico-social, ao <strong>se</strong> comportar nas mais diversassituações, tende a agir de uma determinada maneiraque o caracteriza. A abordagem da personalidadealmeja circunscrever estas características <strong>ou</strong> diferençasindividuais, mais <strong>ou</strong> menos estáveis, que refletem aidentidade de um indivíduo, distinguindo-o dos demais.A personalidade de uma pessoa é ob<strong>se</strong>rvada pelocomportamento e nota-<strong>se</strong> que existe uma parte variável1Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia.2Universidade São Francisco – São Paulo.


70 Lílian Pacheco e Fermino Fernandes Sistoe uma parte constante. A esta parte constante denomina-<strong>se</strong>traço e nenhum ato é produto de apenas um traço.Por <strong>sua</strong> vez, os traços não são imutáveis, são tendênciasamplas em mudança contínua. Todavia, apesarda mudança, pode-<strong>se</strong> reconhecer uma tendência, umaconsiderável constância no modo de comportamento deuma pessoa, afirmando-<strong>se</strong> a pre<strong>se</strong>nça de traços <strong>ou</strong> tendênciasda personalidade.<strong>Para</strong> Piaget (1973,1976) a realidade não <strong>se</strong>riaconstruída nem por estruturas equilibradas e permanentes,nem por uma sucessão de acasos e cri<strong>se</strong>s. Propõeprocessos contínuos de auto-regulações. A epistemologiaconstrutivista caracteriza-<strong>se</strong> por explicar a produção dasnovidades pelo sistema cognitivo através da abertura depossibilidades de contato e atuação no mundo e <strong>sua</strong><strong>se</strong>quilibrações majorantes.Muito <strong>se</strong> tem discutido acerca da abordagemconstrutivista <strong>ou</strong> da teoria psicogenética no campo <strong>educ</strong>acional,mas são p<strong>ou</strong>cas as referências sobre os mecanismosque subjazem ao processo de aprender (Sisto, 1993,1997). O constructo fundamental para uma abordagempiagetiana da produção de conhecimento é o processo deequilibração, que começa quando o sujeito é de<strong>se</strong>quilibradopor obstáculos <strong>ou</strong> perturbações. A garantia dode<strong>se</strong>quilíbrio e <strong>sua</strong> fecundidade são dadas pelareequilibração, quando as lacunas (falta de informaçõespor parte do sujeito) <strong>ou</strong> perturbações são superadas. SegundoSisto (1993) “a proposta do conflito cognitivo consisteem colocar o sujeito frente a uma situação que não <strong>se</strong>encaixa (aspecto negativo) em uma afirmação <strong>sua</strong> anterior(aspecto positivo), <strong>ou</strong> <strong>se</strong> trata de contra-exemplo (aspectonegativo) impossibilitando a generalização da explicaçãopretendida (aspecto positivo)” (p. 43). O fundamentalé, <strong>se</strong>m dar a resposta certa, levar o sujeito a perceber ascontradições das <strong>sua</strong>s afirmações, embora não <strong>se</strong> possater certeza de que os elementos <strong>se</strong>rão perturbadores, jáque nenhuma situação é conflitiva em si.Esta pesquisa promoveu um processo de aprendizagemconsiderando que configuração cognitiva das criança<strong>se</strong>xplicava-<strong>se</strong> pelo fato de elas estarem centrada<strong>se</strong>m aspectos positivos do fenômeno. Então foramprovocadas situações para que elas fos<strong>se</strong>m levadas apensar nas contradições de <strong>sua</strong>s afirmações, <strong>ou</strong> realçadasas divergências de pontos de vista entre a dupla de crianças<strong>ou</strong> entre elas e o experimentador.<strong>Para</strong> ob<strong>se</strong>rvar es<strong>se</strong> fenômeno, estud<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> criançasde 5 a 7 anos, situadas na passagem do pensamentopré-operatório para o estágio das operações concretas.Nes<strong>se</strong> período elas caracterizam-<strong>se</strong> pelo egocentrismointelectual, pela centração da percepção e do pensamentoem determinados pontos, desconsiderando algumascaracterísticas importantes da situação. O pensamentopré-operatório é irreversível, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, na medidaque a criança percorre uma série de raciocínios <strong>ou</strong> transformaçõesde um evento numa determinada direção, elanão inverte mentalmente o processo, alterando <strong>sua</strong>s premissasdurante uma <strong>se</strong>qüência de raciocínio.No processo de aquisição de conhecimentos, alémdos aspectos cognitivos e afetivos, <strong>ou</strong>tro fator de destaquesão as interações sociais. O fator social de<strong>se</strong>mpenhaum duplo papel: primeiro, como processo contínuo econstrutivo de socialização e, <strong>se</strong>gundo, como fonte detransmissões <strong>educ</strong>ativas e lingüísticas das contribuiçõesculturais e dos <strong>se</strong>ntimentos morais.A abordagem da <strong>Psic</strong>ologia Social Genética destacao papel construtivo das interações entre pares no de<strong>se</strong>nvolvimentocognitivo. A teoria do conflito sóciocognitivotem sido proposta por alguns autores comoMugny e Doi<strong>se</strong> (1983) e Perret Clermont e Nicolet(1992). Essa abordagem enfoca o conflito como sóciocognitivo,por compreender que quando o sujeito enfrentauma resposta diferente da <strong>sua</strong>, um conflito interno poderá<strong>se</strong> produzir, o que, por <strong>sua</strong> vez, provocará um duplode<strong>se</strong>quilíbrio: inter-individual e intra-individual. O aspectointer-individual dá o caráter social ao fenômeno. Nabusca de um acordo com o <strong>ou</strong>tro, vê-<strong>se</strong> uma possibilidadede superação do de<strong>se</strong>quilíbrio cognitivo intra-individual(Mugny & Doi<strong>se</strong>, 1983).Muitas pesquisas foram feitas investigando aefetividade do conflito cognitivo <strong>ou</strong> sócio-cognitivo e algumasdelas <strong>se</strong>rão destacadas. Nes<strong>se</strong> contexto, Mugnye Doi<strong>se</strong> (1978) ob<strong>se</strong>rvaram maior progresso no de<strong>se</strong>mpenhode crianças com estratégias cognitivas diferentestrabalhando juntas, do que no de<strong>se</strong>mpenho de criançascom as mesmas estratégias. Ames (1980) compar<strong>ou</strong>interações por conflito cognitivo, interação social,modelação <strong>ou</strong> dissonância cognitiva, constatando queos sujeitos, nas quatro condições de interação por pares,apre<strong>se</strong>ntaram mais mudanças nas respostas do queos sujeitos controle, e o grupo de interação social exibiumais mudanças. Taal e Oppenheimer (1989) chegaramà conclusão de que a resolução do conflito sócio-cognitivoe a ocorrência de coordenação foram mais altas emsituações individuais do que em condições de díade, emcondições competitivas e sob supervisão do que por iniciativaespontânea. Rus<strong>se</strong>ll (1981) não encontr<strong>ou</strong> o con-


Aprendizagem por interação e traços de personalidade 71fronto de idéias esperado pelo conflito sócio-cognitivo,pois os sujeitos que cometeram os “erros egocêntricos”não <strong>se</strong> opu<strong>se</strong>ram à colocação correta de <strong>se</strong>u parceiro.O autor concluiu que a interação de pares pode facilitara aquisição de conceitos básicos por causa da complacênciaentre as crianças, e não por causa do “conflitosócio-cognitivo”. Roy e Howe (1990) investigaram o<strong>se</strong>feitos do conflito cognitivo, sócio-cognitivo e imitaçãono de<strong>se</strong>nvolvimento de habilidades dos sujeitos e encontraramque os sujeitos, em condições de conflito,melhoraram no pós-teste em relação ao grupo-controle,não <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rvando vantagens entre o conflito sóciocognitivoe o cognitivo. Por <strong>sua</strong> vez, Cannella (1992)cheg<strong>ou</strong> à conclusão que discordâncias na interação sócio-cognitivapor duplas podem tanto facilitar como inibira aprendizagem.Dentre as pesquisas envolvendo aprendizagem e traçosde personalidade, algumas podem <strong>se</strong>r destacadas.Palkovic (1979) constat<strong>ou</strong> que na aprendizagem experimentalpor reforço verbal as crianças extrovertidas apre<strong>se</strong>ntarammelhores resultados e os piores resultadosc<strong>ou</strong>beram àquelas com alta pontuação em neuroticismo.Francis e Montgomery (1993) encontraram que sujeitoscom baixa pontuação, tanto em psicoticismo quanto emneuroticismo, e alta pontuação em dissimulação social,apre<strong>se</strong>ntaram atitudes mais positivas para com a escolae lições. Os achados de Maqsud (1993), no entanto, indicaramrelações negativas com realização <strong>escolar</strong>.Csorba e Dinya (1994) constataram que as meninas comaprendizagem pobre mostraram níveis mais altos deneuroticismo.Furnham e Medhurst (1995) encontraram relaçõe<strong>se</strong>ntre traços de personalidade e comportamento em <strong>se</strong>minárioacadêmico. Duas <strong>ou</strong>tras pesquisas relacionarampersonalidade com estilo de aprendizagem (Riding& Tempest, 1986; Jackson & Lawty Jones, 1996) eencontraram relação significativa entre de<strong>se</strong>mpenho emsoletração e nível de extroversão. Entre <strong>ou</strong>tros, Wilsone Lynn (1990) ob<strong>se</strong>rvaram que a aquisição de <strong>se</strong>gundoidioma estava relacionada mais fortemente com diferençasde personalidade. Robinson, Gabriel e Katchan(1994) constataram que sujeitos com pontuação alta emneuroticismo e alta em extroversão melhoraram miaisno teste oral de francês, enquanto que os sujeitos compontuação alta em neuroticismo e baixa em extroversãomelhoraram mais no teste escrito.As reflexões sobre essas relações têm despertado ointeres<strong>se</strong> por pesquisas sobre a relação entre as característicasde personalidade e métodos pedagógicos.Vários estudiosos (Gayle, 1981; Ey<strong>se</strong>nck 1992, 1996;Borg & Shapiro, 1996) têm discutido o uso de diferençasindividuais no ensino e concluíram que a personalidadeda criança determina extensamente <strong>sua</strong> reaçãoaos métodos de ensino e até mesmo à situação pedagógica.Crianças extrovertidas parecem beneficiar-<strong>se</strong> demétodos de ensino ba<strong>se</strong>ados na aprendizagem por descoberta,enquanto que as crianças introvertidas beneficiam-<strong>se</strong>da aprendizagem por recepção. Da mesma forma,podem <strong>se</strong>r encontradas inúmeras pesquisas quealertam para os benefícios pedagógicos com utilizaçãoda técnica do conflito cognitivo <strong>ou</strong> sócio-cognitivo(Zucchermaglio & Ajello, 1986, por exemplo).A literatura a respeito de traços de personalidade eaprendizagem não é muito rica e nenhuma das pesquisa<strong>se</strong>ncontradas é pertinente à relação que <strong>se</strong> está buscandoneste estudo. Mas es<strong>se</strong>s estudos chamam a atençãopara a importância de <strong>se</strong> conhecer melhor comoestas duas variáveis <strong>se</strong> comportam. O mesmo acontececom relação à técnica de aprendizagem por conflito sócio-cognitivo.Há controvérsias entre os autores. Algunsnão vêem vantagens em <strong>se</strong> estabelecer o conflitocognitivo em dupla <strong>ou</strong> individualmente.Nes<strong>se</strong> contexto, esta pesquisa, por um lado, pretendeuanalisar os efeitos de da técnica de conflito sóciocognitivona aprendizagem em dupla e, por <strong>ou</strong>tro, verificaros tipos de relações possíveis entre o de<strong>se</strong>mpenhodos sujeitos e traços de personalidade.HIPÓTESEValendo-<strong>se</strong> das definições de cada traço de personalidadeforam levantadas algumas expectativas em relaçõesao rendimento das crianças em situação de aprendizagempor conflito sócio-cognitivo em dupla. Criançascom alta pontuação em E (extroversão), por estaremabertas à interação e <strong>se</strong>ntirem-<strong>se</strong> desafiadas a participarpor causa da novidade da situação, devem sofrer os efeitosdo conflito sócio-cognitivo, apre<strong>se</strong>ntando altos níveisde aprendizagem. Também, crianças com alta pontuaçãoem P (psicoticismo) devem apre<strong>se</strong>ntar dificuldades nainteração com o <strong>ou</strong>tro, mas é possível que tenham bomnível de aprendizagem, dada a possibilidade de não <strong>se</strong>envolverem emocionalmente na situação de conflito ereagirem pensadamente. Nessa mesma direção, criançascom alta pontuação em A (adequação) por estarem<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 69-76


72 Lílian Pacheco e Fermino Fernandes Sistoatentas às normas sociais, procurarão responder bem àssolicitações e, assim, espera-<strong>se</strong> que atinjam bom nível deaprendizagem, mas também podem não querer <strong>se</strong> contraporaos colegas. Diferentemente dos casos anteriores,as crianças com alta pontuação em N (neuroticismo) que,em razão da forte propensão a reações emocionais quedificulta uma adaptação adequada, devem apre<strong>se</strong>ntar baixonível de aprendizagem.Com ba<strong>se</strong> nessas possíveis relações, estabeleceu-<strong>se</strong>a hipóte<strong>se</strong> de que a aprendizagem por conflito sóciocognitivo,<strong>se</strong> explicada por traços de personalidade, deveriaapre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> na <strong>se</strong>guinte <strong>se</strong>qüência: a maior pontuaçãoem E explicaria a maior parte da aprendizagem,<strong>se</strong>guida pela maior pontuação em A, P e, por fim, N.MÉTODOSujeitosA população da pesquisa const<strong>ou</strong> de 120 criançasde 5 a 7 anos, que freqüentavam três escolas municipai<strong>se</strong> atendiam crianças de famílias de operários <strong>ou</strong>lavradores. Todas as crianças foram pré-testadas e dasque apre<strong>se</strong>ntaram nível não-con<strong>se</strong>rvador na prova decomprimento, 43 foram <strong>se</strong>lecionadas por sorteio aleatóriopara o experimento, das quais 36 permaneceram atéo final.Des<strong>se</strong>s 36 sujeitos, 17 (47%) eram do <strong>se</strong>xo masculinoe 19 (52%) do <strong>se</strong>xo feminino, metade estava cursando oinfantil e a <strong>ou</strong>tra metade o pré-<strong>escolar</strong>. As idades variavamentre 5 anos e 6 me<strong>se</strong>s e 7 anos e 2 me<strong>se</strong>s e foramagrupadas em dois intervalos, quais <strong>se</strong>jam, as mais novas(dos 66 aos 74 me<strong>se</strong>s) e as mais velhas (dos 76 aos 86me<strong>se</strong>s), perfazendo um total de 19 (53%) sujeitos no primeirointervalo de idade e 17 (47%) no <strong>se</strong>gundo.ProcedimentosA pre<strong>se</strong>nte pesquisa consistiu de um pré-teste, três<strong>se</strong>ssões de intervenção e dois pós-testes. O pré-teste foicomposto pela Escala Infantil de Personalidade (Sisto,1998) e pela prova de con<strong>se</strong>rvação de comprimento. Nosdois pós-testes utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> apenas a prova de con<strong>se</strong>rvaçãode comprimento, <strong>se</strong>ndo que o pós-teste 2 foi aplicado25 dias após o término da intervenção. A ordem de aplicaçãodes<strong>se</strong>s instrumentos foi definida por sorteio.a- Instrumentos, material e critérios de classificaçãoA prova de con<strong>se</strong>rvação de comprimento consistede nove hastes de madeira de 4cm x 0,8cm e quatrohastes de 7cm x 0,8cm. Com as hastes maiores oexperimentador fazia uma “estrada” e pedia ao sujeitoque fizes<strong>se</strong> uma “estrada” do mesmo tamanho, do mesmocomprimento com as hastes menores, sobrando,nes<strong>se</strong> caso, duas hastes menores.O experimento começa quando o sujeito reconhecea igualdade do comprimento das duas “estradas”. Aolongo da prova, o experimentador fazia cinco modificaçõesna disposição das hastes a fim de alterar a configuraçãoda “estrada” que o sujeito construiu, deixandoa <strong>ou</strong>tra como modelo. A cada transformação, perguntava-<strong>se</strong>ao sujeito <strong>se</strong> o comprimento das “estradas” estavaigual <strong>ou</strong> diferente e por quê.Os critérios para classificação dos protocolos foram:ausência de con<strong>se</strong>rvação, quando a criança nega a igualdadedas estradas em razão das extremidades, das sinuosidades,<strong>ou</strong> da ponta final; reações intermediárias,quando a criança oscila entre a con<strong>se</strong>rvação e a nãocon<strong>se</strong>rvação,e aquelas que, após algumas tentativas,chegam à con<strong>se</strong>rvação; con<strong>se</strong>rvação operatória, quandoa criança afirma a con<strong>se</strong>rvação do comprimento, comargumentos operatórios por identidade, inversão <strong>ou</strong> compensação.Escala de Traços de Personalidade para Crianças(Sisto, 1998) consta de 35 questões, para as quais a criançadeve responder sim <strong>ou</strong> não. Contém quatro escalas,<strong>se</strong>ndo que a de extroversão engloba característicasde <strong>se</strong>r sociável, as<strong>se</strong>rtivo, ativo e animado; a deneuroticismo, de <strong>se</strong>r ansioso, tenso, melancólico e combaixa auto-estima; a de psicoticismo de <strong>se</strong>r egocêntrico,impulsivo, frio e anti-social; e a de adequação englobauma tendência à sinceridade e à não dissimulação. Aaplicação foi coletiva, as crianças tinham o instrumentoque foi lido item por item pelo aplicador, dando um intervaloentre os itens para a criança responder no próprioinstrumento. <strong>Para</strong> as escalas de neuroticismo,extroversão e adequação as pontuações variam de 0 a10 pontos. <strong>Para</strong> psicoticismo, de 0 a 8 pontos.b- A intervençãoAs <strong>se</strong>ssões de intervenção iniciaram-<strong>se</strong> de dois atrês dias após o término do pré-teste. A intervenção porconflito, por meio da noção de con<strong>se</strong>rvação de comprimento,inici<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> após as crianças assistirem a um filmede vídeo, o qual mostrava quatro crianças em situaçãoindividual de aplicação da prova de comprimento, duasnão-con<strong>se</strong>rvadoras e duas, con<strong>se</strong>rvadoras, apre<strong>se</strong>ntandoargumentos diferentes. O filme deu oportunidade àscrianças de ob<strong>se</strong>rvarem diferentes de<strong>se</strong>mpenhos e con-


Aprendizagem por interação e traços de personalidade 73trolar possíveis influências entre as crianças, nos contato<strong>se</strong>ntre <strong>se</strong>ssões.Após a exibição do filme, as crianças, em dupla, passarampor <strong>se</strong>te situações de conflito por <strong>se</strong>ssão. Cada<strong>se</strong>ssão dur<strong>ou</strong> em média 30 minutos e a duração do filmefoi de 10 minutos. A intervenção const<strong>ou</strong> de três <strong>se</strong>ssões;na terceira não h<strong>ou</strong>ve exibição da fita de vídeo.Durante a situação de aprendizagem foi pedido queentras<strong>se</strong>m em acordo quando apre<strong>se</strong>ntavam respostasdivergentes e não con<strong>se</strong>rvadoras. Além dessa solicitação,buscando um acordo entre elas, o experimentadorinterveio fazendo questionamentos que pudes<strong>se</strong>m leválasao de<strong>se</strong>quilíbrio cognitivo. Os questionamentos apre<strong>se</strong>ntadosnas <strong>se</strong>te situações <strong>se</strong> distribuíram em dois argumentospor inversão (por exemplo, Se eu“de<strong>se</strong>ntortas<strong>se</strong>” esta estrada deixando do jeito queestava antes, elas ficariam do mesmo jeito?), trêspor identidade (por exemplo, Por que esta estrada fic<strong>ou</strong>mais comprida, <strong>se</strong> as duas tinham o mesmo comprimentono início?), uma antecipação (pergunta-<strong>se</strong>às crianças como as estradas ficariam <strong>se</strong> fos<strong>se</strong>m arrumadascomo estava no começo), e o retorno empírico.RESULTADOSGênero e faixas etárias em relação à aprendizageme traços de personalidadeNo pós-teste 1, dos 36 sujeitos, 23 (64%), mantiveram-<strong>se</strong>como não-con<strong>se</strong>rvadores, 9 (25%) como intermediário<strong>se</strong> 4 (11%) atingiram o nível de con<strong>se</strong>rvador.Por <strong>sua</strong> vez, no pós-teste 2, 26 (72%) dos sujeitos foramclassificados como não-con<strong>se</strong>rvadores, 6 (17%)como intermediários e 4 (11%) como con<strong>se</strong>rvadores.Em 21 sujeitos não <strong>se</strong> pôde ob<strong>se</strong>rvar a <strong>se</strong>nsibilidadedo sistema cognitivo para mudança, pois <strong>se</strong> mantiveramcomo não con<strong>se</strong>rvadores nas três avaliações. Os 15sujeitos restantes apre<strong>se</strong>ntaram pontos diferentes deníveis evolutivos e formas distintas de reação do sistemacognitivo: 5 sujeitos indicaram mudança evolutivacom estabilidade; 3 sujeitos sugeriram ganho, mas nãoestabilidade; os 7 sujeitos restantes indicaram que o sistemacognitivo foi <strong>se</strong>nsível à perturbação apre<strong>se</strong>ntandoflutuação do sistema.No pós-teste 1, a aprendizagem ob<strong>se</strong>rvada não <strong>se</strong>diferenci<strong>ou</strong> nem em relação ao gênero (t=1,45; p=0,157),nem em relação às duas faixas etárias (t=0,94; p=0,352).Com relação ao pós-teste 2, o gênero também não produziudiferenças significativas (t=0,67; p=0,508), mas aidade, sim (t=2,25; p=0,031), <strong>se</strong>ndo que os mais velhosobtiveram maiores rendimentos que os mais novos.A fim de verificar <strong>se</strong> os traços de personalidade apre<strong>se</strong>ntavamintensidades diferentes em relação às variáveisgênero e idade analis<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> as médias correspondentes.Em ambos os pós-testes, apenas um resultadono pós-teste 1 mostr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> significativo estatisticamente,qual <strong>se</strong>ja, psicoticismo (t=2,65; p=0,012), com umatendência dos sujeitos mais novos a terem pontuaçõesmais altas.Aprendizagem e traço de personalidadeCom o objetivo de averiguar <strong>se</strong> os traços de personalidadecon<strong>se</strong>guiriam explicar a aprendizagem ob<strong>se</strong>rvada,tanto no pós-teste 1 quanto no pós-teste 2, us<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a análi<strong>se</strong>de regressão. Os resultados estão na tabela 1.A análi<strong>se</strong> por regressão múltipla indic<strong>ou</strong> que os traçosde personalidade psicoticismo e adequação foramsignificativos para explicar o de<strong>se</strong>mpenho dos sujeitosquanto à aprendizagem no pós-teste imediato. Por es<strong>se</strong>sdados, psicoticismo explica mais o resultado da aprendizagem,avaliada no pós-teste 1, do que adequação.Tabela 1: Resultados da análi<strong>se</strong> de regressão entre traços de personalidadee pós-teste 1.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 69-76


74 Lílian Pacheco e Fermino Fernandes SistoA hipóte<strong>se</strong> deste estudo previa uma <strong>se</strong>qüência a<strong>se</strong>qüência E,A,P,N, em ordem decrescente, em razãodo nível de de<strong>se</strong>mpenho na aprendizagem. Segundo aanáli<strong>se</strong> estatística dos dados, encontr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>guinteordem: P,A,E,N; apenas as variáveis P (psicoticismo) eA (adequação) foram significativas para explicar o fenômenoda aprendizagem nesta medição (pós-teste 1).Os resultados da análi<strong>se</strong> por regressão múltipla nopós-teste 2, encontram-<strong>se</strong> na tabela 2. Conforme pode<strong>se</strong>r verificado, a análi<strong>se</strong> dos dados do pós-teste 2 nãoforneceu nenhum resultado significativo para as quatrodimensões da personalidade.análi<strong>se</strong> de regressão indic<strong>ou</strong> significância com a variávelpsicoticismo <strong>se</strong>guida de adequação. No pós-teste 2,nenhum dos traços de personalidade pôde predizer oresultado do de<strong>se</strong>mpenho verificado.Esperava-<strong>se</strong> que os sujeitos extrovertidos fos<strong>se</strong>m<strong>se</strong>nsíveis à técnica do conflito sócio-cognitivo (Palkovic,1979; Ey<strong>se</strong>nck, 1992), apre<strong>se</strong>ntando fortes indicadoresde aprendizagem, por caracterizarem como abertos àinteração, desafiados a participar e interessados emnovidades. Contudo, os resultados não indicaram relaçõessignificativas entre extroversão e aprendizagem,nas condições em que foi produzida, colocando dúvidasTabela 2: Resultados da análi<strong>se</strong> de regressão entre traços de personalidade epós-teste 2.CONCLUSÕESA pre<strong>se</strong>nte pesquisa objetiv<strong>ou</strong> verificar quais tipos derelações podem <strong>se</strong>r estabelecidas entre o de<strong>se</strong>mpenhodos sujeitos e <strong>sua</strong>s diferenças individuais quanto a traçode personalidade. O conceito de aprendizagem aqui tratadoba<strong>se</strong><strong>ou</strong>-<strong>se</strong> nas con<strong>se</strong>qüências da teoria do de<strong>se</strong>nvolvimentode Jean Piaget. Como propõe Sisto(1993,1997), a técnica do conflito cognitivo, em vez deoferecer como modelo, a resposta certa para o sujeito etreiná-lo até que ocorra a aprendizagem, trabalha com aresposta dada pelo sujeito, questionando-o a fim de leváloa perceber possíveis contradições em <strong>sua</strong> resposta ereelaborar <strong>se</strong>u raciocínio. Além dos aspectos cognitivos,<strong>ou</strong>tras variáveis pre<strong>se</strong>ntes no processo de aprendizagemforam envolvidas, como os aspectos sociais e afetivos.Com ba<strong>se</strong> nas definições e características des<strong>se</strong>straços, estabeleceu-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>qüência E,A,P,N dos traçosde personalidade para explicar o de<strong>se</strong>mpenho das crianças.Essa hipóte<strong>se</strong> foi analisada considerando-<strong>se</strong> duasmedições de aprendizagem (pós-teste imediato e retardado),já que es<strong>se</strong> fenômeno foi compreendido com<strong>ou</strong>ma aquisição que perdura no tempo. No pós-teste 1, asobre essas relações, como <strong>ou</strong>tros estudos já o fizeram(Francis & Montgomery, 1993; Maqsud, 1993; Robinson,Gabriel & Katchan, 1994; Furnahm & Medhurst, 1995).Com respeito ao traço psicoticismo, a hipóte<strong>se</strong> levantadanesta pesquisa foi ambígua. Por um lado, previadificuldades na interação com o <strong>ou</strong>tro (fato importantena técnica de intervenção utilizada neste estudo),pensando-<strong>se</strong> que poderia prejudicar a aprendizagem. Por<strong>ou</strong>tro lado, consider<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que es<strong>se</strong> traço contribuiria paraa aprendizagem, uma vez que o sujeito, não <strong>se</strong> envolvendoemocionalmente, poderia agir <strong>se</strong>m <strong>se</strong> deixar influenciarpelo <strong>ou</strong>tro. Na literatura não <strong>se</strong> encontr<strong>ou</strong> con<strong>se</strong>nsoa es<strong>se</strong> respeito. Alguns autores encontraram relaçõespositivas (Wilson & Lynn, 1990, por exemplo),<strong>ou</strong>tros inversas (Francis & Montgomery, 1993; Maqsud,1993; Csorba & Dinya, 1994). Todavia, Furnham eMedhurst (1995) chegaram à conclusão que opsicoticismo foi preditor de de<strong>se</strong>mpenho acadêmico, masnão em todas as situações. Quanto à medição do traçode personalidade psicoticismo no pós-teste imediato,nesta pesquisa ele foi o fator que mais explic<strong>ou</strong> a aprendizagemaí ob<strong>se</strong>rvada.


Aprendizagem por interação e traços de personalidade 75Essa dimensão da personalidade prevê sujeitos comcertas características, <strong>se</strong>gundo as quais socialização,<strong>se</strong>ntimentos de empatia, culpabilidade e <strong>se</strong>nsibilidade paracom os <strong>ou</strong>tros são não muito consideradas. Pode <strong>se</strong> suporque na medida em que eles não <strong>se</strong> dispersam comessas questões podem melhor refletir sobre o conflito esuperar <strong>sua</strong>s contradições.No que <strong>se</strong> refere ao traço adequação, o pre<strong>se</strong>nte estudotambém levant<strong>ou</strong> uma hipóte<strong>se</strong> ambígua. Por um lado,crianças com alta pontuação em adequação social poderiam<strong>se</strong> mostrar complacentes com os colegas, não tirandoproveito da situação. Por <strong>ou</strong>tro lado, por estarem atentasàs normas sociais, procurariam responder bem às solicitações.A literatura informa tanto relações positivas des<strong>se</strong>traço com aprendizagem (Francis & Montgomery, 1993)como inversas (Palkovic, 1979; Maqsud, 1993; Csorba &Dinya, 1994). O traço adequação apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> relação significativana análi<strong>se</strong> de regressão, no pós-teste imediato,apre<strong>se</strong>ntando-<strong>se</strong> como um componente explicativo do processode aprendizagem. Es<strong>se</strong> resultado leva a supor queindivíduos com alta pontuação em adequação, na medidaem que <strong>se</strong> preocupam com as conformidades sociais, estandoatentos às relações interpessoais, reagem bem naaprendizagem com o <strong>ou</strong>tro.Quanto traço neuroticismo, a hipóte<strong>se</strong> do pre<strong>se</strong>ntetrabalho previa que os sujeitos com alta pontuação emneuroticismo poderiam vir a apre<strong>se</strong>ntar baixo índice deaprendizagem, devido a <strong>sua</strong> instabilidade emocional edificuldade de adaptação. A controvérsia da literaturaconcerne a encontrar relações positivas com aspectosda <strong>escolar</strong>ização (Wilson & Lynn, 1990; Francis &Montgomery, 1993; Robinson, Gabriel & Katchan, 1994)<strong>ou</strong> relações inversas (Palkovic, 1979; Maqsud, 1993;Csorba & Dinya, 1994). Contudo, neste estudo, nenhumadas análi<strong>se</strong>s estatísticas feitas apre<strong>se</strong>nt<strong>ou</strong> relaçãosignificativa.Retomando a hipóte<strong>se</strong> colocada, apenas parcialmentealgumas de <strong>sua</strong>s relações puderam <strong>se</strong>r comprovada<strong>se</strong> apenas no resultado imediato de uma aprendizagem.Há que <strong>se</strong> considerar o fato de que a noçã<strong>ou</strong>tilizada como conteúdo da aprendizagem, quando noprocesso de aquisição espontânea, só é adquirida numaidade mais avançada, entre 8 <strong>ou</strong> 9 anos, enquanto queos sujeitos desta pesquisa variaram de 5 anos e 6 me<strong>se</strong>sa 7 anos e 2 me<strong>se</strong>s. Ao lado disso, uma boa partedos sujeitos não cheg<strong>ou</strong> a estabilizar a aprendizagem,considerando o pós-teste 2. Nes<strong>se</strong> contexto, a necessidadede mais pesquisas nessa direção faz-<strong>se</strong> necessário,com vistas, principalmente, a analisar sujeitoscujos sistemas cognitivos <strong>se</strong> estabilizem no processode aprendizagem e compará-los com sujeitos cuja estabilidadenão foi ob<strong>se</strong>rvada.REFERÊNCIASAmes, G. J. (1980). When Two Wrongs Make a Right:Promoting Cognitive Change Thr<strong>ou</strong>gh Social Conflict.U.S. Delaware, Relatório de Pesquisa, n. 143, microfichado ERIC.Borg, M. O., & Shapiro, S. L. (1996). Personality type andstudent performance in principles of economic <strong>educ</strong>ation.J<strong>ou</strong>rnal of Economic Education, 27, 3-25.Cannella, G. S. (1992). Gender composition and conflict indyadic sociocognitive interaction: effects on spatiallearning in y<strong>ou</strong>ng children. J<strong>ou</strong>rnal of ExperimentalEducation, 61, 29-41.Csorba, J., & Dinya, E. (1994). 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76 Lílian Pacheco e Fermino Fernandes SistoMugny, G., & Doi<strong>se</strong>, W. (1978). Socio-cognitive conflict andstructure of individual and collective performances.European J<strong>ou</strong>rnal of Social Psychology, 8, 181-192.Mugny, G., & Doi<strong>se</strong>, W. (1983). La Construcción Social de laInteligencia. México: Editorial Trillas.Palkovic, L. (1979). Influencing the Achievement of childrenin experimental learning by verbal reinforcement.Psychologia a Patopsychologia Dietada, 14, 27-36.Perret Clermont, A. N., & Nicolet, M. (1992). Interactuar yconocer. Desafios y regulaciones sociales en eldesarrollo cognitivo. Buenos Aires: Miño y Dávila Editores.Piaget, J. (1973). Biologia e Conhecimento: ensaios sobre asrelações entre as regulações e os processoscognoscitivos. Petrópolis: Vozes.Piaget, J. (1976). A Equilibração das Estruturas Cognitivas.Rio de Janeiro: Zahar Editores.Piaget, J. (1981). Intelligence and Affectivity: Theirrelationship during child development. Annual ReviewsINC. Palo Alto, California, USA.Riding, R. J., & Tempest, J. (1986). Spelling and Learning Stylein Children. Educational Psychology, 6, 313-20.Robinson, D., Gabriel, N., & Katchan, (1994). O. Personalityand <strong>se</strong>cond language learning. Personality and IndividualDifferences, 16, 143-157.Roy, A.W., & Howe, C.J. (1990). Effects of cognitive conflict,socio-cognitive conflict and imitation on children’s sociolegalthinking. European J<strong>ou</strong>rnal of Social Psychology,20, 241-252.Rus<strong>se</strong>ll, J. (1981). Why “socio-cognitive conflict” may beimpossible: The status of egocentric errors in the dyadicperformance of a spatial task. Educational Psychology,1, 159-169.Sisto, F. F. (1993). Fundamentos para uma AprendizagemConstrutivista. Pró-Posições, 4, 38-52.Sisto, F. F. (1997). Aprendizagem e Mudanças Cognitivas emCrianças. Petrópolis: Vozes.Sisto, F. F. (1998). Escala de Traços de Personalidade paraCrianças. Faculdade de Educação, Universidade Estadualde Campinas (Relatório manuscrito não publicado).Taal, M., & Oppenheimer, L. (1989). Socio-cognitive conflictand peer interaction: Development of compensation.European J<strong>ou</strong>rnal of Social Psychology, 19, 77-83.Wilson, R. G., & Lynn, R. (1990). Personality, intelligencecomponents and foreing language attainment.Educational Psychology, 10, 57-71.Zucchermaglio, C., & Ajello, A. M. (1986). Conoscenzeeconomiche: Connotazione sociale e interazioni di gruppo.Eta-evolutiva, 95-106.Recebido em: 27/02/03Revisado em: 01/04/03Aprovado em: 11/06/03


<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 77-84DEPRESSÃO INFANTIL: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A PRÁTICA EDUCACIONALResumoMiriam Cruvinel 1Evely Boruchovitch 2Atualmente não existe dúvida quanto a existência de depressão em crianças em idade <strong>escolar</strong>. A incidência de sintomas depressivos nesta faixaetária está em torno de 1,8 %, no entanto, quando <strong>se</strong> fala da incidência des<strong>se</strong>s sintomas em crianças com dificuldades de aprendizagem essa taxaaumenta consideravelmente. A depressão infantil tem sido investigada por alguns autores da literatura estrangeira, no entanto, na populaçãobrasileira, os estudos ainda são escassos. Dados revelam que existe uma estreita relação entre sintomas depressivos e rendimento <strong>escolar</strong>, maspermanece ainda a necessidade de <strong>se</strong> sistematizar conhecimentos sobre a natureza mais específica dessa relação, pois tanto os sintomas da depressãopodem contribuir para prejudicar a aprendizagem do aluno, quanto o baixo rendimento <strong>escolar</strong> pode também conduzir ao surgimento de sintomasdepressivos. Assim <strong>se</strong>ndo, o pre<strong>se</strong>nte estudo teve como objetivo rever criticamente a literatura acerca da depressão infantil. Tem-<strong>se</strong> em vistacontribuir para uma melhor compreensão, por parte dos professores e <strong>educ</strong>adores, no que concerne a relação entre depressão infantil e de<strong>se</strong>mpenho<strong>escolar</strong> de crianças.Palavras chaves: Depressão infantil; De<strong>se</strong>mpenho <strong>escolar</strong>; Prática Educacional.AbstractDEPRESSION IN CHILDREN: A CONTRIBUTION TO THE WORK EDUCATIONALPre<strong>se</strong>ntly there are no d<strong>ou</strong>bts ab<strong>ou</strong>t the existence of children’s depression during school years. The incidence of depressive symptoms in schoolyears is ar<strong>ou</strong>nd 1,8%. However, when it is taken into acc<strong>ou</strong>nt the incidence of the<strong>se</strong> symptoms in children who pre<strong>se</strong>nt learning difficulties, thisrate increa<strong>se</strong>s considerably. The relationship between children’s depression and school performance has been studied in the foreign literature, butin Brazilian population the<strong>se</strong> studies are still scarce. There is still a need for a deeper understanding of the specific nature of this relationship sinceit is possible that depressive symptoms can contribute negatively to students’ learning and performance. It is also equally possible that learningdificulties can lead to depression symptoms occurence. In line with that, the pre<strong>se</strong>nt study has objective to review the literature criticallyconcerning the realtionship between children’s depression and school performance in order to contribute to a better understanding of thisrelationship among teachers and <strong>educ</strong>ators.Key Words: Childhood depression; Academic achievement: Educational practice.INTRODUÇÃOTentativas de <strong>se</strong> estudar a depressão infantil têmsurgido desde o início do século XIX. No entanto, asprimeiras tendências de conceituação de depressão emcrianças foram realizadas <strong>se</strong>gundo um enfoque psicanalítico,visando a compreensão da psicodinâmica depessoas deprimidas. Bandin, S<strong>ou</strong>gey e Carvalho (1995)fazem uma revisão histórica dos estudos sobre a depressãoe cita Abrahan, em 1912 que conceitua a depressãocomo perda de um objeto amado, que conduziriaa <strong>se</strong>ntimentos de culpa e melancolia. Seguido de Freudem 1914, que acrescenta <strong>se</strong>ntimentos ambivalentes àperda do objeto amado. Em 1946, Spitz descreve a depressãoanalítica, síndrome característica de bebêsinstitucionalizados, que sofriam de carência afetiva, decorrenteda <strong>se</strong>paração materna. Em 1975, Melaine Kleindescreve a posição depressiva enquanto uma fa<strong>se</strong> normaldo de<strong>se</strong>nvolvimento infantil. Essa posição é característicano bebê de 6 me<strong>se</strong>s, e corresponde ao períodono qual a criança é capaz de reconhecer o objeto em<strong>sua</strong> totalidade e não mais parcialmente.No campo da psiquiatria, a depressão infantil despert<strong>ou</strong>interes<strong>se</strong> somente a partir da década de 60. An-1<strong>Psic</strong>óloga e Mestre em <strong>Psic</strong>ologia e De<strong>se</strong>nvolvimento Humano e Educação pela Unicamp.2<strong>Psic</strong>óloga, Ph.D em Educação pela University of S<strong>ou</strong>thern California, docente da Faculdade de Educação da Unicamp.


78 Miriam Cruvinel e Evely Boruchovitchtes disso, acreditava-<strong>se</strong> que a depressão na criança nãoexistia <strong>ou</strong> então, que esta <strong>se</strong>ria muito rara nessa população.Apesar de dados epidemiológicos evidenciarem queatualmente não há mais dúvida quanto a ocorrência dedepressão na infância (White, 1989; Bandim & cols.,1995; Andriola & Cavalcante, 1999; Baptista & Golfeto,2000; Barbosa & Gaião, 2001; HallaK, 2001), aprevalência dos sintomas depressivos são discutíveis,uma vez que existe uma grande diversidade nas taxasde incidência. Diversidade essa que vem <strong>se</strong>ndo explicadapela variação da população estudada, pelas diferençasna metodologia utilizada e principalmente pela dificuldadede padronização dos tipos de transtornos depressivo<strong>se</strong> a falta de um critério de diagnóstico comum para adepressão (Baptista, Baptista & Dias, 2001).Há muita controvérsia a respeito da depressão nainfância, principalmente quanto aos critérios de diagnóstico.Alguns autores afirmam que a depressão na criançaassume características diferentes da depressão noadulto (Ajuriaguerra, 1976; Lippi, 1985), enquanto <strong>ou</strong>trosconcordam que a depressão na infância <strong>se</strong> manifestade forma bastante <strong>se</strong>melhante às manifestaçõesdo adulto. De acordo com DSM IV (1994), manualfreqüentemente empregado no diagnóstico de transtornosmentais, a depressão infantil é <strong>se</strong>melhante a depressãono adulto, de forma que os mesmos critérios dediagnósticos de depressão no adulto podem <strong>se</strong>r utilizadospara avaliar a depressão na criança. Segundo es<strong>se</strong>manual, os sintomas de depressão são: humor deprimidona maior parte do dia, falta de interes<strong>se</strong> nas atividadesdiárias, alteração de sono e apetite, falta de energia, alteraçãona atividade motora, <strong>se</strong>ntimento de inutilidade,dificuldade para <strong>se</strong> concentrar, pensamentos <strong>ou</strong> tentativasde suicídio.De acordo com DSM IV (1994), para o diagnósticode um episódio depressivo maior é necessário que o indivíduoapre<strong>se</strong>nte pelo menos 5 dos sintomas citados,<strong>se</strong>ndo que um dos sintomas deve <strong>se</strong>r o humor deprimidoem grande parte do dia <strong>ou</strong> falta de interes<strong>se</strong> pela maioriadas atividades e deve ainda ocorrer em um períodode pelo menos 2 <strong>se</strong>manas. No entanto, o DSM IV (1994)faz pequenas ressalvas considerando os níveis de de<strong>se</strong>nvolvimento,a fim de facilitar o diagnóstico de depressãona criança. Mais precisamente, uma criançadeprimida pode apre<strong>se</strong>ntar humor irritável ao invés detristeza; <strong>ou</strong> ainda revelar uma queda no rendimento acadêmicoem função do prejuízo na capacidade para pensare concentrar.Assim como para <strong>se</strong> diagnosticar a depressão nacriança são utilizados os mesmos critérios para adultos,os modelos de depressão infantil também são adaptaçõesde modelos de depressão de adultos (White, 1989;Chabrol, 1990; Miyazaki, 1993; Rhem & Sharp, 1999).Os principais modelos de depressão são: modelo biológico,comportamental, cognitivo e modelo psicanalítico.O modelo biológico estuda a depressão enquantodoença e enfatiza o papel de fatores bioquímicos e genéticosno aparecimento de sintomas. Um trabalho deWeissman (1987), com crianças cujos pais apre<strong>se</strong>ntavamum quadro de depressão é citado por Chabrol (1990).Os dados revelaram que para essas crianças os sintomasdepressivos aparecem mais cedo, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja por voltade 12 anos e 7 me<strong>se</strong>s, enquanto que para aquelas cujospais não apre<strong>se</strong>ntavam depressão, o primeiro episódiodepressivo surgiria mais tarde, por volta de 16 anos eoito me<strong>se</strong>s.O modelo comportamental de depressão enfatiza opapel da aprendizagem e das interações com o ambiente.A depressão, de acordo com es<strong>se</strong> pressuposto, évista como con<strong>se</strong>qüência da diminuição de comportamentosadaptados (contato social, interes<strong>se</strong> pelasatividades e pelas pessoas) e um aumento na freqüênciade comportamentos de esquiva e fuga de estímulos vistoscomo aversivos (tristeza, choro). De acordo comessa teoria, a aquisição de comportamentos depressivosocorreriam mediante a aprendizagem, por meio de mecanismosde condicionamento pavloviano, skinneriano<strong>ou</strong> aprendizagem social (Chabrol, 1990).O modelo Cognitivo atribui grande importância ascognições no aparecimento e manutenção de condutasdisfuncionais. A teoria cognitiva de Beck (1997) revelaque as distorções de pensamento são fatores mediadoresda depressão. O autor afirma que a pessoa deprimidaapre<strong>se</strong>nta uma visão extremamente negativa edeformante de si mesmo, do mundo e do futuro, fenômenoque Beck denomin<strong>ou</strong> de tríade cognitiva. Dentrea abordagem cognitiva, existe também o modelo dedesamparo adquirido (Seligman, 1977), inicialmenteestudado com animais. Seligman (1977) revela que situaçõesnegativas repetidas e incontroláveis pode levar osujeito a apre<strong>se</strong>ntar o desamparo adquirido, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, apessoa passa a acreditar que os eventos não podem <strong>se</strong>rcontrolados, instalando no sujeito, alteração de afeto, daauto-estima e da motivação, podendo acarretar em transtornodepressivo.E por último o modelo psicanalítico, que ressalta a


Depressão infantil: Uma contribuição para a prática <strong>educ</strong>acional 79importância de processos intrapsíquicos no de<strong>se</strong>nvolvimentoda depressão, onde esta poderia <strong>se</strong>r consideradacomo uma falha na evolução do processo de elaboraçãonormal do luto e da perda (Mendels, 1972). Freud(1917) estudando sobre a diferença entre o sofrimentoe a depressão, revel<strong>ou</strong> que, no sofrimento, o mundo <strong>se</strong>torna vazio e empobrecido, não há uma queda na autoestimae a perda é consciente. Na melancolia, o processoé inverso: há uma redução na auto-estima, a perda éinconsciente e é o próprio ego do indivíduo que <strong>se</strong> esvaziae empobrece.Cabe ressaltar que dificilmente apenas um modelo <strong>ou</strong>uma única teoria <strong>se</strong>ria suficiente para explicar um fenômenotão complexo como a depressão, um transtorno queacarreta em inúmeras alterações ao indivíduo. A depressão,<strong>se</strong>m dúvida, integra fatores sócio-familiares, psicológico<strong>se</strong> biológicos, onde as diferentes teorias não <strong>se</strong> excluem,mas <strong>se</strong> completam, contribuindo não somente parauma maior compreensão da natureza multicausal destetranstorno, mas também para a concepção do sujeito em<strong>sua</strong> totalidade bio-psico-social.A incidência de depressão infantil no brasil:resultados de pesquisasNo Brasil, ainda são escassos os estudos sobre a depressãona criança. Assim como na literatura internacional,os estudos epidemiológicos brasileiros mostram quea incidência de depressão, na criança, tem <strong>se</strong> reveladobastante variável. Todavia, apesar dessa diversidade, o<strong>se</strong>studos confirmam a existência de depressão nessa população.Hallak (2001) avali<strong>ou</strong> 602 <strong>escolar</strong>es de 7 a 12anos de uma escola pública de Ribeirão Preto. A incidênciade depressão foi 6 % quando avaliada pelo Inventáriode Depressão Infantil (CDI) e uma prevalência de 3 %utilizando a Escala de Sintomatologia Depressiva paraprofessores (ESDM). Nes<strong>se</strong> estudo, verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que asmeninas apre<strong>se</strong>ntavam escores significativamente maioresno CDI, independente da faixa etária. Curatolo (2001)obteve uma taxa de 21,1% de sintomatologia depressivaem <strong>escolar</strong>es de 7 a 12 anos. Como instrumento paraavaliar os sintomas depressivos utiliz<strong>ou</strong> o CDI. Barbosae Gaião (2001) avaliaram 807 crianças de 7 a 17 anos dointerior da <strong>Para</strong>íba e a taxa de prevalência de depressãoencontrada foi alta (22 %), <strong>se</strong>ndo mais elevada nas faixa<strong>se</strong>tárias de 13 e 14 anos de idade. Barbosa e Gaião(2001) com a finalidade de investigar as característicaspsicométricas da escala CDRS-R, avaliaram 344 criança<strong>se</strong>ntre 11 e 13 anos e encontraram uma prevalênciade depressão maior de 0,9% e 3,2 % para distimia. Baptistae Golfeto (2000), encontraram uma prevalência de 1,48% em <strong>escolar</strong>es de 7 a 14 anos de uma escola da redeparticular de Ribeirão Preto. A população foi avaliadamediante o CDI e a incidência foi maior em crianças do<strong>se</strong>xo feminino.Es<strong>se</strong>s estudos revelam o quanto pode variar a incidênciados sintomas de depressão e ainda os resultadossugerem que a incidência tende a <strong>se</strong> elevar na adolescênciae parece não haver diferença significativa entremeninos e meninas até esta fa<strong>se</strong>. Na adolescência, essaporcentagem <strong>se</strong> eleva e as meninas parecem sofrer maisdepressão do que os meninos (Soares,1993).Com o objetivo de conhecer dados epidemiológicosda depressão e caracterizar o perfil de sintomasdepressivos, Bandim e cols. (1995) avaliaram 32 criançascom idade variando entre 6 a 14 anos e que preenchiamos critérios do DSM-III-R para Depressão Maior,Distimia e Distúrbio de ajustamento com humor deprimido.A maioria das crianças receberam o diagnósticode distimia, <strong>se</strong>guido pelo distúrbio de ajustamento epor último depressão maior. Nes<strong>se</strong> estudo, a maior partedas crianças com alteração de humor eram do <strong>se</strong>xomasculino e tinham entre 11 e 14 anos de idade. Osautores apontam a importância em <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rvar sinaisindicadores que poderiam facilitar a identificação de distúrbiosdepressivos, como: queda no rendimento <strong>escolar</strong>,tristeza e disforia.Apesar de extremamente importante do ponto devista preventivo, os estudos com crianças em idade pré<strong>escolar</strong> são ainda mais escassos em nossa realidade. Ataxa de prevalência encontrada em crianças de 5 e 6anos no estudo de Andriola e Cavalcante (1997) foi de3,9%., não revelando diferenças significativas em relaçãoao gênero. Estudos em fa<strong>se</strong>s iniciais da infânciasão muito relevantes, uma vez que <strong>se</strong> os sintomasdepressivos não forem identificados podem causar umasérie de dificuldades como a baixa auto-estima, quedano rendimento <strong>escolar</strong> e problemas na interação social,no futuro.A incidência de depressão infantil <strong>se</strong> acentua quando<strong>se</strong> trata de população específica, normalmente com<strong>ou</strong>tras problemáticas associadas, como crianças vítimasde queimadura (Amaral & Barbosa1990), crianças quesofriam violência familiar (Oshiro 1994), adolescentescom problemas na estrutura familiar (Baptista, 1997) ecrianças com dificuldades <strong>escolar</strong>es e história de fracasso<strong>escolar</strong> (Hall & Haws, 1989; Nunes, 1990; Colbert,<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 77-84


80 Miriam Cruvinel e Evely BoruchovitchNewman, Ney & Y<strong>ou</strong>ng, 1992; Wright-Strawderman &Watson 1992). Salientando, ainda, um trabalho realizadopor Cruvinel (2003) que analis<strong>ou</strong> a incidência de depressãoem 169 alunos do ensino fundamental, de umaescola pública do interior de São Paulo, os resultadosapontaram que es<strong>se</strong>s alunos possuem uma taxa de 3,55%.Depressão infantil e rendimento <strong>escolar</strong>A incidência de problemas emocionais, mais especificamentedepressão, ocorrem com certa freqüência emcrianças de séries <strong>escolar</strong>es iniciais e normalmente estãoassociados a <strong>ou</strong>tras dificuldades de comportamento<strong>ou</strong> acadêmicas. Segundo Fon<strong>se</strong>ca, Rebelo, Ferreira,Sanches, Pires e Gregório (1998) os problemas psicológicosinfantis não devem <strong>se</strong>r considerados como umfenômeno transitório e <strong>se</strong>m gravidade, já que dados sugeremque essas dificuldades podem apre<strong>se</strong>ntar umagrande estabilidade temporal e ainda contribuem paraafetar negativamente o processo de de<strong>se</strong>nvolvimentoda criança como um todo.A relação entre depressão infantil e rendimento <strong>escolar</strong>tem sido investigada por alguns autores (Colbert& cols., 1982; Livingston, 1985; Hall & Haws, 1989;Mokros, Poznanski & Merrick, 1989; Weinberg, Mclean,Snider, Nuckols, Rintelmann, Erwin & Brumback,, 1989;Nunes, 1990; Wright-Strawderman & Watson, 1992;Feshbach & Feshbach, 1997; Pérez e Urquijo, 2001;Sommerhalder & Stela, 2001). No Brasil, apesar damaioria dos estudos acerca des<strong>se</strong> tema <strong>se</strong>rem realizadosno ambiente <strong>escolar</strong>, são p<strong>ou</strong>cos aqueles que relacionama depressão ao rendimento <strong>escolar</strong> do aluno. Osresultados des<strong>se</strong>s estudos sugerem que a depressão nacriança pode prejudicar <strong>se</strong>u rendimento na escola, bemcomo o aproveitamento acadêmico. Crianças com históriade depressão apre<strong>se</strong>ntam um de<strong>se</strong>mpenho acadêmicoabaixo do esperado (Feshbach & Feshbach, 1997).Sommerhalder e Stela (2001) descrevem que, na criançadeprimida, as funções cognitivas como atenção, concentração,memória e raciocínio encontram-<strong>se</strong> alteradas,o que interfere no de<strong>se</strong>mpenho <strong>escolar</strong>, uma vezque na sala de aula, a criança com sintomas de depressãonormalmente mostra-<strong>se</strong> desinteressada pelasatividades, apre<strong>se</strong>nta dificuldade em permanecer atentanas tarefas e es<strong>se</strong> comportamento interfere de formanegativa na aprendizagem dessas crianças.Os estudos demonstram que a incidência de sintomasdepressivos em crianças com dificuldades <strong>escolar</strong>esé considerada alta principalmente quando comparadacom a taxa de prevalência de sintomatologia de depressãona população infantil <strong>se</strong>m dificuldades de aprendizagem(Hall & Haws, 1989; Wright-Strawderman &Watson 1992; Colbert & cols., 1982).Wright-Strawderman e Watson (1992) avaliaram 53crianças de 3 ª , 4 ª e 5 ª série, de 8 a 11 anos, com o objetivode conhecer a incidência de sintomatologia depressivaem sujeitos com dificuldade de aprendizagem. Os resultadosindicaram que 35,85% dessas crianças apre<strong>se</strong>ntavamsintomatologia depressiva, não apre<strong>se</strong>ntando diferençasignificativa quanto ao <strong>se</strong>xo. Um <strong>ou</strong>tro estudo(Hall & Haws, 1989) procur<strong>ou</strong> identificar o nível dedepressão em uma amostra de 100 alunos de 4 ª , 5 ª e 6 ªsérie, divididos em dois grupos: 50 alunos com dificuldadede aprendizagem e 50 alunos <strong>se</strong>m dificuldade deaprendizagem. As crianças com dificuldades de aprendizagemapre<strong>se</strong>ntavam escores significativamente maisaltos de depressão.Weinberg e cols. (1989) também investigaram a relaçãoentre problemas <strong>escolar</strong>es e depressão. Encontraramalta incidência (35 %) de depressão em criança<strong>se</strong>ntre 6 e 15 anos com dificuldade de aprendizagem.Colbert e cols. (1982) avali<strong>ou</strong> 282 crianças de 6 a 14anos e 54 % dos sujeitos apre<strong>se</strong>ntavam depressão, <strong>se</strong>gundoos critérios do DSM III. As crianças com depressãoapre<strong>se</strong>ntavam um baixo rendimento <strong>escolar</strong>,embora eram crianças capazes intelectualmente e <strong>se</strong>mdificuldades específicas de aprendizagem. Os autoresconcluem que a dificuldade de aprendizagem des<strong>se</strong>ssujeitos pode <strong>se</strong>r resultante da falta de energia e dificuldadede concentração, sintomas característicos do quadrodepressivo.A partir da constatação de que sintomas depressivospodem estar associados ao baixo rendimento <strong>escolar</strong> efracasso acadêmico, alguns autores têm sugerido a relaçãoentre depressão e baixo nível de inteligência(Brumback, Jackoway & Weinberg, 1980). Essa hipóte<strong>se</strong>ainda tem sido bastante controvertida. Em algun<strong>se</strong>studos que objetivaram verificar nível intelectual dedeprimidos e não deprimidos, não foram encontradasdiferenças significativas quanto ao de<strong>se</strong>mpenho nossubtestes de inteligência - WISC (Brumback & cols.,1980; Mokros & cols., 1989). Diante des<strong>se</strong> resultado,concluiu-<strong>se</strong> que a falta de diferença no de<strong>se</strong>mpenho noteste de inteligência entre grupo de deprimidos e grupode não deprimidos sugere que o baixo rendimento <strong>escolar</strong>pode <strong>se</strong>r resultado da depressão em si e não de umdéficit intelectual. Nes<strong>se</strong> caso, os problemas <strong>escolar</strong>e<strong>se</strong>stariam atuando como uma possível expressão da de-


Depressão infantil: Uma contribuição para a prática <strong>educ</strong>acional 81pressão, diretamente relacionada a falta de interes<strong>se</strong> dacriança em participar das tarefas <strong>escolar</strong>es e em funçãodos <strong>se</strong>ntimentos de auto desvalorização (Brumback& cols., 1980).Mokros e cols. (1989) considera que as dificuldadesde aprendizagem podem <strong>se</strong>r confundidas com sintomasde uma desordem afetiva como a depressão. Uma criançapode, na verdade, apre<strong>se</strong>ntar uma desordem afetivae <strong>se</strong>r diagnosticada como tendo dificuldades de aprendizagem.Os autores recomendam ao profissional quetem diante de si uma criança com dificuldade de aprendizagem,avaliar também a possibilidade dessa criançaapre<strong>se</strong>ntar sintomas depressivos (citando Hunt e Cohen).Weinberg e cols. (1989) enfatiza que quando depressãoe dificuldades <strong>escolar</strong>es ocorrem em uma mesmacriança, é importante considerar <strong>se</strong> a depressão é primáriae portanto causa da dificuldade <strong>escolar</strong> <strong>ou</strong> <strong>se</strong> é<strong>se</strong>cundária, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, a depressão enquanto resultado dofracasso <strong>escolar</strong>, pois somente depois dessa avaliação épossível a indicação da terapêutica mais apropriada.Em sínte<strong>se</strong>, os estudos descritos sugerem que criançascom dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento<strong>escolar</strong> apre<strong>se</strong>ntam mais sintomas depressivosdo que crianças <strong>se</strong>m dificuldades <strong>escolar</strong>es. O declíniono de<strong>se</strong>mpenho <strong>escolar</strong> ocorre com muita freqüênciana criança deprimida e alguns autores sugerem que es<strong>se</strong>comportamento pode <strong>se</strong>r visto como um sinal <strong>ou</strong> umindicador de distúrbio depressivo (Bandim & cols., 1995).Os dados revelam ainda a complexidade do diagnóstico,a dificuldade de profissionais na identificação de ambosos problemas (depressão e dificuldade de aprendizagem)e a necessidade de um olhar cauteloso e crítico dianteda criança, já que um diagnóstico incorreto implica emorientação, encaminhamento e intervenção inadequada(Colbert & cols.,1982).Reconhecendo os sintomas depressivos na criançaAtualmente, o diagnóstico da depressão na criança éba<strong>se</strong>ado nos critérios de diagnóstico para depressão maiorno adulto, descrito no DSM IV (1994). Segundo es<strong>se</strong>manual a sintomatologia da depressão infantil ainda quepossa <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntar de forma diferenciada e atípica, levando-<strong>se</strong>em consideração variáveis como idade e fa<strong>se</strong>sdo de<strong>se</strong>nvolvimento, os principais sintomas são comuns atodas as idades. No entanto, existem autores que discordamdes<strong>se</strong> ponto de vista, afirmando que a depressão empessoas bem mais jovens pode assumir formas diferentesdo transtorno no adulto (Ajuriaguerra, 1976; Lippi,1985; Rehm & Sharp, 1999; Simões, 1999). Essas manifestaçõesatípicas da sintomatologia depressiva enfatizadapor alguns autores contribuem para o conceito de “depressãomascarada” e equivalente depressivo, o qual sugereque a depressão infantil pode ocorrer, porém é mascaradapor <strong>ou</strong>tros problemas de comportamento comoenure<strong>se</strong>, hiperatividade, insônia, agressividade e ansiedade(Ajuriaguerra, 1976; Simões, 1999; Barbosa & Gaião,2001).De modo geral, um indivíduo com sintomasdepressivos pode vir a apre<strong>se</strong>ntar sérios comprometimentosnas <strong>sua</strong>s relações sociais e familiares, bem comono de<strong>se</strong>nvolvimento cognitivo, <strong>escolar</strong> e emocional(Baptista, 1999). Apesar das controvérsias e dificuldadesno diagnóstico é sabido que a depressão, tanto noadulto como na criança ocorrem alterações no funcionamentodo indivíduo: alterações na forma de pensar,mudanças de humor, de comportamento e alteraçõesorgânicas (White, 1989; Seligman, 1992; Beck, Rush,Shaw, & Emery, 1997).Dentre as alterações na forma de pensar, os estudosrevelam que a criança deprimida, assim como um adultodeprimido, apre<strong>se</strong>nta uma tendência para interpretaros acontecimentos diários de forma negativa,disfuncional, e distorcida da realidade. Os resultados doestudo de McCauley, Burke, Mitchell e Moss (1988)indicaram que as crianças depressivas manifestavamum estilo próprio de pensamento, caracterizado por umavisão pessimista de si e do futuro. Dados <strong>se</strong>melhantesforam encontrados por Kendal, Stark e Adam (1990).Há ainda indícios de que as crianças deprimidas tendema <strong>se</strong>lecionar os eventos negativos de <strong>sua</strong> vida, dand<strong>ou</strong>ma ênfa<strong>se</strong> maior a essas situações negativas, negligenciandoos aspectos positivos dos acontecimentos(White, 1989).Quanto as mudanças de humor, é imprescindível paraum diagnóstico clínico de depressão que a criança, adolescente<strong>ou</strong> adulto apre<strong>se</strong>nte uma alteração no humor.Como ressalta o DSM IV, no caso de uma criança comdepressão, a alteração de humor pode <strong>se</strong> manifestar deformas diferentes, e normalmente <strong>se</strong> revela a partir deum humor irritável, ao invés de tristeza <strong>ou</strong> melancolia.No adolescente, é comum <strong>se</strong>ntimentos de tédio e <strong>se</strong>nsaçãode vazio (White, 1989).As alterações de comportamento são mais comumenteob<strong>se</strong>rvadas em crianças do que em adolescentes e adultos.Os estudos têm sugerido que quanto mais nova umacriança, mais freqüentes são as mudanças de comportamento(Kashani & Carlson, 1987). Entre os comporta-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 77-84


82 Miriam Cruvinel e Evely Boruchovitchmentos ob<strong>se</strong>rvados na criança deprimida estão: cansaço,fadiga, falta de energia e interes<strong>se</strong> pelas atividades diárias,dificuldade para concentrar-<strong>se</strong> e prejuízo nas relaçõessociais. Os problemas orgânicos <strong>ou</strong> somáticos tambémsão mais encontrados em crianças menores. É freqüenteob<strong>se</strong>rvar uma criança deprimida com diminuição <strong>ou</strong> aumentode apetite, mudanças no hábito de sono, lentidãomotora <strong>ou</strong> agitação excessiva. Além des<strong>se</strong>s sintomas, umacriança deprimida pode apre<strong>se</strong>ntar <strong>ou</strong>tros problemassomáticos como dor de cabeça, dores no estômago eenure<strong>se</strong> noturna (Brumback & cols., 1980; Kashani &Carlson, 1987). No estudo de Bandim e cols. (1995) ossintomas de depressão mais comumente encontrados emcrianças foram humor deprimido e perda de peso, <strong>se</strong>guidosde alteração de sono e queda no rendimento <strong>escolar</strong>.Há autores que sugerem uma diferenciação nos sintomasdepressivos quanto ao gênero. Mais precisamente,tristeza e choro são sintomas mais freqüentes nas meninas,enquanto que disforia, ansiedade e irritabilidade ocorremmais nos meninos, já pensamentos pessimistas e queixassomáticas como dor abdominal, cefaléia e náu<strong>se</strong>asocorrem com bastante freqüência nos dois <strong>se</strong>xos(Curatolo, 2001).Tendo em vista a complexidade des<strong>se</strong> fenômeno,reconhecer os sintomas depressivos nas crianças temsido uma tarefa difícil tanto para os pais, quanto para osprofessores, dado a <strong>sua</strong> similaridade com <strong>ou</strong>tras dificuldadescomo hiperatividade, distúrbio de conduta,agressividade, entre <strong>ou</strong>tros (Wright-Strawderman &Watson 1992), bem como devido a comorbidade. Colberte cols. (1982) afirmam que a depressão em criançasnão tem sido reconhecida adequadamente pelos <strong>educ</strong>adores.As crianças acabam <strong>se</strong>ndo freqüentementeidentificadas como tendo um problema específico deaprendizagem. Es<strong>se</strong> desconhecimento dos sintomasdepressivos por parte da escola, <strong>se</strong>m dúvida, acarretaem encaminhamentos, orientações e tratamentosincorretos para es<strong>se</strong>s alunos.A falta de informações de pais e professores sobrea depressão infantil pode contribuir para aumentar asdificuldades dos alunos e inúmeras <strong>se</strong>qüelas emocionaisno futuro. É evidente que família e <strong>educ</strong>adores não estãopreparados para fazer um diagnóstico na criança.Cabe ressaltar que nem é es<strong>se</strong> o papel dos mesmos. Noentanto, disponibilizar um maior conhecimento acercade depressão infantil para pais e professores pode propiciarum olhar mais atento à crianças que apre<strong>se</strong>ntampossíveis sintomas permitindo um encaminhamento oportunoe um diagnóstico mais rápido, o que conduzirá aintervenção adequada, em tempo hábil.Depressão infantil: algumas implicações<strong>educ</strong>acionaisSem a intenção de desconsiderar a gama de aspectosque interferem no processo de aprendizagem,atualmente, não há dúvida que os fatores internos podempromover <strong>ou</strong> inibir o de<strong>se</strong>mpenho <strong>escolar</strong>. Os problema<strong>se</strong>mocionais podem conduzir a futuras formas deinadaptação tanto em nível individual, como em nível<strong>escolar</strong> e social, uma vez que tais dificuldades não sãotão passageiras e leves como antes <strong>se</strong> acreditava <strong>se</strong>r(Fon<strong>se</strong>ca & cols., 1998). Daí a necessidade de, no contexto<strong>educ</strong>acional, <strong>se</strong> olhar o aluno em <strong>sua</strong> totalidade,considerando <strong>sua</strong>s características de personalidade, <strong>se</strong>uestado emocional, <strong>sua</strong>s crenças e cognições frente aaprendizagem (Fierro, 1996).A relação entre depressão infantil e dificuldade deaprendizagem tem recebido atenção especial na literaturainternacional. Livingston (1985) afirma que conheceresta associação pode <strong>se</strong>r muito importante para aquelesque trabalham com crianças que apre<strong>se</strong>ntam dificuldadesde aprendizagem.Colbert e cols. (1982) concluí em <strong>se</strong>u estudo que o professorpossui muita dificuldade para identificar a criançacom sintomas de depressão principalmente devido a <strong>sua</strong>similaridade com <strong>ou</strong>tros problemas, o que contribui paratornar a orientação e encaminhamento mais tardio, o quecertamente prejudica o de<strong>se</strong>nvolvimento da criança. Hátambém aqueles que confundem os dois problemas e terminampor diagnosticar uma criança com depressão comotendo dificuldade de aprendizagem, o que também acarretaem intervenções inadequadas e incorretas.Os sintomas de depressão podem <strong>se</strong> manifestar dediferentes formas no ambiente <strong>escolar</strong>. O professor deveestar alerto a alguns sinais indicativos e pensar na possibilidadede depressão diante de uma criança que revelauma expressão de tristeza, <strong>ou</strong> mudança no nível deatividade, diminuição no rendimento <strong>escolar</strong>, fracassoem terminar <strong>sua</strong>s tarefas <strong>escolar</strong>es, isolamento social,agressividade <strong>ou</strong> verbalizações como: “Eu não possofazer isso” (Livingston, 1985).Ainda não está claro a relação causal entre depressãoe dificuldade de aprendizagem. Mais precisamente,não <strong>se</strong> tem dados científicos suficientes para afirmar <strong>se</strong> adificuldade de aprendizagem é um fator de risco paradepressão <strong>ou</strong> <strong>se</strong> sintomas depressivos acarretariam uma


Depressão infantil: Uma contribuição para a prática <strong>educ</strong>acional 83dificuldade de aprendizagem. A hipóte<strong>se</strong> de que criançascom dificuldade de aprendizagem <strong>se</strong>riam fortes candidatasa depressão é fortemente defendida por Seligman e cols.(apud Hall & Haws, 1989). Uma criança com uma limitaçãocognitiva dificilmente alcança um nível de de<strong>se</strong>mpenhoesperado, não <strong>se</strong>ndo reconhecida e elogiada peloscolegas e professores, ao passo que <strong>se</strong>us amigos recebemreconhecimento e elogios pelo de<strong>se</strong>mpenho alcançado(Hall & Haws, 1989). Na verdade, a criança comdificuldades na escola percebe <strong>sua</strong> dificuldade, pois nãocon<strong>se</strong>gue atingir as <strong>sua</strong>s expectativas e nem as expectativasdos <strong>ou</strong>tros, gerando <strong>se</strong>ntimentos negativos de frustração,inferioridade e incapacidade.Por <strong>ou</strong>tro lado existem autores que acreditam que adepressão pode induzir <strong>ou</strong> piorar uma dificuldade deaprendizagem (Colbert & cols., 1982; Livingston, 1985;Mokros & cols., 1989). Livingston (1985) coloca queessa afirmação poderia <strong>se</strong>r sustentada mediante a confirmaçãode duas hipóte<strong>se</strong>s: a primeira é que existe umarelação temporal entre o início da depressão na criança<strong>se</strong>guido de uma piora <strong>ou</strong> declínio do <strong>se</strong>u rendimento <strong>escolar</strong>.E a <strong>se</strong>gunda, estaria relacionada ao sucesso notratamento da depressão acompanhado pela melhora node<strong>se</strong>mpenho <strong>escolar</strong>. Nes<strong>se</strong> caso, a dificuldade de aprendizagem<strong>se</strong>ria decorrente da falta de interes<strong>se</strong> e energiada criança, falta de atenção e concentração (Colbert &cols., 1982). A dificuldade de aprendizagem consistiriaem uma manifestação da depressão em si, em funçãoda não participação do aluno nas atividades <strong>escolar</strong>es etambém pelos <strong>se</strong>ntimentos negativos de auto-depreciação(Brumback & cols., 1980).Tal discussão <strong>se</strong> revela extremamente relevante poisa relação causal entre es<strong>se</strong>s dois fenômenos conduz aimplicações políticas e <strong>educ</strong>acionais distintas. Apesarde ainda <strong>se</strong> fazer necessário inúmeras pesquisas afimde clarificar essa questão, alguns pontos já são evidentes.Livingston (1985) reforça que os <strong>educ</strong>adoresprecisam estar informados a respeito da depressão infantile que os professores precisam ficar atentos aalguns sinais apre<strong>se</strong>ntados pela criança e sugere aindao de<strong>se</strong>nvolvimento de mais pesquisas na área.Quanto a população brasileira ainda existem muitaslacunas e dúvidas. Diante des<strong>se</strong> quadro, faz-<strong>se</strong> necessáriocada vez mais pesquisas que aumentem o conhecimentoacerca da incidência da depressão infantil no Brasil eprincipalmente que dados provenientes de estudos maissistemáticos <strong>se</strong>jam traduzidos em informações úteis a <strong>se</strong>remcompartilhadas com <strong>educ</strong>adores, pois somente assim estesterão as ferramentas necessárias para melhor compreendera depressão e <strong>sua</strong>s relações com a aprendizagem. Alémdisso, acredita-<strong>se</strong> que o fato de <strong>se</strong> conhecer melhor adepressão infantil e <strong>sua</strong>s características, possibilita oencaminhamento precoce, bem como uma atuaçãopreventiva por parte daqueles envolvidos com a criança.REFERÊNCIASAjuriaguerra, J. (1976). Manual de Psiquiatria Infantil. Riode Janeiro: Masson do Brasil.Amaral, V. L. A R., & Barbosa, M. K. (1990). Crianças vítimasde queimaduras: um estudo sobre a depressão. 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<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96A CONSTRUÇÃO DA SERIAÇÃO AUDITIVA: UMA ANÁLISE ATRAVÉSDA METODOLOGIA CLÍNICAPatrícia Fernanda Carmem Kebach 1ResumoEsta pesquisa procura compreender a construção do conhecimento musical relacionado ao parâmetro sonoro altura, através da diferenciaçãode intervalos de notas e <strong>se</strong>riação auditiva da escala temperada. Os fundamentos teóricos encontram-<strong>se</strong> na epistemologia genética piagetiana. <strong>Para</strong>essa ob<strong>se</strong>rvação, 18 sujeitos com idade entre quatro e 12 anos foram entrevistadas através de provas de <strong>se</strong>riação ba<strong>se</strong>adas no método clínico dePiaget, utilizadas como referência metodológica. Os resultados confirmam a hipóte<strong>se</strong> inicial: a construção do conhecimento musical ocorre deforma homóloga aos níveis investigados pela Escola de Genebra para <strong>ou</strong>tros objetos de conhecimento. Além da confirmação dessa hipóte<strong>se</strong>, anovidade desta pesquisa está em utilizar a metodologia clínica e uma concepção interacionista sobre a produção do conhecimento musical.Palavras-chave: Cognição; Método clínico; Música; Seriação.THE CONSTRUCTION OF THE HEARING SERIATION: AN ANALYSIS THROUGH CLINICAL METHODOLOGYAbstractThis re<strong>se</strong>arch shall cover the construction of the musical knowledge relating to the s<strong>ou</strong>nd parameter pitch, thr<strong>ou</strong>gh the differentiation ofintervals of notes and the hearing <strong>se</strong>riation of the temperate scale. The theoretical f<strong>ou</strong>ndations are to be f<strong>ou</strong>nd in the genetic epistemology ofPiaget. For this ob<strong>se</strong>rvation, 18 subjects with age between 4 and 12 years are re<strong>se</strong>arched thr<strong>ou</strong>gh the tests of <strong>se</strong>riation ba<strong>se</strong>d on the clinicalmethodology of Piaget, u<strong>se</strong>d like methodological reference. The results confirmed the initial hypothesis: the construction of musical knowledgeoccurs in a form homolog<strong>ou</strong>s to the levels investigated by the School of Geneva for other objects of knowledge. In addition to this confirmation,the novelty of this re<strong>se</strong>arch is in the u<strong>se</strong> of the clinical methodology and of an interactionist conception concerning the production of musicalknowledge.Key words: Musical knowledge; Clinical methodology; Hearing <strong>se</strong>riation.INTRODUÇÃONesta pesquisa, o problema que <strong>se</strong> pretende exporé o de<strong>se</strong>nvolvimento musical da criança ligado aoparâmetro sonoro altura, através da diferenciação deintervalos tonais e da <strong>se</strong>riação auditiva da escala musicaltemperada por crianças de quatro a 12 anos. Utiliza-<strong>se</strong>como referência metodológica, as provas de<strong>se</strong>riação criadas por Piaget e Szeminska (1972), os trabalhospráticos em epistemologia genética realizadospor Bovet (1999, 2000) e também a pesquisa de BarceloI Ginard (1988), sobre as estratégias de construção ebuscas sonoras associadas à <strong>se</strong>riação da escala musical.Procura-<strong>se</strong> analisar os resultados desta pesquisaob<strong>se</strong>rvando o tipo de abstração, <strong>se</strong>gundo os conceitosde Piaget (1995) para as abstrações empírica,reflexionante, p<strong>se</strong>udo-empírica e refletida - feitapelos 18 sujeitos entrevistados durante a realização dasprovas clínicas propostas, e também relacionando a trêsníveis de de<strong>se</strong>nvolvimento: pré-operatório (nível I);um nível mais avançado do pré-operatório que é chamadoaqui de intuitivo (nível II), em que a criançaraciocina por meio do pensamento transdutivo e operatório(nível III). A análi<strong>se</strong> dos dados relacionada aes<strong>se</strong>s níveis de de<strong>se</strong>nvolvimento é importante paraacompanhar o processo de evolução cognitiva do sujeito,enquanto a análi<strong>se</strong> do tipo de abstração feita pelosujeito na busca da solução dos problemas propostos,coloca em evidência os mecanismos profundos da construçãodes<strong>se</strong> conhecimento.1Programa de Pós Graduação em Educação da UFRGS.


86 Patrícia Fernanda Carmem KebachOs resultados confirmam a hipóte<strong>se</strong> inicial: a construçãodo conhecimento musical ocorre de forma homólogaaos níveis investigados pela Escola de Genebra para <strong>ou</strong>trosobjetos de conhecimento. Além da confirmação dessahipóte<strong>se</strong>, a novidade desta pesquisa está em utilizar ametodologia clínica e uma concepção interacionista sobrea produção do conhecimento musical.As Pesquisas na Área de Música e CogniçãoA epistemologia genética possui p<strong>ou</strong>cos estudos dedicadosà análi<strong>se</strong> da construção do conhecimento musical.Dentre eles, destacam-<strong>se</strong> as pesquisas francesasde Delalande (1982), S<strong>ou</strong>las (1990), Noi<strong>se</strong>tte (1997),Agosti-Gherban (2000) e as brasileiras de Beyer (1988,1994, 1995), Gobbi (1999), Lazzarin (1999), Bellochio(2000) e Maffioletti (2002). Apesar de possuírem umfoco teórico diferenciado, <strong>ou</strong>tros pesquisadores brasileiroscontribuem de forma importante para a área dode<strong>se</strong>nvolvimento musical por meio do estudo das mudançasparadigmáticas que vêm ocorrendo aos p<strong>ou</strong>cosno ensino de música (Koellreutter, 1997; Campos, 2000;Brito, 2001). Todos es<strong>se</strong>s pesquisadores têm em comumo reconhecimento da interdependência existente entreorganismo e meio nos processos de estruturação do pensamento.Muitos deles reconhecem a importância de <strong>se</strong>levar em conta as estruturas mentais que o sujeito possuino momento em que procura estruturar o objetomusical com o qual interage. Como diz Koellreutter (apudBrito, 2001) “é preciso aprender a apreender do aluno oque ensinar” (p. 31). Mas, de que modo <strong>se</strong> pode saber oque o sujeito conhece sobre a música para que <strong>se</strong> possaproporcionar a ele situações que o orientem e desafiema ampliar <strong>se</strong>u conhecimento musical? Nesta pesquisa,propõe-<strong>se</strong> que o método clínico é uma ferramenta indispensávelpara a ob<strong>se</strong>rvação de um certo estado de de<strong>se</strong>nvolvimentoe da estruturação do pensamento dossujeitos pesquisados em relação à música.A criação de provas musicais ba<strong>se</strong>adas no métodoclínico piagetiano para analisar o de<strong>se</strong>nvolvimentocognitivo referente à música, é raramente encontrada.Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, a formulação de provas clínicas parauma teoria geral sobre o de<strong>se</strong>nvolvimento musical ébastante importante, não só para a criação de umaepistemologia genética referente especificamente àmúsica, mas também para a construção de uma pedagogiarelacional, onde o conhecimento é construído pormeio da interação entre aluno e professor, entre sujeitoe objeto a <strong>se</strong>r aprendido.Procedimentos Metodológicos para a Criação,Aplicação e Ob<strong>se</strong>rvação da Prova Clínica<strong>Para</strong> a ob<strong>se</strong>rvação da construção da escala temperada,que é o objeto desta pesquisa, cri<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> uma provaclínica (Kebach, 2003) ba<strong>se</strong>ada nas experiências de<strong>se</strong>riação realizadas por Piaget e Szeminska (1972). Na<strong>se</strong>xperiências des<strong>se</strong>s autores, a metodologia concerne aométodo clínico, em que o experimentador ob<strong>se</strong>rva osaspectos do funcionamento e estruturação da mente dacriança no momento em que procura organizar os objetos(nes<strong>se</strong> caso, os sons) sobre os quais age, atribuindo aeles um <strong>se</strong>ntido por meio da <strong>sua</strong> ação e verbalização de<strong>se</strong>us atos. Assim, pode-<strong>se</strong> dizer que o método clínico <strong>se</strong>traduz pelo procedimento, inicialmente, de coleta de dados,por meio da proposição de determinadas tarefas eexecução destas pelas crianças, em que oexperimentador ob<strong>se</strong>rva as ações e conversa livrementecom a criança, a propósito da tarefa executada, para<strong>se</strong>guir <strong>se</strong>u pensamento e, posteriormente, analisa es<strong>se</strong>sdados, que devem <strong>se</strong>r registrados (por meio de gravadores,vídeos, anotações etc.), a partir de uma determinadateoria.Antes de realizar esta pesquisa, uma pesquisaexploratória foi realizada (Kebach, 2002), cujas provasforam ba<strong>se</strong>adas na entrevista clínica. Procur<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>, comessa metodologia, resgatar o universo cognitivo musicalespontâneo das crianças, particularmente <strong>sua</strong>s formasde repre<strong>se</strong>ntação verbal. Tinha-<strong>se</strong> a hipóte<strong>se</strong> de que issonão <strong>se</strong>ria suficiente para compreender o pensamentoda criança sobre o objeto musical, pois não foi realizadaa ob<strong>se</strong>rvação do fazer. Com a entrevista, apenas foramob<strong>se</strong>rvadas as verbalizações das crianças e, apesar daexperiência ter sido dirigida com hipóte<strong>se</strong>s pré-determinadas,apareceram aspectos espontâneos nas respostas,como, por exemplo, parâmetros musicais que nãohaviam sido sugeridos, e que as crianças já possuíamesquemas conscientes <strong>ou</strong> inconscientes para mencionarnas entrevistas (intensidade e duração, por exemplo).Encontraram-<strong>se</strong> também as expressões que as criançasusam para diferenciar as alturas das notas (grosso/fino,alto/baixo). Essas constatações sobre o universoverbal das crianças obtidas na entrevista clínica foramindispensáveis no momento de aplicar as provassobre o parâmetro sonoro altura, que consiste na diferenciaçãode sons graves e agudos.<strong>Para</strong> realizar as experiências que <strong>se</strong>rão abordadasneste artigo, utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> o método clínico (a sínte<strong>se</strong> entrea ob<strong>se</strong>rvação clínica e a entrevista clínica) na criação e


A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 87aplicação das provas, com o intuito de verificar não somenteos aspectos verbo-conceptuais dos sujeitos entrevistados,mas também <strong>sua</strong>s ações concretas sobre oobjeto a <strong>se</strong>r estruturado. Des<strong>se</strong> modo, foi possível verificar,então, os <strong>se</strong>guintes aspectos: as ações concreta<strong>se</strong> mentais dos sujeitos (ao compararem alturas de sonsdiferentes e ao construírem a <strong>se</strong>riação da escala musical)e a verbalização dessas ações.Especificamente no campo da música, as referênciasmetodológicas estão situadas na pesquisa de BarceloI Ginard (1988) sobre a <strong>se</strong>riação de notas da escalamusical, visando a verificação da capacidade de diferenciaçãodos sujeitos no que <strong>se</strong> refere ao parâmetroaltura. Segundo es<strong>se</strong> autor, o modo mais corriqueiro dascrianças construírem uma escala musical é através da<strong>se</strong>riação, em que comparam auditivamente o materialproposto. Nos níveis inferiores de de<strong>se</strong>nvolvimento, ascrianças <strong>se</strong>rvir-<strong>se</strong>-iam do jogo de tentativas à espera deum som global definitivo para formar uma escala musical,por meio da percepção sonora, modificando a colocaçãodas notas sucessivamente. Es<strong>se</strong> tipo de exploraçãoé chamado pelo autor de intuição sonora. No níveldas operações formais, a audição interior levariaaos intervalos, <strong>ou</strong> distâncias relativas do som, nas quaispreponderam as construções da escala. Por isso, dificilmente,alguém, que não tenha uma construção musicalbem sólida, con<strong>se</strong>guirá chegar a es<strong>se</strong> patamar. Portanto,o modo mais utilizado pelas crianças que Barcelo IGinard (1988) pesquis<strong>ou</strong> foi a comparação auditiva dossons, devido ao fato de que tais sujeitos pertenciam, na<strong>sua</strong> grande maioria, à faixa etária preponderante no níveloperatório concreto, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, de <strong>se</strong>is/<strong>se</strong>te a 11/12anos. Es<strong>se</strong>s sujeitos também freqüentavam escolas demúsica. Os 18 sujeitos desta pesquisa não freqüentaramaulas de música e, apesar de pertencerem a uma faixaetária <strong>se</strong>melhante (quatro a 12 anos), e de lhes <strong>se</strong>rsugerida a construção por meio da comparação dos sons,utilizaram, preponderantemente, a intuição sonora paraconstruírem a escala. Es<strong>se</strong> tipo de construção foi encaradocomo uma ação espontânea do sujeito. Como jáera de <strong>se</strong> esperar, nenhum sujeito construiu <strong>sua</strong> escalapor meio da audição interior.Antes de iniciar a prova da <strong>se</strong>riação, verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> acapacidade de diferenciação dos sujeitos referente aoparâmetro altura, propondo a eles a oposição entre notasgraves e agudas, primeiro através de intervalos tonaisgrandes, depois de intervalos de um tom. A variaçãoda altura corresponde à identificação das variaçõesde graves e agudos na música. Verific<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> que qua<strong>se</strong>todas as crianças possuem essa diferenciação no quediz respeito aos intervalos grandes, mas atrapalham-<strong>se</strong>na identificação do que <strong>se</strong>ria o som mais grave e o maisagudo, quando o intervalo tonal é próximo. De qualquermodo, aplicaram-<strong>se</strong> as provas, todas até o final, com os18 sujeitos pesquisados, com a intenção de avaliar a tomadade consciência <strong>ou</strong> a ausência durante a realizaçãodas provas (Piaget, 1974).Procur<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> sistematizar as provas já aplicadas porBarcelo I Ginard (1988), de modo a <strong>se</strong>r fiel ao métodoclínico, com ba<strong>se</strong> nas provas de <strong>se</strong>riação explicitadasnos trabalhos práticos em epistemologia genética realizadosna Universidade de Genebra, no curso oferecidopor Magali Bovet (1999, 2000). Segundo essa pesquisadora,nas provas de <strong>se</strong>riação, a verbalização é reduzida,pois aqui o mais importante é anotar com muita precisãoas ações da criança durante <strong>sua</strong>s construções e in<strong>se</strong>rções:tentativas, comparações, correções, etc.Conceitos Utilizados para a Análi<strong>se</strong> dos DadosOs sujeitos retiram as propriedades dos objetos <strong>ou</strong>da coordenação de <strong>sua</strong>s ações sobre os objetos atravésde abstrações. Por meio de <strong>se</strong>us instrumentos de assimilação,o sujeito poderá <strong>ou</strong> não fazer relações, estabelecersignificados, etc. Assim, “O processo do conhecimentoestá restrito ao que o sujeito pode retirar, isto é,assimilar, dos ob<strong>se</strong>rváveis <strong>ou</strong> dos não-ob<strong>se</strong>rváveis, numdeterminado momento.” (Becker, 2001 p.47).<strong>Para</strong> <strong>se</strong> compreender os conceitos que foram utilizadosna análi<strong>se</strong> dos protocolos recolhidos, referentes àabstração empírica, abstração reflexionante,abstração p<strong>se</strong>udo-empírica e a abstração refletida,é importante, aqui, retomar tais conceitos. Piaget (1995)no <strong>se</strong>u livro “Abstração Reflexionante” em <strong>sua</strong>s conclusõesgerais, retoma, de forma sucinta, os quatro tiposde abstrações utilizadas pelos sujeitos para abstrair dosobjetos ações em <strong>sua</strong>s características materiais <strong>ou</strong> dascoordenações das ações deles mesmos, sobre os objetos,<strong>sua</strong>s propriedades: “a abstração “empírica” (empirique)tira <strong>sua</strong>s informações dos objetos como tais, <strong>ou</strong> das açõesdo sujeito sobre <strong>sua</strong>s características materiais; de modogeral, pois, dos ob<strong>se</strong>rváveis, ao passo que a abstração“reflexionante” (réfléchissante) apóia-<strong>se</strong> sobre as coordenaçõesdas ações do sujeito, podendo estas coordenações,e o próprio processo reflexionante, permanecerinconscientes, <strong>ou</strong> dar lugar a tomadas de consciênciae conceituações variadas. Quando o objeto é modi-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96


88 Patrícia Fernanda Carmem Kebachficado pelas ações do sujeito e enriquecido por propriedadestiradas de <strong>sua</strong>s coordenações ( p. ex., ao ordenarelementos de um conjunto), a abstração apoiada sobretais propriedades é chamada “p<strong>se</strong>udo-empírica”(p<strong>se</strong>udo-empirique), porque, ao agir sobre o objeto esobre <strong>se</strong>us ob<strong>se</strong>rváveis atuais, como na abstraçãoempírica, as constatações atingem, de fato, os produtosda coordenação das ações do sujeito: trata-<strong>se</strong>, pois, deum caso particular de abstração reflexionante e, de nenhummodo, de uma decorrência da abstração empírica.Finalmente, chamamos de abstração “refletida”(réflechie) o resultado de uma abstração reflexionante,assim que <strong>se</strong> torna consciente, e, isto, independente de<strong>se</strong>u nível” (p. 274).Verifica-<strong>se</strong>, então que a marcha predominante naevolução dos processos cognitivos depende daabstração reflexionante, pois é esta que vai transferirpara um plano superior o que foi tirado de um nívelinferior da atividade des<strong>se</strong> sujeito. Essa evolução édirigida por uma lei de equilíbrio entre as diferenciaçõe<strong>se</strong> as integrações. Ob<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong>, nes<strong>se</strong> caso, queas diferenciações são resultantes do que Piaget (1995)chama de reflexionamento, característico dasabstrações reflexionantes, que consiste no processoque retira de um nível inferior determinadas ligações,que são explícita <strong>ou</strong> implicitamente empregadas, <strong>ou</strong>implicadas <strong>se</strong>m <strong>se</strong>rem notadas, e as transforma emobjetos do pensamento do nível que chega depois. Asintegrações resultam das reflexões, que são reorganizaçõesnecessárias sobre es<strong>se</strong> nível posterior, enriquecidopela introdução dos novos objetos de pensamentoque ainda não haviam sido considerados até omomento. A reflexão é necessariamentegeneralizadora devido ao fato de <strong>se</strong> apoiar sobre umatotalidade mais ampla criada pelo sujeito (Piaget, 1995p 28).Analisando os protocolos de modo a ob<strong>se</strong>rvar asabstrações utilizadas na realização das provas, verifica<strong>se</strong>de que forma a criança realiz<strong>ou</strong> <strong>sua</strong> ação, isto é, <strong>se</strong>foi apoiada sobre a abstração empírica, em que a criançaapenas retira as características ob<strong>se</strong>rváveis dosobjetos, <strong>ou</strong> sobre a abstração reflexionante, em que acriança con<strong>se</strong>gue coordenar <strong>sua</strong>s ações debruçando-<strong>se</strong>sobre si mesma e, inconsciente <strong>ou</strong> conscientemente, levaem conta essas coordenações e relações estabelecidas.Por meio da verbalização daquilo que fez, a criança poderá,<strong>ou</strong> não, apropriar-<strong>se</strong> de <strong>sua</strong> ação e re-organizar<strong>se</strong>u pensamento.Sob essa ótica, os sujeitos do Nível I são os que <strong>se</strong>apóiam basicamente sobre simples abstrações empíricas,não coordenando <strong>sua</strong>s próprias ações, por não possuiresquemas básicos de ação para significar a problemáticaproposta, encontrando-<strong>se</strong>, assim, no estágio pré-operatóriode de<strong>se</strong>nvolvimento, por não con<strong>se</strong>rvarem asabstrações feitas sobre o objeto.Os sujeitos do Nível II são aqueles que estão de talforma centrado nos ob<strong>se</strong>rváveis do objeto, dito de <strong>ou</strong>traforma, nas características perceptíveis do objeto, que<strong>se</strong> centram em apenas uma característica do objeto a<strong>se</strong>r estruturado, <strong>se</strong>m coordenar pontos de vista, não con<strong>se</strong>guindoestabelecer relações lógicas no momento emque procuram solucionar os problemas propostos, o quecaracteriza o pensamento transdutivo, próprio do estágiointuitivo (fa<strong>se</strong> intermediária entre o pré-operatório eo operatório), em que a criança estabelece apenas relaçõesdo particular para o particular, dentre os elemento<strong>se</strong>m jogo. Frente a qualquer contra-argumento, os sujeitosdes<strong>se</strong> nível de de<strong>se</strong>nvolvimento não mantêm a soluçãocorreta para o problema em função da ausência dereversibilidade e generalização do conhecimento, encontrando-<strong>se</strong>,assim, no nível intermediário entre o préoperatórioe o operatório, porém ainda pré-operam.A origem da operação está no processo deinteriorizar a organização das próprias ações, não nos<strong>se</strong>us efeitos (Becker, 2001). Portanto, o sujeito operatório(Nível III) é aquele que possui essa capacidade deorganizar as próprias ações, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, aquele que <strong>se</strong> apropriados mecanismos íntimos de <strong>sua</strong>s ações. Os exemplosdes<strong>se</strong>s três níveis de de<strong>se</strong>nvolvimento estão explícitosna análi<strong>se</strong> dos protocolos das provas clínicas sobreo parâmetro sonoro altura.Análi<strong>se</strong> dos Protocolos<strong>Para</strong> <strong>se</strong> demonstrar de que modo foram realizadas eanalisadas as provas clínicas, estão descritos aqui algunsprotocolos que foram pegos como exemplo parademonstrar os níveis de de<strong>se</strong>nvolvimento dos sujeitospesquisados. Neles, as falas do experimentador estarãoescritas em letras não grifadas. As falas da criança emitálico. As ações de ambos estão <strong>se</strong>mpre entre parênte<strong>se</strong>s.Utiliza-<strong>se</strong>, como Piaget (1995), somente as três primeirasletras do nome dos sujeitos e, logo após o nome,a idade de cada um entre parênte<strong>se</strong>s.O material utilizado para estas provas foram oito sinos,formando a escala de dó (dó grave, ré, mi, fá, sol,lá, si, e dó agudo) todos de formato idêntico, para que


A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 89não h<strong>ou</strong>ves<strong>se</strong> a possibilidade da criança <strong>se</strong> centrar nosaspectos vi<strong>sua</strong>is dos sinos, e sim no som destes.Prova para a Verificação da Diferenciação de IntervalosTonais GrandesNessa prova, dos dezoito sujeitos entrevistados, apenaso sujeito ISA (4,10) pré-oper<strong>ou</strong>, demonstrando-<strong>se</strong>encontrar no Nível II. Nenhum sujeito respondeu demodo completamente pré-operatório (Nível I). Todos os<strong>ou</strong>tros, a partir dos 5 anos, responderam à diferenciaçãode intervalos grandes corretamente (Nível III). Essaprova consiste na diferenciação da oposição agudo Xgrave, através da comparação, primeiramente espontânea,depois sugerida, de intervalos distantes da escalamusical.Nível II – ISA (4,10) – Aqui, nós temos um montede sininhos. Toca eles para você ver como eles são (acriança toca os sinos). Como é o som destes sinos? Éigual...diferente...? – Diferente. – Este (toco o dó agudo)e este (toco o dó grave) são como? – Um é diferentedo <strong>ou</strong>tro. – Eles são grossos <strong>ou</strong> finos, estes sons,<strong>ou</strong> não? Tem algum grosso e algum fino? – Eu achoque não. – Mas você me dis<strong>se</strong> que eles são diferentes!Como é que eles são, então? – Hum...Grossos. – Eeste aqui (toco o dó grave) é grosso também <strong>ou</strong> é fino?– Grosso também.A criança diferenci<strong>ou</strong> os sinos de modo intuitivo, retirandodos objetos (sinos) <strong>sua</strong>s características sonorasde modo geral, estabelecendo uma relação transdutiva,em que uma característica do objeto é pega para explicar<strong>sua</strong> totalidade, respondendo que, apesar de <strong>se</strong>remdiferentes, todos são “grossos”. ISA não con<strong>se</strong>gue sabero que os torna diferentes, pois não possui instrumentossuficientes de assimilação. A criança, assim,apenas percebe que existem diferenças entre os distintossinos, porém não con<strong>se</strong>gue explicá-las, justamenteporque, apesar de lhe <strong>se</strong>r sugerido, não con<strong>se</strong>gue diferenciarum som grave de um agudo. Eis o exemplo deresposta operatória:Nível III – LUC (11,0) – Eu tenho estes sinos aqui equero que você os toque para ver <strong>se</strong> eles são iguais <strong>ou</strong>diferentes. – (a criança toca os sinos) Tem uns que sã<strong>ou</strong>m p<strong>ou</strong>co mais finos e <strong>ou</strong>tros um p<strong>ou</strong>co mais grossos.– Qual é grosso? – (toca alguns sinos e <strong>se</strong>para odó grave) Este. – E fino? – Este (toca lá).A criança, nes<strong>se</strong> caso, relacion<strong>ou</strong> o som dos sinos<strong>se</strong>m que precisas<strong>se</strong> <strong>se</strong>r demandada sobre o fato. Utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>da abstração p<strong>se</strong>udo-empírica, por meio da comparaçãodos sons, e cheg<strong>ou</strong> à conclusão (abstraçãorefletida) de que alguns possuíam os sons mais graves e<strong>ou</strong>tros mais agudos. Desconhecendo essa denominação,utiliz<strong>ou</strong> o vocabulário espontâneo: grossos (graves) e finos(agudos), <strong>se</strong>m que lhe fos<strong>se</strong> sugerido. Confirm<strong>ou</strong><strong>se</strong>u conhecimento sobre a distinção entre graves e agudos,entregando os sinos corretamente: o dó correspondeuao grave, entregando o sino correspondente à nota maisgrave da escala e lá (um intervalo de <strong>se</strong>xta) o exemplode uma nota mais aguda. Essa primeira operatoriedadenão garante que a criança consiga <strong>se</strong>riar toda a escala.Ela apenas está estabelecendo uma relação entre doissinos, e não, entre um e todos os <strong>ou</strong>tros. LUC realmentenão con<strong>se</strong>gue <strong>se</strong>riar a escala de modo operatório.Prova para a Verificação da Diferenciação deIntervalo de Um TomNessa prova, nenhum sujeito demonstr<strong>ou</strong> <strong>se</strong>r intuitivo.Frente aos contra-argumentos, <strong>ou</strong> permaneciam noNível I, trocando os sons (grave=fino; agudo=grosso), <strong>ou</strong>tomavam consciência (Nível III) de qual som era o grave,e qual era o agudo. <strong>Para</strong> a ob<strong>se</strong>rvação dessa diferenciaçãoentre grave e agudo, propôs-<strong>se</strong> o intervalo de umtom apenas. A média de idade de crianças pré-operatóriasfic<strong>ou</strong> em torno dos 7 anos. Eis um exemplo:Nível I – PAB (5,0) – Destes dois sinos aqui (toco odó grave e o ré), qual é o mais grosso e qual o maisfino? – (a criança toca os sinos para comparar) Este(ré) é o mais grosso. – E este (toco o dó grave)? – Éo mais fininho (com convicção). – Teve um menino queme dis<strong>se</strong> que este (toco o dó grave) era o mais grosso,e este (toco o ré) era o mais fino. Ele tem razão <strong>ou</strong> não?– Não. Este (ré) é mais grosso do que aquele ali(pega o lá e toca). – Ah! Do que o anterior! Mas entreestes dois (toco novamente o dó grave e o ré), qual é omais grosso? – Este (ré). – E este (dó grave)? – Ump<strong>ou</strong>quinho mais fino.O sujeito PAB, mesmo frente ao contra-argumentoproposto, demonstra <strong>se</strong>r pré-operatório na distinção entregrave e agudo. Apesar de ter diferenciadocorretamente um intervalo mais distante, ainda não construiuesquemas auditivos suficientes para diferenciar umintervalo pequeno de som. Nes<strong>se</strong> caso, embora percebauma diferença mínima, os instrumentos de assimilaçãode que dispõe não são suficientes para o estabelecimentode relação operatória. Beyer (1995) sugere quepossa haver alguma inversão nes<strong>se</strong> tipo de resposta, naqual a criança con<strong>se</strong>rva a noção de graves e agudos demodo invertido, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, as notas mais graves são toma-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96


90 Patrícia Fernanda Carmem Kebachdas pelas mais agudas e vice-versa. Nes<strong>se</strong> caso, ascrianças já estariam num nível mais adiantado de de<strong>se</strong>nvolvimentodo pré-operatório, isto é, no intuitivo. Porém,es<strong>se</strong> não é o caso de PAB, pois ele não con<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong>a inversão nas provas posteriores. A média de idadedos sujeitos que operaram nessa prova fic<strong>ou</strong> em tornodos 9,5 anos.Nível III – MAU (10,1) – E entre estes dois sinosaqui (toco o dó grave e o ré) qual é o fino e qual ogrosso? – Este aqui (dó grave) é o mais fino. – Masum menino me dis<strong>se</strong> que este (toco o ré) é mais fino doque es<strong>se</strong> (toco novamente o dó grave). O que tu achas?Ele tem razão, <strong>ou</strong> não? – ... (a criança pensa) – Qual éo mais grosso e qual o mais fino? (toco os dois maisuma vez) – Este (toca o dó grave) é o mais grosso eeste (toca o ré) o mais fino. – Mas antes você dis<strong>se</strong> ocontrário? – Não (ri). Este (dó grave) é o grosso eeste (ré) é o fino. – Tem certeza? – Tenho.No exemplo acima, o sujeito MAU, tom<strong>ou</strong> consciênciade qual era a nota mais grave e a mais aguda,durante a realização da prova, ao <strong>ou</strong>vir várias vezes osom dos dois sinos. Es<strong>se</strong> é um caso típico de abstraçãop<strong>se</strong>udo-empírica, em que a criança precisa <strong>se</strong> apoiarsobre a audição do som dos sinos, para compará-losvárias vezes, até obter a certeza de <strong>sua</strong> resposta. Comprov<strong>ou</strong>ainda <strong>sua</strong> tomada de consciência na prova dein<strong>se</strong>rção de uma nota na escala, na qual localiz<strong>ou</strong>corretamente o local do sino que <strong>se</strong> havia deixado delado, no momento em que <strong>se</strong> construiu a escala temperadade modo ascendente, para que ele in<strong>se</strong>ris<strong>se</strong> es<strong>se</strong>sino, completando a escala.In<strong>se</strong>rção de Um Sino na Escala Semi-ProntaEssa prova consistiu na introdução, pela criança, deuma nota que foi retirada da escala, em que o materialutilizado foram também os sinos, dispostos em uma fileira,do mais grave ao mais agudo, cujos espaços vi<strong>sua</strong>i<strong>se</strong>ntre eles deveriam <strong>se</strong>r iguais para que a criançanão tentas<strong>se</strong> adivinhar vi<strong>sua</strong>lmente o lugar correto dosino retirado.Os sujeitos pré-operatórios procuraram o lugar dosino vi<strong>sua</strong>lmente, tentando achar alguma diferença entreos espaços deixados entre os sinos. Outros não con<strong>se</strong>guiramcomparar o som da nota que foi retirada comos demais sinos.Nível I – JES (7,3) – Vira de costas que eu v<strong>ou</strong>montar os sinos do jeito que eu acho que fica bom domais fino ao mais grosso (monto a escala e deixo o fáde lado). Pode olhar. Aqui está do mais grosso ao maisfino, e eu quero que você encontre o lugar certo destesino (fá) entre os <strong>ou</strong>tros, para que a minha fileira continuedo mais grosso ao mais fino. – Tá (toca o fá ecoloca depois do si). – Por que você escolheu este lugarpara ele? – Porque eu acho que ele vai aí. – Comoé que você sabe? – ... – Então, vamos tocar todos paraver <strong>se</strong> está certo (toco todos). Está certo aí? – ... –Como é este (si), em relação a este (fá)? É mais grosso<strong>ou</strong> mais fino? – É este aqui (si) o mais fino. – Eu dis<strong>se</strong>para você deixar do mais grosso ao mais fino. Se este(si) é fino e este (fá) é grosso, ele está correto aqui? –Não. – Então, procura um lugar para ele. Pode tocar os<strong>ou</strong>tros. – (coloca depois do dó <strong>se</strong>m fazer comparações,simplesmente olhando) – Como é que você fez parasaber que era aí? – (a criança ri) – Você pode mexerneles para comparar. – (toca todos) – Você acha queestá certo aí, <strong>ou</strong> não? – Acho que sim.O sujeito JES, apesar de lhe <strong>se</strong>r sugerida a comparaçãoauditiva, e de responder corretamente que si émais agudo que fá, centr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> sobre as característicasvi<strong>sua</strong>is dos sinos, procurando empiricamente o lugarcorreto para a nota, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, por meio de <strong>sua</strong>s percepçõesvi<strong>sua</strong>is. JES faz, portanto, uma leitura <strong>se</strong>m nenhumacompreensão dos fatos. Entre es<strong>se</strong> tipo de leitura eo nível de compreensão, através da descoberta da razãopara o lugar adequado do sino, existe uma etapaintermediária. Nessa etapa (Nível II) , a criança sabede que modo deve procurar (via comparação dos sinos),porém resta encontrar o lugar correto. O sujeitointuitivo aproxima-<strong>se</strong> muito do lugar correto da nota naescala, mas não possui esquemas suficientes para diferenciarintervalos pequenos. No caso do exemplo abaixo,a diferença (entre mi e fá) é de apenas meio tom.Nível II – MIC (10,8) – V<strong>ou</strong> fazer a minha carreirae v<strong>ou</strong> pedir para você colocar um sino no meio dos <strong>ou</strong>tros(monto a escala <strong>se</strong>m o mi). Pode virar. Aqui estádo mais grosso ao mais fino. Onde este sino deve <strong>se</strong>rcolocado, para que permaneça assim, do mais grossoao mais fino? (entrego o sino para a criança) – (tocavárias vezes o mi e tenta adivinhar vi<strong>sua</strong>lmente o lugarcorreto) – Você pode escutar o som dos <strong>ou</strong>tros sinos,não precisa adivinhar! – (toca todos e coloca depois defá) – (toco toda a <strong>se</strong>qüência) Está certo neste lugar, <strong>ou</strong>não? – Está. – Como é este (mi) em relação a este(fá)? – Um p<strong>ou</strong>quinho mais fino.A percepção está pre<strong>se</strong>nte desde o princípio dessaprova, no exemplo acima. MIC procura o lugar do sino


A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 91primeiramente de modo vi<strong>sua</strong>l. Depois, quando lhe ésugerido um <strong>ou</strong>tro modo de busca (escutar os sons),aproxima-<strong>se</strong> muito da resposta correta, comparando osom do sino que lhe foi entregue com os <strong>ou</strong>tros (abstraçãoreflexionante/p<strong>se</strong>udo-empírica), mas é traída novamentepor <strong>sua</strong> percepção, desta vez, auditiva, por não possuiresquemas suficientes de diferenciação de intervalospequenos (nes<strong>se</strong> caso, de apenas meio tom).Nessa prova, muitas crianças foram operatórias. Amédia de idade deste nível, foi 9,5. A hipóte<strong>se</strong> para es<strong>se</strong>fato é a de que h<strong>ou</strong>ve maior facilidade de comparaçãodos sons, tendo em vista que a escala já <strong>se</strong> encontravaqua<strong>se</strong> pronta (apenas faltando uma nota). A relação deuma nota com todas as <strong>ou</strong>tras já dispostas de modo corretolev<strong>ou</strong> as crianças operatórias ao êxito através deabstrações p<strong>se</strong>udo-empíricas, em que, no caso operatório,foi necessário fazer a comparação dessa nota comtodas as <strong>ou</strong>tras.Nível III – CAR (11,1) – V<strong>ou</strong> montar a minha escalae tirar um sino. Vira de costas (monto e tiro o mi).Pode olhar. Coloca este sino no lugar certo para queeles continuem do mais grosso ao mais fino. – (comparao mi com cada um e pára no fá, colocando mi nolocal certo, antes do fá) – Como é que tu sabes que elevai aí? – Porque eu comparei ele com os <strong>ou</strong>tros.O sujeito CAR con<strong>se</strong>guiu apropriar-<strong>se</strong> de <strong>sua</strong> açãode modo consciente. Isso fica claro quando repre<strong>se</strong>ntaverbalmente <strong>sua</strong> ação ao final da prova. Encontra-<strong>se</strong> aíum exemplo de abstração refletida sobre o processo deconstrução de <strong>se</strong>riação.O objetivo dessa prova foi o de fazer com que ascrianças pré-operatórias e intuitivas pudes<strong>se</strong>m <strong>ou</strong>vir aescala temperada, mesmo que incompleta (faltando umanota), procurando tornar a tarefa de <strong>se</strong>riação um p<strong>ou</strong>comais acessível, na medida em que fos<strong>se</strong> sugerida umasistemática de organização dos sinos. Porém, isso nãoocorreu. Piaget (1995) diz que a abstração, ainda queba<strong>se</strong>ada sobre as ações de <strong>ou</strong>tra pessoa “está longe deconstituir um processo simples, mesmo quando estasações são simplesmente concernentes à ordemconstitutiva das séries.” (p.161). Embora alguns sujeitostenham con<strong>se</strong>guido realizar a tarefa de introduzirapenas um sino na escala de modo operatório, na horada <strong>se</strong>riação ascendente e descendente, o único sujeitoque oper<strong>ou</strong> completamente foi GAB (6,2). Es<strong>se</strong> fatocomprova que é preciso que a própria criança construaa relação entre os intervalos, por meio da apropriaçãode <strong>sua</strong>s ações, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, da coordenação das mesmas.Apenas a escuta (passiva) da escala pronta não é suficientepara <strong>sua</strong> construção. O conhecimento não é adquiridopor meio dos órgãos dos <strong>se</strong>ntidos (nes<strong>se</strong> caso, aaudição). Ele é uma construção por meio da interaçãodo sujeito com o objeto. A relação entre os intervalos daescala, portanto, é uma complexa construção que exigeesquemas de assimilação para a tarefa de organizaçãodos eventos sonoros. A noção de escala, mesmo que<strong>se</strong>ja construída com hipóte<strong>se</strong>s pré-operatórias do própriosujeito, é, <strong>se</strong>gundo Beyer (1988), o pré-requisito paraa construção, ainda que intuitiva, da escala temperada.Seriação Ascendente da EscalaLogo após passarem pelas etapas de diferenciaçãoentre sons graves e agudos, aplic<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> em todos os sujeitos,a prova de <strong>se</strong>riação da escala de dó grave a dóagudo (uma oitava). A prova consistiu na organizaçãodos sinos, de modo a formarem a escala de dó.Nível I – VIN (7,6) – Quero que você arrume todo<strong>se</strong>stes sinos do mais grosso até o mais fino, todos emuma fileira. – (procura os sinos <strong>ou</strong>vindo os sons <strong>se</strong>mcomparar uns com os <strong>ou</strong>tros) Pronto! Estes aqui sãoos finos, estes os grossos e estes os normais (apontapara cada <strong>se</strong>paração que fez, pois agrup<strong>ou</strong> os sinos emdois conjuntos de três sinos e um de dois). – Como éque você sabe que estes (aponto para cada grupo) sãomais finos, estes grossos e estes normais? – Por causaque eu toquei. – Vamos ver como você arrum<strong>ou</strong>, então(começo pelo grupo que a criança denomin<strong>ou</strong> de maisfinos: ré, mi, dó grave; depois os que a criança denomin<strong>ou</strong>de mais grossos: sol, fá, lá; finalmente os denominadosde normais: si, dó agudo). Então, você arrum<strong>ou</strong>do mais grosso ao mais fino? – Sim. – E <strong>se</strong> fos<strong>se</strong> paracolocar um ao lado do <strong>ou</strong>tro, todos em uma só carreirinha,como é que você organizaria? – Eu ía... – Faz, então,um do lado do <strong>ou</strong>tro. – (ele organiza na vertical os sinosdois a dois) – Vamos ver como fic<strong>ou</strong> (toco cada dupla:dó grave/sol; mi/fá; ré/lá; dó agudo/si) – Estes primeirosaqui parecem com o som da campainha!Nes<strong>se</strong> primeiro nível, fica demonstrada uma atitudeinicial, na qual a criança procura ordenar um dos sinos,<strong>se</strong>m compará-lo ao conjunto dos <strong>ou</strong>tros, como <strong>se</strong> nãodeves<strong>se</strong> <strong>se</strong>guir uma direção estável na ordem de relaçãodos termos, nem auditiva e nem mesmo vi<strong>sua</strong>l, procurandofazer somente pequenos agrupamentos. Algunsvão simplesmente colocando um sino ao lado do <strong>ou</strong>tro,como foi o caso de VIN, <strong>se</strong>m <strong>se</strong>quer <strong>ou</strong>vi-los. Es<strong>se</strong>súltimos, apesar da similaridade dos sinos, buscam en-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96


92 Patrícia Fernanda Carmem Kebachcontrar características vi<strong>sua</strong>is de diferenciação paraarranjá-los. Os sujeitos pré-operatórios fazem, assim,apenas abstrações empíricas no momento de construírem<strong>sua</strong>s <strong>se</strong>riações, buscando as informações nas própriaspercepções sobre o objeto a <strong>se</strong>r estruturado.No nível intuitivo, que é considerado também pré-operatório,apesar de estar mais próximo da operatoriedade,as crianças <strong>se</strong>rvem-<strong>se</strong> do jogo de tentativas de comparaçõesglobais à espera de uma resolução definitiva <strong>ou</strong> dosom definitivo global, como sugere Barcelo I Ginard(1988), para construírem <strong>sua</strong>s escalas. Estão centradosainda na percepção sonora global, modificando a colocaçãodas notas sucessivamente, porém de modo não completamentepré-operatório, pois passam dos julgamentospré-relativos à <strong>se</strong>riação empírica.Estão centrados na percepção sonora global, modificandoa colocação das notas sucessivamente e não con<strong>se</strong>guem,assim, obter êxito na construção da escala.Encontram um procedimento que consiste em construira escala tendo em conta as extremidades (que nem <strong>se</strong>mpreestão corretas, mas são percebidas como tais), <strong>se</strong>mcon<strong>se</strong>guir relacionar os elementos entre elas, que garantiriamuma progressão constante operatória. Dessaforma, tal procedimento toma o lugar dos sistemas derelações, pelas simples figura perceptiva/intuitiva doconjunto, <strong>se</strong>m que a criança consiga classificar e compararos elementos em jogo de modo coerente (Piaget& Szeminska, 1972).Nível II – JEN (12,8) – Agora, eu quero que vocêfaça uma carreira com todos os sinos do mais grosso aomais fino. – (começa <strong>se</strong>parando os sinos pelos sons maisagudos e mais graves, depois faz comparações globai<strong>se</strong> organiza a fileira) Este está mais forte... – Mas eupedi para que você organizas<strong>se</strong> do mais grosso (falograve) ao mais fino (falo agudo). Está pronto? – Está. –Vamos ver como fic<strong>ou</strong>: fá, sol, si, dó agudo, lá, mi, ré,dó grave. Está correto? – Hum... Não (troca o dóagudo de lugar com o dó grave). Agora, sim. – Vamo<strong>se</strong>scutar (repito a <strong>se</strong>qüência com a mudança), estácorreto assim? – Ainda não (coloca as notas na <strong>se</strong>guinte<strong>se</strong>qüência: fá, sol, si, mi, ré, dó grave, lá, dóagudo) – (toco a <strong>se</strong>qüência) E agora? – ...Não, aindanão... – Como é este sino (toco o dó grave) aqui? – Éum tom mais fino. – E este (toco o dó agudo)? – Émais grosso. – Este (dó grave) é mais fino que este(dó agudo)? – É. – Mas antes você dis<strong>se</strong> que os sinosdo tipo deste (dó agudo) eram os mais finos e estes(dó grave) os mais grossos! (refiro-me às provas dediferenciação das alturas de apenas dois sinos) –Hum...Eu acho que eu troquei... – Então, você achaque o correto é que este (dó grave) é o mais... – Fino.– E este (toco o dó agudo)... – Mais grosso. – Então,a fileira fica como? – Assim (toca os sinos <strong>se</strong>m trocar aordem em que havia organizado anteriormente: fá, sol,si, mi, ré, dó grave, lá, dó agudo).Nes<strong>se</strong> exemplo do estágio intuitivo, a criança inicialmenterelaciona os sinos, utilizando uma abstração p<strong>se</strong>udoempírica(ficando implícita a abstração reflexionante queestá <strong>se</strong>mpre pre<strong>se</strong>nte nas abstrações p<strong>se</strong>udo-empíricas enão nas empíricas) para <strong>se</strong>parar os sons mais agudos dosmais graves, mas que não persiste quando a criança necessitafazer comparações mais específicas de modo aorganizar todos os sinos em uma <strong>se</strong>qüência coerente. Apartir daí, apóia-<strong>se</strong> sobre abstrações empíricas. Comoacontece corriqueiramente, denomina de formadiversificada o parâmetro altura (“Este está mais forte...”),o que poderia significar uma confusão entreparâmetros (estaria a criança referindo-<strong>se</strong> à intensidadedo som?), o que demonstra uma falta de diferenciaçãodas diferentes alturas das notas e também da altura emrelação aos <strong>ou</strong>tros parâmetros do som. Acaba negandoas primeiras relações operatórias feitas nas <strong>ou</strong>tras provas,através do de<strong>se</strong>quilíbrio causado pelo novo desafio,para trocar a denominação: os finos são associados aosgraves, e os grossos, aos agudos. Essa não-con<strong>se</strong>rvaçãode <strong>sua</strong> própria relação estabelecida anteriormente demonstrao caráter irreversível da estruturação atual; portanto,a não-generalização des<strong>se</strong> conhecimento, em funçãoda falta de esquemas de assimilação para a organizaçãodessa estrutura mais complexa.O caso atípico GAB é o único exemplo do estágiooperatório.Nível III – GAB (6,2) – Agora, eu quero que vocêarrume do mais grosso ao mais fino, todos os sinos. – (acriança faz comparações de todos os sinos, <strong>se</strong>para-ospor <strong>sua</strong>s alturas e depois vai pegando pares para comparar,organiza a fileira buscando os sinos através dacomparação com o último que enfileir<strong>ou</strong>) – Vamos vercomo fic<strong>ou</strong> (toco <strong>sua</strong> fileira de sinos): dó grave, ré, mi,fá, si, lá, sol, dó agudo. Está tudo certo? Está do maisgrosso ao mais fino? – Só tem dois que estão meio... –Então, tenta corrigir o que pode estar errado. – (colocao sol e o si no lugar correto) – (toco a <strong>se</strong>qüência) Agora,deu? – Sim (convicta).GAB faz a comparação auditiva de todos os sonspara construir a escala de modo operatório, tanto de


A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 93modo ascendente, quanto descendente. Essa ação dosujeito sobre os objetos retirando deles as característicasde relação entre uns e <strong>ou</strong>tros, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, a apropriaçãonão só das características dos objetos, mas das açõesque o sujeito exerceu sobre eles ao relacioná-los é típicada abstração reflexionante. A criança apoi<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> sobreabstrações p<strong>se</strong>udo-empíricas do início até o final daprova. <strong>Para</strong> fazer as correções necessárias precis<strong>ou</strong><strong>ou</strong>vir os sinos mais de uma vez. Enquanto, no nível intuitivo(Nível II), as crianças consideram os sinos com<strong>ou</strong>ma espécie de elementos estranhos uns aos <strong>ou</strong>tros,comparando-os apenas com uma globalidade sonora,GAB reage de modo contrário, comparando-os, medindoauditivamente a distância dos intervalos e os situando,tendo em conta simultaneamente as relações “maisagudo do que o anterior” e “mais grave do que o <strong>se</strong>guinte”.Isso demonstra uma grande compreensão em relaçãoàs ordenações auditivas dos intervalos.Apesar da <strong>se</strong>riação perfeita, quando pergunto a GABo que há de <strong>se</strong>melhante nas coisas que fez, a criançaresponde: “Não tem nada de parecido”. Es<strong>se</strong> fato demonstraa inconsciência do processo de abstraçãoreflexionante realizada pelo sujeito. Sua inconsciênciafica clara também ao dar a resposta à questão sobre ométodo utilizado para construir a escala: “Est<strong>ou</strong> prestandoa atenção”. Essas respostas são típicas das operaçõesconcretas. Ou <strong>se</strong>ja, as construções são feitascom ba<strong>se</strong> em abstração p<strong>se</strong>udo-empíricas, na medidaem que a criança compara os sons e os relaciona demodo operatório, mas não possui apropriação conscienteda organização de <strong>sua</strong>s ações (abstração refletida).Não obstante essa falta de consciência de <strong>se</strong>u processode construção, GAB não generaliza o processo de diferenciaçãodos sons somente por abstrações empíricas,visto que essa generalização é apenas extensiva e consisteem encontrar em novos objetos uma propriedadeque já exista neles, mas que é <strong>se</strong>melhante àquela que jáob<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong> em <strong>ou</strong>tros (por exemplo, o timbre, quando osujeito compara o som dos sinos ao som de uma campainha).Ela generaliza es<strong>se</strong> conhecimento pelareversibilidade existente em <strong>sua</strong>s operações concretas.Mesmo que o sujeito GAB não tenha atingido o nível doraciocínio sobre enunciados verbais (operações formais),<strong>sua</strong> lógica está apoiada sobre os objetos manipuláveis(operações concretas), o que implica uma lógica de clas<strong>se</strong>s.Sua generalização é feita principalmente pelasabstrações reflexionantes, que consistem em introduzir,em novos objetos, propriedades que eles não possuíam(no caso, a organização via <strong>se</strong>riação, na diferenciaçãoentre graves e agudos), <strong>se</strong>ja porque são tiradas das construçõesde níveis precedentes, <strong>se</strong>ja, sobretudo, porquecon<strong>se</strong>guem reorganizar e construir novas formas queproduzem novos conteúdos. Des<strong>se</strong> modo, pode-<strong>se</strong> dizerque a criação de novidades existente no processo de<strong>se</strong>riação da escala consiste na realização de possibilidadesabertas de novas criações posteriores, por meio daconstruções de níveis precedentes.<strong>Para</strong> verificar um grau mais elevado dereversibilidade do todo (escala completa) propôs-<strong>se</strong> atodos os sujeitos, ao final das provas, que organizas<strong>se</strong>ma escala de modo descendente, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, do sino maisagudo até o mais grave (dó, si, lá, sol, fá, mi, ré, dógrave). Como era de <strong>se</strong> esperar, também nessa prova,a reversibilidade completa da <strong>se</strong>riação só ocorreu nosujeito que oper<strong>ou</strong> na <strong>se</strong>riação ascendente.CONCLUSÕESCom ba<strong>se</strong> nas conclusões gerais desta pesquisa, oquadro de classificação por nível de de<strong>se</strong>nvolvimentode todos os sujeitos pesquisados pode <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvado noQuadro 1.A construção auditiva em relação ao espaço existenteentre duas notas (intervalo tonal) é bem mais complexado que a construção vi<strong>sua</strong>l, por exemplo, quandoé necessário comparar o tamanho de dois pequenosbastões para a <strong>se</strong>riação vi<strong>sua</strong>l de uma série, na qualexistem vários bastões de diferentes tamanhos que devem<strong>se</strong>r organizados do menor ao maior, <strong>se</strong>gundo a provade Piaget e Szeminska (1972). A diferença de tamanhode cada bastão é <strong>se</strong>mpre a mesma, enquanto a diferençade intervalos é de meio tom entre o mi e o fá eo si e o dó agudo, e, entre as <strong>ou</strong>tras notas, a diferençaé de um tom. Portanto, a medição do espaço via audiçãoé algo bem mais complexo, já que, para comparardois bastões, a criança coloca um ao lado do <strong>ou</strong>tro econ<strong>se</strong>gue ob<strong>se</strong>rvar os objetos em <strong>sua</strong> concretude. Jádois sons devem <strong>se</strong>r comparados mentalmente logo após<strong>sua</strong>s execuções sucessivas, e não simultâneas, pois <strong>se</strong>corre o risco de a criança não con<strong>se</strong>guir diferenciar umdo <strong>ou</strong>tro <strong>se</strong> forem tocados ao mesmo tempo. Assim queé executado, portanto, o som <strong>se</strong> esvai, e a criança permaneceapenas com uma imagem mental deste. Sobreisso, Maffioletti (2002) ob<strong>se</strong>rva que “...a transformação<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96


94 Patrícia Fernanda Carmem KebachQuadro 1: Diferenciação de intervalos e <strong>se</strong>riação da escala.de uma propriedade sonora só pode <strong>se</strong>r percebida, comrelação a um modelo previamente apre<strong>se</strong>ntado. O períodode tempo entre a apre<strong>se</strong>ntação de um modelo e aindagação sobre <strong>sua</strong> eventual modificação faz incidiraspectos referentes à memória musical. No caso daapre<strong>se</strong>ntação do modelo, <strong>se</strong>guida de <strong>sua</strong> modificação, otempo de concentração auditiva exigido poderá interferirnas respostas” (p. 107).<strong>Para</strong> que a noção de escala <strong>se</strong>ja construída, é necessáriauma interação, tanto qualitativa, quanto quantitativacom o objeto musical, que garanta a construçãode esquemas mentais de assimilação, possibilitando aosujeito uma memória dos intervalos existentes na escala.Essa é uma aprendizagem complexa que não deve<strong>se</strong>r negligenciada em função de <strong>ou</strong>tras que devem ocorrerposteriormente a esta, como, por exemplo, a alfabetizaçãomusical. A noção dos intervalos é um conhecimentobásico para a construção do objeto musical, assimcomo o é a noção de duração dos sons. Assim, “aaprendizagem musical, como qualquer <strong>ou</strong>tra, envolveconhecimentos que têm <strong>sua</strong> ba<strong>se</strong> na noção de con<strong>se</strong>rvação”(Maffioletti, 2002 p. 106). Nota-<strong>se</strong>, assim, a importânciada con<strong>se</strong>rvação das relações existentes entreos intervalos da escala temperada para a generalizaçãodeste conhecimento.Encontr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> uma décalage (defasagem) bastantegrande na <strong>se</strong>riação auditiva em relação à <strong>se</strong>riação vi<strong>sua</strong>lsugerida por Piaget e Szeminska (1972). Na <strong>se</strong>riaçãovi<strong>sua</strong>l, as idades médias de cada estágio de de<strong>se</strong>nvolvimentoacompanham as <strong>ou</strong>tras tantas provas aplicadaspelos pesquisadores construtivistas. Segundo Piaget(1990), o estágio pré-operatório é encontrado entre asidades de dois/três anos e <strong>se</strong>is/<strong>se</strong>te anos (in<strong>se</strong>re-<strong>se</strong> aquitambém o estágio intuitivo). O estágio operatório concretocompreende, de modo geral, as idades que vãodos <strong>se</strong>te/oito anos até 11/12, quando começam as operaçõesformais.Os resultados desta pesquisa também foram diferentesdos resultados obtidos por Barcelo I Ginard (1988),tendo em vista que este autor aplic<strong>ou</strong> as provas em cri-


A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 95anças que cursavam aulas de música, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, interagiamfreqüentemente com o objeto musical e possuíam idade<strong>se</strong>ntre oito e 10 anos. O autor afirma que “todos losniños po<strong>se</strong>ían la noción <strong>se</strong>riativa musical: no han tenidodificultad alguna para conceptuar los sonidos que hanescuchado como una colección de elementos organizadosmediante diferencias sucesivas” (Barcelo I Ginard,1988 p. 108). Porém, o mesmo não ocorreu nesta pesquisa.É importante lembrar, aqui, que nenhum dos sujeito<strong>se</strong>ntrevistados estava freqüentando aulas de músicadurante a realização das provas, para que fos<strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rvadoo conhecimento espontâneo dos mesmos sobreo objeto em jogo.A média final das idades que foi encontrada para o<strong>se</strong>stágios que caracterizaram os resultados desta pesquisafoi a <strong>se</strong>guinte: as crianças responderam às perguntasde todas as provas de modo pré-operatório até mais <strong>ou</strong>menos <strong>se</strong>te anos. A média de idade para as criançasque responderam de modo intuitivo fic<strong>ou</strong> em oito anos emeio. A média geral para o nível operatório (no qual eleapareceu, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, na diferenciação entre graves e agudo<strong>se</strong> na in<strong>se</strong>rção de um sino na escala já pronta, comexceção do sujeito atípico) fic<strong>ou</strong> em nove anos e meio.As hipóte<strong>se</strong>s sobre es<strong>se</strong>s dados são as <strong>se</strong>guintes: emprimeiro lugar, talvez o número de crianças entrevistadasnão tenha sido suficiente para proporcionar a noçãode uma média de idades mais específica. Contudo, omais importante talvez <strong>se</strong>ja a complexidade do problema:as crianças atingem o nível operatório em médiaaos nove anos e meio em provas mais simples, em que osujeito deve operar com um <strong>ou</strong> dois sinos; e ficam nonível intuitivo (intermediário entre o pré-operatório e ooperatório, porém ainda pré-operando), nas provas de<strong>se</strong>riação total, que são mais complexas, pois a ação dosujeito ocorre através da comparação de vários sinossimultaneamente. A complexidade talvez explique odeslocamento do nível operatório para o intuitivo.Procurando compreender o que pode ter ocorridocom o sujeito atípico, convers<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> com a família deGAB (6,2), para ver o grau de <strong>sua</strong> interação com oobjeto musical dentro de <strong>se</strong>u lar. Os pais dessa criançapossuem um grande conhecimento musical e incentivama filha a participar das atividades em família. Tocame cantam em casa e na igreja, pois são pastores.GAB, portanto, interage constantemente com o objetomusical. Outro sujeito que cham<strong>ou</strong> a atenção foi TAI(7,10). Essa menina <strong>se</strong> aproxim<strong>ou</strong> muito da resoluçãode todos os problemas propostos. Na <strong>se</strong>riação, tantoascendente quanto descendente, troc<strong>ou</strong> apenas algumasnotas. Entrevist<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> também a mãe da meninapara obter maiores informações a <strong>se</strong>u respeito. Elarealmente não particip<strong>ou</strong> de nenhuma aula de música,como havia informado, mas <strong>se</strong>u passatempo prediletoera cantar karaoke (cantar com play-back), a pontode ganhar concursos do gênero. Encontra-<strong>se</strong> aí umaenorme interação deste sujeito com o objeto musical, e<strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> pela música.Enfim, os resultados das provas estão assim configurados:o nível de interação dos sujeitos com oobjeto musical foi o que permitiu a resolução de problemascomplexos, como a <strong>se</strong>riação completa <strong>ou</strong><strong>se</strong>micompleta da escala. Mais do que conteúdo específico(música de Igreja <strong>ou</strong> karaoke), o que parecerelevante são os esquemas de assimilação que acriança possui e <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> (de<strong>se</strong>jo, necessidade)em assimilar o objeto musical para que possa ampliar<strong>se</strong>u conhecimento a respeito.Conclui-<strong>se</strong>, dessa forma, que a música é um objetoconstituído pela ação humana que <strong>se</strong> caracteriza peloatravessamento das estruturas lógico-formais estudadaspor Piaget (1995). Assim, confirma-<strong>se</strong> a hipóte<strong>se</strong>de que a construção do conhecimento musical ocorreda mesma forma que os níveis investigados pela Escolade Genebra para <strong>ou</strong>tros objetos de conhecimento.REFERÊNCIASAgosti-Gherban, C. (2000). L’éveil musical: une pédagogieévolutive. Paris: L’Harmattan.Barcelo I Ginard, B. (1988). <strong>Psic</strong>ologia de la conducta musicalen el niño. Palma: Universitat de les illes Balears.Bellochio, C. R. (2000). A <strong>educ</strong>ação musical nas séries iniciaisdo ensino fundamental: olhando e construindo juntoàs práticas cotidianas do professor. Porto Alegre:Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>torado – UFRGS. Rio Grande do Sul.Beyer, E. (1988). A abordagem cognitiva em música: umacrítica ao ensino de música, a partir da teoria de Piaget.Porto Alegre: Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado - UFRGS. RioGrande do Sul.Beyer, E. (1994/1995) A construção de conceitos musicais noindivíduo: perspectivas para a <strong>educ</strong>ação musical. EmPauta, 9/10, 22-31.Beyer, E. (1995) Os múltiplos de<strong>se</strong>nvolvimentos cognitivo-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96


96 Patrícia Fernanda Carmem Kebachmusicais e <strong>sua</strong> influência sobre a <strong>educ</strong>ação musical.Revista da ABEM, 2 (2), 53-67.Becker, F. (2001). Educação e construção do conhecimento.Porto Alegre: Artmed.Bovet, M. (1999/2000). Travaux pratiques de psychologiegenetique. Genève: Faculté de psychologie et dessciences de l’éducation - Université de Genève.Brito, T. A. (2001). Koellreutter <strong>educ</strong>ador: o humano comoobjetivo da <strong>educ</strong>ação musical. São Paulo: Peirópolis.Campos, M. C. (2000). A <strong>educ</strong>ação musical e o novoparadigma. Rio de Janeiro: Enelivros.Delalande, F. (1982). Vers une psycho-musicologie. Em C. F.Delalande, & E. Dumaurier L’enfant du sonore au musical(pp. 155-178). Paris: INA GRM, Buchet Chastel.Gobbi, V. (1999). A <strong>educ</strong>ação estética através da apreciaçãomusical: uma experiência. Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado -Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo.Kebach, P. F. C. (2002). A entrevista clínica piagetiana na verificaçãodas construções repre<strong>se</strong>ntativas dos parâmetrosdo som pelas crianças. Em F. Becker (Org.) Função simbólicae aprendizagens (pp. 95-118). Pelotas: Educat.Kebach, P. F. C. (2003). A construção do conhecimentomusical: um estudo através do método clínico. PortoAlegre: Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado - UFRGS. Rio Grandedo Sul.Koellreutter, H. J. (1997). O ensino da música num mundomodificado. Em C. Kater. (Org.), Educação musical: Cadernosde estudo (n. 6 pp. 53-59). Horizonte: Atravez /EMUFMG/FEA/FAPEMIG.Lazzarin, L. F. (1999). Ouvir música com significado: um desafiopossível. Em E. Beyer (Org.), Idéias em EducaçãoMusical (pp. 74-90). Porto Alegre: Mediação.Maffioletti, L. (2002). Conhecimento e aprendizagem musical.Em F. Becker (Org.), Aprendizagem e conhecimento <strong>escolar</strong>(pp. 97-112). Pelotas: EDUCAT.Noi<strong>se</strong>tte, C. (1997). L’enfant, le geste et le son. Paris: Cité de laMusique, Centre de Ress<strong>ou</strong>rces Musicales et Dance.Piaget, J. (1974). La pri<strong>se</strong> de conscience. Paris: Pres<strong>se</strong>sUniversitaires de France.Piaget, J. (1990). Epistemologia genética. São Paulo: MartinsFontes.Piaget, J. (1995). Abstração refelxionante: relações lógicoaritmética<strong>se</strong> ordem das relações espaciais. Porto Alegre:Artes Médicas.Piaget, J., & Szeminska, A. (1972). La genè<strong>se</strong> du nombre.Neuchâtel: Delachaux & Niestlé. (Originale 1941).S<strong>ou</strong>las, B. (1990). La construction du <strong>se</strong>ns musical. Les sciencesde l’éducation, numero spécial. Education musicale etpsychologie de la musique, 3-4, 145-166.Recebido em: 06/09/02Revisado em: 29/10/02Aprovado em: 01/07/03


Re<strong>se</strong>nhasESTRATÉGIAS DE COMPREENSÃO DE LEITURASadler, C. R. (2001) Comprehension strategies for middle grade learners.A handbook for content area teachers. Newark: IRA, 81p.De todas as atividades cognitivas, a leitura é certamentea mais complexa, <strong>se</strong>ndo es<strong>se</strong>ncial para o adequadoe produtivo de<strong>se</strong>mpenho humano na sociedademoderna, pois a habilidade de ler é altamente valorizadapara o crescimento social e econômico. Embora envolvainúmeros componentes básicos, uma leitura de sucessoimplica na compreensão do conteúdo expressono texto, favorecendo o <strong>se</strong>u uso como um instrumentopara aprender.Na efetivação dessa meta o leitor deve reconhecerno texto lido os fatos e eventos principais, relacioná-lo<strong>se</strong>ntre si e com o conhecimento que já tem estruturado,retê-los para posterior utilização. Tal de<strong>se</strong>mpenho requero uso do raciocínio e o estabelecimento deinferências. Assim, o objetivo principal de qualquer processo<strong>educ</strong>ativo deve <strong>se</strong>r o de prover o estudante dosmeios necessários para de<strong>se</strong>mpenhar uma leitura decompreensão.Nos anos 70, muitos professores acreditavam que oensino da compreensão apoiava-<strong>se</strong> em um conjunto deestratégias mecânicas de decodificação, de busca e reconhecimentodas palavras, de identificação dos significado<strong>se</strong> do <strong>se</strong>ntido da mensagem expressa. Assim, para<strong>se</strong>les, uma vez ocorrida a decodificação, o processode compreensão acontecia automaticamente.Hoje, existe hoje con<strong>se</strong>nso de que a compreensão éum processo mais complexo que envolve a forma comoo leitor <strong>se</strong> conecta com o texto. É um processo de pensamento,<strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, de interação com o texto pela utilizaçãode estratégias de previsão, auto questionamento,estabelecimento de relações, identificação da função daspalavras, controle, resumo e avaliação. A importânciada leitura de compreensão no processo de aprendizageme na formação de futuros profissionais posiciona aobra de Sadler como de grande utilidade não só para oprofessor como para <strong>ou</strong>tros profissionais envolvidos comas questões da aprendizagem <strong>escolar</strong> - pedagogos, psicólogo<strong>se</strong> fonoaudiólogos.O objetivo do livro aqui re<strong>se</strong>nhado é fornecer subsídiospara o ensino da compreensão de leitura , apre<strong>se</strong>ntandoe discutindo 56 estratégias distribuídas em <strong>se</strong>iscapítulos. A autora introduz a obra com uma breve apre<strong>se</strong>ntação.Em linguagem simples e objetiva, orienta oprofessor oferecendo uma descrição da estratégia, discussãoe exemplos de como ela pode <strong>se</strong>r utilizada, individualmente,em grupos pequenos <strong>ou</strong> mesmo com umaclas<strong>se</strong> inteira.As estratégias estão organizadas <strong>se</strong>gundo um objetivocomum: de avaliação do nível de compreensão; de incrementodas atividades de leitura em grupo; de identificaçãoda informação lida no texto; de organização; deaprendizagem independente; de estilos diferentes deaprendizagem. A autora complementa a informação pelaapre<strong>se</strong>ntação dos procedimentos de aplicação e as formasde avaliação do material produzido.No primeiro capítulo, Inspecionar para compreender,a autora reúne dez estratégias que permitem tantoao estudante quanto ao professor, avaliar o nível de compreensãodo texto lido. Isto é realizado por meio da identificaçãode passagens efetivamente compreendidas edaquelas não compreendidas. Um processo de discussão,<strong>se</strong>ja pela intervenção direta do professor <strong>ou</strong> pelaexplicação fornecida por <strong>ou</strong>tro estudante que tenha atingidoa plena compreensão, esclarece as passagens queoferecem dificuldade de compreensão. Em <strong>ou</strong>tro procedimento,após a leitura individual do texto, a história érecontada por um colega que procura focalizar as informaçõesimportantes. O processo de discussão éenfatizado para de<strong>se</strong>nvolver as habilidades de comunicaçãoe organização, com especial atenção para o vocabulário,para identificação da idéia central, e para ocompartilhar do conhecimento adquirido. Finalizando esta


98primeira parte, a autora apre<strong>se</strong>nta atividades voltadaspara o resumo da informação obtida e para a solução deproblemas.O capítulo <strong>se</strong>guinte, Promovendo a aprendizagemcooperativa, descreve 13 atividades de trabalho em grupoque visam estimular o estudante a aprender a partir de<strong>se</strong>us pares, reforçando, ao mesmo tempo, a aprendizagemda informação proveniente de diferentes focos -verbal, vi<strong>sua</strong>l e auditivo. Enquanto a proposta de trabalhoinvestigativo permite que cada estudante aprenda a<strong>se</strong> responsabilizar por uma parte da informação que <strong>se</strong>rátrabalhada no grupo, a proposta do trabalho cooperativofavorece a troca de informação e o aprendizado da divulgaçãodo conhecimento adquirido. Es<strong>se</strong> capitulo éparticularmente interessante pois de<strong>se</strong>nvolve no aprendizos princípios da pesquisa e do papel de pesquisador.As nove estratégias organizadas sob o rótulo Integrandoao conhecimento prévio, permitem que o estudantesinta que de ele, algum modo, está conectado aotema em estudo. Elas também o auxiliando a criar umcontexto de aprendizagem mais positivo por <strong>se</strong>ntir-<strong>se</strong>parte do processo de aprendizagem. <strong>Para</strong> isso, uma dasatividades propostas leva o aluno a identificar o que jáconhecia do tema proposto apre<strong>se</strong>ntando-o à clas<strong>se</strong> <strong>ou</strong>ao grupo. Em <strong>ou</strong>tro momento do trabalho, o aluno deveveicular pensamentos e opiniões o que permite que <strong>se</strong>estabeleça o propósito da leitura. A ampliação do conhecimentoé alcançada pela leitura de <strong>ou</strong>tros livros sobreo tema e pela discussão em grupo. Outra estratégiaproposta permite que o estudante faça uma revisão ere-elaboração do conhecimento, usando-o como estruturapara introdução de novas histórias. É interessantesalientar que este conjunto de estratégias trabalha a motivaçãodo leitor, <strong>sua</strong> auto estima, e como a própria autorarefere, incute no aluno <strong>sua</strong> possibilidade de contribuirpara a discussão.No capítulo Melhorando a organização, estão agrupadasas estratégias voltadas para orientar o estudantena organização do material lido visando melhorar a <strong>sua</strong>Re<strong>se</strong>nhascompreensão. <strong>Para</strong> atender a es<strong>se</strong> objetivo são fornecidosmapas, guias com tópicos orientadores para <strong>se</strong>remcompletados, o que auxilia o leitor na elaboraçãodo <strong>se</strong>u próprio instrumento. Além disso, estratégiascomo a K-W-L auxiliam o estudante a pensar sobre ainformação que ele já possui (Know), formular questõessobre o que necessita aprender (Want to know) eavaliar o que aprendeu (Learned).Os dois últimos capítulos -Promovendo aprendizesindependentes e Ensinando para Estilos de Aprender -apre<strong>se</strong>ntam os passos necessários de cada estratégiade forma a permitir que os alunos aprendam e consigamaplica-la independentemente, em diversas situações.Descrevem meios de aumentar a informaçãoconceitual, de extrair do texto o significado de um termodesconhecido, enfim de usar a leitura para aprender.Nessa perspectiva, trabalham com diversos instrumentosvisando atender aos diferentes estilos deaprendizagem.Ao final do livro estão relacionados os textos que<strong>se</strong>rviram de apoio para a realização do mesmo. Sente<strong>se</strong>,porém, a falta da citação dos autores, no decorrerda apre<strong>se</strong>ntação das estratégias.A leitura deste livro é recomendada a todos envolvidosno processo de ensino -aprendizagem, uma vez queoferece um conjunto de atividades práticas, bem definida<strong>se</strong> bem orientadas para avaliação do de<strong>se</strong>mpenho.Como a própria autora assinala, as estratégias apre<strong>se</strong>ntadasnão <strong>se</strong>rvem de orientação apenas para o de<strong>se</strong>nvolvimentoda compreensão, mas elas também propiciammelhora nas experiências de linguagem por meiode variados métodos e modelos que podem tanto encorajaro leitor relutante como enriquecer as experiênciasde um leitor habilitado.Maria Helena M<strong>ou</strong>rão Alves de OliveiraUniversidade Católica de Campinas


HistóriaEntrevista com a Profa. Dra. Marilene Proença Rebello de S<strong>ou</strong>zaEntrevistadora: Profa. Dra. Elenita TanamachiMARILENE PROENÇA REBELLO DESOUZA é docente do Departamento de <strong>Psic</strong>ologiada Aprendizagem, do De<strong>se</strong>nvolvimento e da Personalidadee do Programa de Pós-graduação em <strong>Psic</strong>ologiaEscolar e do De<strong>se</strong>nvolvimento Humano doInstituto de <strong>Psic</strong>ologia da Universidade de São Paulo.É membro da equipe técnica do Serviço de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar e mais recentemente coordena o LaboratórioInterinstitucional de Estudos e Pesquisas em<strong>Psic</strong>ologia Escolar USP/UNESP - Bauru. Participada Diretoria da ABRAPEE e é psicóloga con<strong>se</strong>lheirado Con<strong>se</strong>lho Federal de <strong>Psic</strong>ologia. Desde 1978 atuana área <strong>educ</strong>acional, organizando pelo menos duaspublicações na área “<strong>Psic</strong>ologia Escolar: em buscade novos rumos” juntamente com a psicóloga AdrianaMarcondes Machado e “<strong>Psic</strong>ologia e Educação: desafiosteórico-práticos” com as Profas. Dras ElenitaTanamachi e Marisa Rocha ambas editadas pela Casado <strong>Psic</strong>ólogo Editora. Por <strong>sua</strong> atuação na área de<strong>Psic</strong>ologia Escolar, convidamos para <strong>se</strong>r a nossa entrevistadadeste número da Revista <strong>Psic</strong>ologia Escolare Educacional.Tanamachi: Como ocorreu <strong>sua</strong> aproximaçãocom a <strong>Psic</strong>ologia Escolar?S<strong>ou</strong>za: Minha aproximação com a área de <strong>educ</strong>açãoteve início no curso de <strong>Psic</strong>ologia da Universidadede São Paulo, quando, em 1976, cur<strong>se</strong>i as disciplinas<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Problemas de Aprendizagem I eII, ministradas pela Profas. Dra. Maria Helena S<strong>ou</strong>zaPatto e Marlene Guirado. Nes<strong>se</strong> mesmo ano, pas<strong>se</strong>i alecionar no Ensino Fundamental e pude, pela primeiravez, analisar a escola a partir das discussões que versavamna área naquele momento. <strong>Para</strong> entender melhor aescola e a docência, cur<strong>se</strong>i ainda as disciplinas de Licenciaturana Faculdade de Educação da USP, que eramoptativas, e continuei na docência no Ensino Médio comoprofessora da disciplina “<strong>Psic</strong>ologia da Educação” emCurso de Habilitação para o Magistério na E.E. FernãoDias Paes, em São Paulo. Embora tives<strong>se</strong> deixado minhacidade, Santos, para me tornar psicóloga clínica,verificava, a cada dia, que a área de Educação era aque de fato fazia <strong>se</strong>ntido atuar como psicóloga. Continueino magistério e em 1985 regres<strong>se</strong>i à Universidadede São Paulo, agora enquanto psicóloga do Serviço de


100 História<strong>Psic</strong>ologia Escolar, exercendo, de fato e pela primeiravez, a função de psicóloga <strong>escolar</strong>. Pas<strong>se</strong>i a trabalharcom uma equipe de jovens psicólogas AdrianaMarcondes Machado, Cintia Copit Freller, Silvia HelenaVieira Cruz, Beatriz de Paula S<strong>ou</strong>za e Ana MariaCurto Rodrigues. Coordenadas pela Profa. Maria HelenaS<strong>ou</strong>za Patto nosso projeto de trabalho era o de pensaruma <strong>ou</strong>tra forma de atuação em psicologia <strong>escolar</strong>que levas<strong>se</strong> em conta as críticas feitas naquele momentoao modelo adaptacionista de atuação psicológica naárea <strong>educ</strong>acional bem como as críticas à teoria da carênciacultural enquanto explicação para os baixos índicesde rendimento <strong>escolar</strong>.Tanamachi: Como <strong>se</strong> deu <strong>sua</strong> formação profissionalna área?S<strong>ou</strong>za: Creio que a formação profissional nunca termina,a cada dia estamos nos formando, questionandonosso olhar, nossas crenças. Mas do ponto de vista datrajetória na área, considero que minha formação <strong>se</strong> deuprincipalmente no trabalho realizado nas escolas (comodocente e como psicóloga <strong>escolar</strong>), no grupo de trabalhodo Serviço de <strong>Psic</strong>ologia Escolar e no curso de Pós-Graduação em <strong>Psic</strong>ologia Escolar. Estar na Universidadefoi fundamental pois pudemos ler os trabalhos de MariaHelena S<strong>ou</strong>za Patto, as produções acadêmicas na área,conhecer mais profundamente os autores da <strong>Psic</strong>ologiaInstitucional, participar dos primeiro debates sobre oConstrutivismo, acompanhar as políticas <strong>educ</strong>acionais,fazer pesquisa, ler pesquisas.... Participar des<strong>se</strong> grupode trabalho, das reuniões <strong>se</strong>manais de discussão da equipe,repensar o estágio supervisionado oferecido aos alunosde graduação, ler, estudar, compartilhar aefervescência da Universidade em tempos deredemocratização política e, principalmente, conheceras escolas públicas da região próxima à USP foram fundamentaispara minha formação nesta área de atuação.Realizei minha formação em nível de Pós-graduação noIPUSP sob a orientação da Profa. Maria Helena Patto,nos níveis de Mestrado e D<strong>ou</strong>torado, aprofundando minhaformação área da pesquisa <strong>educ</strong>acional.Tanamachi: Fale sobre as experiências maissignificativas nes<strong>se</strong>s anos de trabalho na área de<strong>Psic</strong>ologia Escolar.S<strong>ou</strong>za: São muitas as experiências significativas, masprincipalmente destaco o trabalho em grupo no Serviçode <strong>Psic</strong>ologia Escolar e as discussões visandoimplementar uma proposta de atuação psicológicacentrada na crítica ao modelo adaptacionista de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar e compreendendo a queixa <strong>escolar</strong> noâmbito das relações institucionais que a produzem. Foiem 1987 que escrevemos nosso primeiro texto,explicitando um p<strong>ou</strong>co mais nossa crítica sobre as explicaçõesrelativas ao baixo rendimento das crianças nasséries iniciais, indicando alguns caminhos para a atuaçãoprofissional em psicologia, intitulado “A questão do rendimento<strong>escolar</strong>: subsídios para uma nova reflexão”,publicado na Revista da Faculdade de Educação em1989. E des<strong>se</strong> momento em diante, consideramos fundamentalcentrar nossas ações em três frentes: discutirnossa prática profissional à luz de referenciais crítico<strong>se</strong>m psicologia e em <strong>educ</strong>ação, ampliar nossa formaçãoacadêmica em nível de pós-graduação e divulgar nossasreflexões sobre a área para <strong>educ</strong>adores e psicólogos.Durante os últimos quinze anos temos também trabalhadojunto à formação continuada de professores darede estadual paulista e em cursos de formação de psicólogo<strong>se</strong> profissionais da área da saúde que recebemencaminhamentos com queixa <strong>escolar</strong>. O convívio coma rede <strong>escolar</strong> nos lev<strong>ou</strong> a discutir profundamente a situaçãode <strong>escolar</strong>ização de crianças e adolescentes quefreqüentam as clas<strong>se</strong>s especiais para deficientes mentaisleves na rede estadual paulista, fazendo com quenos aproximás<strong>se</strong>mos do Con<strong>se</strong>lho Regional de <strong>Psic</strong>ologiade São Paulo e iniciás<strong>se</strong>mos um grupo de trabalho ediscussão questionando a avaliação psicológica e propondoalternativas para a avaliação da queixa <strong>escolar</strong>.Tanamachi: Que questionamentos marcaram apartir da década de 1980 a produção de <strong>se</strong>u trabalhoe do <strong>se</strong>u conhecimento sobre área?S<strong>ou</strong>za: Creio que os meus questionamentos <strong>se</strong> mesclamcom os questionamentos da área de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar do IPUSP. A Maria Helena inaugur<strong>ou</strong> uma concepçãoteórico-metodológica para a área de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar: uma forma de conceber a área de conhecimentoem <strong>Psic</strong>ologia Escolar na perspectiva históricocrítica,bem como indicando elementos para a atuaçãoprofissional em uma perspectiva crítica. Es<strong>se</strong> trabalhotem início com “<strong>Psic</strong>ologia e Ideologia” e aprofunda-<strong>se</strong>com a Te<strong>se</strong> de Livre-Docência de 1987 intitulada “Aprodução do fracasso <strong>escolar</strong>: histórias de submissão ede rebeldia”. Essa obra pass<strong>ou</strong> a <strong>se</strong>r a nossa referênciade trabalho e a questão do fracasso <strong>escolar</strong> assumiulugar de destaque na área <strong>educ</strong>acional. São inúmeros


História 101os convites que recebemos nessa ocasião para discutiresta questão em vários eventos no Brasil, de sindicatosa universidades, de pequenos grupos a grandes platéiasde <strong>educ</strong>adores e psicólogos. O fracasso <strong>escolar</strong> entr<strong>ou</strong>de fato na pauta das discussões acadêmicas, sindicais epolíticas. A partir des<strong>se</strong> momento, o número de pesquisasno IPUSP na linha de pesquisa <strong>Psic</strong>ologia Escolar/Educacional pass<strong>ou</strong> a receber um número maior de pesquisadoresinteressados em estudar e conhecer maisprofundamente o cotidiano <strong>escolar</strong>. Com o meud<strong>ou</strong>toramento em 1996, pude também ingressar na Pós-Graduação e nos últimos anos tenho orientado váriostrabalhos que discutem o cotidiano <strong>escolar</strong> em uma perspectivacrítica de <strong>Psic</strong>ologia Escolar. Ou <strong>se</strong>ja, podemosdizer hoje que temos uma área de pesquisa em expansão,um conjunto de conhecimentos que vem <strong>se</strong> consolidandopor meio do estudo e da pesquisa. Os alunos de<strong>Psic</strong>ologia podem hoje contar com uma certa literaturana área que não existia há vinte anos atrás.Tanamachi: Qual é hoje, a <strong>se</strong>u ver, concretamentea situação da <strong>Psic</strong>ologia Escolar? Quais<strong>se</strong>riam as questões teórico-práticas pre<strong>se</strong>ntes narelação entre <strong>Psic</strong>ologia e Educação no momentoatual?S<strong>ou</strong>za: Creio que a década de 1990 é marcada pelabusca da identidade do psicólogo que atua na área <strong>educ</strong>acional/<strong>escolar</strong>.Há vários trabalhos de pesquisa discutindoessa questão. Creio que hoje começamos a delinearmais claramente não apenas o que não somos,mas sim o que somos e o que queremos. Creio que temosmais claramente delimitadas as finalidades do nossotrabalho em <strong>educ</strong>ação. Lutamos para produzir umconjunto de relações sociais e institucionais que constituamuma escola de qualidade social para todos. Construímosalguns elementos que constituem uma práticaprofissional comprometida com uma escola democráticae dentro de princípios éticos. Temos claro que o compromissosocial implica em um compromisso político pelaemancipação humana. Nossa atuação deve <strong>se</strong> pautarna reflexão, no questionamento das práticas <strong>educ</strong>ativa<strong>se</strong> psicológicas que impeçam o de<strong>se</strong>nvolvimento humano.Quando a crítica feita em <strong>Psic</strong>ologia e Ideologia foiapre<strong>se</strong>ntada, muitos psicólogos diziam que isto não erapsicologia. Hoje temos claro que a crítica é um elementofundamental do trabalho do psicólogo. Não há psicologia<strong>se</strong>m a conquista da crítica.Tanamachi: Diante do exposto, qual <strong>se</strong>ria adefinição possível para a <strong>Psic</strong>ologia Escolar hoje?Quem é o psicólogo <strong>escolar</strong> hoje?S<strong>ou</strong>za: A <strong>Psic</strong>ologia Escolar constitui-<strong>se</strong> ainda hojeem uma área que compreende diversas abordagensteóricas. Isto é, ela é uma área da <strong>Psic</strong>ologia e comotal vive internamente os mesmos dilemas da <strong>Psic</strong>ologiaenquanto área de conhecimento: a fragmentaçãoem diversas perspectives teóricas. Em nosso trabalhoenquanto psicólogos <strong>escolar</strong>es, optamos por uma abordagemque compreende o fenômeno psicológico enquantoconstituído pelos determinantes sociais e históricosde uma sociedade datada e constituída a partirde relações de exploração. O fenômeno psicológicoé, portanto, um fenômeno datado, instituído e instituintedas relações sociais em uma sociedade de clas<strong>se</strong>s.Consideramos a <strong>escolar</strong>ização como um processo vigentena sociedade atual e que precisa <strong>se</strong>r entendidona complexidade das relações sociais dessa mesmasociedade. As contradições existentes na sociedadetambém comparecem na escola e também comparecemna formação e atuação do profissional de psicologia.Caberia a nós explicitá-las para nós mesmos eprocurar superá-las juntamente com <strong>educ</strong>adores, pai<strong>se</strong> alunos. Finalizando, considero que temos muito a oferecerà escola e à <strong>educ</strong>ação ao constituirmos um espaçode mediação que não é pedagógico, mas que incluio pedagógico e que considera que é possível quehaja a apropriação das finalidades da <strong>educ</strong>ação poraqueles que têm a <strong>educ</strong>ação enquanto finalidade humanae social. Caberia ao psicólogo atuar nessa mediaçãoentre o indivíduo e a <strong>educ</strong>ação, possibilitando aconstrução de uma escola mais digna e de qualidadesocial. E quanto mais pudermos ampliar pesquisas naárea de <strong>Psic</strong>ologia Escolar/Educacional e reflexões críticassobre nossa prática profissional, mais poderemostrabalhar na direção de uma formação profissional críticae de uma atuação na área <strong>educ</strong>acional que contribuampara a construção de políticas públicas coerentescom as necessidades sociais.


Sugestões PráticasSEXUALIDADE E ESCOLA: UM ESPAÇO DE INTERVENÇÃOFlávia Nunes de Moraes Beraldo1As sugestões práticas, aqui apre<strong>se</strong>ntadas, foramde<strong>se</strong>nvolvidas a partir da experiência realizada no estágiode <strong>Psic</strong>ologia Escolar na área de orientação <strong>se</strong>xualem duas escolas municipais, do ensino fundamental, emuma cidade do Sul de Minas no ano de 2000, subsidiadapela Prefeitura da mesma . Pôde-<strong>se</strong> idealizar este trabalhoe ainda verificar a necessidade de que estudos<strong>se</strong>jam feitos, visando explorar o tema e desmistificartabus, preconceitos e estigmas que são impostos pelasociedade durante <strong>sua</strong> evolução.Desde a antigüidade a <strong>se</strong>xualidade vem gerandopolêmicas, mexendo com a <strong>se</strong>nsação e fantasia das pessoas,associada a coisas feias, inconvenientes e impróprias.Apesar da revolução <strong>se</strong>xual, da globalização edos meios de comunicação terem contribuído para umamodificação nas atitudes morais e nas questões ligadasao <strong>se</strong>xo e <strong>se</strong>xualidade, es<strong>se</strong> assunto ainda assim continua<strong>se</strong>ndo um tabu.O estudo da <strong>se</strong>xualidade envolve o crescimento globaldo indivíduo, tanto intelectual, físico, afetivo-emocionale <strong>se</strong>xual propriamente dito. A maioria dos paisacham constrangedor conversar sobre <strong>se</strong>xo com <strong>se</strong>usfilhos, ora pela <strong>educ</strong>ação recebida de <strong>se</strong>us pais, ora pelarepressão <strong>ou</strong> por não saberem como abordar o tema.Assim, os filhos na maioria da vezes, ficam <strong>se</strong>m respostaspara <strong>sua</strong>s dúvidas, gerando conflitos <strong>ou</strong> acidentesinesperados por terem informações errôneas ao consultarvariadas fontes impróprias.A maior parte dos adolescentes passam <strong>se</strong>u tempona escola onde começam a <strong>se</strong> sociabilizar, aflorando <strong>sua</strong><strong>se</strong>xualidade devido ao de<strong>se</strong>nvolvimento corporal geradopelos hormônios. A escola é o ambiente onde ainteração com o mundo ao redor e com as pessoas queo cercam acontece. Depois do ambiente familiar é aescola que complementa a <strong>educ</strong>ação dada pela famíliaonde são abordados temas mais complexos que no diaa-dianão são ensinados e aprendidos, tendo esta umaimensa responsabilidade na formação afetiva e emocionalde <strong>se</strong>us alunos.E quanto ao assunto <strong>se</strong>xo e <strong>se</strong>xualidade? Qual o papelda escola frente a es<strong>se</strong> tema? A escola não devenem vai tomar o lugar da família, mas cabe a ela possibilitaruma aprendizagem correta, já que essa instituiçãovisa o crescimento do indivíduo como um todo.A <strong>educ</strong>ação <strong>se</strong>xual acontece no <strong>se</strong>io familiar. É umaexperiência pessoal contida de valores e condutas transmitidospelos pais e por pessoas que o cercam desde bebê.Já a Orientação Sexual é dada pela escola onde sãofeitas discussões e reflexões à respeito do tema de umamaneira formal e sistematizada que constitui em uma propostaobjetiva de intervenção por parte dos <strong>educ</strong>adores.O que nos cabe é refletir acerca da importância daOrientação Sexual na Escola para a construção da cidadania,de uma sociedade livre de falso moralismo emais feliz. O trabalho de Orientação Sexual tem comoobjetivo principal as mudanças nos padrões de comportamento,levando-<strong>se</strong> em conta três aspectos fundamentais:a transmissão de informações de maneira verdadeira;a eliminação do preconceito e a atuação na áreaafetivo-emocional.<strong>Para</strong> <strong>se</strong> fazer um bom trabalho de Orientação Sexualdentro da escola é importante dar atenção a algunspassos:a) apre<strong>se</strong>ntar um projeto para a instituição com oobjetivo do trabalho;b) fazer uma reunião com os pais e professores paraesclarecer quaisquer dúvidas que possam surgirao longo do trabalho e explicar o papel de ambosjunto à escola neste projeto;c) ob<strong>se</strong>rvar a demanda da escola para que <strong>se</strong> atinjaa expectativa desta;d) a partir das séries estabelecidas para o trabalhoentrar em contato com elas para explicar comoeste <strong>se</strong>rá administrado;1<strong>Psic</strong>óloga , Mestranda no Programa de Estudos Pós-graduados em <strong>Psic</strong>ologia da Universidade São Francisco e docente da Unifenas.


104e) colher, por meio de “bilhetinhos sigilosos,” dúvida<strong>se</strong> curiosidades de cada aluno garantindo-lhestotal sigilo;f) após levantar as dúvidas e curiosidades fazer umaestruturação do programa a <strong>se</strong>r cumprido em diferentesséries (conteúdo, horário, encontros, local),para uma maior eficácia;g) estabelecer um contrato ( regras sugeridas pelogrupo);h) garantir a ética do trabalho tanto para os alunoscomo para os professores;i) garantir a liberdade de opinião e o respeito dogrupo pelas dúvidas de <strong>se</strong>us colegas, <strong>se</strong>m monopólioda verdade de ambas as partes.O primeiro conteúdo indispensável neste trabalho éa diferenciação de <strong>se</strong>xo e <strong>se</strong>xualidade e também de EducaçãoSexual e Orientação Sexual, que são muito confundidosna maioria das vezes.Sugestões PráticasO <strong>educ</strong>ador de Orientação Sexual deve <strong>se</strong>r umapessoa aberta, livre de mitos e preconceitos referentesà <strong>se</strong>xualidade para melhor ministrar a turma<strong>se</strong>m causar problemas com a instituição, pais, aluno<strong>se</strong> professores, podendo abordar os assuntos atravésde aulas expositivas, dinâmica de grupo, folheto<strong>se</strong>xplicativos, filmes e <strong>ou</strong>tros materiais referentesao tema. O trabalho não envolve nota <strong>ou</strong> reprovação.<strong>Para</strong> finalizar <strong>se</strong>guem dois lembretes es<strong>se</strong>nciais: énecessário ressaltar a importância dos pais nes<strong>se</strong> processopara que estes não <strong>se</strong> acomodem, julgando aescola responsável pelo processo da <strong>educ</strong>ação <strong>se</strong>xualde <strong>se</strong>us filhos; não cabe ao professor de OrientaçãoSexual virar con<strong>se</strong>lheiro <strong>ou</strong> confidente dos alunos.Deve, <strong>se</strong> necessário, encaminhar para um profissionalespecializado.


InformativoNOTÍCIAS BIBLIOGRÁFICASBarros, A., & Santaella, L. (Orgs.) (2002). Mídias e artes - osdesafios da arte no início do século XXI. São Paulo:Unimarco Editora, 168 p. Autores diversos enfocam váriostemas sobre arte, <strong>educ</strong>ação artística e as relações damídia com as artes.Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Sub<strong>se</strong>cretariade Assuntos Administrativos. Coordenação-Geral de Documentaçãoe informação. Legislação em saúde mental1990-2001. (2001). Coordenação -Geral de Documentaçãoe Informação 2ª ed. revisada e atualizada. Brasília:Ministério da Saúde 110 p. Apre<strong>se</strong>nta legislação federale de alguns estados sobre a saúde mental.Belo, A. (2002). História & livro e leitura. Belo Horizonte: Autêntica,113 páginas. Discute o impacto do livro digital eo poder da imprensa; apre<strong>se</strong>nta uma breve história dolivro e da leitura entre <strong>ou</strong>tros temas de interes<strong>se</strong> para osque trabalham com a leitura.Benjamin, W. (2002). Reflexões sobre a criança, o brinquedo ea <strong>educ</strong>ação. Tradução, apre<strong>se</strong>ntação e notas de M. V.Mazzari, do original inglês de 1972. São Paulo: Duas cidades.173 p. São textos extraídos de várias obras doautor falecido em 1940 e que ainda são de interes<strong>se</strong> para<strong>educ</strong>adores.Bolivar, A. (2002). Profissão professor: o itinerário profissionale a construção da escola. Tradução do espanhol de2002 por G. C. C. de S<strong>ou</strong>za. Bauru: EDUSC, 234 p. Emboraa realidade enfocada pelo autor <strong>se</strong>ja diferente da nacionalhá muitos pontos em comum no que concerne aociclo de vida profissional, a situação da pesquisa e <strong>sua</strong>aplicação. Texto relevante para professores e <strong>se</strong>us formadores.Buss, K., & Karnowski, L. (2002). Reading and writingnonfiction genres. Newark: IRA. viii+ 135 p. As pessoasprecisam saber ler e escrever textos que não são do tipoliterário e as escolas não dão aos mesmos o devido cuidado.É bom contar com obras como esta que <strong>se</strong> preocupamcom o com ensinar a fundir textos, a escrever textosinformativos, jornalísticos etc.Capovilla, A. G. S., & Capovilla, F. C. (2002). Alfabetização:Método Fônico. São Paulo: Memmon Ed. Científicas, 393p. Descreve, justifica <strong>ou</strong>so do método fônico como meiopara alfabetização. Apre<strong>se</strong>nta passo a passo a alfabetizaçãofônica com textos e exemplos para a <strong>sua</strong> aplicação.Fadiman, A. (2002). Ex-libris - confissões de uma leitora comum.Tradução do original inglês de 1998 por R. Quintana.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. A escritora narra <strong>sua</strong>vivência com livros e leitura. Texto bom para <strong>se</strong>mináriode formação e de estudo de leitores, para estudiosos daleitura especialmente do comportamento e das variáveisque influem na leitura.Faria, M. A. O. (2002). Como usar o jornal na sala de aula. SãoPaulo: Contexto, 162 p. Trabalhar o jornal no contexto desala de aula é enriquecê-la, diversificar o que nela ocorre eajudar a formar o cidadão. Este livro é de grande valia nestesaspectos para professores e psicólogos <strong>educ</strong>acionais.Faria, M. A. O. (2002). O jornal na sala de aula. São Paulo:Contexto, 128 p. Trabalha as relações entre redação <strong>escolar</strong>e a linguagem da imprensa, como organizar um jornalna escola e de<strong>se</strong>nvolver as habilidades necessárias àleitura crítica. Texto de interes<strong>se</strong> para professores, administradore<strong>se</strong> psicólogos <strong>escolar</strong>es.Feltran, R. C. S. (Org.) (2002). Avaliação na Educação Superior.Campinas: Papirus. Trata da avaliação institucionalcomo meio para melhoria do ensino - aprendizagem; davalorização da atividade docente, da avaliação de repetente<strong>se</strong> de ingressantes; da avaliação emancipatória entre<strong>ou</strong>tros tópicos.


106Joly, M. C. R. A. (Org.) (2002) Tecnologia no Ensino : implicaçõespara a aprendizagem. São Paulo: Casa do <strong>Psic</strong>ólogo.Especialistas na área de tecnologia <strong>educ</strong>acional discutemo tema sob diferentes perspectivas. Contribuem para aampliação do conhecimento das implicações para a aprendizagem,do uso de recursos tecnológicos no ensino.Manfredi, S. M. (2002). Educação Profissional no Brasil. SãoPaulo: Cortez, 320 p. Faz uma retrospectiva do ensinoprofissionalizante no Brasil; enfoca as várias redes, tratados aspectos financeiros dos sistemas SENAI, SESI,SENC, o pepel das ONGs e das organizações de trabalhadores,fecha com uma análi<strong>se</strong> do Plano Nacional de Educaçãode 2001.Mantione, R. D., & Smead, S. (2002). Weaving thr<strong>ou</strong>gh words.Newark: IRA, xiv + 202 p. As autoras recorrem às artespara ensinar a ler, mais especificamente para que os alunosaprendam estratégias de compreensão. Recorrem aimagens <strong>se</strong>nsoriais, escultura, pinturas de vários tipos,dramatização, colagem, sombras, mímica, fotografia, contarhistória, dança etc.InformativoRancière. J. (2002). O mestre ignorante. Tradução do originalfrancês de 1987 por L. do Valle. Belo Horizonte: Autêntica,144 p. Enfoca a necessidade de emancipação intelectualdo professor, com textos literários que sãoenriquecedores tanto para os professores como para <strong>se</strong>usformadores e os que trabalham com ele.Sério, T. M. P., Andery, M. A., Gioia, P. S., & Micheletto, N.(2002). Controle de estímulo e comportamento operante.São Paulo: EDUC. 158 p. <strong>Livro</strong> didático que enfoca conceito<strong>se</strong> princípios básicos da <strong>Psic</strong>ologia que são de grandevalor para a compreensão do <strong>se</strong>r humano e do processoensino-aprendizagem.Wechsler, S. M. (2002). Avaliação da criatividade por figuras epalavras. Testes de Torrance - versão brasileira. Campinas:CAMP/ PUC-Campinas, x + 446 p. Após a apre<strong>se</strong>ntaçãodo referencial teórico é apre<strong>se</strong>ntado o material específicodos testes, de grande utilidade para psicólogos<strong>escolar</strong>es.


Informativo 107I CONGRESSO NACIONAL DE AVALIAÇÃO PSICO-LÓGICA /IX CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE AVA-LIAÇÃO PSICOLÓGICA: FORMAS E CONTEXTOS.Realização do Instituto Brasileiro de Avaliação <strong>Psic</strong>ológica (IBAP),a ocorrer nos dias 23 a 26 de julho de 2003 em Campinas-SP, com otema: Ciência e Responsabilidade Social.Informações e Inscrições: PUC-Campinas - Centro de Ciências daVida - Av. John Boyd Dunlop, s/n - Campus II.e-mail: congresso2003@ibapnet.org.brXIV IFTA WORLD FAMILY THERAPY CONGRESSOrganizado pela International Family Therapy Association (IFTA) eThe Turkish Association of Marital and Family Therapy (TRAMFT),ocorrerá na Turquia, de 24 a 27 de março de 2004. O tema do congressoé “ Famílias em tempos de cri<strong>se</strong> global”.Trabalhos podem <strong>se</strong>r enviados via e-mail para info@ifta2004.org<strong>ou</strong> via fax to +90 212 352 26 60. O site do congresso éwww.ifta2004.orgBOLETIM ELETRÔNICOConsulte no site da ABRAPEE http://www.abrapee.psc.br o nossoúltimo Boletim Eletrônico, recentemente divulgado (julho/2003).Envie <strong>sua</strong>s contribuições para <strong>se</strong>rem publicadas no Boletim paraabrapee@abrapee.psc.br; os artigos deverão conterno máximo 3 laudas.


108InformativoForma de Apre<strong>se</strong>ntação dos Manuscritos<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional adota as normas da APA (4 ª edição, 1994), exceto em situaçõe<strong>se</strong>specíficas em que há conflito com a necessidade de <strong>se</strong> as<strong>se</strong>gurar o cumprimento da revisão cega por pares,regras do uso da língua portuguesa, normas gerais da ABNT, procedimentos internos da revista, inclusive característicasde infra-estrutura operacional. A omissão de informação no detalhamento que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue implica em queprevaleça a orientação da APA. Os manuscritos devem <strong>se</strong>r redigidos em português, espanhol, inglês e francêsnas <strong>se</strong>guintes categorias:1. Artigos – trabalhos originais teóricos, de revisão de literatura e de relatos de pesquisa (até 25 laudas);2. Comunicação de Pesquisa – relatos originais sucintos de pesquisas realizadas (até 7 laudas);3. Re<strong>se</strong>nhas – apre<strong>se</strong>ntação e análi<strong>se</strong> de livros publicados na área nos últimos dois anos (até 5 laudas)4. História – reimpressão <strong>ou</strong> impressão de trabalhos <strong>ou</strong> documentos de difícil acesso relevantes para apesquisa e a pre<strong>se</strong>rvação da história da <strong>Psic</strong>ologia Escolar; entrevistas com personagens relevantes da área etrabalhos originais sobre esta história;5. Sugestões Práticas – apre<strong>se</strong>ntação de procedimentos, tecnologias, propostas de trabalhos úteis paraa solução de problemas psico<strong>educ</strong>acionais <strong>ou</strong> para a atuação do psicólogo <strong>escolar</strong>, de vivência do autor denovos instrumentos e de <strong>ou</strong>tras sugestões relevantes para a área (até 5 laudas);6. Registro Informativo – dados sobre eventos, publicações na área, assuntos diversos de interes<strong>se</strong> depsicólogos <strong>escolar</strong>es e <strong>educ</strong>acionais (até 2 laudas);7. Cartas dos leitores – inclui cópias de cartas, <strong>ou</strong> parte de cartas de leitores à direção da revista e aos<strong>se</strong>us autores, bem como respostas a eles.Os manuscritos originais deverão <strong>se</strong>r encaminhados em quatro vias impressas em papel e uma em disquete,digitadas em espaço duplo, em fonte tipo Times New Roman, tamanho 12, não excedendo o número de laudasda categoria em que o trabalho <strong>se</strong> in<strong>se</strong>re, paginado desde a folha de rosto personalizada, a qual receberánúmero de página 1. A página deverá <strong>se</strong>r tamanho A4, com formatação de margens superior e inferior (2,5 cm),esquerda e direita (3 cm).Em caso de reformulação, a nova versão deve <strong>se</strong>r encaminhada em três vias em papel e uma via noformato de disquete, <strong>se</strong>ndo que a formatação de texto e de página deve obedecer às mesmas característicasindicadas para a primeira versão. Todo e qualquer encaminhamento à revista deve <strong>se</strong>r acompanhado de cartaassinada pelos autores, na qual deve estar explicitada a intenção de submissão <strong>ou</strong> re-submissão do trabalho àpublicação. A apre<strong>se</strong>ntação dos trabalhos deve <strong>se</strong>guir a <strong>se</strong>guinte ordem:1. Folha de rosto despersonalizada contendo apenas:1.1. Título pleno em português, não devendo exceder 12 palavras.


Informativo 1091.2. Sugestão de título abreviado para cabeçalho, não devendo exceder 4 palavras.1.3. Título pleno em inglês, compatível com o título em português.2. Folha de rosto personalizada contendo:2.1. Título pleno em português.2.2. Sugestão de título abreviado.2.3. Título pleno em inglês.2.4. Nome de cada autor, <strong>se</strong>guido por afiliação institucional por ocasião da submissão do trabalho.2.5. Indicação do autor a quem o leitor do artigo deve enviar correspondência, <strong>se</strong>guido de endereçocompleto, de acordo com as normas do correio.2.6. Indicação de endereço para correspondência com o editor sobre a tramitação do manuscrito, incluindofax, telefone e, <strong>se</strong> disponível, endereço eletrônico.2.7. Se necessário, indicação de atualização de afiliação institucional.2.8. Se apropriado, parágrafo reconhecendo apoio financeiro, colaboração de colegas e técnicos, origemdo trabalho (por exemplo, anteriormente apre<strong>se</strong>ntado em evento, derivado de te<strong>se</strong> <strong>ou</strong> dis<strong>se</strong>rtação, coleta dedados efetuada em instituição distinta daquela informada no item 2.4), e <strong>ou</strong>tros fatos de divulgação eticamentenecessária.3. Folha contendo Resumo, em português.O resumo deve ter o máximo de 150 palavras para trabalhos na categoria de Artigos. Ao resumodevem-<strong>se</strong> <strong>se</strong>guir de 3 a 5 palavras-chave para fins de indexação do trabalho. Devem <strong>se</strong>r escolhidas palavras queclassifiquem o trabalho com precisão adequada, que permitam que ele <strong>se</strong>ja recuperado com trabalhos <strong>se</strong>melhantes,e que possivelmente <strong>se</strong>riam evocadas por um pesquisador efetuando levantamento bibliográfico.No caso de relato de pesquisa, o resumo deve incluir: descrição sumária do problema investigado, característicaspertinentes da amostra, método utilizado para a coleta de dados, resultados e conclusões, <strong>sua</strong>s implicações<strong>ou</strong> aplicações.O resumo de uma revisão crítica <strong>ou</strong> de um estudo teórico deve incluir: tópico tratado (em uma fra<strong>se</strong>),objetivo, te<strong>se</strong> <strong>ou</strong> construto sob análi<strong>se</strong> <strong>ou</strong> organizador do estudo, fontes usadas (p. ex. ob<strong>se</strong>rvação feita peloautor, literatura publicada) e conclusões.4. Folha contendo Abstract, em inglês, compatível com o texto do resumo.O Abstract deve obedecer às mesmas especificações para a versão em português, <strong>se</strong>guido de key words,compatíveis com as palavras-chave.5. Texto propriamente dito.Em todas as categorias de trabalho original, o texto deve ter uma organização de reconhecimento fácil,sinalizada por um sistema de títulos e subtítulos que reflitam esta organização. No caso de relatos de pesquisa otexto deverá, obrigatoriamente, apre<strong>se</strong>ntar: introdução, metodologia, resultados e discussão. As notas não


110Informativobibliográficas deverão <strong>se</strong>r reduzidas a um mínimo e colocadas ao pé das páginas, ordenadas por algarismosarábicos que deverão aparecer imediatamente após o <strong>se</strong>gmento de texto ao qual <strong>se</strong> refere a nota. Os locaissugeridos para in<strong>se</strong>rção de figuras e tabelas deverão <strong>se</strong>r indicados no texto. As citações de autores deverão <strong>se</strong>rfeitas de acordo com as normas da APA, exemplificadas ao fim deste texto. No caso de transcrição na íntegrade um texto, a transcrição deve <strong>se</strong>r delimitada por aspas e a citação do autor <strong>se</strong>guida do número da páginacitada. Uma citação literal com 40 <strong>ou</strong> mais palavras deve <strong>se</strong>r apre<strong>se</strong>ntada em bloco próprio, começando emnova linha, com recuo de 5 espaços da margem, na mesma posição de um novo parágrafo. O tamanho da fontedeve <strong>se</strong>r 12, como no restante do texto. Todas as citações em itálico deverão vir sublinhadas e não em itálico.6. Referências, ordenadas de acordo com as regras gerais que <strong>se</strong> <strong>se</strong>guem. Trabalhos de autoria única edo mesmo autor são ordenadas por ano de publicação, a mais antiga primeiro. Trabalhos de autoria únicaprecedem trabalhos de autoria múltipla, quando o sobrenome é o mesmo. Trabalhos em que o primeiro autor éo mesmo, mas co-autores diferem são ordenados por sobrenome dos co-autores. Trabalhos com a mesmaautoria múltipla são ordenados por data, o mais antigo primeiro. Trabalhos com a mesma autoria e a mesma datasão ordenados alfabeticamente pelo título, desconsiderando a primeira palavra <strong>se</strong> for artigo <strong>ou</strong> pronome, excetoquando o próprio título contiver indicação de ordem; o ano é imediatamente <strong>se</strong>guido de letras minúsculas.Quando repetido, o nome do autor não deve <strong>se</strong>r substituído por travessão <strong>ou</strong> <strong>ou</strong>tros sinais. A formatação dalista de referências deve <strong>se</strong>r apropriada à tarefa de revisão e de editoração – além de espaço duplo e tamanhode fonte 12, parágrafo normal com recuo apenas na primeira linha, <strong>se</strong>m deslocamento das margens; os grifosdevem <strong>se</strong>r indicados por um traço sob a palavra (p. ex., sublinha). A formatação dos parágrafos com recuo edos grifos em itálico é re<strong>se</strong>rvada para a fa<strong>se</strong> final de editoração do artigo.7. Anexos, apenas quando contiverem informação original importante, <strong>ou</strong> destacamento indispensávelpara a compreensão de alguma <strong>se</strong>ção do trabalho. Recomenda-<strong>se</strong> evitar anexos.8. Figuras, incluindo legenda, uma por página em papel, ao término do trabalho. <strong>Para</strong> as<strong>se</strong>gurar qualidadede reprodução as figuras contendo de<strong>se</strong>nhos deverão <strong>se</strong>r encaminhadas em qualidade para fotografia; as figurascontendo gráficos não poderão estar impressas em impressora matricial. Como a versão publicada não poderáexceder a largura de 8,3 cm para figuras simples, e de 17,5 cm para figuras complexas, o autor deverá cuidarpara que as legendas mantenham qualidade de leitura, caso redução <strong>se</strong>ja necessária.9. Tabelas, incluindo título e notas, uma por página em papel e por arquivo de computador. Na publicaçãoimpressa, a tabela não poderá exceder 17,5 cm de largura x 23,7 cm de comprimento. Ao prepará-las, oautor deverá limitar <strong>sua</strong> largura a 60 caracteres, para tabelas simples a ocupar uma coluna impressa, incluindo 3caracteres de espaço entre colunas da tabela, e limitar a 125 caracteres para tabelas complexas a ocupar duascolunas impressas. O comprimento da tabela não deve exceder 55 linhas, incluindo título e rodapé(s). <strong>Para</strong><strong>ou</strong>tros detalhamentos, especialmente em casos anômalos, o manual da APA deve <strong>se</strong>r consultado.


Informativo 111Tipos Comuns de Citação no TextoCitação de artigo de autoria múltipla1. Dois autoresO sobrenome dos autores é explicitado em todas as citações, usando e <strong>ou</strong> & conforme abaixo:“ A revisão realizada por Guzzo e Witter (1987)” mas “a relação do psicólogo-escola pública foi descritacom ba<strong>se</strong> num estudo exploratório na região de Campinas” (Guzzo & Witter, 1987)”2. De três a cinco autoresO sobrenome de todos os autores é explicitado na primeira citação, como acima. Da <strong>se</strong>gunda citação emdiante só o sobrenome do primeiro autor é explicitado, <strong>se</strong>guido de “e cols.” e o ano, <strong>se</strong> for a primeira citação deuma referência dentro de um mesmo parágrafo:Vendramini, Silva e Cazorla (2000) verificaram que [primeira citação no texto]Vendramini e cols. (2000) verificaram que [citação sub<strong>se</strong>qüente, primeira no parágrafo]Vendramini e cols. verificaram [omita o ano em citações sub<strong>se</strong>qüentes dentro de um mesmo parágrafo]Na <strong>se</strong>ção de Referências todos os nomes são relacionados.3. Seis <strong>ou</strong> mais autoresNo texto, desde a primeira citação, só o sobrenome do primeiro autor é mencionado, <strong>se</strong>guido de “ecols.”, exceto <strong>se</strong> es<strong>se</strong> formato gerar ambigüidade, caso em que a mesma solução indicada no item anterior deve<strong>se</strong>r utilizada:Primi e cols. (2001).Na <strong>se</strong>ção de referências, todos os nomes são relacionados.Citações de trabalho discutido em uma fonte <strong>se</strong>cundáriaO trabalho usa como fonte um trabalho discutido em <strong>ou</strong>tro, <strong>se</strong>m que o trabalho original tenha sido lido(por exemplo, um estudo de Taylor, citado por Santos, 1990). No texto, u<strong>se</strong> a <strong>se</strong>guinte citação:Taylor (conforme citado por Santos, 1990) acrescenta que a avaliação da compreensão em leitura... <strong>ou</strong>Taylor (apud Santos, 1990) acrescenta que a avaliação da compreensão em leituraNa <strong>se</strong>ção de Referências informe apenas a fonte <strong>se</strong>cundária, no caso Santos, usando o formato apropriado.Exemplos de Tipos Comuns de Referência1. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado em congresso, mas não-publicadoSerpa, M.N.F., & Santos, A.A.A. (1997, <strong>ou</strong>tubro). Implantação e primeiro ano de funcionamento do


112InformativoServiço de Orientação ao Estudante. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado no XI Seminário Nacional das UniversidadesBrasileiras, Guarulhos - São Paulo.2. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado em congresso com resumo publicado em publicação <strong>se</strong>riada regularTratar como publicação em periódico, acrescentando logo após o título a indicação de que <strong>se</strong> trata deresumo.Silva, A.A., & Engelmann, A. (1988). Teste de eficácia de um curso para melhorar a capacidade de julgamentoscorretos de expressões faciais de emoções [Resumo]. Ciência e Cultura, 40, (7, Suplemento), 927.3. Trabalho apre<strong>se</strong>ntado em congresso com resumo publicado em publicação especialTratar como publicação em livro, informando sobre o evento de acordo com as informações disponívei<strong>se</strong>m capa.Todorov, J.C., S<strong>ou</strong>za, D.G., & Bori, C.M. (1992). Escolha e decisão: A teoria da maximização momentânea[Resumo]. Em Sociedade Brasileira de <strong>Psic</strong>ologia (Org.), Resumos de comunicações científicas, XXIIReunião Anual de <strong>Psic</strong>ologia (p. 66). Ribeirão Preto: SBP.Witter, G.P. (1985). Quem é o psicólogo <strong>escolar</strong>: Sua atuação prática. [Resumo]. Em Sociedade Brasileirade <strong>Psic</strong>ologia (org.), XVII Reunião Anual de <strong>Psic</strong>ologia, Resumos (p. 261). Ribeirão Preto: SBP.4. Te<strong>se</strong>s <strong>ou</strong> dis<strong>se</strong>rtações não-publicadasPolydoro, S.A.J. (2001). O trancamento de matrícula na trajetória acadêmica do universitário:Condições de saída e de retorno à instituição. Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>torado, Universidade Estadual de Campinas,Campinas - SP.5. <strong>Livro</strong>sSolé, I. (1998). Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas.6. Capítulo de livro.Anderson, R.C., & Pearson, P.D. (1984). A schema-theoretic view of basic proces<strong>se</strong>s in readingcomprehension. Em P.D. Pearson, R. Barr, M.L. Kamil & P. Mo<strong>se</strong>nthal (Orgs.), Handbook of reading re<strong>se</strong>arch(vol. 1, pp 251-291). New York: Longman.Pasquali, L. (1996). Teoria da resposta ao item - IRT: uma introdução Em L. Pasquali (Org.), Teoria emétodos de medida em ciências do comportamento (pp. 173-195). Brasília, INEP.7. <strong>Livro</strong> traduzido, em língua portuguesaSalvador, C.C. (1994). Aprendizagem <strong>escolar</strong> e construção de conhecimento. (E. O. Dihel, Trad.)Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1990)Se a tradução em língua portuguesa de um trabalho em <strong>ou</strong>tra língua é usada como fonte, citar a traduçãoem português e indicar ano de publicação do trabalho original.


Informativo 113No texto, citar o ano da publicação original e o ano da tradução: (Salvador, 1990/1994).8. Artigo em periódico científicoKintsch, W. (1994). Text comprehension, memory, and learning American Psychologist, 49, (4), 294-303.9. Obra no preloNão forneça ano, volume <strong>ou</strong> número de páginas até que o artigo esteja publicado. Respeitada a ordem denomes, é a ultima referência do autor.Sonawat, R. (no prelo). Families in India. <strong>Psic</strong>ologia: Teoria e Pesquisa.10. Autoria institucionalAmerican Psychiatric Association (1988). DSM-III-R, Diagnostic and statistical manual of mentaldisorder (3 a ed. revisada). Washington, DC: Autor.A remessa de manuscritos para publicação, bem como toda a correspondência de <strong>se</strong>guimento que <strong>se</strong>fizer necessária, deve enviada para a Revista <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, conforme endereço abaixo:ABRAPEEAv. John Boyd Dunlop, s/n. PUC-Campinas – Prédio da <strong>Psic</strong>ologia Clínica13059-900 - Campinas/SPProcedimentos de submissão e avaliação dos manuscritosOs manuscritos que <strong>se</strong> enquadrarem nas modalidades de trabalho especificadas acima passarão pelo<strong>se</strong>guinte procedimento:1.Encaminhamento para emissão de parecer a membros do Corpo Editorial da revista e/<strong>ou</strong> consultoresad hoc.2.Recepção dos pareceres, com recomendação para aceitação (com <strong>ou</strong> <strong>se</strong>m modificações) <strong>ou</strong> rejeição.No caso de aceitação com modificações, os autores <strong>se</strong>rão notificados com a maior brevidade possível dassugestões (cópias dos pareceres <strong>se</strong>rão enviados aos autores, exceto quando h<strong>ou</strong>ver restrição expressa porparte do consultor).3.No caso de aceitação para publicação, o Con<strong>se</strong>lho Editorial re<strong>se</strong>rva-<strong>se</strong> o direito de introduzir pequenasalterações para efeito de padronização conforme os parâmetros editoriais da Revista.4.O processo de avaliação utiliza o sistema de revisão cega por pares, pre<strong>se</strong>rvando a identidade dosautores e consultores.5.A decisão final acerca da publicação <strong>ou</strong> não do manuscrito é <strong>se</strong>mpre do Con<strong>se</strong>lho Editorial.


114InformativoDireitos autoraisOs direitos autorais das matérias publicadas são da Revista <strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional. A reproduçãototal <strong>ou</strong> parcial (mais de 500 palavras do texto) requererá autorização por escrito do Editor.O autor principal da matéria receberá três exemplares da edição em que esta foi publicada. Os originaisnão-publicados não <strong>se</strong>rão devolvidos.


FORMULÁRIO PARA PAGAMENTO DA ANUIDADE 2003Nome: _________________________________________________________________________________________Forma de pagamento:( ) Cheque nº__________________________Banco nº__________________Data ________/________/_______VALOR: R$ ___________________________________( ) Depósito em conta bancária: Banco Itaú - ag. 1025 CC: 04716-6 - VALOR: R$ ______________________(enviar cópia do recibo do depósito com esta ficha).Valor da anuidade 2003 (incluindo revistas)(valor para pagamento até 30/4/2003)R$ 70,00 (profissionais)R$ 35,00 (estudantes de graduação e pós-graduação – enviar xerox de documento de comprovação)(valor para para pagamento após 30/4/2003)R$ 100,00 (profissionais)R$ 50,00 (estudantes de graduação e pós-graduação)Data _______/________/________ assinatura sócio ___________________________________________ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _Por favor, atualize os dados abaixo:Endereço: ______________________________________________________Bairro:__________________________Cep:_________________________Cidade:____________________________________________UF:_____________Tel.: (_____) ____________________________________Fax: (_____) _____________________________________CRP nº: ___________________________________________ (para atualização do cadastro)E-mail: ______________________________________________________________________(incluir <strong>ou</strong> atualizar)(PARA USO DA ABRAPEE)————————————————————————————————————————————(Devolveremos o recibo após carimbo e assinatura da Secretaria da ABRAPEE)ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONALCNPJ 66 068 818 / 0001- 54RECIBO DA ANUIDADE DE 2003Recebemos de ____________________________________________________________CODAB_______________o valor de R$______________________________________________________________________________________________,referente à anuidade de 2003.Campinas, ________de ______________________ de 2003.Tes<strong>ou</strong>raria da ABRAPEEENDEREÇO DA ABRAPEE: Rua Marechal Deodoro, 1019 Campinas/SP Fone: (19) 9127 9566 Site: http://www.abrapee.psc.brFale conosco: abrapee@abrapee.psc.br


ALGUNS TÍTULOS DA CASA DO PSICÓLOGOTítuloAutor/OrganizadorEducação, PedagogiaCinco Estudos de Educação MoralMacedo, Lino de (Org.)Computador no Ensino e a Limitação da ConsciênciaCrochik, Jo<strong>se</strong> LeonCrianças de Clas<strong>se</strong> EspecialMachado, AdrianaCrianças Querem Saber, e Agora?, AsCosta, MoacirDifusão Das Idéias de Piaget No Brasil, AVasconcelos, Mario SérgioEncontros com Sara PaínParente, Sonia MariaEnsaios ConstrutivistasMacedo, Lino deEra Assim ... Agora NãoScarpa, ReginaÉtica e Valores: Métodos para um Ensino TransversalPuig, Jo<strong>se</strong>p MariaFormas Elementares da Dialética, AsPiaget, JeanGuia de Orientação SexualGtpos – Abia – EcosHistórias de Indisciplina EscolarCíntia Copit FrellerIntrodução à <strong>Psic</strong>ologia Escolar Patto, Maria Helena S.Jean Piaget Sobre a PedagogiaParrat, SílviaOficina Criativa e <strong>Psic</strong>opedagogiaAllessandrini, CristinaPelos Caminhos da Ignorância e do ConhecimentoParente, Sonia MariaProfessores e Alunos – Problema: um círculo viciosoMantovanini, Maria CristinaProdução do Fracasso Escolar, AMaria Helena S. PattoPrograma de Leitura SilenciosaCondemarin, Mabel<strong>Psic</strong>análi<strong>se</strong> e Educação – Laços RefeitosBacha, Márcia Neder<strong>Psic</strong>ologia e EducaçãoMarilene Proença<strong>Psic</strong>ologia Escolar: em Busca de Novos RumosMachado, Adriana M. (Org.)<strong>Psic</strong>opedagogia: Uma Prática, Diferentes EstilosRubinstein, EdithSaúde e Educação. Muito prazer!Maria Salum e Morais; Beatriz S<strong>ou</strong>za (Orgs.)Quatro Cores, Senha e DominóMacedo, Lino (Org.)Quatro Cores, Senha e Dominó – Caderno para AtividadesMacedo, Lino (Org.)Reunião de Pais: Sofrimento Ou Prazer? Althuon, Beate G.

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