O som dos tambores:ecos de resistência e luta do povo negroHá tempos os tambores são utilizadoscomo forma de expressão dos negrosno Brasil. O som vibrante eram escutadosnos terreiros das fazendas, quando o povoafricano desapropriado de suas origens se reuniapara festejar, louvar os ancestrais e reafirmar osideais de resistência e luta.Ainda hoje, várias danças e manifestaçõesculturais são embaladas pelo som dos tambores efica difícil permanecer imóvel em meio à energiaque eles transmitem. Na reportagem do jornal Brasilde Fato intitulada “A riqueza multicultural de SãoPaulo” 7 , a cena descrita oferece uma idéia do corpoembalado pelo ritmo da batucada:Entre os grupos de dança, apresentações defolias de reis, congadas, moçambiques, catira efolias do divino. Muita cor, muita música e muitadescontração contagiavam a platéia, que procuravaseguir os passos dos grupos e acompanhavacom palmas o ritmo caipira.Para entender um pouco mais sobre as diversasmanifestações culturais do nosso país, destacamosa seguir um Pequeno Dicionário Cultural, comofoi nomeado pela equipe de reportagem do jornal:Congada paulistaCongado é sinônimo de encontro ritual devários grupos de Congos, Moçambiques eAssemelhados. Cortejos de forte raiz africana,existem nos mais diversos pontos dopaís, em festas religiosas, principalmentenas dedicadas à Nossa Senhora do Rosárioe a São Benedito.ReisadoFolias de Reis são grupos que, em forma deranchos, recontam a lendária viagem dosTrês Reis Magos do Oriente para adorar oDeus Menino.JongoDança de origem banto, do mesmo troncodo batuque, ambos ancestrais do samba edo pagode, que resiste em alguns pontos doVale do Paraíba. Nela, são homenageadosSão Benedito e antepassados negros.Fandango de TamancosFandango, no interior Sul e litoral Sul, continuaa designar os bailes de sítio, asfolganças que animam ocasiões especiais(casamentos e aniversários). Neles, sapateadose palmas se alternam com valsadose danças de sapateado forte (fandango detamancos e fandango de chilenas).Samba de Bumbo e Samba de LençoDuas variantes do samba tradicional emSão Paulo, consideradas como os ancestraisdo samba cosmopolita. Guardam traços queos aproximam do jongo e do batuque. O deBumbo é característico da festa do Bom Jesus,em Pirapora. O de Lenço é em devoçãoa São Benedito.CatiraOutra dança de palmeados e sapateados,acompanhados, sempre, por duplas devioleiros, que alternam as modas com a atuaçãodos catireiros. De tradição masculina,muitos grupos já admitem a participaçãode mulheres.CocoDança típica das regiões praieiras, e comumno Norte e Nordeste. O coco vemdo canto dos tiradores de coco. Tem umacoreografia básica: os participantes formamfilas, ou rodas, sapateiam, respondemo coco, trocam umbigadas e batempalmas marcando o ritmo. A dança teminfluência dos bailados indígenas Tupis edos negros, os batuques africanos. Os instrumentosmais utilizados de percussão:ganzá, bombos, zabumbas, caracaxás,pandeiros e cuícas.7Jornal Brasil de Fato de 25 de setembro a 1º de outubro de 2003. Cultura (pág. 16)23
O pesquisador Paulo Dias 8 utiliza a expressão“Comunidades do Tambor” ao se referiraos diferentes estilos regionais das danças-músicasnegras (como os batuques, ascongadas, os candomblés e o samba urbano).E destaca: [...] um certo repertório de padrõesrítmicos que se reproduz, em diferentes conjuntosinstrumentais, através do imenso territóriodo Brasil e das Américas negras, criandolaços simbólicos de parentesco com a Áfricadistante. Linhagens rítmicas que, mais resistentesao tempo que qualquer palavra ou canto,atualizam-se a todo instante pelas mãos quetocam e pelos pés que dançam.A cultura, a consciência e a mística 9Ademar BogoTrês elementos se combinam na formaçãodo sujeito histórico Sem Terra:a cultura a consciência e a mística.Um ser humano independentemente dascircunstâncias de que é gerado, nasce pelo empenhoe esforço de outros que se relacionam.Os hábitos do cuidado para que este ser se desenvolvasão recolhidos dos ensinamentos passadospelas gerações que fizeram sua experiênciae descobriram que determinadas ervas setransformam em remédios, frutas e cereais setransformam em alimentos etc.Ao rebentar, o ser humano indefeso, deixade ser apenas rebento e passa fazer partede uma sociedade determinada, por isso torna-seser social.Encontra, portanto uma estrutura socialmontada que lhes facilita a vida e ao mesmo tempoimpõe limites estabelecidos por dois poderes:temporal e espiritual. O Estado cuida da estruturadas leis, e a religião da moralidade.Aprende a manejar as coisas a partir dosensinamentos produzidos pela experiência de seusgenitores e se produz a si próprio a partir das iniciativase determinações estabelecidas.Tem como obrigação nesta escala da formaçãohumana, primeiro aprender o nome dosobjetos que usará para se comunicar e produzira própria existência; segundo: seguindo atradição, educar-se em uma escola, freqüentara igreja assumindo uma religião, assimilar valorese pô-los em prática, e terceiro, dedicar-seao trabalho para daí extrair os alimentos, buscarmeios para edificar sua moradia, comprarutensílios, roupas, calçados, portanto lidar como mercado etc. Se os pais são camponeses epossuem terra, aprenderá cedo o ofício da agriculturaexecutando tarefas determinadas e perceberáque o alimento vem da terra cultivada.Se os pais forem operários, aprenderá que oalimento vem do salário. Quem não tem salárionão tem alimentos. Essa é a ordem de comandodo capital.Acompanha esta trajetória, preceitos morais,ou seja, normas que se baseiam em valoresmorais que objetivam formar costumes. É issoque diz a palavra “moral” no latim significa mores,ou seja, costumes. Estes ao serem assimilados,seguem os passos da obediência pacífica.No caso de dúvidas ou desrespeitos, apela-separa a ética que refletirá o modo de ser e retificaráos desvios de caráter.Os costumes padronizam o comportamento,de grupos ou de toda a sociedade quepodem ser alterados de tempos em tempos.Em sociedades igualitárias as normas sãomais duradouras. Em sociedades desiguais,as normas e os valores são ultrapassadosconstantemente pelos interesses do capital,que busca atingir através da “massificaçãoda cultura” (cultura de massas) o caráter das248Trabalho publicado (ver site do Min. das Relações exteriores http://www.dc.mre.gov.br) Foi escrito originalmente paraapresentar a exposição multimídia “Comunidades do Tambor”, montada no SESC Vila Mariana, em São Paulo, durante oevento “Percussões do Brasil”, em 1999.9Estudo feito com o setor de cultura do MST em Ibirité em 19 e 20 de maio de 2001.
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