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Centenário do nascimento de Carlos Drummond de Andrade

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<strong>Carlos</strong> Nejar“coisa-oferta” da máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, vai-se também <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, aospoucos, <strong>de</strong> certa técnica que o nutria, vai-se aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> ao lastro da maisinabalável solidão, a <strong>do</strong> boi-tempo <strong>do</strong> menino. Seguin<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mistério dacoisa-oferta para o já não-inventável <strong>de</strong> um memorioso, tal o Funes borgeanona catalogação através da infância, da lembrança <strong>do</strong> paraíso, história mágica<strong>de</strong> Minas. E um da<strong>do</strong> fundamental. Se Aristóteles na sua Poética apresenta aPoesia como ativida<strong>de</strong> mais elevada e filosófica que a História – motivo <strong>de</strong> controvérsia– não se po<strong>de</strong> negar que a poesia drummoiana é a lúcida História <strong>de</strong>stestempo. Importante, sobretu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> o que vige é o esquecimento. Mas oesquecimento da história não nos leva ao esquecimento <strong>de</strong> nós mesmos? E talvezo que nos captura na gran<strong>de</strong> poesia seja a incapacida<strong>de</strong> da linguagem <strong>de</strong>nunca esquecer, mesmo que afirme ter esqueci<strong>do</strong>.Ensina José <strong>de</strong> Ortega yGasset que “aquilo que distingue um gran<strong>de</strong> poeta <strong>do</strong>s<strong>de</strong>mais é o fato <strong>de</strong> ele nos dizer algo que ninguém jamais disse, mas que não é novopara nós”. Porque é novo para nós na medida em que nos <strong>de</strong>scobre, e é velho, antiquíssimo,flutuante na memória <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os homens. E memória das coisas acabadas,resistentes, <strong>de</strong> pedras fundadas com o grito <strong>de</strong> toda a força <strong>do</strong> limite humanona palavra “nascida <strong>do</strong> puro silêncio” <strong>do</strong> “som inteiro e perfeito” – <strong>de</strong> Ronsard –o mais ru<strong>do</strong> peito <strong>de</strong> Minas, como no conheci<strong>do</strong> soneto <strong>de</strong> Cláudio Manuel daCosta (“Entre penhas tão duras se criara / Uma alma eterna”).Aqui um freio, um estugar <strong>de</strong> passos. Pois falta configurar a máquina <strong>do</strong>poema. Máquina, para não dizer espelho que revela o que lhe é refleti<strong>do</strong>. Àsvezes, como o espelho <strong>de</strong> Alice no País das Maravilhas, ao avesso. Ou “máquina<strong>de</strong> morar”, usan<strong>do</strong> uma expressão <strong>de</strong> Corbusier. A “máquina <strong>de</strong> imagens” –para Mathiessen. Ou “a máquina feita <strong>de</strong> vocábulos”, inventada por Swift.Assim, se Camões vislumbrou “a máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, há que falar, em <strong>Carlos</strong><strong>Drummond</strong>, na máquina <strong>do</strong> poema. E também sua importância e situaçãopara a futura poesia brasileira. E essa máquina <strong>do</strong> poema, jungida à máquina<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, talvez tenha chega<strong>do</strong> ao auge trituratório, com o ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>palavras <strong>do</strong>ídas e mastigadas com o famoso poema “A pedra no meio <strong>do</strong> caminho”.Não só o constatar <strong>do</strong> acontecimento (“tinha uma pedra no meio82

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