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Centenário do nascimento de Carlos Drummond de Andrade

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<strong>Carlos</strong> Nejarfiel da “máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”. Até o instante da corrosão <strong>do</strong> “eu” <strong>do</strong> poetacontra o seu mecanismo. O <strong>de</strong>rruir da perspectiva <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é também a evi<strong>de</strong>nte<strong>de</strong>sistência diante da viagem <strong>do</strong> visível no invisível. Luci<strong>de</strong>z <strong>de</strong>masiada?Talvez. Ligada à ausência <strong>de</strong> fé no po<strong>de</strong>r suasório da palavra. Ao negaro absoluto da máquina <strong>do</strong> cosmos, <strong>Drummond</strong> se nega e nos nega, se usarmosa máscara romântica da voz coletiva <strong>do</strong> que cantou “a rosa <strong>do</strong> povo”,“o tempo <strong>do</strong>s homens parti<strong>do</strong>s”. É como ele próprio refere: “O meu amoré tu<strong>do</strong> o que, morren<strong>do</strong>, / não morre to<strong>do</strong>, e fica no ar, para<strong>do</strong>.” Pois que“a máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” não pára, não po<strong>de</strong> parar. E tem <strong>de</strong> ser alimentadana constância, como assegura o genial itabirano: “Bruxoleia a chama que odia claro alimentava, ardência.” A máquina <strong>do</strong> poema é o dia claro eoseuandamento é a ardência da flama, <strong>de</strong> que somos o lenho. E dia claro no poema,a vida, iluminação <strong>de</strong>svenda<strong>do</strong>ra da realida<strong>de</strong>. Mas se a chama é excessiva,po<strong>de</strong> comburir a engrenagem, com tamanha luci<strong>de</strong>z. Assim, a criaçãosempre necessita <strong>do</strong> intervalo entre o consciente e o inconsciente para nãoser abalada na voracida<strong>de</strong> <strong>do</strong> próprio fogo.O excesso <strong>de</strong> sol requer também a compensação <strong>de</strong> sombra para não <strong>de</strong>svairar-se.O que suce<strong>de</strong> em <strong>Drummond</strong> não é a explosão em pleno ar <strong>de</strong> seus senti<strong>do</strong>sabertos ao cosmos. É o gradativo recuar e apagar-se, fican<strong>do</strong> “o fogofrio” e o frio sem fogo. A invenção então passa a ser <strong>de</strong>sinventada. Ao ser paralisadaa máquina, paralisa-se o <strong>de</strong>stino. E a linguagem é um movimento que jamais<strong>de</strong>ve se acabar. Por começar a fluir até na morte. E nem a morte acaba.Mesmo que o poeta insista:Baixei os olhos, incuriosos, lasso,<strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhan<strong>do</strong> colher a coisa-ofertaque se abria gratuita ao meu engenho.A <strong>de</strong>sistência em <strong>Drummond</strong>, – e por que não, renúncia? – pesa-lhe nacriação posterior, seja por <strong>de</strong>silusão política, seja por vicissitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>senganos.Sua máquina <strong>do</strong> poema continua, dútil, rutilante, precisa, mas não é80

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