12.07.2015 Views

Centenário do nascimento de Carlos Drummond de Andrade

Centenário do nascimento de Carlos Drummond de Andrade

Centenário do nascimento de Carlos Drummond de Andrade

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Lélia Coelho FrotaEm mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 40 é estimulante encontrar os <strong>do</strong>is amigos trocan<strong>do</strong>entranhadas experiências sobre o processo da criação com o mesmo empenhoe rigor que tinham na década <strong>de</strong> 20. Percorramos aqui alguns trechos das cartasinéditas <strong>de</strong> <strong>Drummond</strong>, escolhi<strong>do</strong>s das décadas <strong>de</strong> 20 a 40, pelas quais seesten<strong>de</strong> a correspondência, interrompida pela morte <strong>de</strong> Mário, para sentirmoso tom e o toque da palavra <strong>do</strong> poeta:CARTA DE 28.10.1924Preza<strong>do</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,Procure-me nas suas memórias <strong>de</strong> Belo Horizonte: um rapaz magro, que esteve consigono Gran<strong>de</strong> Hotel e que muito o estima. Ora, eu <strong>de</strong>sejo prolongar aquela fugitiva hora <strong>de</strong> convíviocom seu claro espírito. Para isso utilizo-me <strong>de</strong> um recurso in<strong>de</strong>cente: man<strong>do</strong>-lhe um artigomeu que você lerá em <strong>de</strong>z minutos. Dois méritos: é curto e “fala mal” <strong>do</strong> senhor AnatoleFrance. (Aliás, Anatole France é um velho vício <strong>do</strong>s brasileiros, e meu também.)Em Confissões <strong>de</strong> Minas (1944), no texto “Suas cartas”, <strong>Drummond</strong> escreverásobre Mário: “Debruço-me à beira <strong>de</strong>sse poço <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenove anos <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>.Lá embaixo, no escuro, é 1924. [...] Havia excesso <strong>de</strong> boa educação no ardas Minas Gerais, que é o mais puro ar <strong>do</strong> Brasil, e os moços precisavam <strong>de</strong>seducar-se,a menos que preferissem morrer exaustos antes <strong>de</strong> ter briga<strong>do</strong>. Paraessa <strong>de</strong>seducação salva<strong>do</strong>ra contribuiu muito, senão quase totalmente, um senhormaduro, <strong>de</strong> trinta e um anos (quan<strong>do</strong> se tem vinte, os que têm vinte e cincojá são velhos imemoriais), que passou por Belo Horizonte numa alegre caravana<strong>de</strong> burgueses artistas e intelectuais, adicionada <strong>de</strong> um poeta francês[Blaise Cendrars] que per<strong>de</strong>ra um braço na guerra e andava à procura <strong>de</strong> melanciae cachaça. Foram apenas algumas horas <strong>de</strong> contato no Gran<strong>de</strong> Hotel; osburgueses agita<strong>do</strong>s regressaram a São Paulo, o senhor maduro com eles; e <strong>de</strong> lácomeçou a escrever-nos.”O jovem <strong>Carlos</strong> vai ao encontro <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>rnistas paulistas, que regressam<strong>de</strong> uma <strong>de</strong> suas viagens <strong>de</strong> “<strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> Brasil”, no caso as cida<strong>de</strong>s mineiras90

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!