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Centenário do nascimento de Carlos Drummond de Andrade

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<strong>Drummond</strong>: um poeta além <strong>do</strong> tempo<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> aparentemente trivial. Andan<strong>do</strong> pelo crepúsculo <strong>de</strong> Minas, <strong>de</strong> repentesurge uma máquina que vem da natureza, mas vem <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le também. Eessa máquina meio estranha, esse ser compósito, começa a se apresentar, a lhemostrar algumas maravilhas, coisas materiais, mas coisas impon<strong>de</strong>ráveis. Maisadiante, num verso, ele diz que a máquina lhe oferecia a resposta a tu<strong>do</strong> aquiloque a vida inteira ele sempre procurou, mas nunca obteve.No entanto, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>slumbramento, <strong>do</strong> bojo luminoso <strong>de</strong>ssa máquinanós somos surpreendi<strong>do</strong>s com o fato <strong>de</strong> que o poeta recusa a resposta àoferta que a máquina lhe fez, como se parodian<strong>do</strong> a recusa feita no alto damontanha à tentação <strong>do</strong> <strong>de</strong>mônio, quan<strong>do</strong> a verda<strong>de</strong> é oferecida a Cristo <strong>de</strong> algumamaneira. Do ponto <strong>de</strong> vista profano, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista metafísico e filosófico,esse poema está dizen<strong>do</strong> que, se o poeta tivesse aceito a aparência daverda<strong>de</strong>, que a máquina lhe mostrava através <strong>do</strong> seu brilho, se tivesse aceitoisso, teria perdi<strong>do</strong> a verda<strong>de</strong> por inteiro.A recusa daquilo que se apresenta como verda<strong>de</strong> possibilita ao personagemgauche continuar em busca da resposta. Resposta que sabemos to<strong>do</strong>s nunca serácompleta. Se ele tivesse aceita<strong>do</strong> a aparência <strong>de</strong> resposta completa que a máquinatenta<strong>do</strong>ramente lhe ofereceu, a sua trajetória metafísica estaria interrompida.No entanto, ele recusa. Curiosamente, há uma série <strong>de</strong> poemas <strong>de</strong> Drummon<strong>do</strong>n<strong>de</strong> as palavras “pergunta”, “inquérito”, “procura” vão se compon<strong>do</strong>,vão se articulan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> mesmo movimento. E há uma coisa muito importante<strong>de</strong> se assinalar para os leitores que às vezes lêem mais aci<strong>de</strong>ntalmentea obra <strong>de</strong> <strong>Drummond</strong>: quan<strong>do</strong> se fala da “máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” as pessoas ten<strong>de</strong>ma se centrar no poema chama<strong>do</strong> “A máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” e esquecem <strong>de</strong>uma coisa que está ali escrita. A máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> não é apenas o poema “A máquina<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, e sim <strong>do</strong>is poemas: um com o título <strong>de</strong> “A máquina <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>” e outro poema chama<strong>do</strong> “Relógio <strong>do</strong> Rosário”.Por que o poeta pegou o poema “Relógio <strong>do</strong> Rosário” e o colocou ao la<strong>do</strong><strong>de</strong> “A máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” e chamou os <strong>do</strong>is <strong>de</strong> A máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>? Porque osegun<strong>do</strong> poema continua o primeiro. E a crítica, em geral, nunca se preocupouem relacionar um com o outro. Por que “Relógio <strong>do</strong> Rosário”? Porque conti-123

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