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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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SumárioEDITORIAL .................................................................................................................................................... 05PESQUISASPRÁTICAS DE CUIDADO EM UMA UNIDADE DE EMERGÊNCIA: ENCONTROS EDESENCONTROS SEGUNDO FAMILIARES DE PACIENTES INTERNADOS. .................................... 07CARE PRACTICE IN AN EMERGENCY WARD: RIGHTS AND WRONGS ACCORDING TO THE FAMILIES OF PATIENTSPRÁCTICAS DE CUIDADO EN UNA UNIDAD DE URGENCIAS: ENCUENTROS Y DESENCUENTROS CONFORMELOS FAMILIARES DE PACIENTES INTERNADOS.Leandro Barbosa <strong>de</strong> PinhoLuciane Prado KantorskiAlacoque Lorenzini ErdmannO MUNDO-VIDA NO CENTRO DE TRATAMENTO INTENSIVO:EXPERIÊNCIA DO SER EM SITUAÇÃO DE DOENÇA ........................................................................... 13THE WORLD-LIFE IN AN INTENSIVE CARE UNIT: THE HUMAN EXPERIENCE IN A SITUATION OF DISEASE.EL MUNDO-VIDA EN LA UNIDAD DE TERAPIA INTENSIVA: EXPERIENCIA DEL SER HUMANO EN LAENFERMEDADElizabeth Men<strong>de</strong>s das GraçasLigia Vieira Tenório SalesTRABALHO NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA:PERSPECTIVAS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM .................................................................................... 20WORK IN THE INTENSIVE CARE UNIT: OUTLOOK FOR THE NURSING TEAMTRABAJO EN LA UNIDAD DE TERAPIA INTENSIVA: LAS PERSPECTIVAS DEL EQUIPO DE ENFERMEROSAndreza Dias AraújoJaqueline Oliveira SantosLílian Varanda PereiraOCORRÊNCIA DE ÚLCERA DE PRESSÃO EM INDIVÍDUOS COM LESÃO TRAUMÁTICA DAMEDULA ESPINHAL .................................................................................................................................... 29PRESSURE ULCERS IN INDIVIDUALS WITH SPINAL CORD INJURYOCURRENCIA DE ÚLCERA DE PRESIÓN EN INDIVÍDUOS CON LESIÓN TRAUMÁTICA DE LA MÉDULA ESPINALMarilúcia CarcinoniMaria Helena Larcher CaliriMichele Santos do NascimentoCARACTERIZAÇÃO DOS FATORES PREDISPONENTES PARA A HIPERTENSÃO ARTERIALPRESENTES NA POPULAÇÃO DE DIAMANTINA, MINAS GERAIS .................................................... 35DESCRIPTION OF PREDISPOSING FACTORS TO HIGH BLOOD PRESSURE IN THE POPULATION OFDIAMANTINA – STATE OF MINAS GERAISCARACTERIZACIÓN DE FACTORES QUE PROPENSAN LA HIPERTENSIÓN ARTERIAL EN LA POBLACIÓN DEDIAMANTINA, MINAS GERAIS.Márcia Maria Oliveira LimaRaquel Rodrigues Britto,Cássio Roberto Rocha dos SantosESTUDO DA DOR EM PACIENTES PORTADORAS DE CÂNCER GINECOLÓGICO,SUBMETIDAS À QUIMIOTERAPIA ANTINEOPLÁSICA ........................................................................ 41A STUDY OF PAIN IN PATIENTS WITH GYNECOLOGICAL CANCER, WHO UNDERWENT ANTINEOPLASICCHEMOTHERAPYESTUDIO DEL DOLOR EN PACIENTES PORTADORAS DE CÁNCER GINECOLÓGICO SOMETIDAS AQUIMIOTERAPIA ANTINEOPLÁSICAÂngelo Braga Mendonça,Quenia Cristina Gonçalves,Sueli Riul da SilvaSIGNIFICADO DO GRUPO DE AUTO-AJUDANA REABILITAÇÃO DA MULHER MASTECTOMIZADA ...................................................................... 47THE MEANING OF SELF-HELP GROUPS IN THE REHABILITATION OF MASTECTOMIZED WOMENSIGNIFICADO DEL GRUPO DE AUTOAYUDA EN LA REHABILITACIÓN DE LA MUJER MASTECTOMIZADAAna Fátima Carvalho Fernan<strong>de</strong>sPacífica Pinheiro CavalcantiIsabela Melo BonfimElizabeth Mesquita MeloREME – Rev. Min. Enf; 9(1): 02-06, jan/mar, 2005 3


O ABANDONO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM POR MÃES ADOLESCENTES EMUM CENTRO DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE-MG ........................................................................... 52LACK OF COMPLIANCE TO NURSING CARE BY ADOLESCENT MOTHERS IN A HEALTH CENTER IN BELOHORIZONTE, STATE OF MINAS GERAIS.ABANDONO DE LA CONSULTA DE ENFERMERÍA POR MADRES ADOLESCENTES EN UN CENTRO DE SALUD DEBELO HORIZONTE-MG.Kenia Ribeiro GabrielCíntia Alves AraújoAnézia Moreira Faria Ma<strong>de</strong>iraDIVERSIDADE DE PRÁTICAS E SABERES: O CASO DO AGENTE COMUNITÁRIO DESAÚDE NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE NOVA CONTAGEM/ MINAS GERAIS ......... 59DIVERSITY OF PRACTICES AND KNOWLEDGE: THE CASE OF THE COMMUNITY HEALTH AGENT IN THE FAMILYHEALTH PROGRAM IN NOVA CONTAGEM, STATE OF MINAS GERAIS, BRAZIL.DIVERSIDAD DE PRÁCTICAS Y SABERES: EL CASO DEL AGENTE COMUNITARIO DE SALUD EN EL PROGRAMADE SALUD DE LA FAMILIA DE NOVA CONTAGEM/ MINAS GERAIS.Marília Rezen<strong>de</strong> da SilveiraRoseni Rosângela <strong>de</strong> SenaO SUJEITO E A INSTITUIÇÃO: A REFORMA PSIQUIÁTRICA COMO POSSIBILIDADE DE (RE)CONSTRUÇÃO DA SINGULARIDADE ..................................................................................................... 65THE INDIVDUAL AND THE INSTITUTION: PSYCHIATRIC REFORM AS A POSSIBILITY OF (RE) CONSTRUCTINGSINGULARITY.EL SUJETO Y LA INSTITUCIÓN: LA REFORMA PSIQUIÁTRICA COMO POSIBILIDAD DE (RE)CONSTRUIR LASINGULARIDAD.Andréa OscarAnnette Souza Silva Martins da CostaPaula Cambraia <strong>de</strong> Mendonça ViannaREVISÃO TEÓRICAA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA – UMA REVISÃO TEÓRICA ................................................ 70THE EVOLUTION OF FAMILY IN HISTORY – A THEORETICAL REVIEW.LA EVOLUCIÓN HISTÓRICA DE LA FAMILIA – UNA REVISIÓN TEÓRICA.Paula Cambraia <strong>de</strong> Mendonça ViannaSônia BarrosRELATOS DE EXPERIÊNCIAOFICINAS DE SENSIBILIDADE E CRIATIVIDADE COM UM GRUPO DE ADOLESCENTESINSTITUCIONALIZADOS ........................................................................................................................... 77SENSITIVITY AND CREATIVITY WORKSHOPS WITH A GROUP OF INSTITUTIONALIZED ADOLESCENTS.TALLERES DE SENSIBILIDAD Y CREATIVIDAD CON GRUPOS DE JÓVENES INSTITUCIONALIZADOS.Leila M<strong>em</strong>ória Paiva MoraesViolante Augusta Batista BragaATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO TRATAMENTO DE RECÉM-NASCIDO PORTADOR DEDEISCÊNCIA DE SUTURA EM FERIDA CIRÚRGICA PARA CORREÇÃO DE MIELOMENINGOCELE .. 84NURSING CARE IN NEWBORN SKIN DEHISCENCE OF MYELOMENINGOCELE CLOSURE WOUND.LA ACTUACIÓN DEL ENFERMERO EN EL TRATAMIENTO DE RECIÉN NACIDO PORTADOR DE DEHISCENCIA DESUTURA EN HERIDA A QUIRÚRGICA PARA CORRECCIÓN DE MIELOMEINGOCELE).Mariana Bueno,Cristiane S. M. R. SilvaAdriana Cristina C. Alves,Ana Paula MikaroPriscilla V. PiresNORMAS DE PUBLICAÇÃO ....................................................................................................................... 89PUBLICATIONS NORMS ............................................................................................................................ 91NORMAS DE PUBLICIÓN ........................................................................................................................... 93ASSINATURA ............................................................................................................................................... 954 REME – Rev. Min. Enf; 9(1): 02-06, jan/mar, 2005


EditorialBALANÇO E PERSPECTIVASNosso balanço é positivo. A Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> iniciou seuprocesso <strong>de</strong> reestruturação <strong>em</strong> 2003 estabelecendo como metas para oano <strong>de</strong> 2004 a mudança na periodicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> s<strong>em</strong>estral para trimestral, umnovo projeto gráfico, a recomposição do seu Conselho Editorial e dosEditores Associados e, ainda, a repactuação com os parceiros da época <strong>de</strong>sua criação e a inclusão <strong>de</strong> novos, com <strong>de</strong>staque para as <strong>Escola</strong>s e Cursos<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais. A Revista ganhou qualida<strong>de</strong>editorial e quadruplicou o número <strong>de</strong> artigos recebidos para análise, oque expressa sua repercussão nacional. Importante se faz ressaltar outroresultado <strong>de</strong>ste esforço, a ampliação do número <strong>de</strong> assinantes e <strong>de</strong> permutacom outras revistas. O Conselho Editorial foi ampliado com participações<strong>de</strong> consultores <strong>de</strong> expressão nacional e internacional e tambémrepresentativos das diversas áreas <strong>de</strong> conhecimento <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>em</strong>enfermag<strong>em</strong>. No campo administrativo e financeiro, a REME teve um novoRegimento aprovado e instalou seu Conselho Deliberativo. As fontes <strong>de</strong>financiamento foram diversificadas, com <strong>de</strong>staque para o apoio da <strong>Escola</strong><strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong> e das <strong>Escola</strong>s/Cursos <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> parceirasno Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, e dos d<strong>em</strong>ais parceiros, a saber: Pró-Reitoria<strong>de</strong> Pesquisa da <strong>UFMG</strong>, Diretoria <strong>de</strong> Divulgação e Comunicação da <strong>UFMG</strong>,ABEn-MG e COREn-MG. A Revista atualmente está in<strong>de</strong>xada na LILACSe no BDENF, disponível eletronicamente na WEB ENFERMAGEM <strong>UFMG</strong>e no Portal Periódicos CAPES e foi classificada no QUALIS CAPES comoNacional “B”. Neste cenário <strong>de</strong> transformação rumo à excelência, a Revistaestá estabelecendo novas metas para o ano <strong>de</strong> 2005: elaboração eimplantação <strong>de</strong> um Plano <strong>de</strong> In<strong>de</strong>xação com ações <strong>de</strong> curto, médio e longoprazo; instalação <strong>de</strong> um software para gestão da Revista, intercâmbio comas d<strong>em</strong>ais revistas nacionais da área <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>; realização <strong>de</strong> umcurso sobre avaliação <strong>de</strong> trabalhos científicos para consultores da REME eainda, a busca <strong>de</strong> novas fontes <strong>de</strong> financiamento. Conclamamos, portanto,todos os colaboradores a continuar<strong>em</strong> apoiando esse movimento eaproveitamos para convidar pesquisadores a submeter<strong>em</strong> sua produçãocientífica a análise.Prof. Francisco Carlos Félix LanaEditor GeralProfª Tânia Machado Couto ChiancaProfª Edna Maria Resen<strong>de</strong>Editores AssociadosREME – Rev. Min. Enf; 9(1): 02-06, jan/mar, 2005 5


6 REME – Rev. Min. Enf; 9(1): 02-06, jan/mar, 2005


PRÁTICAS DE CUIDADO EM UMA UNIDADE DE EMERGÊNCIA:ENCONTROS E DESENCONTROS SEGUNDO FAMILIARES DEPACIENTES INTERNADOSCARE PRACTICE IN AN EMERGENCY WARD:RIGHTS AND WRONGS ACCORDING TO THE FAMILIES OF PATIENTSPRÁCTICAS DE CUIDADO EN UNA UNIDAD DE URGENCIAS:ENCUENTROS Y DESENCUENTROS CONFORME LOS FAMILIARES DEPACIENTES INTERNADOSPesquisasLeandro Barbosa <strong>de</strong> Pinho 1Luciane Prado Kantorski 2Alacoque Lorenzini Erdmann 3RESUMOEste estudo objetiva refletir acerca das práticas <strong>de</strong> cuidado na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência segundo a visão <strong>de</strong> familiares <strong>de</strong>pacientes. Foi uma pesquisa realizada com familiares <strong>de</strong> três pacientes internados na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> umpronto-socorro <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> do sul do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Utilizamos observação participante e entrevista s<strong>em</strong>iestruturadae gravada. Os relatos apontam para uma contínua ausência <strong>de</strong> envolvimento <strong>em</strong>ocional do profissional <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, que ainda prioriza o atendimento direcionado ao restabelecimento da saú<strong>de</strong> física <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do vínculo, doacolhimento e do relacionamento terapêutico. Esse estudo nos reporta à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se repensar a prática profissionalnas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, com vistas a uma prática <strong>de</strong> cuidado que também valorize as necessida<strong>de</strong>s psicossociais<strong>de</strong> pacientes e familiares.Palavras-chave: Cuidados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Terapia Intensiva; Relações Enfermeiro-Paciente; RelaçõesProfissional-Familia; Família.ABSTRACTThis study intends to reflect on care in the <strong>em</strong>ergency ward from the point of view of patients’ families. This research wascarried out with the families of three patients at the <strong>em</strong>ergency ward of a city in the south of the State of Rio Gran<strong>de</strong> doSul, Brazil. We used participant observation and s<strong>em</strong>i-structured and recor<strong>de</strong>d interviews. The reports indicate a continuousabsence of <strong>em</strong>otional involv<strong>em</strong>ent by health professionals, who still prioritize care for re-establishing physical health incontrast to a bond, receiving and therapeutic relationship. This study shows us the need to rethink professional practicein <strong>em</strong>ergency wards, towards a care practice which also values the psychosocial needs of patients and families.Key words: Nursing Care; Intensive Care Units; Nurse-Patient Relations; Professional-Family Relations; Family.RESUMENEl objetivo <strong>de</strong> este estudio es reflexionar sobre las prácticas <strong>de</strong> cuidado en una unidad <strong>de</strong> urgencias según los familiares<strong>de</strong> algunos pacientes. Es una investigación realizada con todos los familiares <strong>de</strong> tres pacientes internados en una unidad <strong>de</strong>urgencias <strong>de</strong>l servicio <strong>de</strong> urgencias <strong>de</strong> una ciudad <strong>de</strong>l sur <strong>de</strong>l Estado <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Se llevo a cabo medianteobservación participante y entrevista s<strong>em</strong>iestructurada grabada. Los relatos indican la falta <strong>de</strong> compromiso <strong>em</strong>ocional <strong>de</strong>lprofesional <strong>de</strong> salud que todavía le da prioridad a la atención que busca restablecer la salud física y que dispensa pocaatención al vínculo, recepción y relación terapéutica. Este estudio nos alerta sobre la necesidad <strong>de</strong> repensar la prácticaprofesional en las unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> urgencias con miras a una práctica <strong>de</strong> cuidado que también valore las necesida<strong>de</strong>s psicológicasy sociales <strong>de</strong> los pacientes y <strong>de</strong> sus familiares.Palabras clave: atención <strong>de</strong> enfermería; unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terapia intensiva; relación enfermero - paciente; relacionesprofesional-familia; familia.1Enfermeiro. Mestrando do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina – UFSC / SC. Apoio CNPq.2Docente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> e Obstetrícia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas – UFPel / RS. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Pesquisadora do CNPq.3Professora do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina – UFSC / SC. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Pesquisadora doCNPq.En<strong>de</strong>reço: Rua Delminda da Silveira, 729 Bloco H Ap. 103 Bairro Agronômica – CEP: 88025-500 – Florianópolis / SC.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):07-12, jan/mar, 2005 7


Práticas <strong>de</strong> cuidado <strong>em</strong> uma...INTRODUÇÃOOs fenômenos que suced<strong>em</strong> a hospitalização têmimpacto tanto nas pessoas que a experienciam como nasações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> executadas pelos profissionais. Entretanto,acreditamos que a internação na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergênciasuscita outras formas <strong>de</strong> ver e enten<strong>de</strong>r o hospitalcomo campo <strong>de</strong> saberes e práticas multidisciplinares eque <strong>de</strong>ve captar e trabalhar com as d<strong>em</strong>andas dos usuáriosque atend<strong>em</strong>, sejam eles pacientes ou familiares.Os setores <strong>de</strong> Pronto-Socorro faz<strong>em</strong> parte das re<strong>de</strong>spública e privada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, responsáveis pelo atendimentoaos casos <strong>em</strong> que há risco <strong>de</strong> vida imediato ou mediato.Assim, é sabido que os serviços são extr<strong>em</strong>amente requisitadospela população, não sendo novida<strong>de</strong> no país aexistência <strong>de</strong> uma sobrecarga <strong>de</strong> atendimento, <strong>de</strong> escassez<strong>de</strong> recursos materiais, humanos e financeiros. Nessesentido, entend<strong>em</strong>os que as condições do paciente, doserviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> procurado, a disponibilida<strong>de</strong> dos profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, entre outros fatores, pod<strong>em</strong> interferirna recuperação <strong>de</strong>sse paciente durante sua internação,refletindo-se também na recuperação <strong>de</strong> sua família, atémesmo no que diz respeito a seu aspecto <strong>em</strong>ocional.O hospital constituía-se, na Ida<strong>de</strong> Média, <strong>em</strong> uma instituição<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, que prestava cuidado a pobres <strong>em</strong>oribundos, indivíduos esses marginalizados pela socieda<strong>de</strong>da época. O cuidado aos pacientes era prestadopor irmãs <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, com interesses religiosos. Contudo,com o advento do capitalismo e a captura dos processos<strong>de</strong> trabalho pelos hospitais, a instituição passou acuidar <strong>de</strong> doentes com fins curativos. (1)Durante a guerra da Criméia, Florence Nightingaleconseguiu sanear o hospital militar <strong>em</strong> que prestava cuidados,logrando uma redução das taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><strong>de</strong> soldados internados 40% para 2% utilizando umreferencial disciplinado <strong>de</strong> cuidado. Ela também acreditavaque o cuidado, além <strong>de</strong> ser disciplinado, <strong>de</strong>veria serdirecionado ao conforto do paciente no espaço hospitalar,on<strong>de</strong> as boas condições do ambiente passavam a serpriorida<strong>de</strong> e as necessida<strong>de</strong>s psicossociais eram garantidascomo forma <strong>de</strong> se promover a reabilitação integraldo doente. (2)Observamos que Florence já se preocupava com oconforto do paciente por meio da modificação do chamado"ambiente terapêutico". Seu pensamento, <strong>de</strong> caráterambientalista, permitiu discussões acerca das possibilida<strong>de</strong>se limitações do hospital na promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ereabilitação dos pacientes. Começou-se então, ahumanizar, mesmo que <strong>de</strong> maneira incipiente, um ambientetecnicista, <strong>em</strong> que a integralida<strong>de</strong> da atenção <strong>de</strong>veriaser oferecida tendo-se <strong>em</strong> vista a da promoção dasaú<strong>de</strong> física e mental <strong>de</strong> pacientes e familiares.As necessida<strong>de</strong>s ou os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> pacientese familiares <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>de</strong>les e do profissional que osaten<strong>de</strong>. Qualquer pessoa que procura um serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>traz consigo um probl<strong>em</strong>a, um obstáculo que precisa<strong>de</strong> resolução. Assim sendo, cabe ao profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>amenizar o probl<strong>em</strong>a ou solucioná-lo com base <strong>em</strong> seusaber científico e tecnológico. As tecnologias assistenciaissurg<strong>em</strong> como alternativas teórico-metodológicas <strong>de</strong> atendimentoao usuário que procura o serviço. O processo <strong>de</strong>adoecimento <strong>de</strong>ve ser encarado do ponto <strong>de</strong> vista pluralista,<strong>em</strong> que fatores físicos, psicológicos e socioculturais predominame rumam para uma trajetória convergente <strong>de</strong>resolução dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. (3)Segundo esse mesmo autor, as tecnologias assistenciaispod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong> 3 tipos: duras, nas quais predominam osequipamentos, os aparatos tecnológicos; leve-duras, <strong>em</strong>que há uma ênfase no saber científico e estruturado (comoas clínicas médicas) e as leves, <strong>em</strong> que o acolhimento, ovínculo e o relacionamento humano são <strong>de</strong>staques comosaberes interpessoais e como po<strong>de</strong>rosos instrumentos<strong>de</strong> humanização da assistência.Entend<strong>em</strong>os que qualquer gesto realizado pelo profissional<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, por mais breve que seja, constitui alternativapara aliviar um ser sofrido, uma postura curvadae um rosto triste. O vínculo, o acolhimento e o relacionamentoterapêutico são tecnologias que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fazerparte da rotina <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> tais profissionais, poistornam-se formas <strong>de</strong> expressão <strong>em</strong> que se resgatam asconcepções <strong>de</strong> ser humano <strong>em</strong> sua integralida<strong>de</strong>biopsicossocial, contribuindo para um cuidado maishumanizado nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.A humanização <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> v<strong>em</strong> sendo discutida <strong>em</strong> diversosestudos, tanto nacional (5-7) , como internacionalmente.(8-9) Todos eles apontam para a valorização do serhumano doente, enten<strong>de</strong>ndo-o <strong>em</strong> sua inteireza e nasmais diversas fases do seu ciclo vital. Cada ser humano éúnico <strong>em</strong> sua forma <strong>de</strong> pensar, agir e reagir, tendo, porisso, necessida<strong>de</strong>s próprias, exigências, carências, d<strong>em</strong>andaspsicossociais e relações sociais singulares, sendo osfamiliares o seu principal apoio ou possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amparoe proteção.Este estudo preten<strong>de</strong> refletir acerca das práticas <strong>de</strong>cuidado nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência com um olhar paraas famílias <strong>de</strong> pacientes internados, apontando alguns autoresque discorr<strong>em</strong> sobre esta probl<strong>em</strong>ática. Acreditamosque, ao <strong>de</strong>screver algumas inquietações dos familiares,necessida<strong>de</strong>s, dúvidas, <strong>de</strong>sentendimentos, opiniões einconformida<strong>de</strong>s acerca das condições <strong>de</strong> atendimento<strong>em</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, enfatizando seus encontrose <strong>de</strong>sencontros <strong>em</strong> relação ao que seria o melhornesta situação, estar<strong>em</strong>os provocando maiores <strong>de</strong>batese reflexões sobre as práticas <strong>de</strong> cuidado efetuadas pelosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nesse espaço social.O PROCESSO INVESTIGATIVO SEGUIDOFoi realizado <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> grupo, <strong>de</strong> caráterexploratório, com familiares <strong>de</strong> três pacientes internadosna unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> um pronto-socorro <strong>de</strong>um hospital universitário da região sul. Obteve-se a aprovaçãodo comitê <strong>de</strong> ética <strong>em</strong> pesquisa da instituição, b<strong>em</strong>como a <strong>de</strong>vida assinatura do consentimento livre esclarecidodos sujeitos envolvidos.O serviço <strong>de</strong> Pronto-Socorro, local <strong>de</strong> estudo, possui720 m 2 e situa-se <strong>em</strong> local <strong>de</strong> fácil acesso a transportecoletivo pela população. Aten<strong>de</strong> pelo Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> (SUS) nas 24 horas do dia, inclusive feriados e finais<strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana.A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência pesquisada t<strong>em</strong> uma áreaútil <strong>de</strong> 60,85 m 2 , sendo a porta <strong>de</strong> entrada das <strong>em</strong>ergên-8 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):07-12, jan/mar, 2005


cias clínicas e traumáticas. Dispõe <strong>de</strong> três leitos fixos,três macas, uma sala <strong>de</strong> expurgo e um sanitário <strong>de</strong> pacientes.Além dos serviços médicos tradicionais, ofereceatendimento com especialistas nas áreas <strong>de</strong> neurologia,traumatologia, pediatria, cirurgia geral e especializada.O estudo foi realizado através <strong>de</strong> observação participantelivre e <strong>de</strong> entrevista s<strong>em</strong>i-estruturada e gravada.Todas as informações colhidas das entrevistas foram transcritas,organizadas na forma <strong>de</strong> um diário <strong>de</strong> campo, analisadasagrupando-se as idéias convergentes e fazendorelação com a bibliografia disponível.Cada família foi i<strong>de</strong>ntificada com a letra F seguida donúmero que correspon<strong>de</strong> à ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> que apareceu noestudo (F1, F2 ou F3). Os pesquisadores permitiram queos investigados escolhess<strong>em</strong> um nome fictício para a participaçãono estudo a fim <strong>de</strong> preservar suas i<strong>de</strong>ntificaçõespessoais. Assim, a i<strong>de</strong>ntificação da família seguiu estaord<strong>em</strong>: nome fictício do familiar – número correspon<strong>de</strong>nteda família na entrevista (F1, F2 ou F3) – grau <strong>de</strong>familiarida<strong>de</strong> com o paciente. Ex<strong>em</strong>plo: Alice – F2 – Neta.RESULTADOS E DISCUSSÕESEm 2002, o Ministério da Saú<strong>de</strong>, reconhecendo a relevânciado setor <strong>de</strong> urgências e <strong>em</strong>ergências na saú<strong>de</strong>pública, publicou a Portaria 2048/2002 4 . Através <strong>de</strong>la,reconhece-se o aumento da d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> atendimento, ainsuficiente estruturação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> assistencial e a gran<strong>de</strong>distância entre os municípios, prejudicando os primeirosatendimentos. Resolveu-se criar os chamados Sist<strong>em</strong>asEstaduais <strong>de</strong> Urgência e Emergência, contribuindopara a regionalização da assistência, tão preconizada pelaNorma Operacional Básica (NOB) 01/2002 do Sist<strong>em</strong>aÚnico <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Segundo a Portaria, as urgências e <strong>em</strong>ergências nopaís serão coor<strong>de</strong>nadas pelos estados e municípios, quese responsabilizam pelo recebimento dos recursos, suaaplicação a<strong>de</strong>quada (serviços <strong>de</strong> r<strong>em</strong>oção, ampliação dare<strong>de</strong> pré-hospitalar e intra-hospitalar e a capacitação/recapacitaçãodos profissionais), além da fiscalização noandamento das propostas.As urgências e <strong>em</strong>ergências nos r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> às condições<strong>de</strong> atendimento que exig<strong>em</strong> medidas terapêuticasmediatas e imediatas, <strong>em</strong> que existe risco <strong>de</strong> vida. Nessesentido, pod<strong>em</strong>os classificá-las como procedimentos <strong>de</strong>alta complexida<strong>de</strong>, havendo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> aparatos tecnológicos que reabilit<strong>em</strong> pessoas<strong>em</strong> menor t<strong>em</strong>po possível e com o menor grau <strong>de</strong>seqüelas.Contudo, mesmo que a atenção seja voltada ao paciente,o familiar ali presente também necessita <strong>de</strong> atenção.Eles perceb<strong>em</strong> e se preocupam com o que está acontecendo,s<strong>em</strong>, muitas vezes, enten<strong>de</strong>r a gravida<strong>de</strong> e ocomportamento dos profissionais da saú<strong>de</strong>. As seguintesfalas dos familiares <strong>em</strong>basam nossa preocupação:Eu acho que o paciente quando chega, se é um casoque é <strong>em</strong>ergência, entra direto, tá? Só que eu achoque <strong>de</strong>pois que tu tocou nele, viu mais ou menos aprimeira vista... já fala então, uma pequena notícia...dizer alguma coisa, falar alguma coisa... a pessoa ficaali trancada, não po<strong>de</strong> entrar, não po<strong>de</strong> falar também..quando tiver<strong>em</strong> boa vonta<strong>de</strong> eles te chamam, ou <strong>em</strong>certos casos... só chamam quando morreu.. (Brenda –F1 – Filha).Quando a gente entra está tudo calmo, então elesestavam todos brincando, então na hora que t<strong>em</strong>movimento eu não sei o que eles estão fazendo, eu nãosei <strong>de</strong> nada (choros). Essa é a realida<strong>de</strong>, qu<strong>em</strong> te garanteque eles estão vendo, se a minha vó está vomitando alise eles estão lá no canto? Então o único momento queeu tenho contato eu não tenho contato, eu só fico paradaolhando, dois minutos no máximo, porque tu tens queentrar rápido e sair rápido... eu quero saber, eu não tosabendo, eu só entrei ali e saí e não sei <strong>de</strong> nada econtinuo lá na frente, naquele horror, sentada, olhando,sofrendo... se eu tivesse espírito eu seria médica, nãoseria uma pessoa comum, eu não tenho espírito praisso, não tenho condições <strong>de</strong> estar ali, exposta aquilotudo... ... qualquer atenção às pessoas que tão aliesperando, a mínima atenção que tu tiver, mínima, tunão esquece, sabe? (Alice – F2 – Neta).... eu penso assim... eles (profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>) quer<strong>em</strong>que morra mesmo pra ser menos um, é, eu acho queé, os médicos não estão n<strong>em</strong> aí, ainda ficam rindo umpro outro, e eu choro quando eu chego <strong>em</strong> casa, euchoro que n<strong>em</strong> sei... (Patrícia – F1 – Esposa).No ambiente <strong>de</strong> atendimento intensivo há umasupervalorização dos procedimentos técnicos <strong>em</strong> prejuízodo relacionamento com o paciente e seus familiares.Diante <strong>de</strong>ssas situações, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apresentamos mais variados comportamentos, os quais constitu<strong>em</strong>estratégias que representam uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesapsicológica contra a dor e o sofrimento psíquico do outroe que geram um distanciamento afetivo-<strong>em</strong>ocional,b<strong>em</strong> como uma impessoalida<strong>de</strong> do cuidado (4,11,12) .Entend<strong>em</strong>os que durante a internação <strong>em</strong> uma unida<strong>de</strong>crítica, como UTI ou <strong>em</strong>ergência, o profissional<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> se vê diante da complicação potencial do quadroclínico e das necessida<strong>de</strong>s psicossociais <strong>de</strong> pacientese familiares. As mo<strong>de</strong>rnas tecnologias <strong>em</strong> equipamentos,como os novos antibióticos e os respiradoresartificiais, são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> instrumentais que visam apreservar a vida que está <strong>em</strong> risco. Assim, o profissional<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> acaba priorizando, <strong>em</strong> princípio, a manutençãodas condições vitais do paciente, distanciandosedo vínculo, do acolhimento e do relacionamentoterapêutico não somente com o próprio paciente, comotambém com sua família, <strong>de</strong>sestabilizada com a situação,que também carece <strong>de</strong> atenção e <strong>de</strong> acompanhamentosist<strong>em</strong>ático e contínuo.Os usuários que necessitam <strong>de</strong> atendimento nas unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Pronto-Socorro conviv<strong>em</strong>, diariamente, commuitas contradições. Os pacientes esperam aresolutivida<strong>de</strong>, porém observam um atendimento pura-4BRASIL, Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria 2048 <strong>de</strong> 05 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2002. Dispõe sobre a Regulamentação Técnica dos Sist<strong>em</strong>as Estaduais <strong>de</strong> Urgência eEmergência; 2002.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):07-12, jan/mar, 2005 9


Práticas <strong>de</strong> cuidado <strong>em</strong> uma...mente técnico, <strong>em</strong> que suas necessida<strong>de</strong>s psicossociaissão postas <strong>em</strong> segundo plano. As famílias encontram, alémdisso, um ambiente s<strong>em</strong> conforto físico, tumultuado, pequenoe <strong>de</strong>sorganizado, que potencializa as condições <strong>de</strong>sofrimento psíquico e a <strong>de</strong>sestabilização <strong>em</strong>ocional. Osrelatos seguintes confirmam nossa afirmação:Se tu soubesses as pessoas que chegam como nós e quetivess<strong>em</strong> mais condições, né, tivesse um banheiro prontopra um banho, algo assim, que as pessoas que passama noite, tipo um barzinho que a pessoa pu<strong>de</strong>sse aqueceruma água, tomar um cafezinho, fazer alguma coisa enão ficar ali daquele jeito, atiradas, realmente, que foss<strong>em</strong>ais humanizada a coisa... (Nahir – F2 – Filha).... a pessoa vira noite, agüenta mendigo, agüenta tudoali... <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter virado sabe lá Deus quantas noiteali... tu ver o sofrimento das outras pessoas além doteu acaba contigo, porque tu vê gente que v<strong>em</strong> <strong>de</strong>outras cida<strong>de</strong>s, chega aqui s<strong>em</strong> comida, a gente dácomida pras pessoas... as pessoas não t<strong>em</strong> roupa, nãot<strong>em</strong> roupa pra tomar um banho, não t<strong>em</strong> como fazernada, ficam aqui... virando as noites s<strong>em</strong> comida, s<strong>em</strong>banho, s<strong>em</strong> roupa, s<strong>em</strong> nada, nada! Tu convives comtudo isso ali e tu não t<strong>em</strong> notícia... (Alice – F2 – Neta).As famílias, <strong>em</strong> suas falas, evi<strong>de</strong>nciam uma característicacomum nos serviços <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência:a contínua <strong>de</strong>sumanização do cuidado. Seus relatos expressamsuas indignações, <strong>de</strong>sconformida<strong>de</strong>s e d<strong>em</strong>andaspsicossociais. Mostram que qualquer pessoa quevivencia um evento estressante, como a doença e ahospitalização, sofre, <strong>de</strong>sestabiliza-se <strong>em</strong>ocionalmente,revolta-se, necessitando <strong>de</strong> acompanhamento, respeito,conforto e solidarieda<strong>de</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que tambémexige um atendimento mais digno e humano.O atendimento <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, por si só, já impõeuma sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> pela ruptura das relaçõesfamiliares, sendo agravada pela situação <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>vida. Assim, a família e o paciente experienciam diversossentimentos negativos, como a possibilida<strong>de</strong> da perda, arevolta, o aumento da ansieda<strong>de</strong> e da <strong>de</strong>sesperança, gerandodor e sofrimento psíquico (13) .A família é afetada como um todo <strong>em</strong> função doadoecimento <strong>de</strong> um dos m<strong>em</strong>bros. Sofre com a situação<strong>de</strong> doença, <strong>de</strong>sestabiliza-se psicologicamente, carecendo,por isso, <strong>de</strong> apoio <strong>em</strong>ocional. As famílias prescind<strong>em</strong> <strong>de</strong>companheirismo e <strong>de</strong> suporte psicossocial, como forma<strong>de</strong> encarar e conviver com as conseqüências que o processo<strong>de</strong> adoecer po<strong>de</strong> gerar (14) .A tecnologia <strong>de</strong> ponta na área médica e as mudançasque a socieda<strong>de</strong> globalizada trouxeram à vida das pessoas,inevitavelmente caracterizaram o indivíduo como serhumano que produz e que <strong>de</strong>ve produzir na socieda<strong>de</strong><strong>em</strong> que vive, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando as concepções <strong>de</strong> ser humanoque possui uma história <strong>de</strong> vida, relações sociais,uma singularida<strong>de</strong>. Tal fato permitiu a compartimentalizaçãodo indivíduo, reduzindo o atendimento àsaú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria, ao nível biológico (5) .Como necessida<strong>de</strong> visível <strong>de</strong> se combater a contradiçãoimposta pelos avanços da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna e aconseqüente tecnologização e impessoalida<strong>de</strong> do cuidado,o Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> lançou <strong>em</strong> 2000 o programa<strong>de</strong> humanização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Batizado <strong>de</strong> ProgramaNacional <strong>de</strong> Humanização dos Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,buscou a melhoria das relações entre profissionais e pacientesatravés do acolhimento, da valorização da comunicaçãoentre os envolvidos nos serviços e a inclusão dafamília como co-partícipe do processo terapêutico. Ocontato pessoal entre os pacientes é preconizado, resgatandosua dignida<strong>de</strong>, singularida<strong>de</strong> e integralida<strong>de</strong> (5,7) .Atualmente, o programa sofreu reformulações, ampliando-seao se transformar <strong>em</strong> uma política pública nacional<strong>de</strong> humanização da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento à saú<strong>de</strong>.Recebendo o nome <strong>de</strong> "HumanizaSUS", preten<strong>de</strong> amenizara fragmentação dos processos <strong>de</strong> trabalho e da re<strong>de</strong>assistencial, fortalecer a integração das equipesmultidisciplinares e colocar o usuário no centro do processoterapêutico (15) .Reiteramos que a ausência <strong>de</strong> envolvimento <strong>em</strong>ocionaldo profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> agrava as dificulda<strong>de</strong>s enfrentadaspela família, assim como seus sentimentos,potencializando as condições <strong>de</strong> sofrimento psíquico.Nesse sentido, perceb<strong>em</strong>os que a política nacional <strong>de</strong>humanização po<strong>de</strong> ressaltar o solidarismo, a afetivida<strong>de</strong>e o interesse afetivo-<strong>em</strong>ocional como atos humanos eexclusivamente humanos, <strong>em</strong> um momento <strong>em</strong> que amedicina avança nos cuidados com a doença, masdiametralmente se distancia das dimensões subjetivas esingulares do paciente. Como política pública, po<strong>de</strong> favorecero resgate das concepções humanas, sociais e culturaisdas pessoas, compreen<strong>de</strong>ndo a pluralida<strong>de</strong> do serhumano, sua cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e seu papel no contexto social, possibilitando, assim,uma prática <strong>de</strong> cuidado mais humanizada.O atendimento do paciente <strong>em</strong> nível biológico é imprescindível<strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sestabilização <strong>de</strong> suas condiçõesvitais. É importante que haja uma atenção imediataà situação clínica, que, nesse momento, carece mais <strong>de</strong>cuidados intensivos diante do risco <strong>de</strong> vida do que <strong>de</strong>atendimento psicológico. Contudo, r<strong>em</strong>arcamos que nãose <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar as d<strong>em</strong>andas psicossociais <strong>de</strong> pacientese familiares, que sofr<strong>em</strong> diante da situação, <strong>de</strong>sesperam-se,conviv<strong>em</strong> a todo instante com a possibilida<strong>de</strong>da vida e da morte. O relato <strong>de</strong> Talia nos d<strong>em</strong>onstraessa preocupação:Então se tivesse uma pessoa <strong>de</strong>ssa área assim prainformar a gente e tranqüilizar seria maravilhosoporque a gente sabe que nessa situação qualquerpalavra por mínimo que seja pra gente é um conforto.(Talia – F3 – Mãe).Acreditamos que o relacionamento terapêutico torna-seuma ferramenta relevante para troca <strong>de</strong> informaçõese manutenção da saú<strong>de</strong> mental dos pacientes e <strong>de</strong>seus familiares nessas ocasiões. Constitui-se <strong>em</strong> umatecnologia <strong>de</strong> cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> que visa a proporcionaràs famílias e aos pacientes uma participação ativano processo terapêutico. Através <strong>de</strong>le, pod<strong>em</strong>os firmarconfiança, fortalecer os vínculos afetivo-<strong>em</strong>ocionais.A relação terapêutica promove uma reciprocida<strong>de</strong>, oautoconhecimento e o hétero-conhecimento, proporci-10 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):07-12, jan/mar, 2005


onando o alívio <strong>de</strong> sentimentos negativos, da sensação<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> e do sofrimento psíquico por meio dointercâmbio <strong>de</strong> informações, da <strong>em</strong>ergência dos mecanismosinternos <strong>de</strong> enfrentamento <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as, da troca<strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> vida e do reconhecimento da importânciada presença dos familiares na recuperação dospacientes. Permite o trabalho com as fragilida<strong>de</strong>s, limitações,potencialida<strong>de</strong>s, viabilida<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidado<strong>de</strong> pacientes e familiares principalmente nessas situações<strong>de</strong> abalo e <strong>de</strong>sestabilização <strong>em</strong>ocional, como nahospitalização.A enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve se apo<strong>de</strong>rar do suporteinterpessoal <strong>em</strong>basado nos princípios do relacionamentoterapêutico durante o tratamento <strong>de</strong> seus pacientes. Éatravés da manutenção <strong>em</strong>pática, íntima, sist<strong>em</strong>atizada ehumanizada do prazer <strong>de</strong> viver das pessoas que po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>osgarantir perspectivas <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> comportamentos,alívio do sofrimento imediato e reorientações <strong>de</strong>condutas (16) .Entend<strong>em</strong>os o processo <strong>de</strong> relacionamentoterapêutico como dual, horizontal e dialético. Como profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, entramos <strong>em</strong> contato com pessoastotalmente diferentes, indivíduos únicos, singulares, quepensam, ag<strong>em</strong> e reag<strong>em</strong> distintamente. Desenvolver umarelação <strong>em</strong>pática é fator fundamental na construção daconfiança <strong>em</strong>ocional e do aprendizado interpessoal. Criarum espaço <strong>de</strong> reflexão <strong>em</strong> conjunto, discutindo asexperiências, transmitindo conhecimentos, aliviando osofrimento e trabalhando com as limitações evi<strong>de</strong>nciadaspossibilita o crescimento pessoal <strong>de</strong> pacientes, familiarese agentes cuidadores.O processo <strong>de</strong> relação terapêutica po<strong>de</strong> ser entendidocomo um momento <strong>em</strong> que duas pessoas se reconhec<strong>em</strong>como indivíduos únicos, que possu<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong>sindividuais, divergências, maneiras <strong>de</strong> pensar, <strong>de</strong> agir, assimcomo inquietações, dúvidas e inseguranças singulares.A experiência terapêutica promove o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramentoe a melhoria das condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental aopermitir a reflexão e contribuir para valorização <strong>de</strong> si edo outro durante o processo interacional (17-19) .Toda vida possibilita o momento da presença e doencontro entre pessoas, gerando as relações dialógicasentre os homens. O diálogo é um instrumento <strong>de</strong>interação inter-humana e exclusivamente humana. Umarelação dialógica ocorre quando o hom<strong>em</strong> exprime, comou s<strong>em</strong> as palavras, seu "self", ou seja, seu "eu" interior,sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> se sentir, <strong>de</strong> ser el<strong>em</strong>esmo no mundo. O hom<strong>em</strong> firma sua relação dialógicaà medida que se permite conhecer como hom<strong>em</strong>, entrar-<strong>em</strong>-relaçãocom o mundo <strong>em</strong> toda sua totalida<strong>de</strong>,aceitando o outro, também, <strong>em</strong> sua totalida<strong>de</strong> e unicida<strong>de</strong>.Assim ocorre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma responsabilida<strong>de</strong>genuína, que só se forma on<strong>de</strong> existe o respon<strong>de</strong>rverda<strong>de</strong>iro (20) .Cada família é única <strong>em</strong> suas particularida<strong>de</strong>s, reagindoàs condições adversas <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> maneiras totalmentedistintas. Deve ser vista como co-partícipe do processoterapêutico, sendo inserida no plano <strong>de</strong> cuidados pelosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que atuam na <strong>em</strong>ergência. É necessárioque os trabalhadores <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> utiliz<strong>em</strong> o relacionamentoterapêutico como instrumento promotor <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> mental ao trabalhar com a dor e com o sofrimento<strong>de</strong>ssas famílias, consi<strong>de</strong>rando-as não somente como merosacompanhantes, mas como uma unida<strong>de</strong> intrínseca<strong>de</strong> cuidados e relações.A verda<strong>de</strong>ira vida comunitária é aquela <strong>em</strong> que estabelec<strong>em</strong>osrelações com o próximo na perspectiva <strong>de</strong> umEu-Tu. Porém, quando isso não acontece, o entrar-<strong>em</strong>relaçãose relativiza, o hom<strong>em</strong> se distancia do encontro,do diálogo e da reciprocida<strong>de</strong>. A relação dialógica se<strong>de</strong>sconstrói e "... aquele que não po<strong>de</strong> ter relacionamentodireto com cada um que encontra t<strong>em</strong> uma plenitu<strong>de</strong> vã." (20: 56) .Assim, perceb<strong>em</strong>os que há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se evitaruma dicotomização das práticas <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, na qual seprioriza uma vertente <strong>de</strong> atendimento <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong>outra. A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência possui uma equipe <strong>de</strong>profissionais das mais diversas áreas da saú<strong>de</strong>, que pod<strong>em</strong>compartilhar seus saberes <strong>de</strong> forma interparadigmática.Assim, perceb<strong>em</strong>os que o vínculo e o acolhimentopod<strong>em</strong> ser utilizados como instrumentos <strong>de</strong>"porta-<strong>de</strong>-entrada", <strong>em</strong> que um <strong>de</strong>sses profissionais po<strong>de</strong>passar pequenas orientações aos familiares <strong>de</strong> maneiraa<strong>de</strong>quada e humana, enquanto o paciente é recebido pelosoutros profissionais. Esse comportamento po<strong>de</strong> aliviar,mesmo que momentaneamente, as condições <strong>de</strong> sofrimentopsíquico, além <strong>de</strong> proporcionar relativatranqüilida<strong>de</strong> à família conforme Talia nos mostrou <strong>em</strong>sua fala anteriormente.É importante reconhecer a presença dos familiarescomo clientes que necessitam <strong>de</strong> conforto, informação,promovê-los como auxiliares na recuperação dopaciente e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, como cidadãos com direito<strong>de</strong> receber atenção, respeito e atendimento dignoe <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Sua condição <strong>de</strong> familiar acompanhanteé estar-junto-com, convivendo e sendo copartícipedo plano terapêutico como parte das relaçõessociais dos pacientes.Entend<strong>em</strong>os que o cuidado é relacional, dialógico,compartilhado, estando na <strong>de</strong>pendência da competênciados profissionais da <strong>em</strong>ergência e da ajuda <strong>de</strong> todas aspessoas presentes ou integrantes <strong>de</strong>sse processo, numanoção <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> vida, saú<strong>de</strong> e modo <strong>de</strong> viver,orientado pela dignida<strong>de</strong>, respeito e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> construiruma melhor civilida<strong>de</strong> humana. A solidarieda<strong>de</strong> humanase constrói – <strong>em</strong> muito – na atenção às necessida<strong>de</strong>sdas pessoas presentes <strong>em</strong> uma <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.É nesse espaço e nessas condições que sentimos b<strong>em</strong>presente a importância das relações solidárias, do amore do respeito aos seres humanos.Acreditamos que esse estudo nos reporta à necessida<strong>de</strong>can<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> se repensar a prática profissional nasunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, com vistas a uma prática <strong>de</strong> cuidadohumano com serieda<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong> e, acima <strong>de</strong> tudo,mais humanizada.CONSIDERAÇÕES FINAISAs unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência nos r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> às mais diversassituações que implicam risco <strong>de</strong> vida, b<strong>em</strong> comoao atendimento mediato e imediato. A perspectiva <strong>de</strong>retorno às condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> biológica com o mínimoREME – Rev. Min. Enf; 9(1):07-12, jan/mar, 2005 11


Práticas <strong>de</strong> cuidado <strong>em</strong> uma...<strong>de</strong> complicações e seqüelas orienta as práticas <strong>de</strong> cuidado<strong>em</strong> saú<strong>de</strong> da unida<strong>de</strong>.Procuramos, nesse estudo, d<strong>em</strong>onstrar que as famíliasque procuram atendimento para um parente nas unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência conviv<strong>em</strong> diariamente com muitascontradições. A resolutivida<strong>de</strong> esperada pelos familiares<strong>em</strong> função da gravida<strong>de</strong> do quadro clínico convive cotidianamentecom a ausência <strong>de</strong> envolvimento <strong>em</strong>ocional porparte dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Tal fato gera umaimpessoalida<strong>de</strong> do cuidado e um atendimento, consi<strong>de</strong>radopelas famílias, incipiente <strong>em</strong> humanização.Constatamos que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na unida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, ainda priorizam, ou se <strong>de</strong>dicam especialmente,ao atendimento centrado no mo<strong>de</strong>lobiomédico, centrado no corpo da pessoa, <strong>de</strong> caráter impessoal,<strong>em</strong> que a doença instalada <strong>de</strong>ve ser combatida<strong>em</strong> primazia. Assim, há pouca consi<strong>de</strong>ração às necessida<strong>de</strong>spsicossociais <strong>de</strong> pacientes e familiares, que, no momentoda internação e do atendimento, <strong>de</strong>sestabilizamse<strong>em</strong>ocional e fisicamente, e sofr<strong>em</strong> com odistanciamento afetivo-<strong>em</strong>ocional para com seu parenteinternado, sob a constante probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e d<strong>em</strong>orte.Entend<strong>em</strong>os que o espaço <strong>de</strong> cuidado <strong>em</strong> uma unida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência se configura <strong>em</strong> uma oportunida<strong>de</strong> doexercício da solidarieda<strong>de</strong>, da construção da civilida<strong>de</strong>humana e do resgate da cidadania. Em um contextopsicossocial agravado pela complicação do quadro clínico,as famílias <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas como unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>relações intrínsecas ao ser humano doente, <strong>de</strong>vendo servalorizadas <strong>em</strong> toda sua integralida<strong>de</strong>, como tambéminseridas como co-partícipes no plano terapêutico dopaciente.Finalmente, acreditamos que esse estudo traz umacontribuição ao conhecimento dos profissionais da saú<strong>de</strong>,servindo como fonte <strong>de</strong> resgate a uma prática <strong>de</strong> cuidadomais humano e acolhedor a pacientes e familiaresdurante a hospitalização e, no nosso caso, nas unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência.10. O´Gara PE, Fairhurst W. Therapeutic communication part 1: generalapproaches that enhance the quality of the consultation. Accid EmergNurs 2004; 12: 166-72.11. Franchini B. Reação da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terapia intensiva <strong>de</strong> adultos diante da dor e sofrimento dos pacientes[monografia]. Pelotas (RS): Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> e Obstetrícia;1999.12. Furlan MP. A equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> convivendo com o estresse <strong>de</strong>uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapia intensiva [monografia]. Pelotas (RS): Faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> e Obstetrícia; 1999.13. Sebastiani RW. A equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> frente às situações <strong>de</strong> crise e<strong>em</strong>ergência no hospital geral: aspectos psicológicos. In: Camon VAA,Organizador. Urgências psicológicas no hospital. São Paulo: PioneiraThompson Learning; 2002. p.31-9.14. Marcon SS, Waidman MAP, Carreira L, Decesaro MN. Compartilhandoa situação <strong>de</strong> doença: o cotidiano <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> pacientescrônicos. In: Elsen I, Marcon SS, Silva, MRS. O viver <strong>em</strong> família e suainterface com a saú<strong>de</strong> e a doença. Maringá: Edu<strong>em</strong>; 2002. p.311-35.15. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. HumanizaSUS – política nacional <strong>de</strong>humanização. Documento base pra gestores e trabalhadores do SUS.Brasília; 2004.16. Scóz TMX. Suporte interpessoal <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>: alternativametodológica no atendimento às pessoas <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> crise [dissertação].Florianópolis (SC): Programa <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Ergonomia daUFSC; 2001.17. Stefanelli MC. Comunicação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>: teoria, ensino e pesquisa[tese]. São Paulo (SP): <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP; 1990.18. Furegato ARF. Relações interpessoais terapêuticas na enfermag<strong>em</strong>.Ribeirão Preto: Escala; 1999.19. Kantorski LP, Pinho LB <strong>de</strong>, Schrank G. O relacionamento terapêuticoe o cuidado <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> psiquiátrica e saú<strong>de</strong> mental. Rev Enf UERJ2003; 12 (2): 201-7.20. Buber M. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectiva; 1982.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Almeida MCP, Rocha RSY. O saber <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e sua dimensãoprática. 2a ed. São Paulo: Cortez; 1989.2. Paixão W. História da Enfermag<strong>em</strong>. 5a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Júlio ReisLivraria; 1979.3. Merhy EE. Em busca do t<strong>em</strong>po perdido: a micropolítica do trabalhovivo <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. In: Merhy EE, Onocko R, Organizador. Agir <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> –um <strong>de</strong>safio para o público. São Paulo: HUCITEC; 1997. p.71-112.4. Pitta AMF. Hospital: dor e morte como ofício. 2a ed. São Paulo:Hucitec; 1996.5. Pessini L. Humanização da dor e sofrimento humanos na área dasaú<strong>de</strong>. In: Pessini L, Bertachini L, Organizadores. Humanização e cuidadospaliativos. 2a ed. São Paulo: Loyola; 2004. p.11-30.6. Bettinelli LA, Waskievicz J, Erdmann AL. Humanização do cuidado noambiente hospitalar. In: Pessini L, Bertachini L, Organizadores. Humanizaçãoe cuidados paliativos. 2a ed. São Paulo: Loyola; 2004. p.87-100.7. Deslan<strong>de</strong>s SF. Análise do discurso oficial sobre a humanização daassistência hospitalar. Ciên & Saú<strong>de</strong> Coletiva 2004; 9 (1):7-14.8. Pinho LB, Kantorski LP. Refletindo sobre o contexto psicossocial <strong>de</strong>famílias <strong>de</strong> pacientes internados na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência. Cien Enferm2004; 10 (1): 67-77.9. Goo<strong>de</strong>ll TT, Hanson SMH. Nurse-family interactions in adult criticalcare: a bowen family syst<strong>em</strong>s perspective. J Fam Nurs 1999; 5 (1): 72-91.12 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):07-12, jan/mar, 2005


O MUNDO-VIDA NO CENTRO DE TRATAMENTO INTENSIVO:EXPERIÊNCIA DO SER EM SITUAÇÃO DE DOENÇATHE WORLD-LIFE IN AN INTENSIVE CARE UNIT:THE HUMAN EXPERIENCE IN A SITUATION OF DISEASE.EL MUNDO-VIDA EN LA UNIDAD DE TERAPIA INTENSIVA:EXPERIENCIA DEL SER HUMANO EN LA ENFERMEDAD.Elizabeth Men<strong>de</strong>s das Graças 1Ligia Vieira Tenório Sales 2RESUMOA proposta <strong>de</strong>ste estudo é compreen<strong>de</strong>r os significados atribuídos pelos pacientes ao vivenciar<strong>em</strong> a internação <strong>em</strong>Centros <strong>de</strong> Tratamento Intensivo (CTIs). Como metodologia utilizamos os princípios da Fenomenologia, tendo comoreferencial a "análise qualitativa do fenômeno situado". Dos discursos coletados foram i<strong>de</strong>ntificadas e refletidas trêscategorias t<strong>em</strong>áticas: "o sentido dos agravos do corpo", "o cuidado profissional para qu<strong>em</strong> precisa cuidar-<strong>de</strong>-ser" e "omundo-vida no contexto hospitalar".Palavras-chave: Cuidados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Terapia Intensiva; Relações Enfermeiro-Paciente.ABSTRACTThis study examines the meanings given by patients to their experience living through a time in Intensive Care Units(ICUs). We adopted as our methodology the principles of phenomenology, and our reference is "Phenomenon QualitativeAnalysis". The discourses collected were i<strong>de</strong>ntified and divi<strong>de</strong>d into three th<strong>em</strong>es: "the meaning of body injuries","professional care for those who need to be cared for", and "world-life in a hospital context".Key words: Nursing Care; Intensive Care Units; Nurse-Patient Relations.RESUMENLa propuesta <strong>de</strong> este estudio es compren<strong>de</strong>r los significados atribuidos por pacientes al vivir la experiencia <strong>de</strong> hospitalizaciónen una Unidad <strong>de</strong> Terapia Intensiva (UTI). Como metodología se <strong>em</strong>plearon los principios <strong>de</strong> la fenomenología y comomarco <strong>de</strong> referencia el análisis cualitativo <strong>de</strong>l fenómeno situado. Se i<strong>de</strong>ntificaron tres categorías t<strong>em</strong>áticas: el sentido <strong>de</strong>los agravios <strong>de</strong>l cuerpo; el cuidado profesional para quien necesita cuidar ser; el mundo-vida en el contexto hospitalario.Palabras clave: atención <strong>de</strong> enfermería; unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terapia intensiva, relación enfermero - paciente1Enfermeira, Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, Professora da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>2Enfermeira, Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, Professora da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Wenceslau BrazEn<strong>de</strong>reço para correspondência: Ligia Vieira Tenório Sales – Rua Dr. Carlos Goulart, 39 Bairro São Vicente – Itajubá – MG CEP 37502-014REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005 13


O mundo-vida no...A ESCOLHA DO TEMADurante o longo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação <strong>em</strong> Ccentros <strong>de</strong>Tratamento Intensivo, t<strong>em</strong>os observado que, apesar daqualificação dos profissionais que ali estão, nossa comunicaçãocom o paciente quase s<strong>em</strong>pre se restringe a explicar-lherapidamente os procedimentos a ser<strong>em</strong> executadose pedir-lhe a colaboração para que as nossas condutaspossam transcorrer <strong>de</strong> acordo com o esperado.Perceb<strong>em</strong>os que pouco o ouvimos e que as nossas orientaçõessão, na maioria das vezes, superficiais, não lhepermitindo compreen<strong>de</strong>r, cooperar e sentir-se segurono processo <strong>de</strong> cuidar.Para nós, que há muito exerc<strong>em</strong>os ativida<strong>de</strong>s profissionaisnessas unida<strong>de</strong>s tão especializadas, tudo ten<strong>de</strong> atornar-se uma rotina e o paciente é visto como mais umentre aqueles a qu<strong>em</strong> prestar<strong>em</strong>os cuidados. Sab<strong>em</strong>os,entretanto, que para ele, a vivência <strong>de</strong> tal situação po<strong>de</strong>ráser algo novo que o marque por toda a vida. Essaconstatação nos inquietava e, cada dia mais, nos víamosenvolvidas com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r- para asapessoas das quase o ajudávamos a cuidar- o real significadoda experiência <strong>de</strong> estar vivendo <strong>em</strong> um CTI.Reconhecendo que nunca tínhamos parado para perguntar,ouvir atentamente e refletir sobre o momento existencialpor que passavam, pensamos <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolver umestudo que respon<strong>de</strong>sse às nossas inquietações a esse respeito.Com ele, esperávamos proporcionar momentos <strong>de</strong>reflexões e, qu<strong>em</strong> sabe trazer à luz novos significados aoscuidados prestados a esses pacientes, o que seria especialmenteimportante para nós profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Decidimos, então, ouvi-los, direcionando-lhes a seguintequestão:Fale-nos sobre sua experiência ao ser internado(a) no CTI.O ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICOOptamos pela pesquisa qualitativa, seguindo a abordag<strong>em</strong>fenomenológica, por acreditarmos que ela nos possibilitariacompreen<strong>de</strong>r o fenômeno que buscávamos atravésdos significados atribuídos pelo paciente ao relatar assuas vivências quando <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doença ehospitalização no CTI.Utilizamos os princípios fenomenológicos tendocomo referência a análise qualitativa do fenômeno situado.Para chegarmos ao locus do conhecimento, tomandoos significados como sinalizadores, seguimos os momentossugeridos para o caminhar fenomenológico, ou seja:a <strong>de</strong>scrição, a redução e a compreensão. Na trajetóriametodológica além da análise i<strong>de</strong>ográfica elaboramos aanálise nomotética, mencionadas por Martins e Bicudo. (1)A nossa "região <strong>de</strong> inquérito" foram os Centros <strong>de</strong>Tratamento Intensivo do Hospital das Clínicas e da SantaCasa <strong>de</strong> Misericórdia, ambos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itajubá (MG),on<strong>de</strong> buscamos a experiência existencial junto àquelesque neles estiveram internados no período estipulado paracoleta dos discursos.Participaram da pesquisa quatorze pacientes, todoscom "quadro clínico" diagnosticado como estável. A partir<strong>de</strong>sse número, os relatos foram se repetindo; então, <strong>de</strong>cidimosparar, uma vez que eles já se mostravam suficientespara compreensão do fenômeno.REFLEXÃO DOS RESULTADOSAs análises dos <strong>de</strong>poimentos possibilitaram osurgimento <strong>de</strong> três categorias t<strong>em</strong>áticas que <strong>de</strong>linearama estrutura a ser refletida na construção dos dadosa seguir.O SENTIDO DOS AGRAVOS DO CORPOPara existir plenamente é preciso agir; a ação supõeliberda<strong>de</strong> e não só um impulso vital ou <strong>de</strong>ver. Ao agir, apessoa vai além do ato <strong>de</strong> exercitar, se <strong>de</strong>sabrocha e sai<strong>de</strong> si própria para dar consistência a seu ser e ao seumundo. A via <strong>de</strong> personalização da pessoa é o agir. Pelaação que o indivíduo manifesta o seu ser e o cria enriquecendo-ona t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua existência. (2)Uma das falas dos pacientes estudados mostra a nãopercepção do ser no espaço e no t<strong>em</strong>po e a sua inérciano instante da internação; um distanciamento da capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> agir:Foi admitido no CTI inconsciente e só lá <strong>de</strong>ntro retomouos sentidos (DISC. 13).A <strong>de</strong>scrição acima revela o rompimento na tría<strong>de</strong>hom<strong>em</strong>-espaço-t<strong>em</strong>po, pela quebra da interação hom<strong>em</strong>consciência,que <strong>de</strong>ixa, a partir daí, <strong>de</strong> perceber e vivenciaro mundo, <strong>de</strong> ser-no-mundo.A respeito do imbricamento corpo-espaço-t<strong>em</strong>po, não...se po<strong>de</strong> dizer que o corpo está no espaço n<strong>em</strong>tampouco que ele está no t<strong>em</strong>po: o corpo habita oespaço e o t<strong>em</strong>po (...). Meu corpo combina-se com oespaço e o t<strong>em</strong>po e os inclui; a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa inclusãoé a medida da minha existência.(...), através daconsciência eu <strong>de</strong>scubro o contato simultâneo do meupróprio ser com o ser do mundo. (3:156-7)Diante da facticida<strong>de</strong> do agravo do corpo é possívelafirmar, <strong>em</strong> se tratando da opção pela hospitalização, queo paciente fica impedido <strong>de</strong> escolha, conseqüent<strong>em</strong>enteé amparado por outros, que, para preservar a sua existência,<strong>de</strong>cid<strong>em</strong> por ele, e o internam.O corpo, nesta situacionalida<strong>de</strong>, não se dá conta dosujeito que é, <strong>em</strong> toda a sua inteireza. A percepção <strong>de</strong>sua experiência no mundo fica ofuscada; com isso o ser<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doença não t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> reconstituira sua história. Há uma espécie <strong>de</strong> parada no fluxo existencial.Nesse momento, quando não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir porsi, os outros assum<strong>em</strong> o seu cuidado até que ele retorneà sua possibilida<strong>de</strong> para cuidar-<strong>de</strong>-ser e continue o seuprojeto existencial, tarefa realizada pelos profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> que o aten<strong>de</strong>ram, logo que foi admitido no CTI.Ao acordar, percebeu-se perdida no t<strong>em</strong>po e espaço(...). Foi informada pela enfermeira que se encontravano CTI, o que a <strong>de</strong>ixou tranqüila e "à vonta<strong>de</strong>"(DISC 1).O <strong>de</strong>spertar para a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existir po<strong>de</strong>ser tranqüilo para o paciente, principalmente se no instante<strong>em</strong> que a sua consciência é recuperada, t<strong>em</strong> aolado alguém que toma como <strong>de</strong>ver profissional um modoautêntico <strong>de</strong> ajudá-lo a se cuidar, comunicando-lhe aquiloque, pelas circunstâncias, não é capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rpor si só. Leitura que se po<strong>de</strong> fazer no trecho do discurso<strong>de</strong> número 1 relatado acima.14 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005


Embora não explícito, é possível imaginar, neste casoespecífico, que a enfermeira não se preocupou apenas<strong>em</strong> informar ao paciente os fatos com ele ocorridos, masutilizou-se da comunicação como um instrumento <strong>de</strong>inter-ação que resultou no "encontro", trazendo serenida<strong>de</strong>e segurança a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-lo "à vonta<strong>de</strong>", numlugar on<strong>de</strong> tudo e todos lhe eram estranhos.Ainda <strong>em</strong> relação ao acolhimento recebido no CTI,ele <strong>em</strong>erge das falas como algo significativo na experiênciados <strong>de</strong>poentes, quando d<strong>em</strong>onstraram satisfação aose referir<strong>em</strong> à recepção afetiva que tiveram logo após ainternação. A unida<strong>de</strong> é reconhecida, inicialmente, comoespaço existencial on<strong>de</strong> parec<strong>em</strong> reger nas ações o carinhoe atenção na busca <strong>de</strong> encontrar-com-o-outro e,assim, po<strong>de</strong>r ajudá-lo a cuidar-<strong>de</strong>-ser, neste momento <strong>de</strong>apreensão com a vida.Foi recebida com bastante carinho pelos médicos,enfermeiros e até pelo pessoal da limpeza (DISC. 3).Interessante a menção feita <strong>em</strong> um dos discursos àspessoas responsáveis pela limpeza, entre aquelas que ajudama acolher o paciente no CTI, fazendo com que o ambientetecnológico do setor transforme-se num mundo <strong>de</strong>vida-<strong>em</strong>-comum, <strong>de</strong> participação. Mesmo não recebendonenhum treinamento específico para ali trabalhar<strong>em</strong>, essaspessoas não se atêm, pelo que se po<strong>de</strong> ver nas falas, assuas obrigações <strong>de</strong> exercer algumas tarefas puramenteobjetivas, no ambiente das coisas, e se revelam conscientes<strong>de</strong> uma compreensão mais ampla da coexistência humana.Uma coexistência que, pela solicitu<strong>de</strong>, atenção eamor, po<strong>de</strong> recriar o nosso mundo e o mundo do outro. Eisto é o que esses funcionários parec<strong>em</strong> fazer, na tentativa<strong>de</strong> tornar<strong>em</strong> o mundo-vida do ser <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doençamais ameno durante a hospitalização.Alguns <strong>de</strong>poimentos evi<strong>de</strong>nciam, também, o reconhecimentodos pacientes pelo atendimento técnico especializado,imediato e preciso dispensado a eles, consi<strong>de</strong>rando-ocomo o causador do alívio para o mal do corpofísico que os acometia no momento da internação.Após sua chegada ao CTI, socorreram-na prontamente(DISC. 9).Estava passando muito mal quando chegou. Após recebera medicação, sentiu-se aliviada (DISC. 3 - A.I. c).As falas reforçam o valor incontestável da precisão equalida<strong>de</strong> dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a ser<strong>em</strong> prestados <strong>em</strong>situações <strong>de</strong>cisivas que envolv<strong>em</strong> a preservação da existênciahumana. Nesse contexto, o conhecimento e a técnica<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter um <strong>de</strong>stino preciso, uma intenção e umsignificado, o <strong>de</strong> servir ao hom<strong>em</strong>.Viu-se que, além da dor intensa manifestada no corpofísico, a pessoa fica exposta a uma série <strong>de</strong> procedimentosterapêuticos estressantes que parece aumentar osofrimento, conforme traduz este relato:Sentiu dores e sofreu muito com certos procedimentosterapêuticos (DISC. 2).Os sintomas físicos experienciados pelo paciente reflet<strong>em</strong>-seno corpo existencial, po<strong>de</strong>ndo levá-lo à inquietação,à falta <strong>de</strong> esperança <strong>de</strong> se curar e até ao "medo" <strong>de</strong>estar vivendo o pré-núncio da morte. Diante do comprometimento<strong>de</strong> seu corpo, percebe a proximida<strong>de</strong> da finitu<strong>de</strong>e manifesta a sua vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação a ela:Ficou preocupada e com medo, porque pensava queestava morrendo (DISC. 12).A preocupação, o "medo" e a <strong>de</strong>silusão surg<strong>em</strong> pelopeso <strong>de</strong> uma facticida<strong>de</strong>, alertando o paciente para a suapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não-mais-ser. Um t<strong>em</strong>or a algo que nãopertence à espécie do disponível, do que se apresenta oudo que é-com, mas alguma coisa que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sviadacomo um objeto a ser combatido. Um "medo" que,na leitura hei<strong>de</strong>ggeriana, é chamado <strong>de</strong> angústia. Nela abresea perspectiva da morte como projeto humano. Naangústia, o ser rompe com a familiarida<strong>de</strong> cotidiana e seangustia pelo próprio ser-no-mundo, atirado no <strong>de</strong>sterro.O ser para a morte é essencialmente angústia. Então,toda angústia é angústia <strong>de</strong> morte. (4)Os comentários nos levam a acreditar que estes pacientesgrav<strong>em</strong>ente enfermos, ao se dar<strong>em</strong> conta da proximida<strong>de</strong>da morte, estrutura fundamental <strong>de</strong> todos os seresvivos, passaram a viver momentos <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong>.Tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer que a morte é"o modo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r-ser que é mais próprio do hom<strong>em</strong>,on<strong>de</strong> ele, sozinho, está presente à sua própriapossibilida<strong>de</strong>, a invencível possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suaimpossibilida<strong>de</strong>". Ao encarar o projeto <strong>de</strong> não-maisser-aí,o ser alcança a plenitu<strong>de</strong> pela autenticida<strong>de</strong>. (4,5)Exist<strong>em</strong>, porém, aqueles que, diante <strong>de</strong> tal certeza,tornam-se tão <strong>de</strong>sesperados e fragilizados que a existênciapo<strong>de</strong> começar a per<strong>de</strong>r o seu valor. É o caso <strong>de</strong> umdos <strong>de</strong>poentes que <strong>de</strong>ixa explícito o <strong>de</strong>sespero vivenciadoao perceber que o seu corpo físico não reagia ao tratamentoe conta como apelava a Deus, para que lhe antecipassea morte, pois pensava que ela seria a única saídapara livrar-se <strong>de</strong> tamanha "aflição".Vencido pela angústia, ansiava por encontrar meiossobrenaturais que viess<strong>em</strong> ajudá-lo a encurtar a suatrajetória rumo ao não-mais-ser. Procurava eximir-se daresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter-que-ser-no-mundo, tentandoabandonar o seu projeto <strong>de</strong> se cuidar para po<strong>de</strong>r-existir.Não tinha esperança <strong>de</strong> se curar (...). Às vezes, o<strong>de</strong>sespero era tanto que pedia a Deus para morrer(...) não agüentava tanto sofrimento (DISC. 2).A experiência vivenciada pelo paciente durante ainternação no CTI ajuda-o, pelo menos <strong>em</strong> se tratandoda fala referendada, a <strong>de</strong>spertar para a existência, refletir,e mudar a sua postura como ser-aí. A confissão sinalizapara uma significativa transformação no modo <strong>de</strong> vere comportar-se frente a ela:Todos os acontecimentos que vivenciou na unida<strong>de</strong> amarcaram muito e lhe trouxeram uma gran<strong>de</strong>experiência. Começou a atentar-se para as pequenascoisas que antes não valorizava. (...) Afirma quecomeçou a amar a vida e querer "correr atrás <strong>de</strong>la"ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-la passar (DISC. 5).A constatação <strong>de</strong> que a "realida<strong>de</strong> da vida" é "realida<strong>de</strong>"da dor, do sofrimento e da angústia da morte ensi-REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005 15


Conforme relatam <strong>de</strong>terminados pacientes, há momentos<strong>em</strong> que não lhes bastam receber cuidados específicos.Suas priorida<strong>de</strong>s estão centradas igualmente naatenção, carinho e compreensão, para sentir<strong>em</strong>-se aliviados<strong>em</strong> suas dores. A interação com a enfermag<strong>em</strong> traduzesta percepção quando faz<strong>em</strong> referência à maneirasimpática como a equipe os tratava e procurava distraílostransformando o ambiente triste do CTI <strong>em</strong> um mundo-vidamais ameno.Quando se sentia melhor, brincava com elas que"riam" das suas brinca<strong>de</strong>iras (DISC. 2).Apesar <strong>de</strong> o ambiente ser triste, as enfermeirascontavam casos engraçados para divertir os pacientes.Para ela, são "superbacanas" e divertidas (DISC. 9).Conforme afirmação da <strong>de</strong>poente do discurso 3, éimportante um bom relacionamento nestes instantesquando a vida parece <strong>de</strong>smoronar-se. Um bom relacionamentopo<strong>de</strong> significar até estar sentado ao lado da pessoa<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doença, conforme refere a fala:Nos momentos <strong>de</strong> folga, as enfermeiras assentavamperto <strong>de</strong>la e isto a <strong>de</strong>ixava tranqüila. Consi<strong>de</strong>ra quefoi um relacionamento importante naquele período<strong>de</strong> sua vida (DISC. 3).O <strong>de</strong>poimento faz referência a um modo-<strong>de</strong>-estar como outro <strong>em</strong> que a comunicação não-verbal se sobrepõe àverbal e a situação <strong>de</strong> ouvinte <strong>de</strong> um dos interlocutoresé traduzida como interesse e disponibilida<strong>de</strong>.A voz do silêncio, escolhida pelas enfermeiras, v<strong>em</strong>dar t<strong>em</strong>po ao paciente e fazê-lo sentir-se livre para seexpressar como lhe convém. Este parece ser um dosex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> como pod<strong>em</strong> ser os verda<strong>de</strong>iros encontrosentre os enfermeiros e os pacientes.O reconhecimento dos <strong>de</strong>poentes para com as equipes<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e médica, porém, não se faz presenteapenas pela afetivida<strong>de</strong>, mas também pela competência. Éimportante l<strong>em</strong>brar que a competência exigida dos profissionaisque atuam no CTI, reportada por um dos pacientes,<strong>de</strong>ve ser vista como especial, à medida que <strong>em</strong>poucos segundos ela po<strong>de</strong> fazer a diferença entre a possibilida<strong>de</strong>ou não <strong>de</strong> manter a vida da pessoa que estásendo atendida. O conhecimento técnico-científico t<strong>em</strong><strong>de</strong> estar associado à eficiência especializada e à rapi<strong>de</strong>zque as <strong>em</strong>ergências d<strong>em</strong>andam.Apesar <strong>de</strong> alguns pacientes mostrar<strong>em</strong>-se bastante satisfeitose agra<strong>de</strong>cidos pelos cuidados recebidos, há qu<strong>em</strong>divirja da opinião geral e comente o <strong>de</strong>scaso, a falta <strong>de</strong>atenção e impaciência, <strong>de</strong> como, <strong>em</strong> certas situações, foramtratados pela equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Na maneirasimples <strong>de</strong> contar um episódio ocorrido no CTI, a pacientedo discurso 7 <strong>de</strong>ixa transparecer sua mágoa ao sentir-seagredida pelo <strong>de</strong>sinteresse e pela falta <strong>de</strong> compreensãoda enfermag<strong>em</strong> perante sua dor. Parece não terentendido o procedimento a que foi submetida e mostra-serevoltada por ficar como mera receptora das <strong>de</strong>cisõesdaqueles que <strong>de</strong>la cuidavam.Apesar <strong>de</strong> pedir para <strong>de</strong>ixar uma das mãos livres, elasforam amarradas com a justificativa <strong>de</strong> que era paragarantir a sua segurança. Não acreditava que aquilopo<strong>de</strong>ria estar acontecendo (...). Achava que nãoprecisavam contê-la, então suplicava para que asoltass<strong>em</strong> (...). Chorou a noite inteira, mas ficou "porisso mesmo". (DISC. 7).Na forma como critica o tratamento recebido, o pacientedo relato acima <strong>de</strong>nota ter sentido o corpoobjetivado pelo fato <strong>de</strong> as ações prestadas não levar<strong>em</strong><strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a sua dimensão existencial. Um corpoque, ao ser objetivado per<strong>de</strong> o sentido e passa a ser umaespécie <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> para qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>le ajuda a cuidar. Es<strong>em</strong> sentido, o corpo "<strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> breve <strong>de</strong> ser corpo vividopara recair na condição <strong>de</strong> massa físico-química" e vira umobjeto qualquer.(3:242)O discurso chama atenção ainda, por mostrar que oenvolvimento e a preocupação da enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> teruma interação e comunicação gratificante com os pacientesn<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre estão presentes. Por falta <strong>de</strong> zelo oupelo uso <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> técnica inapropriada à pessoaleiga, a comunicação com o paciente ficou unilateralnão lhe dando oportunida<strong>de</strong> para compreen<strong>de</strong>r e participardas <strong>de</strong>cisões tomadas com relação ao seu corpo.Quanto aos procedimentos invasivos, uma pacienterevela o constrangimento <strong>de</strong> ter que expor o corpo duranteo banho <strong>de</strong> leito e como o ato <strong>de</strong> ser tocada eolhada, ainda que pelo profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, é sentidocomo algo invasivo à sua privacida<strong>de</strong>.Sentiu-se incomodada também ao ter que utilizar acomadre e tomar banho <strong>de</strong> leito. Este é umprocedimento muito "invasivo", quando o paciente seexpõe totalmente diante do outro. (DISC. 6).Neste relato, há um alerta contra a banalização dobanho <strong>de</strong> leito <strong>de</strong>ntro das instituições hospitalares, probl<strong>em</strong>adiscutido <strong>em</strong> inúmeros trabalhos na área da enfermag<strong>em</strong>.Por ser um procedimento rotineiro no exercícioprofissional, a sua complexida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> se tratando dopudor corporal, às vezes é esquecida na prática, transformando-o<strong>em</strong> uma tarefa meramente mecanizada.Apesar <strong>de</strong> todo sofrimento e experiências traumáticasvivenciadas no CTI, po<strong>de</strong>-se dizer que alguns dos pacientesouvidos expressaram a sua gratidão à equip<strong>em</strong>édica e à equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Vale salientar o discurso <strong>de</strong> número 1, <strong>em</strong> que a pacientefaz questão <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer ao médico pelo tratamentorecebido, referindo-se a ele como único responsávelpela manutenção <strong>de</strong> sua vida. Reconhecimento queparece reproduzir um conceito vigente na socieda<strong>de</strong>, oqual confere a este profissional um "status" diferenciado<strong>de</strong>ntro da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Embora a luta pela sobrevivênciada pessoa que está enferma seja resultante <strong>de</strong> umesforço coletivo, com a participação significativa da equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, ainda há pacientes que atribu<strong>em</strong> apenasàs ações médicas a responsabilida<strong>de</strong> pela cura obtida.A humanização do cuidado também foi l<strong>em</strong>brada pordois <strong>de</strong>poentes como sugestão para melhoria dos CTIs,pois acreditam que os profissionais <strong>de</strong>stas unida<strong>de</strong>s necessitam<strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar com o trabalho, dar sentido aele e ter gosto pela ativida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>, enfim,ter vocação para o que faz<strong>em</strong>.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005 17


O mundo-vida no...O MUNDO-VIDA NO CONTEXTO HOSPI-TALARPor se caracterizar<strong>em</strong> como locais <strong>de</strong> assistência àspessoas <strong>em</strong> estado crítico <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, os Centros <strong>de</strong> TratamentoIntensivo, ao longo dos anos, têm sido reconhecidospela população <strong>em</strong> geral, como um "lugar para amorte". Mesmo sendo criado a fim <strong>de</strong> possibilitar uma<strong>de</strong>dicação maior e cuidados especializados aos pacientes,consi<strong>de</strong>rados graves, mas com chance <strong>de</strong> recuperação,esse mito parece persistir para a maioria das pessoas,inclusive, entre aqueles que nele se internam. Logo, nãohá como estranhar que um dos pesquisados tenha feitoreferência a essa crença. A experiência ao se internar nosetor, entretanto, lhe possibilitou <strong>de</strong>scobrir uma realida<strong>de</strong>diferente daquela que imaginava e assim refazer osconceitos <strong>em</strong> relação a ela. A maneira como se expressana unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significado permite supor que houve umacerta surpresa ao ver transformado o juízo que anteriormentefazia do setor.... é um lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> as pessoas d<strong>em</strong>oram a sair ousa<strong>em</strong> mortas. Mas com ela foi diferente; recebeu osmelhores cuidados possíveis (DISC. 9).Em relação ao mundo-circundante <strong>de</strong>ntro do hospital,dois aspectos foram avaliados. Por um lado, segundoa percepção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>poente, a unida<strong>de</strong> é retratada comoisenta <strong>de</strong> barulho e <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> acordocom o que <strong>de</strong>veria ser planejado e se espera para acolhero paciente <strong>em</strong> situação crítica que nele se interna.Por outro lado, exist<strong>em</strong> pacientes com visão oposta, classificandoo CTI como um local estressante e pouco familiar<strong>de</strong>vido ao excesso <strong>de</strong> aparelhos, ao barulho provocadopor eles e pela movimentação dos funcionários queali trabalham. Há ainda qu<strong>em</strong> reclama da intensida<strong>de</strong> dosestímulos sonoros e os seus efeitos sobre o sono.Aqui é oportuno pensar sobre o impacto <strong>de</strong>sses fatoresno paciente <strong>de</strong> modo a interce<strong>de</strong>r, no que for possível,para que o seu mundo-circundante seja mais acolhedor,apesar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter os aparelhos comocoadjuvantes no processo <strong>de</strong> cuidar.A falta <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> durante a permanência na unida<strong>de</strong>foi novamente mencionada por uma paciente aocomentar que ficava ansiosa ao presenciar todos os acontecimentosà sua volta. Ouvia as conversas, percebia quandoalguém tinha o seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> agravado e atémesmo se estava prestes a morrer. A separação dos leitospor cortina não lhe garantia a tranqüilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quetanto precisava no período <strong>de</strong> internação.A coexistência quase que <strong>em</strong> comum no CTI possibilitaum estreitamento <strong>de</strong> sentimentos entre os internos.Há momentos, <strong>de</strong>clara um, que mesmo sentindo-se b<strong>em</strong>,entristecia-se ao presenciar o sofrimento <strong>de</strong> outros companheirosao lado.Mesmo estando b<strong>em</strong>, entristecia-se ao ver o sofrimentodos outros pacientes (DISC. 11).Mesmo conscientes <strong>de</strong> que a presença é essencialmenteser-com, já que o mundo da presença é um mundocompartilhado (4) , pensa-se que, nestes casos, pela proporçãodos agravos do corpo, os pacientes do CTI <strong>de</strong>veriamser poupados do compromisso <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> atentose zelar pela vida <strong>de</strong> outros.Entre as queixas das pessoas pesquisadas, odistanciamento dos familiares imposto pelas normas dainstituição é referido como uma das dificulda<strong>de</strong>s vivenciadasnos momentos <strong>de</strong> transtornos existenciais por que passamnesses centros. O <strong>de</strong>poimento citado a seguir expressao estado <strong>de</strong>sesperador <strong>em</strong> que ficou a paciente ao perceber-sesozinha, frente à possibilida<strong>de</strong> da morte e s<strong>em</strong> autonomiapara fazer valer o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> manter os familiaresao seu lado. Incapaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o sentido darestrição, <strong>de</strong>ixa transparecer, no <strong>de</strong>poimento, a sua indignação<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r contar com ninguém da família nosmomentos <strong>em</strong> que <strong>de</strong>la mais precisava.No CTI permaneceu sozinha no quarto, então começoua gritar um e outro, inclusive seu marido, pois pensavaque ele estivesse por perto (...) e ficava imaginandoque morreria sozinha. Não sabia como fazer paramudar aquela situação (...). Lamentava a ausência <strong>de</strong>sua irmã (DISC. 7).A experiência <strong>de</strong> ficar aguardando o dia <strong>de</strong> visita étraduzida por um t<strong>em</strong>po existencial carregado <strong>de</strong> significação.Neste sentido, observa-se uma contag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>poque ganha as proporções dos sentimentos vividos pelos<strong>de</strong>poentes, fazendo com que os dias das visitas d<strong>em</strong>orass<strong>em</strong>a chegar e o período <strong>de</strong> permanência dos familiaresna unida<strong>de</strong> passasse com rapi<strong>de</strong>z.No enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma das pessoas ouvidas, a enfermeiramostra-se submissa às rotinas, inflexível no atendimentoao paciente e à família. Insinua que as normas dosetor sobrepõ<strong>em</strong> os interesses daqueles os quais ela ajudaa cuidar. Não só <strong>em</strong> relação às visitas isto é verificado,mas nos cuidados <strong>de</strong> modo geral. Salienta que o bomsenso<strong>de</strong>veria prevalecer <strong>em</strong> certas ocasiões, uma vezque são pacientes graves cujas famílias estão s<strong>em</strong>pre naexpectativa das notícias e ansiosas para ficar<strong>em</strong> junto <strong>de</strong>les.Quando conseguia cochilar, alguém a acordava paraverificar sua pressão que não era a causa <strong>de</strong> suainternação (...). Sabe que regras exist<strong>em</strong> para ser<strong>em</strong>cumpridas. Mesmo assim, é preciso que as enfermeirasanalis<strong>em</strong> cada caso separadamente (...). A flexibilida<strong>de</strong>nas normas possibilitará uma maior assistência aosfamiliares que se sent<strong>em</strong> ansiosos para estar napresença <strong>de</strong> seu ente querido (DISC. 6).É importante reconhecer que as normas <strong>em</strong><strong>de</strong>terminadas situações perd<strong>em</strong> o sentido e não há porque segui-las.Percebe-se, pelo que foi visto no mundo circundantedo CTI, que o paciente n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre consegue permanecerà vonta<strong>de</strong> e não exerce, como gostaria, a sua autonomiamesmo <strong>em</strong> momentos <strong>em</strong> que a sua opção viria lhefavorecer a recuperação. A rotina criada pelas instituições<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, normalmente, faz com que as pessoashospitalizadas pass<strong>em</strong> a viver <strong>de</strong> uma forma conflitiva oseu modo estar-no-mundo, visto que ficam privadas <strong>de</strong>optar<strong>em</strong> sobre seus cuidados e <strong>de</strong>sejos.Assim a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o sentido das normas,muitas vezes, impe<strong>de</strong> os pacientes <strong>de</strong> criar novas18 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005


estruturas significativas para a atual maneira <strong>de</strong> ser quelhes é imposta no contexto hospitalar. (8)Apesar <strong>de</strong> todas as controvérsias geradas <strong>em</strong> relaçãoaos regimentos e à organização dos serviços no CTI, algumasfalas nos permit<strong>em</strong> apreen<strong>de</strong>r que nele o pacienteparece re<strong>de</strong>scobrir a esperança da recuperação e a segurançapela qualida<strong>de</strong> dos serviços oferecidos. Mesmo diante<strong>de</strong>ste aspecto positivo, na reflexão <strong>de</strong>ste capítuloficou evi<strong>de</strong>nte também que muitas mudanças se requer<strong>em</strong>ao se pensar na liberda<strong>de</strong> e autonomia do paciente<strong>de</strong>ntro da atual estrutura <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s.CONSIDERAÇÕES FINAISApesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrirmos novos horizontes capazes<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à pergunta que direcionou a nossa pesquisa,reafirmamos que muito se po<strong>de</strong> buscar sobre o fenômenoestudado, pois a percepção <strong>de</strong> cada paciente internadono CTI acompanha o movimento <strong>de</strong> sua experiênciana t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong> existencial, além <strong>de</strong> que o modo <strong>de</strong>focá-la vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r também do olhar <strong>de</strong> cada pesquisadorque a preten<strong>de</strong> explorar.As categorias aqui refletidas, entretanto, possibilitaram-noscompreen<strong>de</strong>r parte das dificulda<strong>de</strong>s vivenciadaspor estas pessoas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento da admissão até arecuperação e alta.Na simplicida<strong>de</strong> e riqueza <strong>de</strong> suas experiências, <strong>de</strong>scobrimosos sofrimentos, medos, expectativas e outrossentimentos que, pela significação, marcaram as suastrajetórias durante a permanência naquele local.A partir <strong>de</strong> então, t<strong>em</strong>os certeza que, na nossaativida<strong>de</strong> profissional e ao supervisionar os alunos <strong>de</strong> graduação<strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> no ensino clínico junto ao pacientedo CTI, manter<strong>em</strong>os implícita <strong>em</strong> nossas atitu<strong>de</strong>s eorientações esses significados, com vistas ao aprimoramentodos cuidados a ele oferecidos.Compreend<strong>em</strong>os, portanto, que o enfermeiro sópo<strong>de</strong>rá ser-com-o-paciente quando seus mundos seinterpenetrar<strong>em</strong>; se buscar caminhos que prioriz<strong>em</strong> oser resgatando o significado, a individualida<strong>de</strong> e a unicida<strong>de</strong>daquele no qual conviv<strong>em</strong>os no exercício <strong>de</strong> nossa profissão.(9)REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Martins J, Bicudo MAV. A pesquisa qualitativa <strong>em</strong> psicologia: fundamentose recursos básicos. São Paulo: Moraes; 1989.2. Severino AJ. Pessoa e existência: iniciação ao personalismo <strong>de</strong>Emmanuel Mounier. São Paulo: Cortez; 1983.3. Merleau-Ponty, M. A estrutura do comportamento. Belo Horizonte:Interlivros; 1975.4. Hei<strong>de</strong>gger M. Ser e t<strong>em</strong>po. 8a ed. Petrópolis: Vozes;1999.5. Luijpen W. Introdução à fenomenologia existencial. São Paulo: EDUSP;1973.6. Cr<strong>em</strong>a R. Saú<strong>de</strong> e plenitu<strong>de</strong>: um caminho para o ser. 2a ed. SãoPaulo: Summus Editorial; 1995.7. Michelazzo J. C. Do um como princípio ao dois como unida<strong>de</strong>:Hei<strong>de</strong>gger e a reconstrução ontológica do real. São Paulo: FAPESP,1999.8.Graças EM. A experiência da hospitalização: uma abordag<strong>em</strong>fenomenológica [tese]. São Paulo: <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> São Paulo; 1996.9. Silva AL, Borenstein MS. Ser e viver saudável no mundo: buscandonovos caminhos no cuidar pesquisando com o ser-doente. Texto &Contexto Enf., Florianópolis, 1992 jul/<strong>de</strong>z.; 1 (2): 56-69.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005 19


Trabalho no Centro <strong>de</strong>...TRABALHO NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA:PERSPECTIVAS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM.WORK IN THE INTENSIVE CARE UNIT:OUTLOOK FOR THE NURSING TEAMTRABAJO EN LA UNIDAD DE TERAPIA INTENSIVA:LAS PERSPECTIVAS DEL EQUIPO DE ENFERMEROSAndreza Dias Araújo 1Jaqueline Oliveira Santos 2Lílian Varanda Pereira 3Rejane Cussi Assunção L<strong>em</strong>os 4RESUMOTrata-se <strong>de</strong> um trabalho do tipo qualitativo, com objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as perspectivas da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> queatua no Centro <strong>de</strong> Terapia Intensiva <strong>de</strong> um hospital universitário, no interior <strong>de</strong> Minas Gerais, <strong>em</strong> relação a vivencia e aotrabalho nesse setor; ao relacionamento entre os m<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e <strong>de</strong>ssa equipe com o cliente; e àverificação da possível existência <strong>de</strong> agentes estressores para essa equipe. Os dados obtidos foram analisados por meioda análise t<strong>em</strong>ática. O CTI foi consi<strong>de</strong>rado um ambiente <strong>de</strong>sgastante e estressante, on<strong>de</strong> a humanização é, s<strong>em</strong> dúvida, oel<strong>em</strong>ento essencial a ser <strong>de</strong>senvolvido.Palavras -chave: Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Terapia Intensiva; Enfermag<strong>em</strong>; Hospitais Universitários; Equipe <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>SUMMARYThis is a qualitative study, i<strong>de</strong>ntifying the outlook for the nursing team that works in the ICU of a university hospital in theinterior of the State of Minas Gerais, Brazil. It examines life and work in this sector, the relationship between m<strong>em</strong>bersof the nursing team and between the nursing team and patients, as well as to examine the possible existence of agents ofstress for this team. The data was analyzed using th<strong>em</strong>e analysis. The ICU was consi<strong>de</strong>red a wearing and stressfulenvironment, in which humanization is, without any doubt, an essential el<strong>em</strong>ent to be <strong>de</strong>veloped.Key Words: Intensive Care Unit; Nursing; Hospitals, University; Nursing, Team.RESUMENEl objetivo <strong>de</strong>l presente trabajo, tipo cualitativo, es i<strong>de</strong>ntificar las perspectivas <strong>de</strong>l equipo <strong>de</strong> enfermeros <strong>de</strong> la UTI <strong>de</strong> unhospital universitario en el interior <strong>de</strong>l Estado <strong>de</strong> Minas Gerais con relación a la existencia y al trabajo en esta sección, larelación entre el equipo <strong>de</strong> enfermeros y el cliente, y comprobar si existen agentes que puedan causar estrés en elequipo. Los datos recopilados fueron analizados por el análisis t<strong>em</strong>ático. La UTI fue consi<strong>de</strong>rada un ambiente agotadory estresante, y queda evi<strong>de</strong>nte que allí es esencial fomentar la humanización.Palabras clave: unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terapia intensiva; enfermería; hospitales universitarios; grupo <strong>de</strong> enfermeros.1Aluna do 8º período do Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Triangulo Mineiro.2Enfermeira. Mestranda / UNICAMP. Professora Auxiliar da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Triangulo Mineiro.3Enfermeira. Doutora / USP-RP. Professora Adjunta da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Triangulo Mineiro.4Enfermeira. Mestre / USP-RP. Professora Assistente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Triangulo Mineiro.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua Oscarina <strong>de</strong> Castro, 355 - Conjunto Uberaba I - CEP: 38073 000 – Uberaba - MG - Tel.: (34) 3318-5484 e-mail: rjleng@uol.com.br20 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005


INTRODUÇÃOO Centro <strong>de</strong> Terapia Intensiva (CTI) surgiu no Brasilna década <strong>de</strong> 70, com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentrar recursosmateriais e humanos <strong>em</strong> um ambiente preparado parareceber clientes graves, porém, passíveis <strong>de</strong> recuperação,que necessitam <strong>de</strong> observação e cuidados constantes.(1)O CTI é o local i<strong>de</strong>al para assistir clientes graves;porém parece oferecer um ambiente extr<strong>em</strong>amenteestressante para qu<strong>em</strong> o vivencia. (2,3,4,5,6)A equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> especial sofrediretamente as agressões provenientes do ambiente hostil<strong>de</strong>sse setor, uma vez que diariamente, por um espaçolongo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, trabalha <strong>em</strong> um ambiente fechado, tendoque conviver com clientes graves e situações <strong>de</strong> urgênciae <strong>em</strong>ergência constant<strong>em</strong>ente. (3,5) O aparatotecnológico dominante no CTI, muitas vezes faz comque a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, se esqueça <strong>de</strong> visualizar oser humano que está à sua frente. Assim, torna-se difícilimpl<strong>em</strong>entar a essência do aspecto humano relacionadoao cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Diante <strong>de</strong>sse contexto, precisamos conhecer as reaisdificulda<strong>de</strong>s enfrentadas pela equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> queatua no CTI; quais são os fatores que realmente levam aoestresse nesse ambiente; quais são os principais obstáculosque a equipe enfrenta diariamente; e como é o relacionamento<strong>de</strong>ssa equipe que vivencia situações constantes<strong>de</strong> estresse. Compreen<strong>de</strong>r esses aspectos nos possibilitafazer um diagnóstico da equipe e, conseqüent<strong>em</strong>enteelaborar melhor o cuidado oferecido.Buscando aprimorar o conhecimento <strong>em</strong> relação aoCTI, a finalida<strong>de</strong> do estudo foi compreen<strong>de</strong>r o significado<strong>de</strong>sse setor, na perspectiva da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,vislumbrando i<strong>de</strong>ntificar os obstáculos, os agentesestressores e os enfrentamentos vividos pela equipe.Somente assim será possível conhecer a realida<strong>de</strong> doCTI e viabilizar o processo <strong>de</strong> humanização do ambientee do trabalho no setor, o que certamente implicará estímuloà equipe e po<strong>de</strong>rá refletir na melhora da qualida<strong>de</strong>do cuidado.METODOLOGIAPROCESSO DE INVESTIGAÇÃOO presente estudo constitui uma investigação <strong>de</strong>scritiva,<strong>de</strong> caráter qualitativo. Para análise dos dados foiutilizadoo método <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Conteúdo. (7) Ametodologia qualitativa trabalha com o universo <strong>de</strong> significados,motivos, crenças, valores e atitu<strong>de</strong>s, fenômenosque não pod<strong>em</strong> ser reduzidos à operacionalização <strong>de</strong>variáveis. (8) Essa metodologia possibilita uma profundacompreensão <strong>de</strong> fenômenos sociais, apoiando-se na relevânciados aspectos subjetivos da ação social.SITUAÇÃO SOCIALA situação social escolhida para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong>ste estudo focalizou a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do CTIAdulto do Hospital <strong>Escola</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina doTriângulo Mineiro (HE/FMTM), <strong>em</strong> Uberaba-MG, instituiçãoessa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, <strong>de</strong> caráter público, que prestaatendimento <strong>em</strong> diversas especialida<strong>de</strong>s.CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DA AMOSTRAA amostra foi constituída por todos os integrantesda equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do CTI Adulto (CTIA) do HE/FMTM, atuantes nos três períodos <strong>de</strong> trabalho, totalizando48 funcionários. Os participantes foram entrevistadosin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do gênero, e os critérios <strong>de</strong> seleçãoda amostra foram: ter ida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> 18 anos, trabalharno setor por, no mínimo, um ano e concordar <strong>em</strong> participardo estudo, o que foi feito por meio da assinaturado Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido.COLETA DE DADOSPara a coleta dos dados, optamos pela técnica <strong>de</strong> entrevistas<strong>em</strong>i-estruturada e observação participante. Osdados foram coletados pelo próprio pesquisador. Pararegistro das informações foi utilizado um gravador, comaquiescência do entrevistado. Posteriormente as entrevistasforam transcritas na íntegra. Foram utilizadas asseguintes questões norteadoras: Para você, o que significao CTI? Como você se sente trabalhando no CTI ecuidando <strong>de</strong> clientes graves?; Como você percebe a prática<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> no CTI? Como é o relacionamentoentre os m<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do CTI?Um diário <strong>de</strong> campo foi confeccionado, para documentaçãodos dados referentes à observação participante e àsentrevistas informais Os dados foram coletados somenteapós aprovação do projeto pelo Comitê <strong>de</strong> Ética ePesquisa (CEP), do HE/FMTM.ANÁLISEOs dados obtidos foram analisados segundo princípiose procedimentos da Técnica <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Conteúdo,utilizando-se Modalida<strong>de</strong> T<strong>em</strong>ática. (7) Os dados brutosforam elaborados para que se pu<strong>de</strong>sse alcançar os núcleos<strong>de</strong> sentido, tentando-se <strong>de</strong>scobrir tanto o conteúdomanifesto quanto latente dos dados; estes foram tratados<strong>de</strong> forma a se apresentar<strong>em</strong> significativos e válidos.Portanto foi necessário realizar a classificação e a agregaçãodos dados por núcleos t<strong>em</strong>áticos, discutidos a seguir,à luz do referencial teórico.RESULTADOS E DISCUSSÃOApós a análise dos dados, buscando os trechos querespondiam as questões norteadoras, surgiram três categorias,com suas respectivas subcategorias, às quaispassamos a <strong>de</strong>screver.CTI: "...minha segunda casa..."Categoria traz <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> toda equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong><strong>de</strong>screvendo aspectos positivos relacionados aoambiente do CTI.Estrutura física e humana do CTIA equipe do CTI <strong>de</strong>ve ser especializada, treinada, aptaa aten<strong>de</strong>r os clientes e manejar os equipamentos com segurançae <strong>de</strong>streza. Entre os profissionais da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, os escolhidos para trabalhar no CTI são aquelescom maior experiência, preparo e principalmente qued<strong>em</strong>onstram interesse pelas finalida<strong>de</strong>s e objetivos do setor,além <strong>de</strong> iniciativa e responsabilida<strong>de</strong>, pois este é um localREME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005 21


Trabalho no Centro <strong>de</strong>...do hospital que possui equipamentos com tecnologia avançada,necessários a um bom atendimento. (9)Sobre esse aspecto, os dados nos revelam que a equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> percebe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se capacitare <strong>de</strong> adquirir conhecimento científico para cuidar do clientegrave. Para esse grupo, a complexida<strong>de</strong> que envolveo setor não é um fator evi<strong>de</strong>nte que interfere no cuidadooferecido como nos mostram os relatos:"A enfermag<strong>em</strong> é muito b<strong>em</strong> equipada, t<strong>em</strong> uma carga<strong>de</strong> conhecimento técnico-científico muito boa"(entrevista 7)." Eu gosto do CTI, pois aqui 90% dos nossos pacientessão gravíssimos. Eu me simpatizo com os pacientes, agente apren<strong>de</strong> muito com eles. Eu prefiro trabalhar<strong>em</strong> CTI do que <strong>em</strong> enfermarias, eu fico mais próximado paciente e é isso que me agrada." (entrevista 3)Assim, o CTI foi entendido pela equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>como um ambiente equipado, possuindo quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> funcionários satisfatória, com elevado grau <strong>de</strong> competência;e o serviço prestado pela equipe, foi consi<strong>de</strong>radocomo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.Os recursos humanos e materiais do CTI superamquantitativa e qualitativamente os recursos das unida<strong>de</strong>sditas <strong>de</strong> cuidados intermediários, isso pelas característicasdos clientes que são assistidos. (10) Esses fatores sãoconsi<strong>de</strong>rados como regras básicas para um bom funcionamentodo setor. (11) Tudo isso faz com que o ambientedo CTI seja entendido como qualificado, requerendo funcionáriosresponsáveis, que d<strong>em</strong>onstr<strong>em</strong> <strong>de</strong>streza <strong>em</strong>relação ao manuseio dos equipamentos <strong>de</strong> alta tecnologia,habilida<strong>de</strong> e agilida<strong>de</strong> no cuidado ao cliente.Os m<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> vivenciammomentos <strong>de</strong> satisfação e orgulho <strong>de</strong> si mesmos, percebendo-secomo importantes e competentes, sentindo-segratificados com o trabalho que realizam (11) . Esses profissionaistornam-se diferenciados dos que não trabalhamno CTI, criando sentimentos aguçados <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>para com os clientes."Eu gosto do CTI porque você t<strong>em</strong> mais condições <strong>de</strong>trabalho, você t<strong>em</strong> um número maior <strong>de</strong> funcionáriospara aten<strong>de</strong>r o cliente, o que não acontece nasenfermarias" (entrevista 7)." A prática <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> é muito importante aqui<strong>de</strong>ntro, estamos s<strong>em</strong>pre perto do paciente, por <strong>de</strong>ntrodo que ocorre com cada um, até mesmo sentimentose <strong>em</strong>oções. ." (entrevista 15)O CTI é um setor que apresenta número reduzido<strong>de</strong> leitos; com isso, apesar da gravida<strong>de</strong> dos clientes, épossível que a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> exerça um cuidadodireto . (12) O cuidado ao cliente é o centro das ativida<strong>de</strong>sda equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>; ele se reflete diretamente nob<strong>em</strong> estar do cliente e na satisfação do funcionário.Portanto, somar tecnologia avançada à quantida<strong>de</strong> equalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos humanos disponíveis, são fatoresimprescindíveis para que o cuidado ao cliente seja oferecidoa<strong>de</strong>quadamente. O cotidiano <strong>de</strong> trabalho gratificantepromove a satisfação da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,viabilizando um atendimento integral ao cliente.O ambiente fechado do CTI é uma característicaque merece <strong>de</strong>staque, uma vez que a equipe fica limitadaao relacionamento cotidiano, o que exige preparopsicológico e afinida<strong>de</strong> com o tipo <strong>de</strong> trabalho realizado.(11) Portanto é necessário estabelecer um bomrelacionamento interpessoal na equipe, promovendoum convívio saudável.Esse ambiente harmônico promove a eficiência dosserviços prestados aos clientes, contribuindo diretamentepara a promoção da recuperação. A satisfação <strong>em</strong> colaborarna recuperação dos clientes está associadodiretamente ao relacionamento interpessoal mantidoentre enfermeiros e clientes. (12)"O ambiente do CTI seria minha segunda casa, aconvivência, as amiza<strong>de</strong>s, são características do CTI"(entrevista 5)."Em relação à equipe o meu sentimento é <strong>de</strong> muitocarinho, muita amiza<strong>de</strong>, aqui nós t<strong>em</strong>os um respeitomuito gran<strong>de</strong>, principalmente entre os colegas, eu achoisso essencial para qualquer equipe, e qualquer área<strong>de</strong> trabalho, porque interfere diretamente no cuidadoao paciente." (entrevista 8)O cuidado no CTI se reverte a clientes graves, queexig<strong>em</strong> mais <strong>de</strong>dicação e atenção. No entanto, no momento<strong>de</strong> sua recuperação, os sentimentos <strong>de</strong> alegriacontagiam toda a equipe, que <strong>de</strong> alguma maneira contribuiupara que isso acontecesse. É um momento gloriosopara todos, <strong>em</strong> que o esforço é recompensado. Dessaforma, o trabalho no CTI po<strong>de</strong> promover o b<strong>em</strong> estar daequipe."Eu gosto, me sinto b<strong>em</strong>, me sinto recompensadoquando o cliente sai daqui com alta programada"(entrevista 4)." É um b<strong>em</strong>-estar sentir que eu estou sendo útil ecuidando do próximo, eu gosto." (entrevista 2)A equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> convive com a dimensão doexistir humano, <strong>de</strong> recuperar a saú<strong>de</strong> e recuperar a vida,o que dá ao seu trabalho um cunho <strong>de</strong> importância. Sentimentos<strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> e satisfação são próprios da equipeque vivencia e cuida <strong>de</strong> clientes no limite da vida e damorte, situação essa que reforça a sensação <strong>de</strong> competênciae valoriza a assistência.Assim, nessa subcategoria os relatos evi<strong>de</strong>nciaram oCTI como um ambiente propício a receber clientes críticos,que possui qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento prestado pelosfuncionários, o que reflete satisfação para essas pessoas,que estão dispostas a aprimorar e melhorar a assistênciaprestada.Visitas no CTIO horário <strong>de</strong> visitas é s<strong>em</strong> dúvida o momento i<strong>de</strong>alpara o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma relação terapêutica einterpessoal entre a equipe, o cliente e a família. É omomento <strong>em</strong> que a família, parte integrante dahospitalização do cliente, se encontra no setor, próximoao seu ente.Assim, o CTI necessita oferecer um ambiente queproporcione melhores condições <strong>de</strong> assistência e pro-22 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005


moção <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar, favorecendo tanto os clientes, quantoos familiares. (13) Esse ambiente po<strong>de</strong> facilitar a <strong>em</strong>patiae ajudar a <strong>de</strong>senvolver uma relação mais humana entre aequipe, o cliente e a família.A família próxima do seu parente é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia,tanto para os clientes, quanto para a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,auxiliando principalmente no plano <strong>de</strong> cuidados, po<strong>de</strong>ndooferecer informações mais precisas e significativas.Para a equipe, o período <strong>de</strong> visitas é essencial paracoletar junto aos familiares, dados referentes à históriado cliente, favorecendo com isso uma anamnese e umexame físico mais completos, propiciando um cuidadopersonalizado e individualizado, necessário a qualquercliente."O horário é importante, os familiares têm direito <strong>de</strong>saber, <strong>de</strong> visitar o cliente" (entrevista 11)."Consi<strong>de</strong>ro que as visitas da família são muitoimportantes para a recuperação do paciente. Achoque eles pod<strong>em</strong> informar mais sobre a vida do clientee ajudar no tratamento" (entrevista 10)Durante a análise dos dados, ficou evi<strong>de</strong>nte que aequipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> acredita nos benefícios <strong>de</strong> visitas,tanto para os clientes e como para os familiares. Alémdisso, d<strong>em</strong>onstra reconhecer sua importância, vinculadaaos direitos do cliente e do ambiente hospitalar."Eu acho que é um direito do cliente e da família,tanto que eles esperam muito por esse momento ...Muitos dos clientes aqui contam os minutos parareceber<strong>em</strong> a visita" (entrevista 9)Apesar <strong>de</strong> corriqueiro e <strong>de</strong> ser uma prática antiganos hospitais, o horário <strong>de</strong> visitas é um fator imprescindívelà internação <strong>em</strong> CTI, uma vez que o afastamento ea separação pod<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>rados como fator gerador<strong>de</strong> estresse e insegurança, tanto para o cliente comopara a família <strong>de</strong>le. (6)O medo do <strong>de</strong>sconhecido é outra característica peculiardos clientes e familiares que vivenciam o CTI erelaciona-se diretamente à ansieda<strong>de</strong>. Esse aspectopermeia todo o processo <strong>de</strong> internação, as pessoas imaginam-se<strong>em</strong> prenúncio <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> ou até próximas damorte. O <strong>de</strong>sconhecido é ressaltado como fator <strong>de</strong> insegurança,ansieda<strong>de</strong> e preocupação (14) .Assim, a questão da ansieda<strong>de</strong> e da tensão permeia ohorário <strong>de</strong> visitas e afeta diretamente a família. A esperagera medo e insegurança.. (6) Esses aspectos nos levam acrer que o horário <strong>de</strong> visitas também possui aspectosnegativos. A ansieda<strong>de</strong> da espera, a <strong>em</strong>oção do reencontroe ainda o medo e a insegurança são fatores que afetamtanto o cliente quanto o familiar. É um momento que<strong>em</strong>ociona gran<strong>de</strong> parte dos profissionais que trabalhamno CTI, segundo relato dos entrevistados."Em relação à visita, é claro que a gente não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong>se <strong>em</strong>ocionar, nesse horáro, às vezes o horário quenos damos uma sentadinha para <strong>de</strong>ixar eles mais àvonta<strong>de</strong> .... Eu acho que esses minutinhos da visitaspod<strong>em</strong> atrasar um procedimento ou uma medicação,mas a visita é muito mais benéfica."(entrevista 3)"A visita é muito importante, eu acho que <strong>de</strong>veria sermais que cinco minutos ou então mais que uma pessoapara cada horário, pois às vezes as pessoas entram<strong>em</strong> discussão para ver qu<strong>em</strong> vai entrar no CTI, aí entrauma pessoa e o que está lá fora fica pensando coisasruins e não acredita mais nas informações do familiar.Isso angustia, <strong>de</strong>ixa as pessoas tensas"(entrevista 8)A espera para entrar no CTI, s<strong>em</strong> que se obtenhainformação e justificativa para a d<strong>em</strong>ora, gera insegurançae medo no familiar, o que contribui para aumentar aansieda<strong>de</strong>, o estresse e para que os familiares se sintamapreensivos e aterrorizados. (13)Apesar <strong>de</strong> benéfica, as visitas possu<strong>em</strong> hora e duraçãopré-<strong>de</strong>terminadas para acontecer. Fato que se relacionaàs ativida<strong>de</strong>s e rotinas do setor. As visitas são <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> importância para o restabelecimento do cliente,porém esse horário não <strong>de</strong>ve comprometer o serviçodos profissionais <strong>em</strong> relação aos clientes, assim sendofica estabelecido um horário específico para a permanênciados familiares no CTI. (13) Os profissionais reconhec<strong>em</strong>as limitações impostas pelo horário <strong>de</strong> visitas, masacreditam e apostam nos benefícios <strong>de</strong>sse momento,mesmo limitando as ações <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>."O CTI é um local que não se <strong>de</strong>ve ficar por muitot<strong>em</strong>po, no horário <strong>de</strong> visitas não se faz nenhumprocedimento, pois é o horário que o cliente t<strong>em</strong> paraficar com a família" (entrevista 7)."cinco minutos é muito pouco para ficar com umapessoa que você gosta, a angústia <strong>de</strong> estar lá fora,s<strong>em</strong> saber o que se passa com seu ente querido émuito gran<strong>de</strong>. Quando consegue chegar perto <strong>de</strong>le ot<strong>em</strong>po voa, não é suficiente para diminuir ou atenuarsuas aflições". (entrevista 12)Tanto a família quanto os clientes reconhec<strong>em</strong> asnormas e rotinas do CTI referentes às limitações do horário<strong>de</strong> visitas, no entanto eles tentam driblar essas situaçõesutilizando o argumento <strong>de</strong> que ambos têm necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> manter esse vínculo. (6)Nesse contexto vale ressaltar que através da observaçãodireta e da presença do familiar no CTI, é que ocliente consi<strong>de</strong>ra-se seguro e enten<strong>de</strong> que além <strong>de</strong>le, afamília vivencia seu processo <strong>de</strong> doença, internação e tratamento.Assim, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a serviço dob<strong>em</strong> estar do cliente, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar atentos a essa questão,pois a família é consi<strong>de</strong>rada como parte integrantedo contexto do cliente, possuindo direitos <strong>em</strong> relação àhospitalização do seu ente. (6)Portanto, entre outros fatores, valorizar e orientar afamília durante o processo <strong>de</strong> internação do cliente noCTI, tentando humanizar e a<strong>de</strong>quar as visitas, e o número<strong>de</strong> visitantes, são fatores primordiais a ser<strong>em</strong> avaliadospara que a equipe, o cliente e a família vivenci<strong>em</strong> ess<strong>em</strong>omento da melhor maneira possível, revertendo asenergias positivas <strong>de</strong>sse momento para o cuidado integralao cliente.CTI: "...O PURGATÓRIO..."Nesta categoria, contraditoriamente à primeira, osdados <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> os aspectos negativos relacionados aoREME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005 23


Trabalho no Centro <strong>de</strong>...ambiente, ao trabalho <strong>de</strong>sgastante e à morte no CTI. Essadivergência entre as categorias baseia-se principalmentena percepção que cada pessoa t<strong>em</strong> da realida<strong>de</strong> que acerca, fato esse que se fundamenta na cultura que elaadquiriu ao longo <strong>de</strong> sua existência, sua dinâmica peculiar<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, ou seja, <strong>de</strong> sua cultura.A cultura po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como uma "lente"herdada, um bloco <strong>de</strong> princípios, implícitos ou explícitos,que são herdados pelos m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong>particular e repassados <strong>de</strong> uma geração para a seguinte,por meio do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> símbolos, da linguag<strong>em</strong>, do rituale da arte. Esses princípios enfatizam a maneira <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>um povo, o seu modo <strong>de</strong> ver o mundo, <strong>de</strong> vivenciá-lo<strong>em</strong>ocionalmente, <strong>de</strong> comportar-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le, <strong>em</strong> relaçãoa outros, as crenças atribuídas a <strong>de</strong>uses ou forçassobrenaturais e ao meio ambiente natural. (15)Portanto, <strong>em</strong> um mesmo ambiente, encontramos pessoas<strong>de</strong> um mesmo grupo social, com opiniões diferentes.Essa diferença se relaciona entre outros fatores, aoaspecto cultural <strong>de</strong> cada pessoa e, principalmente, ao aspectocultural que envolve o ambiente do CTI.Aspectos negativos <strong>em</strong> relação ao ambiente<strong>de</strong> trabalho do CTIOs dados mostram que o ambiente do CTI abala osfuncionários, tanto fisicamente, pelo excesso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s,quanto psicologicamente, pela sobrecarga<strong>em</strong>ocional, fatores esses que prejudicam para que o relacionamentoentre os m<strong>em</strong>bros da equipe fique prejudicado.A falta <strong>de</strong> adaptação entre pessoas <strong>em</strong> um mesmoambiente resulta <strong>em</strong> estresse no trabalho, confirmandoum conjunto <strong>de</strong> situações que são potencialmente<strong>de</strong>sestabilizadoras. (16) O relato a seguir confirma a afirmação,relacionando o estresse, ao <strong>de</strong>sequilíbrio do ambiente<strong>de</strong> trabalho e ao relacionamento da equipe."Devido ao ambiente estressante n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre orelacionamento entre a equipe é o que se po<strong>de</strong>riachamar <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al" (entrevista 18)."Há dias que a equipe está muito b<strong>em</strong> integrada e asvezes essa mesma equipe não se enten<strong>de</strong> muito b<strong>em</strong>.Isso se <strong>de</strong>ve, talvez, à probl<strong>em</strong>as pessoais <strong>de</strong> cada um,<strong>em</strong>ocionais e também muito estresse."(entrevista 15)O estresse no CTI <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> vários fatores, <strong>de</strong>ntreos quais po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar: sobrecarga <strong>de</strong> trabalho, trabalhocansativo, poucas folgas, carga horária, ambiente fechadoe impotência profissional. (16) No CTI <strong>em</strong> questão,os principais fatores estressantes relatados foram o excesso<strong>de</strong> trabalho e o número reduzido <strong>de</strong> funcionários.Segundo os dados, o serviço executado acaba sendo malrealizado, <strong>de</strong>negrindo a imag<strong>em</strong> da enfermag<strong>em</strong>."O grau <strong>de</strong> sofrimento é enorme, a tensão é enorme,o ambiente é muito estressante. O CTI para mim écomo se fosse o purgatório... como se fosse umaparada" (entrevista 14)."Um ambiente on<strong>de</strong> se precisa melhorar as condições<strong>de</strong> trabalho, e observar mais o lado <strong>de</strong> cada profissionalcomo ser humano" (entrevista 18).Como observamos nos relatos, a principal preocupaçãoda equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> se refere à falta <strong>de</strong> funcionários,pois há uma gran<strong>de</strong> d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> serviços a ser<strong>em</strong>prestados <strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po e isso estressa os profissionais,colaborando assim para a instalação <strong>de</strong> umambiente pouco harmonioso.O número reduzido <strong>de</strong> funcionários foi um dos gran<strong>de</strong>svilões para o CTI ser classificado como um ambienteestressante e <strong>de</strong>sgastante. Devido a gran<strong>de</strong> d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong>serviços e cuidados para com clientes críticos, os funcionáriosse sent<strong>em</strong> cansados e sobrecarregados, tendo querealizar o cuidado ao cliente <strong>de</strong> uma forma mais rápida ecom menos <strong>de</strong>dicação. Tudo isso leva a um sentimentointerior <strong>de</strong> má prestação <strong>de</strong> cuidados, levando aomecanicismo. Assim os relatos nos mostram:"O que melhoraria aqui seria o número <strong>de</strong> funcionáriosque está muito <strong>de</strong>sgastante, eu acho que tudo quevocê procurar falar <strong>de</strong> estresse, <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> trabalho,você vai chegar naquele ponto que é a falta <strong>de</strong>funcionário, a qualida<strong>de</strong> do serviço melhoraria, o t<strong>em</strong>poque você gasta para o cliente também seria melhor(entrevista 9)"."O processo <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> fica mais difícil <strong>de</strong> serimpl<strong>em</strong>entado. Vejo também que necessita <strong>de</strong> aumentodo quadro <strong>de</strong> funcionários para que com isso aassistência possa ser melhorada (entrevista 10)"."O que atrapalha a gente aqui é apenas a falta <strong>de</strong>funcionários (entrevista 15)".Trabalhar <strong>em</strong> um ambiente tranqüilo e alegre é maisprodutivo, as pessoas se ajudam mais, serv<strong>em</strong> melhorumas às outras, por isso um ambiente agradável e acolhedormantém as pessoas nos seus locais <strong>de</strong> trabalho. (5)A harmonia do ambiente <strong>de</strong> trabalho no CTI interferediretamente no humor da equipe no cuidado oferecido,como d<strong>em</strong>onstram os relatos:"Uma equipe b<strong>em</strong> montada, b<strong>em</strong> estruturada é b<strong>em</strong>melhor, você se cansa menos e se estressa menostambém (entrevista 7)"."Quando a equipe não colabora ou quando é insensívelaos probl<strong>em</strong>as que aqui acontec<strong>em</strong>, então o CTI e osclientes <strong>de</strong>smoronam (entrevista 15)".Diante dos agentes estressores apresentados pelosentrevistados, pod<strong>em</strong>os observar que o ambiente do CTIacarreta sobrecarga física e <strong>em</strong>ocional aos profissionaisque atuam nesse setor. Portanto, estratégias para mudaressa situação necessitam ser elaboradas para que se possapensar <strong>em</strong> humanizar o ambiente e a equipe.O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um clima amigável entre osprofissionais, traz paz a todos os que estão inseridos ness<strong>em</strong>eio. O sentido <strong>de</strong> união é imprescindível e se tornauma questão ética, quando o trabalho a ser <strong>de</strong>senvolvidoé o cuidar, sendo este um dos principais pontos à implantaçãoreal do processo <strong>de</strong> humanização.Na análise dos relatos encontramos as seguintes sugestõespara mudanças: melhoria do planejamento dotrabalho, a<strong>de</strong>quação dos recursos humanos e materiais,melhora da comunicação entre subordinados e chefia e,principalmente, humanização no trabalho.24 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005


Aspectos relacionados ao trabalho<strong>de</strong>sgastante no CTI:Nesta subcategoria são apresentados relatos qued<strong>em</strong>onstram a questão do trabalho <strong>de</strong>sgastante, <strong>em</strong>relação ao ambiente do CTI. Assim, os fatores consi<strong>de</strong>radosprejudiciais ao trabalho nesse setor foram aalta complexida<strong>de</strong> dos clientes e o medo <strong>de</strong> não conseguirum <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho favorável nas situações <strong>de</strong><strong>em</strong>ergência.Não exist<strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s intermediárias no hospital, queatendam clientes <strong>de</strong> média complexida<strong>de</strong>, conseqüent<strong>em</strong>enteesse fato acarreta sobrecarga à equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,pois o CTI passa a aten<strong>de</strong>r clientes <strong>de</strong> alta e médiacomplexida<strong>de</strong>. Esse fator interfere como uma das causas<strong>de</strong> maior possibilida<strong>de</strong> para gerar ansieda<strong>de</strong>, tensão eestresse para a enfermag<strong>em</strong>. (4)A enfermag<strong>em</strong> do CTI vivencia situações difíceis vinculadasàs dificulda<strong>de</strong>s do meio hospitalar, ao tipo <strong>de</strong> trabalhoe principalmente ao contato com o cliente grave. (17)No CTI <strong>em</strong> questão a existência <strong>de</strong> clientes <strong>de</strong> médiacomplexida<strong>de</strong> é rara, prevalecendo a d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> clientescom alta complexida<strong>de</strong>, o que faz aumentar sentimentos<strong>de</strong> estresse e ansieda<strong>de</strong> da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>."É <strong>de</strong>sgastante ver a piora do paciente, a gente po<strong>de</strong>falar que ver um paciente sair b<strong>em</strong> daqui é na faixa<strong>de</strong> uns 30 % apenas, e isso é muito <strong>de</strong>sgastante."(entrevista9)" o CTI um setor muito complicado, <strong>de</strong>vido ao número<strong>de</strong> pacientes graves que são encaminhados, na maioriadas vezes s<strong>em</strong> solução." (entrevista 21)Os relatos nos mostram que o estresse no CTI serelaciona diretamente ao cuidado com o cliente grave.Assim, os enfermeiros trabalham envoltos por sentimentos<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, o que aumenta a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cometererros, reduzindo sua eficiência geral; com isso aequipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> enfrenta o estresse negando-o,forçando uma aparência animada. (4)Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que o cuidado ao cliente graveacarreta segurança à equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, esta t<strong>em</strong>preferência por cuidar <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> cliente, o qual exig<strong>em</strong>ais comportamentos técnicos assistenciais do que observaçãodireta. Essa valorização do cliente grave se <strong>de</strong>veà dificulda<strong>de</strong> do profissional <strong>em</strong> estabelecer uma relaçãopsico<strong>em</strong>ocional com o mesmo. (17)"É muito difícil trabalhar <strong>em</strong> um ambiente com pessoasgraves, a gente fica tenso pensando no pior a todomomento." (entrevista 15)"Ainda me sinto muito estressada <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong>nós lidarmos muito com clientes comatosos, quandonós trabalhamos com clientes conscientes, nósestranhamos um pouco o fato <strong>de</strong>les conversar<strong>em</strong> eexigir<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> nós... então, às vezes você estressacom ele nesse sentido, porque com os outros você vailá, faz os procedimentos que você quiser e ele nãoreclama" (entrevista 5).Neste contexto, existe um bloqueio para a aproximaçãopor parte da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Cuidar <strong>de</strong>clientes graves, inconscientes é um aspecto entendidocomo positivo pela equipe, pois não <strong>de</strong>nota vínculo <strong>em</strong>ocional.Esses fatores são entendidos como uma forma <strong>de</strong>"proteção"."Faço <strong>de</strong> conta que não estou sofrendo, passo maissegurança para o cliente quando não me envolvo maiscom ele" (entrevista 2)."Eu procuro não me envolver com o cliente, mas nãoque eu faça as coisas mecanicamente, porque ninguémé <strong>de</strong> pedra, isso é para evitar um sofrimento maior"(entrevista 7).Portanto, entend<strong>em</strong>os que a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>sente "medo" <strong>de</strong> comunicar-se e envolver-se <strong>em</strong>ocionalmentecom os clientes. Ficou claro nos relatos que essasituação po<strong>de</strong> levar ao sofrimento e que essa condiçãoassusta a enfermag<strong>em</strong>, pois é um aspecto incontrolável.Acreditamos ser necessário elaborar planos <strong>de</strong> açãoespecíficos às necessida<strong>de</strong>s reais da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,que possibilit<strong>em</strong> trabalhar melhor esses aspectos.Somente assim a enfermag<strong>em</strong> será capaz <strong>de</strong> lidar comsuas próprias limitações e conseqüent<strong>em</strong>ente oferecerum cuidado personalizado, individualizado, voltado parao aspecto holístico do cliente e <strong>de</strong> seu familiar."Ambiente on<strong>de</strong> tudo acontece <strong>em</strong> um piscar<strong>de</strong> olhos".A morte chega, na maioria das vezes, <strong>em</strong> um "piscar<strong>de</strong> olhos", é um acontecimento que supera qualquer sentimento,covard<strong>em</strong>ente "<strong>de</strong>rruba barreiras", <strong>de</strong>struindoa vida e os sonhos <strong>de</strong> várias pessoas.A morte resgata conteúdos referentes à separação,<strong>de</strong>saparição, <strong>de</strong> si mesmo, impotência e fracasso. O medoda morte está relacionado ao medo da perda do controlee da consciência, ao medo da solidão, do vazio, do<strong>de</strong>sconhecido, da punição, da falha e do fracasso (17) .Assim, o medo do fracasso atinge diretamente a equipequando a morte se faz presente no CTI. O fracasso éentendido como sentimento <strong>de</strong> punição, sendo relatadopela maioria dos integrantes da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Perante esse fato, eles se sent<strong>em</strong> frustrados e <strong>de</strong>primidos."Trabalhar no CTI não é bom n<strong>em</strong> agradável, porquevocê lida com a morte e vida a todo o momento."(entrevista 7 )"O CTI é um ambiente mais estressante pelo próprioestilo do paciente que você lida, nós lidamos mais coma morte do que com a vida.." (entrevista 12 )"Na sua gran<strong>de</strong> maioria, os clientes daqui não sa<strong>em</strong>,eles morr<strong>em</strong>, você faz <strong>de</strong>TRABALHO NO CENTRODE TERAPIA INTENSIVA: perspectivas da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>.Para toda a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, o dil<strong>em</strong>a vida <strong>em</strong>orte provoca sentimentos <strong>de</strong> insatisfação, <strong>de</strong>sgosto eirritação, a impotência aflora diante <strong>de</strong> um cliente próximoda morte. (17) Os relatos mostram que o sofrimentotransforma a equipe e lhe oferece a impotência comorecurso perante a morte. Tudo isso gera sentimentos <strong>de</strong>tristeza, exacerba a sensibilida<strong>de</strong> e interfere diretamenteno aspecto <strong>em</strong>ocional da equipe.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005 25


Trabalho no Centro <strong>de</strong>..."Me sinto impotente perante a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada casoou mesmo incapaz <strong>de</strong>vido à correria e falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po"(entrevista 15).O confronto com a morte resgata na equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>sentimentos <strong>de</strong> angústia e, segundo relatos <strong>de</strong>alguns funcionários, essa situação promove uma barreirana relação interpessoal a ser <strong>de</strong>senvolvida com o familiar.O distanciamento e a limitação <strong>de</strong> relacionamento daequipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação aos clientes e familiaresque vivenciaram a morte, são apenas reflexo do medo<strong>de</strong> lidar com a morte.A estabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong>ocional da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>se reflete diretamente na qualida<strong>de</strong> da assistência oferecidaao cliente e a seus familiares. Nesse sentido,<strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s complexas como o CTI, se faz necessárioum serviço especializado ao atendimento das necessida<strong>de</strong>spsico<strong>em</strong>ocionais da equipe, visando assim trabalhara estabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong>ocional <strong>de</strong>sta, amenizando seusanseios e, conseqüent<strong>em</strong>ente melhorando a qualida<strong>de</strong>da assistência.HUMANIZAÇÃO NO CTI: "...FALAM MASNÃO EXISTE..."Nesta categoria, são evi<strong>de</strong>nciados aspectos que representama questão da humanização para a equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, questão que merece ser avaliada e analisadacom maior <strong>em</strong>penho, para que o ambiente <strong>de</strong> trabalhono CTI se torne digno.Nesse contexto, a questão da humanização se faznecessária para que o ambiente e as pessoas estejam <strong>em</strong>harmonia, o que envolve o b<strong>em</strong> estar físico, psíquico, sociale moral. Assim os profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> têm o<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> humanizar suas ações e o direito <strong>de</strong> se sentir<strong>em</strong>humanizados, pois somente uma equipe integrada, estável<strong>em</strong>ocionalmente, trabalhando <strong>em</strong> harmonia po<strong>de</strong>rácuidar <strong>de</strong> forma humanizada.A saú<strong>de</strong> mental da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, advinda <strong>de</strong>ajuda qualificada <strong>de</strong> um profissional, po<strong>de</strong> trabalhar a equipe,os clientes e os familiares, contribuindo assim paramelhorar o ambiente no setor. O acompanhamento psicológicoé imprescindível <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um CTI, única quepo<strong>de</strong> trazer nítida personalização do atendimento a todosque a ele se submeteram, esclarecendo dúvidas eprincipalmente levantando ansieda<strong>de</strong>s. (5) Os relatos a seguirnos mostram esse aspecto:"Falta diálogo, amadurecimento, humilda<strong>de</strong> ecoleguismo". (entrevista 20)"Eu acho que faltava uma assistência psicológica tantopara os familiares quanto para os clientes e nósfuncionários. Isso ajudaria a tornar o ambiente menostenso". (entrevista 04)Assim, entend<strong>em</strong>os que a humanização <strong>de</strong>sses profissionaisse faz necessária, sendo <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importânciapara o <strong>de</strong>senvolvimento do cuidado. São pessoas quenecessitam <strong>de</strong> apoio <strong>em</strong>ocional.Além da equipe, os relatos também <strong>de</strong>stacam a importância<strong>de</strong> um atendimento diferenciado aos clientes efamiliares, sendo sugerida a presença <strong>de</strong> um psicólogo, oqual serviria como a base <strong>de</strong> sustentação para essas pessoassuportar<strong>em</strong> uma nova experiência."O psicólogo para os clientes eu acho que seria umaboa alternativa, pois cliente consciente, às vezes fica<strong>de</strong>primido, solicitante, querendo atenção, alguém paraconversar e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>po suficiente parasuprirmos as necessida<strong>de</strong>s psicológicas (entrevista 12)".Outra questão evi<strong>de</strong>nciada nos relatos, que se referediretamente à humanização no CTI, se reporta à orientaçãodo cliente e do familiar. Além da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,percebe-se que a comunicação com o cliente ecom sua família, b<strong>em</strong> como esclarecimentos referentesao setor e à internação, são necessida<strong>de</strong>s afetadas que<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser trabalhadas.Alguns aspectos materiais são tidos como relevantespara que o ambiente do CTI se torne menos agressivo.Dentre eles <strong>de</strong>stacam-se a afixação <strong>de</strong> calendário diárioe relógios para melhor orientação dos clientes, a presença<strong>de</strong> objetos pessoais como próteses, televisão e fotos.(13) Nesse estudo entre os aspectos mais evi<strong>de</strong>nciados,que possibilitam promover a melhora do ambienteno CTI, encontramos relatos referentes à visita dos familiares,à presença <strong>de</strong> relógios e calendários e mais informaçõesrelacionadas ao ambiente, à rotina, aos aparelhose ao estado clínico do cliente, entendidos como essenciaispara que se possa vislumbrar um cuidado holísticoe humano ao cliente e mesmo o familiar."O CTI precisa <strong>de</strong> mais humanização, <strong>de</strong> uma maiorpresença dos familiares, como também <strong>de</strong> relógios ecalendários para que os clientes se situ<strong>em</strong> melhor <strong>em</strong>relação ao t<strong>em</strong>po."(entrevista 1)"Acho que se tivesse uma pessoa preparada para darinformações aos clientes antes <strong>de</strong>les vir<strong>em</strong> para o CTI, e também paras os familiares, orientando,conversando, informando... acho que seria b<strong>em</strong>melhor." (entrevista 10)Para o cliente, o CTI é um ambiente estressante es<strong>em</strong> dúvida um local on<strong>de</strong> ocorre a alteração <strong>de</strong> seushábitos, <strong>de</strong> sua rotina <strong>de</strong> vida, on<strong>de</strong> ocorre seu isolamentosocial (6) . Além disso, com a presença do avançotecnológico, ocorre necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se promover umambiente que proporcione ao cliente, família e equip<strong>em</strong>elhores condições <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar, favorecendo assim aintegrida<strong>de</strong> física e mental <strong>de</strong>sse grupo. (13)Portanto, um ambiente mais próximo do familiar proporcionaao cliente a aproximação do que ele consi<strong>de</strong>raser bom e saudável; a esperança <strong>de</strong> voltar a ver a famíliaimpulsiona e dá mais força para sua recuperação. Essesaspectos, certamente são um método terapêutico."O cliente do CTI precisava olhar para o sol, ver anatureza, um jardim, alguma coisa assim, à noitepo<strong>de</strong>ria ver a lua, as estrelas, eu acho que isso ajudaria,quando o cliente entra no CTI ele per<strong>de</strong> o sentido, nãosabe on<strong>de</strong> está, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele veio, e para nós é muitoimportante está passando isso para ele, ta falando odia da s<strong>em</strong>ana, o dia do mês, algum acontecimento láfora (entrevista 13)".26 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005


A simples internação <strong>em</strong> CTI promove o <strong>de</strong>sequilíbrio<strong>em</strong>ocional do cliente e <strong>de</strong> sua família, constituindo-se <strong>em</strong>uma situação <strong>de</strong> estresse para esse grupo. (5) No momentoda internação no CTI, os familiares pod<strong>em</strong> se<strong>de</strong>sestruturar, criar fantasias ameaçadoras <strong>em</strong> torno dasdiferentes situações que envolv<strong>em</strong> o termo CTI. Geralmenteisso leva a uma <strong>de</strong>sorganização <strong>em</strong>ocional dos familiarestornando-os ansiosos e impacientes. (13)O cliente do CTI vivencia momentos difíceis. O estigmado nome <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> já d<strong>em</strong>onstra, na aparênciado cliente, o quanto ele acredita estar mal. O barulho, osoutros clientes graves, a luz fria, o ambiente gelado, tudoreflete na <strong>em</strong>otivida<strong>de</strong> do cliente."Humanização... falam e que não existe... eles sesent<strong>em</strong> muito jogados, muito carentes, por mais quevocê dê atenção... você está estressado, o ambientecarregado e o seu cuidado não é o mesmo <strong>de</strong> umamãe (entrevista 14)".O termo CTI, continua sendo sinônimo <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>e <strong>de</strong> morte, as pessoas ficam sensíveis e acabam gerandoestigmas <strong>em</strong> relação à internação. A presença <strong>de</strong>um doente internado no CTI po<strong>de</strong> causar prejuízos <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> um núcleo familiar; por isso, reforçamos que oprocesso <strong>de</strong> humanização <strong>de</strong>ve abranger clientes, equipe,e também familiares. O relato a seguir nos confirmao exposto:"Um psicólogo po<strong>de</strong>ria atuar preparando os visitanteslá fora, para o que eles vão ver aqui <strong>de</strong>ntro. Quantasvezes o familiar entra no CTI e <strong>de</strong>smaia, passa mal,chora e a gente não sabe o que conversar com ele,t<strong>em</strong> alguns familiares que n<strong>em</strong> chegam perto do clientecom medo <strong>de</strong> tantos aparelhos que exist<strong>em</strong>, se tivesseuma pessoa preparada para estar lá fora conversandocom ele,s n<strong>em</strong> que sejam <strong>de</strong>z minutos, reunia umgrupinho conversava, passava algumas informaçõesdo que eles iriam ver, e com isso eu acho que elesentrariam muito mais preparados e iriam assim passarmuito mais esperança e força para os clientes(entrevista 3)".Neste sentido a família po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve colaborar com aequipe do CTI, ela atua como um recurso através doqual o cliente po<strong>de</strong> recuperar ou mesmo adquirir a confiançano tratamento e aceitar melhor os cuidados. (13)Assim, estratégias <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser elaboradas, focalizando afamília como o suporte para o equilíbrio e melhora docliente. (6)Dev<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar e compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que maneira acultura permeia o processo <strong>de</strong> hospitalização no CTI, comoessa cultura interfere nas reações dos clientes e familiares,como eles vivenciam essa situação <strong>em</strong> que suas crenças evalores culturais são ignorados pela cultura dos profissionaisda saú<strong>de</strong> e, ainda, qual a representação que o CTI t<strong>em</strong><strong>em</strong> suas vidas. Vários são os fatores que contribu<strong>em</strong> para<strong>de</strong>smistificar o ambiente agressivo do CTI. Esclarecer ocliente e os familiares, consi<strong>de</strong>rando seu foco <strong>de</strong> observação,é extr<strong>em</strong>amente importante para amenizar a situação<strong>de</strong> estresse provocada pela internação no CTI. (6)Assim, as informações sobre a internação do clienteno CTI, sobre o ambiente <strong>de</strong>sse setor, b<strong>em</strong> como <strong>em</strong>relação a equipamentos e rotinas, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser fornecidasquantas vezes for preciso aos familiares, ressaltando aimportância da veracida<strong>de</strong> das informações. (10)"E parar <strong>de</strong> chamar as pessoas <strong>de</strong> leigas, vamosexplicar para elas como é realmente que funciona, opessoal t<strong>em</strong> um medo <strong>de</strong> CTI, vamos então explicar,vamos falar mesmo, por que está ali, e com isso atéacalma o pessoal (entrevista 14)".Os CTIs <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter como filosofia a valorização dacomunicação entre cliente, família e equipe. Nesse sentido,a informação aparece como a principal necessidad<strong>em</strong>anifestada pelos clientes e pela família. Ela <strong>de</strong>ve, portanto,s<strong>em</strong>pre ser repassada <strong>de</strong> maneira honesta, objetivae freqüente. (18)A assistência direta ao cliente e à família, através <strong>de</strong>informações, colabora eficazmente para <strong>de</strong>smitificar oambiente agressivo do CTI, colaborando para que estaspessoas adquiram confiança e segurança <strong>em</strong> relação aotratamento. A assistência e o cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong><strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>rados como a mola propulsora parahumanizar o ambiente do CTI. (6)Portanto, humanizar a família e o cliente significa oferecerum cuidado holístico a ambos, consi<strong>de</strong>rando suascrenças, valores, individualida<strong>de</strong> e personalida<strong>de</strong>. Cadacliente é um ser único, porém, envolvido <strong>em</strong> um contextofamiliar, e juntamente com sua família, possui uma história<strong>de</strong> vida, que <strong>de</strong>ve ser respeitada para que se possamanter a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse grupo durante a hospitalização.Elaborar um plano <strong>de</strong> ação específico ao horário <strong>de</strong>visitas e avaliar melhor a assistência oferecida aos familiares,consi<strong>de</strong>rando suas perspectivas e cultura, são iniciativasvaliosas para minimizar o estresse perante ainternação no CTI.CONSIDERAÇÕES FINAIS:O presente estudo teve por finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver oambiente do CTI, consi<strong>de</strong>rando as perspectivas da equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Assim, vários fatores foram consi<strong>de</strong>radospara <strong>de</strong>finir as características positivas e negativasdo setor.É importante ressaltar que o aspecto culturalpermeia todo o processo <strong>de</strong> vivência das pessoas <strong>em</strong>relação ao CTI., o que leva a divergência <strong>de</strong> opiniões e<strong>de</strong> percepções <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo grupo social, fundamentadasna cultura que cada pessoa adquire ao longo<strong>de</strong> sua existência.Entre os aspectos positivos evi<strong>de</strong>nciados neste trabalhopod<strong>em</strong>os citar: a equipe especializada e treinada paraoferecer atendimento; o ambiente equipado; a quantida<strong>de</strong>satisfatória <strong>de</strong> funcionários; o ambiente <strong>de</strong> trabalhoharmônico entre a equipe; os benefícios do horário <strong>de</strong>visitas para minimizar a ansieda<strong>de</strong> do cliente e da família.Esses fatores contribu<strong>em</strong> para que a equipe sinta o CTIcomo "... minha segunda casa...".Já os aspectos negativos se relacionaram a: ambientehostil e estressante do setor; sobrecarga física e <strong>em</strong>ocionalque leva à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento entre osm<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>; a falta <strong>de</strong> recursosmateriais e humanos caracterizando um ambiente <strong>de</strong> di-REME – Rev. 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Trabalho no Centro <strong>de</strong>...ficulda<strong>de</strong>s; e a questão da morte, entendida como fatorque abala <strong>em</strong>ocionalmente a equipe. Todos essesaspectoscontribu<strong>em</strong> para caracterizar o ambiente do CTIcomo <strong>de</strong>sgastante para a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, tendosido consi<strong>de</strong>rado como "... o purgatório...".O processo <strong>de</strong> humanização é outro fator relevanteque aparece nos dados, sendo sua implantação entendidacomo necessária no setor, a fim <strong>de</strong> que o cuidado holísticoao cliente, à família e à equipe, passe a permear o cotidianodo CTI, minimizando as tensões do setor.A humanização é fundamental no CTI, pois somenteassim o cuidado personalizado po<strong>de</strong>rá ser oferecido comqualida<strong>de</strong> ao cliente; porém, para que todo esse processoocorra, é necessário humanizar o ambiente e a equipe,consi<strong>de</strong>rando sua cultura própria. Assim po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>osmudar o paradigma do CTI "purgatório" para " nossa verda<strong>de</strong>irasegunda casa".REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Lima MG Assistência prestada ao enfermeiro <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terapiaintensiva: aspectos afetivos e relacionais [ dissertação]. Ribeirão Preto(SP): <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto/ USP; 1993.2. Peixoto MRB. A priorida<strong>de</strong>, o isolamento e as <strong>em</strong>oções: estudoetnográfico do processo <strong>de</strong> socialização <strong>em</strong> um Centro <strong>de</strong> Terapia Intensiva.[tese]. São Paulo (SP): <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>/USP; 1996.3. Koizumi MS. Percepção dos clientes <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapia intensiva– probl<strong>em</strong>as sentidos expectativas <strong>em</strong> relação à assistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Rev Esc Enfermag<strong>em</strong> USP 1979; 13 (2):135-45.4. Spindola T, Castañon FF, Lopes GT. O estresse na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> TerapiaIntensa. mbito Hosp 1994; (5): 2-41.5. Vila VSC. O Significado cultural do cuidado humanizado <strong>em</strong> Unida<strong>de</strong><strong>de</strong> Terapia Intensiva: muito falado e pouco vivido [dissertação]. RibeirãoPreto (SP): <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto/USP; 2001.6. L<strong>em</strong>os RCA. O significado cultural atribuído ao processo <strong>de</strong> internação<strong>em</strong> centro <strong>de</strong> terapia intensiva por clientes e seus familiares: um eloentre a beira do abismo e a liberda<strong>de</strong> [dissertação]. Ribeirão Preto(SP): <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto/USP; 2001.7. Minayo MCS. Ciência, técnica e arte: o <strong>de</strong>safio da pesquisa social. In:Minayo MC, organizador. Pesquisa social: teoria, método e criativida<strong>de</strong>.5a .ed. Petrópolis: Vozes; 1994. p.9-29.8. Bardin L. Análise <strong>de</strong> conteúdo. 7a ed. Lisboa: Edições 70; 1977.9. Braga ZP. Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia Intensiva. Rev Bras Enf 1998; 1(3): 32-9.10. Kurcgant P. Formação e competência do enfermeiro <strong>de</strong> TerapiaIntensiva. Enfoque 1991; 19 (1): 4-6.11. Lima JG. Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tratamento Intensivo. Enf Atual 1979; 1(5):25-9.12. Correa AK. Sendo enfermeiro no Centro <strong>de</strong> Terapia Intensiva. RevBras Enf 1995; 48 (3): 233-41.13. Santos CR, Toledo NN, Silva SC. Humanização <strong>em</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Terapia Intensiva: paciente – equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> – família. Nursing1999; 26-9.14. Armelin MVAL. Apoio <strong>em</strong>ocional às pessoas hospitalizadas [dissertação].Ribeirão Preto: <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto USP;2000.15. Helman CG. Cultura saú<strong>de</strong> e doença. 2a ed. Porto Alegre: ArtesMédicas; 1994.16. Martins LMM. Agentes estressores no trabalho e sugestões paraameniza-los: opiniões <strong>de</strong> enfermeiros <strong>de</strong> pós-graduação. Rev Esc EnfUSP 2000; 34: 52-817. Men<strong>de</strong>s AM, Linhares NJR. A Prática do enfermeiro com pacientesda UTI: uma abordag<strong>em</strong> psicodinâmica. Rev Bras Enf 1996; 49 (2):267-80.18. Knobel E, Novaes MAFP, Bork AMGT. Humanização dos CTIs. In:Knobel E. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu; 1998.p.1297-303.28 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005


OCORRÊNCIA DE ÚLCERA DE PRESSÃO EMINDIVÍDUOS COM LESÃO TRAUMÁTICA DA MEDULA ESPINHALPRESSURE ULCERS IN INDIVIDUALS WITH SPINAL CORD INJURYOCURRENCIA DE ÚLCERA DE PRESIÓN EN INDIVÍDUOS CONLESIÓN TRAUMÁTICA DE LA MÉDULA ESPINALMarilúcia Carcinoni 1Maria Helena Larcher Caliri 2Michele Santos do Nascimento 3RESUMOEste estudo caracterizou o perfil <strong>de</strong> 54 pacientes atendidos <strong>em</strong> um hospital com Lesão Traumática <strong>de</strong> Medula Espinhal,<strong>em</strong> relação a ocorrência <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão e fatores associados. Trata-se <strong>de</strong> uma população jov<strong>em</strong> e masculina. Otrauma foi mais comum na região da coluna torácica, causado por aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trânsito. A úlcera <strong>de</strong> pressão foi i<strong>de</strong>ntificada<strong>em</strong> 63% dos pacientes, sendo mais freqüente na região sacral e dos calcâneos e nas internações maiores <strong>de</strong> 16 dias.Observa-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantar medidas institucionais para a prevenção da úlcera envolvendo uma equip<strong>em</strong>ultidisciplinar, o paciente e seu cuidador/ familiar.PALAVRAS-CHAVE: Úlcera <strong>de</strong> Decúbito; Medula Espinhal; Cuidados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>.ABSTRACTThis study <strong>de</strong>scribes the profile of 54 patients in a hospital, with spinal cord injury, for pressure ulcers and associatedfactors. It is a young male population. The most common trauma was in the chest spine and was more frequent in thesacral and heel regions and when the length of stay was longer than sixteen days. There is a need for institutionalmeasures to prevent ulcers, which should involve a multidisciplinary team, the patient and his caregiver/family m<strong>em</strong>bers.KEY WORDS: Decubitus Ulcer; Spinal Cords; Nursing Care.RESUMENEste estudio trazó el perfil <strong>de</strong> 54 pacientes con lesión traumática <strong>de</strong> médula espinal atendidos en un hospital en cuantoa la ocurrencia <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> presión y factores asociados. Se trata <strong>de</strong> una población masculina joven. La úlcera <strong>de</strong> presiónfue i<strong>de</strong>ntificada en el 63% <strong>de</strong> los pacientes, con más frecuencia en la región sacra y <strong>de</strong> los calcáneos y en internacionessuperiores a los 16 días. Se observa la necesidad <strong>de</strong> poner en práctica medidas institucionales para prevenir la úlcera,involucrando a un equipo multidisciplinario, al paciente y a su cuidador familiar.Palabras clave: úlcera <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito, médula espinal, cuidados <strong>de</strong> enfermería.1Enfermeira da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Emergência do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto – USP2Professora Associado da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Geral e Especializada.3EnfermeiraEn<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua Lafaiete, 805 apto. 11 - Centro - Ribeirão Preto-SP - CEP 14015-080 Email: mcarcinononi@yahoo.com.brREME – Rev. Min. Enf; 9(1):29-34, jan/mar, 2005 29


Ocorrência <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong>...INTRODUÇÃOA Lesão da Medula Espinhal (LME) é reconhecida comouma das condições mais difíceis para o ser humano, poisproduz alterações fisiológicas, <strong>em</strong>ocionais, sociais eeconômicas na vida dos indivíduos, as quais persist<strong>em</strong>para s<strong>em</strong>pre, afetando não somente a pessoa, mas toda afamília. (1)O trauma é responsável pela maior parte das lesõesmedulares agudas e as causas mais freqüentes são os aci<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> trânsito, ferimentos por arma <strong>de</strong> fogo, quedas,mergulhos <strong>em</strong> água rasa ou outros esportes. (2)A população mais atingida é a dos adultos jovens, comida<strong>de</strong> entre 18 e 35 anos e na proporção <strong>de</strong> 4 homenspara 1 mulher. (3,4)A pessoa com lesão medular apresenta alterações significativas<strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> e sensibilida<strong>de</strong> tendo um riscoelevado para <strong>de</strong>senvolver Úlcera <strong>de</strong> Pressão (UP). Estacomplicação po<strong>de</strong> acarretar d<strong>em</strong>ora no processo <strong>de</strong> reabilitação<strong>de</strong>stes pacientes, requerendo assistênciainterdisciplinar e especializada para a sua prevenção etratamento. (5)Outro fator para a ocorrência da UP, nesta população,é que a LME interfere na biossíntese e no catabolismo docolágeno diminuindo a elasticida<strong>de</strong> da pele, <strong>de</strong>ixando- aincapaz <strong>de</strong> adaptar- se às agressões mecânicas e com maiorfragilida<strong>de</strong> na região corporal abaixo do nível da lesão. (6)A UP <strong>em</strong> pacientes hospitalizados é consi<strong>de</strong>rada comoum indicador da qualida<strong>de</strong> do serviço; medidas são recomendadaspara avaliar a prevalência e incidência do probl<strong>em</strong>a,b<strong>em</strong> como para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> programas<strong>de</strong> redução dos índices encontrados. (7)A incidência e prevalência <strong>de</strong> U.P <strong>em</strong> pacientes comLME varia muito, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do nível da lesão, do comprometimentoneurológico e das condições do tratamento,assim como do método usado para coleta <strong>de</strong> dados. (8)Estudos do centro <strong>de</strong> estatística nacional <strong>de</strong> LME, nos EstadosUnidos, mostram que 34% dos indivíduos admitidos<strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a mo<strong>de</strong>lo, até 24 horas após a LME, <strong>de</strong>senvolveramno mínimo uma UP durante a fase aguda ou nareabilitação. (6) Outro estudo americano i<strong>de</strong>ntificou que aUP era a complicação secundária mais comum <strong>em</strong> todosos anos após a lesão medular, e sua prevalência estavaassociada com o número <strong>de</strong> anos após a lesão. (9) Nos EUAestima-se que 50% a 80% das pessoas com LME apresentaramUP pelo menos uma vez <strong>em</strong> sua vida e a maioria dasúlceras ocorreram nos primeiros dois anos após a lesão. (10)Estudo retrospectivo realizado <strong>em</strong> um hospital dointerior paulista, durante o período <strong>de</strong> três anos, apresentouque nos pacientes atendidos com LME, sete(22,5%) <strong>de</strong>senvolveram úlcera <strong>de</strong> pressão durante a primeirainternação após o aci<strong>de</strong>nte. (11)Pesquisa que analisou os registros feitos pelos enfermeiros,nos históricos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> dos pacientes comLME, atendidos <strong>em</strong> uma instituição paulista para reabilitação,i<strong>de</strong>ntificou que o diagnóstico <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> potencialpara prejuízo na integrida<strong>de</strong> da pele ocorreu <strong>em</strong>100% dos pacientes. Estabeleceu ainda que os fatores <strong>de</strong>risco, os quais <strong>em</strong>basavam a elaboração <strong>de</strong>ste diagnósticoforam: alterações da motricida<strong>de</strong> e sensibilida<strong>de</strong>, incontinênciaurinária, alterações no turgor e elasticida<strong>de</strong>da pele, história prévia <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão e presença<strong>de</strong> flictena <strong>em</strong> pro<strong>em</strong>inência óssea. Diante <strong>de</strong>stes fatores<strong>de</strong> risco, as intervenções <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> para prevençãodo probl<strong>em</strong>a que mais se <strong>de</strong>stacaram foram: orientar/treinar o paciente enfocando a mudança <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito,posicionamento no leito, higienização, alimentação ehidratação. (4,5)No Reino Unido, dos 144 pacientes com LME admitidos<strong>em</strong> unida<strong>de</strong> especializada para tratamento, 32% tinhamUP na admissão, enquanto 38% apresentaram oprobl<strong>em</strong>a durante a hospitalização. (12)As ativida<strong>de</strong>s envolvidas no tratamento das pessoascom LME são complexas e englobam mudanças nas condições<strong>de</strong> vida. Muitas intervenções necessárias para aprevenção da úlcera <strong>de</strong> pressão requer<strong>em</strong> entendimento,cooperação e iniciativa do paciente e <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> iráajudá-lo. Os cuidados <strong>de</strong> prevenção pod<strong>em</strong> estar comprometidoscom a falta <strong>de</strong> suporte social e financeiro. (6)Estratégias <strong>de</strong> prevenção para UP, as quais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> seriniciadas logo após o diagnóstico <strong>de</strong> LME e perdurar paratoda a vida, objetivam a redução da pressão exercidacontra os tecidos pelas pro<strong>em</strong>inências ósseas mantidassobre uma superfície dura como a ca<strong>de</strong>ira ou o leito, pormeio <strong>de</strong> uso apropriado <strong>de</strong> colchão, travesseiros e almofadas;mudança <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito e <strong>de</strong>scompressão isquiáticaquando sentado; higienização a<strong>de</strong>quada da pele mantendo-as<strong>em</strong>pre seca e hidratada; e garantia <strong>de</strong> uma dietarica <strong>em</strong> proteínas e vitaminas.Nos Estados Unidos, estima-se que os gastos anuaispara tratamento da UP <strong>em</strong> pessoas com LME estão aoredor <strong>de</strong> 1,3 bilhão <strong>de</strong> dólares. (13) Naquele país entretanto,a socieda<strong>de</strong> t<strong>em</strong> se <strong>em</strong>penhado para reverter a situaçãoe a população t<strong>em</strong> pressionado o Estado para assumirsua responsabilida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 80, CentrosEspecializados <strong>em</strong> Trauma Raquimedular que fornec<strong>em</strong>assistência da fase aguda à reabilitação vocacional são criadosnas diferentes regiões do país, com apoio <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>se do governo. (9)No Brasil, <strong>em</strong>bora o probl<strong>em</strong>a tenha sido pouco estudado,sabe-se que a prática precisa incorporar as evidênciasdisponíveis para redução dos índices encontrados.Nesse sentido, um projeto <strong>de</strong> pesquisa associado aativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão, com participação <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong>graduação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>, enfermeiros e outros profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, v<strong>em</strong>- se <strong>de</strong>senvolvendo nos últimos cincoanos, <strong>em</strong> um hospital universitário do interior paulista,para impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> protocolos <strong>de</strong> assistência. (14) Nestapublicação apresentamos os resultados iniciais da pesquisareferentes ao período pré- intervenção .OBJETIVOS• Caracterizar o perfil dos pacientes hospitalizadoscom LME <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> trauma <strong>em</strong> alguns aspectosd<strong>em</strong>ográficos e clínicos.• I<strong>de</strong>ntificar a ocorrência <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão e osfatores associados.METODOLOGIAO projeto <strong>de</strong> pesquisa foi aprovado pela comissão <strong>de</strong>regulamentação e normas éticas da instituição. Inicialmen-30 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):29-34, jan/mar, 2005


te foi feito um levantamento junto ao centro <strong>de</strong>processamento <strong>de</strong> dados, para i<strong>de</strong>ntificar a população <strong>de</strong>estudo. Os prontuários localizados foram revisados paraavaliar os que atendiam aos critérios <strong>de</strong> inclusão na pesquisa:ter ida<strong>de</strong> igual ou maior <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito anos e diagnóstico<strong>de</strong> Lesão Traumática <strong>de</strong> Medula Espinhal (LTME); tersido hospitalizado na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Emergência e/ou naUnida<strong>de</strong> Hospitalar da instituição após o trauma, entre1999 e 2000.Foram excluídos da pesquisa os pacientes com diagnóstico<strong>de</strong> LTME que foram atendidos, inicialmente, <strong>em</strong>outros hospitais e encaminhados, posteriormente, à instituiçãopor probl<strong>em</strong>as secundários ou para cirurgias plásticaspara correção da úlcera. A coleta dos dados realizou-se <strong>de</strong> forma retrospectiva, pela revisão dos prontuáriose transcrição das informações <strong>de</strong> interesse para uminstrumento <strong>de</strong>senvolvido pelas pesquisadoras.Para análise <strong>de</strong>scritiva, os dados foram transcritos paraum banco <strong>de</strong> dados computadorizado utilizando os programasFOX PRO e EPI – INFO 6.0. Para investigar aassociação entre a úlcera <strong>de</strong> pressão e outras variáveisfoi realizado o teste exato <strong>de</strong> Fisher. O nível <strong>de</strong>significância adotado foi <strong>de</strong> α ≤ 0,05.Para melhor compreensão dos resultados, a <strong>de</strong>scriçãooperacional <strong>de</strong> alguns termos torna-se necessária. Aclassificação do nível <strong>de</strong> lesão medular tomou-se comoreferência o comprometimento funcional do indivíduo <strong>em</strong><strong>de</strong>corrência da lesão e a documentação encontrada noprontuário feita pelo médico. Consi<strong>de</strong>raram- se os níveis:cervical, torácico, torácico- lombar e lombar. A categoriatorácico- lombar incluiu as lesões torácicas baixasassociadas com lesões lombares (T10-L1). A classificaçãoda UP foi feita nos estágios <strong>de</strong> I a IV, segundo oscritérios estabelecidos internacionalmente (6) : estágio I –erit<strong>em</strong>a não esbranquiçado da pele intacta, prenunciandoulceração da pele; estágio II – perda da pele <strong>de</strong> espessuraparcial, envolvendo epi<strong>de</strong>rme e/ou <strong>de</strong>rme, a úlceraé superficial e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como bolha, abrasão oucratera; estágio III – ferida <strong>de</strong> espessura total, envolvendoepi<strong>de</strong>rme, <strong>de</strong>rme e camada subcutânea, a úlcera seapresenta como cratera, com ou s<strong>em</strong> solapamento; estágioIV – <strong>de</strong>struição extensa envolvendo outros tecidos,como músculos, tendões ou ossos.RESULTADOS E DISCUSSÃODos pacientes atendidos na instituição durante o períododa pesquisa, 57 aten<strong>de</strong>ram os critérios <strong>de</strong> inclusão,no entanto três prontuários não foram localizados. Assim,a amostra estudada foi <strong>de</strong> 54 pacientes.Na tabela 1, apresentamos os dados d<strong>em</strong>ográficos daamostra. Evi<strong>de</strong>nciou-se que o perfil dos pacientes é <strong>de</strong>natureza jov<strong>em</strong>, com a maior freqüência na faixa etáriaentre 18 e 21 anos, sendo que 75% tinham menos <strong>de</strong> 38anos. O trauma foi mais freqüente com os homens (90,7%)e a proporção <strong>de</strong> LME foi <strong>de</strong> aproximadamente 1:10, com5 mulheres para 49 homens. Quanto a raça, a maior parteda amostra era branca (64,8%). A respeito do estadocivil, observamos que o trauma ocorreu com maiorfreqüência nos pacientes solteiros (59,3%), seguidos doscasados (24,1%). Esses resultados são s<strong>em</strong>elhantes a outrosestudos realizados no Brasil (2-5) e nos EstadosUnidos. (15)Em relação a procedência dos pacientes, 31,5% eramresi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Ribeirão Preto e a maior parte veio <strong>de</strong>outras cida<strong>de</strong>s do Estado <strong>de</strong> São Paulo (59,3%).Na tabela 2, d<strong>em</strong>onstramos a distribuição dos pacientessegundo o tipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação,condição <strong>de</strong> saída hospitalar e o nível da lesão medular.Quanto ao tipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte, observamos que a maiorporcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> colisão ou capotamento <strong>de</strong>veículos automotores (35,2%), seguido <strong>de</strong> Ferimentos porArma <strong>de</strong> Fogo (FAF) <strong>em</strong> 26% e quedas (16.7%). Quandoagrupamos as ocorrências envolvendo aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsitocom carros, motocicletas, bicicletas e atropelamentos,observamos que esses correspon<strong>de</strong>ram a 48,2% dosaci<strong>de</strong>ntes. Esses aci<strong>de</strong>ntes, assim como os ferimentos porarma <strong>de</strong> fogo FAF, ocasionaram com maior freqüência alesão medular no nível cervical ou torácico. Já as quedasocasionaram lesões nos diversos níveis da medula espinhal.Aci<strong>de</strong>ntes por mergulho causaram lesões no nívelcervical, resultando assim, <strong>em</strong> tetraplegia.Esses resultados são s<strong>em</strong>elhantes aos encontrados nosEstados Unidos, on<strong>de</strong> os FAF ocupam o segundo lugarentre as principais causas da lesão traumática da medula,observando-se um aumento nos últimos anos <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrênciada violência urbana. (15)Dos 54 pacientes estudados, 25 apresentaram lesãomedular no nível torácico, 22 no nível cervical, 4 lombare 3 torácico- lombar.O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação dos pacientes variou <strong>de</strong> 1 a153 dias. A média foi <strong>de</strong> 30,67 dias (<strong>de</strong>svio padrão 37,87).Pacientes com lesão no nível cervical e torácico tiverammaior t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação, po<strong>de</strong>ndo-se inferir que apresentaramuma maior gravida<strong>de</strong>, já que a lesão <strong>em</strong> nívelmais alto po<strong>de</strong> ocasionar probl<strong>em</strong>as respiratórios e maischance <strong>de</strong> complicações.Dos 54 pacientes estudados, 36 (66,7%) receberamalta hospitalar, 9 (16,6%) evoluíram para óbito e 9 (16,6%)foram transferidos para outros hospitais para continuaro tratamento. Observamos que os pacientes com trauma<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> colisão ou capotamento apresentarammaior freqüência <strong>de</strong> óbito do que aqueles acometidos <strong>de</strong>traumas por outras causas, <strong>em</strong>bora o teste exato <strong>de</strong> Fisherpara investigar esta associação não tenha encontrado resultadosestatisticamente significantes (p>0.05).Tambémobservamos que os pacientes com trauma no nível damedula cervical mostraram maior freqüência <strong>de</strong> óbito doque aqueles com lesões <strong>em</strong> outros níveis. Para testarmosa hipótese <strong>de</strong> associação entre as variáveis nível <strong>de</strong> lesãomedular e tipo <strong>de</strong> saída do hospital, consi<strong>de</strong>ramos a amostradividida <strong>em</strong> dois grupos: pacientes com trauma nonível cervical (22) e pacientes com trauma <strong>em</strong> outros níveisda medula. (32) Os resultados do teste exato <strong>de</strong> Fisher indicaramque a associação entre o trauma cervical e a saídapor óbito foi estatisticamente significante (p=0,002).A i<strong>de</strong>ntificação do grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>corrente docomprometimento medular é importante, pois implica aavaliação da capacida<strong>de</strong> do paciente para o autocuidadoe realização das tarefas da vida diária. Consi<strong>de</strong>rando aclassificação da American Spinal Injury AssociationREME – Rev. Min. Enf; 9(1):29-34, jan/mar, 2005 31


Ocorrência <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong>...International (ASIA) (16) , 38 pacientes (70,4%) tiveram alesão classificada como nível A, significando uma lesão<strong>completa</strong>, já que não há função motora ou sensitiva preservadanos segmentos sacros; 8 (14,8%) como nível B,expressando uma lesão in<strong>completa</strong> com presença <strong>de</strong> funçãosensitiva, porém não motora abaixo do nível neurológicoacometido. Entretanto, 8 pacientes (14,8%) nãotinham o nível <strong>de</strong> lesão medular documentado no prontuário.S<strong>em</strong>elhantes porcentagens para lesões <strong>completa</strong>s(ASIA A) e in<strong>completa</strong>s (ASIA B-E) foram encontradas<strong>em</strong> pacientes atendidos <strong>em</strong> Centros Americanos. (15)A úlcera <strong>de</strong> pressão foi i<strong>de</strong>ntificada nos prontuários<strong>de</strong> 34 pacientes (63%). Observou-se o registro <strong>de</strong> 77 úlceras,com a média <strong>de</strong> 2 úlceras /paciente (<strong>de</strong>svio padrão1,31 e mediana 2,0). Em relação a localização, 28 úlceraseram na região sacral, 17 nos calcâneos e 22 <strong>em</strong> diferentesregiões. Nos pacientes que apresentaram duas ou maisúlceras, as regiões mais freqüentes foram a sacral ecalcâneos. Consi<strong>de</strong>rando a úlcera <strong>de</strong> maior profundida<strong>de</strong><strong>em</strong> cada paciente, 16 (36,4%) apresentaram UP no estágioII, 14 (31,8%) no estágio III e 4 (9,1%) no estágio IV.Entretanto, como este foi um estudo retrospectivo que<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da documentação no prontuário, os resultadosencontrados pod<strong>em</strong> estar sub estimados, uma vez queúlcera <strong>de</strong> pressão no estágio I é <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação maisdifícil se o profissional não tiver um treinamentoespecializado.Na tabela 3, d<strong>em</strong>onstramos a distribuição dos pacientesrelacionando a presença <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão e onível <strong>de</strong> lesão medular, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação e condição<strong>de</strong> saída do hospital.Observa-se uma maior freqüência <strong>de</strong> UP nos pacientescom lesão no nível cervical, seguidos daqueles comlesão no nível torácico. A investigação <strong>de</strong>sta associaçãoutilizando o teste exato <strong>de</strong> Fisher não encontrou diferençasestatisticamente significantes (p>0,05). A comparaçãoda lesão cervical com lesão <strong>em</strong> outros níveis e apresença ou não da úlcera <strong>de</strong> pressão também não i<strong>de</strong>ntificoudiferenças estatisticamente significantes (p>0,05).A maioria das úlceras ocorreram nos pacientes quepermaneceram hospitalizados mais <strong>de</strong> 15 dias. O testeexato <strong>de</strong> Fisher foi utilizado para investigar esta associação.Para isto, separamos os pacientes <strong>em</strong> dois grupos:com permanência até 15 dias e com permanência maior<strong>de</strong> 16 dias e com presença ou não <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão.O resultado do teste encontrou uma diferença estatisticamentesignificante, indicando a presença <strong>de</strong> associaçãoentre a úlcera <strong>de</strong> pressão e internação maior <strong>de</strong> 16 dias(p=0,000).As condições <strong>de</strong> saída dos pacientes foram investigadas<strong>em</strong> relação a presença ou não <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão. Constatamosque dos 45 pacientes que saíram por alta ou transferência,27 tinham úlcera <strong>de</strong> pressão e que dos 9 queforam a óbito, 7 tinham o probl<strong>em</strong>a. O resultado do teste<strong>de</strong> Fisher não encontrou presença <strong>de</strong> associação(p>0,05) entre úlcera <strong>de</strong> pressão e óbito. Os achadosentretanto têm importante significado clínico, pois o pacientecom UP após a alta po<strong>de</strong> ter um agravamento doprobl<strong>em</strong>a e apresentar outras complicações como septic<strong>em</strong>ia.Também os familiares, que irão prestar o cuidadodomiciliar, precisam obter dos profissionais, durante ainternação, informações não somente sobre as medidaspreventivas, mas também sobre o tratamento da úlcera ecomo e on<strong>de</strong> obter os recursos necessários para o cuidado.(6)Outros estudos também i<strong>de</strong>ntificaram resultados s<strong>em</strong>elhantes,com uma maior incidência <strong>de</strong> UP <strong>em</strong> pacientescom lesões <strong>completa</strong>s, mais altas e aumento do t<strong>em</strong>po<strong>de</strong> hospitalização. (8,12)Os efeitos apontam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoe impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> protocolos, visando tanto aprevenção quanto o tratamento do probl<strong>em</strong>a, para queos pacientes sejam assistidos <strong>de</strong> forma apropriada nohospital e no domicílio. A meta <strong>de</strong> obter a redução dosíndices <strong>de</strong> incidência e prevalência da UP <strong>de</strong>ve serprobl<strong>em</strong>atizada com todos os profissionais da equipe <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, assim como administradores e não somente coma enfermag<strong>em</strong>, dado o caráter multidimensional do probl<strong>em</strong>a.O planejamento das estratégias <strong>de</strong> prevenção etratamento precisa consi<strong>de</strong>rar além da realida<strong>de</strong>institucional, também a condição <strong>de</strong> vida do pacientes edos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a assistência é prestada apósa alta, já que o probl<strong>em</strong>a não é solucionado durante ainternação. (6,7)CONSIDERAÇÕES FINAISOs resultados encontrados permitiram i<strong>de</strong>ntificar operfil epid<strong>em</strong>iológico dos pacientes com LTME, atendidos<strong>em</strong> instituição <strong>de</strong> nível terciário, <strong>de</strong> ensino universitáriodo Estado <strong>de</strong> São Paulo, <strong>em</strong> relação as característicasd<strong>em</strong>ográficas dos mesmos, condições do traumamedular e a ocorrência <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão. Constatamosque os pacientes são predominant<strong>em</strong>ente homens,adultos jovens, solteiros e <strong>de</strong> cor branca. A causa maisfreqüente do trauma foi colisão e capotamento <strong>de</strong> veículos(35,2%), seguido <strong>de</strong> FAF (26%). As ocorrências envolvendoaci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito com diferentes veículos eatropelamentos correspon<strong>de</strong>ram a 48,2% das causas. Otrauma foi mais freqüente no nível torácico (46,3%) doque o cervical (40,7%). O óbito ocorreu mais nos pacientescom lesões no nível cervical (p=0,002). O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>internação foi maior para pacientes com trauma cervicale torácico. Trinta e quatro pacientes (63%) apresentaramUP já na admissão ou durante a hospitalização, compredomínio <strong>de</strong> úlceras superficiais no estágio II. A presença<strong>de</strong> úlcera não estava associada ao nível <strong>de</strong> lesãomedular, mas apresentou associação com o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>internação maior que 16 dias (p=0,000).Há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> medidas institucionais,para que o probl<strong>em</strong>a da úlcera <strong>de</strong> pressão no pacientecom LME seja focalizado <strong>de</strong> forma sist<strong>em</strong>ática, visandotanto a prevenção, quanto o tratamento, com a participaçãoda equipe multidisciplinar para abordag<strong>em</strong> do assunto.Os protocolos <strong>de</strong> prevenção e tratamento das úlceras<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser fundamentados nas recomendações dasdiretrizes baseadas <strong>em</strong> evidências, incluindo assim a participaçãodo paciente e cuidador/familiar.32 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):29-34, jan/mar, 2005


AGRADECIMENTOS• Agra<strong>de</strong>cimentos a Profa Dra Cláudia B. dos Santosdo Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Materno-Infantil e Saú<strong>de</strong>Pública da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto –Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, pela assessoria estatística.• Pesquisa <strong>de</strong>senvolvida com apoio do CNPq – ProjetoIntegrado.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1- Metcalf JA. Acute phase manag<strong>em</strong>ent of persons with spinal cordinjury: a nursing diagnosis perspective. Nurs Clin N Am 1986; 21(4):589-98.2- Greve JMD, Ares MJ. Reabilitação da Lesão da Medula Espinal. In:Greve JMD, Amatuzzi MM. Medicina da reabilitação aplicada a ortopediae traumatologia. São Paulo (SP): Roca; 1999. p.323-60.3- Sposito MM. Paraplegia por lesão medular: estudo epid<strong>em</strong>iológico<strong>em</strong> pacientes atendidos para reabilitação. Rev Paul. Med 1986;104(4):196-202.4- Faro ACM. Do diagnóstico à conduta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> : a trajetóriado cuidar na reabilitação do lesado medular [tese]. São Paulo (SP): <strong>Escola</strong><strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo;1995; 208.5- Faro ACM. Fatores <strong>de</strong> risco para úlcera <strong>de</strong> pressão: subsídios para aprevenção. Rev Esc Enf USP 1999 Set; 33(3): 279-83.6- Consortium for Spinal Cord Medicine. Pressure ulcer preventionand treatment following spinal cord injury: a clinical pratice gui<strong>de</strong>linefor health-care professionals. Washington, DC: Paralyzed Veterans ofAmerica; 2000.7- Caliri MHL. A utilização da pesquisa na prática. Limites e possibilida<strong>de</strong>s[tese]. Ribeirão Preto (SP): <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Pretoda Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; 2002.8- Cuddigan J, Ayello EA, Sussman C, editors. Pressure ulcer in America:prevalence, inci<strong>de</strong>nce and implications for the future. Reston (VA):NPUAP; 2001.9- McKinley WO, Jackson AB, Car<strong>de</strong>nas DD, DeVivo MJ. Long termmedical complications after traumatic spinal cord injury: a regional mo<strong>de</strong>lsyst<strong>em</strong>s analysis. Arch Phys Med Rehabil 1999; 80: 1402-10.10- Rodrigues GP, Garber SL. Prospective study of pressure ulcer riskin spinal cord injury patients. Paraplegia 1994; 32:150-8.11- Rangel ELM, Caliri MHL. Prevalência <strong>de</strong> úlcera <strong>de</strong> pressão e medidasusadas para prevenção e tratamento <strong>em</strong> pacientes com lesão traumática<strong>de</strong> medula espinhal atendidos no Hospital das Clínicas <strong>de</strong> RibeirãoPreto entre 1993 e 1995. Estudo retrospectivo. In: 49º CongressoBrasileiro <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Belo Horizonte – MG 1997.12- Ash D. An exploration of the occurrence of pressure ulcers in aBritish spinal injuries unit. J Clin Nurs 2002 Jul; 11 (4): 470-8.13- Salzberg CA, Byrne DW, Cayten G. Predicting and preventingpressure ulcers in adults with paralysis. Adv Wound Care 1998; 11(5):237-46.14- Josué VF, Mateus ECL, Caliri MHL, Nascimento NAG, Marino NML.Atendimento multiprofissional ao lesado medular e família no HCFMRP-USP. In: VIII Ciclo <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> Mental. 2000, Ribeirão Preto (SP).15- Nobunaga AI, Go BK, Karunas RB. Recent d<strong>em</strong>ographic and injurytrends in people served by the mo<strong>de</strong>l spinal cord injury syst<strong>em</strong>s. ArchPhys Med Rehabil 1999 Nov; 80:1372-82.16- American Spinal Injury Association. Internacional Medical Societyof Paraplegia. Padrões internacionais para classificação neurológica efuncional <strong>de</strong> lesões na medula espinhal: revisado 1996. Chicago: ASIA/IMSOP; 1999.Tabela I: Dados d<strong>em</strong>ográficos dos pacientesinternados com lesão da medula espinhal.Variáveis f %Ida<strong>de</strong> (anos)18Ω– 22 14 25,922Ω– 26 7 13,026Ω– 30 5 9,330Ω– 34 10 18,534Ω– 38 5 9,338Ω– 42 4 7,442Ω– 46 3 5,646Ω– 50 4 7,450Ω– 70 1 1,9≥ 70 1 1,9Total 54 100SexoMasculino 49 90,74F<strong>em</strong>inino 5 9,26Total 54 100Raçabranca 34.99 64,8%parda 5.02 9,3%outras 13.99 25,9%Total 54 100Estado CivilSolteiro 32 59,2Casado 13 24,2Viuvo 1 1,9Divorciado 5 9,2NI* 3 5,5Total 54 100ProcedênciaRibeirão Preto 17 31,5Outra cida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> SP 32 59,2Outro Estado 4 7,4NI* 1 1,9Total 54 100NI* Não Informado no prontuário.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):29-34, jan/mar, 2005 33


Ocorrência <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong>...Tabela II: Distribuição dos pacientes segundo o nível <strong>de</strong> lesão medular, tipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>internação e condição <strong>de</strong> saída hospitalar:Variável Nível <strong>de</strong> Lesão Medular TotalCervical TorácicaTorácica- lombar Lombar f %Tipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nteColisão/ Capotamento 7 10 0 2 19 35,2FAF 5 9 0 0 14 25,9Queda 2 4 1 2 9 16,7Mergulho 4 0 0 0 4 7,4Moto 1 1 2 0 4 7,4Bicicleta 2 0 0 0 2 3,7Atropelamento 0 1 0 0 1 1,8Não Informado 1 0 0 0 1 1,8Total 22 25 3 4 54 100T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação01Ω– 04 2 1 0 1 4 7,404Ω– 08 4 4 0 0 8 14,808Ω– 12 2 3 0 0 5 9,2612Ω– 16 3 1 0 1 6 11,1116Ω– 20 4 4 1 1 9 16,720Ω– 24 1 3 0 0 4 7,424Ω– 35 1 4 0 1 6 11,11≥ 35 5 5 2 0 12 22,22Total 22 25 3 4 54 100Condição <strong>de</strong> saídaAlta 10 20 3 3 36 66,7Transferência 4 4 0 1 9 16,6Óbito 8 1 0 0 9 16,6Total 22 25 3 4 54 100NI* não informado no prontuário.FAF – Ferimento por arma <strong>de</strong> fogoTABELA III: DISTRIBUIÇÃO DOS PACIENTES SEGUNDO A PRESENÇA DE ÚLCERA DE PRES-SÃO E O NÍVEL DE LESÃO MEDULAR, TEMPO DE INTERNAÇÃO E CONDIÇÃO DE SAÍDAHOSPITALARVariáveisPresença <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong> PressãoSimNãoNível da lesão medular f % F %Cervical 15 27.8 7 13,0Torácica 14 25.9 11 20,4Torácica/ Lombar 3 5.5 0 0,0Lombar 2 3.7 2 3,7Total 34 63 20 37T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internação01Ω– 04 0 0 4 7,404Ω– 08 2 3.7 6 11,108Ω– 12 2 3.7 3 5,612Ω– 16 3 5.5 3 5,616Ω– 20 7 13 2 3,720Ω– 24 4 7.4 0 0,024Ω– 35 5 9.3 1 1,8≥ 35 11 20.4 1 1,8Total 34 63 20 37Condição <strong>de</strong> saídaAlta hospitalar 22 40.7 14 25,9Transferência 5 9.3 4 7,4Óbito 7 13 2 3,7Total 34 63 20 3734 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):29-34, jan/mar, 2005


CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES PREDISPONENTES PARA AHIPERTENSÃO ARTERIAL PRESENTES NAPOPULAÇÃO DE DIAMANTINA, MINAS GERAIS.DESCRIPTION OF PREDISPOSING FACTORS TO HIGH BLOOD PRESSURE IN THEPOPULATION OF DIAMANTINA – STATE OF MINAS GERAISCARACTERIZACIÓN DE FACTORES QUE PROPENSAN LA HIPERTENSIÓN ARTERIAL EN LAPOBLACIÓN DE DIAMANTINA, MINAS GERAIS.Márcia Maria Oliveira Lima 1Raquel Rodrigues Britto 2Cássio Roberto Rocha dos Santos 3RESUMOEstudo transversal realizado nos anos <strong>de</strong> 1995 e 2000. Objetivou-se caracterizar uma população específica <strong>de</strong> Diamantina,<strong>em</strong> relação a alguns fatores predisponentes para Hipertensão Arterial. As variáveis avaliadas foram: pressão arterial,sexo, ida<strong>de</strong>, raça, tabagismo e etilismo. A freqüência <strong>de</strong> Pressão Arterial Elevada (PAE) foi <strong>em</strong> 1995 <strong>de</strong> 44,77%, e <strong>em</strong> 2000<strong>de</strong> 33,66%, sendo maior entre os homens; na raça negra e crescente com a ida<strong>de</strong>. Em relação ao tabagismo e/ou etilismo,<strong>em</strong> 1995 os maiores níveis pressóricos foram <strong>de</strong>tectados neste grupo, e <strong>em</strong> 2000 a PAE foi mais presente nos indivíduosnão tabagistas e/ou etilistasPalavras-chave: Hipertensão; Pressão Arterial; Fatores <strong>de</strong> RiscoABSTRACTA transverse study carried out in the years of 1995 and 2000. The aim was to <strong>de</strong>scribe a specific population in Diamantina,according to some predisposing high blood pressure factors. The variables studied were: high blood pressure, gen<strong>de</strong>r,age, race, smoking and drinking habits. The frequency of high blood pressure in 1995 was of 44,77% and 33,66% in 2000,being higher among men, in black people and increasing as they grow ol<strong>de</strong>r. High blood pressure was found to be highestin the smoking and/or drinking habits group in 1995. However, in 2000, the highest blood pressure was found among thenon-smoking and non-drinking group.Key Words: Hypertension; Blood Pressure; Risk Factors.RESUMENSe trata <strong>de</strong> un estudio transversal efectuado entre 1995 y 2000con miras a caracterizar una población específica <strong>de</strong>Diamantina con relación a algunos factores que predisponen para la hipertensión arterial. Se evaluaron las variableshipertensión arterial, sexo, edad, raza, adicción al tabaco y al alcohol. La frecuencia <strong>de</strong> presión arterial elevada (PAE) en1995 fue <strong>de</strong> un 44,77% y en 2000 <strong>de</strong>l 33,66%, mayor entre los hombres, en la raza negra y aumenta con la edad. En cuantoa la adicción al tabaco y/o alcohol, en 1995 los niveles más altos <strong>de</strong> presión arterial se <strong>de</strong>tectaron en dicho grupo y en2000 la PAE se manifestó más en individuos no fumadores y no alcohólicos.Palabras clave: hipertensión, presión arterial, factores <strong>de</strong> riesgo.1Fisioterapeuta, Mestranda <strong>em</strong> Ciências da Reabilitação/<strong>UFMG</strong>, Professora do Departamento <strong>de</strong> Fisioterapia das Faculda<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais Integradas <strong>de</strong> Diamantina(FAFEID);2Enfermeira, Fisioterapeuta, Doutora <strong>em</strong> Fisiologia, Professora Adjunta do Departamento <strong>de</strong> Fisioterapia da <strong>UFMG</strong>;3Cirurgião Dentista, Doutor <strong>em</strong> Patologia Bucal, Professor Titular do Departamento <strong>de</strong> Odontologia das FAFEID.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua Juca Neves 209 ap 2, B.Penaco – 39.100.000 – Diamantina – Minas Gerais. Fone: 38.35313677.Email: marcinhafisio@ yahoo.com.brREME – Rev. Min. Enf; 9(1):35-40, jan/mar, 2005 35


Caracterização dos fatores...INTRODUÇÃOA Hipertensão Arterial (HA) é <strong>de</strong>finida pela elevaçãosustentada dos níveis tensionais da pressão arterial (1,2) ,acima dos limites consi<strong>de</strong>rados normais, ou seja, pressãoarterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterialdiastólica ≥ 90 mmHg. (3) É uma doença multifatorial, consi<strong>de</strong>radacomo resultado da interação <strong>de</strong> fatores genéticoe ambiental. (4)A prevalência da Hipertensão Arterial está associadaa diferentes fatores <strong>de</strong> risco, tais como: sexo, ida<strong>de</strong>, dieta,etilismo, tabagismo, peso corporal, raça, entre outros(5,6,) sendo que quando duas ou mais <strong>de</strong>ssas variáveisestão presentes, torna-se maior o risco final para o <strong>de</strong>senvolvimentoda Hipertensão Arterial. (7)Reconhecida como a entida<strong>de</strong> clínica <strong>de</strong> maiorrepresentativida<strong>de</strong> no mundo <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> prevalência,a Hipertensão Arterial atinge índices <strong>de</strong> 10 a 20 % nosindivíduos adultos (8,9) , po<strong>de</strong>ndo elevar-se <strong>em</strong> 50 % nosindivíduos após 55 anos. (10) Ainda que pes<strong>em</strong> os diversostrabalhos versando sobre o assunto, a magnitu<strong>de</strong> da HAno Brasil é estimada mediante taxas estabelecidas <strong>em</strong> trabalhosinternacionais. (11) Os dados disponíveis que apontamtaxas variando <strong>de</strong> 14% a 47,9% são originários <strong>de</strong>estudos restritos a <strong>de</strong>terminadas cida<strong>de</strong>s ou populaçõesespecíficas não havendo ainda uma média nacional <strong>de</strong>finida.(12)Segundo Lolio (6) , além <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada por si só,um dano para o organismo, a Hipertensão Arterial é umimportante fator <strong>de</strong> risco, comprometendo órgãos nobres,conhecidos por "órgãos alvo", como o coração,encéfalo, rins, retina e vasos.A mortalida<strong>de</strong> por Insuficiência Cardíaca e por DoençaCerebrovascular é <strong>de</strong>terminada com forte intensida<strong>de</strong>,por HÁ. (13) No Brasil, a partir <strong>de</strong> 1960, as doençascardiovasculares representam a principal causa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>no país, sendo a HA um dos principais fatores <strong>de</strong>risco para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas doenças. (14) Em concordânciacom esses relatos, <strong>em</strong> Diamantina, no ano <strong>de</strong>1997, as doenças do aparelho circulatório foram responsáveispor 35,2 % dos óbitos, ocupando <strong>em</strong> 1999 o segundolugar, precedido apenas pelos óbitos porcausas <strong>de</strong>sconhecidas. Neste mesmo ano, a HA foidiretamente responsável por 4,94% dos óbitos nomunicípio. (15)Portanto, sendo a HA <strong>de</strong> alta prevalência; associada adiversos fatores <strong>de</strong> risco; e <strong>em</strong> face do papel central queela <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha na patogênese, tanto da Doença ArterialCoronária, como do Aci<strong>de</strong>nte Vascular Cerebral, ambasconsi<strong>de</strong>radas como principais causas <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong>da população adulta dos países <strong>de</strong>senvolvidos, faz-se necessáriosua <strong>de</strong>tecção, para que medidas <strong>de</strong> prevenção econtrole possam ser implantadas.Este estudo t<strong>em</strong> como objetivo <strong>de</strong>tectar, na populaçãoparticipante das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão promovidaspelas Faculda<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais Integradas <strong>de</strong> Diamantina(FAFEID), durante as "S<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> Prevenção", alguns fatorespredisponentes à HA, visando a implantação d<strong>em</strong>edidas <strong>de</strong> prevenção e/ou controle mais direcionadas aesta doença <strong>em</strong> futuras ativida<strong>de</strong>s.METODOLOGIANeste estudo <strong>de</strong>scritivo do tipo transversal, os dadosforam coletados durante as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensãointituladas "S<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> Prevenção", promovidas anualmentepelas Faculda<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais Integradas <strong>de</strong> Diamantina(FAFEID). Eleg<strong>em</strong>os o ano <strong>de</strong> 1995 por ter sido o primeirono qual as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aferição <strong>de</strong> Pressão Arterial(PA) foram realizadas, e o ano <strong>de</strong> 2000 pelo fato <strong>de</strong> nesseano as mesmas ter<strong>em</strong> sido suspensas. No período entre1996 a 1999, apesar das ativida<strong>de</strong>s persistir<strong>em</strong>, nenhumamedida <strong>de</strong> intervenção foi aplicada. A coleta dos dadosfoi realizada pelos acadêmicos dos cursos <strong>de</strong> Odontologiae Enfermag<strong>em</strong>, submetidos a treinamento anterior esob supervisão <strong>de</strong> docentes <strong>de</strong>sta Instituição. Os trabalhosforam realizados <strong>em</strong> diversos bairros da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Diamantina.A seleção da amostra foi por conveniência, após divulgaçãodo evento por meio <strong>de</strong> propaganda local, queespecificava as diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento,como medida <strong>de</strong> PA, <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> grupo sangüíneo,atendimento odontológico etc.Como critério <strong>de</strong> inclusão foram avaliados os indivíduos<strong>de</strong> ambos os sexos, com ida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> 15 anos.Uma ficha clínica foi elaborada e preenchida pelos examinadores,para avaliação das variáveis a ser<strong>em</strong> estudadas,como registro da pressão arterial, sexo, ida<strong>de</strong>, raça epresença <strong>de</strong> tabagismo e etilismo. Na variável raça, utilizaram-setrês classificações, branca, morena e negra, <strong>de</strong>vidoà gran<strong>de</strong> miscigenação populacional. Foram classificadoscomo tabagistas àqueles que fumavam qualquerquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cigarros na época, e os que não relataramt<strong>em</strong>po <strong>de</strong> abandono do mesmo; este critério também foiutilizado para os etilistas.As aferições foram realizadas utilizandoesfigmomanômetros do tipo anerói<strong>de</strong> e estetoscópiosbiauriculares * , previamente calibrados. Segundo critério<strong>de</strong> Na<strong>de</strong>r e Halake (16) , foram realizadas três medições daPA, com intervalos entre elas, consi<strong>de</strong>rando a cifra mínimaobtida da Pressão Arterial Sistólica (PAS) nesta leituraseriada, como a real PAS. A 1ª fase <strong>de</strong> Korotkoff (aparecimentodos ruídos) foi usada como referência para a<strong>de</strong>terminação da PAS. A 4ª fase <strong>de</strong> Korotkoff, caracterizadapelo <strong>de</strong>saparecimento dos ruídos fortes e vibrantes,foi usada para <strong>de</strong>terminar a Pressão Arterial Diastólica(PAD). Esta técnica foi utilizada <strong>em</strong> 1995 e para padronização,da mesma foi mantida <strong>em</strong> 2000. Na interpretaçãodos dados, a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> Pressão Arterial Elevada(PAE) seguiu os critérios do VII Joint NationalCommittee (3) e World Health Organization – InternationalSociety of Hypertention (2), ou seja, PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg. Aqueles com PAE foram subdivididos<strong>em</strong> três tipos: PAE Sistólica (PAS ≥ 140 mmHg ePAD < 90 mmHg); PAE Diastólica (PAS


Gráfico 1 - Frequência <strong>de</strong> Pressão Arterial Elevada (PAE) na amostra estudada nosanos <strong>de</strong>19995 e 2000, <strong>em</strong> DiamantinaRESULTADOSEm 1995, o total <strong>de</strong> atendimentos foi <strong>de</strong> 516 pessoas,sendo 189 mulheres (36,63 %) e 327 homens (63,37 %).No ano <strong>de</strong> 2000, foram atendidas 205 pessoas, 99mulheres (48,29 %) e 106 homens (51,71 %).No ano <strong>de</strong> 1995 constatou-se que 44,77 % (231 pessoas)da amostra pesquisada apresentava PAE, enquanto <strong>em</strong>2000 este número foi <strong>de</strong> 33,66 % (69 pessoas). (gráfico 1)Verificou-se no grupo com PAE, que o tipo maisfreqüente foi <strong>de</strong> Pressão Arterial Elevada Mista (gráfico 2).Em relação ao sexo, da população masculina avaliada <strong>em</strong>1995, constatou-se que 50,76% apresentavam PAE contra34,39% da população f<strong>em</strong>inina, enquanto <strong>em</strong> 2000 esses valoresforam <strong>de</strong> 34,91% e 32,32%, respectivamente. Entre aquelescom PAE, <strong>em</strong> 1995 os homens representavam 71,86%<strong>de</strong>ssa amostra, enquanto <strong>em</strong> 2000 representavame 53,62%.Gráfico 2 - Frequência <strong>de</strong> Pressão Arterial Elevada (PAE) <strong>em</strong> relação ao tipo, entre o grupocom PAE, nos anos <strong>de</strong>19995 e 2000, <strong>em</strong> DiamantinaREME – Rev. Min. Enf; 9(1):35-40, jan/mar, 2005 37


Caracterização dos fatores...Gráfico 3 - Frequência <strong>de</strong> Pressão Arterial Elevada (PAE) <strong>em</strong> relação à ida<strong>de</strong>, na amostra totalno grupo com PAE, nos anos <strong>de</strong>19995 e 2000, <strong>em</strong> DiamantinaObservou-se que a PAE apresentou-se crescente com aida<strong>de</strong> na amostra total. Entre o grupo com PAE ela concentrou-s<strong>em</strong>ais nas faixas etárias acima <strong>de</strong> 30 anos (gráfico 3).Verificou-se, <strong>em</strong> relação à raça, que na amostra total afreqüência <strong>de</strong> PAE apresentou-se <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>crescente,nos indivíduos <strong>de</strong> cor negra (1995 = 67,74% ; 2000= 40,91%),nos <strong>de</strong> cor morena (1995= 51,63% ; 2000= 33,64%), e paraaqueles <strong>de</strong> cor branca (1995= 36,67% ; 2000= 31,51%). Nogrupo com PAE prevaleceram os indivíduos <strong>de</strong> cor morena,tanto <strong>em</strong> 1995 (48,05%), quanto <strong>em</strong> 2000 (53,62%).A Pressão Arterial Elevada foi mais presente entre osindivíduos etilistas e/ou tabagistas na amostra total. Naquelescom PAE, <strong>em</strong> 1995 a freqüência foi maior nos indivíduosetilistas e/ou tabagistas, ao contrário <strong>de</strong> 200, <strong>em</strong>que a freqüência prevaleceu naqueles não tabagistas e/ounão etilistas (gráfico 4).Gráfico 3 - Frequência <strong>de</strong> Pressão Arterial Elevada (PAE) <strong>em</strong> relação ao tabagismo e etilismona amostra total no grupo com PAE, nos anos <strong>de</strong>19995 e 2000, <strong>em</strong> Diamantina38 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):35-40, jan/mar, 2005


DISCUSSÃOOs níveis pressóricos encontrados neste trabalho foramelevados o suficiente para merecer atenção.A freqüência observada <strong>em</strong> 1995 (44,77 %) e <strong>em</strong> 2000(33,66 %) está <strong>de</strong> acordo com a variabilida<strong>de</strong> da hipertensãoarterial relatada nas estimativas brasileiras, entre22,3 % a 43,9 % (14) seguindo-se como critério para classificaçãoda PA o mesmo ponto <strong>de</strong> corte, adotado pela VIIJoint National Committee (3) e World Health Organization– International Society of Hypertention. (2) ConformeFerreira-Filho (8) , a estimativa da prevalência <strong>de</strong> HA noBrasil po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada subestimada <strong>em</strong> alguns trabalhos,já que o limite pressórico normal seguia critériosda Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> /1978 (PAS > 160 mmHge/ou PAD > 95 mmHg).Relatos da literatura mostram que a HA t<strong>em</strong> maiorfreqüência quanto maior a ida<strong>de</strong> do examinando, ten<strong>de</strong>ndoesta prevalência a <strong>de</strong>crescer ou estabilizar-se nos gruposetários mais elevados. (7) Nos achados <strong>de</strong>ste trabalhoficou evi<strong>de</strong>nciado que os níveis pressóricos foram crescentescom o avançar da ida<strong>de</strong>.Quanto ao tipo <strong>de</strong> hipertensão arterial, sabe-se que osníveis difer<strong>em</strong> para a PAS e PAD <strong>em</strong> relação ao sexo e àida<strong>de</strong>: a PAS cresce <strong>de</strong> forma regular e contínua, ten<strong>de</strong>ndoa estabilizar-se nos grupos etários mais elevados, apresentando-s<strong>em</strong>aior para homens nos grupos mais jovens e,inversamente, maior nas mulheres mais velhas. Quanto àPAD, esta também se eleva com a ida<strong>de</strong>, até a 5ª décadapara os homens, e até a 6ª década para as mulheres, <strong>de</strong>clinandodaí por diante. (6,17) Esta discordância da trajetóriadas PAS e PAD produz maior prevalência <strong>de</strong> HipertensãoSistólica Isolada (HSI) nos mais idosos. (18) No presente estudoobservou-se que no grupo com PAE, as faixas etárias<strong>de</strong> maior freqüência eram acima <strong>de</strong> 30 anos. Nessas faixasetárias,conforme a literatura, as duas pressões (PAS e PAD)pod<strong>em</strong> estar juntas, <strong>em</strong> ascensão, o que aqui ficou d<strong>em</strong>onstradopela maior presença <strong>de</strong> PAE Mista (54,98 % e46,38 %) nos dois anos, respectivamente. Devido ao comportamentodistinto entre as Pressões Arteriais Sistólica eDiastólica, <strong>em</strong> relação ao sexo, na <strong>de</strong>pendência da ida<strong>de</strong>,um estudo correlacionando os diferentes tipos <strong>de</strong> HA, comestas variáveis, se faz necessário.Em concordância com a literatura (6,18) observou-se napopulação total, que a PAE se fez mais presente entrenegros. No entanto, no grupo com PAE, constataram-seos maiores níveis naqueles <strong>de</strong> cor morena. A literaturarelata uma associação inversa entre as condiçõessocioeconômicas e os níveis <strong>de</strong> PA, sendo assim,Spritzer (18) acredita que tal fato <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado nainvestigação da prevalência <strong>de</strong> HA, principalmente <strong>em</strong>negros, por questões históricas <strong>de</strong>vido à sua localizaçãona escala social. Todavia, neste estudo tais fatores nãoforam abordados.Foram observadas neste trabalho, resultados diferentesnos períodos estudados, enquanto <strong>em</strong> 1995 a PAE foimais presente nos indivíduos tabagistas e etilistas, <strong>em</strong> 2000estes apresentaram a menor freqüência. Esses achadospod<strong>em</strong> ser coerentes com a literatura, que <strong>de</strong>screve sobreos efeitos bivalentes da ingestão <strong>de</strong> álcool <strong>em</strong> relaçãoa HA. (19,20) Entretanto, no presente estudo não foiavaliada a dosag<strong>em</strong> consumida pelo indivíduo, um dadoimportante para confronto com essa afirmativa.Com relação ao efeito do fumo, constatou-se entreos apenas tabagistas uma alta freqüência <strong>de</strong> PAE.No entanto, no grupo com PAE a freqüência <strong>de</strong>tabagistas foi menor. Esses resultados estão <strong>de</strong> acordocom outro trabalho, na qual apesar da alta prevalência<strong>de</strong> HA e altos índices <strong>de</strong> tabagismo encontrados, nãofoi relatada uma associação significativa entre eles. (5)Sabe-se que o fumo possui efeito dominante no aumentodo risco cardiovascular nos hipertensos, (19) eque os fumantes têm maior chance <strong>de</strong> evoluir para formasmalignas da doença. (6)LIMITAÇÕES DO ESTUDOA condução metodológica <strong>de</strong>ste trabalho foi a mesmanos dois períodos consi<strong>de</strong>rados. A opção do uso dafase IV <strong>de</strong> Korotkoff para <strong>de</strong>terminação da Pressão ArterialDiastólica (PAD) <strong>em</strong> 2000, foi <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> uniformizaçãoda técnica, anteriormente usada <strong>em</strong> 1995,apesar <strong>de</strong> atualmente ser consenso o uso da V fase. (21)Este fator po<strong>de</strong> ter contribuído para uma freqüênciaelevada <strong>de</strong> PAE diastólica, tanto associada à pressãosistólica, quanto isolada.Deve ser ressaltado que, neste estudo, po<strong>de</strong> ter havidoten<strong>de</strong>nciosida<strong>de</strong> na seleção da amostra. Apesar docomparecimento espontâneo da população, as ativida<strong>de</strong>sa ser<strong>em</strong> realizadas foram previamente divulgadas na mídia,o que po<strong>de</strong>ria direcionar ao local pessoas interessadas<strong>em</strong> atendimentos específicos.É importante relatar que, o fato <strong>de</strong> a coleta <strong>de</strong> dadoster ocorrido <strong>em</strong> local público impossibilitou que algunscritérios recomendados para medida correta da PressãoArterial foss<strong>em</strong> seguidos, segundo IV Diretrizes Brasileiras<strong>de</strong> Hipertensão Arterial, (14) como: certificar-se se opaciente não estava com bexiga cheia; se tenha realizadoativida<strong>de</strong> física nos últimos 60-90 minutos; se havia ingeridobebidas alcoólicas ou café e fumado até os 30 minutosantes da aferição. Os d<strong>em</strong>ais procedimentos básicosda técnica foram seguidos. Deve-se ressaltar que não foiproposta do estudo diagnosticar hipertensão arterial, masapenas registrar os níveis pressóricos encontrados, umavez que para tal diagnóstico recomenda-se repetir a medidada PA <strong>em</strong> pelo menos duas ou mais visitas. (3,14)Precisa ser consi<strong>de</strong>rado que, <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong> número<strong>de</strong> examinadores neste trabalho, a classificação entrecor morena e negra po<strong>de</strong> ter sofrido variações <strong>de</strong>interpretação.Conscientes da limitação metodológica, <strong>de</strong>vido ao tipo<strong>de</strong> estudo aplicado, às ameaças à valida<strong>de</strong> interna - comonúmero variado <strong>de</strong> examinadores, local <strong>de</strong> coleta; à valida<strong>de</strong>externa, como uso <strong>de</strong> amostra por conveniência -nosso propósito foi traçar o perfil do paciente que foiatendido durante as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão das FAFEID,não preten<strong>de</strong>ndo extrapolar tais resultados para a populaçãodo município <strong>de</strong> Diamantina.CONSIDERAÇÕES FINAISOs dados <strong>de</strong>ste estudo permit<strong>em</strong> concluir que: houveuma alta freqüência <strong>de</strong> PAE nas amostras totais avalia-REME – Rev. Min. Enf; 9(1):35-40, jan/mar, 2005 39


Caracterização dos fatores...das nos dois períodos (1995 e 2000), sendo o tipo Mistao mais presente; a maior freqüência <strong>de</strong> PAE ocorreu entreos homens, foi crescente com a ida<strong>de</strong>, e maior naraça negra. Em relação aos tabagistas e/ou etilistas, <strong>em</strong>1995 os maiores níveis pressóricos foram <strong>de</strong>tectadosnesses grupos, enquanto <strong>em</strong> 2000 a PAE foi mais presentenos indivíduos não tabagistas e/ou etilistas. Quanto aoperfil do grupo com PAE observou-se que: eram <strong>em</strong> suamaioria homens, na faixa etária acima <strong>de</strong> 30 anos, raçamorena, tabagistas e/ou etilistas <strong>em</strong> 1995, e <strong>em</strong> 2000, amaioria era não tabagista e não etilista.A caracterização <strong>de</strong>sta população nos possibilita, naspróximas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prevenção, abordar medidas maisdiretas para essa população, visando à prevenção e/oucontrole dos fatores <strong>de</strong> risco modificáveis.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. The sixth report of the Joint National Committee on prevention,<strong>de</strong>tection, evaluation, and treatment of high blood pressure (VI JNC).Arch Intern Med 1997; 98(4080): 73.2. WHO-ISH. Gui<strong>de</strong>lines Subcommittee. 1999 World HealthOrganization- International Society of Hipertension. Gui<strong>de</strong>lines for th<strong>em</strong>anag<strong>em</strong>ent of Hypertension. J Hypert 1999;17:151-83.3. The seventh report of the Joint National Committee on prevention,<strong>de</strong>tection, evaluation, and treatment of high blood pressure. The JNC 7report. (VII JOINT). JAMA 2003; 289:2560-75.4. Luna RL. Hipertensão arterial. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Médica e Científica;1990.5. Fuchs FD. Hipertensão arterial sistêmica: epid<strong>em</strong>iologia e fatores <strong>de</strong>risco. Arq Bras Cardiol 1994; 63(5) :443-4.6. Lolio CA. Epid<strong>em</strong>iologia da hipertensão arterial. Revista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Pública, São Paulo, 1990; 24(5): 425-32.7. Lolio CA, Pereira JCR, Lotufo PA, Souza JMP. Hipertensão arterial epossíveis fatores <strong>de</strong> risco. Rev Saú<strong>de</strong> Pública 1993; 27(5):357-62.8. Ferreira Filho C, Luna Filho B, Povoa RM, Ferreira C. Hipertensãoarterial como probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. JBM, 1996 nov/<strong>de</strong>z; 71(5/6):100-1.9. Brown MJ, Haydock S. Pathoaetiology, Epid<strong>em</strong>iology and Diagnosisof Hypertension. Drugs 2000; 59 (suppl 2):1-12.10. Hermansen K. Diet, blood pressure and hypertension. Br J Nutr2000; 83(suppl.n.1):113-19.11. Toscano-Barbosa E. Expectativas para a abordag<strong>em</strong> da hipertensãono Brasil, com a mudança do século. Rev Bras Hipert 2000 jan/mar;7(1):7-10.12. Brandão AP, Brandão AA, Magalhães MEC, Pozzan R. Epid<strong>em</strong>iologiada hipertenão arterial. Rev Soc Cardiol Estado <strong>de</strong> São Paulo 2003 jan/fev; 13(1):7-19.13. Lotufo PA, Lolio CA. Epid<strong>em</strong>iologia da hipertensão arterial no Brasil.In: Lotufo PA, Lolio CA, Souza AGMR, Mansur AJ. (ed.) Cardiologia.São Paulo: Atheneu/ SOCESP, 1996. p. 327-31.14. Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hipertensão, Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong>Cardiologia e Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Nefrologia. IV Diretrizes Brasileiras<strong>de</strong> Hipertensão Arterial. Campos do Jordão, 2002. p.1-40.15. Diagnóstico <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Diamantina – MG, <strong>de</strong>z. 2000. Relatório.16. Na<strong>de</strong>r NJ, Halake J. Aparelho circulatório. In: Na<strong>de</strong>r NJ, HalakeJ,Romeiro V. S<strong>em</strong>iologia médica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan;1980. Cap.8, p. 225-342.17. August P, Oparil S. Hypertension in women. J Clin Endocrinol &Metabol, 1999; 84(6): 1862-6.18. Spritzer N. Epid<strong>em</strong>iologia da hipertensão arterial sistêmica. Medicina,Ribeirão Preto, abr./set. 1996; 29: 199-213.19. Beilin LJ. Lifestyle and hypertension: an overview. Clin Exp Hyperten1999; 21 (516):749-62.20. Nancharal K, Ashton WD, Wood DA.. Alcohol consumption,metabolic cardiovascular risk factors and hypertension in women. Int JEpid<strong>em</strong>iol 2000; 29: 57-64.21. Pierin AMG, Alavarse DC, Lima JC, Mion Jr D. A medida indireta dapressão arterial: como evitar erros. Rev Bras Hipertensão, 2000; 7(1):31-8.40 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):35-40, jan/mar, 2005


ESTUDO DA DOR EM PACIENTES PORTADORAS DE CÂNCERGINECOLÓGICO, SUBMETIDAS À QUIMIOTERAPIAANTINEOPLÁSICATHE STUDY OF PAIN IN PATIENTS WITH GYNECOLOGICAL CANCER, WHO UNDERWENTANTINEOPLASIC CHEMOTHERAPYESTUDIO DEL DOLOR EN PACIENTES PORTADORAS DE CÁNCER GINECOLÓGICOSOMETIDAS A QUIMIOTERAPIA ANTINEOPLÁSICAÂngelo Braga Mendonça 1Quenia Cristina Gonçalves, 1Sueli Riul da Silva 2RESUMOTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo, exploratório, prospectivo objetivando avaliar sist<strong>em</strong>aticamente a dor que pacientessubmetidas à quimioterapia antineoplásica sent<strong>em</strong>. Foram acompanhadas 24 pacientes, obtendo-se o parecer positivo doComitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa da Instituição. Dentre os resultados encontrados <strong>de</strong>staca-se que <strong>de</strong> 17 das 24 pacientesacompanhadas que referiram dor prévia ao tratamento, 14 referiram que a dor melhorou; 13 referiram o aparecimento<strong>de</strong> outra dor ao longo do tratamento. A associação das informações obtidas a respeito da dor com o "status" daspacientes mostra que, apesar da ocorrência <strong>de</strong> dor, o estado geral das pacientes manteve-se.Palavras-chave: Neoplasias dos Genitais F<strong>em</strong>ininos; Quimioterapia; Dor; Cuidados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>.ABSTRACT:This is a <strong>de</strong>scriptive, exploratory, prospective study, to syst<strong>em</strong>atically evaluate the pain felt by patients subjected to antineoplasicch<strong>em</strong>otherapy. Twenty-four patients were followed, with the approval of the Institution’s Ethics Committee.Results showed that 17 out of the 24 patients monitored who mentioned pain before treatment, 14 said the painimproved; 13 felt another pain during the treatment. Associating the information obtained about pain with the "status" ofthe patients shows that <strong>de</strong>spite the pain, the general state of the patients r<strong>em</strong>ained unaltered.Key words: Genital Neoplasms, F<strong>em</strong>ale; Ch<strong>em</strong>otherapy; Pain; Nursing Care.RESUMEN:Se trata <strong>de</strong> um estudio <strong>de</strong>scriptivo, exploratorio y prospectivo con miras a analizar sist<strong>em</strong>aticamente el dolor <strong>de</strong> pacientessometidas a quimioterapia antineoplásica. Se efectúo un seguimiento en 24 pacientes, con parecer positivo <strong>de</strong>lComité <strong>de</strong> Ética en Investigación <strong>de</strong> dicha institución. Los resultados indican que <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> las 24 pacientes con seguimiento,17 mencionaron dolor antes <strong>de</strong>l tratamiento, 14 manifestaron que el dolor mejoró; 13 que surgió otro dolor a lo largo<strong>de</strong>l tratamiento. Las informaciones obtenidas sobre el dolor asociadas al estado <strong>de</strong> las pacientes indican que, a pesar <strong>de</strong>ldolor, se mantuvo el estado general <strong>de</strong> las pacientes.Palabras clave: Neoplasmas <strong>de</strong> los Genitales F<strong>em</strong>eninos; Quimioterapia; Dolor; Atención <strong>de</strong> Enfermería.1Alunos do Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da FMTM.2Docente responsável pela Disciplina Enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Ginecologia e Obstetrícia/DEAH/CGE/FMTM- orientadora.En<strong>de</strong>reço: R: Donaldo Silvestre Cicci, 665 – Bairro Manoel Men<strong>de</strong>s – Uberaba-MG - CEP: 38082-166 Fone: 0(34)3313-2054e-mail: enf@pro<strong>de</strong>pe.fmtm.brREME – Rev. Min. Enf; 9(1):41-46, jan/mar, 2005 41


Estudo da dor <strong>em</strong>...INTRODUÇÃOEste estudo versa sobre a atuação do enfermeiro naavaliação e no controle da dor <strong>em</strong> pacientes com câncerginecológico submetidas à quimioterapia antineoplásica.Tendo <strong>em</strong> vista seu difícil controle, a dor se constituinum gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio a enfermeiros que trabalham <strong>em</strong> terapêuticaoncológica.T<strong>em</strong>-se que o tratamento quimioterápico é extr<strong>em</strong>amenteagressivo, acarretando gran<strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> às pacientesque necessitam submeter-se a ele. Dentre os efeitosadvindos da quimioterapia, a dor é um dos sintomasque muito compromete o sucesso e a a<strong>de</strong>são das pacientesao tratamento, constituindo-se numa gran<strong>de</strong> limitaçãoà terapêutica adotada.Entend<strong>em</strong>os que a falta <strong>de</strong> uma avaliação sist<strong>em</strong>atizadada dor pelo enfermeiro, tenha contribuído paraum ina<strong>de</strong>quado alívio, resultando num controle superficiale, às vezes, ineficaz. Atualmente, a meta <strong>de</strong> meramentereduzir a dor a níveis toleráveis é inaceitável.Com todos os recursos disponíveis <strong>em</strong> analgesia, jánão se permite a idéia <strong>de</strong> um controle parcial da dor,<strong>de</strong>ixando que as pacientes experiment<strong>em</strong> sofrimento<strong>de</strong>snecessário.A mensuração da dor, b<strong>em</strong> como a avaliação <strong>de</strong> seusaspectos qualitativos, antes e após a aplicação <strong>de</strong>quimioterápicos, constitui uma forma útil d<strong>em</strong>onitoramento do quadro álgico relativo ao tratamentoantineoplásico.É útil ao enfermeiro uma <strong>de</strong>scrição precisa e <strong>de</strong>talhadada dor da paciente. Portanto <strong>de</strong>ve-se incentiva-la arelatar o seu <strong>de</strong>sconforto para que se possa terparâmetros para novas condutas e intervenções <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>analisando, assim, a evolução do quadro álgico.Em todo o mundo mais <strong>de</strong> quatro milhões <strong>de</strong> pessoasmorr<strong>em</strong> anualmente <strong>de</strong>vido ao câncer. Segundo a OrganizaçãoMundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), estas perfaz<strong>em</strong> 10% <strong>de</strong>todas as mortes, e nos países ricos correspond<strong>em</strong> a 20%dos óbitos. Aproximadamente 9 milhões pa<strong>de</strong>c<strong>em</strong> <strong>de</strong> doroncológica significante e perd<strong>em</strong> dias, s<strong>em</strong>anas, meses eanos <strong>de</strong> suas vidas <strong>em</strong> conseqüência <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto, sofrimentoe incapacida<strong>de</strong>s gerados por ela. (1)Estudos isolados revelam que 58% a 80% dos doentesadultos hospitalizados com câncer sofr<strong>em</strong> <strong>de</strong> dor. Doresmo<strong>de</strong>radas a severas estão presentes <strong>em</strong> 30% a 45% nomomento do diagnóstico, <strong>em</strong> 30 a 40% nos estágios intermediários,e finalmente <strong>em</strong> aproximadamente 87% nasfases avançadas. (1)A dor relativa aos tumores ginecológicos ocorre <strong>em</strong>11% dos casos no ovário e <strong>em</strong> 56% no colo do útero <strong>em</strong>todas as fases <strong>de</strong> sua evolução. Na fase avançada estimaseque se manifeste <strong>em</strong> 74% dos casos <strong>de</strong> neoplasias damama, 75% do ovário e 71% do colo do útero. (2)Através da utilização <strong>de</strong> roteiros <strong>de</strong> avaliação serápossível elaborar um plano <strong>de</strong> cuidados no manejo dador, verificar a eficácia das intervenções <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,avaliar o impacto na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pacientes e aincapacida<strong>de</strong> física ante a dor aguda e crônica.O planejamento da assistência terá como meta principalpromover o máximo <strong>de</strong> conforto possível,minimizando as intercorrências geradas pelo quadro álgicoe então ter<strong>em</strong>os uma melhora substancial na qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida dos pacientes.Este estudo objetiva propor uma avaliação sist<strong>em</strong>atizadada dor pelo enfermeiro <strong>de</strong> modo a permitir umaassistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> individualizada, humanizadae integral às pacientes oncológicas, já que este é o profissionalque passa mais t<strong>em</strong>po junto ao paciente. Perceb<strong>em</strong>osque através <strong>de</strong> uma análise criteriosa das síndromesdolorosas, é possível estabelecer um diagnósticoetiológico da dor com maior precisão e, com isso, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>osobter uma maior eficácia nas intervenções <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.METODOLOGIAPara <strong>de</strong>senvolvimento do presente trabalho e alcancedos objetivos propostos, realizou-se um estudo <strong>de</strong>scritivoexploratório prospectivo, acompanhando-se pacientesportadoras <strong>de</strong> câncer ginecológico, submetidas aquimioterapia antineoplásica na enfermaria <strong>de</strong> ginecologiae obstetrícia do Hospital <strong>Escola</strong> (E. G. O.-H. E.) daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Triângulo Mineiro- FMTM, numtotal <strong>de</strong> 24 mulheres.A fim <strong>de</strong> avaliar a presença e o tipo da dor que apaciente sente, foi aplicado um roteiro <strong>de</strong> avaliação dotipo escala numérica e, paralelamente um do tipo escalasimples <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição, contendo informações a respeitoda dor, a todas as pacientes submetidas ao tratamento<strong>em</strong> questão, antes do primeiro ciclo do protocoloquimioterápico proposto, no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002a fevereiro <strong>de</strong> 2003. Foram utilizadas duas escalas <strong>em</strong>paralelo, posto que algumas pacientes po<strong>de</strong>riam apresentardificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> quantificar numericamente sua dor.Os <strong>de</strong>scritores da escala simples <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição foram posteriormentetraduzidos <strong>em</strong> números para que se pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong>somar os dados encontrados.Os instrumentos utilizados foram elaborados com baseno roteiro <strong>de</strong> MCGILL (1) , consagrado internacionalmentepara utilização <strong>em</strong> mensuração <strong>de</strong> dor.Um segundo passo foi a reaplicação do mesmo roteiroàs pacientes, após o terceiro ciclo do tratamento.De posse <strong>de</strong>ssas informações foi possível avaliar apresença e intensida<strong>de</strong> da dor <strong>em</strong> pacientes do grupo <strong>em</strong>estudo e, ainda, associar essa incidência ao uso das drogasque compõ<strong>em</strong> o protocolo quimioterápico utilizadopara cada paciente e ao estado geral da mesma.Para alcance <strong>de</strong>sse último objetivo, os dados obtidospela aplicação do roteiro proposto foram associados adados obtidos <strong>de</strong> um segundo instrumento, já aplicadorotineiramente ao mesmo grupo, que permite a avaliaçãodo estado geral <strong>de</strong> pacientes submetidas aquimioterapia antineoplásica, durante o tratamento.Trata-se da escala <strong>de</strong> KARNOFSKY (1) , <strong>de</strong> amplo uso <strong>em</strong>oncologia.Foram envolvidas no grupo <strong>de</strong> estudo, todas as pacientesque iniciaram o tratamento no período estabelecido,não havendo critérios <strong>de</strong> exclusão, uma vez quefreqüent<strong>em</strong>ente as mesmas iniciam o tratamento <strong>em</strong>questão <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao roteiro propostoe, ainda, parte-se do pressuposto que essas pacientessão mulheres adultas <strong>em</strong> uso <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s.42 REME – Rev. 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Exceção feita àquela que, livr<strong>em</strong>ente se negasse a participardo estudo, já que foi solicitado seu consentimentoesclarecido.As informações obtidas através <strong>de</strong>ste estudo, subsidiarãoa elaboração <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>mais eficazes, no que diz respeito à melhora da qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida das pacientes submetidas a quimioterapia<strong>em</strong> ginecologia.O parecer positivo do Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisada FMTM para <strong>de</strong>senvolvimento do presente estudo encontra-seno Anexo I.RESULTADOS E DISCUSSÃOPara que a dor referida pelas pacientes fosse mais b<strong>em</strong>associada ao uso <strong>de</strong> antineoplásicos, foi realizado um levantamento<strong>de</strong> todas as possíveis causas <strong>de</strong> dor pósquimioterapia,buscando-se todos os efeitos colateraisque levass<strong>em</strong> a ocorrência <strong>de</strong> dor nas pacientes, relacionandoos mesmos às drogas mais envolvidas com suamanifestação.Durante a avaliação <strong>de</strong> dor nas pacientes, algumas nãoreferiram ter sentido dor na aplicação do terceiro ciclo<strong>de</strong> quimioterapia, entretanto, quando indagadas a respeitoda presença <strong>de</strong> dor secundária a mucosite, flebite ediarréia, relataram tê-la apresentado, d<strong>em</strong>onstrando assima importância <strong>de</strong> se avaliar<strong>em</strong> síndromes dolorosas eefeitos colaterais responsáveis pela sua ocorrência <strong>de</strong>forma sist<strong>em</strong>atizada, tendo <strong>em</strong> vista os protocolosquimioterápicos utilizados e as toxicida<strong>de</strong>s ocasionadaspelos mesmos.O perfil das 24 pacientes submetidas à quimioterapiaantineoplásica no período do estudo, mostra que prevaleceua faixa etária <strong>de</strong> 50-59 anos com sete entrevistadas,seguida da faixa etária <strong>de</strong> 40-49 anos com cincopacientes.O câncer é uma doença crônico-<strong>de</strong>generativa e, comotal, possui uma evolução prolongada e progressiva e queenvolve inúmeros fatores <strong>de</strong> risco, por isso predominantena ida<strong>de</strong> adulta. (1)Quanto ao grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, verificamos que 16pacientes possu<strong>em</strong> o 1º grau incompleto. Isso mostra umaeventual dificulda<strong>de</strong> no entendimento do instrumento <strong>de</strong>coleta <strong>de</strong> dados, o qual foi explicado utilizando-setermos a<strong>de</strong>quados à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada paciente.Observamos que 70,8% das pacientes resid<strong>em</strong> na cida<strong>de</strong><strong>de</strong> Uberaba-MG. Isso v<strong>em</strong> confirmar que a cida<strong>de</strong> possuirecursos necessários ao tratamento oncológico, nãoprecisando, portanto, as pacientes procurar outros centros<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o que evi<strong>de</strong>ncia o fato <strong>de</strong> esse Município serpólo <strong>de</strong> atenção médica e referência terciária da região.A respeito do diagnóstico, t<strong>em</strong>os que 14 pacientesapresentaram diagnóstico oncológico <strong>de</strong> carcinomaductal invasivo <strong>de</strong> mama. Essa informação coinci<strong>de</strong> comos dados epid<strong>em</strong>iológicos do câncer que apontam paraa maior incidência do câncer <strong>de</strong> mama nas regiões Sul eSu<strong>de</strong>ste. (1) T<strong>em</strong>os, ainda, que esse tipo <strong>de</strong> câncer, é aneoplasia maligna mais comum nas brasileiras, principalmenteapós os 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, mas inexplicavelmente,observa-se um aumento <strong>de</strong> sua incidência <strong>em</strong> mulheresmais jovens. (3)Em contrapartida, o câncer <strong>de</strong> colo uterino, apresentouuma incidência <strong>de</strong> quatro pacientes, isso nos mostraa repercussão das medidas preventivas <strong>de</strong> combate aocâncer que vêm sendo implantadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 70.As seis pacientes restantes foram diagnosticadas comoportadoras <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> ovário, endométrio e molahidatiforme.De posse dos dados, v<strong>em</strong>os que 50% das pacientesforam submetidas a quimioterapia, radioterapia e cirurgia.Isso v<strong>em</strong> ao encontro do conceito <strong>de</strong> que os melhoresresultados na terapêutica do câncer estão no usointegrado <strong>de</strong>ssas diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terapias. (3)A quimioterapia antineoplásica (uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tratamento sistêmico da doença) têm se tornado umadas mais importantes e promissoras maneiras <strong>de</strong> combatero câncer. (3)O tratamento adjuvante do câncer <strong>de</strong> mamafreqüent<strong>em</strong>ente envolve o uso <strong>de</strong> radioterapia (RT) equimioterapia (QT), sendo que a seqüência i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>ssacombinação não foi estabelecida. O uso concomitante<strong>de</strong> QT e RT po<strong>de</strong> ser útil por não atrasar nenhum dosdois tratamentos, já que o retardo do início da QT po<strong>de</strong>provocar um mau impacto no controle sistêmico, damesma forma que o retardo da RT po<strong>de</strong> diminuir a taxa<strong>de</strong> controle local. (4) A radioterapia é um tratamentoabrangente, visto que 70% <strong>de</strong> tumores malignos terão,no seu curso <strong>de</strong> evolução, indicação <strong>de</strong> irradiação. (1)O tratamento cirúrgico é um tratamento radical, queconsiste na retirada do tumor primário, e, quando indicado,retiram-se linfonodos das ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> linfáticapróxima ao órgão do tumor primário. (1) É a principalmodalida<strong>de</strong> terapêutica para controle locorregionaldo câncer, prevenindo sua diss<strong>em</strong>inação. (3)Quanto ao tipo <strong>de</strong> protocolo quimioterápico utilizado,t<strong>em</strong>os que 11 pacientes usaram EC (epirrubicina eciclosfosfamida), e que a epirrubicina t<strong>em</strong> ação vesicantee po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar efeitos h<strong>em</strong>atológicos,gastrintestinais, cardiocirculatórios, cutâneos, entre outros.Por sua vez a ciclosfosfamida não possui açãovesicante, porém po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver todos os efeitos citadosanteriormente, acrescidos <strong>de</strong> efeitos colateraisgeniturinários. (5)Ao questionar sobre dor prévia à quimioterapia, obtiv<strong>em</strong>osque 70,8% das pacientes acompanhadas a referiram.Estudos mostram que a dor relacionada ao cânceracomete cerca <strong>de</strong> 50% dos pacientes <strong>em</strong> todos os estágiosda doença e cerca <strong>de</strong> 70% dos doentes com cânceravançado. (6)Ainda t<strong>em</strong>os que 16 das 24 pacientes não sentiamdor ao ser<strong>em</strong> entrevistadas, o que mostra que a dornão interferiu na coleta <strong>de</strong> dados, pois a dor vistacomo inútil e <strong>de</strong>sumanizante, (7) po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar o doentenum quadro estressante e incapacitado.As regiões mais referidas para dor, foram a região dobaixo ventre e a mamária (oito pacientes apontaram cadauma <strong>de</strong>ssas regiões). Pod<strong>em</strong>os associar esse dado com odiagnóstico oncológico, prevalecendo o câncer <strong>de</strong> mamacom 58,2% <strong>de</strong> casos e o câncer <strong>de</strong> colo uterino com16,7% <strong>de</strong> casos. Embora o câncer <strong>de</strong> mama tenha tidomaior incidência que o <strong>de</strong> colo uterino no grupo <strong>em</strong> es-REME – Rev. Min. Enf; 9(1):41-46, jan/mar, 2005 43


Estudo da dor <strong>em</strong>...tudo, a referência à dor teve a mesma incidência. Issoconfirma que a região pelviperineal é intensamente atingidapela dor <strong>em</strong> casos <strong>de</strong> câncer ginecológico.Ainda <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar que a referência a mais <strong>de</strong>um local para dor, po<strong>de</strong> estar relacionada a neoplasias<strong>em</strong> estágio avançado e à ocorrência <strong>de</strong> metástases. Sendoassim, a dor não se restringe a apenas um local. (6)Das 17 pacientes que referiram dor, a maior parte(52,9%) apresentou dor <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada. Esseresultado coinci<strong>de</strong> com aqueles apresentados no estudorealizado por Cleeland (1994) no qual observa-seque 62% dos doentes com câncer metastático refer<strong>em</strong>dor <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> igual ou superior a 5, numa escala<strong>de</strong> 0 a 10. (6)Observamos que entre as 17 pacientes que referiramdor, sete referiram usar analgésicos para alívio da dor,seguidas <strong>de</strong> cinco que utilizaram o repouso.Durante as entrevistas, muitas pacientes citaram onome comercial do analgésico utilizado (AnadorR,Voltar<strong>em</strong>R). Observamos que eram analgésicosantiinflamatórios não-hormonais e não opiáceos, que são<strong>de</strong> fácil aquisição, vendidos s<strong>em</strong> prescrição médica e <strong>de</strong>uso comum pelo consumidor. Isso leva-nos a pensar queos medicamentos po<strong>de</strong>riam estar sendo utilizados <strong>de</strong> formaina<strong>de</strong>quada e que provavelmente as pacientes não<strong>de</strong>veriam ter conhecimento <strong>de</strong> seus efeitos colaterais. (6)Ainda sobre a questão <strong>de</strong> referência da dor, t<strong>em</strong>osque oito das 17 pacientes relataram que a dor <strong>de</strong>saparece,após o uso <strong>de</strong> alguma medida analgésica.Das 17 pacientes, seis referiram que a realização <strong>de</strong>algum tipo <strong>de</strong> esforço físico era causa <strong>de</strong> piora da dor.Consi<strong>de</strong>rando a literatura pesquisada na elaboração dopresente estudo, encontramos coincidência com as informaçõesdos autores que afirmam que a dor mecânica,relacionada aos movimentos, po<strong>de</strong> ser provocada porfatores patológicos ou metástases justarticulares. Os pacientescom essas dores referirão dores intensas eincapacitantes, b<strong>em</strong> localizadas e que se manifestam, oupioram com os movimentos. Esta dor comumente é confundidacom a inci<strong>de</strong>ntal, <strong>de</strong> aparecimento abrupto. É <strong>de</strong>importância mencionar que este tipo <strong>de</strong> dor respon<strong>de</strong>pouco ou nada aos morfínicos. (7)Das 24 pacientes <strong>em</strong> estudo, 25% relataram piora dador. Todos os fatores que aliviam ou que agravam a condiçãodolorosa, o uso prévio <strong>de</strong> medicamentos e <strong>de</strong> outrasintervenções analgésicas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser exaustivamenteavaliados. É importante também verificar a interferência<strong>de</strong> fatores psicológicos na expressão da dor. (8)No 3º ciclo <strong>de</strong> QT, ao ser<strong>em</strong> questionados sobre ador, 14 (82,3%) pacientes relataram que sua dor melhorouapós dois ciclos <strong>de</strong> quimioterapia. No tratamentoquimioterápico, observa-se que <strong>em</strong> 20% dos pacienteshá redução <strong>completa</strong> do quadro álgico, e <strong>em</strong> 80% po<strong>de</strong>haver melhora da dor. (8)Com relação à variação na intensida<strong>de</strong> da dor, 12, das14 pacientes, disseram que a dor relatada no 1º cicloevoluiu para "s<strong>em</strong> dor" no 3º ciclo <strong>de</strong> quimioterapia. Duas<strong>de</strong>stas pacientes referiram melhora da dor para "poucador". Observamos que uma das 17 pacientes relatou quesua dor piorou após concluir dois ciclos <strong>de</strong> quimioterapia.Essa paciente informou que a dor intensificou-se <strong>de</strong> "mo<strong>de</strong>rada"para "forte e informou ainda que tinha diagnóstico<strong>de</strong> artrose no joelho (SIC), anteriormente àquimioterapia, e que esta se agravou com o tratamento.Verificamos que 13 pacientes relataram o aparecimento<strong>de</strong> outra dor pós-quimioterapia. Este dado se refere àdor que até então não havia sido percebida ou relatada eque <strong>em</strong>ergiu no acompanhamento às pacientes. De acordocom a literatura consultada para elaboração do presenteestudo, a agressivida<strong>de</strong> do tratamento <strong>em</strong> questãopo<strong>de</strong> ser responsável pelo aparecimento <strong>de</strong>sse sintoma. (4)Com relação a dor mamária, no baixo ventre, lombare cefaléia, referidas pelas pacientes, não foi encontradana literatura alusão ao fato. A literatura aponta comocausas freqüentes <strong>de</strong> dor pós-quimioterapia ahepatotoxicida<strong>de</strong>, constipação e diarréia, quase s<strong>em</strong>preacompanhadas <strong>de</strong> dores abdominais intensas, flebite eoutras alterações no trajeto venoso mais tecidoscircunjacentes, ocasionadas pela toxicida<strong>de</strong><strong>de</strong>rmatológica. (7)Das 24 pacientes entrevistadas, sete relataram dorno local <strong>de</strong> punção e trajeto venoso <strong>de</strong>vido a flebite, efeitocolateral este que na maior parte das vezes somava-sea hiperpigmentação, sensibilida<strong>de</strong> aumentada no m<strong>em</strong>broafetado, alteração nas unhas, <strong>de</strong>scoloração venosa,erit<strong>em</strong>a e ed<strong>em</strong>a local, áreas <strong>de</strong> enduração, apresentandoreações inflamatórias que variaram <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada asevera neste estudo, estenose e fibrose no local <strong>de</strong> punçãoe ao longo da veia utilizada para aplicação das drogas.Durante o estudo, <strong>em</strong> nenhuma das pacientes ocorreuextravasamento <strong>de</strong> quimioterápicos e dor relacionadaa infusão <strong>de</strong> quimioterápicos, não havendo queixasdurante o momento <strong>de</strong> aplicação das drogas. Esse é umdado que reflete a qualida<strong>de</strong> na prestação do cuidado <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> ao paciente.Flebite local, que é a manifestação do vaso puncionadopara administração <strong>de</strong> quimioterapia <strong>de</strong>vido ao carátercáustico das drogas utilizadas, esteve presente <strong>em</strong> quatrodos casos, coinci<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente aqueles casos nos quaisforam administradas as drogas adriamicina e epirrubicina,sabidamente vesicantes. Outros estudos relatam que dorlocal foi referida <strong>em</strong> 20% dos casos, sendo que 90% dospacientes que a relataram foram aqueles que apresentaramflebite, e apenas um <strong>de</strong>screveu dor no local <strong>de</strong> punçãos<strong>em</strong> contudo apresentar sinais <strong>de</strong> inflamação. (9)A intensida<strong>de</strong> da dor referida, variou <strong>de</strong> pouca dor ador mo<strong>de</strong>rada, sendo que algumas pacientes a <strong>de</strong>screviamcomo dor "ardida", <strong>em</strong> "ferroada", que se agravava àmovimentação e melhorava com o uso <strong>de</strong> compressaquente. Reações locais são mais acentuadas quando adroga está gelada, está excessivamente concentrada, aaplicação é rápida, o vaso é fino e frágil e já foi utilizadaoutras vezes. (5)Durante as entrevistas, das quatro pacientes que apresentarammucosite, uma foi avaliada com grau <strong>de</strong> disfunçãosevera, com acometimento das mucosas oral e esofágica.Esta paciente se encontrava <strong>em</strong> mau estado geral, comíndice <strong>de</strong> Karnofsky <strong>de</strong> 30% (severamente incapaz, estáindicada a hospitalização, porém a morte não é iminente).Apresentou déficit nutricional no período <strong>de</strong>44 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):41-46, jan/mar, 2005


hospitalização, com ingesta alimentar comprometida <strong>em</strong>razão <strong>de</strong> náuseas, vômitos e dor secundária à estomatitee esofagite sendo indicado o uso <strong>de</strong> sonda naso-enteral.Dentro do grupo, duas outras pacientes apresentaramgrau mo<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> mucosite e uma grau leve. Todasrelataram dor à mastigação, <strong>de</strong>glutição e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>se alimentar. Entre outras queixas, estiveram presentes"língua grossa, diminuição <strong>de</strong> saliva, ressecamento e aftasdoloridas que apareciam <strong>de</strong>ntro e fora da boca". A intensida<strong>de</strong>da dor ocasionada pela mucosite variou <strong>de</strong> poucador à dor mo<strong>de</strong>rada.Dentre as 13 pacientes que tiveram dor pósquimioterapia,uma relatou aparecimento <strong>de</strong> dor nas pernase outra referiu dor no tornozelo, sendo que ambasas pacientes atribuíram o surgimento da dor àquimioterapia utilizada. Contudo, um dos efeitos adversosdo uso <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>s, freqüent<strong>em</strong>ente aplicados nestaspacientes é a miopatia proximal, especialmente naspernas, e pseudoreumatismo, síndrome álgica que afetamúsculos e articulações, associada a redução rápida oulenta <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>s, após períodos longos ou curtos <strong>de</strong>tratamento. (10)A miopatia ocorre mais frequent<strong>em</strong>ente com o uso<strong>de</strong> <strong>de</strong>xametasona, droga <strong>de</strong> escolha no serviço <strong>em</strong> questão,betametasona e triamcinolona. (10) Queimação, ardore prurido nas áreas vulvar e perineal ocorreramcom frequência nas pacientes durante a infusão <strong>de</strong><strong>de</strong>xametasona. (4,10)A paciente que referiu dor na região do tornozeloapresentou ed<strong>em</strong>a na articulação, relatando seu aparecimento10 dias após a aplicação do 2º ciclo <strong>de</strong>quimioterapia, <strong>de</strong> pouca intensida<strong>de</strong>. Utilizou PEB(cisplatina, etoposi<strong>de</strong>, bleomicina) como protocolo, sendoque a droga cisplatina também po<strong>de</strong> estar relacionadaao <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> articulações. Entre as manifestaçõesneurológicas relacionadas ao uso <strong>de</strong> cisplatina estão: formigamentoe dormência <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s, parestesia especialmentedas mãos e pés, mialgias e perda dos reflexosprofundos e outras. (5)A paciente entrevistada que relatou dor nas pernas,utilizou EC como protocolo, drogas não envolvidas coma ocorrência <strong>de</strong> mialgia e artralgia, portanto, a dor referidapo<strong>de</strong> estar relacionada ao uso da <strong>de</strong>xametasona, <strong>de</strong>scritaanteriormente.Entre as 24 entrevistas realizadas, <strong>em</strong> uma pacientefoi <strong>de</strong>tectada dor abdominal <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> diarréia,<strong>de</strong> forte intensida<strong>de</strong>. A diarréia e a constipação<strong>de</strong>correntes da quimioterapia quase s<strong>em</strong>pre sãoacompanhadas <strong>de</strong> dores abdominais intensas. Oepitélio intestinal também é formado <strong>de</strong> células <strong>de</strong>rápida proliferação, portanto vulneráveis a ação dosantineoplásicos. Em razão <strong>de</strong>ssa vulnerabilida<strong>de</strong> ocorreuma <strong>de</strong>scamação da mucosa, s<strong>em</strong> reposição a<strong>de</strong>quada,levando à irritação e alterações funcionais queocasionam diarréia e cólicas abdominais. (4)A referida paciente fez uso das drogas mencionadasno protocolo FAC (fluorouracil, adriamicina eciclofosfamida), sendo o fluorouracil um dosquimioterápicos mais relacionados com a ocorrência <strong>de</strong>steefeito.Para sete das 13 pacientes que referiram dor pósquimioterapia,esta foi referida como mo<strong>de</strong>rada.A associação entre dor e estado geral das pacientes,mostra que 18 (75,0%) pacientes estudadas tiveram seuestado geral mantido segundo Índice <strong>de</strong> Karnofsky. Dessas,<strong>de</strong>z pacientes fizeram referência ao aparecimento <strong>de</strong>pelo menos um tipo <strong>de</strong> dor durante o tratamentoquimioterápico. As pacientes que fizeram a referênciaeram portadoras <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama (8 pacientes), câncer<strong>de</strong> ovário (uma paciente) e câncer do colo do útero(uma paciente).As oito pacientes portadoras <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama e apaciente portadora <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> ovário que referiramdor após a quimioterapia fizeram uso <strong>de</strong> antracíclicos(E, A); a paciente portadora <strong>de</strong> câncer do colo do úterofez uso <strong>de</strong> cisplatina. Conforme dito anteriormente, estasdrogas são apontadas na literatura como aquelas quepossu<strong>em</strong> efeitos colaterais intensos, inclusive gran<strong>de</strong> potencialálgico.Contudo, apesar da referência a dor, não houve <strong>de</strong>créscimosignificativo na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das mesmas.Po<strong>de</strong>-se inferir que não houve relação entre aparecimento<strong>de</strong> dor, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e ida<strong>de</strong> das pacientes.Nosso estudo mostra que cinco pacientes (20,8% das24 pacientes acompanhadas no estudo), melhoraram aperformance <strong>de</strong> seu estado geral, segundo Índice <strong>de</strong>Karnosky, apesar <strong>de</strong> quatro <strong>de</strong>las ter<strong>em</strong> feito referênciaa dor, durante o tratamento quimioterápico, e queesta melhora também não esteve relacionada a ida<strong>de</strong>das pacientes.Uma das 24 pacientes acompanhadas apresentou piorado estado geral durante o tratamento quimioterápico,tendo feito ainda referência a dores intensas. A paciente<strong>em</strong> questão, portadora <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> ovário, fez uso doprotocolo PAC (cisplatina, adriamicina, ciclofosfamida),que impõe antracíclicos e cisplatina, drogas apresentadascomo tendo alto potencial tóxico. Coinci<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente estaera uma das pacientes mais jovens (25 anos) acompanhadasno estudo.CONSIDERAÇÕES FINAISA partir do <strong>de</strong>senvolvimento do presente estudo, tendo<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os resultados encontrados e a literaturasobre o assunto, pod<strong>em</strong>os concluir para o grupoacompanhado que a incidência <strong>de</strong> dor entre as pacientesfoi alta; a intensida<strong>de</strong> da dor foi mo<strong>de</strong>rada, segundo referênciapara a maior parte das pacientes; as causas <strong>de</strong> piorada dor foram várias, entretanto <strong>de</strong>stacam-se os esforçosfísicos e a movimentação; a quimioterapia melhorousobr<strong>em</strong>aneira a dor oncológica nas pacientes.Houve o aparecimento <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> dor naspacientes após a aplicação <strong>de</strong> três ciclos <strong>de</strong> quimioterapia,sendo a maioria relacionada aos efeitos colaterais dosantineoplásicos. Entre as causas, foram freqüentes flebitee mucosite, e apenas uma paciente relatou dor abdominal<strong>de</strong>corrente da diarréia, efeito secundário dosquimioterápicos. A cefaléia algumas vezes apresentada por<strong>de</strong>terminadas pacientes po<strong>de</strong> ter inúmeras causas; entretantonão se <strong>de</strong>ve inferir que esteja diretamente ligada aotratamento. Finalmente po<strong>de</strong>-se afirmar que para o gru-REME – Rev. Min. Enf; 9(1):41-46, jan/mar, 2005 45


Estudo da dor <strong>em</strong>...po das pacientes estudadas a quimioterapia provocou aocorrência <strong>de</strong> dor. A intensida<strong>de</strong> da dor relativa aquimioterapia utilizada variou <strong>de</strong> pouca dor a dor forte,com predominância <strong>de</strong> dor mo<strong>de</strong>rada.Apesar da referência ao aparecimento <strong>de</strong> dor pósquimioterapia,o estado geral das pacientes manteve-seinalterado, e <strong>em</strong> alguns casos melhorou; uma pacienteapresentou piora significativa <strong>de</strong> estado geral, tendo feitoreferência a dores intensas pós-quimioterapia.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1- Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Instituto Nacional <strong>de</strong>Câncer. Ações <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> para o controle do câncer:uma proposta <strong>de</strong> integração ensino-serviço. 2ª ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: INCA; 2002.2- Andra<strong>de</strong> Filho ACC, editor. Dor: diagnóstico e tratamento.São Paulo: Roca; 2001.3- Santos ANS, Silva FL, Vila VSC. O significado damastectomia radical modificada: "só qu<strong>em</strong> faz é que sabe".Rev Nursing 2003 jun.; 61 (6): 145-51.4- Faria SL. Quimioterapia concomitante à radioterapiano tratamento adjuvante do câncer da mama localizado.Rev Bras Cancerol 2001; 47 (2): 153-8.5- Bonassa EMA. Enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> terapêuticaoncológica. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2000.6- Teixeira MJ, Pimenta CAM, Koizumi MS. Dor nodoente com câncer: características e controle. [Citado<strong>em</strong>: 07/05/03]. Disponível <strong>em</strong>:http:// www.inca.gov.br/rbc/n_43/v01/artigo2.html.7- Bond MR. Dor: natureza, análise e tratamento. 2ªed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Colina; s.d.8- Teixeira MJ. Dor oncológica: tendências atuais notratamento. In: Teixeira MJ. Conceitos atuais no tratamentoda dor crônica. Bal Harbour: Programa Científico<strong>de</strong> Lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Opinião; 2000.9- Riul da Silva S, Aguillar OM. Assistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong><strong>em</strong> quimioterapia antineoplásica. Rio <strong>de</strong> Janeiro:EPU; 2001.10- Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Instituto Nacional <strong>de</strong>Câncer. Cuidados paliativos oncológicos – controle <strong>de</strong>sintomas. Rev Bras Cancerol 2002; 48 (2): 191-211.46 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):41-46, jan/mar, 2005


SIGNIFICADO DO GRUPO DE AUTO-AJUDA NAREABILITAÇÃO DA MULHER MASTECTOMIZADATHE MEANING OF SELF-HELP GROUPS IN THE REHABILITATION OFMASTECTOMIZED WOMENSIGNIFICADO DEL GRUPO DE AUTOAYUDAEN LA REHABILITACIÓN DE LA MUJER MASTECTOMIZADAAna Fátima Carvalho Fernan<strong>de</strong>s 1Pacífica Pinheiro Cavalcanti 2Isabela Melo Bonfim 2Elizabeth Mesquita Melo 3RESUMOObjetiva-se i<strong>de</strong>ntificar a importância das ativida<strong>de</strong>s grupais na reabilitação <strong>de</strong> mulheres mastectomizadas. Foram entrevistadas10 mulheres mastectomizadas integrantes do grupo GEPAM (Grupo <strong>de</strong> Ensino, Pesquisa, Auto-ajuda e Assistênciaà Mulher Mastectomizada) nos meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001 a fevereiro <strong>de</strong> 2002. Os dados foram analisados <strong>de</strong> acordocom a análise <strong>de</strong> conteúdo e agrupados <strong>em</strong> categorias. O significado do grupo <strong>de</strong> auto-ajuda foi dividido nas seguintest<strong>em</strong>áticas: apoio <strong>em</strong>ocional; espaço educativo e espaço interativo. Esses aspectos levam a compreen<strong>de</strong>r que as mulheresmastectomizadas consi<strong>de</strong>ram o grupo como um espaço <strong>de</strong> real significado para suas vidas.Palavras-chave: Mastectomia/Reabilitação; Mastectomia/Enfermag<strong>em</strong>; Cuidados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; Grupos <strong>de</strong> Auto-ajuda;Comportamento <strong>de</strong> Ajuda.ABSTRACTThis study was to i<strong>de</strong>ntify the importance of group activities in the rehabilitation of mastectomized women. We interviewed10 women of the GEPAM group (Group supportive of mastectomized women) from Dec<strong>em</strong>ber of 2001 to February of2002. The data were according to content analysis and grouped into categories. The significance of the self-help groupwas divi<strong>de</strong>d in the th<strong>em</strong>es: <strong>em</strong>otional support; educational space and interactive space. These help to un<strong>de</strong>rstand thatthe mastectomized women consi<strong>de</strong>r the group a space of real meaning in their lives.Key Words: Mastectomy/Rehabilitation; Mastectomy/Nursing; Nursing Care; Self-Help Groups; Helping Behavior.RESUMENNuestro objetivo fue i<strong>de</strong>ntificar la importancia <strong>de</strong> las activida<strong>de</strong>s grupales para la rehabilitación <strong>de</strong> mujeres mastectomizadas.Entrevistamos diez mujeres integrantes <strong>de</strong>l grupo GEPAM (Grupo <strong>de</strong> enseñanza, investigación, autoayuda y asistencia ala mujer mastectomizada) entre dici<strong>em</strong>bre <strong>de</strong> 2001 y febrero <strong>de</strong> 2002. Los datos se analizaron según el análisis <strong>de</strong>contenido y se agruparon en categorías. El significado <strong>de</strong>l grupo <strong>de</strong> autoayuda se dividió en las siguientes t<strong>em</strong>áticas: apoyo<strong>em</strong>ocional; espacio educativo y espacio interactivo. Estos aspectos nos indican que las mujeres mastectomizadas consi<strong>de</strong>ranal grupo como un espacio <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ro significado para sus vidas.Palabras clave: Mastectomía/Rehabilitación; Mastectomía/Enfermería; Atención <strong>de</strong> Enfermería; Grupos <strong>de</strong> Autoayuda;Conducta <strong>de</strong> Ayuda1Doutora e Professora Adjunta do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará2Mestrandas do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará.3Doutoranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua Rodrigues Júnior, no. 921, apto 301 Bairro Centro CEP 60060-000 Fortaleza- CearáREME – Rev. Min. Enf; 9(1):47-51, jan/mar, 2005 47


Significado do grupo <strong>de</strong>...INTRODUÇÃOSegundo estimavas do INCA para 2003, seriamregistrados 41.610 casos novos <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama, que é aprincipal causa <strong>de</strong> morte entre as mulheres, com previsão<strong>de</strong> acontecer<strong>em</strong> 9.335 óbitos somente no ano passado. NoCeará, as estimativas para o mesmo ano compreendiam 1.040casos novos, sendo 530 somente na capital. Desses, estimava-seque ocorreriam 250 óbitos, sendo 130 <strong>em</strong> Fortaleza. (1)Nos últimos anos, o câncer <strong>de</strong> mama v<strong>em</strong> acometendomulheres com ida<strong>de</strong> inferior a 40 anos, o que v<strong>em</strong>preocupando os especialistas, favorecendo aimpl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> conscientização da comunida<strong>de</strong>para a <strong>de</strong>tecção precoce do tumor. (1)Há duas décadas, o câncer <strong>de</strong> mama era consi<strong>de</strong>radouma doença <strong>de</strong> pessoas ricas, com maior incidência <strong>em</strong>cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas. As mudanças no estilo <strong>de</strong> vida,relacionadas à exposição das mulheres a poluentes,ingestão <strong>de</strong> produtos enlatados que contêm substânciascancerígenas, alimentação rica <strong>em</strong> frituras, carnes e gorduras,b<strong>em</strong> como ativida<strong>de</strong>s se<strong>de</strong>ntárias, vêm contribuindopara o aumento da incidência da doença.O câncer <strong>de</strong> mama é o mais freqüente e um dos maist<strong>em</strong>idos entre as mulheres, representando uma ameaça àimag<strong>em</strong> corporal, além <strong>de</strong> ocasionar repercussõespsicossociais. (2) Em nossa cultura, as glândulas mamáriastêm um significado especial, estando associada à belezaf<strong>em</strong>inina e à maternida<strong>de</strong>, constituindo um atributo bastantevalorizado. Dessa forma, a mulher com diagnóstico<strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama costuma atravessar períodos difíceis<strong>em</strong> sua vida, principalmente com relação à auto-imag<strong>em</strong>. (3,4)O câncer <strong>de</strong> mama v<strong>em</strong> acometendo gran<strong>de</strong> parte dapopulação f<strong>em</strong>inina, ocasionando sérias mutilações físicasque, por sua vez, acarretam traumas <strong>em</strong>ocionais esociais. A mulher mastectomizada, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> tersesubmetido a uma cirurgia mutiladora, sente-se abaladafísica, psicológica e sexualmente.A retirada da mama é um processo cirúrgico agressivo,o qual geralmente acarreta conseqüênciastraumatizantes nas experiências <strong>de</strong> vida da mulher acometidapelo câncer <strong>de</strong> mama, conseqüências essas que seestend<strong>em</strong> ao seu ambiente familiar e social. (5)A doença expõe as mulheres a uma série <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>sque envolv<strong>em</strong> mudanças físicas, por ex<strong>em</strong>plo a limitaçãodos movimentos do m<strong>em</strong>bro superior correspon<strong>de</strong>nteà mama afetada, chegando a impossibilitar a mulher<strong>de</strong> realizar ativida<strong>de</strong>s domésticas e profissionais, asquais eram anteriormente <strong>de</strong>senvolvidas.O câncer é uma das doenças que mais induz<strong>em</strong> sentimentosnegativos <strong>em</strong> qualquer um <strong>de</strong> seus estágios, tais comoo choque <strong>em</strong>ocional causado pelo diagnóstico; o medo dacirurgia; a incerteza do prognóstico e <strong>de</strong> uma recorrência<strong>de</strong>ste câncer; os efeitos da radioterapia e da quimioterapia;o medo da dor e o pavor <strong>de</strong> encarar a morte. (6)No enfrentamento da situação <strong>de</strong> ser umamastectomizada, a mulher se <strong>de</strong>para com uma série <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>asque pod<strong>em</strong> ter orig<strong>em</strong> financeira, <strong>de</strong> auto-estima, <strong>de</strong>auto-afirmação e até <strong>de</strong> carência <strong>de</strong> informação sobre essadoença que transformou profundamente a sua vida.As mulheres após a mastectomia, na maioria das vezes,necessitam <strong>de</strong> tratamentos quimioterápicos ouradioterápicos que d<strong>em</strong>andam investimento, tanto <strong>em</strong>termos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po quanto financeiro. Estes tratamentoslevam as mulheres a comparecer<strong>em</strong> às instituições váriasvezes ao mês, na busca <strong>de</strong> exames, tratamento, r<strong>em</strong>édiosou, até mesmo, <strong>de</strong> uma palavra <strong>de</strong> conforto e esperança.Na tentativa <strong>de</strong> auxiliar as mulheres mastectomizadasna resolução dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>correntes do câncer e damastectomia, têm sido criados os grupos <strong>de</strong> auto-ajuda,os quais pod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>finidos como grupos homogêneosque visam congregar pessoas que passam pelo mesmo sofrimento.Esses grupos buscam ajudar as pessoas a resolver<strong>em</strong>probl<strong>em</strong>as relacionados a traumas <strong>de</strong>correntes doacometimento <strong>de</strong> doenças agudas, e, <strong>em</strong> especial, crônicas. (7)Nos grupos <strong>de</strong> auto-ajuda, o compartilhamento <strong>de</strong>experiências comuns proporciona aos seus integrantes umaenorme energia, que po<strong>de</strong> ser carreada para as exigênciasda vida, para a ressocialização e para a recuperação. (8) Essesgrupos são consi<strong>de</strong>rados componentes importantesno processo <strong>de</strong> reabilitação da mulher mastectomizada,assim como na aceitação do câncer e da condição <strong>de</strong> mulherque foi submetida a uma mastectomia. Proporcionamo compartilhar <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> vida relacionadas à enfermida<strong>de</strong>e à busca coletiva <strong>de</strong> soluções para os seusprobl<strong>em</strong>as.Atualmente, já são comprovados efeitospsicossociais positivos <strong>de</strong>correntes da participação dospacientes com câncer nesses grupos, incluindo melhorano estado <strong>de</strong> espírito e ajustamento. (9)Diante <strong>de</strong>ssa probl<strong>em</strong>ática, propõe-se pesquisar osmotivos que levam a mulher mastectomizada a procurarum grupo <strong>de</strong> auto-ajuda, b<strong>em</strong> como i<strong>de</strong>ntificar a importância<strong>de</strong>ste grupo para a sua reabilitação.DESCRIÇÃO DA METODOLOGIAA pesquisa é <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>scritivo, que t<strong>em</strong> como enfoqueessencial conhecer traços, características e probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>um indivíduo, grupo ou comunida<strong>de</strong> e visa aumentar a experiênciado pesquisador <strong>em</strong> torno do assunto. (10) A presenteproposta se relaciona à importância <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> autoajudana reabilitação <strong>de</strong> mastectomizadas, tendo <strong>em</strong> vistatoda a probl<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>corrente da cirurgia, que repercutenos diversos aspectos da vida da mulher.O estudo foi <strong>de</strong>senvolvido com mulheres que freqüentamo GEPAM (Grupo <strong>de</strong> Auto-ajuda, Ensino, Pesquisa e Assistênciaà Mulher Mastectomizada), o qual funciona no Departamento<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará.O grupo foi criado <strong>em</strong> 1998 com o intuito <strong>de</strong> oferecerassistência à mulher mastectomizada e proporcionarum espaço tranqüilo e agradável a essa mulher, <strong>de</strong> talforma que ela se sinta à vonta<strong>de</strong> para expressar suasvivências, seus sentimentos e suas dúvidas referentes aaspectos sobre os quais n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> falar. Da mesma forma, o grupo visa promover a realização<strong>de</strong> trabalhos científicos que possam contribuir paraa melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssas mulheres.Participam do GEPAM cerca <strong>de</strong> vinte mulheresmastectomizadas unilateralmente, algumas passando pelaexperiência <strong>de</strong> reconstrução mamária, na faixa etária <strong>de</strong>36 a 70 anos. O estado civil varia <strong>de</strong> casadas, solteiras,viúvas e/ou união consensual. A ocupação varia entre<strong>de</strong>dicação ao lar, confecção, vendas e aposentadas.48 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):47-51, jan/mar, 2005


As reuniões acontec<strong>em</strong> às sextas-feiras pela manhã, sendo<strong>de</strong>senvolvidas ativida<strong>de</strong>s e exercícios corporais no início doencontro, para <strong>de</strong>scontração e relaxamento; oficinas terapêuticas;oficinas educativas, que abordam t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> interessedas mulheres, voltados às experiências vivenciadas porelas; levantamento <strong>de</strong> dados para pesquisas; organização <strong>de</strong>cursos profissionalizantes e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer.Atualmente as mulheres são acompanhadas por duasenfermeiras docentes, duas terapeutas ocupacionais, umapsicóloga, uma estudante <strong>de</strong> terapia ocupacional, duasestudantes <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e uma estudante <strong>de</strong> direito.Para inclusão dos sujeitos na pesquisa, estabeleceramseos seguintes critérios:• mulheres que apresentass<strong>em</strong> disponibilida<strong>de</strong> eaceitação para participar voluntariamente doestudo, conce<strong>de</strong>ndo autorização prévia verbal e porescrito para a efetivação da entrevista;• mulheres que estivess<strong>em</strong> participando do grupo há,pelo menos, três meses e que nele mantivess<strong>em</strong>uma freqüência regular.A escolha das mulheres não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, crença,procedência, nível socioeconômico ou educacional.O estudo contou com a participação <strong>de</strong> 10 mulheresintegrantes do grupo GEPAM, por enquadrar<strong>em</strong>-se noscritérios <strong>de</strong> inclusão, as quais receberam nomes fictícios<strong>de</strong> personagens f<strong>em</strong>ininas da mitologia grega, a fim <strong>de</strong>preservar o anonimato.Após as exigências regimentares <strong>de</strong> trâmites no Comitê<strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa do Hospital Universitário, e o consentimentolivre e esclarecido das participantes (Resolução196/96 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>), iniciou-se àcoleta <strong>de</strong> dados, que foi realizada s<strong>em</strong>analmente nos meses<strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001 a fevereiro <strong>de</strong> 2002.Utilizou-se um roteiro <strong>de</strong> entrevista s<strong>em</strong>i-estruturado,organizado a partir <strong>de</strong> uma ord<strong>em</strong> prestabelecida peloentrevistador, contendo questões abertas, as quais ofereciamcerta liberda<strong>de</strong> para adaptações conforme a necessida<strong>de</strong>.Esse tipo <strong>de</strong> instrumento oferece ao entrevistadoa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discorrer sobre o t<strong>em</strong>a proposto,s<strong>em</strong> respostas prefixadas. (11) Os <strong>de</strong>poimentos foram anotados,conforme permissão concedida pelas mulheres,tendo <strong>em</strong> vista a importância <strong>de</strong> obter-se uma <strong>de</strong>scrição<strong>de</strong>talhada das informações fornecidas.Após a leitura dos <strong>de</strong>poimentos das mulheres, os dadosforam organizados <strong>em</strong> categorias <strong>de</strong> acordo com a similarida<strong>de</strong>das idéias, conforme o método <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> conteúdo,que <strong>de</strong>fine categorização como uma operação que classificael<strong>em</strong>entos constitutivos <strong>de</strong> um conjunto, por diferenciaçãoe por reagrupamento, consi<strong>de</strong>rando suas características particularese conforme critérios previamente <strong>de</strong>finidos. (12)Os discursos foram organizados a partir do significadoe categorizados nas seguintes t<strong>em</strong>áticas: Apoio <strong>em</strong>ocional;Espaço Educativo e Espaço Interativo.RESULTADOS E DISCUSSÃOA leitura dos <strong>de</strong>poimentos das mulheres <strong>em</strong> relaçãoao significado do grupo <strong>de</strong> auto-ajuda e às experiênciasvivenciadas possibilitou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s significativase o agrupamento nas categorias a seguir.Apoio <strong>em</strong>ocionalSabe-se que a mastectomia, cirurgia <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>uma neoplasia maligna, constitui um processo cirúrgicoagressivo que po<strong>de</strong> causar <strong>de</strong>sajuste psicológico na mulheroperada. Nos primeiros anos que se segu<strong>em</strong> àmastectomia, a <strong>de</strong>pressão é, via <strong>de</strong> regra, uma reaçãocomum, po<strong>de</strong>ndo atingir até a meta<strong>de</strong> das mulheres quese submet<strong>em</strong> a essa cirurgia. (13)A necessida<strong>de</strong> do apoio <strong>em</strong>ocional foi apontada comoum dos motivos para a busca <strong>de</strong> vivência no grupo:Eu gosto, eu acho bom. É ruim ter um caso <strong>de</strong>sse eviver isolada. Às vezes a gente está cheia <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as<strong>em</strong> casa, chegando aqui passa tudo. Na s<strong>em</strong>ana quea gente não v<strong>em</strong>, fica tudo ruim. Estava muito sensível,qualquer coisa eu estava chorando, me aborrecendofacilmente. Pensei até <strong>em</strong> me suicidar. (Medusa)Tratamento psicológico. (Art<strong>em</strong>is)Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio psicológico. (Atena)Tratamento psicológico, para <strong>de</strong>sopilar, para ter lazer.(Céris)Muito importante, pois se enriquece <strong>em</strong>ocionalmente.(Andrômeda)A busca <strong>de</strong> apoio psicológico, <strong>em</strong> grupos <strong>de</strong> autoajuda,pelas mulheres mastectomizadas é evi<strong>de</strong>nciada pelatentativa <strong>em</strong> superar o estigma causado pelo câncer epela intervenção cirúrgica, conforme observamos nos<strong>de</strong>poimentos apresentados.As percepções nas mudanças sobre perdas causadaspor uma doença, <strong>de</strong>vido a uma cirurgia ou a uma situação<strong>de</strong> crise, ocorr<strong>em</strong> ciclicamente. A percepção da incapacida<strong>de</strong>física altera o estado psicológico, que afeta asativida<strong>de</strong>s sociais. (14)A utilização <strong>de</strong> grupos, objetivando o oferecimento<strong>de</strong> apoio psicossocial a mulheres com câncer, <strong>de</strong>senvolve-secom o intuito <strong>de</strong> informar às pacientes sobre diagnósticosterminais e tratar <strong>de</strong> assuntos como qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida, além <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar as necessida<strong>de</strong>s psicossociaisdas mesmas durante o planejamento da assistência. (9) .O grupo GEPAM utiliza um espaço amplo, com condiçõesa<strong>de</strong>quadas para a realização das ativida<strong>de</strong>s com asmulheres. São realizados exercícios corporais para a promoção<strong>de</strong> relaxamento físico e mental, e reabilitação dom<strong>em</strong>bro superior afetado pela mastectomia.Além dos exercícios físicos, a equipe multiprofissionalintegrante do GEPAM oferece ativida<strong>de</strong>s que favoreçamuma melhoria da saú<strong>de</strong> mental com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diminuir,ao máximo e <strong>de</strong> forma significante, as crises <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressãoe <strong>de</strong> angústia, quando existentes.A fim <strong>de</strong> se obter<strong>em</strong> resultados satisfatórios <strong>em</strong> grupos<strong>de</strong> auto-ajuda, é importante atentar-se para a utilização<strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> única e familiar. A receptivida<strong>de</strong>, oestímulo e o apoio dos organizadores contribu<strong>em</strong> para ocrescimento pessoal dos integrantes do grupo. O grupo éum espaço no qual o participante <strong>de</strong>ve ser valorizado comouma pessoa humana, e suas potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser ressaltadase energizadas para a superação das limitações. (15)A psicoterapia t<strong>em</strong> por objetivo ensinar essas mulheresa se cuidar<strong>em</strong> da maneira que elas acredit<strong>em</strong> que irão securar, facilitando assim as intervenções médicas tradicionais. (16)REME – Rev. Min. Enf; 9(1):47-51, jan/mar, 2005 49


Significado do grupo <strong>de</strong>...As mulheres foram questionadas quanto ao significadoe importância do grupo, conforme ilustram os <strong>de</strong>poimentos:É muito bom, fico torcendo que chegue sexta-feira.Esse ambiente <strong>de</strong> conversar, <strong>de</strong> dialogar, é muito bom.(Pandora)As palestras, o relaxamento e a troca <strong>de</strong> experiências.(Helena)... Uma das coisas mais importantes no grupo foi ocurso <strong>de</strong> bijuterias, foi uma distração, um aprendizado,uma fonte <strong>de</strong> renda. (Afrodite)Muito importante todos os cursos oferecidos. (Psique)Percebe-se a valorização que as mulheres atribu<strong>em</strong>ao grupo como espaço <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> relaxamento e oferecimento<strong>de</strong> cursos profissionalizantes.Vale ressaltar que o mecanismo básico <strong>de</strong> um grupo<strong>de</strong> auto-ajuda baseia-se no fenômeno da sugestão, queprocura abafar o trauma individual, focalizando a situação<strong>de</strong>sestruturadora da maioria das integrantes. (7)Espaço EducativoAs mulheres quando submetidas à retirada da mamasent<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manter<strong>em</strong> informadas sobretudo que diz respeito à sua saú<strong>de</strong>. As mulheres que tratamcom sucesso o câncer <strong>de</strong> mama buscam informações,<strong>de</strong> modo particular sobre seu probl<strong>em</strong>a, comportamentoesse que parece estar relacionado com a resistênciaà doença física. (13)T<strong>em</strong>-se percebido, nas experiências <strong>de</strong>senvolvidascom as mulheres do GEPAM, que essas valorizam <strong>de</strong> formarelevante os momentos <strong>de</strong>dicados aos esclarecimentosdas suas dúvidas. Os profissionais, s<strong>em</strong>pre que possível,realizam cursos, s<strong>em</strong>inários e palestras que objetivam<strong>de</strong>ixar essas mulheres b<strong>em</strong> informadas e instruídas a respeito<strong>de</strong> sua condição. A importância do grupo comoapoio educativo foi assim <strong>de</strong>stacada:As informações. Sou muito curiosa, quanto mais eusei, mais quero saber sobre essa doença. (Afrodite)...Sinto-me muito b<strong>em</strong> informada e feliz. (Hera)Uma coisa maravilhosa... As informações sobre saú<strong>de</strong>.(Céris)São muito importantes as informações que a genteprecisa colher. (Andrômeda)Após uma cirurgia para retirada da mama, a mulherpassa a enfrentar situações difíceis. Tanto no pós-operatóriomediato, como no pós-operatório tardio, a mulhermastectomizada vivencia momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio,<strong>de</strong>correntes da cirurgia. As repercussões físicas e psicológicasse apresentam <strong>de</strong> forma significativa, dificultandoo autocuidado da mulher e/ou ocasionando um<strong>de</strong>sequilíbrio <strong>em</strong>ocional que po<strong>de</strong> contribuir para a piorados sintomas fisiológicos. (17)Dessa forma, as orientações a respeito da doença edos tratamentos estabelecidos contribu<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma significativana readaptação física e social da mulher, <strong>de</strong>ixando-asmais tranqüilas quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s. Sob essa ótica os grupos<strong>de</strong> auto-ajuda funcionam como suporte educativo, umavez que possibilitam a troca <strong>de</strong> experiências comuns e oesclarecimento <strong>de</strong> dúvidas dos participantes.Consi<strong>de</strong>rando que a falta ou <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> esclarecimentosfavorece o surgimento <strong>de</strong> complicações no cotidianodas mulheres mastectomizadas, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ixá-lasperturbadas e <strong>de</strong>smotivadas para a vida, os profissionaisdo GEPAM mostram-se disponíveis e capacitados paraajudar as mulheres a se sentir<strong>em</strong> capazes e responsáveispara contribuir com sucesso no tratamento e, conseqüent<strong>em</strong>ente,viver <strong>de</strong> forma mais saudável.Espaço InterativoA convivência entre as mulheres que vivenciaram situaçãocom o câncer <strong>de</strong> mama parece ser um ponto chavena reabilitação das mastectomizadas, além <strong>de</strong> diminuiro estigma e o isolamento social associados à doença. (16)Rotineiramente, nas reuniões do GEPAM, são reservadosmomentos <strong>em</strong> que as mulheres interag<strong>em</strong>, particularmente,com elas mesmas. Nessas ocasiões elas perceb<strong>em</strong>que não são as únicas a ter câncer. A partir <strong>de</strong>ssapercepção, <strong>de</strong>scobr<strong>em</strong> que pod<strong>em</strong> se ajudar mutuamente,uma vez que uma mais experiente po<strong>de</strong> esclarecerdúvidas da outra, aconselhá-la e até mesmo apoiá-la, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndoda ocasião.As mulheres entrevistadas revelam que a partilha <strong>de</strong>experiências com pessoas que sofr<strong>em</strong> dos mesmos probl<strong>em</strong>asé uma forma <strong>de</strong> se incluir no grupo, <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>apoiadas e, a partir daí, conseguir<strong>em</strong> externar seus sentimentos,como d<strong>em</strong>onstram as falas:...É uma troca <strong>de</strong> experiências, eu era muito fechada,eu mu<strong>de</strong>i muito. (Artêmis)Muito importante... A gente partilha, é uma forma <strong>de</strong>apoio, t<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir a outra. (Atena)Troca <strong>de</strong> experiências, sinto-me muito b<strong>em</strong>. É on<strong>de</strong>eu me i<strong>de</strong>ntifico. Eu não me frustro, eu falo, eu meabro. (Pandora)·É muito bom conversar com as outras, a amiza<strong>de</strong>com as meninas. (Helena)A interação entre mulheres que passaram ou estão passandopelas mesmas experiências é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importânciapara que elas encontr<strong>em</strong> suas próprias soluções, visto queesse contato é percebido como um el<strong>em</strong>ento facilitadorda aceitação <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> ser mastectomizada e dacompreensão dos probl<strong>em</strong>as existentes. (18)O compartilhamento <strong>de</strong> sentimentos e reações, a partir<strong>de</strong> um relacionamento que favoreça a discussão e aexploração das idéias dos participantes constitui formaspo<strong>de</strong>rosas <strong>de</strong> terapia para o câncer <strong>de</strong> mama. O fortalecimentodo relacionamento com outras pessoas implica umaresposta favorável do sist<strong>em</strong>a imunológico, tanto mais fortee eficaz, quanto possa ser reforçada pelos d<strong>em</strong>ais sist<strong>em</strong>asdo organismo. (13) As mulheres reforçam a importânciado grupo como um espaço <strong>de</strong> interação e amiza<strong>de</strong>:É uma hora <strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>. (Afrodite)...Uma coisa maravilhosa. Eu me sinto b<strong>em</strong> aqui, eusinto uma auto-ajuda mesmo. Eu relaxo b<strong>em</strong>. (Céris)É muito importantesinto-me b<strong>em</strong>, a amiza<strong>de</strong>.(Medusa)... Aqui a pessoa se distrai, não fica pensando besteira.(Hera)50 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):47-51, jan/mar, 2005


O GEPAM foi referido pelas mulheres como sendo umespaço <strong>de</strong> entretenimento e lazer. Muitas enfatizam que ot<strong>em</strong>po que passam no grupo é um dos poucos momentos<strong>de</strong> suas vidas <strong>em</strong> que se sent<strong>em</strong> b<strong>em</strong> e se divert<strong>em</strong>. Valeressaltar que a gran<strong>de</strong> maioria não dispõe <strong>de</strong> condiçõessocioeconômicas que favoreçam qualquer tipo <strong>de</strong> lazer.Po<strong>de</strong>-se perceber, inclusive, que essas mulheres utilizamtermos bastante eloqüentes, do tipo "coisa maravilhosa","é muito importante", para traduzir seus sentimentosrelacionados ao fato <strong>de</strong> pertencer<strong>em</strong> ao grupo.São, portanto, esses aspectos que nos levam a compreen<strong>de</strong>rque elas consi<strong>de</strong>ram o grupo como um espaço <strong>de</strong>real significado para suas vidas.CONSIDERAÇÕES FINAISPod<strong>em</strong>os perceber que as mulheres que se submeterama uma cirurgia <strong>de</strong> retirada da mama encontram-se<strong>de</strong>bilitadas tanto física quanto psicologicamente. Quando<strong>de</strong>tectamos o significado do grupo <strong>de</strong> auto ajuda para areabilitação <strong>de</strong> mulheres mastectomizadas, levantamos asnecessida<strong>de</strong>s enfrentadas por essas mulheres que nos levama traçar uma melhor assistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.A própria circunstância <strong>de</strong> ser acometida por um câncerjá constitui um fator que suscetibiliza a pessoa avivenciar episódios <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, medo e <strong>de</strong> outras dificulda<strong>de</strong>s,que pod<strong>em</strong> prejudicar as suas relações intrínsecase extrínsecas. Quando uma certa probl<strong>em</strong>ática v<strong>em</strong>afetar também a auto-imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> alguém compromete,<strong>em</strong> particular, a sua auto-estima, tornando esse indivíduoespecialmente sensível e necessitado <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>apoio que o aju<strong>de</strong> a transpor as dificulda<strong>de</strong>s diretas ecorrelacionadas ao fato. É neste ponto que resi<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong>importância do papel do grupo <strong>de</strong> auto-ajuda, facilitandoe criando situações que ajud<strong>em</strong> seus participantesa exteriorizar, mutuamente, suas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> modo atranspor com melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho os vários obstáculossurgidos <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da mastectomia.As mulheres, <strong>em</strong> geral, buscam auxílio <strong>em</strong> grupos <strong>de</strong>auto-ajuda, na tentativa <strong>de</strong> superar os traumas causadospela mastectomia. Os grupos funcionam como centros<strong>de</strong> apoio psicológico, apoio terapêutico, b<strong>em</strong> como, espaçointerativo e educativo, uma vez que proporcionamativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> que elas pod<strong>em</strong> aliviar as tensões, trocarexperiências com outras mulheres que se submeteramaos mesmos tratamentos, manter<strong>em</strong>-se informadas eesclarecidas sobre fatos relacionados ao câncer e a outrosassuntos que sejam do interesse <strong>de</strong>las.A enfermag<strong>em</strong> exerce fundamental importância nostrabalhos realizados nesses grupos, pois é papel do enfermeiroensinar o autocuidado; valorizar o indivíduocomo um ser único, com seus medos e suas dúvidas, visandopromover um crescimento individual, a partir daaceitação do indivíduo como ser único e singular, dandolheestímulo e apoio. Cabe também à enfermag<strong>em</strong> elucidaras dúvidas que surg<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência do tratamentooncológico, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ixar o paciente menos apreensivoe mais crente no seu processo <strong>de</strong> cura.Consi<strong>de</strong>ramos que atingimos os objetivos do estudoquando evi<strong>de</strong>nciamos a importância dada pela mulher aosgrupos <strong>de</strong> auto ajuda; e reforçamos a atuação do enfermeironeste tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, para enfrentar dificulda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma maneira geral apresentadas pela mulher. O papelexpressivo da enfermeira consiste <strong>em</strong> cuidar das pessoas<strong>de</strong> forma integral, total, reconhecendo os principais fatorespsicológicos, sociais, espirituais e ambientais queafetam o b<strong>em</strong>-estar da paciente, e estando apta a ajudar,instrumentalizando essas pessoas para po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> viver <strong>de</strong>forma mais saudável.A assistência à mulher mastectomizada não <strong>de</strong>ve focalizarapenas a doença e a reabilitação física; <strong>de</strong>ve abrangerum contexto amplo, que envolva os aspectos culturais,educacionais, econômicos e sociais <strong>de</strong> cada uma dasmulheres envolvidas no trabalho do grupo. (18)É importante que o enfermeiro saiba i<strong>de</strong>ntificar todas asnecessida<strong>de</strong>s que uma paciente mastectomizada apresenta,para então estabelecer cuidados mais efetivos no programa<strong>de</strong> assistência, respeitando a integralida<strong>de</strong> e a individualida<strong>de</strong>do ser humano <strong>em</strong> questão, facilitando, <strong>de</strong>ssa forma, uma<strong>completa</strong> reabilitação, tanto física quanto psicologicamentee promovendo melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Estimativa <strong>de</strong> incidência e mortalida<strong>de</strong>por câncer no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro; 2002.2. Fernan<strong>de</strong>s AFC. O Cotidiano da mulher com câncer <strong>de</strong> mama. Fortaleza:Fundação Cearense <strong>de</strong> Pesquisa e Cultura; 1997.3. 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O Abandono da Consulta <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>…O ABANDONO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM PORMÃES ADOLESCENTES EM UM CENTRO DE SAÚDE DEBELO HORIZONTE-MG.LACK OF COMPLIANCE TO NURSING CARE BY ADOLESCENT MOTHERS IN A HEALTHCENTER IN BELO HORIZONTE, STATE OF MINAS GERAISABANDONO DE LA CONSULTA DE ENFERMERÍA POR MADRES ADOLESCENTES EN UNCENTRO DE SALUD DE BELO HORIZONTE-MG.Kenia Ribeiro Gabriel 1Cíntia Alves Araújo 2Anézia Moreira Faria Ma<strong>de</strong>ira 3RESUMOTrata-se <strong>de</strong> um estudo exploratório, retrospectivo, realizado no Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> São Paulo, Belo Horizonte/MG, queteve como objetivo i<strong>de</strong>ntificar os motivos que levaram as mães adolescentes a abandonar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>direcionada ao acompanhamento do crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento (CD) <strong>de</strong> seu filho. Participaram do estudo 13adolescentes. Os dados foram coletados por meio <strong>de</strong> questionário contendo perguntas abertas e fechadas. Ausência <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na criança (15,38%); dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> r<strong>em</strong>arcação <strong>de</strong> consultas (23,8%); transferência do controle doCD para o pediatra (15,38%); não r<strong>em</strong>arcação dos retornos (53,84%) e falta <strong>de</strong> estímulo às mães por parte dos profissionaispara dar continuida<strong>de</strong> ao acompanhamento do CD (23,08%) foram os principais motivos do abandono da consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> pelas mães adolescentes.PALAVRAS-CHAVE: Recém-Nascido/Crescimento & Desenvolvimento; Cuidados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; Adolescente; Gravi<strong>de</strong>zna Adolescência; Atenção Integral <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.ABSTRACTThis is a retrospective, exploratory study at the São Paulo Health Center in Belo Horizonte, State of Minas Gerais, withthe objective of i<strong>de</strong>ntifying the reasons for the lack of compliance by adolescent mothers to nursing follow up of theirchildren’s growth and <strong>de</strong>velopment. Thirteen adolescents participated in the study. An open-en<strong>de</strong>d questionnaire wasused to collect the data. The results showed that 15.38% of the mothers dropped the growth and <strong>de</strong>velopment nursingfollow-up because their children did not have any other health probl<strong>em</strong>; 15.38% because they were referred to doctors;23.8% because they had difficulties in making appointments; 53.84% because they did not make the follow up appointments;23.08% because they did not feel motivated enough by the health professionals.KEY WORDS: Infant, Newborn/Growth & Development; Nursing care; Adolescent; Pregnancy in Adolescence;Comprehensive Health Care.RESUMENSe trata <strong>de</strong> un estudio retrospectivo realizado en el Centro <strong>de</strong> Salud São Paulo, Belo Horizonte, Estado <strong>de</strong> Minas Gerais,con el objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar los motivos que llevaron a las madres adolescentes a abandonar la consulta <strong>de</strong> enfermeríacon miras a efectuar el seguimiento <strong>de</strong> crecimiento y <strong>de</strong>sarrollo (CD) <strong>de</strong> sus hijos. Participaron <strong>de</strong> este estudio 13adolescentes. Los datos se recopilaron por medio <strong>de</strong> cuestionarios con preguntas abiertas y cerradas. Los principalesmotivos <strong>de</strong> las madres adolescentes para abandonar la consulta <strong>de</strong> enfermería fueron: ausencia <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> salud enlos niños (15.38%), inconveniencias para volver a marcar consultas (23.8%), transferencias <strong>de</strong> control <strong>de</strong> CD al pediatra(15.38%), regresos obligatorios a las consultas que no se vuelven a marcar (53.84%) y madres poco estimuladas por losprofesionales para dar continuidad al seguimiento <strong>de</strong>l CD (23.08%)Palabras clave: recién nacido/crecimiento y <strong>de</strong>sarrollo; atención <strong>de</strong> enfermería; adolescente; <strong>em</strong>barazo en la adolescencia;atención integral <strong>de</strong> salud.1Aluna do curso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> da EE<strong>UFMG</strong>, Bolsista do CENEX.2Aluna do curso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> da EE<strong>UFMG</strong>, Bolsista do PAD.3Enfermeira. Doutora. Profª Adjunta da EE<strong>UFMG</strong>.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua Munhoz, 125 - B. Jaraguá - CEP: 31255-610. Belo Horizonte/MG.E-mail: aneziamfm@enf.ufmg.br52 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):52-58, jan/mar, 2005


INTRODUÇÃOA consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> é uma ativida<strong>de</strong> implícitanas funções do enfermeiro que, usando <strong>de</strong> sua autonomiaprofissional, assume a responsabilida<strong>de</strong> quanto àsações e intervenções <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas<strong>em</strong> face dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>tectados, com a finalida<strong>de</strong><strong>de</strong> prestar os cuidados que se fizer<strong>em</strong> necessários;ministrar orientações indicadas no momento; encaminharpara outros profissionais quando a competência <strong>de</strong>resolução do probl<strong>em</strong>a fugir do seu âmbito <strong>de</strong> ação. (1)A consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> à criança é uma dasativida<strong>de</strong>s realizadas pelo enfermeiro <strong>de</strong>ntro do sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir serviços <strong>de</strong>stinadosa alcançar os objetivos do Programa <strong>de</strong> AtençãoIntegral à Saú<strong>de</strong> da Criança-PAISC. Esse programa foiinstituído pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1984, com o propósito<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um acompanhamento sist<strong>em</strong>áticodo crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento, b<strong>em</strong> como resolver,a partir das unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a maioriados agravos à saú<strong>de</strong> da criança menor <strong>de</strong> cinco anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>. (2)O acompanhamento e a avaliação contínua do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento da criança evi<strong>de</strong>nciam, precoc<strong>em</strong>ente,os transtornos que afetam a sua saú<strong>de</strong> e,fundamentalmente, sua nutrição, sua capacida<strong>de</strong> mentale social. Permit<strong>em</strong>, ainda, a visão global da criança, inseridano contexto <strong>em</strong> que ela vive, individualizada na sua situaçãopregressa e evolutiva, possibilitando o atendimentohumanizado na medida <strong>em</strong> que se conhec<strong>em</strong> melhoras suas relações no ambiente familiar. (3)Com a implantação e impl<strong>em</strong>entação das ações doPAISC, através da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nos serviçosbásicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, reacen<strong>de</strong>-se uma nova esperança paraa criança <strong>em</strong> termos da melhoria da assistência prestada,e, para o enfermeiro, um melhor posicionamento profissional.As ações governamentais do PAISC voltadas para aprevenção <strong>de</strong> doenças e promoção à saú<strong>de</strong> da criançacontribuíram para o aumento crescente do contingentedas crianças que vêm sobrevivendo <strong>em</strong> nosso paístendo como indicador <strong>de</strong>sse processo a queda na taxa<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong> 70,9 óbitos por 1000 nascidosvivos <strong>em</strong> 1984, para 28,6 óbitos por 1000 nascidosvivos <strong>em</strong> 2001 (4)Em 1997 implantou-se a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong>um Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte/MG, como forma<strong>de</strong> acompanhar o crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento dosfilhos <strong>de</strong> mães adolescentes. Esta ativida<strong>de</strong> passou a fazerparte <strong>de</strong> um Projeto <strong>de</strong> Extensão da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>da <strong>UFMG</strong>, intitulado “Assistência sist<strong>em</strong>atizada à adolescentee seu filho no Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> São Paulo”, oqual integra docentes e alunos/bolsistas da graduação.Inicialmente, com o <strong>de</strong>correr do projeto, fomos percebendoque aumentava a cada dia o número <strong>de</strong> mãesadolescentes freqüentes à consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, sendonecessário ampliarmos o número <strong>de</strong> consultas diárias.Mas, para nossa surpresa, observávamos que algumasadolescentes, consi<strong>de</strong>radas assíduas, não vinham mais àsconsultas. Preocupadas com essa situação, sentimos necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um estudo que indicasse osmotivos que as levaram a abandonar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Apesar <strong>de</strong> todo <strong>em</strong>penho dispensado pelas enfermeirase alunas bolsistas na sensibilização das adolescentespara a continuida<strong>de</strong> do acompanhamento do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento do filho através da consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, elas estavam se afastando <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>.Começamos então a questionar: O que levaria asmães adolescentes a abandonar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>direcionada para o acompanhamento do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus filhos? Os motivos do abandonoestariam relacionados à forma como são atendidasna consulta? Os seus filhos, atingindo <strong>de</strong>terminada ida<strong>de</strong>,não precisariam mais do acompanhamento do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento? Deixariam a consulta pornão acreditar<strong>em</strong> nesta ativida<strong>de</strong>? Ou ainda por questõessocioeconômicas e culturais?Esses questionamentos nos impulsionaram à realizaçãodo presente estudo, que t<strong>em</strong> por objetivo i<strong>de</strong>ntificaros motivos que levaram as mães adolescentes a abandonara consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> direcionada ao acompanhamentodo crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seufilho, na faixa etária <strong>de</strong> 0 a 5 anos.Acreditamos que este estudo po<strong>de</strong>rá indicar formas<strong>de</strong> melhorar a assistência prestada às mães adolescentese seus filhos no Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, assim como contribuirpara a produção científica na enfermag<strong>em</strong> e na saú<strong>de</strong>,uma vez que, ao fazermos o levantamento bibliográficonas várias fontes <strong>de</strong> informação do conhecimento, constatamosa carência <strong>de</strong> assuntos relacionados com at<strong>em</strong>ática abordada.METODOLOGIATrata-se <strong>de</strong> um estudo exploratório, retrospectivo,realizado no Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> São Paulo, unida<strong>de</strong> da Prefeitura<strong>de</strong> Belo Horizonte-MG.Os sujeitos que participaram do estudo foram as adolescentesatendidas pelo projeto, que abandonaram aconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> para o acompanhamento do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus filhos. Foi consi<strong>de</strong>radamãe adolescente, aquela que tinha até 20 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>na data <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> seu filho. Caracterizou-seabandono como a ausência a três consultas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,consecutivas.A coleta <strong>de</strong> dados, inicialmente, foi feita por meio dolevantamento <strong>de</strong> todos os prontuários das criançasagendadas no período <strong>de</strong> fevereiro a <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2002,<strong>em</strong> busca <strong>de</strong> mães adolescentes que abandonaram a consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Foram i<strong>de</strong>ntificados 17 abandonos.Desse total, 13 participaram do estudo, já que 4 mãesnão residiam mais na área <strong>de</strong> abrangência do centro <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>.Após o levantamento do número total <strong>de</strong> abandonos,foram realizadas entrevistas s<strong>em</strong>i-estruturadas comas mães adolescentes <strong>em</strong> seus domicílios, utilizando-separa isto um questionário contendo questões fechadasvisando a coleta <strong>de</strong> dados pessoais e resi<strong>de</strong>nciais, alémda seguinte questão aberta: “O que levou você a abandonaro acompanhamento do crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> seu filho(a)?” (ANEXO).REME – Rev. Min. Enf; 9(1):52-58, jan/mar, 2005 53


O Abandono da Consulta <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>…Antes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao questionário, todas as mãesadolescentes assinaram o Termo <strong>de</strong> Consentimento Livree Esclarecido, que informava sobre os objetivos dapesquisa, a preservação do anonimato e a importância daparticipação <strong>de</strong>las na pesquisa, obe<strong>de</strong>cendo assim, à Resoluçãonº 196/96, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, (5) quetrata <strong>de</strong> pesquisas envolvendo seres humanos. Os dadosforam analisados à luz da literatura e <strong>de</strong> acordo com aexperiência das autoras com o objeto <strong>de</strong> estudo.RESULTADOS E DISCUSSÃODe posse dos prontuários das crianças, i<strong>de</strong>ntificamosum total <strong>de</strong> 56 mães adolescentes que freqüentaram aconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> direcionada ao crescimento e<strong>de</strong>senvolvimento do filho, <strong>em</strong> 2002. Dessas, 17 mãesabandonaram a consulta e 13 participaram do estudo.A análise dos dados foi dividida <strong>em</strong> dois momentos:inicialmente, caracterizamos a população estudada e,posteriormente, levantamos os motivos que levaram aoabandono da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> acordo comos relatos das mães adolescentes.Das 13 mães adolescentes que participaram do estudo,38,46% tinham <strong>de</strong> 17 a 19 anos e 61,54% <strong>de</strong> 20 a 22anos, como é mostrado no Gráfico 1.A adolescência é <strong>de</strong>finida, cronologicamente, pela OMS,como a faixa etária compreendida entre 10 e 20 anos. Noestudo, a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 22 anos, apesar <strong>de</strong> não se caracterizarcomo adolescência, foi consi<strong>de</strong>rada porque as adolescentesque abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> iniciarama puericultura do filho com 20 anos. Observa-se umpercentual maior <strong>de</strong> mães adolescentes acima <strong>de</strong> 19 anos,que abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Em relação ao estado civil das adolescentes, o gráfico2 evi<strong>de</strong>ncia que 69,23% são solteiras; 30,77% amasiadase nenhuma é casada.Pod<strong>em</strong>os inferir, pelos achados da pesquisa, que apresença do companheiro como co-participante nos cuidadosdos filhos, é fator facilitador para que a mãe continuefreqüentando a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Na nossaprática é comum a vinda do casal ao “controle” dacriança.Além disso, por sabermos que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>lasvive com seus familiares, consi<strong>de</strong>ramos também haveralguma influência nos cuidados assumidos pelas adolescentescom o filho, por ex<strong>em</strong>plo, o acompanhamentodo seu crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento.Conforme Machado et al. (6) , <strong>em</strong> estudo realizado acercadas percepções da família sobre a forma como a adolescentecuida do filho, muitas condutas assumidas pelasadolescentes, contrárias ao que é recomendado peloserviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, são <strong>de</strong>correntes da <strong>de</strong>pendência financeiraà família para sobreviver<strong>em</strong>, ficando muitas vezesin<strong>de</strong>cisas sobre qual conduta tomar.Apresentamos no gráfico 3 o abandono da consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> conforme o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> das mãesadolescentes. Como pod<strong>em</strong>os observar, 46,15% possu<strong>em</strong>o 1o grau incompleto; 15,38% apenas o 1o grau; 23,08%o 2º grau incompleto e 15,39% o 2o grau completo.Gráfico 1- Mães adolescentes que abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,segundo faixa etária.CSSP- Belo Horizonte/MG-2002.54 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):52-58, jan/mar, 2005


Gráfico 2 - Mães adolescentes que abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,segundo estado civil. CSSP-Belo Horizonte/MG-2002.Sab<strong>em</strong>os que o fator educação é ponto positivo paraassimilação e aplicação das orientações recebidasdurante a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Quanto maior ograu <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, mais possibilida<strong>de</strong> a adolescenteterá <strong>de</strong> cuidar melhor do filho. O cuidar b<strong>em</strong> implica,inclusive, dar continuida<strong>de</strong> ao acompanhamento docrescimento e <strong>de</strong>senvolvimento até a alta da criança.O grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> das mães é um fator influenciadordo estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da criança. Segundo Almeida et al. (7) ,<strong>em</strong> um estudo avaliando a influência do grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>dos pais sobre o estado nutricional dos filhos, houveassociação entre a subnutrição das crianças e a baixa escolarida<strong>de</strong>dos pais, que interfere na escolha dos alimentosno que diz respeito à sua qualida<strong>de</strong> e a<strong>de</strong>quação.Gráfico 3 - Mães adolescentes que abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,segundo escolarida<strong>de</strong>. CSSP-Belo Horizonte/MG-2002.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):52-58, jan/mar, 2005 55


O Abandono da Consulta <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>…Gráfico 4 - Mães adolescentes que abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,segundo ocupação. CSSP-Belo Horizonte/MG-2002.A análise do gráfico 4 nos mostra que 53,85% dasadolescentes que abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>não exerc<strong>em</strong> nenhuma ativida<strong>de</strong> fora do lar, e 46,15%trabalham fora.Pressupomos que a mãe adolescente tendo mais t<strong>em</strong>popara se <strong>de</strong>dicar ao filho, naturalmente, preocupa s<strong>em</strong>ais com a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>le e dá continuida<strong>de</strong> ao acompanhamentodo seu crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento. No entanto,os achados do estudo retratam o contrário, jáque as mães que mais abandonaram a consulta, foram asque exerc<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s no lar.A nosso ver, a cotidianida<strong>de</strong> dos cuidados maternos,atrelada à ausência <strong>de</strong> intercorrências <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, faz comque as mães adolescentes percebam o filho como “saudável”,culminando assim no abandono do acompanhamentodo crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento.Conforme observamos no gráfico 5, o fato <strong>de</strong> a mãeadolescente residir <strong>em</strong> bairro ou favela não influenciousignificativamente no abandono da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,pois 53,85% moram <strong>em</strong> bairro e 46,15% <strong>em</strong> favela,havendo assim uma aproximação relativa nesta variável.Vale ressaltar que as moradias, <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria,estão localizadas próximo ao Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, o quenão justifica o abandono da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.No tocante às condições da moradia, 98% das adolescentespossu<strong>em</strong> saneamento básico a<strong>de</strong>quado, ou seja,água tratada, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto e lixo coletado; 85% moram<strong>em</strong> casa própria; variando <strong>de</strong> 2 a 7 cômodos; 100%das casas são <strong>de</strong> alvenaria.Ao questionarmos as adolescentes sobre os motivosque as levaram a abandonar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,alegaram: a ausência <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na criança(15,38%); transferência do acompanhamento do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento para o pediatra (15,38%); transferênciada responsabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> levar o filho à consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> para os familiares (7,69%); dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> r<strong>em</strong>arcação <strong>de</strong> consultas (23,08%) falta <strong>de</strong> estímuloàs mães por parte dos profissionais para dar continuida<strong>de</strong>ao acompanhamento do crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> seu filho (23,08%); e a não r<strong>em</strong>arcação dosretornos (53,84%).Evi<strong>de</strong>ncia-se a não r<strong>em</strong>arcação dos retornos como omotivo principal que levou as adolescentes a abandonara consulta. Na sist<strong>em</strong>atização da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,o retorno faz parte das condutas do enfermeiro;cabe, portanto, garantir o retorno da adolescente, paraque ela dê continuida<strong>de</strong> ao acompanhamento do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento do filho.CONSIDERAÇÕES FINAISEntre os fatores que levaram as mães adolescentes aabandonar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, apresentados pelapesquisa, verificamos que <strong>em</strong> muitos <strong>de</strong>les é possível aintervenção do profissional enfermeiro.As <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> informações por parte das mãesadolescentes, tanto sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong>ao acompanhamento do crescimento e <strong>de</strong>senvolvimentodo filho, quanto sobre a importância <strong>de</strong>sseprograma na prevenção <strong>de</strong> doenças e na promoção dasaú<strong>de</strong>, são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> falhas ocorridas na consulta <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, que contribuíram para o abandono da mãeà consulta da criança.A pediatria trata <strong>de</strong> pessoas essencialmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> fatores familiares e ambientais, <strong>de</strong> modo que56 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):52-58, jan/mar, 2005


é necessária uma intensa ação educativa com a família ea comunida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> garantir que orientações sejamdadas para facilitar o suprimento das necessida<strong>de</strong>s dacriança, necessida<strong>de</strong>s biológicas e psicossociais específicas,que são inerentes ao processo <strong>de</strong> crescimento e<strong>de</strong>senvolvimento humano, predominant<strong>em</strong>ente nos primeirosanos <strong>de</strong> vida. (8)Diante do <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se trabalhar com a consulta <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> direcionada para o acompanhamento docrescimento e <strong>de</strong>senvolvimento da criança, ao lidarmoscom as mães adolescentes, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os utilizar uma linguag<strong>em</strong>simples e acessível e dispormos <strong>de</strong> mais t<strong>em</strong>po paraorientá-las, facilitando o entendimento das informaçõesrepassadas. Além disso, é importante procurarmos conhecerseus recursos socioeconômicos e suas particularida<strong>de</strong>sculturais, para transformarmos nossas orientações<strong>em</strong> medidas acessíveis à realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada uma.Dentro do contexto da pesquisa, as visitas domiciliaressurg<strong>em</strong> como proposta para os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,como forma <strong>de</strong> resgatar essas mães adolescentes queabandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, na tentativa <strong>de</strong>que dê<strong>em</strong> continuida<strong>de</strong> ao acompanhamento do crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento dos seus filhos.Faz-se necessária, também, a sensibilização dos d<strong>em</strong>aisprofissionais que atuam no Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, nosentido <strong>de</strong> divulgar<strong>em</strong> melhor o projeto <strong>de</strong> assistência àmãe adolescente e ao seu filho, a fim <strong>de</strong> estimulá-la acontinuar freqüentando a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1- Campe<strong>de</strong>lli MC, Friedlanter MR. Cuidados com recém-nascidos epuérperas executados por enfermeira durante a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Rev Gaúcha Enf, Porto Alegre, 1988 <strong>de</strong>z.; 9(2): 82-92- Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Programa <strong>de</strong> Assistência Integral à Saú<strong>de</strong>da Criança. Ações básicas. Brasília: Centro <strong>de</strong> Documentação do Ministérioda Saú<strong>de</strong>; 1984 . Textos Básicos, 7.3- Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento. Brasília;1994. [ Citado <strong>em</strong> 10-10-2004]. Disponível <strong>em</strong>: .4- Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Atenção integrada às doenças prevalentesna infância (AIDPI). Brasília: Organização Pan-Americana da Saú<strong>de</strong>; 2003.5-Brasil. Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Diretrizes e normasregulamentadoras <strong>de</strong> pesquisas envolvendo seres humanos. Resolução196/96. Inf Epid<strong>em</strong>iol SUS, Brasília, 1996 abr./jun.; (6):12-41.6- Machado FN. Percepções da família sobre a forma como a adolescentecuida do filho. Rev Esc Enf USP, São Paulo, 2003; 37(1):11-8.7- Almeida CAN. Determinação da influência da escolarida<strong>de</strong> dos paisno estado nutricional <strong>de</strong> crianças. Rev Pediatr Mod, São Paulo, 1999;35(9):707-12.8- Dupas G. Consi<strong>de</strong>rações sobre o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da criança. RevEsc Enf USP, São Paulo, 1993; 27(3):362-71.Gráfico 5- Mães adolescentes que abandonaram a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, segundo a localizaçãoda moradia. CSSP-Belo Horizonte/MG-2002.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):52-58, jan/mar, 2005 57


O Abandono da Consulta <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>…ANEXOFORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOSNº do prontuário___________________1 - Nome da adolescente: ____________________________________________________________________.2 - Nome(s) do(s) filho(s): ____________________________________________________________________.3 - Ida<strong>de</strong> da adolescente: ___________anos.4 - Estado civil: ( ) casada ( ) amasiada ( ) solteira5 - <strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong>: ( ) analfabeta ( ) 1º Grau Incompleto. Estudou até______série.( ) 1º Grau Completo ( ) 2º Grau Incompleto. Estudou até ______série.( ) 2º Grau Completo6 - Ocupação: ______________________________________________________________________________.7 - Com qu<strong>em</strong> mora:( ) pai da criança ( ) próprios pais ( ) amigos( ) outros parentes. Especifique: _________________________________________.8 - En<strong>de</strong>reço atual: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.9 - Local on<strong>de</strong> mora: ( ) casa ( ) barraco ( ) outros. Especifique; ________________.10 - Local on<strong>de</strong> mora é: ( ) adquirido ( ) cedido ( ) alugado. Valor do aluguel _____________.11 - Nº <strong>de</strong> cômodos: _______ 12- Nº <strong>de</strong> moradores: ________13 - Localização da moradia: ( ) bairro ( ) favela14 - Saneamento:a) Água: ( ) água própria tratada (Copasa) ( ) água cedida( ) outros. Especifique_______________________________.b) Esgoto: ( ) esgoto canalizado ( ) fossa séptica ( ) fossa rudimentar( ) outros. Especifique_______________________________.15- O que levou você a abandonar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> para acompanhamento do crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> seu filho(a) (“controle”)?____58 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):52-58, jan/mar, 2005


DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E SABERES: O CASO DOAGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE NO PROGRAMA DESAÚDE DA FAMÍLIA DE NOVA CONTAGEM/ MINAS GERAIS 1DIVERSITY OF PRACTICES AND KNOWLEDGE: THE CASE OF THECOMMUNITY HEALTH AGENT IN THE FAMILY HEALTH PROGRAM IN NOVA CONTAGEM,STATE OF MINAS GERAIS, BRAZILDIVERSIDAD DE PRÁCTICAS Y SABERES: EL CASO DEL AGENTE COMUNITARIO DESALUD EN EL PROGRAMA DE SALUD DE LA FAMILIA DE NOVA CONTAGEM/MINAS GERAISMarília Rezen<strong>de</strong> da Silveira 2Roseni Rosângela <strong>de</strong> Sena 3RESUMOEste artigo discute a inserção do Agente Comunitário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> na Equipe <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, <strong>em</strong> Contag<strong>em</strong>/MG, naperspectiva da promoção à saú<strong>de</strong>. Caracteriza-se como um estudo qualitativo, <strong>de</strong>scritivo - analítico. Os instrumentos dacoleta <strong>de</strong> dados consistiram na observação <strong>de</strong> campo e na entrevista individual. Os resultados apontam o ACS com perfilcompatível para realização <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> e mobilização comunitária. Ficou explícito que seu trabalhot<strong>em</strong> resultado na cooperação <strong>de</strong> distintos profissionais com perspectivas <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> e inter<strong>de</strong>pendência dasações, cont<strong>em</strong>plando as dimensões técnica e ética no reconhecimento e consi<strong>de</strong>ração do trabalho do outro.PALAVRAS-CHAVES: Promoção da Saú<strong>de</strong>, Saú<strong>de</strong> da Família, Auxiliares <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Comunitária, Equipe <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Comunitária.ABSTRACTThis article discusses the insertion of Community Health Agents in the Family Health Teams in Contag<strong>em</strong>, State of MinasGerais, from the point of view of health promotion. It is a qualitative, <strong>de</strong>scriptive-analytical study. The data collectingtools were field observation and individual interviews. The results indicate that the community agent has a profile compatiblewith the tasks of health promotion and community mobilization. It became clear that the work of the health agent iseffective when there is cooperation between different professionals compl<strong>em</strong>enting each other with inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce,recognizing the technical and ethical dimension in recognizing and appreciating the work of others.KEY WORDS: health promotion, family health, community health agent ; community health team.RESUMENEl presente artículo enfoca la inserción <strong>de</strong>l agente comunitario <strong>de</strong> salud en el equipo <strong>de</strong> salud <strong>de</strong> la familia, en Contag<strong>em</strong>/MG, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la perspectiva <strong>de</strong> promoción <strong>de</strong> la salud.Se trata <strong>de</strong> un estudio cualitativo, <strong>de</strong>scriptivo – analítico, cuya recopilación <strong>de</strong> datos se llevó a cabo con las siguientesherramientas: observación <strong>de</strong> campo y entrevista individual. Los resultados señalan que el perfil <strong>de</strong>l ACS es compatiblecon la tarea que realiza <strong>de</strong> promover la salud y movilizar a la comunidad. Ha quedado explícito que su tarea da resultadospositivos en la cooperación <strong>de</strong> distintos profesionales que buscan acciones compl<strong>em</strong>entarias e inter<strong>de</strong>pendientes, cont<strong>em</strong>plandolas dimensiones técnica y ética en lo referente a reconocimiento y consi<strong>de</strong>ración <strong>de</strong>l trabajo <strong>de</strong>l otro.Palabras clave: promoción <strong>de</strong> la salud, salud <strong>de</strong> familia, auxiliares <strong>de</strong> salud comunitaria, equipo <strong>de</strong> salud comunitaria.1Este artigo foi extraído da dissertação <strong>de</strong> mestrado intitulada: “A Inserção do Agente comunitário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família: <strong>de</strong>safios e oportunida<strong>de</strong>s,<strong>de</strong>fendida <strong>em</strong> 23/02/2001 na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong> .2Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professora Assistente do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Aplicada da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>.3Professor Doutor da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>.Orientadora da DissertaçãoEn<strong>de</strong>reço para correspondência: Av. Alfredo Balena, 190 - Centro – Belo Horizonte - MG CEP 30130-100Email: marilia@polopsf.ufmg.brREME – Rev. Min. Enf; 9(1):59-64, jan/mar, 2005 59


DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E SABERES…INTRODUÇÃOA implantação do Programa Saú<strong>de</strong> da Família (PSF),consi<strong>de</strong>rada como a principal estratégia para areorientação da assistência à saú<strong>de</strong> a partir da atençãobásica no âmbito do SUS, v<strong>em</strong> trazendo gran<strong>de</strong>s avançosno processo <strong>de</strong> municipalização da saú<strong>de</strong> e contribuindopara a mudança do mo<strong>de</strong>lo assistencial vigente. Esta estratégiabusca alavancar um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção àsaú<strong>de</strong> oferecendo uma melhor cobertura assistencialdirigida à família e à comunida<strong>de</strong>, incluindo ações <strong>de</strong> promoçãoà saú<strong>de</strong>, prevenção <strong>de</strong> agravos e tratamento dasdoenças. Sabe-se, entretanto, que este cenário apresentadiscussões recheadas <strong>de</strong> controvérsias e incertezas,uma vez que a assistência à saú<strong>de</strong> t<strong>em</strong> sido marcada,secularmente, por carências e limitações. Nesse artigo,<strong>de</strong>stacamos a inegável cooperação <strong>de</strong> distintos trabalhadoresque atuam no setor saú<strong>de</strong> e, entre eles, citamos oAgente Comunitário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (ACS), objeto <strong>de</strong>ste estudo.Na proposta do PSF ele se apresenta com possibilida<strong>de</strong>e potencial para estabelecer um vínculo da equipe<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da família com o usuário e contribuir na inscriçãoda intersetorialida<strong>de</strong>, compreendida como um campo<strong>de</strong> saber e prática na produção <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Está preconizado pela portaria do Ministério da Saú<strong>de</strong>que o ACS, no exercício <strong>de</strong> suas funções, <strong>de</strong>verá saberler e escrever; residir na área <strong>de</strong> abrangência há pelomenos dois anos; dispor <strong>de</strong> 8 horas/dia para o trabalho;conhecer a população da área <strong>de</strong> abrangência da equipe;ter espírito <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, solidarieda<strong>de</strong> e ser responsávelpor 400 a 750 habitantes (1-2) .Sua atuação pressupõeaproximação efetiva com a população adscrita à unida<strong>de</strong>,conhecimento dos probl<strong>em</strong>as sociais da comunida<strong>de</strong>,capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> aceitação e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>influência para gerar críticas e assim contribuir para aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população, a partir da visão holísticaintegralizadora sobre o ser humano. O PSF <strong>de</strong>fine umconjunto <strong>de</strong> competências para o ACS, expressas tantopelo elenco <strong>de</strong> ações propostas quanto pela varieda<strong>de</strong><strong>de</strong> tarefas a ele atribuídas. Este <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho requer atitu<strong>de</strong>se habilida<strong>de</strong>s específicas e atitudinais no processo<strong>de</strong> monitoramento à família no domicílio, uma vez queele pontualmente está na linha <strong>de</strong> frente para receber asqueixas da população e às vezes respon<strong>de</strong>r a elas. Nessecontexto, se insere esta pesquisa que teve como objeto<strong>de</strong> trabalho analisar a atuação do ACS na equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>da família no município <strong>de</strong> Contag<strong>em</strong>/MG.DESENHO DO ESTUDOPara captar e compreen<strong>de</strong>r a inserção do ACS comotrabalhador <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no PSF, relacionando-o com a estratégiapreconizada <strong>de</strong> reorientação da atenção básicano âmbito do SUS, optou-se por um estudo <strong>de</strong>scritivoanalítico,<strong>de</strong> abordag<strong>em</strong> qualitativa. Essa opção ofereceu,entre outras possibilida<strong>de</strong>s, uma flexibilida<strong>de</strong> analítica,favorecendo a etapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação do significadodas informações, s<strong>em</strong> quantificação das mesmas,respeitando a experiência natural do pesquisado como fenômeno <strong>em</strong> estudo. (3) O referencial filosófico <strong>em</strong>etodológico <strong>de</strong>ste estudo seguiu os princípios do MaterialismoHistórico Dialético (MHD) por compreen<strong>de</strong>rser essa uma corrente filosófica que permite captar,compreen<strong>de</strong>r e explicar os fenômenos observadosna realida<strong>de</strong>, a qual se encontra <strong>em</strong> um contínuo movimento.(4) A perspectiva <strong>de</strong> se trabalhar sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssaconcepção permitiu uma melhor visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sseobjeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>em</strong> suas dimensões diversas e nosprocessos dinâmicos <strong>de</strong> transformação. Para atingir arealida<strong>de</strong> na qual se expressa o fenômeno <strong>de</strong>sse estudo,foi captada a singularida<strong>de</strong> da prática do ACS, evi<strong>de</strong>nciandosuas particularida<strong>de</strong>s no contexto da práticados d<strong>em</strong>ais m<strong>em</strong>bros da equipe. A captação do singulare do particular possibilitou a aproximação da totalida<strong>de</strong><strong>de</strong> suas práticas no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção do PSF,contribuindo para a formulação da antítese e <strong>de</strong> umanova tese.AMBIENTE DO ESTUDOEste estudo foi <strong>de</strong>senvolvido na Regional Noroestedo município <strong>de</strong> Contag<strong>em</strong> localizado na Região Metropolitana<strong>de</strong> Belo Horizonte <strong>de</strong>nominada Nova Contag<strong>em</strong>no ano <strong>de</strong> 2000. Esta Regional contava na época doestudo, com 15 equipes do PSF compostas,cada uma,por: 1 médico generalista, 1 enfermeiro, 1 auxiliar <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, 4 a 6 agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>totalizando, aproximadamente, 120 trabalhadores <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>.Cada equipe atendia, cerca <strong>de</strong>, 617 famílias, e <strong>em</strong>média 154 famílias por microárea, sob a responsabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> um agente comunitário.SUJEITOS DA PESQUISAO grupo <strong>de</strong> entrevistados foi constituído por 10 ACS,4 enfermeiros, 2 médicos e 4 auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>que atuam nas 15 equipes do PSF. Os critérios para a<strong>de</strong>finição dos sujeitos consi<strong>de</strong>raram:• unida<strong>de</strong> básica com equipe <strong>completa</strong> do PSF há mais<strong>de</strong> um ano;• ACS inserido no processo <strong>de</strong> trabalho há mais <strong>de</strong>um ano e exercendo suas ativida<strong>de</strong>s junto à populaçãoadscrita na sua área <strong>de</strong> abrangência;• ACS ter passado pelo treinamento introdutório oferecidopela SMSA e PCFEP-SF.Constatando-se que todas as quinze equipes do PSF<strong>de</strong> Nova Contag<strong>em</strong> se enquadraram nos critérios estabelecidos,foi necessário um sorteio, seguido da elaboração<strong>de</strong> uma lista por ord<strong>em</strong> numérica, para o início dacoleta <strong>de</strong> dados.Para assegurar maior confiabilida<strong>de</strong> ao instrumento,foi aplicado um pré-teste, <strong>em</strong> um dos componentes daprimeira equipe do PSF sorteada, cujos dados não foramintegralizados no estudo, porém, permitiram validar aquestão norteadora. As entrevistas, totalizando 20, aconteceramrespeitando a ord<strong>em</strong> do sorteio, sendo consi<strong>de</strong>radassuficientes, para elucidar, momentaneamente, ofenômeno <strong>em</strong> estudo.As entrevistas foram encerradasquando nenhuma informação nova estava sendo acrescentadaao estudo.A coleta <strong>de</strong> dados consi<strong>de</strong>rou os aspectos éticos legais<strong>de</strong> pesquisa, envolvendo seres humanos e orientousepela Resolução n. º 196/96 do Conselho Nacional <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong>. A cada sujeito informante foi entregue uma carta60 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):59-64, jan/mar, 2005


<strong>de</strong> apresentação da pesquisadora, informando-o sobreo objetivo da pesquisa, a que se <strong>de</strong>stinava a utilizaçãodos dados e compromisso <strong>de</strong> sigilo quanto às informaçõescedidas. A concordância dos sujeitos informantes<strong>em</strong> participar do processo <strong>de</strong> investigação incluiu a autorizaçãopara a gravação, na íntegra, dos <strong>de</strong>poimentose divulgação dos dados.A CONSTRUÇÃO DOS DADOS EMPÍRICOSComo forma <strong>de</strong> captar a realida<strong>de</strong> <strong>em</strong>pírica, duas etapasforam consi<strong>de</strong>radas: a observação direta do trabalhodas equipes e a entrevista individual, com um roteiros<strong>em</strong>i-estruturado. Uma vez gravado, o conteúdo das entrevistasfoi, <strong>em</strong> seguida, transcrito e proce<strong>de</strong>u-se àcodificação com a perspectiva <strong>de</strong> se garantir o anonimatodos entrevistados. As entrevistas foram numeradas<strong>de</strong> 1a 20, indicando a ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> que foram realizadas.Na análise das informações obtidas através da entrevistaindividual, e após várias leituras, utilizou-se o procedimentoanalítico <strong>de</strong> Análise do Discurso, com o propósito<strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r os t<strong>em</strong>as e as figuras <strong>de</strong> significaçãocontidas no discurso e, <strong>em</strong> seguida, categorizá-los porsimilarida<strong>de</strong> (5-6) .RESULTADOS E DISCUSSÃOA segmentação e interpretação dos textos narrativospossibilitaram a construção <strong>de</strong> duas categorias <strong>em</strong>píricas:Organização das práticas sanitárias que se articuloucom as subcategorias <strong>de</strong>nominadas Mo<strong>de</strong>loAssistencial e Vigilância à Saú<strong>de</strong> (VS) e o Processo<strong>de</strong> trabalho do ACS na equipe do PSF com assubcategorias: O trabalho do ACS; O ACS e afamília;O ACS e a equipe.ORGANIZAÇÃO DAS PRÁTICASSANITÁRIASPo<strong>de</strong>-se dizer que a passag<strong>em</strong> do mo<strong>de</strong>lo tradicional,tecnicista, biologicista, individual, para um inovador, mediantea adscrição da clientela a uma equip<strong>em</strong>ultiprofissional, se apresentou como um movimento dinâmicoe contínuo requerendo dos trabalhadores e dapopulação convivência com as contradições, com os limitese possibilida<strong>de</strong>s das atuais políticas <strong>em</strong>anadas pelosórgãos governamentais que se constro<strong>em</strong> e se reproduz<strong>em</strong><strong>em</strong> um processo caracterizado por avanços e retrocessos.As possibilida<strong>de</strong>s, aqui relacionadas, diz<strong>em</strong> respeitoà concordância e ao apoio institucional, representadopelo então Secretário Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com a<strong>de</strong>rênciaao propósito <strong>de</strong> in<strong>versão</strong> do mo<strong>de</strong>lo assistencialvigente. Os limites são muitos, porém, <strong>de</strong>stacam-se a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> um maior suprimento <strong>de</strong> insumos, a disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> recursos humanos <strong>em</strong> qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong>e um sist<strong>em</strong>a eficaz <strong>de</strong> referência e contra-referência.MODELO ASSISTENCIALMo<strong>de</strong>los assistenciais são formas <strong>de</strong> organizaçãotecnológica concebida como modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizaçãodo trabalho e como um saber. São estruturados para oenfrentamento <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as no processo <strong>de</strong> prestaçãodo serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. (7) Hoje se convive, <strong>de</strong> forma contraditóriaou compl<strong>em</strong>entar, com mo<strong>de</strong>los assistenciaisdiversos, como o mo<strong>de</strong>lo médico assistencial privativistaque enfatiza a assistência médico-hospitalar e serviços<strong>de</strong> apoio diagnóstico e terapêutico. Essa prática, consolidadahá anos, permeia o senso comum da população, aformação dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, configurando-secomo um mo<strong>de</strong>lo heg<strong>em</strong>ônico consolidado e direcionadopelo enfoque biologicista e por ações curativas.Paralelamente, coexiste um mo<strong>de</strong>lo assistencial sanitaristaorientado por ações <strong>de</strong> natureza epid<strong>em</strong>iológicae sanitária pelo controle <strong>de</strong> vetores, imunização, educaçãoe saú<strong>de</strong>, saneamento e ativida<strong>de</strong>s advindas dos programasespeciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, <strong>em</strong>anadas pelo MS.Como mo<strong>de</strong>lo alternativo e estruturante, observa-se ummovimento a favor da VS, enfatizando a importância <strong>de</strong>um marco explicativo do processo saú<strong>de</strong>/doença que integree articule ações intersetoriais com intervençõesespecíficas na promoção da saú<strong>de</strong>, prevenção <strong>de</strong> agravos,recuperação e reabilitação <strong>em</strong> dupla dimensão: individuale coletiva. (8) No cenário <strong>de</strong>ste estudo, a estratégiado PSF <strong>de</strong>staca-se como uma proposta <strong>de</strong> mudançada lógica da concepção tradicional do processo saú<strong>de</strong>/doença fundamentado na causa e efeito, <strong>de</strong> forteconotação da atenção médica, para o da produção socialda saú<strong>de</strong> estabelecendo novas formas <strong>de</strong> gestão com o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s inovadoras aproximandoa população da produção/oferta e consumo das ações eserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. (9)Evi<strong>de</strong>ncia-se nos discursos dos entrevistados que hojese trabalha com responsabilização da equipe do PSF pelaárea <strong>de</strong> abrangência, <strong>de</strong>finida a priori. Tal fato r<strong>em</strong>etepara um <strong>de</strong>slocamento da figura do médico, consi<strong>de</strong>rado,secularmente, como eixo central da assistência à saú<strong>de</strong>,conforme se observa nos seguintes <strong>de</strong>poimentos“... quer dizer, o ACS ajuda também nessa<strong>de</strong>scentralização da figura do médico, muitas vezesa população procura o ACS para estar passando oseu caso. Não é só direto médico direto consulta.Ele também ajuda nessa... nessa <strong>de</strong>scentralizaçãomesmo da figura médica que é comum no outromo<strong>de</strong>lo (ENF. 3.27)”...”a nossa equipe hoje trabalhacom um número <strong>de</strong> famílias já <strong>de</strong>finidas. O médico, o enfermeiro ,t<strong>em</strong> que gostar do trabalho doPSF que é b<strong>em</strong> diferente <strong>de</strong> qualquer trabalho quefaria o médico <strong>em</strong> um posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> sósimplesmente aten<strong>de</strong>r um paciente que está doentee pronto. Você aqui é outra coisa.Você t<strong>em</strong> quesaber que vai visitar famílias carentes ,que muitasvezes a casa está supre-suja e você t<strong>em</strong> <strong>de</strong> apoiarno ACS para modificar o estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssafamília(Méd.1.40)”.Esses discursos permit<strong>em</strong> revelar que as ações <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> estão sendo compartilhadas com outros m<strong>em</strong>brosda equipe e que não se limitam ao atendimento oferecidona UBS, indo além <strong>de</strong>ssa função primeira. As queixasdos indivíduos são vistas <strong>de</strong>ntro e fora da UBS, e o gran<strong>de</strong><strong>de</strong>safio t<strong>em</strong> consistido <strong>em</strong> localizar a d<strong>em</strong>anda individualno contexto social.O ACS, reconhecido como espeque no PSF, encontra-sena linha <strong>de</strong> frente <strong>de</strong>sse processo realizando a buscaREME – Rev. Min. Enf; 9(1):59-64, jan/mar, 2005 61


DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E SABERES…ativa <strong>de</strong> pessoas com acometimentos e/ou enfermida<strong>de</strong>s,monitorando a população nas suas queixas adversase fazendo triag<strong>em</strong> dos casos clínicos e epid<strong>em</strong>iológicospara a equipe. Porém, a organização do trabalho, paraaten<strong>de</strong>r a d<strong>em</strong>anda espontânea, é uma característica quecontinua presente e heg<strong>em</strong>ônica no atual mo<strong>de</strong>lo, <strong>em</strong>contraste com o crescente processo <strong>de</strong> mudança daspráticas sanitárias. Relata-nos um entrevistado:“... uma gran<strong>de</strong> parte da d<strong>em</strong>anda que aparece éencaminhada pelo ACS, paciente que passou mal eque está precisando da atenção médica. Mas ad<strong>em</strong>anda espontânea, com certeza, é b<strong>em</strong> maior...”(MED. 2.43).Foi evi<strong>de</strong>nciado que, no atual mo<strong>de</strong>loassistencial, a doença assume a centralida<strong>de</strong> daorganização dos recursos disponíveis no setor saú<strong>de</strong> ese subordina à tecnificação do ato médico.VIGILÂNCIA À SAÚDEA vigilância à saú<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong> o marco comum <strong>em</strong>que vigoram as práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Nela os meios <strong>de</strong>trabalho são a comunicação social, o planejamento e aprogramação local situacional e as tecnologias médicosanitárias.(10) No cenário <strong>de</strong>sta pesquisa, observou-seque as ações do ACS estão direcionadas para prevençãoda doença, conforme explicita este entrevistado:“... O ACS está indo às casas, fazendo seu trabalho,orientando sobre como amamentar uma criança, comocuidar <strong>de</strong> um umbigo, né? E... a higiene, a alimentação,a vacina das crianças, cartões atrasados, então tudoisso está sendo um trabalho feito pelo ACS. Eu achoque isso está ajudando muito porque está fazendo opovo a ter uma certa cultura sobre o que é saú<strong>de</strong>, oque é uma higiene do próprio corpo, como cuidar dosseus filhos, né; este trabalho ajuda muito” (ACS 4.12).Esse enunciado reafirma o papel estratégico do ACSnas equipes do PSF. Denota também que, ao realizarações <strong>de</strong> natureza educativa eles contribu<strong>em</strong> para amudança do estilo <strong>de</strong> vida da população, para a prevenção<strong>de</strong> agravos e a promoção da saú<strong>de</strong>. Todavia o trabalhointersetorial é insuficiente diante das d<strong>em</strong>andas enecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da área <strong>em</strong> estudo.O PROCESSO DE TRABALHO DO ACS NAEQUIPE DO PROGRAMA DE SAÚDE DAFAMÍLIAFoi constatado, na observação <strong>de</strong> campo e nos dadosdas entrevistas, que o processo <strong>de</strong> trabalho das equipesapresentou características que pod<strong>em</strong> ser relacionadascom o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pordiferentes trabalhadores que se apresentam com habilida<strong>de</strong>s,qualificações e responsabilida<strong>de</strong>s diferenciadas no<strong>de</strong>senvolvimento das ações. Na organização do processo<strong>de</strong> trabalho das equipes do PSF, o ACS assume o papel<strong>de</strong> realizar as ações <strong>de</strong> vigilância à saú<strong>de</strong> nos indivíduose comunida<strong>de</strong> concorrendo, na execução <strong>de</strong> suasações, para otimizar a qualida<strong>de</strong> e resolutivida<strong>de</strong> dosserviços oferecidos, ampliando a participação da populaçãono cotidiano da equipe. Suas ativida<strong>de</strong>s estãocorrelacionadas ao processo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>senvolvidopela equipe que <strong>de</strong>fine a princípio, prioriza e particularizasua intervenção junto à população na produção docuidado à saú<strong>de</strong>.O TRABALHO DO ACSA função do ACS nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com perfilocupacional diferenciado <strong>em</strong> relação aos d<strong>em</strong>ais profissionais,muitas vezes aproximam-se às das funçõesexercidas pelos trabalhadores da enfermag<strong>em</strong> e outrasvezes às das funções do assistente social, <strong>de</strong>notando umacontradição que ao mesmo t<strong>em</strong>po se encontra <strong>em</strong> harmoniana realida<strong>de</strong> concreta (11) . Ele <strong>de</strong>senvolve ativida<strong>de</strong>spróprias dos diferentes campos <strong>de</strong> saberes, conformese revela na fala:“. O meu trabalho é <strong>de</strong> estar buscando, né? Não adoença, mas a causa e estar prevenindo acomunida<strong>de</strong>, né? A população, <strong>de</strong> estar crescendo eaumentando essa doença. E estar também, dandoconselhos à população para estar conscientizandoda causa da doença, <strong>de</strong> estar prevenindo antes queela chegue, né? Mas, além disso, t<strong>em</strong> o trabalhotambém que é o trabalho social. De estar resgatandoa cidadania da população, <strong>de</strong> estar fazendo açãoeducativa” (ACS 3.6).Po<strong>de</strong>-se inferir que o ACS, ao realizar suas ações,estabelece relações com a população, orientando, encaminhandoe acompanhando, tanto para evitar a propagaçãodas doenças como sendo ouvinte das mazelas advindasdo dia-a-dia.Suas ações, teoricamente, estão direcionadaspara a promoção da saú<strong>de</strong> e a prevenção das doenças.Essa é uma questão complexa, pois envolve uma mudança<strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida e sabe-se que a influência da carga culturalsobre <strong>de</strong>terminados cuidados inerentes ao processosaú<strong>de</strong>/doença faz com que o conhecimento popular sobressaia<strong>em</strong> relação ao saber científico.O discurso dos entrevistados fez <strong>em</strong>ergir uma compreensãoacerca <strong>de</strong>ssa questão:“... a gente não fala para a mãe, ô mãe o filho dasenhora não po<strong>de</strong> ficar jogando é... bola <strong>de</strong>scalço não,no meio <strong>de</strong>ssa água. Não, a gente t<strong>em</strong> que incentivara mãe a falar e mostrar para ela porque é que nãopo<strong>de</strong>“(ACS 3:54)... ”eu oriento que ele t<strong>em</strong> que cuidarpara não ficar jogando lixo no terreiro, <strong>de</strong>ixando lixoespalhado, para estar queimando lixo, ou entãocolocando na coleta. Não ficar jogando <strong>em</strong> buraco,n<strong>em</strong> nada. E falo que o lixo causa rato e que o ratoestá trazendo vários tipos <strong>de</strong> doença, eu oriento isso”(ACS 5.34).Percebe-se nesses discursos que o ACS se <strong>de</strong>paracom situações <strong>de</strong> difícil intervenção, mas, com uma práticasingular, tenta <strong>em</strong> um meio complexo e contraditório,orientar a população para adquirir comportamentossaudáveis e compatíveis com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Contudo,muitas vezes, a população ainda não legitima o seulugar <strong>de</strong> trabalhador <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, talvez por enten<strong>de</strong>r que asua inscrição neste espaço não se <strong>de</strong>u por um curso <strong>de</strong>formação específica, o que dificulta muitas vezes a a<strong>de</strong>sãoàs suas recomendações“ ... nós orientamos, só que a gente t<strong>em</strong> uma certadificulda<strong>de</strong> com as pessoas, porque muitas vezes elasnão aceitam o que a gente fala. Então para a gente62 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):59-64, jan/mar, 2005


conversar com essas pessoas sobre a higiene da casat<strong>em</strong> que saber como começar a falar” (ACS 1.34).Perceb<strong>em</strong>-se, nesses discursos, dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>orientação à população, pois, parece que ela se mostrapouco susceptível às alterações do modo <strong>de</strong> vida,tornando-se muitas vezes arredia. Isso evi<strong>de</strong>ncia anatureza dialética do processo e a dificulda<strong>de</strong> dapopulação <strong>em</strong> absorver os princípios da promoção dasaú<strong>de</strong>. Também d<strong>em</strong>onstra que só orientações einformações não são suficientes para reverter essequadro. Na situação estudada, as ativida<strong>de</strong>s maisreferidas entre aquelas <strong>de</strong>senvolvidas pelo ACS diz<strong>em</strong>respeito a cadastramento e atualização das famíliasna área <strong>de</strong> abrangência; i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> famíliasexpostas a situações <strong>de</strong> risco; visitas domiciliares, comretorno aos d<strong>em</strong>ais m<strong>em</strong>bros da equipe sobre osprobl<strong>em</strong>as encontrados; busca ativa dos usuários sobcontrole nos programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> oferecidos pela UBS.Perceb<strong>em</strong>-se conotações paradoxais nos discursossobre o campo <strong>de</strong> suas ações. Apesar do reconhecimentoda importância <strong>de</strong> seu papel <strong>de</strong> vigílância junto às famílias,no que se refere ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong>promoção à saú<strong>de</strong>, estas ainda estão voltadas para a doençae se sobressa<strong>em</strong>, o que é uma contradição ao papelque lhe é atribuído. A estratégia <strong>de</strong> incorporação do ACSaos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> busca o horizonte da promoção àsaú<strong>de</strong> e passa pelo <strong>de</strong>safio da capacitação permanenteda equipe numa constante a<strong>de</strong>quação às particularida<strong>de</strong>sda diversida<strong>de</strong> do contexto social, político, culturale econômico. A capacitação e o monitoramento <strong>de</strong> suasações pela equipe se revelaram como tendências necessáriaspara garantir os pressupostos do PSF conforme seobserva:“... o trabalho da equipe flui melhor quando o ACS éb<strong>em</strong> treinado, né? B<strong>em</strong> orientado para estarexecutando seu papel na comunida<strong>de</strong>...” (ENF 2.7).A capacitação po<strong>de</strong> estabelecer mecanismos para aconstrução do conhecimento tanto para a equipe quantopara a comunida<strong>de</strong> e esse processo <strong>de</strong>ve ser contínuoe permanente.O ACS E A FAMÍLIAPercebe-se, na área da saú<strong>de</strong>, um movimento <strong>em</strong> prolda focalização da família no seu contexto social, expressonas iniciativas das políticas públicas governamentais eque inclu<strong>em</strong> na agenda, a família e a comunida<strong>de</strong> comoum espaço privilegiado <strong>de</strong> intervenção, reconhecida comoinstância favorável à abordag<strong>em</strong> e intervenção conjunta<strong>de</strong> alguns probl<strong>em</strong>as que afetam o núcleo familiar. O PSF,centrado na dinâmica da família, v<strong>em</strong> acrescentando importânciano êxito da estratégia ora preconizada, umavez que é nesse espaço que se constro<strong>em</strong> as relaçõesintra e extrafamiliar, um campo on<strong>de</strong> as relações pessoaise afetivas se sobressa<strong>em</strong>. (12)A abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> maneira integrada e articulada torna-sepr<strong>em</strong>ente para o enfrentamento <strong>de</strong>sta concepçãoe nesse processo é o ACS que estabelece vínculos <strong>de</strong>compromisso e co-responsabilida<strong>de</strong> da equipe com a famíliapor estar ele próximo do cotidiano da POPULA-ÇÃO. Para um entrevistado,“... o ACS é fundamental por causa do elo <strong>de</strong>comunicação que eles formam entre a comunida<strong>de</strong> ea equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Por ser um morador da comunida<strong>de</strong>,conhec<strong>em</strong> b<strong>em</strong> a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta população, osprobl<strong>em</strong>as que eles enfrentam. Acho que a comunida<strong>de</strong>se sente mais à vonta<strong>de</strong> com o ACS para estarpassando muitos probl<strong>em</strong>as que, às vezes, não passapara nenhum outro componente da equipe” (ENF 2.3).Este discurso reafirma ser o ACS um el<strong>em</strong>entoconectivo entre a população e o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, aguçandoo senso comunitário.O ACS E A EQUIPEA concepção <strong>de</strong> equipe está vinculada à <strong>de</strong> processo<strong>de</strong> trabalho e sujeita-se às transformações pelas quais estev<strong>em</strong> passando ao longo do t<strong>em</strong>po. Não há como concebera equipe à marg<strong>em</strong> do processo <strong>de</strong> trabalho. No contexto<strong>de</strong> aprimorar as metas preconizadas pelo PSF, otrabalho <strong>em</strong> equipe po<strong>de</strong> ser entendido como uma tática<strong>de</strong> otimização do cuidado on<strong>de</strong>, cada um, individual ecoletivamente, representa uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parceriaprópria, particular, no <strong>de</strong>senvolvimento das ações, nacompl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> do conhecimento e no enriquecimentomútuo. (13) Tal fato se constitui <strong>em</strong> uma questão inovadora,traduzida, hipoteticamente, <strong>em</strong> melhoria <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>dos serviços, humanização do atendimento e alargamentodas respostas terapêuticas. Reconhece-se que adiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve enriquecero trabalho como um todo e, <strong>de</strong>ssa forma, aumentaras chances <strong>de</strong> atingir o objetivo precípuo do PSF, ou seja,a coor<strong>de</strong>nação do cuidado ao indivíduo, à família e a comunida<strong>de</strong>.Para uma entrevistada:“... O ACS faz busca ativa da comunida<strong>de</strong>, traz osprobl<strong>em</strong>as para a equipe resolver e a gente vai fazendoas visitas também, atrás dos agentes, né? Com asinformações que o ACS traz, é possível a equipe traçarum plano <strong>de</strong> ação “(ENF. 4.21).Po<strong>de</strong>-se inferir que o fato do processo <strong>de</strong> trabalhodo ACS estar mais próximo à população favorece o <strong>de</strong>senvolvimentodas ativida<strong>de</strong>s dos outros m<strong>em</strong>bros daequipe. Paralelamente, a equipe torna-se referência pararesolução dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>tectados, respaldando assim,suas ações. Outra evidência feita a partir das observaçõese dos discursos diz respeito à inserção do ACS noprocesso <strong>de</strong> trabalho da equipe. A referida inserção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ráda aceitação, da orientação e do acompanhamentodos profissionais no rol <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s.Paraoutra entrevistada:“... a função do ACS é essencial na equipe. Ela traduztodo um trabalho <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. Eletraz os probl<strong>em</strong>as, as falas da população, para a equipeintervir. Então, isso facilita muito o trabalho da gentecomo equipe, porque daí a gente vai diversificando asnossas ativida<strong>de</strong>s... (ENF. 3.7”).Neste discurso, percebe-se que o trabalho do ACSt<strong>em</strong> contribuído para a cooperação dos distintos profissionais,com perspectiva <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> e cominter<strong>de</strong>pendência das ações, cont<strong>em</strong>plando a dimensãotécnica e ética no reconhecimento e na consi<strong>de</strong>ração aotrabalho do outro.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):59-64, jan/mar, 2005 63


DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E SABERES…CONSIDERAÇÕES FINAISA estratégia <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família v<strong>em</strong> se colocandocomo um el<strong>em</strong>ento potencializador e oportuno rumo àconstrução <strong>de</strong> uma nova ética social, orientada pela possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> mudança do mo<strong>de</strong>lo assistencial, alicerçadapelos princípios do acesso, pela qualida<strong>de</strong> no acolhimentohumanizado, pelo vínculo social e inscrevendo aintersetorialida<strong>de</strong> como campo <strong>de</strong> saber e prática. Estaquestão suscita o repensar das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sob aégi<strong>de</strong> <strong>de</strong> um novo paradigma.A lógica da doença, centradano atendimento individual/curativo, é <strong>de</strong>slocada para aprevenção <strong>de</strong> agravos e promoção à saú<strong>de</strong>. Esse processoimplica a construção social <strong>de</strong> um novo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Os dados analisados permit<strong>em</strong> reconhecer que otrabalho do ACS t<strong>em</strong> relação <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> <strong>em</strong>relação ao dos d<strong>em</strong>ais profissionais. Contudo perceb<strong>em</strong>secontradições e expectativas neste mo<strong>de</strong>lo. A promoçãoà saú<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong> o setor saú<strong>de</strong>. Ressalta-se tambémque, a <strong>de</strong>speito da incorporação do trabalho doACS na equipe - que notadamente hoje ganha outroscontornos - a ampla utilização <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra não qualificadapara exercer as mais diversas ações nesse campotorna-se um paradoxo para um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que sepropõe ser resolutivo e com qualida<strong>de</strong> e que reconheceser o trabalho do ACS compl<strong>em</strong>entar ao da equipe. Aestratégia do PSF revelou neste estudo uma série <strong>de</strong>probl<strong>em</strong>as na sua execução. Há que se reconhecer, porém,a incorporação <strong>de</strong> tecnologias no processo <strong>de</strong> trabalho,no planejamento e na programação das equipesque têm potencialida<strong>de</strong> e pod<strong>em</strong> ser estruturantes paraa construção <strong>de</strong> outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.Todavia, faltam evidências <strong>de</strong> que essa estratégia sejasuficiente para reorientar as atuais práticas sanitárias. Avonta<strong>de</strong> política e a integração entre as diversas áreasdo governo, com olhar intersetorial, são fundamentaisao entendimento da promoção da saú<strong>de</strong> como uma funçãodo conjunto da socieda<strong>de</strong> e das instituições.O estudo permitiu evi<strong>de</strong>nciar que a estratégia do PSFapresentou pontos positivos. É importante que, conscientesda necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças no setor, possamosacreditar nelas e continuar construindo o novo mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> assistência à saú<strong>de</strong>. Finalmente o estudo permitiu <strong>de</strong>stacarcomo aspectos pro<strong>em</strong>inentes: a capacida<strong>de</strong> do ACS<strong>em</strong> articular com os d<strong>em</strong>ais integrantes da equipe; o diferencialque ele faz nas ações <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>por estar mais próximo à vida cotidiana da população edos grupos vulneráveis a situações <strong>de</strong> risco; o papel seculardos agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nas políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> o qual,a partir do PSF, ganha novo nome- atribuições.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1- Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Aprova as normas e diretrizes do Programa<strong>de</strong> Agente Comunitário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família.Brasília: Diário Oficial da União, 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1997. Portaria n.1886 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1997.2- Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Secretaria <strong>de</strong> Assistência à Saú<strong>de</strong>.Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Comunida<strong>de</strong>. Saú<strong>de</strong> da Família: umaestratégia para a reorientação do mo<strong>de</strong>lo assistencial. Brasília,Ministério da Saú<strong>de</strong>. 1997.3- Minayo MC. O <strong>de</strong>safio do conhecimento: pesquisa qualitativa <strong>em</strong>saú<strong>de</strong>. São Paulo: Hucitec/ABRASCO; 1999.4- Vazquez AS. Filosofia da práxis. 2a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra;1997.5- Mainguenau D. Novas tendências <strong>em</strong> análise do discurso. 3a ed.Campinas, SP: Pontes; 1997.6- Fiorin JL. El<strong>em</strong>entos da análise do discurso. 5a ed. São Paulo:Contexto; 1997.7- Peduzzi M. Mudanças tecnológicas e seu impacto no processo <strong>de</strong>trabalho <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fiocruz; 1997.8- Paim JS. Reforma Sanitária e os mo<strong>de</strong>los assistenciais In: RouquayrolM.Z. Epid<strong>em</strong>iologia e Saú<strong>de</strong>. 5a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Medsi; 1999.9- Men<strong>de</strong>s EV. Uma agenda para a saú<strong>de</strong>. São Paulo: Hucitec; 1996.10- Teixeira CMl. SUS, mo<strong>de</strong>los assistenciais e vigilância da saú<strong>de</strong>. FNS,IESUS, Brasília, 1998 abr/jun.; 7 (2): 7-34 .11- Nogueira RP. A análise institucional <strong>de</strong> um trabalhador sui generis,o agente comunitário <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Texto para discussão, encaminhadopara publicação, fevereiro, 2000.12- Chauí M. Conformismo e resistência: aspectos da cultura popularno Brasil. São Paulo: Brasiliense; 1986.13- Piancastelli CH; Faria HP; Silveira, M. R. O trabalho <strong>em</strong> Equipe. In:Santana JP. Organizador. Organização do cuidado a partir <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as:uma alternativa metodológica para a atuação da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dafamília. Brasília: OPAS/Representação do Brasil; 2000. p. 45-5064 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):59-64, jan/mar, 2005


O SUJEITO E A INSTITUIÇÃO:A REFORMA PSIQUIÁTRICA COMO POSSIBILIDADE DE(RE) CONSTRUÇÃO DA SINGULARIDADETHE INDIVDUAL AND THE INSTITUTION:PSYCHIATRIC REFORM AS A POSSIBILITY OF(RE) CONSTRUCTING SINGULARITYEL SUJETO Y LA INSTITUCIÓN:LA REFORMA PSIQUIÁTRICA COMO POSIBILIDAD DE(RE)CONSTRUIR LA SINGULARIDADAndréa Oscar 1Annette Souza Silva Martins da Costa 2Paula Cambraia <strong>de</strong> Mendonça Vianna 3RESUMOO artigo aborda a vivência do portador <strong>de</strong> sofrimento psíquico <strong>em</strong> uma instituição <strong>de</strong> assistência <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> mental. Paraisso, foi realizada uma breve revisão teórica focalizando o modo como são estabelecidas as relações do sujeito junto àsinstituições. Referimo-nos aos princípios da reforma psiquiátrica como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar a relação sujeito/instituição,<strong>de</strong>stacando-se a valorização do direito dos usuários como sujeitos e a construção <strong>de</strong> sua cidadania..PALAVRAS CHAVE: Transtorno Mental; Reabilitação; Desinstitucionalização; Hospital Psiquiátrico.ABSTRACTThe article addresses the experience of the individual with psychic suffering in mental health care institution. To achievethis, a brief review of the literature was carried out to focus on how such relationships are established between theindividual and the institutions. The principles of psychiatric reform are presented as a possibility to rethink the individual/institution relationship by <strong>em</strong>phasizing respect for users' rights as individuals and building of their sense of citizenship.KEY WORDS: Mental Disor<strong>de</strong>rs; Rehabilitation; Deinstitutionalization; Psychiatric HospitalsRESUMENEl artículo enfoca la experiencia <strong>de</strong> individuos con probl<strong>em</strong>as psiquiátricos en una institución <strong>de</strong> asistencia a la saludmental. Fue realizada una breve revisión bibliográfica sobre cómo se establecen las relaciones entre sujetos e institución.Mencionamos los principios <strong>de</strong> la reforma psiquiátrica como posibilidad <strong>de</strong> repensar la relación sujeto/ institución, resaltandola valoración <strong>de</strong>l <strong>de</strong>recho <strong>de</strong> los usuarios como sujetos y la construcción <strong>de</strong> su ciudadanía.Palabras clave: Servicios <strong>de</strong> Salud Mental; Rehabilitación; Desinstitucionalización; Hospitales Psiquiátricos.1Enfermeira; Especialista <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Mental e Clínica; Estudante <strong>de</strong> Psicologia.2Enfermeira; Doutoranda <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP; Professora assistente da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>.3Enfermeira; Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP; Professora adjunta da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua Lunardi nº302, ap.101. Caiçara. Belo Horizonte/MG E-mail: andreaoscar@ig.com.brREME – Rev. Min. Enf; 9(1):65-69, jan/mar, 2005 65


O SUJEITO E A INSTITUIÇÃO …INTRODUÇÃOA reestruturação da assistência psiquiátrica, no Brasil,provocou modificações substanciais não apenas naestrutura física das instituições, mas, sobretudo, nas relaçõesexistentes entre a socieda<strong>de</strong> e a loucura. Com osnovos pressupostos da Reforma Psiquiátrica exige-se umanova construção do fazer e do saber sobre a doençamental e, principalmente, da i<strong>de</strong>ntificação e construçãosocial <strong>de</strong>ste sujeito que <strong>em</strong>erge <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos hospitaispsiquiátricos, exigindo direitos, <strong>de</strong>veres e cidadania. Importantesalientar que o novo mo<strong>de</strong>lo assistencial <strong>em</strong>saú<strong>de</strong> mental prega a <strong>de</strong>sconstrução das relações <strong>de</strong> tutela,da subordinação ao po<strong>de</strong>r institucional e explicita apossibilida<strong>de</strong> da convivência com a diferença <strong>em</strong> oposiçãoa normatização do social.Neste sentido, buscamos realizar, neste estudo, umarevisão bibliográfica que nos aponte para as novas relaçõesque se criam entre o sujeito e a instituição após aimpl<strong>em</strong>entação da reforma psiquiátrica, tomando comobase as antigas construções institucionais e as relações<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e dominação existentes.O SUJEITO E A INSTITUIÇÃOO mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> mental estabeleceintermediações entre o técnico e o político e nele <strong>de</strong>v<strong>em</strong>estar presentes os interesses da socieda<strong>de</strong> b<strong>em</strong>como o saber técnico, as diretrizes políticas e os modos<strong>de</strong> gestão dos serviços públicos. É por intermédio da<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo assistencial que elaboramos asações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvidas, <strong>de</strong>limitamos ouniverso <strong>de</strong> atendimento, traçamos o perfil dos profissionaise os objetivos a ser<strong>em</strong> alcançados. O mo<strong>de</strong>loassistencial <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> mental é, segundo Vianna (1) , a molamestra para a organização e direcionamento das práticasnesta área.O mo<strong>de</strong>lo assistencial <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> mental ainda t<strong>em</strong>sua atenção centrada no hospital psiquiátrico, <strong>em</strong>boraexistam avanços na tentativa <strong>de</strong> levar a ação para <strong>de</strong>ntroda socieda<strong>de</strong>, pois é aí que se situa a orig<strong>em</strong> da exclusãoe da segregação do doente mental.Realizando uma retrospectiva na história, verificamosque, na época da criação do asilo, buscou-se transferir ocuidado aos doentes mentais dos hospitais gerais paraessas instituições, saneando a cida<strong>de</strong> e excluindo aquelesincapazes <strong>de</strong> participar<strong>em</strong> do processo capitalista vigente.(1) A criação do asilo teve como funções essenciaiso tratamento médico, que reorganizaria o louco comosujeito da razão, a proteção aos loucos pobres e à socieda<strong>de</strong>.Dessa maneira, o hospício trouxe para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>si as contradições e as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>que busca a uniformização do social, um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>para sobreviver. É como se duas socieda<strong>de</strong>s diferentescoexistiss<strong>em</strong> lado a lado, uma escon<strong>de</strong>ndo asdiferenças e contradições da outra.Segundo Martinez (2) , a cultura jurídica e filosófica dacidadania foi elaborada para servir aos interesses da burguesia.Esta ascen<strong>de</strong>u gradativamente até conquistar aplena heg<strong>em</strong>onia social, política e econômica. Osiluministas, segundo o autor, não seriam n<strong>em</strong> sonhadorese n<strong>em</strong> utópicos, pois, na realida<strong>de</strong>, não pensavam naigualda<strong>de</strong> da cidadania para todos. Estavam a serviço <strong>de</strong>interesses concretos <strong>de</strong> uma camada social b<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada.Portanto, o direito da cidadania não se esten<strong>de</strong>ria atodos os habitantes da cida<strong>de</strong>. De acordo com os i<strong>de</strong>ais<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e fraternida<strong>de</strong> trazidos pela RevoluçãoFrancesa, foi garantido, ao louco, o tratamento<strong>de</strong> sua enfermida<strong>de</strong> com o conseqüente afastamento doespaço social e sujeição às normas <strong>de</strong> controle <strong>em</strong> instituiçõesdistantes do espaço urbano, on<strong>de</strong> se pretendiaconquistar, <strong>de</strong>sta maneira, a sua reorganização como cidadão<strong>de</strong> direito, apto a viver <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>.Ao retratar o processo <strong>de</strong> exclusão do doente mentale o saber científico baseado na razão, pod<strong>em</strong>os citara abordag<strong>em</strong> trazida por Machado <strong>de</strong> Assis (3) <strong>em</strong> sua obraO Alienista. De forma irônica e realista, a narrativa propõea probl<strong>em</strong>ática da exclusão do doente mental, expondoa loucura como uma “ilha perdida no oceano darazão”. A obra traça uma linha rígida <strong>de</strong> procedimentoprofissional, na medida <strong>em</strong> que o médico acata as prescriçõesda ciência como dogmas <strong>de</strong> fé e consagra a medicinacomo uma ciência baseada apenas na razão. Nãohá frestas para um olhar <strong>em</strong> torno da instituição on<strong>de</strong> éambientada a narrativa: a “Casa Ver<strong>de</strong>”. Esta instituiçãoera <strong>de</strong>sprovida das funções social e clínica, vazia <strong>de</strong> recursosmateriais e <strong>de</strong> relações afetivas, on<strong>de</strong> o doenteservia apenas “<strong>de</strong> cadáver aos estudos e experiência <strong>de</strong>um déspota”.Se por um lado, observamos a razão tentando or<strong>de</strong>nara doença através da cientificida<strong>de</strong> da psiquiatria s<strong>em</strong>a observância à singularida<strong>de</strong> das pessoas que ali viviam,por outro lado, <strong>de</strong>frontamo-nos com a miséria e o abandonoexistente <strong>de</strong>ntro da instituição “Casa Ver<strong>de</strong>”. Osinternados ocupavam o manicômio, s<strong>em</strong> história, s<strong>em</strong>roupas e s<strong>em</strong> subjetivida<strong>de</strong>.Nesse sentido, Zenoni (4) menciona a função social eclínica da instituição ressaltando que antes <strong>de</strong> ter umobjetivo terapêutico, a instituição é uma necessida<strong>de</strong>social sendo que uma função não anularia a outra: “S<strong>em</strong>o limite da função social, a instituição corre o risco <strong>de</strong> setransformar <strong>em</strong> um lugar <strong>de</strong> alienação, <strong>de</strong> experimentaçãoe, s<strong>em</strong> o limite da função terapêutica, ela corre orisco <strong>de</strong> ser simplesmente suprimida”.No que diz respeito ao saber médico, Basaglia (5) afirmaque “se a psiquiatria <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou um papel no processo<strong>de</strong> exclusão do doente mental quando forneceu aconfirmação científica para a incompreensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seussintomas, ela <strong>de</strong>ve ser vista também como a expressão<strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a que s<strong>em</strong>pre acreditou negar e anular aspróprias contradições, afastando-as <strong>de</strong> si e refutando suadialética, na tentativa <strong>de</strong> reconhecer-se i<strong>de</strong>ologicamentecomo uma socieda<strong>de</strong> s<strong>em</strong> contradições”.No interior <strong>de</strong> uma instituição, há um conjunto <strong>de</strong>fatores sociais e administrativos favorecedores da segregaçãodo doente mental. Goffman (6) <strong>de</strong>fine uma instituiçãototal como um “local <strong>de</strong> residência e trabalho,on<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> indivíduos com situação s<strong>em</strong>elhante,separados da socieda<strong>de</strong> mais ampla por consi<strong>de</strong>rávelperíodo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, levam uma vida fechada etotalmente administrada”. Segundo esse autor, são ca-66 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):65-69, jan/mar, 2005


acterísticas <strong>de</strong>ssas instituições: o planejamento racionale consciente que atenda aos objetivos da instituição;a separação física e psíquica do internado <strong>em</strong> relação aomundo exterior; a ruptura com os papéis anteriormente<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhados pelo internado; a restrição na transmissão<strong>de</strong> informações pela equipe dirigente; a gran<strong>de</strong> distânciasocial entre internados e dirigentes; a renúncia dointernado à sua vonta<strong>de</strong> <strong>em</strong> favor dos interesses da instituiçãoe, sobretudo, a <strong>de</strong>tenção do po<strong>de</strong>r pela equipedirigente. Pod<strong>em</strong>os citar como instituições totais osmanicômios, os asilos, os campos <strong>de</strong> concentração, asprisões e os conventos.Nessas instituições, o sujeito é <strong>de</strong>spido <strong>de</strong> suas concepções.Existe apenas o mundo institucional com suasleis, normas, privilégios e castigos. A admissão do sujeito<strong>em</strong> uma instituição total po<strong>de</strong> ser marcada por umagran<strong>de</strong> mutilação do eu na medida <strong>em</strong> que é <strong>de</strong>spojadodos seus bens, <strong>de</strong> suas vestes e <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Opaciente passa a ser mais um no meio <strong>de</strong> tantos outros eapren<strong>de</strong> a conviver com um anonimato forçado que lhetira a voz e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre o seu <strong>de</strong>stino. Daípra frente, seu <strong>de</strong>stino será traçado pelos dirigentes dainstituição s<strong>em</strong> nenhuma preocupação com a singularida<strong>de</strong><strong>de</strong> cada um. Existe, nas instituições totais, umanorma racional única.Segundo Goffman (6) , o paciente utiliza diversas táticas<strong>de</strong> adaptação à vida institucional. Essas táticas <strong>de</strong> adaptaçãorepresentam um esforço <strong>de</strong> sobrevivência do sujeitoperante às novas situações vividas: o paciente po<strong>de</strong>afastar-se do mundo institucional, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> dar atençãoàs coisas que o ro<strong>de</strong>iam e centrar sua atenção apenasnos acontecimentos que diz<strong>em</strong> respeito à sua pessoa;o paciente, através da intransigência, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>safiara instituição intencionalmente (essa tática é transitória eé substituída por outra tática <strong>de</strong> adaptação); com a colonização,o paciente internado passa a conceber a vidainstitucional como o máximo, não existindo nada melhor(geralmente, são pacientes que apresentam probl<strong>em</strong>asno momento da alta); o paciente, ainda, por meioda con<strong>versão</strong>, po<strong>de</strong> representar o papel <strong>de</strong> internadoperfeito sendo mais disciplinado e moralista do que ocolonizado.De acordo com o referido autor, no interior <strong>de</strong> umainstituição o paciente experimenta sentimentos <strong>de</strong> fracassoe freqüent<strong>em</strong>ente cria histórias que justificam eamenizam a sua situação atual.Outro sentimento vivido pelo internado é <strong>de</strong> que ot<strong>em</strong>po passado na instituição é t<strong>em</strong>po perdido, <strong>de</strong>struídoou tirado da sua vida. Isso é intensificado pela perda docontato social e pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquirir coisasque possam ser transferidas e aproveitadas no mundoexterior. Goffman (6) ressalta que esse sentimento é atenuadopela busca da cura.A intimida<strong>de</strong> da pessoa internada é freqüent<strong>em</strong>enteviolada pela presença do outro, pois ele nunca está <strong>completa</strong>mentesozinho, está s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> posição <strong>de</strong> ser vistopor alguém. Os quartos e banheiros que não se trancam,o uniforme que marca o po<strong>de</strong>r institucional sobrea pessoa, a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estar só e ocompartilhamento <strong>de</strong> um espaço com pessoas nuncaantes vistas são ex<strong>em</strong>plos da violação da liberda<strong>de</strong> e daautonomia do sujeito.As ativida<strong>de</strong>s mais corriqueiras como barbear-se, irao banheiro, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir e vir , o uso <strong>de</strong> talherespara se alimentar são restritas ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outros quepod<strong>em</strong> ou não fornecer os instrumentos necessários paraa realiza-las. A vida do internado é norteada por umasanção vinda <strong>de</strong> cima e, <strong>de</strong>sta maneira, violenta-se a autonomiado ato.Como afirma Miranda (7) , o t<strong>em</strong>po institucional “t<strong>em</strong>um significado diferente do t<strong>em</strong>po aqui fora. O relógiodo t<strong>em</strong>po interno são as tarefas da enfermag<strong>em</strong>, a alimentação,as restrições e as permissões”. O t<strong>em</strong>po,portanto, é organizado para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s dainstituição e não as do doente. A rotina organizada possibilitaque a equipe dirigente tenha total controle dainstituição e não venha a se sentir ameaçada pelos imprevistosque possam surgir. É o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mando doopressor sobre o oprimido, entendido pelo internadocomo atos <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> e carida<strong>de</strong>. “Antes <strong>de</strong> ser umdoente mental, ele é um hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r social,econômico ou contratual: é uma mera presença negativa,forçada a ser aprobl<strong>em</strong>ática e acontraditória com oobjetivo <strong>de</strong> mascarar o caráter contraditório <strong>de</strong> nossasocieda<strong>de</strong>”, ressalta Baságlia (5) .Na instituição, mantém-se um policiamento contínuosobre as <strong>em</strong>oções e os <strong>de</strong>sejos que não pod<strong>em</strong> ser ditose n<strong>em</strong> vividos. Anestesia-se o afeto, pois ele <strong>de</strong>safia anorma. “Essa perspectiva, a da repressão, a da falsa neutralida<strong>de</strong>,leva à fantasia <strong>de</strong> que a loucura como <strong>de</strong>srazãotransforma o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> todos <strong>em</strong> <strong>de</strong>svio”. (7)A instituição, muitas vezes, é colocada no lugar <strong>de</strong>tratamento e <strong>de</strong> saber sobre a loucura. Nesteposicionamento, a instituição marca uma impossibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> manutenção dos laços sociais, funcionando no processo<strong>de</strong> exclusão social do doente mental. A instituição,ao se erguer sobre um saber que supostamente<strong>de</strong>tém, impossibilita o discurso do sujeito. É como se ainstituição fosse “um enorme receptáculo cheio <strong>de</strong> umcerto número <strong>de</strong> corpos impossibilitados <strong>de</strong> se viver<strong>em</strong>e que estão ali à espera <strong>de</strong> que alguém os tome e lhes dêvida à sua maneira: na esquizofrenia, na psicose maníaco-<strong>de</strong>pressivaou na histeria. Definitivamentecoisificados”. (5)A REFORMA PSIQUIÁTRICA: (RE)CONSTRUINDO A SINGULARIDADEA manutenção do mo<strong>de</strong>lo heg<strong>em</strong>ônico <strong>de</strong> atençãoao portador <strong>de</strong> doença mental centrado no hospital psiquiátrico<strong>de</strong>ve-se a alguns fatores, entre eles: a insuficiência<strong>de</strong> recursos econômicos no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>programas comunitários substitutivos ao serviço hospitalar;o número reduzido <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mentalcomunitária no atendimento aos pacientes crônicos doshospitais psiquiátricos; a falta <strong>de</strong> preparação da socieda<strong>de</strong>para receber os pacientes <strong>de</strong>sinstitucionalizados, b<strong>em</strong>como a falta <strong>de</strong> planejamento e inexistência <strong>de</strong> uma gestãounificada dos recursos públicos. (8)No que diz respeito à assistência ao portador <strong>de</strong> sofrimentomental, pod<strong>em</strong>os verificar que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>REME – Rev. Min. Enf; 9(1):65-69, jan/mar, 2005 67


O SUJEITO E A INSTITUIÇÃO …assistência que ainda predomina t<strong>em</strong> suas práticascentradas no atendimento terciário, tendo o hospitalpsiquiátrico como referência. Entretanto, importantesmudanças no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública do País vêm acontecendo,possibilitando a criação <strong>de</strong> um cenário privilegiadopara impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> transformações significativasdas práticas e saberes na área da saú<strong>de</strong> mental.Esse novo cenário surge com a reforma psiquiátricaque, por meio do discurso <strong>de</strong> vários atores sociais, promoveuma mudança <strong>de</strong> paradigma <strong>de</strong>slocando o lugar dolouco, que antes era representado apenas pelo discursoda medicina. A reforma psiquiátrica representou umaestratégia fundamental para que ocorress<strong>em</strong> mudançasna assistência prestada ao portador <strong>de</strong> sofrimento psíquicodo final dos anos 70 até os dias atuais, tendo comoobjetivo principal a <strong>de</strong>sconstrução do processo <strong>de</strong> segregaçãosocial da loucura. Trata-se <strong>de</strong> um movimentoque questiona as condições marginalizadas <strong>de</strong> vida e aforma exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> atenção a que estão submetidas aspessoas com sofrimento mental.A Reforma Psiquiátrica é um processo histórico <strong>de</strong>formulação crítica e prática <strong>de</strong> propostas mais ousadas,que visam o resgate da cidadania através do <strong>de</strong>smonteprogressivo dos hospitais psiquiátricos e a criação <strong>de</strong>serviços substitutivos, tais como centros <strong>de</strong> referência<strong>em</strong> saú<strong>de</strong> mental, hospital-dia, centro <strong>de</strong> convivência eambulatórios (9) . Trata-se <strong>de</strong> um movimento <strong>em</strong> prol daconstrução da cidadania e da reabilitação psicossocial doportador <strong>de</strong> sofrimento psíquico.No Brasil, a Reforma Psiquiátrica surge <strong>de</strong> forma maisconcreta <strong>em</strong> fins da década <strong>de</strong> 70. As imagens <strong>de</strong> pacientespsiquiátricos flagrados <strong>em</strong> pleno abandono nos pavilhões,corredores e quartos <strong>de</strong> manicômios brasileirosassustaram o país nas décadas <strong>de</strong> 70 e 80. Nos anos 80,com a Reforma Sanitária, privilegia-se no campo da saúd<strong>em</strong>ental a discussão e a adoção <strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong>humanização da assistência ao doente mental. Esse movimento,que até então se restringia à humanização doshospitais psiquiátricos, amplia-se com discussões sobreas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento fora do hospital. Surgeo movimento chamado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinstitucionalização.Desinstitucionalização toma um significado <strong>de</strong><strong>de</strong>sconstrução do processo <strong>de</strong> segregação social da loucura,e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> recomposição da cidadaniado doente mental. Segundo Amarante, “não significaapenas <strong>de</strong>sospitalização, mas <strong>de</strong>sconstrução, isto é, separação<strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo arcaico centrado no conceito <strong>de</strong>doença como falta e erro, centrado no tratamento dadoença como entida<strong>de</strong> abstrata (...) é um processo, nãoapenas técnico, jurídico, legislativo ou político; é acima<strong>de</strong> tudo, um processo ético, <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> umaprática que introduz novos sujeitos <strong>de</strong> direito e novosdireitos para os sujeitos”. (9)Nesse sentido, o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinstitucionalização,compreendido como a transformação da maneira <strong>de</strong> lidarcom a experiência da loucura, não se i<strong>de</strong>ntifica apenascom as propostas que objetivam a simples reorganizaçãodos serviços extra-hospitalares, mas requer a produção<strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> pensar a instituição, percebere interagir com a experiência do sofrimento psíquico.Delineia suas práticas e saberes na construção <strong>de</strong> umnovo modo <strong>de</strong> tratar e conviver com a loucura. ParaRotelli (10) , “esse processo dar-se-ia através <strong>de</strong> um trabalhoterapêutico enriquecedor da assistência global, complexae concreta dos pacientes; construindo-se estruturasexternas diferentes aos manicômios”.No que diz respeito à <strong>de</strong>sinstitucionalização comoum processo, contrastando-a com a possível cronificação(institucionalização), mencionamos a probl<strong>em</strong>ática <strong>em</strong>torno das reinternações dos pacientes. Um doscondicionantes institucionais que confirma ainda o hospitalcomo referência do tratamento da crise psíquica ereforça a exclusão e segregação do doente mental é oconstante retorno do paciente à instituição hospitalarpsiquiátrica. As reinternações do mesmo, b<strong>em</strong> como asinternações prolongadas, acabam resultando na perdados laços sociais e na dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> readaptação dospacientes à socieda<strong>de</strong>.No que diz respeito a esses retornos, acreditamosque pacientes com história <strong>de</strong> várias internaçõesestabeleceram, ao longo dos anos, vínculos apenas coma instituição hospitalar. A sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, durantea permanência na instituição hospitalar, muitas vezesencontra-se <strong>em</strong>pobrecida, com sérias limitações dashabilida<strong>de</strong>s sociais e da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia paraativida<strong>de</strong>s da vida diária. Acreditamos, ainda, que o recebimentodos egressos e suas famílias pelos serviçossubstitutivos, no momento da saída da instituição hospitalar,é importante para a <strong>de</strong>sinstitucionalização <strong>de</strong>ssespacientes.A <strong>de</strong>smontag<strong>em</strong> dos hospitais psiquiátricos e as mudanças<strong>de</strong> paradigma na assistência psiquiátrica, segundoDelgado (11) , implicam a transformação das relações <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r, o rompimento com todo o sist<strong>em</strong>a punitivo-coercitivoe o resgate da singularida<strong>de</strong> do doente mental,rotulado, durante décadas, apenas como “louco”. Para asuperação do mo<strong>de</strong>lo hospitalocêntrico, é fundamentalrelativizar o po<strong>de</strong>r para transformar as relações, as instituiçõese os contextos, acentua o autor. Isso significareconstruir as bases objetivas <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>,redimensionando os dados subjetivos que a sustentam.A reestruturação da assistência psiquiátrica impõe,portanto, a revisão crítica do papel heg<strong>em</strong>ônico ecentralizador do hospital psiquiátrico e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,propõe uma reflexão acerca do trabalho realizadonos serviços substitutivos.Na tentativa <strong>de</strong> modificação das crenças e preconceitosda socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao doente mental, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>osnos atentar para a maneira como os profissionaisentend<strong>em</strong> e lidam com a loucura. Dentro dos serviçossubstitutivos corr<strong>em</strong>os o risco <strong>de</strong> repetir a mesma lógicamanicomial se não romp<strong>em</strong>os com os paradigmas quefundamentam a assistência psiquiátrica. Desviat (8) mencionaque “o que faz a instituição não são os muros, masas pessoas; os muros mais difíceis <strong>de</strong> se transpor são oscriados pelas pessoas, porque estes têm uma consciênciamuito real”. Juntamente com pacientes e familiares,os profissionais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser vistos como seres ativos e<strong>em</strong>penhados na construção do projeto proposto pelareforma psiquiátrica.68 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):65-69, jan/mar, 2005


A reforma psiquiátrica permite a inclusão <strong>de</strong> conceitosimportantes que por tantos anos estiveram fora dodiscurso no trato com a loucura: <strong>de</strong>sospitalização,<strong>de</strong>sinstitucionalização, reabilitação psicossocial, cidadão,sujeito. Os serviços substitutivos traz<strong>em</strong> consigo estesconceitos e estão ligados à noção <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, pois<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser dispositivos dinâmicos, que produzam ação epromovam uma nova concepção - a concepção da diferença.Não se trata <strong>de</strong> impor a igualda<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> garantiro respeito à diferença, “fazer das experiências da loucuraalgo que possa transmitir na cultura, s<strong>em</strong> exclusãoda subjetivida<strong>de</strong>, ou seja, sustentando a possibilida<strong>de</strong> dosujeito”. (12) Como diz Cavalcanti (13) “o probl<strong>em</strong>a não estátanto <strong>em</strong> ‘pirar ou não pirar’ mas <strong>em</strong> o que se faz comesta ‘piração’ (...) ajudá-lo a fazer <strong>de</strong>sta tragédia existencialalgo que vale a pena”.O portador <strong>de</strong> sofrimento psíquico po<strong>de</strong> ser sujeito<strong>de</strong> sua própria história e para que isso seja possível épreciso extinguir a lógica manicomial que circunscreve ouniverso da loucura. A reforma psiquiátrica traz essapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação entre a socieda<strong>de</strong>, a loucura eas instituições. Assim, a socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a enten<strong>de</strong>re respeitar o “louco” <strong>em</strong> seu direito <strong>de</strong> ser o queele é, <strong>em</strong> sua realida<strong>de</strong> psíquica. Trata-se, portanto, <strong>de</strong>um movimento que busca restituir ao “louco” o direito<strong>de</strong> expressar sua subjetivida<strong>de</strong> com dignida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> estigmas,s<strong>em</strong> preconceitos.CONSIDERAÇÕES FINAISA <strong>de</strong>sinstitucionalização como um processo, objetivanão apenas a reorganização dos serviços substitutivos,mas requer a produção <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> pensar einteragir com a experiência da loucura, promovendotransformações na realida<strong>de</strong> assistencial. Salientamos quea <strong>de</strong>smontag<strong>em</strong> dos hospitais psiquiátricos implica tambémmudanças no saber e no fazer dos trabalhadores,seres <strong>de</strong> transformação do contexto e das relações.Os princípios que norteiam a reforma psiquiátricaapresentam-se como possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudança da relaçãosujeito/instituição. Sendo um processo complexo e<strong>em</strong> construção, gera experiências que conduz<strong>em</strong> aoaprendizado e ao aprimoramento na busca da melhorforma <strong>de</strong> lidar com a loucura. Transformando a realida<strong>de</strong>assistencial, a reforma psiquiátrica oferece um entrelaceentre a cida<strong>de</strong> e a loucura, priorizando a dimensãoda cidadania. Nesse sentido, transformam-se as relações,as instituições e o contexto, produzindo possibilida<strong>de</strong>spara tornar-se sujeito.Consi<strong>de</strong>rando todas as conquistas da reforma psiquiátrica,a política atual <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental traz um avançosignificativo <strong>em</strong> relação à política que tinha ahospitalização como único mecanismo para o tratamentodo portador <strong>de</strong> sofrimento psíquico.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1-Vianna P. A reforma psiquiátrica e as associações <strong>de</strong> familiares: unida<strong>de</strong>e oposição. São Paulo: <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP, 2002. (Tese,Doutorado).2-Martinez P. Direitos <strong>de</strong> Cidadania: Um lugar ao sol. São Paulo:Scipione,1996.3-Machado J. O Alienista. Porto Alegre: L&PM, 1998.4- Zenoni A. Qual a instituição para o sujeito psicótico? In: Psicanálise einstituição: a segunda clínica <strong>de</strong> Lacan. Belo Horizonte: Abrecampos.Ano1, n.0 junho, 2000.5-Basaglia F. A Instituição negada: relato <strong>de</strong> um hospital psiquiátrico.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1985.6- Goffman E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva,1992.7-Miranda C. O parentesco imaginário. São Paulo: Cortez, 1994.8- Desviat M. A reforma psiquiátrica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fiocruz, 1999.9- Amarante P (organizador). Loucos pela vida: a trajetória da reformapsiquiátrica no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fiocruz, 1995.10- Rotelli F. A instituição inventada. In: Rotelli F, Leonards O, Mauri D,RisoD. Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec, 1990.11- Delgado P. Perspectivas da psiquiatria pós-asilar no Brasil. In: TundisSH, Costa NR (organizadores). Cidadania e loucura: políticas <strong>de</strong> saúd<strong>em</strong>ental no Brasil. 2ªed.Petrópolis: Vozes, 1990.12- Lobosque A M. Experiências da loucura. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Garamond,2001.13-Cavalcanti MT. Sobre o tratar <strong>em</strong> psiquiatria. Arq Bras Psiq NeurolMed Legal, 2000.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):65-69, jan/mar, 2005 69


A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA…Revisão <strong>de</strong>LiteraturaA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA –UMA REVISÃO TEÓRICA 1THE EVOLUTION OF FAMILY IN HISTORY –A THEORETICAL REVIEWLA EVOLUCIÓN HISTÓRICA DE LA FAMILIA –UNA REVISIÓN TEÓRICAPaula Cambraia <strong>de</strong> Mendonça Vianna 2Sônia Barros 3RESUMOTrata-se <strong>de</strong> uma revisão teórica sobre a evolução histórica da família, buscando i<strong>de</strong>ntificar a sua organização e os alicercesque a sustentam, da Antiguida<strong>de</strong> até o Estado Mo<strong>de</strong>rno, com o objetivo <strong>de</strong> propiciar aos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> umamelhor compreensão <strong>de</strong>sta instituição que t<strong>em</strong> sido um lócus importante para a impl<strong>em</strong>entação das práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Palavras-chave: Família; História; Evolução; Equipe <strong>de</strong> Assistência ao PacienteABSTRACTThis study is a review of the literature on the evolution of the family in history. It also contextualizes their forms of social,political, economic and cultural organization, from early times until the mo<strong>de</strong>rn state. Our objective is to provi<strong>de</strong> healthprofessionals with a better comprehension of this institution, that has been a very important locus for the impl<strong>em</strong>entationof health practice.Key-words: Family; History; Evolution; Patient Care TeamRESUMENEste estudio trata <strong>de</strong> una revisión teórica <strong>de</strong> la evolución histórica <strong>de</strong> la familia, intentando i<strong>de</strong>ntificar sus formas <strong>de</strong>organización y las bases que la sostienen, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la antigüedad hasta el Estado Mo<strong>de</strong>rno. Su objetivo es proporcionar a losprofesionales <strong>de</strong> la salud una visión más clara <strong>de</strong> esta institución que ha sido un espacio importante para impl<strong>em</strong>entarprácticas <strong>de</strong> salud.Palabras clave: Familia; Historia; Evolución; Grupo <strong>de</strong> Atención al Paciente1 Este artigo faz parte da tese <strong>de</strong> Doutorado <strong>de</strong> Paula Cambraia <strong>de</strong> Mendonça Vianna, realizada na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>/USP, no período <strong>de</strong> 1999 a 2002.2 Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>/USP. Professora da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>/<strong>UFMG</strong>.E-mail: paulacambraia@bol.com.br3 Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professora da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>/USP. E-mail: sobarros@usp.brEn<strong>de</strong>reço para correspondência: Av. Alfredo Balena, 190, sala 600. Cep: 30130-100. Belo Horizonte-MG70 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005


INTRODUÇÃOO t<strong>em</strong>a família t<strong>em</strong> <strong>de</strong>spertado, cada vez mais, o interesse<strong>de</strong> estudiosos <strong>de</strong> correntes teóricas diversas. Explicaro funcionamento da família, a sua realida<strong>de</strong> social ehistórica, as estratégias por ela encontradas para se mantercomo uma instituição social forte e as funções <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhadaspor seus m<strong>em</strong>bros no interior do grupo sãoassuntos que criam polêmica e <strong>de</strong>safiam os pesquisadores.A nosso ver, alguns fatores são essenciais para explicara sua permanência. A família é o espaço primeiro <strong>de</strong>ajustamento e organização das relações e funções a ser<strong>em</strong><strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhadas pelo indivíduo na socieda<strong>de</strong>; é<strong>de</strong>terminante no <strong>de</strong>senvolvimento da afetivida<strong>de</strong>, da sociabilida<strong>de</strong>e do b<strong>em</strong>-estar físico do indivíduo; é espaço <strong>de</strong>proteção contra os perigos do mundo exterior.Para os profissionais que atuam na área da saú<strong>de</strong>,torna-se cada vez mais importante o conhecimento dasformas <strong>de</strong> organização e funcionamento da família, vistoque ela t<strong>em</strong> se tornado um espaço <strong>de</strong> atuação e intervenção<strong>de</strong>sses profissionais. Segundo Wright e Leahey (1) ,“a enfermag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> um compromisso e obrigação <strong>de</strong>incluir a família nos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A evidência teórica,prática e investigacional do significado que a famíliadá para o b<strong>em</strong>-estar e a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus m<strong>em</strong>bros, b<strong>em</strong>como a influência sobre a doença, obriga as enfermeirasa consi<strong>de</strong>rar o cuidado centrado na família como parteintegrante da prática <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>”.O ato <strong>de</strong> cuidar adquire características diferentes <strong>em</strong>cada socieda<strong>de</strong> e é <strong>de</strong>terminado por fatores sociais, culturaise econômicos. Esses fatores vão <strong>de</strong>finir os valorese as condições <strong>em</strong> que se processa o ato cuidador. Portanto,torna-se necessária a compreensão da realida<strong>de</strong>histórica, social e cultural <strong>de</strong> cada família para que o profissional<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> consiga promover uma assistência queatenda o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> todas as suas dimensões.Com o objetivo <strong>de</strong> propiciar aos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>uma melhor compreensão <strong>de</strong>sta instituição que t<strong>em</strong>sido um locus importante para a impl<strong>em</strong>entação das práticas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, realizar<strong>em</strong>os uma revisão teórica sobre aevolução histórica da família, buscando i<strong>de</strong>ntificar a suaorganização e os alicerces que a sustentam, da Antiguida<strong>de</strong>até o Estado Mo<strong>de</strong>rno.DESENVOLVIMENTOA análise marxista sobre a família é profundament<strong>em</strong>arcada pela obra <strong>de</strong> Engels que nos fornece uma explicaçãomaterialista da família e procura explicar as diferentesformas <strong>de</strong> família nas diferentes classes sociais.No século XX, essa análise marxista da família “t<strong>em</strong> seuponto alto no reconhecimento, pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Frankfurt,<strong>de</strong> que ela é uma instituição social e uma i<strong>de</strong>ologia,a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> ter um caráter aparent<strong>em</strong>ente privado”. (2)Nesse contexto, pod<strong>em</strong>os afirmar que, na i<strong>de</strong>ologiaburguesa, “a família não é entendida como uma relaçãosocial que assume formas, funções e sentidos diferentestanto <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência das situações históricas quanto <strong>em</strong><strong>de</strong>corrência da situação <strong>de</strong> cada classe social na socieda<strong>de</strong>.Pelo contrário, a família é representada como sendos<strong>em</strong>pre a mesma (no t<strong>em</strong>po e para todas as classes) e,portanto, como uma realida<strong>de</strong> natural (biológica), sagrada(<strong>de</strong>sejada e abençoada por Deus), eterna (s<strong>em</strong>pre existiue s<strong>em</strong>pre existirá), moral (a vida boa, pura, normal, respeitada)e pedagógica (nela se aprend<strong>em</strong> as regras da verda<strong>de</strong>iraconvivência entre os homens, com o amor dospais pelos filhos, com o respeito e t<strong>em</strong>or dos filhos pelospais, com o amor fraterno)”. (3)Para Engels (4) o estudo sobre a família inicia-se <strong>em</strong>1861, com o Direito Materno <strong>de</strong> Bachofen. Nesse livro,esse autor traça a evolução da família, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os povosprimitivos até a passag<strong>em</strong> para a monogamia, frisando asrelações estabelecidas entre os homens e as mulheres,seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e a dominação masculina pelo pátriopo<strong>de</strong>r. Posteriormente, os estudos <strong>de</strong>senvolvidos porMorgan, junto às socieda<strong>de</strong>s indígenas americanas, retomadospor Engels <strong>em</strong> seu livro “A orig<strong>em</strong> da família, daproprieda<strong>de</strong> privada e do Estado”, possibilitaram o estabelecimentodas relações existentes entre família e socieda<strong>de</strong>.Naquele contexto, a ord<strong>em</strong> social está condicionadaao grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho e à família.Quanto menos <strong>de</strong>senvolvido é o trabalho, menor é ariqueza da socieda<strong>de</strong> e maior a influência dos laços <strong>de</strong>parentesco sobre o regime social. Portanto, a família “éo el<strong>em</strong>ento ativo, nunca permanece estacionária, maspassa <strong>de</strong> uma forma inferior a uma forma superior, àmedida que a socieda<strong>de</strong> evolui <strong>de</strong> um grau mais baixopara outro mais elevado”. (4) À medida que a socieda<strong>de</strong>evolui, a família também evolui e essa evolução é <strong>de</strong>finida,s<strong>em</strong>pre, pelo grau <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> e domínio dohom<strong>em</strong> sobre a natureza. Dessa maneira, para Morganapud Engels (4) , “a família é o produto do sist<strong>em</strong>a social erefletirá o estado <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a”. Passandopelas etapas <strong>de</strong>scritas por Engels sobre a evolução dafamília (consangüínea, punaluana e sindiásmica) chegamosà família monogâmica, baseada no po<strong>de</strong>r do hom<strong>em</strong> sobrea mulher e cuja maior finalida<strong>de</strong> é a procriação dosfilhos, cuja paternida<strong>de</strong> seja indiscutível. Na <strong>de</strong>scrição<strong>de</strong> Morgan (4) , enten<strong>de</strong>-se como família consangüínea aquela<strong>em</strong> que os grupos conjugais classificam-se por gerações.O vínculo <strong>de</strong> irmão e irmã pressupõe a relaçãocarnal mútua. Na família punaluana, os irmãos são excluídosdas relações carnais mútuas. É característico omatrimônio por grupos e a <strong>de</strong>scendência só po<strong>de</strong> serestabelecida pelo lado materno, reconhecendo-se apenasa linhag<strong>em</strong> materna. Na família sindiásmica, o hom<strong>em</strong>vive com uma mulher, mas a poligamia e a infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>ocasional continuam a ser um direito dos homens.O vínculo conjugal dissolve-se com facilida<strong>de</strong> e os filhoscontinuam a pertencer exclusivamente à mãe. Omatrimônio por grupos (família consangüínea epunaluana) é característico do estado selvag<strong>em</strong>. Já a famíliasindiásmica diz respeito à barbárie, a monogâmica,à civilização. Portanto, “a monogamia nasceu da concentração<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s riquezas nas mesmas mãos – as <strong>de</strong>um hom<strong>em</strong> – e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> transmitir essas riquezas,por herança, aos filhos <strong>de</strong>sse hom<strong>em</strong>, excluídos os filhos<strong>de</strong> qualquer outro”. (4)Durante o que se convencionou <strong>de</strong>nominar comoperíodo da Grécia Clássica (século V a.C.), <strong>de</strong>stacaramseduas cida<strong>de</strong>s-estados que ao alcançar<strong>em</strong> maior extensãoterritorial passaram a ter uma gran<strong>de</strong> importân-REME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005 71


A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA…cia política e socioeconômica constituindo-se como pólos<strong>de</strong> visões <strong>de</strong> mundo diametralmente opostas: Espartae Atenas. É no legado <strong>de</strong>ssas organizações sociais quepod<strong>em</strong>os i<strong>de</strong>ntificar traços significativos da estrutura familiaroci<strong>de</strong>ntal, fundada na tradição “greco-romana-judaica-cristã”.Esparta reconhecia na guerra sua vocação e a própriajustificativa para sua existência. A educação visava aformação <strong>de</strong> bons soldados, privilegiando a formação físicae militar. Por volta dos sete anos, as crianças dosexo masculino eram entregues ao Estado que assumia afunção <strong>de</strong> <strong>completa</strong>r a sua educação, preparando-as para“obe<strong>de</strong>cer, resistir ao cansaço e vencer os combates”.A rigi<strong>de</strong>z e a disciplina impostas aos cidadãos <strong>de</strong> Espartapod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>tectadas <strong>em</strong> algumas expressões que sãoutilizadas, cont<strong>em</strong>poraneamente, nas socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntaiscomo, por ex<strong>em</strong>plo, “ vida espartana” – para significarvida dura. As mulheres <strong>de</strong> Esparta também recebiam,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, treinamento físico que incluía a prática<strong>de</strong> ginástica e a participação <strong>em</strong> jogos. Recebiam,além disso, treinamento “psicológico” com o objetivo<strong>de</strong> prepará-las para ser<strong>em</strong> mães e esposas <strong>de</strong> guerreiros.De maneira geral, pod<strong>em</strong>os afirmar que as mulheresespartanas gozavam <strong>de</strong> maior autonomia do que asmulheres <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s-estados porque lhes cabia,juntamente com seus maridos, a participação na administraçãodo patrimônio familiar.De maneira mais acentuada, a socieda<strong>de</strong> ateniense eraorganizada para o mundo masculino. Na família, o espaçof<strong>em</strong>inino era o das funções domésticas. O casamento dasfilhas adolescentes era tratado pelo pai e, após as núpcias,as mulheres ficavam sob o domínio total dos maridos. Anoção <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina estava ligada à idéia da mulherque ficava <strong>em</strong> casa e mantinha o silêncio. Enquanto asmulheres eram preparadas para b<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar as funçõesdomésticas <strong>de</strong> maneira singela e submissa, os homenseram treinados para <strong>de</strong>senvolver um conjunto <strong>de</strong>habilida<strong>de</strong>s físicas e qualida<strong>de</strong>s morais bastante sofisticadas.A educação dos homens atenienses, ao contrário daespartana, era flexível e aberta, buscando a integração entrecorpo e mente <strong>de</strong> forma harmoniosa. (5)Já, na socieda<strong>de</strong> romana, a família vivia sob a autorida<strong>de</strong>do pátrio po<strong>de</strong>r. O hom<strong>em</strong>, casado ou não, tinhana figura do pai o seu juiz natural que po<strong>de</strong>ria con<strong>de</strong>náloà morte por sentença privada. O adulto com pai vivonão podia concluir um contrato, libertar um escravo,elaborar seu testamento ou fazer carreira. Tudo quepossuía pertencia ao pai cuja capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> testador eraquase infinita. O direito <strong>de</strong> primogenitura não existia ecabia ao pai, escolher qual <strong>de</strong> seus filhos seguiria carreirapois as vagas no Senado e nos Conselhos das cida<strong>de</strong>seram poucas e os custos, bancados pelas famílias, muitoaltos. O parricídio acontecia com relativa freqüência e,por ocasião da morte do pai, era anunciada a herança eos filhos tornavam-se adultos.O testamento era <strong>de</strong> imenso valor na Roma Antiga ea sua leitura um acontecimento público, grandioso <strong>em</strong>otivo <strong>de</strong> orgulho para a socieda<strong>de</strong> da época. Através<strong>de</strong>le, <strong>de</strong>finiam-se os her<strong>de</strong>iros, exaltavam-se os maisqueridos, libertavam-se os escravos, insultavam-se os quehaviam sido <strong>de</strong>testados e <strong>de</strong>signavam-se os her<strong>de</strong>irossubstitutos.O casamento era um ato privado, não existindo contratopor escrito e não sendo necessária a presença <strong>de</strong>um juiz ou <strong>de</strong> um padre para celebrá-lo. As pessoas secasavam para receber um dote, ter filhos legítimos eperpetuar o corpo cívico. Configurava-se como uma dasopções <strong>de</strong> vida do cidadão, e a esposa juntamente comos filhos, os libertos, os clientes e os escravos obe<strong>de</strong>ciamao senhor. Em caso <strong>de</strong> litígio por uma herança, buscavam-seprovas para <strong>de</strong>cidir se um hom<strong>em</strong> e uma mulhereram legitimamente casados e test<strong>em</strong>unhas eram ,então, convocadas.O nascimento <strong>de</strong> um romano não era apenas um fatobiológico. Ele só vinha ao mundo por <strong>de</strong>cisão do chefe<strong>de</strong> família e a criança não reconhecida pelo pai era expostadiante da casa ou num local público para ser recolhida.As crianças malformadas eram enjeitadas ou afogadaspois, para os romanos, era necessário separar oque é bom do que não serve para nada. (6)Logo que as crianças nasciam, eram confiadas a umanutriz. Nessa época, as mães não amamentavam seusfilhos e as nutrizes eram encarregadas, além daamamentação, da educação das crianças até a puberda<strong>de</strong>juntamente com um “pedagogo” ou “nutridor”. Tantoa nutriz como o pedagogo constituíam uma vice-famíliapara a criança e recebiam indulgências e complacênciasdo senhor.Até <strong>completa</strong>r<strong>em</strong> doze anos, os meninos e meninasfreqüentavam escolas mistas. Após essa ida<strong>de</strong>, somenteos meninos que pertenciam às classes abastadas, continuavama estudar “para adornar o espírito, para se instruirnas belas letras....Em Roma, não se ensinavam matériasformadoras n<strong>em</strong> utilitárias, e sim prestigiosas e,acima <strong>de</strong> tudo, a retórica”. (6) A escola romana permaneciaseparada da rua e da ativida<strong>de</strong> política e religiosa, eeram consi<strong>de</strong>rados cultos os que aprendiam a língua e aliteratura grega. Ao contrário, a escola grega constituíaparte da vida pública e o esporte ocupava meta<strong>de</strong> daeducação. Não aprendiam o latim e ignoravam os escritoresromanos.Faziam parte da educação intelectual do menino romanoo esporte e a caça. Nadar, correr, marchar, montara cavalo, manejar o arco, a espada e o machado eramativida<strong>de</strong>s indispensáveis para a sua educação, pois omenino <strong>de</strong>veria saber matar e combater para protegersua parentela. A finalida<strong>de</strong> da caça não consistia apenas<strong>em</strong> abastecer as cozinhas, mas, também, <strong>em</strong> treinar paraa guerra, para a arte <strong>de</strong> matar. Aos quatorze anos, omenino abandonava as vestes infantis e as <strong>de</strong>zesseis podiaoptar pela vida pública ou entrar no exército.Quanto às meninas, eram dadas <strong>em</strong> casamento aosdoze anos e, no máximo, aos quatorze eram consi<strong>de</strong>radasadultas. Eram encerradas <strong>em</strong> casa e <strong>de</strong>dicavam-se àsativida<strong>de</strong>s da roca e do fuso. Se tivess<strong>em</strong> talento, aprendiama dançar, a cantar e a tocar um instrumento.As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer consistiam nas idas aos banhospúblicos e aos gran<strong>de</strong>s espetáculos: teatro, corridas <strong>de</strong>cavalos no Circo, lutas <strong>de</strong> gladiadores ou <strong>de</strong> caçadores<strong>de</strong> feras. Essas ativida<strong>de</strong>s eram partilhadas pelos homens,72 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005


mulheres, libertos, escravos e crianças. Nos feriadosreligiosos, os romanos ofereciam sacrifícios <strong>de</strong> animais<strong>em</strong> suas casas, e os amigos eram convidados a partilhar<strong>em</strong><strong>de</strong> sua mesa, motivo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> honra.Com a ascensão do cristianismo, mudanças importantesacontec<strong>em</strong> nos i<strong>de</strong>ais morais da época e provocam arenúncia sexual <strong>completa</strong> para alguns, a ênfase na harmoniaconjugal, a <strong>de</strong>saprovação ao segundo casamento <strong>de</strong>viúvas, a rejeição ao divórcio. Evitava-se o casamento <strong>de</strong>pagãos, e o ato sexual passou a representar a fraquezamoral do hom<strong>em</strong>. A sexualida<strong>de</strong> tornou-se um pecado, eo prazer carnal reproduzia o pecado <strong>de</strong> Adão e Eva.A partir <strong>de</strong> meados do século III, a civilização romanaoci<strong>de</strong>ntal começou a sofrer os efeitos dos movimentosmigratórios dos povos que passaram a interagir, tanto <strong>de</strong>forma pacífica como por meio <strong>de</strong> invasões, com os habitantesdo Império Romano. As tribos, que vagueavam pelas“bordas” do território romano, acabaram por se estabelecernas áreas oci<strong>de</strong>ntais da Europa <strong>de</strong>terminando o<strong>de</strong>clínio da civilização romana. Gauleses na atual França,bretões e outras tribos ceutas da gran<strong>de</strong> família indo-européia(à qual também pertenciam gregos e romanos) nasIlhas Britânicas, eslavos e germanos a leste e ao norte doslimites do território do Império Romano, contribuírampara as profundas transformações que <strong>de</strong>terminaram, aolongo dos primeiros <strong>de</strong>z séculos da era cristã, o processo<strong>de</strong> feudalização na Europa Oci<strong>de</strong>ntal. (7)Esses povos não conheciam o Estado e a cida<strong>de</strong> comoorganismos político-administrativos. Dentro dos váriosclãs ou tribos, o po<strong>de</strong>r estava concentrado nas mãos <strong>de</strong>uma “ass<strong>em</strong>bléia” <strong>de</strong> guerreiros, que mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong>à nobreza medieval. O guerreiro, ou seja o hom<strong>em</strong>livre, era a figura que gozava <strong>de</strong> maior prestígio. (8)A vida social estava centrada nas relações ligadas aoslaços <strong>de</strong> sangue. Nesse sentido, a base da estrutura socialamparava-se na noção geral da existência <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong><strong>de</strong> linhag<strong>em</strong>, que garantia a proteção do grupo<strong>de</strong> pessoas que aí viviam. A mulher partilhava com omarido as tarefas <strong>de</strong> proteção do grupo familiar, tinhadireitos iguais aos dos homens po<strong>de</strong>ndo, inclusive, herdarterras dos pais. Nesse contexto, Duby citado porAriès (9) afirma que “na realida<strong>de</strong>, a família é o primeirorefúgio <strong>em</strong> que o indivíduo ameaçado se protege duranteos períodos <strong>de</strong> enfraquecimento do Estado. Mas assimque as instituições políticas lhe oferec<strong>em</strong> garantiassuficientes, ele se esquiva da opressão da família e oslaços <strong>de</strong> sangue se afrouxam. A história da linhag<strong>em</strong> éuma sucessão <strong>de</strong> contrações e distensões, cujo ritmosofre as modificações da ord<strong>em</strong> política”.A família bárbara <strong>de</strong>via, obrigatoriamente, ser numerosapara po<strong>de</strong>r transmitir a vida e a herança. Váriaspessoas moravam sob o mesmo teto e isso lhes asseguravarefúgio e proteção contra os perigos externos.As cerimônias <strong>de</strong> noivado eram mais exuberantes queas do casamento. Os pais da noiva recebiam uma quantiaque representava uma compra simbólica do po<strong>de</strong>r d<strong>em</strong>ando sobre a mulher. Acontecia um gran<strong>de</strong> banquete,com bebidas, cantos e divertimentos <strong>de</strong>liberadamenteobscenos para estimular a fecundida<strong>de</strong> dos futuros esposos.Na manhã seguinte às núpcias, o hom<strong>em</strong> faziauma doação à esposa como forma <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento porsua virginda<strong>de</strong> e pela garantia que os filhos que ela dariaà luz seriam realmente <strong>de</strong>le.Ao contrário do que ocorria com o hom<strong>em</strong>, a vidaprivada da mulher era pública pelas conseqüências quepodia acarretar. Para Ariès e Duby (6) , “o adultério constituiuma verda<strong>de</strong>ira profanação da mulher e da <strong>de</strong>scendência,portanto da sucessão vindoura. Toda união que<strong>de</strong>spreza as condições sociais é impensável porque dissolvea socieda<strong>de</strong> da mesma forma que a mulher espontaneamenteadúltera <strong>de</strong>strói a autenticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus filhose suprime o carisma do sangue”.A cultura e a religião <strong>de</strong>sses povos mantinham estreitosvínculos com o próprio espírito guerreiro <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>.Os po<strong>em</strong>as e canções improvisadas enalteciam osheróis <strong>de</strong> guerra durante os momentos <strong>de</strong> festas. Entretanto,cada tribo cultuava o seu herói, real ou mitológico,s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>brado através <strong>de</strong> rituais celebrativos. Os ritosreligiosos eram realizados ao ar livre, nos bosques e montanhas,indicando a inexistência <strong>de</strong> t<strong>em</strong>plos. Tais ritosocorriam <strong>em</strong> datas <strong>de</strong>scontínuas e, ainda, <strong>em</strong> ocasiõesparticulares <strong>de</strong> cada clã. Portanto, a unida<strong>de</strong> religiosa nãopô<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada <strong>em</strong> meio às tribos. Não raro, aconteciamsacrifícios humanos e <strong>de</strong> animais. (10)Muito do nosso legado cultural po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificadopela “contaminação” entre os costumes greco-romanose aqueles próprios das tribos “bárbaras”. Alguns traços<strong>de</strong> conotação nitidamente positiva pod<strong>em</strong> ser encontrados<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos festivos como a árvore <strong>de</strong> Natal –associada ao culto à árvore do paraíso e à felicida<strong>de</strong> dafamília – e, também, no hábito do contato físico ao cumprimentar– para os “bárbaros” esten<strong>de</strong>r a mão era prova<strong>de</strong> que não se estava armado. Por outro lado, outraspartes <strong>de</strong>sse legado não foram tão positivas: os vândalos,por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong>ram seu nome a uma das mais belasregiões da Espanha, a Andaluzia – terra dos vândalos –mas o termo vandalismo tornou-se sinônimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struiçãobrutal <strong>em</strong> vários idiomas. Mesmo <strong>de</strong>pois do períododas invasões, a palavra “bárbaro” foi s<strong>em</strong>pre associadaàs idéias <strong>de</strong> brutalida<strong>de</strong>, violência e ignorância.A conquista e a ocupação dos territórios, antes pertencentesao Império Romano, por essas tribos “bárbaras”,favoreceram o processo <strong>de</strong> ruralização da EuropaOci<strong>de</strong>ntal, a partir da distribuição <strong>de</strong> terras pelos chefesdas tribos entre a aristocracia <strong>de</strong> guerreiros. Anos maistar<strong>de</strong>, alianças entre os principais chefes e a Igreja CatólicaRomana possibilitaram tanto a efetiva cristianizaçãoda socieda<strong>de</strong> quanto a prática <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> terraspara o clero. Gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s rurais eram concedidascomo feudos e, <strong>de</strong>sse modo, qu<strong>em</strong> as recebia tornava-seum senhor feudal. Aquele que cedia o b<strong>em</strong> setornava suserano e qu<strong>em</strong> o recebia passava a ser seuvassalo. Como as relações <strong>de</strong> vassalag<strong>em</strong> eram firmadashierarquicamente, formou-se uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> proprietários<strong>de</strong> terras ligados uns aos outros por laços <strong>de</strong>suserania e vassalag<strong>em</strong>. Todos eles viviam da renda e dotrabalho dos camponeses. Dentro <strong>de</strong> seus limitesterritoriais, o senhor feudal exercia a autorida<strong>de</strong> máxima,expressando a inexistência <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r políticocentralizado. O conseqüente <strong>de</strong>saparecimento das es-REME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005 73


A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA…truturas <strong>de</strong> âmbito nacional, como leis próprias, línguase costumes possibilitaram a consolidação do direito consuetudinário,ou seja, um complexo <strong>de</strong> normas não escritas,originárias dos usos e costumes tradicionais. (8)Na base da estrutura social, os camponeses constituíama maioria esmagadora da população. Trabalhavampara produzir alimentos para a família e para os senhores.Ao contrário do escravo da Antigüida<strong>de</strong>, que podiaser vendido e não possuía bens, o camponês do períodofeudal contava com um pedaço <strong>de</strong> terra para garantir osustento <strong>de</strong> sua família, era proprietário <strong>de</strong> ferramentasagrícolas e alguns outros pertences e não podia ser vendido.Estava ligado à terra mesmo quando o feudo, porqualquer motivo, passava para as mãos <strong>de</strong> outro senhor.Era, portanto, servo ou m<strong>em</strong>bro do regime <strong>de</strong> servidão<strong>de</strong> gleba.Na socieda<strong>de</strong> medieval, as mulheres <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhavamfunções diversas. As camponesas auxiliavam sua família naprodução agrícola enquanto as pertencentes às famíliasnobres se encarregavam da tecelag<strong>em</strong> e da organizaçãoda casa, administrando o trabalho das servas. Mas, todaselas estavam submetidas a seus pais e maridos. Exist<strong>em</strong>registros <strong>de</strong> mulheres que chegaram a exercer os direitos<strong>de</strong> um senhor feudal, geralmente viúvas e tutoras <strong>de</strong> seusfilhos menores, tornando-se responsáveis pela extensão<strong>de</strong> seus domínios, apesar do aspecto dominante ter mesmosido a sujeição da mulher. Tal dominação sobre o sexof<strong>em</strong>inino era largamente favorecida pelo cristianismo –alguns teólogos chegaram a afirmar que a mulher era amaior prova da existência do diabo – e <strong>de</strong>fendida pelaIgreja. Paradoxalmente, se a sujeição da mulher era <strong>de</strong>fendidatanto pela Igreja quanto pela aristocracia medieval,algumas atitu<strong>de</strong>s revelavam uma posição <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>da mulher: o culto à Virg<strong>em</strong> Maria e o i<strong>de</strong>al cavalheirescoque transformava a mulher <strong>em</strong> musa inspiradorados poetas e trovadores. (11)O casamento, na maioria das vezes, se realizava <strong>em</strong>função da conveniência masculina, quase não tendo relaçãocom o amor. Para as moças <strong>de</strong> família nobre, a virtu<strong>de</strong>expressava-se no recato e na submissão. Tal como ascrianças, as mulheres eram consi<strong>de</strong>radas incapazes porgran<strong>de</strong> parte dos homens. A visão masculina acerca damulher resultava do receio que os homens tinham doadultério e <strong>de</strong> prováveis magias, que po<strong>de</strong>riam levá-los àimpotência.A educação intelectual do menino iniciava-se, geralmente,após a “barbatoria”, cerimônia que se seguia aoprimeiro barbear do rapaz, pois o pêlo significava queuma das qualida<strong>de</strong>s fundamentais do hom<strong>em</strong>, aagressivida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria ser cultivada. Os ensinamentosconsistiam <strong>em</strong> nadar, correr, marchar, montar a cavaloe manejar o arco, a espada e o machado. Ao término doaprendizado, o menino ajoelhava-se na frente do pai eesse lhe batia violentamente no ombro para testar-lhe aresistência. Segundo Ariès e Duby (6) , “a sagração era umrito <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>: garantia que o rapaz agora sabia combatere matar para proteger sua parentela”.Cabe, ainda, <strong>de</strong>stacar o papel do clero na manutençãoda ord<strong>em</strong> feudal e na preservação da herança culturalgreco-romana. A multiplicação dos mosteiros e dasor<strong>de</strong>ns religiosas, a partir do século VI, possibilitou aconservação dos textos gregos e romanos que teriam,muito provavelmente, se perdido <strong>em</strong> meio à <strong>de</strong>sord<strong>em</strong>do período das invasões. A divisão do território europeu<strong>em</strong> paróquias significou o estabelecimento <strong>de</strong> umaorganização minimamente centralizada que, muitas vezes,serviu <strong>de</strong> apoio ao po<strong>de</strong>r político fragmentário quecaracterizou a Europa feudal. Além disso, bispos e padresassumiram perante a socieda<strong>de</strong> o papel <strong>de</strong> intermediáriosentre Deus e os homens diss<strong>em</strong>inando o fortesentimento religioso que permeava a vida cotidiana.Nessa intermediação, o clero procurou estabelecer umaestreita inter-relação entre os terrores do mundo e osreceios sobre a vida eterna (a violência, o medo do sexoe da morte), criando nos indivíduos uma culpa surda. Detodo modo, o medo do inferno era mais forte do que acrença na salvação. Nesse sentido, santos e anjos foram,provi<strong>de</strong>ncialmente, apresentados como protetores capazes<strong>de</strong> ajudar as pessoas no seu dia-a-dia, protegendoa saú<strong>de</strong> das crianças e adultos, favorecendo a fertilida<strong>de</strong>da terra e dos rebanhos, afastando as catástrofes da naturezae, sobretudo, neutralizando o po<strong>de</strong>r dosd<strong>em</strong>ônios. (12)Ao assumir<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong> guardiões da herança culturalda Antigüida<strong>de</strong> Clássica, os mosteiros serviram <strong>de</strong>centros <strong>de</strong> ensino para os leigos. Com o passar do t<strong>em</strong>po,a ligação entre a Igreja e a cultura passou a ser afirmadanão apenas nos mosteiros, mas também num novotipo <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> ensino: a universida<strong>de</strong>. Ligados àIgreja, <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria, os professores <strong>de</strong>ssas instituiçõesdariam orig<strong>em</strong>, no final do período medieval, auma nova categoria social, a dos intelectuais aos quaiscaberia, séculos mais tar<strong>de</strong>, a função <strong>de</strong> esboçar o quefoi uma das principais tarefas dos humanistas, ou seja,<strong>de</strong>svincular a razão da fé.As festivida<strong>de</strong>s religiosas representavam, na socieda<strong>de</strong>feudal, momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e congregação. Entreos entretenimentos mais apreciados por todos os segmentossociais, <strong>de</strong> natureza religiosa e por isso incluídosno calendário litúrgico anual, <strong>de</strong>stacavam-se as comilançasque eram banquetes essencialmente noturnos com menusvariados. A maioria <strong>de</strong>sses eventos servia para reforçara união <strong>de</strong> amigos e familiares das camadas maisprivilegiadas, com<strong>em</strong>orando alguma graça conquistada.As refeições, principalmente a da noite, eram verda<strong>de</strong>irosrituais religiosos e os banquetes <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>aproximavam as pessoas dos <strong>de</strong>uses. Comer muito garantiaa força genética e geradora e as comilanças eram<strong>de</strong>stinadas a assegurar a salvação física e espiritual dafamília. A <strong>em</strong>briaguez era consi<strong>de</strong>rada como um domdos <strong>de</strong>uses e um verda<strong>de</strong>iro êxtase e o i<strong>de</strong>al alimentarbaseava-se <strong>em</strong> pratos pesados e gordos, sopas e, principalmente,pão. As sestas, os arrotos e a flatulência constituíamsinal <strong>de</strong> boa saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ferência ao anfitrião. (6)A partir do século XIV, a Europa medieval sofreumodificações significativas nos aspectos econômico—como reaquecimento das ativida<strong>de</strong>s comerciais—cultural ereligioso—com os questionamentos reintroduzidos nasocieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> conseqüência do Renascimento e das ReformasProtestante e Católica—social—com o surgimento74 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005


da burguesia e o crescente processo <strong>de</strong> urbanização e,finalmente, político—com a centralização do po<strong>de</strong>r políticoe a conseqüente consolidação dos Estados Nacionais.No entanto, a amplitu<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> feudal não serestringiu ao período feudal. Sua complexa estruturaçãosocial coexistiu com a socieda<strong>de</strong> européia mo<strong>de</strong>rna como,por ex<strong>em</strong>plo, a manutenção e a exacerbação do sist<strong>em</strong>ahierárquico que <strong>de</strong>terminava uma certa imobilida<strong>de</strong> entreos grupos sociais. A rigi<strong>de</strong>z hierárquica refletia-se nas práticas<strong>de</strong> representação social que, por sua vez, expressavamrígidas normas <strong>de</strong> comportamento. Pod<strong>em</strong>os citar,para ilustrar tal fato, o vestuário da época que apresentavaa posição do indivíduo na socieda<strong>de</strong>: quanto mais rodadafosse a saia da mulher, quanto mais arminho tivesse,maior era a sua posição social. Apesar <strong>de</strong> a vitória da RevoluçãoFrancesa, <strong>em</strong> 1789, ter representado um golpe<strong>de</strong>cisivo contra os resquícios feudais na Europa Oci<strong>de</strong>ntal,alguns el<strong>em</strong>entos sobreviveram, vinculados a estruturastradicionais ou mo<strong>de</strong>rnizadas. (11)Durante o século XV, ainda era gran<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> afeiçãodos adultos para com as crianças. Essas eram mantidas<strong>em</strong> suas casas até a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 7-9 anos quando, então,eram colocadas nas casas <strong>de</strong> outras pessoas. Incumbiam-se<strong>de</strong> todas as tarefas domésticas, e os ingleses efranceses acreditavam ser mais b<strong>em</strong> servidos por criançasestranhas do que por seus próprios filhos. Esse eraum hábito difundido <strong>em</strong> todas as classes sociais e “eraatravés do trabalho doméstico que o mestre transmitiaa uma criança, não ao seu filho, mas ao filho <strong>de</strong> outrohom<strong>em</strong>, a bagag<strong>em</strong> <strong>de</strong> conhecimentos, a experiênciaprática e o valor humano que pu<strong>de</strong>sse possuir”. (9)A transmissão do conhecimento <strong>de</strong> uma geração aoutra era garantida pela participação das crianças na vidados adultos, através do contato <strong>de</strong> cada dia. Nesse contexto,Ariès (9) afirma que “a família era uma realidad<strong>em</strong>oral e social, mais do que sentimental”.Após o século XV, a escola passou a ser o instrumentonormal da iniciação social, da passag<strong>em</strong> do mundoda infância para o mundo dos adultos. Constatamos,nessa época, o nascimento e o <strong>de</strong>senvolvimento do sentimento<strong>de</strong> família, reconhecida como um valor e formadapelos pais e filhos.Contudo, o ingresso da criança na escola não foi vistocom muita naturalida<strong>de</strong> pelos pais. Os adultos acreditavamque se as crianças foss<strong>em</strong> criadas <strong>em</strong> casa haveriauma maior preocupação com a sua saú<strong>de</strong> e elas apren<strong>de</strong>riammais rapidamente os <strong>de</strong>veres da vida civil e a boaeducação. Mas existiam, também, os inconvenientes daeducação doméstica como, por ex<strong>em</strong>plo, os mimos dospais, as visitas freqüentes que interferiam nos estudos ea promiscuida<strong>de</strong> dos criados. (9)Até o final do século XVII, a casa servia tanto paraabrigar a família como para receber amigos, clientes, parentese protegidos. As visitas eram freqüentes e comandavama vida da casa ditando, inclusive, o horáriodas refeições. Não havia <strong>de</strong>stinação entre os cômodosda casa, vivia-se <strong>em</strong> salas on<strong>de</strong> se fazia <strong>de</strong> tudo: comer,dormir, receber visitas, trabalhar e resolver negócios.Nessas famílias, entretanto, “já surgia o sentimento mo<strong>de</strong>rnoda família, não como refúgios contra a invasão domundo, mas como os núcleos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, os centros<strong>de</strong> uma vida social muito <strong>de</strong>nsa. Em torno <strong>de</strong>las,estabeleciam-se círculos concêntricos <strong>de</strong> relações, progressivament<strong>em</strong>ais frouxos <strong>em</strong> direção à periferia: círculos<strong>de</strong> parentes, <strong>de</strong> amigos, <strong>de</strong> clientes, <strong>de</strong> protegidos,<strong>de</strong> <strong>de</strong>vedores, etc ”. (9)É no século XVIII que a família começou a manter asocieda<strong>de</strong> à distância do meio doméstico. O espaço físicofoi reorganizado e assegurava a in<strong>de</strong>pendência doscômodos, <strong>de</strong>ixando um espaço maior para a intimida<strong>de</strong>.“Esse grupo <strong>de</strong> pais e filhos, felizes com sua solidão, estranhosao resto da socieda<strong>de</strong>, não é mais a família doséculo XVII, aberta para o mundo invasor dos amigos,clientes e servidores: é a família mo<strong>de</strong>rna”. (9)Foi no contexto marcado pela ascensão da nova ord<strong>em</strong>capitalista que se estabeleceram as bases da estruturafamiliar da atualida<strong>de</strong>. A necessária valorização dotrabalho preconizada pela classe burguesa, a“moralização” do lucro, a concorrência, a expropriaçãodos trabalhadores, <strong>de</strong>ntre uma série <strong>de</strong> outros fatores,significaram profundas transformações na família. A consolidaçãodo capitalismo representou uma espécie <strong>de</strong>resignificação dos papéis dos m<strong>em</strong>bros da família principalmenteporque mulheres e crianças passaram a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar,junto com os homens, as funções ligadas àgeração <strong>de</strong> recursos para a própria sobrevivência donúcleo familiar. Sobretudo, no caso da mulher, tais modificaçõesacabaram por levar ao processo <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipaçãodo sexo f<strong>em</strong>inino. De toda forma, ao ingressar nomundo masculino da força <strong>de</strong> trabalho, as mulheresgradativamente passariam a reivindicar participação política,cultural e até religiosa. As crianças, por sua vez,acabaram por significar o <strong>de</strong>pósito das esperançascivilizacionais que atendiam aos interesses do capitalismoe começaram a ser preparadas para participar <strong>de</strong>forma cada vez mais “produtiva” no mercado capitalista,seja como mão-<strong>de</strong>-obra, seja como consumidoras.Finalizando, Ariès e Duby (6) afirmam que “naturalmenteinscrita no interior da casa, da morada, encerradasob fechaduras, entre muros, a vida privada parece,portanto, enclausurada. No entanto, por <strong>de</strong>ntro e porfora <strong>de</strong>ssa ‘clausura’, cuja integrida<strong>de</strong> as burguesias doséculo XIX enten<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a todo custo, constant<strong>em</strong>entese travam combates. Voltado para o exterior,o po<strong>de</strong>r privado <strong>de</strong>ve sustentar os assaltos dopo<strong>de</strong>r público. Deve, também, do outro lado da barreira,conter as aspirações dos indivíduos à in<strong>de</strong>pendência,pois o recinto abriga um grupo, uma formação socialcomplexa, na qual as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, as contradiçõesparec<strong>em</strong> atingir o ápice, o po<strong>de</strong>r dos homens sechoca mais intensamente do que fora com o po<strong>de</strong>r dasmulheres, o dos velhos com o dos jovens, o po<strong>de</strong>r dosamos com a indocilida<strong>de</strong> dos criados”.As diferentes formas <strong>de</strong> organização familiar, atravésdos t<strong>em</strong>pos, reflet<strong>em</strong>-se nas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atenção àsaú<strong>de</strong> das populações. Importante salientar que é atravésda família que o Estado consegue exercer um controlesobre os indivíduos, impondo-lhes diferentes responsabilida<strong>de</strong>sconforme cada momento histórico. SegundoPrado (14) , a família servirá, também, <strong>em</strong> favor doREME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005 75


A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA…Estado, como “válvula <strong>de</strong> segurança das revoltas e conflitossociais (...) Interessa, portanto, ao Estado canalizartodas as energias individuais ou coletivas para a esferadoméstica, <strong>de</strong>sviando-as da contestação e <strong>de</strong> reivindicaçõessociais”. Contar, portanto, com a família na organizaçãoe impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> novas práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é referendara importância do papel <strong>de</strong>ssa instituição.CONSIDERAÇÕES FINAISEstudar a família possibilita um melhor entendimentoda estrutura das socieda<strong>de</strong>s e do seu <strong>de</strong>senvolvimentoeconômico, social, político e cultural. Para o profissionalque atua na área da saú<strong>de</strong>, conhecer as diferençasregionais, os grupos sociais, a época, o local, os valorese as tradições culturais, enfim, a realida<strong>de</strong> social e histórica<strong>de</strong> cada socieda<strong>de</strong>, dinamiza e enriquece a assistênciaprestada.A família, como instituição social, é capaz <strong>de</strong> promovertransformações sociais, adaptando-se às normas vigentes<strong>em</strong> cada período histórico e facilitando a adaptação<strong>de</strong> seus m<strong>em</strong>bros aos novos valores e condições sociaise econômicas. Nesse contexto, contar com a famíliacomo parceira da assistência é contar com um aliado po<strong>de</strong>rosona implantação das novas políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Essas novas políticas e os mo<strong>de</strong>los assistenciais daíadvindos têm, cada vez mais, incluído e às vezes responsabilizadoo indivíduo e a família pela impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong>novas formas <strong>de</strong> cuidado. Pod<strong>em</strong>os citar como ex<strong>em</strong>ploso autocuidado, o home care, o cuidador da assistênciadomiciliar, o Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, etc.Por isso, é necessário enten<strong>de</strong>r criticamente essa organizaçãopara tê-la como parceira fundamental <strong>em</strong> qualquerprática <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> inovadora que venha a ser implantadae não como <strong>de</strong>fensora do status quo.Redirecionar a nossa prática, através da capacitação<strong>de</strong> novos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aptos a atuar <strong>de</strong> acordocom a realida<strong>de</strong> das novas políticas assistenciais e comesse ator fundamental que é a família, possibilitará que ohom<strong>em</strong> seja visto <strong>em</strong> sua totalida<strong>de</strong> e não esfacelado nosocial, no psíquico, no biológico.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1 – Wright MW, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliaçãoe intervenção na família. São Paulo: Roca; 2002.2 - Bottomore T, Editor. Dicionário do pensamento marxista. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Jorge Zahar; 1988.3 – Chauí MS. O que é i<strong>de</strong>ologia. São Paulo: Brasiliense; 1981.4- Engels F. A orig<strong>em</strong> da família, da proprieda<strong>de</strong> privada e do Estado.15ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil; 2000.5 - Finley MI. D<strong>em</strong>ocracia antiga e mo<strong>de</strong>rna. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal;1988.6 - Ariès P, Duby G. História da vida privada: do Império Romano aoano mil. São Paulo: Companhia das Letras; 1990.7 - Antonetti G. A economia medieval. São Paulo: Atlas; 1977.8 - Le Goff J. Para um novo conceito <strong>de</strong> Ida<strong>de</strong> Média. Lisboa: Estampa;1980.9 – Ariès P. História social da criança e da família. 2ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Zahar; 1981.10 – Gurevitch AL. As categorias da cultura medieval. Lisboa: Caminho;1991.11- Freire EAL. A mulher na Ida<strong>de</strong> Média: serva ou musa? Rev DeptoHistória da <strong>UFMG</strong> set/1988; n.7. p.155-157.12 - Le Goff J. L’imaginaire médiévale. Paris: Gallimard; 1991.13 – Elias N. A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Corte. 2ª ed. Lisboa: Estampa; 1995.14 – Prado D. O que é família. São Paulo: Brasiliense; 1983.76 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005


OFICINAS DE SENSIBILIDADE E CRIATIVIDADE COM UMGRUPO DE ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADOSRelatos <strong>de</strong>ExperiênciaSENSITIVITY AND CREATIVITY WORKSHOPS WITH A GROUP OFINSTITUTIO NALIZED ADOLESCENTSTALLERES DE SENSIBILIDAD Y CREATIVIDAD CON GRUPOS DEJÓVENES INSTITUCIONALIZADOSLeila M<strong>em</strong>ória Paiva Moraes 1Violante Augusta Batista Braga 2RESUMOObjetivamos <strong>de</strong>screver a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> oficinas realizadas com um grupo <strong>de</strong> adolescentes institucionalizados, buscandoapreen<strong>de</strong>r os sentimentos dos adolescentes, quanto à sua relação com as drogas. Usamos o referencial teóricometodológicoda sociopoética. Realizamos oito oficinas <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> - uma <strong>de</strong> planejamento e tomada<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões com o grupo-pesquisador, quatro <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> dados, duas <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> indicadores e uma <strong>de</strong> restituição<strong>de</strong>stes. Consi<strong>de</strong>ramos que o grupo propiciou aprendizado entre co-pesquisadores, com oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong>uns com os outros, resgatar<strong>em</strong> a auto-estima, fazer<strong>em</strong> a auto<strong>de</strong>scoberta, falar<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas vidas e sentimentos quanto àsdrogas e um espaço terapêutico.PALAVRAS CHAVES: Adolescente institucionalizado; Prática <strong>de</strong> grupo; Dependência <strong>de</strong> drogas; Pesquisa <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>;Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> grupos.ABSTRACTThe intention was to <strong>de</strong>scribe the running of workshops with a group of institutionalized adolescents, seeking to un<strong>de</strong>rstandtheir feelings in their relation with drugs. Socio-poetics was used as the theoretical and methodological framework. Weheld eight workshops for sensitivity and creativity: one for planning and <strong>de</strong>cision making with the research group, four toproduce data, two to analyze indicators and one to restitute these. We consi<strong>de</strong>red that the group provi<strong>de</strong>d learningamong the co-researchers, with an opportunity to learn with each other, recover self-este<strong>em</strong> through self-discovery, talkabout their life and feelings towards drugs and a therapeutic opportunity.KEY WORDS: Institutionalized Adolescent; Group Practice; Drug Abuse; Nursing Research; Coordination of Groups.RESUMENEl objetivo <strong>de</strong>l presente estudio es <strong>de</strong>scribir la coordinación <strong>de</strong> talleres llevados a cabo con un grupo <strong>de</strong> jóvenesinstitucionalizados buscando captar lo que sienten con respecto a su relación con las drogas. Utilizamos el referenteteórico y metodológico <strong>de</strong> la sociopoética. Realizamos ocho talleres <strong>de</strong> sensibilidad y creatividad, uno <strong>de</strong> planificación ytoma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisiones con el grupo investigador, cuatro <strong>de</strong> producción <strong>de</strong> datos, dos <strong>de</strong> análisis <strong>de</strong> indicadores y uno <strong>de</strong>restitución. Consi<strong>de</strong>ramos que el grupo propicia el aprendizaje entre los coinvestigadores, con oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>runos con los otros, <strong>de</strong> rescatar el amor propio, <strong>de</strong>scubrirse a sí mismos, hablar <strong>de</strong> sus vidas y sentimientos ante lasdrogas y un espacio terapéutico.PALABRAS CLAVE: Jóvenes Institucionalizados; Práctica <strong>de</strong> Grupo; Depen<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> Drogas; Investigación enEnfermería; Coordinación <strong>de</strong> Grupos1 Enfermeira. Mestra <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Docente do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará. M<strong>em</strong>bro do Grupo<strong>de</strong> Pesquisa “Políticas e Práticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>”.2 Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Docente da Graduação e Pós-Graduação do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará. Lí<strong>de</strong>r doGrupo <strong>de</strong> Pesquisa “Políticas e Práticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>”.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro 50 B-713, Bela vista, Fortaleza –Ce, Cep. 60441-150. e-mail: leilammp@bol.com.brREME – Rev. Min. Enf; 9(1):77-83, jan/mar, 2005 77


OFICINAS DE SENSIBILIDADE E CRIATIVIDADEINTRODUÇÃOO trabalho com grupos é um dos recursos utilizadospor vários profissionais na área da saú<strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>rclientelas especificas. A partir da busca <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong>senvolvidossobre grupos, observamos que há poucosregistros na literatura <strong>de</strong> grupos que <strong>de</strong>senvolvam assistênciaà saú<strong>de</strong> com adolescentes . Esse t<strong>em</strong>a é cont<strong>em</strong>pladopor consi<strong>de</strong>rarmos que, ao vivenciar<strong>em</strong> uma fase<strong>de</strong> transição, esta se traduz <strong>em</strong> um momento <strong>de</strong> crisecaracterizada pela metamorfose à qual os sujeitos sãosubmetidos na passag<strong>em</strong> entre a infância e a vida — adulta/ a adolescência. Nesse período, é percebida a busca porexperiências novas, uma das quais, observamos, é o usodas drogas psicoativas, iniciado cada vez mais precoc<strong>em</strong>ente.Estudos apontam para o aumento do uso abusivoe in<strong>de</strong>vido <strong>de</strong> drogas entre os adolescentes dar-se cadavez mais cedo, por volta dos <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> ambosos sexos. (1)Foi sobre a relação do adolescente com as drogaspsicoativas que realizamos esta pesquisa, tendo comofoco central a apreensão dos sentimentos <strong>de</strong> um grupo<strong>de</strong> adolescentes institucionalizados . Para isso, trabalhamoscom um grupo <strong>de</strong>les, utilizando como recurso oficinas<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> como uma das formasencontradas para favorecer a expressão <strong>de</strong> sentimentosrelativos ao uso <strong>de</strong> drogas, por meio <strong>de</strong> dispositivoscriativos, e i<strong>de</strong>ntificar o modo como os adolescentesvivenciam o uso <strong>de</strong> drogas <strong>em</strong> seu cotidiano; procuramos,então, extrair da realida<strong>de</strong> examinada el<strong>em</strong>entosimportantes para uma aproximação maior da probl<strong>em</strong>áticae fornecer subsídios para a reflexão <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong>que precisa ser transformada. (2)As oficinas são vivências grupais que permit<strong>em</strong> aosseus participantes sentir<strong>em</strong>-se sujeitos construtores eagentes transformadores, possibilitando uma açãoeducativa, <strong>de</strong> modo que os trabalhos grupais sejam maisafetivos, participativos e <strong>de</strong> espaço para construçãocoletiva do conhecimento. Toda essa construção acontecea partir do saber-vida que começa <strong>de</strong>spertando ossentidos e visualizando, o máximo possível, o cotidianodos participantes. (3)T<strong>em</strong>os como objetivo, neste estudo, <strong>de</strong>screver a coor<strong>de</strong>naçãodas ativida<strong>de</strong>s realizadas durante oficinas <strong>de</strong>sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> com adolescentesinstitucionalizados.CONSTRUÇÃO DO PROCESSO TEÓRICO- METODOLÓGICOConsi<strong>de</strong>rando o fato <strong>de</strong> preten<strong>de</strong>rmos apreen<strong>de</strong>r ossentimentos dos adolescentes com relação ao uso <strong>de</strong>drogas, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejarmos utilizar algo inovador, queproporcionasse a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar a sensibilida<strong>de</strong>,a criativida<strong>de</strong> e a relação com o outro, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>osuma pesquisa qualitativa inspirada no referencialteórico-metodológico da sociopoética, através do métododo grupo-pesquisador, utilizando subsídios da teoriada análise institucional.O método do grupo-pesquisador é dividido <strong>em</strong> seismomentos: a entrada no grupo sujeito da pesquisa(a formação do grupo-pesquisador), <strong>em</strong> que o facilitadorda pesquisa negocia a sua entrada e sua aceitação pelossujeitos da pesquisa ou co-pesquisadores; a escolha dot<strong>em</strong>a a ser pesquisado; a produção <strong>de</strong> dados; a análiseexperimentaçãodos dados; a contra-análise dos dadose, por último, a socialização da pesquisa. (4)A seqüência <strong>de</strong>scrita faz parte do método do grupopesquisador.Foram esses seis momentos <strong>de</strong> construçãoque procuramos <strong>de</strong>senvolver ao longo <strong>de</strong>sta pesquisa,cuidadosamente respeitando o rigor do método e preservandoa privacida<strong>de</strong> e o sigilo dos dados produzidos,juntamente com o anonimato dos integrantes do grupo,conforme <strong>de</strong>termina a Resolução 196/96, sobre as normas<strong>de</strong> pesquisa envolvendo seres humanos. O projetofoi aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisas comSeres Humanos sob o protocolo número 19/02.O local escolhido para o cenário do estudo foi umabrigo público <strong>de</strong>stinado ao atendimento <strong>de</strong> adolescentes<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> risco, unida<strong>de</strong> oriunda do<strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bramento da antiga FEBEMCE (Fundação <strong>de</strong>B<strong>em</strong>- Estar do Menor – Ceará), que faz parte <strong>de</strong> umare<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência à criança e ao adolescente.Atualmente, encontra-se vinculado à SETAS/CE – Secretariado Trabalho e Ação Social do Estado do Ceará. Oabrigo é uma unida<strong>de</strong> mista que é um recurso <strong>de</strong>internação total viabilizado como medida <strong>de</strong> proteção,<strong>em</strong> caráter provisório e excepcional, para aqueles <strong>em</strong>situação <strong>de</strong> risco pessoal e social, porém, os adolescentesnão são privados <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Consi<strong>de</strong>ra-se adolescente,para os efeitos <strong>de</strong> lei, a pessoa entre doze e <strong>de</strong>zoitoanos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. (5)Os sujeitos que constituíram o estudo eram <strong>de</strong> ambosos sexos, vinculados ao abrigo. Um dos critérios <strong>de</strong>inclusão na pesquisa foi o <strong>de</strong> que cada um dos sujeitosaceitasse participar do grupo-pesquisador e já tivesse feitouso <strong>de</strong> drogas. O número <strong>de</strong> participantes foi <strong>de</strong>finido<strong>de</strong> acordo com a disponibilida<strong>de</strong> e interesse <strong>em</strong> participarda investigação. Formamos um grupo com 15 adolescentesinstitucionalizados. Além <strong>de</strong> uma sala que foidisponibilizada para reuniões do grupo, dispúnhamos <strong>de</strong>outros recursos, como aparelho <strong>de</strong> som, quadro <strong>de</strong> escrever,máquina fotográfica e os diversos materiais utilizados<strong>em</strong> cada oficina (balões, canetas, tesouras, cola, tintas,vários tipos <strong>de</strong> papéis, lápis <strong>de</strong> cera, revistas, jornais,faixas <strong>de</strong> tecidos, barbantes, fita a<strong>de</strong>siva, entre outros).Quanto ao planejamento <strong>de</strong>ssas oficinas <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>e criativida<strong>de</strong>, tudo foi planejado após <strong>de</strong>cisões tomadascom o grupo-pesquisador, o qual <strong>de</strong>nominamos<strong>de</strong> “Meninos do Abrigo”. Foram oito encontros, assimdistribuídos: uma oficina <strong>de</strong> aproximação e tomada <strong>de</strong><strong>de</strong>cisões com o grupo-pesquisador, quatro <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> dados, duas <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados e uma <strong>de</strong> restituiçãodos dados.As oficinas <strong>de</strong> produção e análise ocorreram <strong>em</strong> espaçodo abrigo, já que o grupo só po<strong>de</strong>ria sair autorizadopela direção do serviço, por estar sob guarda judicial.Cada oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> teve duashoras <strong>de</strong> duração e uma periodicida<strong>de</strong> programada <strong>de</strong>acordo com a disponibilida<strong>de</strong> do grupo-pesquisador.Como categorias t<strong>em</strong>áticas nas oficinas, utilizamos ascores primárias (azul, amarelo e vermelho), secundárias78 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):77-83, jan/mar, 2005


(ver<strong>de</strong>) e o tom luz, que é o branco. Não utilizamos opreto por não ser consi<strong>de</strong>rado uma cor, mas reunião <strong>de</strong>todas as cores. Ao iniciarmos nossos trabalhos nas oficinas,sentimos que o grupo se relacionava <strong>de</strong> forma harmoniosacom as diversas cores e, a cada encontro, constatávamosque, por meio <strong>de</strong>las, havia melhor flui<strong>de</strong>z <strong>de</strong>pensamentos.O CAMINHO PERCORRIDO DURANTE ASOFICINASAs oficinas <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> ocom grupo-pesquisador “Meninos do Abrigo”As oficinas <strong>de</strong>senvolveram-se com a utilização <strong>de</strong> umaestrutura própria, obe<strong>de</strong>cendo a uma seqüência que serepetiu <strong>em</strong> todos os encontros. Cada encontro teve quatromomentos: o momento inicial ou acolhida, que chamamos<strong>de</strong> conversa franca; <strong>em</strong> seguida o relaxamento;o terceiro, <strong>de</strong> produção ou <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados, <strong>de</strong> acordocom o objetivo do encontro; e, por último, a avaliação.Na acolhida ou conversa franca, como <strong>de</strong>nominamos,falávamos e comentávamos as dúvidas dos co-pesquisadorese da própria facilitadora da pesquisa, acertandopontos pen<strong>de</strong>ntes, retomando as oficinas anteriores. Ess<strong>em</strong>omento servia como aquecimento que antecedia o relaxamento,o qual foi ocorrendo da forma mais naturalpossível, à medida que sentíamos a dinâmica grupal. Oterceiro momento era <strong>de</strong> produção ou análise dos dados,sendo realizado por intermédio <strong>de</strong> dispositivos diversos.Por último, tínhamos o espaço para a motivação,tendo como dispositivos técnicas grupais, com o objetivo<strong>de</strong> avaliar o encontro e motivar a participação dos adolescentesnas próximas oficinas.1ª Oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>:planejamento e tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões com o grupopesquisadorNessa oficina, tiv<strong>em</strong>os os primeiros contatos com osadolescentes que formaram o grupo-pesquisador. Sentimentoscomo medo e angústia invadiam-nos, mas nãonos imobilizavam. Talvez esses sentimentos estivess<strong>em</strong>presentes pelo fato <strong>de</strong> a fase <strong>de</strong> planejamento e tomadas<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões com o grupo-pesquisador ser uma etapa queexige perspicácia do pesquisador, ocasionando ansieda<strong>de</strong>.Nesse instante, veio a reflexão <strong>de</strong> como seria corajosotrabalhar esse método <strong>de</strong> pesquisa com adolescentes.Não porque eles não se enquadrass<strong>em</strong>, pelo contrário,mas pela necessida<strong>de</strong> que teríamos, mais do quenunca, <strong>de</strong> sermos perspicazes, realizando um trabalhodinâmico, criativo e motivador, e que, principalmente,produzisse dados.Do planejamento das oficinas e tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisõesparticiparam vinte e três adolescentes. Todos expressavamcuriosida<strong>de</strong> com aquele momento, <strong>em</strong> relação ao queiríamos fazer e por que estávamos ali. Sentimos, <strong>em</strong> alguns,resistência <strong>em</strong> participar do encontro, como se estivess<strong>em</strong>naquele local forçados pela direção do abrigo;afinal tinham sido liberados <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s rotineiras.Nesse primeiro encontro, iniciamos com uma explanaçãorápida <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> éramos e para que estávamos ali.Começamos a respon<strong>de</strong>r os questionamentos que foramsurgindo <strong>em</strong> relação à pesquisa, principalmente sobreas oficinas. Enfatizamos que a participação <strong>de</strong>les serialivre, explicando um pouco sobre a ética na buscacientífica, que era um trabalho <strong>de</strong> pesquisa e não <strong>de</strong> intervenção.Em seguida realizamos uma técnica <strong>de</strong> relaxamento,Técnica do contato com o movimento<strong>de</strong> caminhar. Nela, todos <strong>de</strong>veriam andar livr<strong>em</strong>entepela sala, <strong>de</strong> pés <strong>de</strong>scalços, compassadamente, ao som<strong>de</strong> uma música tranqüila, tentando ficar b<strong>em</strong> à vonta<strong>de</strong>.Em seguida, solicitamos que, ainda andando lentamente,eles imaginass<strong>em</strong> que estivess<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma galeria <strong>de</strong> artese voltass<strong>em</strong> suas visões para essa galeria e apreciass<strong>em</strong>cada peça artística fixada na pare<strong>de</strong>, escolhendo <strong>em</strong>seguida aquela que tivesse alguma coisa relacionada consigo,que l<strong>em</strong>brasse algo, ou simplesmente que mais lheschamasse a atenção. Essa galeria <strong>de</strong> artes foi criada eapresentada a eles. Eram figuras fixadas nas pare<strong>de</strong>s dasala <strong>de</strong> oficinas. Estas ativida<strong>de</strong>s tiveram como objetivosfazer com que os adolescentes percebess<strong>em</strong> o ritmo docaminhar <strong>em</strong> sua vida, e a escolha das gravuras da galeriaseria uma forma <strong>de</strong> entrar<strong>em</strong> <strong>em</strong> contato com seu agora,como se foss<strong>em</strong> um espelho refletindo como se viamno mundo.Ao final do encontro, indagamos qu<strong>em</strong> do grupo gostaria<strong>de</strong> participar da pesquisa. Dos vinte e três participantes,quinze concordaram <strong>em</strong> fazer parte do grupo(quatro meninas e onze meninos). Fechamos a data e ohorário da primeira oficina <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> dados, ouseja, a primeira aproximação com os que viriam a ser ogrupo-pesquisador.2ª Oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>: produção<strong>de</strong> dados pela escolha do t<strong>em</strong>a geradorNa conversa franca, fiz<strong>em</strong>os a apresentação dosobjetivos do trabalho e explanação da propostametodológica e t<strong>em</strong>ática da forma mais <strong>completa</strong>, pois,no encontro anterior, havíamos comentado sobre essasquestões <strong>de</strong> uma forma geral. Reforçamos a idéia <strong>de</strong> queformávamos um grupo-pesquisador, no qual eles seriamos co-pesquisadores e nós os facilitadores da pesquisa;falamos da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se preservar<strong>em</strong> os aspectoséticos na pesquisa, como o anonimato do grupo. Porfim, eles permitiram o registro das produções e análisescom fotos e gravações.No segundo momento, realizamos a técnicaDescontração (6) , cujo intuito era proporcionar a liberação<strong>de</strong> energia e ansieda<strong>de</strong> que o grupo d<strong>em</strong>onstrava.Lançamos um <strong>de</strong>safio: “quer<strong>em</strong>os ver qu<strong>em</strong> acompanhao ritmo”. Eles <strong>de</strong>veriam dançar ao som <strong>de</strong> vários ritmosmusicais (forró, rap, valsa, pago<strong>de</strong>, instrumental, rock eaxé). A participação foi quase geral. Apenas dois co-pesquisadoresnão se envolveram por inteiro nessa técnica,pois ficaram meio tímidos, encostados à pare<strong>de</strong>, ou tentandomudar <strong>de</strong> posição pela sala, como qu<strong>em</strong> não quisesseser observado pela sua inércia, ou, ainda, tentandoquebrar aquela timi<strong>de</strong>z que os impedia <strong>de</strong> entrar na <strong>de</strong>sord<strong>em</strong>dos outros. Dançando, envolvidos pelo <strong>em</strong>balodas músicas, outros participantes <strong>em</strong>purravam-se, xingavam-se,sorriam facilmente. O inédito do momentoera expresso <strong>em</strong> seus comportamentos e reações.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):77-83, jan/mar, 2005 79


OFICINAS DE SENSIBILIDADE E CRIATIVIDADEO momento foi <strong>de</strong> <strong>em</strong>polgação, movimento liberador<strong>de</strong> energias físicas e <strong>em</strong>ocionais.Na produção <strong>de</strong> dados, eles permaneciam mais<strong>de</strong>scontraídos e menos ansiosos. Pedimos que o grupopensasse a partir da seguinte frase: o que pinta para mimquando penso na palavra droga? Para a exposição do pensamentodos participantes foi utilizada a técnica ativida<strong>de</strong>com materiais <strong>de</strong> sucatas, havendo sido orientados autilizar os diversos materiais (linhas, tintas guache, pincéis,lápis <strong>de</strong> cera e <strong>de</strong> cores, revistas, jornais, grãos, cola,tesoura, algodão, pedaços <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, fitas coloridas eoutros), dispostos no centro da sala, expressando livr<strong>em</strong>entesua imaginação através <strong>de</strong> produção plástica. Oobjetivo <strong>de</strong>ssa técnica foi a escolha do t<strong>em</strong>a gerador.Com base nas produções plásticas do grupo e exposiçõesorais a estas referentes, observamos a presençamarcante <strong>de</strong> aspectos como violência, morte, prazer,exclusão, relações sociais, familiares e fé, associados aouso <strong>de</strong> drogas. Mesmo assim, saímos s<strong>em</strong> fechar o t<strong>em</strong>agerador <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias e opiniõessobre a t<strong>em</strong>ática, permeadas <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>. Na oficinaseguinte <strong>de</strong> produção, elaboramos o t<strong>em</strong>a gerador.3 a Oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>: produção<strong>de</strong> dados através do t<strong>em</strong>a gerador drogas -uma relação <strong>de</strong> prazer e violênciaIniciamos a “conversa franca” ou acolhida antecipandoao grupo a intenção <strong>de</strong> que retomaríamos as produçõesda ativida<strong>de</strong> com materiais <strong>de</strong> sucatas realizadasna oficina imediatamente passada, cujo objetivo erafechar o t<strong>em</strong>a gerador.Por mais que a oficina passada tivesse revelado situaçõesrelacionadas à percepção dos adolescentes sobreas drogas, na condição <strong>de</strong> facilitadores da pesquisa, aindanão tínhamos certeza da real <strong>de</strong>finição do t<strong>em</strong>a gerador.Talvez isso acontecesse por se tratar <strong>de</strong> algo tãod<strong>em</strong>ocrático e <strong>de</strong> tamanha importância para a pesquisaque utiliza a sociopoética através do método do grupopesquisadorcomo forma <strong>de</strong> produzir dados, pois a fase<strong>de</strong> negociação (planejamento e tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões)exige muito do pesquisador-facilitador. Entend<strong>em</strong>os que,certamente, esse é um dos maiores <strong>de</strong>safios da pesquisaque utiliza ou se inspira no referencial teóricometodológicoda sociopoética, pois n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre os pesquisadoresestão dispostos a mudar seus probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>pesquisa, uma vez que o nosso <strong>de</strong>sejo <strong>em</strong> pesquisar umaprobl<strong>em</strong>ática qualquer está ligado também às nossas implicaçõespolíticas, libidinais, materiais, <strong>em</strong>ocionais eoutras <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> técnica e burocrática.Muitas vezes t<strong>em</strong>os que retomar com a mesma técnicado encontro anterior, trazendo novamente para discussãoos resultados produzidos e até fazendo uma avaliaçãodo impacto que ele possa ter causado aos participantes.Foi isso o que ocorreu nessa oficina e <strong>em</strong> outrosmomentos da pesquisa.Nesse dia, iniciamos os trabalhos <strong>de</strong> produção dosdados, retomando as produções plásticas realizadas naoficina passada, através da técnica ativida<strong>de</strong> com materiais<strong>de</strong> sucatas e posteriormente utilizamos a técnica,O Vampiro <strong>de</strong> Estrasburgo (7) , no momento do relaxamento,com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extravazar a ansieda<strong>de</strong> e atensão do grupo com gritos e risadas. Escolh<strong>em</strong>os umvampiro através <strong>de</strong> sorteio. Todos <strong>de</strong>veriam andar pelasala <strong>de</strong> olhos vendados, inclusive o vampiro. Este procurariaatacar pessoas, apertando-lhes o pescoço e qu<strong>em</strong>fosse atacado passaria a ser vampiro também. Quando jáestavam envolvidos e misturados, a técnica foi interrompida,e solicitamos que parass<strong>em</strong> on<strong>de</strong> estivess<strong>em</strong>. Formamosduplas com aqueles integrantes corporalment<strong>em</strong>ais próximos. Essas duplas <strong>de</strong>veriam escolher uma produçãoda técnica ativida<strong>de</strong> com materiais <strong>de</strong> sucatas,que não fosse <strong>de</strong> nenhum <strong>de</strong> seus integrantes e analisálas,apresentando o que significava, ou seja, que impressãotrazia para a dupla.A produção do grupo-pesquisador nessa oficina foi aescolha do t<strong>em</strong>a gerador para a pesquisa: “Drogas - relação<strong>de</strong> prazer e violência”. Essa escolha <strong>de</strong>corre dofato <strong>de</strong> que, durante esses dois encontros, o prazer e aviolência foram aspectos ligados às drogas que estiverammuito presentes nas falas, produções plásticas e atéatitu<strong>de</strong>s. O grupo apresentou-se mais envolvido, passandoa impressão <strong>de</strong> que, após o fechamento do t<strong>em</strong>a gerador,seus integrantes sentiram-se ainda mais responsáveispelas oficinas. Isso foi transparecendo a cada encontro,pois, no começo, o grupo que se mostrava muitodisperso foi evi<strong>de</strong>nciando maior envolvimento.Com o objetivo <strong>de</strong> promover a integração, o aquecimentoe a <strong>de</strong>scontração do grupo, o que, até então,achávamos não ter atingido, realizamos a técnica, Balãono Pé (6) , na qual todos <strong>de</strong>veriam inflar um balão e amarrarcom um cordão no tornozelo direito; <strong>em</strong> seguida,dançar<strong>em</strong> ao som <strong>de</strong> uma música alegre e, quando parassea música, po<strong>de</strong>riam estourar os balões dos outros.O prazer e a violência corporal estiveram presentes durantea técnica, representados pelo <strong>em</strong>purra-<strong>em</strong>purra<strong>de</strong> seus corpos, risos, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns, mensagens não atendidas,balões estourados antecipadamente. Enfim,vivenciaram aquele momento do jeito <strong>de</strong>les.Ao terminar a técnica “Balão no Pé”, eles estavammais calmos e tranqüilos. Pedimos que formass<strong>em</strong> duplacom qu<strong>em</strong> tivess<strong>em</strong> maior intimida<strong>de</strong> e cada dupla fizesseuma escultura com seus corpos, pensando no t<strong>em</strong>a<strong>de</strong> pesquisa: Drogas - relação <strong>de</strong> prazer e violência.Seqüencialmente, cada dupla explicaria o motivo daquelaexpressão. A ação era repetida com as outras duplas.Essa Técnica da Estátua permitiu a criação, através<strong>de</strong> seus corpos, com posições, gestos e impressões.Durante a sua realização, todos envolveram-se, ficandoatentos às esculturas dos colegas. Finalizamos odia com a avaliação, quando falamos <strong>de</strong> nossas ansieda<strong>de</strong>s,<strong>de</strong>sejos e dúvidas com relação às oficinas, dizendoque gostaríamos que eles também trouxess<strong>em</strong> idéias <strong>de</strong>como seria a socialização do t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> pesquisa. Ness<strong>em</strong>esmo dia, o grupo <strong>de</strong>cidiu que criaria uma banda musicalque comporia uma música com a letra voltada à relaçãoentre droga, violência e prazer, que seria socializadacom uma apresentação na festa <strong>de</strong> com<strong>em</strong>oração do Diadas Mães, que aconteceu no próprio abrigo. A apresentaçãoda banda musical “Meninos do Abrigo” foi a socialização<strong>de</strong> nossa pesquisa.80 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):77-83, jan/mar, 2005


4 a Oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>: Produção<strong>de</strong> dados através da explosão <strong>de</strong> coresComeçamos a acolhida com um diálogo <strong>de</strong>scontraídoentre facilitadora e co-pesquisadores. Fiz<strong>em</strong>os uma avaliaçãodo encontro passado. Nessas avaliações, falávamos s<strong>em</strong>predos nossos papéis como m<strong>em</strong>bros do grupo-pesquisadore, principalmente, da liberda<strong>de</strong> que os co-pesquisadorestinham <strong>de</strong> fazer parte ou não <strong>de</strong>ssa pesquisa. Entend<strong>em</strong>osque chegar a alguns acordos era importante para todos,não só pelo fato <strong>de</strong> eles fazer<strong>em</strong> parte do grupo-pesquisador,mas, também, por ser<strong>em</strong> companheiros <strong>de</strong> instituiçãoe até <strong>de</strong> quarto. As regras <strong>de</strong> convivência harmônica<strong>de</strong>veriam extrapolar os espaços do grupo, principalmentepelo fato <strong>de</strong> seus integrantes estar<strong>em</strong> longe do convívio <strong>de</strong>seus familiares ou parentes próximos, sendo o abrigo amorada <strong>de</strong> alguns. Entre as regras acertadas, tiv<strong>em</strong>os: cadaum <strong>de</strong>veria respeitar as idéias dos outros, todos <strong>de</strong>veriamse aceitar<strong>em</strong> como são, ajudar<strong>em</strong>-se mutualmente chamar<strong>em</strong>-sepelo nome, e não por apelidos pejorativos, além d<strong>em</strong>anter<strong>em</strong> uma relação cordial.Em seguida, realizamos um relaxamento, talvez nãotão relaxante, mas, certamente, disparador da sensibilida<strong>de</strong>e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador do potencial imaginativo. Utilizamosuma adaptação da técnica, Pensando atravésdo meu corpo (8) ,por meio da qual , via estímulo dotato e do olfato com objetos <strong>de</strong> várias texturas e formas,eles <strong>de</strong>veriam falar da experiência a partir da seguintefrase: “Para mim, pensar por meio do meu corpome faz sentir que nas drogas a relação <strong>de</strong> violência eprazer é...”. Nessa técnica, os objetos passavam <strong>de</strong> mão<strong>em</strong> mão e os participantes <strong>de</strong>veriam estar <strong>de</strong> olhosvendados.Resolv<strong>em</strong>os investir nas cores como nossas categoriasreferenciais, pois, com elas, criaríamos condiçõespara estimular imaginação, sensibilida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong> eexpressão <strong>de</strong> sentimentos. Como trabalhos <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> dados, realizamos a técnica revisão da vida. (9)Após sua adaptação, a rebatizamos <strong>de</strong> as cores da vida.Nela, os participantes <strong>de</strong>veriam pintar ou <strong>de</strong>senhar l<strong>em</strong>brançassignificativas <strong>de</strong> suas vidas, associando cores aessas épocas: primeira infância (0 a 6 anos); fase préescolar,segunda infância (6 a 12 anos); fase escolar eadolescência (12 anos até a ida<strong>de</strong> atuais ). O sentido<strong>de</strong>ssa técnica foi verificar a presença da relação <strong>de</strong> drogas,violência e prazer nas diferentes fases <strong>de</strong> suas vidas,associando a estas uma cor.Essas produções foram realizadas <strong>em</strong> uma gran<strong>de</strong> folha<strong>de</strong> papel, dividida por duas faixas verticais, que simbolizavamas três fases da vida. O material utilizado parasuas expressões foi tinta guache e giz <strong>de</strong> cera. Todo ogrupo se envolveu nas produções e, ao final dos trabalhos,os adolescentes foram se relacionando também unscom os outros, fazendo pinturas <strong>em</strong> seus corpos e rostos,compartilhando cores e idéias; uns iam pintando osoutros que estavam meio tímidos pelos cantos da sala.As cores invadiram o espaço e os corpos; os sorrisosestavam estampados <strong>em</strong> cada um. A impressão era <strong>de</strong>que o grupo queria dar outro matiz à vida <strong>de</strong> todos seuscomponentes, <strong>de</strong>sejando mudar o <strong>de</strong>stino e traçar umfuturo diferente do presente que vivenciavam.Para finalizarmos a manhã, pedimos que apenas comuma palavra eles avaliass<strong>em</strong> como tinha sido o encontroe <strong>em</strong> seguida fiz<strong>em</strong>os o encerramento da oficinacom um abraço ao som da música “O que é, o que é”,<strong>de</strong> Gonzaguinha.5 a Oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>:produção <strong>de</strong> dados através das cores da vidaNo acolhimento, discutimos pontos pen<strong>de</strong>ntes paraa socialização da pesquisa e sobre o relacionamentogrupal, isto é, relações entre os próprios co-pesquisadores,pois, como havíamos observado, <strong>em</strong> encontrosanteriores, a ocorrência <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>spreconceituosas <strong>de</strong> alguns integrantes para com outros,resolv<strong>em</strong>os trabalhar esse dado. Exercitamos aTécnica da exclusão como forma <strong>de</strong> relaxar,<strong>de</strong>scontrair e fazer com que o grupo refletisse sobrecomo cada um se sentia sendo excluído, s<strong>em</strong>pre fazendorelação à t<strong>em</strong>ática drogas. Nessa técnica, todoo grupo ficou na sala, com exceção <strong>de</strong> apenas um integrante,que ficou isolado por alguns minutos, sendoorientado a inserir-se no círculo formado pelos outroscolegas. Já o grupão que permaneceu na sala não<strong>de</strong>veria permitir a entrada do colega, formando umcírculo com os braços entrelaçados. Por diversas vezes,o m<strong>em</strong>bro excluído tentou entrar, sendo barradopela força maior e coesão grupal. Ao término da técnica,foi indagado para o m<strong>em</strong>bro excluído o seguinte:Como você se sentiu sendo excluído pelo grupo? Paraos outros integrantes, a pergunta foi: Como vocês sesentiram excluindo-o do grupo? Após as respostas,solicitamos que eles refletiss<strong>em</strong> se esse preconceito eexclusão vividos pelo colega foss<strong>em</strong> associados comaquele vivido pelo usuário <strong>de</strong> droga.Continuamos o encontro com a técnica <strong>de</strong> produçãoSe nossa vida fosse uma cor. Delimitamos espaçosna sala com essas cinco tonalida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>finindooscomo ilhas: azul, vermelha, branca, ver<strong>de</strong> e amarela.Os participantes <strong>de</strong>veriam escolher aquela ilha quepossuísse o tom com o qual eles mais se i<strong>de</strong>ntificass<strong>em</strong>e, <strong>em</strong> seguida, já formados os subgrupos, <strong>de</strong>veriamproduzir um painel com tinta guache da cor escolhida.A frase <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adora foi: “Se minha vida fossever<strong>de</strong>, amarela...como seria essa vida”? Os adolescentesforam <strong>de</strong>spertados para o fato <strong>de</strong> que s<strong>em</strong>pre<strong>de</strong>veriam relacionar a pergunta norteadora ao t<strong>em</strong>agerador. Foi um momento lúdico, quando cadasubgrupo teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experimentar a tinta,criar formas e <strong>de</strong>senhos, “viajar” no universo dacor escolhida. Terminado o trabalho, cada subgrupoapresentou o que foi produzido, socializando o resultadofinal por meio da explicação do que procuraramrepresentar.Finalizamos com uma técnica <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração - Jogodo toque (6) , pela qual o grupo, ao som <strong>de</strong> uma músicaalegre, circulava dançando pela sala e respon<strong>de</strong>ndo a algunscódigos, como: pé com pé, <strong>de</strong>do indicador com<strong>de</strong>do indicador, costas com costas, mão com mão..., tudoisso feito <strong>em</strong> duplas. Ao término dos trabalhos, avaliamosa oficina.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):77-83, jan/mar, 2005 81


OFICINAS DE SENSIBILIDADE E CRIATIVIDADE6 a oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>: analisandoos dados <strong>em</strong> cores (Parte I)Na conversa franca ou acolhimento, fiz<strong>em</strong>os breveavaliação da pesquisa e, já que estávamos numa oficina<strong>de</strong> análise, procuramos saber o que o grupo carregavasobre o significado <strong>de</strong> análise. Então, antes <strong>de</strong> partirmospara o relaxamento, indagamos: O que significa para vocêsanalisar? Ao manifestar sua opinião, perceb<strong>em</strong>os que ogrupo-pesquisador revelou seu conhecimento, estandorealmente consciente <strong>de</strong> suas responsabilida<strong>de</strong>s ao analisaro que estava por trás daquelas produções.No relaxamento, foi realizada a técnica Mudança<strong>de</strong> Código (6) , havendo os participantes dançado ao som<strong>de</strong> uma música alegre e tranqüila, <strong>de</strong>vendo prestar muitaatenção aos códigos fornecidos: dançar <strong>em</strong> fila, para frente,para trás, formar um círculo <strong>em</strong> movimento, um outrocírculo <strong>de</strong> garotas ao meio, uma fila or<strong>de</strong>nada poraltura, o mais alto na frente, <strong>de</strong>pois o contrário, o maisbaixo na frente e, por último, formar uma fila alternandoum garoto ou uma garota, um alto e um baixo. Ao finalda técnica, formamos subgrupos com aqueles que se encontravammais próximos. Essa ativida<strong>de</strong> teve comoobjetivo <strong>de</strong>scontrair, para iniciar os trabalhos livres <strong>de</strong>tensões, e estimular a atenção.Iniciamos o processo <strong>de</strong> análise com um momentochamado <strong>de</strong> Galeria <strong>de</strong> artes <strong>em</strong> cores. Os subgrupospassearam pela galeria <strong>de</strong> artes montada na sala, olhandoas produções das oficinas passadas (ativida<strong>de</strong> commateriais <strong>de</strong> sucatas, técnica da estátua, as cores da vida,se nossa vida fosse uma cor) e, <strong>em</strong> seguida, cada subgrupoescolhia uma para analisar, po<strong>de</strong>ndo o resultado da análiseser construído com a ajuda <strong>de</strong> cartazes, música, história,pintura ou formas artísticas diversas.Foram formados três subgrupos, dois dos quais preferiramcriar um painel com <strong>de</strong>senhos e pinturas, enquantooutro criou uma historinha inspirada nas produçõesescolhidas para análise. Ao final, cada subgrupoexpressou-se sobre sua produção criada a partir da análisee o porquê <strong>de</strong> escolher essa forma <strong>de</strong> analisar.Ao final da oficina, foi utilizada a técnica Dançandocom balões. (6) Distribuímos um balão para cada duplae, a partir daí, os adolescentes dançaram ao som <strong>de</strong> umamúsica mo<strong>de</strong>rna e alegre com seus balões, respon<strong>de</strong>ndoaos seguintes códigos: balão entre as costas da dupla,trocar <strong>de</strong> dupla, balão entre a dupla (na frente), trocar<strong>de</strong> dupla s<strong>em</strong> colocar a mão no balão e s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar cair.O momento foi motivante, alegre e <strong>de</strong>scontraído.7 a Oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>: analisandoos dados <strong>em</strong> cores (Parte II)Na conversa franca, os participantes do grupo apresentavam-seserenos como nunca, uma vez que dos já sesentiam b<strong>em</strong> à vonta<strong>de</strong>; sentimos uma certa diferença.Iniciamos explicando que seria a última oficina <strong>de</strong> análise,como já havíamos combinado, restando-nos apenaso encontro da restituição dos dados ou contra-análise.A oficina continuou com a técnica, Jogo da mentira,uma variação do Jogo da verda<strong>de</strong>10. Empregamosesta técnica numa tentativa <strong>de</strong> fazer o grupo revelaroutros pensamentos não ditos, sair da repetição do discursoinstitucionalizado. O jogo ocorreu da seguinte forma:o grupo sentou-se <strong>em</strong> círculo, cada um recebeu umnúmero e um voluntário iniciou o jogo pegando o númeroque íamos sorteando. O número sorteadocorrespondia àquela pessoa a qu<strong>em</strong> ele <strong>de</strong>veria fazer apergunta, que <strong>de</strong>veria ser respondida com uma mentira.Todos participaram da técnica, tendo feito uma perguntae respondido outra, pelo menos uma vez. As perguntas<strong>de</strong>veriam ter relação com o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> pesquisa.O grupo ficou entusiasmado com a técnica, agitado eatento para ouvir as perguntas e respostas dos colegas.Embora todos tenham participado do jogo, hesitavam<strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r, talvez porque a mentira terminasse revelandoa verda<strong>de</strong>, e isso, para muitos, incomodava.Em seguida, propus<strong>em</strong>os um relaxamento ao som <strong>de</strong>uma música suave e <strong>de</strong>scontraída. Foi solicitado ao grupoque se posicionasse confortavelmente, <strong>de</strong> olhos fechados,e, <strong>em</strong> seguida, pedimos que eles ficass<strong>em</strong> <strong>em</strong>silêncio, ouvindo somente o som da música. Então diss<strong>em</strong>os:“vamos iniciar uma viag<strong>em</strong>, será uma viag<strong>em</strong> b<strong>em</strong>diferente daquelas que você t<strong>em</strong> costume <strong>de</strong> fazer. Vocêirá fazer uma viag<strong>em</strong> num tapete mágico...”. Nesse relaxamento,pud<strong>em</strong>os perceber o quanto foi proveitoso parao grupo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o potencial imaginativo, liberandotensões e <strong>de</strong>ixando os adolescentes livres para a análisedos dados até então produzidos.Para a análise, dividimos o grupo <strong>em</strong> dois subgrupos.A técnica aplicada para essa divisão <strong>de</strong>u-se a partir dosnúmeros que todos receberam na técnica “Jogo da mentira”.Aqueles que receberam números pares formavamum subgrupo e os <strong>de</strong> números ímpares outro; assim, ossubgrupos ficaram b<strong>em</strong> mesclados.Para essa oficina <strong>de</strong> análise, trabalhamos com a técnica<strong>de</strong> História a continuar. Com os dois subgruposformados e reunidos, cada um <strong>de</strong>les ficou com umahistorinha a continuar. O início <strong>de</strong> cada historinha foiconfeccionado a partir das produções plásticas e falasdo grupo, sendo que seu conteúdo foi baseado no queficou evi<strong>de</strong>nte para nós, não só <strong>em</strong> suas produções efalas, como também <strong>em</strong> suas análises e comentários daoficina passada.Finalizamos o encontro com a avaliação do dia, explanandopara o grupo-pesquisador que teríamos soment<strong>em</strong>ais um encontro para a restituição dos dados oucontra-análise.8 a Oficina <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>: restituiçãoe discussão dos dados produzidos e analisadospelo grupo-pesquisadorO último encontro do grupo-pesquisador <strong>de</strong>u-se coma restituição e discussão dos dados que havíamos produzidoe analisado. Aconteceu um mês e quinze dias apósa última oficina <strong>de</strong> análise, o maior espaço já ocorridoentre uma oficina e outra. Mesmo assim, o grupo aindase fazia grupo. Iniciamos com o momento <strong>de</strong> acolhida.Esse encontro ficou marcado por um sabor <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>e lamentação pelo fato <strong>de</strong> a pesquisa ter chegado aofinal. Embora fosse o último dia, cuidamos para que tudoficasse parecido com os encontros anteriores, cheios <strong>de</strong>vida, alegres e produtivos; mas foi impossível, pois os82 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):77-83, jan/mar, 2005


s<strong>em</strong>blantes <strong>de</strong> tristeza ficaram evi<strong>de</strong>ntes. Havia um sentimento<strong>de</strong> inconformismo <strong>em</strong> razão do fim dos trabalhos,conforme expresso pelo grupo. Isso justifica-se pelofato <strong>de</strong> termos <strong>de</strong>senvolvido uma relação <strong>de</strong> carinho,respeito e construção coletiva do conhecimento.Ressaltamos a importância da gradativa quebra <strong>de</strong> vínculoscom qualquer tipo <strong>de</strong> grupo que t<strong>em</strong> encontros <strong>de</strong>periodicida<strong>de</strong> mais freqüente, inclusive grupos <strong>de</strong> pesquisa,pois, na experiência vivida, <strong>em</strong>bora fosse um grupo<strong>de</strong> investigação, relações foram estabelecidas efortificadas. Aquele momento <strong>de</strong> pesquisa virou um espaço<strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> sentimento dos adolescentes, tornando-seterapêutico para alguns <strong>de</strong>les.Ao som <strong>de</strong> uma música suave, e estando todosposicionados confortavelmente, iniciamos o relaxamento.Falamos para o grupo: “Nesse momento, vamos nospreparar para fazer uma viag<strong>em</strong> pelo nosso imaginário...”.E agora expresse como foi essa viag<strong>em</strong> para você, o quevocê encontrou, s<strong>em</strong>pre pensando no t<strong>em</strong>a da pesquisa”.Em seguida, fiz<strong>em</strong>os a restituição dos dados produzidose analisados pelo grupo-pesquisador. Todos escutaramatentamente o que falávamos, confirmando tudo aquiloque havíamos produzido com os diversos dispositivos utilizados.Após esse momento <strong>de</strong> restituição dos dados,tiv<strong>em</strong>os a certeza <strong>de</strong> que estávamos nos separando.CONSIDERAÇÕES FINAISToda essa construção coletiva teve marcas <strong>de</strong> pegadase matizes <strong>de</strong> uma aquarela pintada a várias mãos,oportunida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que as cores esboçaram sentimentos,vivências e experiências compartilhadas. Com esta pesquisaa<strong>de</strong>ntramos no enigmático mundo das drogas, sendoguiadas por um grupo <strong>de</strong> adolescentesinstitucionalizados através dos caminhos sinuosos <strong>de</strong> suasvivências, buscando propiciar dispositivos não convencionaisou habituais que lhes permitiss<strong>em</strong> expressar seussentimentos na relação entre droga, violência e prazer.Para trabalharmos tal probl<strong>em</strong>ática, fomos buscar inspiraçãona sociopoética, na fundamentação <strong>de</strong> idéias queperpassam esse método <strong>de</strong> pesquisa, sua visão <strong>de</strong> mundo,<strong>de</strong> pesquisa e seu tipo <strong>de</strong> abordag<strong>em</strong>, da qual nosapropriamos, o método do grupo-pesquisador, o quallança mão <strong>de</strong> uma abordag<strong>em</strong> grupal para a realização daprodução ou coleta <strong>de</strong> dados.A pesquisa sociopoética consi<strong>de</strong>ra os sujeitos da pesquisacomo atores, os quais se transformam <strong>em</strong> grupopesquisador,sendo co-autores <strong>de</strong> toda a produção. Diantedisso é que ressaltamos o quanto grupos <strong>de</strong> adolescentespod<strong>em</strong> ser favorecidos por este método que buscavalorizar as pessoas como sujeitos co-pesquisadores,propondo a percepção das dimensões afetiva, sensitiva,intuitiva, imaginativa e, também, racional no processo <strong>de</strong>pesquisa. Dessa forma, o que faz o diferencial daSociopoética é a utilização das diversas linguagens corporaiscomo fonte <strong>de</strong> conhecimento, sendo expressopor técnicas grupais.Com a utilização das técnicas <strong>de</strong>scritas, consi<strong>de</strong>ramosque essas oficinas tenham sido um espaço propíciopara o aprendizado entre os co-pesquisadores, pois todostiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r uns com osoutros, <strong>de</strong> reaver sua auto-estima, o doce sabor da vida,<strong>de</strong>scobrir<strong>em</strong>-se, falar<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas vidas e seus sentimentosquanto às drogas e também vivenciar<strong>em</strong> o momentodas oficinas como sendo um espaço terapêutico, <strong>em</strong>borativéss<strong>em</strong>os consciência <strong>de</strong> que, naquele momento, tornaro trabalho terapêutico para os adolescentes não erao objetivo.Essas oficinas <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> trouxerammudanças para a vida dos adolescentes. Sentimos,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, o quanto estavam sendo importantes para avida daqueles meninos e meninas, uma vez que as transformaçõesocorridas mostravam-se a todo instante, namudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, na socialização, na participação dasativida<strong>de</strong>s, na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parar e refletir sobre suasvidas e pensar <strong>em</strong> saídas para probl<strong>em</strong>as antigos, entretantas outras mudanças. As oficinas possibilitaramvivências tão fortes para cada um dos participantes, que,<strong>em</strong>bora não seja este o objetivo <strong>de</strong>sse método, houveseus efeitos terapêuticos. E isso se <strong>de</strong>u, simplesmente,pelo fato <strong>de</strong> representar um espaço <strong>de</strong> livre expressão<strong>de</strong> pensamentos e <strong>de</strong> sentimentos, um reconhecimentolegítimo do direito <strong>de</strong>sses adolescentes à vez e à voz.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Carlini EA, Galduróz JCF, Noto AR. IV levantamento sobre o uso <strong>de</strong>drogas entre estudantes <strong>de</strong> 1º e 2º grau <strong>em</strong> 10 capitais brasileiras. SãoPaulo: UFSP/CEBRID; 1997.2. Moraes LMP. Adolescentes institucionalizados e sua relação com asdrogas: uma abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> inspiração sociopoética [dissertação]. Fortaleza:Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará; 2003.3. Oliveira MVASC. Educação popular <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> para além das palavras:um encontro com o sentir. In: Rodrigues LD, Vasconselos EM. 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Ocorrência <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong>...ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO TRATAMENTO DERECÉM-NASCIDO PORTADOR DE DEISCÊNCIA DE SUTURA EMFERIDA CIRÚRGICA PARA CORREÇÃO DE MIELOMENINGOCELENURSING CARE IN NEWBORN SKIN DEHISCENCE OFMYELOMENINGOCELE CLOSURE WOUNDLA ACTUACIÓN DEL ENFERMERO EN EL TRATAMIENTO DERECIÉN NACIDO PORTADOR DE DEHISCENCIA DE SUTURA EN HERIDA AQUIRÚRGICA PARA CORRECCIÓN DE MIELOMEINGOCELEMariana Bueno 1Cristiane S. M. R. Silva 2Priscilla V. Pires 2Adriana Cristina C. Alves 3Ana Paula Mikaro 4RESUMOEste estudo teve como objetivo relatar o tratamento e a evolução da lesão <strong>em</strong> recém-nascido submetido à correçãocirúrgica <strong>de</strong> mielomeningocele, admitido no 18º dia do pós-operatório. A ferida cirúrgica apresentava áreas mal perfundidas,comprometimento total da <strong>de</strong>rme, necrose e <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> margens, exposição <strong>de</strong> estruturas musculares e exsudaçãosero-purulenta. Utilizaram-se alginato <strong>de</strong> cálcio, ácidos graxos essenciais e papaína. Não foram observadas reações adversasdurante a terapêutica. O tratamento resultou <strong>em</strong> total cicatrização da lesão, após 46 dias, com ausência <strong>de</strong>quelói<strong>de</strong> e bom aspecto estético.PALAVRAS CHAVE: Assistência <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; Mielomeningocele; Deiscência <strong>de</strong> SuturaSUMMARYThe aim of this study was to <strong>de</strong>scribe the treatment and evolution of a newborn’s myelomeningocele closure wound. Theneonate was admitted on the 18th postoperative day, when poor perfusion, <strong>de</strong>rmis’ total compromising, necrosis,unstuck edges, muscle exposure and exudation at the suture line were observed. Calcium alginate, essential fatty acidsand papain were used. Total scarring was obtained on the 46th day of treatment.KEY WORDS: Nursing Care; Meningomyelocele; Suture Dehiscence.RESUMENEste estudio objetivó relatar el tratamiento y la evolución <strong>de</strong> la lesión en recién nacido sometido a la corrección quirúrgica<strong>de</strong> mielomeningocele. En la admisión, en el 18º postoperatorio, la herida presentaba áreas <strong>de</strong> mal perfusión,comprometimiento total <strong>de</strong> la <strong>de</strong>rmis, necrosis y <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> márgenes, exposición <strong>de</strong> estructuras musculares yexudado sero-purulenta. Se utilizó alginato <strong>de</strong> calcio, ácidos grasos esenciales y papaína. La cicatrización total ocurrió enel 46º día <strong>de</strong> tratamiento.PALABRAS CLAVE: Asistencia <strong>de</strong> enfermería, Mielomeningocele, Dehiscencia <strong>de</strong> utura1Enfermeira da Unida<strong>de</strong> Neonatal (UN) da Socieda<strong>de</strong> Hospital Samaritano/SP (SHS/SP), Especialista <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Neonatal e Mestranda pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo;2Enfermeira da UN da SHS/SP, Especialista <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Neonatal;3Enfermeira da UN da SHS/SP;4Enfermeira Encarregada da UN da SHS/SP, Especialista <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Pediátrica <strong>de</strong> Alto Risco.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Mariana Bueno, Socieda<strong>de</strong> Hospital Samaritano – Unida<strong>de</strong> Neonatal, Rua Conselheiro Brotero,1486, CEP 01232-010, Higienópolis, São Paulo/SP; e-mail: maribueno@hotmail.com84 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):84-88, jan/mar, 2005


INTRODUÇÃOOs <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> fechamento <strong>de</strong> tubo neural são asmalformações mais comuns e severas do sist<strong>em</strong>a nervosocentral, <strong>de</strong>ntre os quais <strong>de</strong>staca-se a mielomeningocele(MMC), <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> fechamento do tubo neural com lesãoaberta1. Trata-se <strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito congênito compatívelcom a vida, no entanto, <strong>de</strong> elevada morbida<strong>de</strong>, queacomete <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 5 entre 10000 nascidos vivos <strong>em</strong>todo o mundo (2) . Caracteriza-se como falha primária nofechamento do tubo neural ou ruptura <strong>de</strong> tubo neural jáfechado, que ocorre entre o 18º e o 28º dias <strong>de</strong> gestação(3) , <strong>de</strong>slocando dorsalmente a medula espinhal e asraízes nervosas, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> apoioposteriores, observando-se ainda massas <strong>de</strong> músculo e<strong>de</strong> ossos lateralmente, representando o <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> espinhabífida (4) . O <strong>de</strong>feito po<strong>de</strong> surgir <strong>em</strong> qualquer pontoao longo da coluna vertebral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a porção cervicalaté o cóccix, sendo b<strong>em</strong> mais freqüente nos segmentoslombossacral (4) .A sobrevida <strong>de</strong> neonatos portadores <strong>de</strong> MMC varianão somente <strong>em</strong> função da extensão da lesão, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>também da ocorrência <strong>de</strong> outras malformaçõesassociadas, b<strong>em</strong> como do tipo <strong>de</strong> tratamento instituídoe da assistência prestada. Dentre outras malformações,<strong>de</strong>stacam-se a síndrome <strong>de</strong> Arnold-Chiari (<strong>de</strong>formida<strong>de</strong>complexa da parte posterior do cérebro), bifurcação <strong>de</strong>aqueduto, hidromielia, siringomielia, medula espinhal dupla,polimicrogiria, craniolacunia, heterotopias <strong>de</strong> substânciacinzenta, <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> cuneiforme da placa doquadrigêmio, impressão basilar, platibasia, <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>sKlippel-Fiel, cardiopatias congênitas, anomalias intestinais(atresia duo<strong>de</strong>nal, estenose pilórica) (4) . Além disso,portadores <strong>de</strong> MMC pod<strong>em</strong> apresentar incapacida<strong>de</strong>scrônicas graves, a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> paralisia <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros,hidrocefalia, <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros e da coluna vertebral,disfunção vesical, intestinal, sexual e dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, com risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sajuste psicossocial (5) .O reparo cirúrgico é indispensável e <strong>de</strong>ve ser realizadotão logo quanto possível, objetivando minimizar riscoinfeccioso, resultante da ruptura da formação sacularexterna, com conseqüente extravazamento <strong>de</strong> líquidocéfalo-raquidiano para o ambiente. A cirurgia é feita, preferencialmente,<strong>em</strong> recém-nascidos (RN) com até 72horas <strong>de</strong> vida (6) , através da dissecção e reconstrução <strong>de</strong>estruturas neurais e meníngeas, musculatura e epi<strong>de</strong>rme,sendo a extensão do procedimento variável <strong>de</strong> acordocom a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> tecido subcutâneoe pele (6) . Atualmente, as técnicas <strong>em</strong>pregadas permit<strong>em</strong>o reparo cirúrgico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>feitos s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> enxertia cutânea (3) . No entanto, não é infreqüentea ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> sutura cirúrgica, <strong>de</strong>correnteda extensão da lesão e da tensão aplicada nas margenscutâneas para a correção do <strong>de</strong>feito.Dentre os diversos cuidados a ser<strong>em</strong> prestados noperíodo pós-operatório <strong>de</strong>stacam-se, portanto, os <strong>de</strong>stinadosao tratamento da ferida operatória. O acompanhamentoprovido pelo enfermeiro b<strong>em</strong> como os recursosutilizados para o tratamento da lesão são <strong>de</strong> fundamentalimportância na cicatrização local efetiva e naprevenção <strong>de</strong> infecções.O presente estudo t<strong>em</strong> como objetivo <strong>de</strong>screver aevolução da lesão e o tratamento provido pela equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> a RN portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> sutura<strong>de</strong> correção cirúrgica <strong>de</strong> MMC. A escassez <strong>de</strong> estudosnacionais e internacionais referentes ao tratamento <strong>de</strong>feridas <strong>em</strong> RN, b<strong>em</strong> como o sucesso obtido na cicatrizaçãolocal utilizando-se alginato <strong>de</strong> cálcio, extrato <strong>de</strong>papaína e ácidos graxos essenciais (AGE), justificam esterelato como <strong>de</strong> interesse científico para a prática clínicada enfermag<strong>em</strong> neonatal.DESCRIÇÃO DA METODOLOGIATrata-se <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> caso <strong>de</strong> paciente internado<strong>em</strong> um hospital privado do município <strong>de</strong> São Paulo esubmetido à correção cirúrgica <strong>de</strong> MMC. A evolução daferida foi acompanhada e avaliada quanto a extensão; presença,quantida<strong>de</strong> e características <strong>de</strong> secreção local e<strong>de</strong> necrose tecidual; presença <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> granulação;aspecto das margens. Ad<strong>em</strong>ais, foram relatados os recursosinstituídos como tratamento e os resultados obtidos.Este estudo foi realizado mediante assinatura do Termo<strong>de</strong> Consentimento Pós-Informado pelo responsávellegal pelo RN e mediante aprovação do Comitê <strong>de</strong> Ética<strong>em</strong> Pesquisa da instituição.RESULTADOS E DISCUSSÃOO RN foi admitido <strong>em</strong> nosso serviço com 18 dias <strong>de</strong>vida e diagnósticos <strong>de</strong> MMC corrigida cirurgicamente aonascimento, hidrocefalia com <strong>de</strong>rivação ventrículoperitoneal(realizada no primeiro dia <strong>de</strong> vida), coarctação<strong>de</strong> aorta, valva aórtica bicúspe<strong>de</strong>, <strong>de</strong>rrame pleural, insuficiênciarenal, colestase e broncopneumonia.Apresentava incisão cirúrgica ao longo da coluna vertebral(sutura esten<strong>de</strong>ndo-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a porção cervical atéregião sacral). No 5 o dia do pós-operatório, ainda noserviço <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, foi observado início <strong>de</strong> <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong>ferida cirúrgica com necrose superficial; na admissão <strong>em</strong>nossa unida<strong>de</strong>, apresentava <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> sutura <strong>em</strong> regiãotoracolombar, com áreas mal perfundidas, comprometimentototal da <strong>de</strong>rme, necrose e <strong>de</strong>scolamento d<strong>em</strong>argens, exposição <strong>de</strong> estruturas musculares eexsudação seropurulenta <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> (Foto1).Optou-se inicialmente por tratar a lesão com sorofisiológico (SF) 0,9% aquecido (morno ao toque, comt<strong>em</strong>peratura ao redor <strong>de</strong> 36ºC) e <strong>em</strong> jato, aplicando-seAGE <strong>em</strong> margens e alginato <strong>de</strong> cálcio nas áreas <strong>de</strong><strong>de</strong>scolamento da ferida, ocluindo-se com cobertura secundária(compressa extra-absorvente, composta por75% <strong>de</strong> viscose e 25% <strong>de</strong> poliéster, e fita hipoalergênica),por um período máximo <strong>de</strong> 24 horas.Os AGE promov<strong>em</strong> quimiotaxia dos leucócitos, neoangiogênese,mantêm o meio úmido e aceleram o processo<strong>de</strong> granulação (7) . Sua indicação objetivou, portanto,a restauração da pele, b<strong>em</strong> como hidratação, proteçãolocal e estimulação da granulação tecidual, das bordaspara o centro. O alginato <strong>de</strong> cálcio contém sais naturais<strong>de</strong> ácido algínico, extraído <strong>de</strong> algas marinhas marrons, étotalmente bio<strong>de</strong>gradável, é atóxico e não é alergênico (8,9) .REME – Rev. Min. Enf; 9(1):84-88, jan/mar, 2005 85


Ocorrência <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong>...Po<strong>de</strong> ser <strong>em</strong>pregado <strong>em</strong> feridas com exsudação abundante,infectadas ou não, sanguinolentas e cavitárias (7) , et<strong>em</strong> como principais proprieda<strong>de</strong>s a indução <strong>de</strong>h<strong>em</strong>ostasia, <strong>de</strong>sbridamento autolítico, alta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>absorção e manutenção <strong>de</strong> meio úmido no leito da ferida(7,10) . Suas principais indicações neste caso foram o<strong>de</strong>sbridamento autolítico e a absorção <strong>de</strong> exsudação local,já que se relata sua utilização com sucesso <strong>em</strong> feridascom 80% a 100% <strong>de</strong> sua área com tecido necrótico (8,9) .Utilizou-se alginato <strong>de</strong> cálcio “<strong>em</strong> fita” para facilitar suaaplicação <strong>em</strong> áreas cavitárias.Após dois dias <strong>de</strong> tratamento foi observada diminuiçãodo quadro exsudativo; no entanto, não houve reduçãosignificativa das áreas necróticas, optando-se pormudança <strong>de</strong> conduta terapêutica. Instituiu-se então aplicação<strong>de</strong> solução <strong>de</strong> papaína a 10% no leito da ferida,com permanência <strong>de</strong> 5 minutos, seguida <strong>de</strong> retirada comSF a 0,9% aquecido (com t<strong>em</strong>peratura aproximada <strong>de</strong>36ºC) e <strong>em</strong> jato, introdução <strong>de</strong> alginato <strong>de</strong> cálcio sob asáreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolamento e AGE nas margens.A papaína promove <strong>de</strong>sbridamento químico, provocandoproteólise, t<strong>em</strong> ação bacteriostática, bactericidae antiinflamatória, além disso, favorece o alinhamento<strong>de</strong> fibras <strong>de</strong> colágeno, o que resulta <strong>em</strong> crescimentotecidual uniforme, aumenta força tênsil da cicatriz, reduza formação <strong>de</strong> quelói<strong>de</strong>s e acelera o processo <strong>de</strong>cicatrização. (7,10,11)Com a permanência <strong>de</strong> importantes áreas necróticasna lesão e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> r<strong>em</strong>oção <strong>de</strong>sse tecido, o usoda papaína nesse período teve como principal objetivopromover limpeza enzimática, a fim <strong>de</strong> evitar-se o<strong>de</strong>sbridamento mecânico. Não há estudos específicosacerca do uso da papaína <strong>em</strong> neonatos; entretanto, suautilização no tratamento <strong>de</strong> lesões por queimaduras <strong>em</strong>crianças resultou <strong>em</strong> diminuição <strong>de</strong> tecido necrótico eprevenção <strong>de</strong> infecção local, além <strong>de</strong> favorecer o crescimentodo tecido <strong>de</strong> granulação (12) . Em adultos, são <strong>de</strong>scritosbons resultados utilizando-se papaína <strong>em</strong> feridascom necrose e infectadas (11) , feridas vasculogênicas e<strong>de</strong>iscências cirúrgicas (13) e feridas cutâneas <strong>em</strong> portadores<strong>de</strong> diabetes (14) . Nos estudos citados, os curativos foramtrocados entre uma e três vezes ao dia, mantendosea papaína no leito das lesões; entretanto, <strong>em</strong> funçãoda ausência <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> sua utilização <strong>em</strong> RN, a papaínafoi aplicada no leito da ferida, por curto período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po(5 minutos), com observação a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar possíveispontos <strong>de</strong> sangramento.Em 11 dias <strong>de</strong> tratamento com papaína a 10%, associadaa AGE e alginato <strong>de</strong> cálcio, houve melhora gradativada lesão: verificou-se redução significativa <strong>de</strong> tecidonecrótico, aumento <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> granulação e contraçãodas margens (Foto 2). A partir <strong>de</strong>ssa data, foi observadosangramento <strong>em</strong> pequenos pontos do leito da ferida durantea aplicação da papaína a 10%. Predominava sobrea lesão a área <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> granulação, optando-se, então,por reduzir a concentração da papaína para 1% eavaliar sua utilização <strong>em</strong> relação a novos sangramentoslocais. Na presença <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> granulação, a concentraçãoda papaína não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r 2% pela possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> sangramento local.Associado à papaína a 1 % manteve-se SF a 0,9%,alginato <strong>de</strong> cálcio e AGE, utilizando-se cobertura secundária(compressa extra-absorvente e fita hipoalergênica),por períodos <strong>de</strong> 24 horas. No 19º dia <strong>de</strong> tratamento,diminuiu-se a concentração da papaína para 0,5%, <strong>de</strong>vidoa discreto sangramento no leito da lesão, que se apresentavarecoberto por tecido <strong>de</strong> granulação; mantendoseas d<strong>em</strong>ais condutas. Com 21 dias <strong>de</strong> tratamento nainstituição foi suspenso o uso da papaína, <strong>em</strong> função daausência <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong>svitalizado e predominância <strong>de</strong> tecido<strong>de</strong> granulação <strong>em</strong> toda a ferida, e mantido o uso <strong>de</strong>SF 0,9%, alginato <strong>de</strong> cálcio e AGE.No 24º dia <strong>de</strong> tratamento observou-se nivelamento<strong>de</strong> pele, porém com pequeno <strong>de</strong>scolamento da marg<strong>em</strong>inferior, sendo o alginato <strong>de</strong> cálcio aplicado apenas nesselocal. As d<strong>em</strong>ais porções da lesão foram recobertascom AGE, mantendo-se o mesmo tipo <strong>de</strong> cobertura secundária.No 32º dia <strong>de</strong> tratamento, iniciou-se o uso <strong>de</strong> coberturanão a<strong>de</strong>rente <strong>de</strong>vido a trauma local resultante dar<strong>em</strong>oção da compressa extra-absorvente (Foto 3). Amelhora progressiva da cicatrização e a ausência <strong>de</strong> áreas<strong>de</strong> <strong>de</strong>scolamento permitiram a suspensão do uso <strong>de</strong>alginato <strong>de</strong> cálcio no 38º dia <strong>de</strong> tratamento e a suspensãoda cobertura não a<strong>de</strong>rente com 42 dias. Manteve-seo uso <strong>de</strong> SF 0,9%, AGE e cobertura com compressa extra-absorventee fita hipoalergênica.No 46º dia <strong>de</strong> tratamento foi observada cicatrizaçãototal e suspensa a realização do curativo. O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>tratamento <strong>de</strong> feridas po<strong>de</strong> ser influenciado por variáveiscomo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> doença, ida<strong>de</strong>, sexo, estadonutricional, baixa resistência, controle metabólico, localizaçãoe estágio da lesão e complicações crônicas vigentes(8,9,14) , e não <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado, portanto, comoprincipal indicativo <strong>de</strong> efetivida<strong>de</strong> do tratamento.Após <strong>de</strong>z meses do término do tratamento, observa-secicatriz <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> estética e ausência <strong>de</strong>quelói<strong>de</strong> (Foto 4).A antibioticoterapia <strong>em</strong>pregada durante a internaçãona instituição incluiu, inicialmente, cefotaxima evancomicina por 14 dias, seguida <strong>de</strong> cefepime (durante10 dias) e vancomicina, por 30 dias e justifica-se peloquadro clínico do neonato. Feridas são consi<strong>de</strong>radascomo portas <strong>de</strong> entrada para microorganismos (9) e, <strong>em</strong>boranão tenham sido colhidas culturas da lesão, aantibioticoterapia sistêmica é recomendada como tratamento<strong>de</strong> escolha para feridas infectadas (15) . Possivelmente,além da boa evolução clínica, o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> antibióticosauxiliou na satisfatória evolução da lesão.A analgesia foi provida através da infusão contínua<strong>de</strong> citrato <strong>de</strong> fentanila, durante os primeiros 21 dias <strong>de</strong>internação do RN; sua suspensão ocorreuconcomitant<strong>em</strong>ente à suspensão da papaína. Sabe-se que,ao nascimento, neonatos apresentam el<strong>em</strong>entosneuroanatômicos e neuroendócrinos necessários à percepçãoe à transmissão do estímulo doloroso (16) e queinternações <strong>em</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Terapia Intensiva Neonatalocasionam diversas situações geradoras <strong>de</strong> dor. Procedimentoscirúrgicos, b<strong>em</strong> como os danos teciduais resultantese a realização <strong>de</strong> curativos são situações86 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):84-88, jan/mar, 2005


sabidamente dolorosas. Dor forte e queimação forte foramreferidas por 52% dos adultos durante a realização<strong>de</strong> curativos utilizando-se papaína (11) . A analgesia a<strong>de</strong>quadaobjetiva não apenas prover conforto, mas tambémprevenir a ocorrência dos efeitos <strong>de</strong>letérios resultantesda dor <strong>em</strong> neonatos, a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> alterações metabólicas,aumento da suscetibilida<strong>de</strong> a infecções, aumentoda sensibilida<strong>de</strong> local e alterações no comportamentofuturo da criança.Foi provido aporte calórico através <strong>de</strong> nutriçãoparenteral, mantendo-se o RN <strong>em</strong> jejum por 11 dias,quando então foi associada nutrição enteral (leite maternoou fórmula). O neonato passou a receber nutriçãoenteral plena no 21º dia <strong>de</strong> tratamento. A nutrição ehidratação têm relevância no tratamento <strong>de</strong> lesões, umavez que a cicatrização po<strong>de</strong> ser influenciada por algunsnutrientes, <strong>de</strong>stacando-se carboidratos, proteínas, gordura,vitaminas (A, B12, C, E) e minerais, <strong>em</strong> especialcobre, ferro e zinco. (15)LIMITAÇÕES DO ESTUDOPo<strong>de</strong>-se apontar como limitação do estudo a forma<strong>de</strong> registro <strong>de</strong> acompanhamento da lesão, na Sist<strong>em</strong>atizaçãoda Assistência <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> (SAE), que não seapresentava com uniformida<strong>de</strong> entre as diversas anotaçõesdos profissionais envolvidos, como também o fato<strong>de</strong> que n<strong>em</strong> todas as informações necessárias à avaliaçãoconstavam dos impressos analisados <strong>em</strong> prontuário. Nãoforam realizadas medidas <strong>de</strong> diâmetro, profundida<strong>de</strong> daferida, assim como não foram feitos os registros fotográficos<strong>em</strong> intervalos regulares, o que favoreceria melhoranálise evolutiva.Consi<strong>de</strong>ra-se também como limitação a ausência d<strong>em</strong>ensuração <strong>de</strong> escores <strong>de</strong> dor durante a realização doscurativos, pois o estudo foi conduzido antes da implantaçãoda dor como 5º sinal vital na instituição. A dor<strong>de</strong>ve ser avaliada, principalmente, durante procedimentosdolorosos. Há escalas específicas para neonatos, e anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> validação <strong>em</strong> nosso meio faz com queseja necessária sua aplicação.Alguns estudos <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> a importância da prevenção<strong>de</strong> lesões <strong>de</strong> pele <strong>em</strong> RN e do tratamento <strong>de</strong> traumasresultantes <strong>de</strong> extravazamento <strong>de</strong> soluções, uso <strong>de</strong>soluções tópicas, r<strong>em</strong>oção <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sivos e necrose porhipoperfusão, fricção e pressão (17,18,19) . Contudo, a escassez<strong>de</strong> publicações, nacionais e internacionais, acerca douso <strong>de</strong> alginato <strong>de</strong> cálcio e papaína especificamente <strong>em</strong>neonatos, dificultou, <strong>de</strong> certa forma, o <strong>em</strong>basamento científicodo tratamento. Assim sendo, as condutas <strong>de</strong>scritaspautaram-se na avaliação criteriosa e diária da lesãoe no conhecimento acerca dos produtos e <strong>de</strong> suaindicação.IMPLICAÇÕES PARA A ASSISTÊNCIA DEENFERMAGEMO avanço tecnológico observado na área neonatalnas últimas duas décadas t<strong>em</strong> permitido a realização <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s intervenções cirúrgicas e proporcionado o aumentoda sobrevida <strong>de</strong> RN grav<strong>em</strong>ente enfermos. Aocorrência <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong> pele e feridas tornou-se, conseqüent<strong>em</strong>ente,freqüente <strong>em</strong> neonatos e este fato requerdo enfermeiro conhecimento suficiente para a indicaçãodo tratamento da ferida b<strong>em</strong> como para seu acompanhamento.Acompanhar a evolução da lesão <strong>de</strong>ve fazer parte daprática clínica da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, por meio doregistro <strong>de</strong> medidas diárias da ferida, relatos acerca <strong>de</strong>características locais (<strong>em</strong> especial aspecto das margens,presença <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> granulação, necrose e secreção),registros fotográficos <strong>em</strong> intervalos programados. Trata-se<strong>de</strong> medida importante para avaliar a evolução dalesão e direcionar as condutas a ser<strong>em</strong> tomadas.CONSIDERAÇÕES FINAISOs AGE promoveram hidratação e auxiliaram no processo<strong>de</strong> granulação local, o alginato <strong>de</strong> cálcio mostrouseefetivo na redução da exsudação e no <strong>de</strong>sbridamentoautolítico, e a papaína atuou a<strong>de</strong>quadamente como<strong>de</strong>sbridante químico, quando aplicada <strong>em</strong> concentraçãoelevada, e facilitou o processo cicatricial e <strong>de</strong> granulaçãotecidual <strong>em</strong> concentrações diminutas.O tratamento da ferida operatória favoreceu a totalcicatrização da lesão e resultou <strong>em</strong> bom aspecto estéticoe ausência <strong>de</strong> quelói<strong>de</strong>. Para esse caso, a terapêuticainstituída foi efetiva e livre <strong>de</strong> efeitos adversos. Alémdisso, evitou-se a intervenção cirúrgica para<strong>de</strong>sbridamento.Os resultados satisfatórios permit<strong>em</strong> incentivar a utilizaçãoda papaína e do alginato <strong>de</strong> cálcio nessa faixa etária,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as características da lesão sejam compatíveiscom a indicação do produto e que avaliação da lesãoseja contínua.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Manning SM, Jennings R, Madsen JR. Pathophysiology, prevention,and potential treatment of neural tube <strong>de</strong>fects. Ment Ret Dev Disab2000; 6:6-14.2. Farmer DL, von Koch CS, Peacock WJ, Danielpour M, Gupta N, LeeH, Harrison MR. In utero repair of myelomeningocele: experimentalpathophysiology, initial clinical experience, and outcomes. Archives ofsurgery 2003; 138(8): 872-78.3. Kaplan LC. Defeitos do tubo neural. In: Cloherty JP, Stark AR. Manual<strong>de</strong> neonatologia. 4a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Medsi; 2000. p.563-72.4. Milhoart TH Miller JI. 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Ocorrência <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong>...10. Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas. Hospital das Clínicas. Manual<strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> feridas. Campinas, 1999.11. Monetta L. A importância da atuação científica do enfermeiro naexecução dos curativos feitos com papaína. Rev Paul Enf 1990; 9(3): 83-7.12. Starley IF, Mohammed P, Shnei<strong>de</strong>r G, Bickler SW. The treatment ofpaediatric burns using topical papaya. Burns 1999; 25: 363-39.13. Oliveira RA, Santos M, Leão ER, Oliveira T. Solução <strong>de</strong> papaína ecolágeno: uma terapêutica com resultados positivos no tratamento <strong>de</strong>feridas refratárias. Revista Estima 2004; 2(2): 13-5.14. Prochnow AG, Carneiro M, Ethur ABM. Aplicação tópica <strong>de</strong> papaína<strong>em</strong> úlceras cutâneas com pessoas com diabetes. Nursing 2000; 27:26-9.15. Deadley C. Cuidando <strong>de</strong> feridas – um guia para as enfermeiras.Trad. Scoss M. 2ª ed. Atheneu: São Paulo; 2001.16. Bueno M. Dor no período neonatal. In: Leão ER, Chaves LD. Dor5o sinal vital – reflexões e intervenções <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Curitiba: Maio;2004. p. 193-205.17. Hahn LP. A pele do recém-nascido pr<strong>em</strong>aturo. Disponível <strong>em</strong> URL. Acessed at: 2005 Jan 15.18. Lund, C. Prevention and manag<strong>em</strong>ent of infant skin breakdown.Nurs Clin North Am 1999; 34 (4):907-20.19. Bueno M. Intervenções <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> para manutenção da integrida<strong>de</strong>cutânea do recém-nascido. Rev Socied Enferm Pediatras 2003;3 (2): 129-37.88 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):84-88, jan/mar, 2005


Normas <strong>de</strong> Publicação1 - A REME - Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> é uma publicação da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong> <strong>em</strong> parceria com<strong>Escola</strong>s e Cursos <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais, com periodicida<strong>de</strong> trimestral, t<strong>em</strong> por finalida<strong>de</strong> contribuirpara a produção, divulgação e utilização do conhecimento produzido na enfermag<strong>em</strong> e áreas correlatas, abrangendo ast<strong>em</strong>áticas ensino, pesquisa e assistência.2 - A REME t<strong>em</strong> a seguinte estrutura: Editorial; Artigos Originais, Resumos <strong>de</strong> Teses e Dissertações, Relatos <strong>de</strong> Experiência,Atualização e Revisão; Notas e Informações (atualização <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> e <strong>em</strong> áreas afins, notas <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> investigação,resenhas e notícias diversas); Normas <strong>de</strong> publicação3 - Os trabalhos recebidos serão analisados pelo Corpo Editorial da REME, que se reserva o direito <strong>de</strong> aceitar ou recusaros trabalhos submetidos.4 - Os trabalhos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser encaminhados <strong>em</strong> disquete, programa "Word for Windows", <strong>versão</strong> 6.0 ou superior, letra"Times New Roman", tamanho 12, digitados <strong>em</strong> espaço duplo, <strong>em</strong> duas vias, impressas <strong>em</strong> papel padrão ISO A4 (212x297mm), com margens <strong>de</strong> 25mm, padrão carta ou a laser, limitando-se a 20 laudas, incluindo título, texto, agra<strong>de</strong>cimentos,referências, tabelas, legendas e ilustrações. Dev<strong>em</strong> vir acompanhadas <strong>de</strong> ofício <strong>de</strong> encaminhamento contendo nome dosautores, en<strong>de</strong>reço para correspondência, e-mail, telefone e fax, e ser<strong>em</strong> en<strong>de</strong>reçados à REME.5 - A primeira página <strong>de</strong>verá conter o título do trabalho; nomes dos autores, com o grau acadêmico mais alto e instituição;en<strong>de</strong>reço para correspondência e entida<strong>de</strong>s financiadoras (alocadas <strong>em</strong> nota <strong>de</strong> rodapé); resumos e palavras-chave, o título,resumo e palavras-chave <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>em</strong> português, inglês e espanhol. As versões do resumo <strong>em</strong> inglês e espanhol <strong>de</strong>verãovir no final do trabalho, antes das referências bibliográficas. O resumo <strong>de</strong>ve conter, no máximo, 100 palavras.6 - Os <strong>de</strong>senhos e gráficos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser apresentados <strong>em</strong>, papel vegetal, fotografias e/ou "sli<strong>de</strong>s" <strong>em</strong> branco e preto numerados,indicando o local a ser inserido no texto; abreviaturas, gran<strong>de</strong>zas, símbolos, unida<strong>de</strong>s e referências bibliográficas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>observar as Normas Internacionais <strong>de</strong> Publicação.7- Para efeito <strong>de</strong> normalização, serão adotados os Requerimentos do Comitê Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas, Médicas.Estas normas po<strong>de</strong>rão ser encontradas na íntegra nas seguintes publicações: International Committé of Medical Journal.Editors, Uniforms requeriments for manuscripts submitted to biomedical joumals; Can. Assoc. J. 1995; 152(9):1459-65 e <strong>em</strong>espanhol, no Bol. Of Sanit. Panam. 19899, 107 (5).422-31.8 - Todo trabalho <strong>de</strong>verá ter a seguinte estrutura e ord<strong>em</strong>:• título (com tradução para inglês e espanhol);• nome completo do autor (ou autores), acompanhado(s) <strong>de</strong> sua profissão e <strong>de</strong> seu(s) respectivos(s) título(s);• resumo do trabalho <strong>em</strong> português, s<strong>em</strong> exce<strong>de</strong>r um limite <strong>de</strong> 100 palavras;• Palavras-chave (três a <strong>de</strong>z), <strong>de</strong> acordo com a lista Medical Subject Headings (MeSH) do In<strong>de</strong>x Medicus;• texto: introdução, material e método ou <strong>de</strong>scrição da metodologia, resultados, discussão e/ou comentários• conclusões;• Resumo <strong>em</strong> língua inglesa (Summary) e espanhola (Resumen), consistindo na correta <strong>versão</strong> do resumopara aquelas línguas;• Key words/ Palabras-clave (palavras-chave <strong>em</strong> lingua inglesa e espanhola) <strong>de</strong> acordo com a lista Medical SubjectHeadings I (MeSH) do In<strong>de</strong>x Medicus; <strong>de</strong>scritores da BIREME: www.bir<strong>em</strong>e.br• Agra<strong>de</strong>cimentos (opcional);• Referências bibliográficas como especificado no it<strong>em</strong> 10;• En<strong>de</strong>reço do autor para correspondências;9 - As ilustrações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser colocadas imediatamente após a referência a elas. Dentro <strong>de</strong> cada categoria <strong>de</strong>verão sernumeradas seqüencialmente durante o texto. Ex<strong>em</strong>plo: (Tab. 1, Fig. 1, Gráf 1). Cada ilustração <strong>de</strong>ve ter um título e a fonte<strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi extraida. Cabeçalhos e legendas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser suficient<strong>em</strong>ente claros e compreensíveis s<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consultaao texto. As referências às ilustrações no texto <strong>de</strong>verão ser mencionadas entre parênteses, indicando a categoria e onúmero da ilustração. Ex. (Tab. 1). As fotografias <strong>de</strong>verão ser <strong>em</strong> preto e branco, apresentadas <strong>em</strong> envelope à parte, ser<strong>em</strong>nítidas e <strong>de</strong> bom contraste, feitas <strong>em</strong> papel brilhante e trazer no verso: nome do autor, título do artigo e número com queirão figurar no texto.10 - As referências bibliográficas são numeradas consecutivamente, na ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> que são mencionadas pela primeira vezno texto. São apresentadas <strong>de</strong> acordo com as normas do Comitê Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas, citado noit<strong>em</strong> 5. Os títulos das revistas são abreviados <strong>de</strong> acordo com o In<strong>de</strong>x Medicus, na publicação "List of Journals In<strong>de</strong>xed inIn<strong>de</strong>x Medicus", que publica anualmente como parte do número <strong>de</strong> janeiro, <strong>em</strong> separata. As referências no texto <strong>de</strong>v<strong>em</strong> serREME – Rev. Min. Enf; 9(1): 89-96, jan/mar, 2005 89


citadas mediante número arábico, correspon<strong>de</strong>ndo às referências no final do artigo. Nas referências bibliográficas,citar como abaixo:10.1 PERIÓDICOSa) Artigo padrão <strong>de</strong> revista. Incluir o nome <strong>de</strong> todos os autores, quando são seis ou menos. Se são sete ou mais, anotaros três primeiros, seguidos <strong>de</strong> et al.Nascimento ES Compreen<strong>de</strong>ndo o cotidiano <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Enf Rev 1995;2(4):31-8.b) Autor corporativo:The Royal Mars<strong>de</strong>n Hospital Bone-Marrow Transplantation Team. Failure os syngeneic bone-marrow graft withoutpreconditioning in post hepatitis marrow aplasia. Lancet 1977;2:242-4.c) S<strong>em</strong> autoria (entrar pelo título):Coffee drinking and cancer of the pancreas (Editorial). Br Med J 1981;283:628-9.d) Supl<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> revista:Mastri AR. Neuropathy of diabetic neurogenic blad<strong>de</strong>r. Ann Intern Med 1980; 92 (2pte 2): 316-8.Frumin AM, Nussabaum J, Esposito M. Functional asplenia: d<strong>em</strong>onstration of esplenic activity by bone marrow sean (resumen).Blood 1979; 54(supl. 1): 26ª.10.2 LIVROS E OUTRAS MONOGRAFIASa) Autor(es) – pessoa física:Resen<strong>de</strong> ALM, Santos GF, Cal<strong>de</strong>ira VP, Magalhães ZR. Ritos <strong>de</strong> morte na l<strong>em</strong>brança <strong>de</strong> velhos. Florianópolis: Editora daUFSC, 1996:156.b) Editor, compilador, coor<strong>de</strong>nador como autor:Griffth-Kenney JW, Christensen PJ, eds. Nuring process: application of theories, frameworks and mo<strong>de</strong>ls. A multifocalapproach to individuals, families and communities. St. Louis: Mosby; 1986:429.10.2.1- Capítulo <strong>de</strong> livro:Chompré RR, Lange I, Monterrosa E. Political challenges for nursing in Latin America. The next century. In: Fagin CM, ed.Nursing lean<strong>de</strong>rship global strategies: International Nursing Development of the 21St. Century. New York: National Leaguefor Nursing; 1990:221-28.10.2.2- Trabalhos apresentados <strong>em</strong> congressos, s<strong>em</strong>inários, reuniões etc.:Cunha MHF, Jesus MCP, Peixoto MRB. A hermenêutica e as pesquisas qualitativas <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Anais do 48º CongressoBrasileiro <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. 1996,460. São Paulo: Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; 1996.10.2.3- Monografia que forma parte <strong>de</strong> uma série:Bailey KD. Typoligies and taxonomies: an introduction to classification techniques. In: Lewis-Beck MS, ed. Quantitativeapplication in the Social Sciences. Thousand-Oaks: Sage publications; 1994: 7-102.10.2.4- Publicação <strong>de</strong> um organismo:Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria 196, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1983. Brasília; 1983:5.10.3 TESESChianca TCM. Análise sincrônica e diacrônica <strong>de</strong> falhas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> pós-operatório imediato. (Tese <strong>de</strong> doutorado).Ribeirão Preto, São Paulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; 1997; 151.10.4 ARTIGO DE JORNALChompré RR, Lange I. Interes y dificulda<strong>de</strong>s para realizar estudios <strong>de</strong> maestria y doutorado en enfermería <strong>de</strong> AméricaLatina: Horizonte <strong>de</strong> Enfermería, Santiago, 1990; Ano 1:1.10.5 ARTIGO DE REVISTA (não científica)Neves MA et al. Técnicas <strong>de</strong> limpeza e <strong>de</strong>sinfecção da sala <strong>de</strong> operação: estudo da eficácia após cirurgia infectada. ArsCyrandi Hosp 1986; 4:15-23.11 - Agra<strong>de</strong>cimentos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> constar <strong>de</strong> parágrafo à parte, colocado antes das referências bibliográficas, após as key-words.12 - As medidas <strong>de</strong> comprimento, altura, peso e volume <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser expressas <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>a métrico <strong>de</strong>cimal (metro,quilo, litro) ou seus múltiplos e submúltiplos. As t<strong>em</strong>peraturas <strong>em</strong> graus Celsius. Os valores <strong>de</strong> pressão arterial <strong>em</strong> milímetros<strong>de</strong> mercúrio. Abreviaturas e símbolos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> obe<strong>de</strong>cer padrões internacionais. Ao <strong>em</strong>pregar pela primeira vez uma abreviatura,esta <strong>de</strong>ve ser precedida do termo ou expressão completos, salvo se se tratar <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida comum..13 - Os casos omissos serão resolvidos pelo Corpo Editorial.14 - A publicação não se responsabiliza pelas opiniões <strong>em</strong>itidas nos artigos.15 - Os artigos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser enviados para:At/REME- Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>Av. Alfredo Balena, 190, sala 421 - CEP: 30130-100 - Belo Horizonte / MGTel.: (31) 3248-9876 - E-mail: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br90 REME – Rev. Min. Enf; 9(1): 89-96, jan/mar, 2005


Publication Norms1 - REME - Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> is a publication of the School of Nursing of the Fe<strong>de</strong>ral University of MinasGerais/<strong>UFMG</strong>, in partnership with Nursing schools and courses in the State of Minas Gerais, Brazil. The magazine is issue<strong>de</strong>very quarter with the objective of contributing to the production, diss<strong>em</strong>ination and use of the knowledge produced innursing and other areas, covering issues related to teaching, research and assistance.2 - REME has the following structure: an Editorial; original articles, abstracts of theses and dissertations, reports ofexperience, updates and reviews; notes and information (updates in nursing and similar fields, research reports,abstracts and varied pieces of news); publication norms.3 - The papers are analyzed by the editors of REME, who have the right to accept or refuse the papers submitted.4 - The articles must be sent on a diskette, in "Word for Windows", version 6.0 or higher, "Times New Roman", size12, double space, in two copies printed on standard ISO A4 paper (212x 297mm), with margins of 25mm, standardletter or laser, limited to 20 pages, including title, text, acknowledg<strong>em</strong>ents, bibliography, tables, legends and illustrations.They must be addressed to REME with a cover letter containing the name of the authors, mailing address, e-mailaddress, telephone and fax numbers.5 - The first page should contain the title of the paper; names of the authors, with their highest acad<strong>em</strong>ic qualificationand institution; address for correspon<strong>de</strong>nce and financing agencies (in a footnote); abstract and key-words; the title,abstract and key-words should be in Portuguese, English and Spanish. The English and Spanish abstracts should comeat the end of the paper, before the bibliography. The abstract should be no longer than 100 words.6 - The drawings and graphs should be presented on tracing paper; photographs and/or sli<strong>de</strong>s numbered and in blackand White, indicating the place for insertion in the text; abbreviations, symbols, units and bibliography should followinternational norms of publication.7 - For the purposes of normalization, we adopt the requir<strong>em</strong>ents of the International Committee of Medical JournalEditors. These norms can be found in full in the following publications: International Committee of Medical Journal.Editors: Uniform requir<strong>em</strong>ents for manuscripts submitted to biomedical joumals; Can. Assoc. J. 1995; 152(9):1459-65and in Spanish, in the Bol. Of Sanit. Panam. 19899, 107 (5).422-31.8 - All papers should have the following structure and or<strong>de</strong>r:• title (with translations into Portuguese and Spanish);• Complete name of author (authors), followed by their profession and respective qualifications;• Abstract in Portuguese, no longer than 100 words;• Key-words (three to t<strong>em</strong>), according to the Medical Subject Headings (MeSH) of the In<strong>de</strong>x Medicus;• text: introduction, material and method or <strong>de</strong>scription of methodology, results, discussion and/or commentsand conclusions;• Summary in English (Abstract) and Spanish (Resumen), with the correct version for those languages;• Key words/ Palabras-clave (English and Spanish) according to the Medical Subject Headings I (MeSH) of the In<strong>de</strong>xMedicus; <strong>de</strong>scriptors of BIREME: www.bir<strong>em</strong>e.br;• Acknowledg<strong>em</strong>ents (optional);• Bibliography, as specified in it<strong>em</strong> 10;• Author’s address for correspon<strong>de</strong>nce.9 - Illustrations should be placed immediately after references to th<strong>em</strong> in the text. Within each category, they shouldbe numbered in sequence throughout the text. Example: (Tab. 1, Fig. 1, Graph 1). Each illustration should have a titleand its source. Headings and legends should be sufficiently clear and comprehensible, without the need to consult thetext. References to illustrations in the text should be mentioned between parenthesis, indicating the category andnumber of the illustration. Ex. (Tab. 1). Photographs should be black and White, coming in a separate envelope. Theyshould be sharp and with good contrast, on glossy paper and, on the back, they must inclu<strong>de</strong>: author’s name, title ofthe article and number for inclusion in the text.10 - The bibliography references will be numbered in sequence, in the or<strong>de</strong>r in which they are mentioned in the text.They must follow the norms of the International Committee of Medical Journal Editors mentioned in it<strong>em</strong> 7. Thetitles of the journals are abbreviated as in the In<strong>de</strong>x Medicus, in the publication "List of Journals In<strong>de</strong>xed in In<strong>de</strong>xMedicus", issued annually in January, in separate. The text references should be given in Arabic numbers, correspondingto the references at the end of the article. Bibliographical references should be quoted as follows:10.1 - JOURNALSa) Standard journal article. Inclu<strong>de</strong> the name of all the authors, when they are six or fewer. If they are seven ormore, quote the fist three, followed by et al.Nascimento ES Compreen<strong>de</strong>ndo o cotidiano <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Enf Rev 1995; 2(4):31-8.REME – Rev. Min. Enf; 9(1): 89-96, jan/mar, 2005 91


) Corporate authors:The Royal Mars<strong>de</strong>n Hospital Bone-Marrow Transplantation Team. Failure of syngeneic bone-marrow graft withoutpreconditioning in post hepatitis marrow aplasia. Lancet 1977;2:242-4.c) No authors (enter by title):Coffee drinking and cancer of the pancreas (Editorial). Br Med J 1981;283:628-9.d) Journal suppl<strong>em</strong>ent:Mastri AR. Neuropathy of diabetic neurogenic blad<strong>de</strong>r. Ann Intern Med 1980; 92 (2pte 2): 316-8.Frumin AM, Nussabaum J, Esposito M. Functional asplenia: d<strong>em</strong>onstration of esplenic activity by bone marrow sean(resumen). Blood 1979; 54 (supl. 1): 26ª.10.2 - BOOKS AND OTHER ARTICLESa) Authors – individuals:Resen<strong>de</strong> ALM, Santos GF, Cal<strong>de</strong>ira VP, Magalhães ZR. Ritos <strong>de</strong> morte na l<strong>em</strong>brança <strong>de</strong> velhos. Florianópolis:Editora da UFSC, 1996:156.b) Editor, compiler, coordinator as author:Griffth-Kenney JW, Christensen PJ, eds. Nursing process: application of theories, frameworks and mo<strong>de</strong>ls. A multifocalapproach to individuals, families and communities. St. Louis: Mosby; 1986:429.10.2.1- Book chapter:Chompré RR, Lange I, Monterrosa E. Political challenges for nursing in Latin America. The next century. In: FaginCM, ed. Nursing lea<strong>de</strong>rship global strategies: International Nursing Development of the 21St. Century. New York:National League for Nursing; 1990:221-28.10.2.2 - Papers presented at conferences, s<strong>em</strong>inars, meetings, etc.Cunha MHF, Jesus MCP, Peixoto MRB. A hermenêutica e as pesquisas qualitativas <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Anais do 48ºCongresso Brasileiro <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. 1996,460. São Paulo: Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; 1996.10.2.3 - Articles that are part of a series:Bailey KD. Typologies and taxonomies: an introduction to classification techniques. In: Lewis-Beck MS, ed. Quantitativeapplication in the Social Sciences. Thousand-Oaks: Sage publications; 1994: 7-102.10.2.4 - Publication by an agency:Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria 196, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1983. Brasília; 1983:5.10.3 - THESESChianca TCM. Análise sincrônica e diacrônica <strong>de</strong> falhas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> pós-operatório imediato. (Tese <strong>de</strong> doutorado).Ribeirão Preto, São Paulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; 1997; 151. Chompré RR, Lange I. Interes y dificulda<strong>de</strong>s para realizarestudios <strong>de</strong> maestria y doutorado en enfermería <strong>de</strong> América Latina: Horizonte <strong>de</strong> Enfermería, Santiago, 1990; Ano 1:1.10.4 - JOURNAL ARTICLEChompré RR, Lange I. Interes y dificulda<strong>de</strong>s para realizar estudios <strong>de</strong> maestria y doutorado en enfermería <strong>de</strong> AméricaLatina: Horizonte <strong>de</strong> Enfermería, Santiago, 1990; Ano 1:1.10.5 - JOURNAL ARTICLE (non-scientific)Neves MA et al. Técnicas <strong>de</strong> limpeza e <strong>de</strong>sinfecção da sala <strong>de</strong> operação: estudo da eficácia após cirurgia infectada.Ars Cyrandi Hosp 1986; 4:15-23.11 - Acknowledg<strong>em</strong>ents should be in a separate paragraph, placed before the bibliography, after the key-words.12 - The measur<strong>em</strong>ents of length, height, weight and volume should be expressed in metric syst<strong>em</strong> units (meter,kilogram, liter) or their multiples and submultiples. T<strong>em</strong>peratures in <strong>de</strong>grees Celsius. Blood pressure in millilitersof mercury. Abbreviations and symbols should follow international standards. The first time an abbreviation is used,it should be prece<strong>de</strong>d by the full term or expression, except when it is a common measur<strong>em</strong>ent unit.13 - Exceptions will be solved by the Editors.14 - The journal is not responsible for opinions expressed in the articles.15 - Articles should be sent to:At/REME- Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>Av. Alfredo Balena, 190, sala 421 - CEP.: 30130-100 Belo Horizonte-MGTel.: (55 31) 3248-9876 - E-mail: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br92 REME – Rev. Min. Enf; 9(1): 89-96, jan/mar, 2005


Normas <strong>de</strong> Publicación1 - La REME - Revista <strong>de</strong> Enfermería <strong>de</strong> Minas Gerais - es una publicación trimestral <strong>de</strong> la Escuela <strong>de</strong> Enfermería <strong>de</strong> la <strong>UFMG</strong>conjuntamente con escuelas y cursos <strong>de</strong> graduación en Enfermería <strong>de</strong> Minas Gerais. Su finalidad es contribuir a la producción,divulgación y utilización <strong>de</strong>l conocimiento en enfermería y áreas correlacionadas, incluyendo también t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> enseñanza,investigación y asistencia.2 - La REME tiene la siguiente estructura: editorial, artículos originales, resúmenes <strong>de</strong> tesis y disertaciones, relatos <strong>de</strong>experiencias, actualización y revisión; notas e informaciones (actualización en enfermería y en áreas afines, notas <strong>de</strong> trabajos<strong>de</strong> investigación, reseñas y otras noticias); normas <strong>de</strong> publicación.3 - Los trabajos recibidos serán analizados por el Cuerpo Editorial <strong>de</strong> la REME, que se reserva el <strong>de</strong>recho <strong>de</strong> aceptarlos parasu publicación o rechazarlos.4 - Los trabajos <strong>de</strong>berán enviarse en disquete, programa "Word for Windows", versión 6.0 o superior, letra "Times NewRoman", tamaño 12, digitalizados en espacio doble, en dos copias, impresas en papel estándar ISO A4 (212x 297mm), conmárgenes <strong>de</strong> 25mm, mo<strong>de</strong>lo carta o a láser, limitándose a 20 carillas incluyendo título, texto, agra<strong>de</strong>cimientos, referencias,tablas, notas e ilustraciones. Junto con el trabajo <strong>de</strong>berá enviarse una carta <strong>de</strong> presentación dirigida a la REME con elnombre <strong>de</strong> los autores, dirección para correspon<strong>de</strong>ncia, dirección electrónica, teléfono y fax.5 - La primera página <strong>de</strong>berá tener el título <strong>de</strong>l trabajo; nombre <strong>de</strong> los autores con su nivel académico más alto e institución;dirección para correspon<strong>de</strong>ncia y entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> financiación (dispuestas en nota <strong>de</strong> pié <strong>de</strong> página); resúmenes y palabras clave;el título, resumen y palabras clave <strong>de</strong>berán estar en portugués, inglés y español. Los resúmenes en inglés y español <strong>de</strong>beránconstar al final <strong>de</strong>l trabajo, antes <strong>de</strong> las referencias bibliográficas. El resumen <strong>de</strong>berá tener, como máximo, 100 palabras.6 - Los dibujos y gráficos <strong>de</strong>berán presentarse en papel vegetal, fotografías y/o diapositivas en blanco y negro numeradas,indicando dón<strong>de</strong> <strong>de</strong>berán incluirse en el texto; abreviaturas, tamaños, símbolos, unida<strong>de</strong>s y referencias bibliográficas <strong>de</strong>beránseguir las Normas Internacionales <strong>de</strong> Publicación.7 - Para efectos <strong>de</strong> normalización se adoptarán los Requisitos <strong>de</strong>l Comité Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas.Las normas están publicadas integralmente en el International Committee of Medical Journal. Editors, Uniform requir<strong>em</strong>entsfor manuscripts submitted to biomedical journals; Can. Assoc. J. 1995; 152(9):1459-65 y, en español, en el Bol. of Sanit.Panam. 19899, 107 (5).422-31.8 - Los trabajos <strong>de</strong>berán tener la siguiente estructura y or<strong>de</strong>n:• título (con traducción en inglés y español);• nombre completo <strong>de</strong>l autor (o autores), con profesión y título;• resumen <strong>de</strong>l trabajo en portugués, sin exce<strong>de</strong>r el límite <strong>de</strong> las 100 palabras;• Palabras clave (entre tres y diez), en conformidad con la lista <strong>de</strong>l Medical Subject Headings (MeSH) <strong>de</strong>l In<strong>de</strong>xMedicus;• texto: introducción, material y método o <strong>de</strong>scripción <strong>de</strong> la metodología, resultados, discusión y/o comentarios yconclusiones;• Resumen en inglés (Summary) y español (Resumen), con la traducción correcta <strong>de</strong>l resumen en los dos idiomas;• Key words/ Palabras clave en inglés y español en conformidad con la lista <strong>de</strong>l Medical Subject Headings I (MeSH)<strong>de</strong>l In<strong>de</strong>x Medicus; <strong>de</strong>scriptores <strong>de</strong> la BIREME: www.bir<strong>em</strong>e.br;• Agra<strong>de</strong>cimientos (opcional);• Referencias bibliográficas como se especifica en el punto 10;• Dirección <strong>de</strong>l autor para correspon<strong>de</strong>ncia;9 - Las ilustraciones <strong>de</strong>berán estar situadas <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> su mención en el texto. Dentro <strong>de</strong> cada categoría <strong>de</strong>berán enumerarseen secuencia durante el texto. Por ej. (Tab. 1, Fig. 1, Gráf. 1). Cada ilustración <strong>de</strong>berá llevar un título y la fuente <strong>de</strong> dón<strong>de</strong>ha sido retirada. Encabezamientos y textos explicativos <strong>de</strong>berán estar claros y comprensibles sin necesidad <strong>de</strong> tener querecurrir al texto. Las referencias a las ilustraciones en el texto <strong>de</strong>berán mencionarse entre paréntesis, indicando la categoríay el número <strong>de</strong> la ilustración. Por ej. (Tab. 1). Las fotografías <strong>de</strong>berán ser en blanco y negro, colocadas en un sobre aparte,nítidas y con buen contraste, <strong>de</strong> papel brillante y llevar atrás el nombre <strong>de</strong>l autor, título <strong>de</strong>l artículo y número con el cualfigurarán en el texto.10 - Las referencias bibliográficas <strong>de</strong>berán enumerarse consecutivamente, siguiendo el or<strong>de</strong>n en el que se mencionan porprimera vez en el texto. Deberán presentarse en conformidad con las normas <strong>de</strong>l Comité Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong>Revistas Médicas, citado en el punto 5. Los títulos <strong>de</strong> las revistas se abrevian <strong>de</strong> acuerdo con el In<strong>de</strong>x Medicus, en lapublicación "List of Journals In<strong>de</strong>xed in In<strong>de</strong>x Medicus", que publica anualmente como parte <strong>de</strong>l número <strong>de</strong> enero, enseparado. Las referencias en el texto <strong>de</strong>berán citarse mediante número arábico, correspondiendo a las referencias al final<strong>de</strong>l artículo. En las referencias bibliográficas, citar como a continuación:REME – Rev. Min. Enf; 9(1): 89-96, jan/mar, 2005 93


10.1 - PERIÓDICOSa) Artículo estándar <strong>de</strong> revista. Si son seis o menos <strong>de</strong> seis incluir el nombre <strong>de</strong> todos los autores. Si son siete o másanotar los tres primeros y <strong>de</strong>spués et al.Nascimento ES Compreen<strong>de</strong>ndo o cotidiano <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Enf Rev 1995;2(4):31-8.b) Autor corporativo:The Royal Mars<strong>de</strong>n Hospital Bone-Marrow Transplantation Team. Failure os syngeneic bone-marrow graft withoutpreconditioning in post hepatitis marrow aplasia. Lancet 1977;2:242-4.c) Sin autor (comenzar por el título):Coffee drinking and cancer of the pancreas (Editorial). Br Med J 1981;283:628-9.d) Supl<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> revista:Mastri AR. Neuropathy of diabetic neurogenic blad<strong>de</strong>r. Ann Intern Med 1980; 92 (2pte 2): 316-8.Frumin AM, Nussabaum J, Esposito M. Functional asplenia: d<strong>em</strong>onstration of esplenic activity by bone marrow sean (resumen).Blood 1979; 54(supl. 1): 26ª.10.2 - LIBROS Y OTRAS MONOGRAFÍASa) Autor(es) – persona física:Resen<strong>de</strong> ALM, Santos GF, Cal<strong>de</strong>ira VP, Magalhães ZR. Ritos <strong>de</strong> morte na l<strong>em</strong>brança <strong>de</strong> velhos. Florianópolis: Editora daUFSC, 1996:156.b) Editor, copilador, coordinador como autor:Griffth-Kenney JW, Christensen PJ, eds. Nuring process: application of theories, frameworks and mo<strong>de</strong>ls. A multifocalapproach to individuals, families and communities. St. Louis: Mosby; 1986:429.10.2.1 - Capítulo <strong>de</strong> libro:Chompré RR, Lange I, Monterrosa E. Political challenges for nursing in Latin America. The next century. In: Fagin CM, ed.Nursing lean<strong>de</strong>rship global strategies: International Nursing Development of the 21St. Century. New York: National Leaguefor Nursing; 1990:221-28.10.2.2 - Trabajos presentados en congresos, s<strong>em</strong>inarios, reuniones etc.:Cunha MHF, Jesus MCP, Peixoto MRB. A hermenêutica e as pesquisas qualitativas <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Anais do 48º CongressoBrasileiro <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. 1996,460. São Paulo: Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; 1996.10.2.3 - Monografía que forma parte <strong>de</strong> una serie:Bailey KD. Typoligies and taxonomies: an introduction to classification techniques. In: Lewis-Beck MS, ed. Quantitativeapplication in the Social Sciences. Thousand-Oaks: Sage publications; 1994: 7-102.10.2.4 - Publicación <strong>de</strong> un organismo:Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria 196, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1983. Brasília; 1983:5.10.3 - TESISChianca TCM. Análise sincrônica e diacrônica <strong>de</strong> falhas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> pós-operatório imediato. (Tese <strong>de</strong> doutorado).Ribeirão Preto, São Paulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; 1997; 151.10.4 - ARTÍCULO DE PERIÓDICOChompré RR, Lange I. Interes y dificulda<strong>de</strong>s para realizar estudios <strong>de</strong> maestría y doctorado en enfermería <strong>de</strong> AméricaLatina: Horizonte <strong>de</strong> Enfermería, Santiago, 1990; Año 1:1.10.5 - ARTÍCULO DE REVISTA (no científica)Neves MA et al. Técnicas <strong>de</strong> limpeza e <strong>de</strong>sinfecção da sala <strong>de</strong> operação: estudo da eficácia após cirurgia infectada. ArsCyrandi Hosp 1986; 4:15-23.11 - Los agra<strong>de</strong>cimientos <strong>de</strong>berán hacerse en un párrafo aparte, antes <strong>de</strong> las referencias bibliográficas y <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> laspalabras clave.12 - Las medidas <strong>de</strong> longitud, altura, peso y volumen <strong>de</strong>berán expresarse en unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>l sist<strong>em</strong>a métrico <strong>de</strong>cimal (metro,kilo, litro) o sus múltiplos y submúltiplos. Las t<strong>em</strong>peraturas en grados Celsius. Los valores <strong>de</strong> presión arterial en milímetros<strong>de</strong> mercurio. Abreviaturas y símbolos <strong>de</strong>berán seguir las normas internacionales. Al <strong>em</strong>plear por primera vez una abreviatura,ésta <strong>de</strong>be estar precedida <strong>de</strong>l término o expresión completos, salvo si se trata <strong>de</strong> una unidad <strong>de</strong> medida común.13 - El Cuerpo Editorial resolverá los casos omisos.14 - La publicación no se hace responsable <strong>de</strong> las opiniones <strong>em</strong>itidas en los artículos.15 - Los artículos <strong>de</strong>berán enviarse a:At/REME- Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>Av. Alfredo Balena, 190, sala 421 - CEP.: 30130-100 - Belo Horizonte-MGTel.: (31) 3248-9876 - E-mail: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br94 REME – Rev. Min. Enf; 9(1): 89-96, jan/mar, 2005


✁REMERevista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>Nursing Journal of Minas GeraisRevista <strong>de</strong> Enfermería<strong>de</strong> Minas GeraisAssinatura 2005 (4 ex<strong>em</strong>plares)Valor R$ 80,00Nome: ____________________________________________________________________________________En<strong>de</strong>reço: _________________________________________________________________________________Bairro: ________________________________________________ CEP: ______________________________Cida<strong>de</strong>: _______________________________________________ Estado: ____________________________Telefone: _____________________________________________ Fax: _______________________________Profissão: _____________________________________________ Especialida<strong>de</strong>: _____________________E-mail: ________________________________________________ASSINALE A FORMA DE PAGAMENTODepósito bancárioCheque nominal à REME(Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>/FUNDEP)DADOS BANCÁRIOSBanco do BrasilAgência: 1615-2Conta: 480109-1Código I<strong>de</strong>ntificador: 4828011Enviar o comprovante para o fax: 31 3248 9830____________________________________________Assinatura_____________________________________________DataREVISTA MINEIRA DE ENFERMAGEMUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais - <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>Av. Alfredo Balena, 190 - sala 421 - Belo Horizonte - MG - Brasil - CEP: 30130-100Tel.: (31) 3248 9876 Fax.: (31) 3248 9830E-mail: r<strong>em</strong>e@enfermag<strong>em</strong>.ufmg.brREME – Rev. Min. Enf; 9(1): 89-96, jan/mar, 2005 95

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