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UMA JAZIDA PALEONTOLÓGICA EXCEPCIONAL NO ORDOVÍCICO DO SW DA EUROPA: A "PEDREIRA DOVALÉRIO" EM CANELAS (AROUCA, PORTUGAL)Artur Abreu Sá 1 e Manuel Valério 2 > 1 Departamento de Geologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,Ap. 1013, 5001-911 Vila Real, Portugal. asa@utad.pt,2 Ardósias Valério & Figueiredo, Cima, Canelas, 4450-252 Arouca, Portugal.RESUMOA excelência do conteúdo paleontológico da "Pedreira do Valério" e o seu elevado valor científico, transformam-nanum local de grande importância internacional. A esta realidade, acresce ainda a cooperaçãocientífica e a promoção pública efectuadas pela empresa "Ardósias Valério & Figueiredo", concessionáriada pedreira, cujos projectos futuros, já em desenvolvimento, visam transformar este local num importantecentro científico-didáctico para a expansão e divulgação do conhecimento sobre o Ordovícico do SW daEuropa.ABSTRACTThe outstanding paleontological record from "Valério's Quarry" and its high scientific value provides aninternational relevance to this paleontological locality. This reality is increased by the scientific cooperationand public promotion fostered by "Ardósias Valério & Figueiredo", concession holder of the quarrythrough projects now under development, the company aims to transform this place into an important scientific-didacticcentre for spreading and promoting knowledge about the Ordovician of the SW of Europe.1. INTRODUÇÃOMuita da notoriedade pública alcançada hoje em dia pela Paleontologia em Portugal é devida aos trabalhosde salvaguarda e estudo de importantes pistas com pegadas de dinossáurios, de que são exemplosmáximos as pedreiras do Galinha (Ourém) e de Carenque (Sintra). Apesar da relevância internacionalalcançada por estas jazidas, a reputação do património paleontológico português estende-se também aoutros locais e ocorrências, do qual são bons exemplos o Parque Paleozóico de Valongo e o ParqueIcnológico de Penha Garcia. Neste sentido, este trabalho pretende dar a conhecer uma outra jazida paleontológicaexcepcional, localizada na denominada "Pedreira do Valério", nas proximidades de Canelas(Arouca), em ardósias de idade Ordovícico Médio pertencentes à Formação Valongo (Fig. 1).FIG. 1 – ESBOÇO GEOLÓGICO DE ENQUADRAMENTO DA"PEDREIRA DO VALÉRIO" (ADAP. MEDEIROS, 1964).Os primeiros trabalhos para a exploração ardósias nestelocal ocorreram em meados do século XIX, tendo apedreira sido posteriormente adquirida pela família Valériohá cerca de 100 anos. No entanto, foi somente a partir de1990, com a fundação da Empresa "Ardósias Valério &Figueiredo", que teve início uma verdadeira exploraçãoindustrial destes materiais, com vista fundamentalmente àprodução de coberturas para telhados. As escavaçõesentão efectuadas começaram a trazer à luz do dia umagrande quantidade de invertebrados fósseis, que além deapresentarem um excelente estado de conservação,impressionavam pelo "gigantismo" das suas formas. Esteúltimo, contrariando a ideia de uma hipotética "faunaGuliveriana" de trilobites com comprimentos entre 30 e70 cm, está directamente relacionado com a tectónica queafectou estes materiais e que, em média, será responsável23
por um aumento de 30-40% no tamanho original dos fósseis, devido ao facto de o plano principal de xistosidadeestar paralelo ao plano de estratificação. A estas dimensões pouco usuais da generalidade dosfósseis encontrados, acresce a ocorrência de formas pertencentes a espécies raras, ao nível de afloramentoscorrelacionáveis do SW da Europa, o que constitui uma realidade por si só muito importante.A colaboração prestada pela empresa, que nos últimos 15 anos tem procedido a um resgate sistemáticodos exemplares paleontológicos mais relevantes à medida que avança a exploração industrial da pedreira,possibilitou uma importante evolução no conhecimento da fauna e bioestratigrafia dos materiais ordovícicosdo Anticlinal de Valongo, ao mesmo tempo que tem permitido a sua utilização com fins didácticos,através da realização de algumas exposições (Arouca, Vila Real, Coimbra), com significativo impacto juntoda população estudantil, e da doação e permuta de inúmeros exemplares com destino a diversos museusde Portugal e da Europa.2. A GEOLOGIA E A PALEONTOLOGIADe acordo com o trabalho de Medeiros (1964), a área de concessão licenciada à empresa "ArdósiasValério & Figueiredo" tem a particularidade de abranger materiais estratigraficamente compreendidosentre o Câmbrico e o Carbónico, com a presumível excepção de litologias de idade Devónico (Fig. 1).Os níveis extraordinariamente fossilíferos abordados neste trabalho correspondem a uma secção contínua,com uma espessura aproximada de 100 m, de ardósias de idade Oretaniano inferior (ca. 465 Ma). O conteúdofóssil destes materiais foi dado a conhecer pela primeira vez no trabalho de Thadeu (1956) e posteriormentereferenciado por Teixeira (1981), sendo actualmente conhecida uma associação representadapor cerca de uma dúzia de espécies de trilobites, principalmente asafídeos e dikelokefalinídeos,braquiópodes, bivalves, gastrópodes, cefalópodes, equinodermes e icnofósseis (Sá et al., em imp.).A característica mais saliente desta associação paleontológica é a existência de uma grande quantidade deexoesqueletos completos e mudas articuladas de trilobites (Fig. 2A), muitas delas pertencentes a táxonesraros ou inusuais, e com dimensões que chegam a alcançar os 60-70 cm (Fig. 2B). Entre estes destacamseexemplares de Bathycheilus castilianus, Colpocoryphe thorali conjugens, Ectillaenus giganteus,Hungioides bohemicus, Neseuretus avus, Nobiliasaphus delessei, Ogyginus forteyi, Placoparia cambriensis,Retamaspis melendezi, entre outros. Refira-se que a forma supostamente autóctone de Hungioidesbohemicus arouquensis foi revista por Rábano (1983) e considerada um sinónimo posterior de H.bohemicus sensu stricto, correspondendo apenas a um estado ontogenético da referida espécie.FIG. 2 – A, PLACA DE ARDÓSIA COM 15 EXEM-PLARES DE OGYGINUS FORTEYI; B, EXEMPLAR DEHUNGIOIDES BOHEMICUS COM 40 CM DE COM-PRIMENTO.24
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