<strong>de</strong>u-se pelo movimento vertical da Falha do Ponsul há cerca <strong>de</strong> 10 milhões <strong>de</strong> anos, com subida do bloco<strong>de</strong> Castelo Branco. Esta reactivação da Falha resultou do incremento dos efeitos da colisão da placa tectónicaAfricana com a placa Euroasiática, responsável por toda a estruturação do relevo actual na Europamediterrânica. Delimitou-se <strong>de</strong>sta forma uma nova bacia sedimentar endorreica – a Bacia <strong>de</strong> Moraleja-Ródão. A partir da escarpa <strong>de</strong> falha do Ponsul, que se dispõem entre Vila Velha <strong>de</strong> Ródão e Idanha-a-Nova, promoveu-se um gradiente topográfico que permitiu o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> extensos leques aluviais,<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong>tríticos grosseiros e imaturos formados em eventos <strong>de</strong> enxurrada. A área <strong>de</strong>primida <strong>de</strong>Moraleja-Ródão foi preenchida por sedimentos <strong>de</strong>ste tipo até há cerca <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong> anos. No entanto,o clima mudou drasticamente <strong>de</strong> então para cá. As glaciações do Quaternário geraram condições <strong>de</strong>precipitação que promoveram o encaixe da re<strong>de</strong> hidrográfica do Tejo e, por tal, o <strong>de</strong>senvolvimento do RioPonsul. Este rio apresenta o seu vale condicionado pela orientação da Falha do Ponsul, o que indica quea Falha continuou a mover-se ao longo do Quaternário. O movimento vertical da Falha do Ponsul foi aindaresponsável pela evolução do vale do Tejo na área das Portas do Ródão. De facto, sabe-se hoje que aFalha do Ponsul permanece activa, embora com um muito baixo índice <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>.Apesar da materialização geomorfológica na paisagem da escarpa <strong>de</strong> Falha do Ponsul ainda muito bempreservada, qual muralha elevada sobre a campina <strong>de</strong> Idanha, a sua longa e rica história geológica só éconhecida através <strong>de</strong> muito poucos afloramentos e talu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estradas. Um dos locais on<strong>de</strong> é mais fácilcompreen<strong>de</strong>r a origem e evolução da Falha do Ponsul, pela qualida<strong>de</strong> e orientação do corte, é ao km25da estrada municipal 354 (Fig. 8). Acresce a este facto as acessibilida<strong>de</strong>s excelentes, a localização no seio<strong>de</strong> uma paisagem diversificada, a proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um centro urbano e a perspectiva <strong>de</strong> se enquadrar estetalu<strong>de</strong> <strong>de</strong> estrada num percurso pe<strong>de</strong>stre temático, associado às temáticas da Tectónica e Sismicida<strong>de</strong>.Acresce salientar que, no ano em que se comemoram os 800 anos da vila <strong>de</strong> Idanha-a-Nova, a origem<strong>de</strong>ste burgo está fortemente enraizada no bloco levantado da Falha, <strong>de</strong>vido à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva que aescarpa <strong>de</strong> falha granítica proporcionava.Pelas razões supracitadas, consi<strong>de</strong>ramos essencial a classificação do talu<strong>de</strong> <strong>de</strong> estrada municipal 354, aokm25, como Imóvel <strong>de</strong> Interesse Municipal, no âmbito do Decreto-Lei 107/2001, para que a memóriageológica da origem <strong>de</strong> Idanha-a-Nova não se perca e seja promovida, segundo um projecto <strong>de</strong> revitalizaçãodo espaço envolvente beneficiado pelo perímetro <strong>de</strong> classificação.FIG. 8. A FALHA DO PONSUL MATERIALIZADA NO CORTE DE ESTRADA Nº 354, AO KM 25.CLASSIFICAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO TRONCO FÓSSIL DE PERAIS (VILA VELHA DE RÓDÃO)As razões para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação do fóssil <strong>de</strong> Coutada sob a alçada jurídica encontram-sesuficientemente <strong>de</strong>batidas no trabalho <strong>de</strong> Neto <strong>de</strong> Carvalho (2005). Aqui serão sintetizadas as principaisvalências do património (Fig. 9).PATRIMÓNIO PALEONTOLÓGICO- Um dos raros fósseis encontrados nos <strong>de</strong>pósitos cenozóicos continentais da Beira Baixa;- Um dos raros achados paleobotânicos que permite reconstituir as condições climáticas <strong>de</strong>sta região paraum <strong>de</strong>terminado intervalo <strong>de</strong> tempo do passado;- As suas dimensões, que lhe dão alguma imponência (trata-se <strong>de</strong> um fragmento <strong>de</strong> um tronco <strong>de</strong>anonácea fossilizado);- Um dos poucos fósseis conhecidos <strong>de</strong> uma espécie com holótipo português;- A presença <strong>de</strong> marcas <strong>de</strong> interacção entre insectos e o tronco (padrões <strong>de</strong> perfurações) nunca antes<strong>de</strong>scritas em outros exemplos <strong>de</strong> Portugal e ainda pouco conhecidas no registo fóssil mundial. Estes dadosainda não se encontram suficientemente conhecidos (encontram-se ainda em fase <strong>de</strong> estudo).57
PATRIMÓNIO GEOLÓGICO- Os aspectos tafonómicos do tronco fóssil permitem reconhecer o seu historial como partícula sedimentare reconstituir os paleoambientes no âmbito estratigráfico em que foi <strong>de</strong>scoberto.Consi<strong>de</strong>ra-se, segundo os artigos 2º, 14º e 15º da Lei nº 107/2001, que o património cultural <strong>de</strong>scritoapresenta interesse relevante a nível do concelho <strong>de</strong> Vila Velha <strong>de</strong> Ródão, <strong>de</strong>signadamente paleontológicoe geológico, pela sua originalida<strong>de</strong>, singularida<strong>de</strong>, rarida<strong>de</strong> e exemplarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo ser consi<strong>de</strong>radaa necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> protecção e valorização através da classificação como Móvel <strong>de</strong> InteresseMunicipal.Consi<strong>de</strong>ra-se que o tronco fóssil <strong>de</strong> Coutada, nas várias vertentes, se encontra em risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaracterizaçãopelos vários tipos <strong>de</strong> ameaças que a este incorrem abaixo <strong>de</strong>scriminados.PATRIMÓNIO PALEONTOLÓGICO- Comercialização do fóssil pelos actuais proprietários e transporte para local <strong>de</strong>sconhecido ou fora dajurisdição do estado português;- Destruição parcial ou total do fóssil por quem o visita (coleccionadores, turistas ou trabalhadores daherda<strong>de</strong>) ou por máquinas agrícolas que passam junto <strong>de</strong>ste, bem como pela manipulação imprópria paratransferência <strong>de</strong> local <strong>de</strong> exposição no espaço da herda<strong>de</strong>;- Eventual impedimento da sua investigação e visita por se encontrar em proprieda<strong>de</strong> privada;- Esquecimento pelo abandono parcial a que está votado.FIG. 9. O GRAU DE ABANDONO A QUE ESTÁ VOTADO O MAGNÍFICOTRONCO FÓSSIL DE PERAIS.6. PROMOÇÃO DA REGIÃO NATURTEJO NO ÂMBITO DO GEOTURISMOICONOGRAFIA OU MARKETING GEOLÓGICOO turismo científico incorpora um trabalho <strong>de</strong> reflexão, informação e divulgação, sobre materiais que sãodos domínios da ciência. É esta visão, multidisciplinar e interdisciplinar, que permite a leitura e usufrutoda paisagem na sua plenitu<strong>de</strong>, ensina a ver e a tirar proveito da viagem e ten<strong>de</strong> a prolongá-la, criando anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> infra-estruturas <strong>de</strong> interpretação, guionamento, restauração e alojamento. A região<strong>Naturtejo</strong> agora em foco no presente trabalho é um <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> excelência para este tipo <strong>de</strong> turismo, umturismo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que complementa os produtos tradicionais do nosso país com o seu património naturale cultural.58Mas num mundo saturado <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> concorrência extrema, é necessário criar imagens <strong>de</strong> marca,ícones universais, susceptíveis <strong>de</strong> atrair os fluxos turísticos. O conceito <strong>de</strong> ícone, <strong>de</strong>ve ser aqui entendidocomo uma marca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> carácter único e diverso, capaz <strong>de</strong> mobilizar os novos viajantes paraum objectivo irrepetível e exclusivo. No projecto que se preten<strong>de</strong> elaborar a iconografia estará nosicnofósseis das cristas quartzíticas ordovícicas que se erguem na paisagem regional e nos elementosgeológicos que compõem a paisagem. É este último ícone que fundamenta a escolha provisória do nomepara o Geoparque português. As áreas <strong>de</strong> Meseta correspon<strong>de</strong>m a regiões <strong>de</strong> "plataforma estável", na qualo Maciço Hespérico terá sofrido poucas <strong>de</strong>formações tectónicas no <strong>de</strong>correr da última orogenia, a