O povoamento da América visto a partir dos sambaquis do Litoral ...
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A OCORRÊNCIA DE CERÂMICA ANTIGA EM ÁREAS DE FLORESTA TROPICAL DA AMÉRICADO SUL: O EXEMPLO DOS SAMBAQUISEstu<strong><strong>do</strong>s</strong> revisionistas recentes, basea<strong><strong>do</strong>s</strong> em <strong>da</strong>tações físico-químicas, apontam para umadesestruturação <strong>do</strong> modelo defendi<strong>do</strong> por Betty Meggers de que inovação cultural e desenvolvimentonão eram espera<strong><strong>do</strong>s</strong> na floresta tropical úmi<strong>da</strong>. A hipótese que considerava os Andes o berço deinovações, como a agricultura e a cerâmica na América <strong>do</strong> Sul vem perden<strong>do</strong> sustentação quan<strong>do</strong> severifica que as Terras Baixas tiveram priori<strong>da</strong>de cronológica sobre as áreas montanhosas nodesenvolvimento <strong>da</strong> cerâmica e de ocupações sedentárias (ROOSEVELT, 1992).O contexto dessa assertiva deve ser compreendi<strong>do</strong> a <strong>partir</strong> <strong>da</strong> observação de como se deu odesenvolvimento <strong>da</strong>s pesquisas arqueológicas na área de floresta tropical brasileira, pois comobem pontuou Eduar<strong>do</strong> Neves, uma grande parte <strong>da</strong> arqueologia feita na Amazônia permaneceuenraiza<strong>da</strong> sob influências mono-causais ou possibilísticas e no determinismo, primeiramenteapresenta<strong>da</strong>s no Handbook of South American Indians (NEVES, 1998: 1), com uma forte influência<strong>da</strong> Ecologia Cultural norte americana e <strong>do</strong> determinismo ecológico (NEVES, 1999: 216), onde aslinhas teóricas eram desenvolvi<strong>da</strong>s no âmbito <strong>do</strong> neo-evolucionismo, com o uso de modelosexplicativos para interpretar os vestígios arqueológicos (NEVES, 2001: 45), mas que, no entanto,vêm sofren<strong>do</strong> um processo geral de revisão, historicamente orienta<strong>do</strong>, <strong>da</strong> antropologia ecológica,também denomina<strong>da</strong> de ecologia histórica (NEVES, 1999/2000: 87).As ocupações mais antigas para a região Norte, localiza<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> bacia amazônica, costalitorânea e áreas vizinhas estão questionan<strong>do</strong> o entendimento sobre a ocupação <strong>do</strong> litoral brasileiroe a antigüi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cerâmica produzi<strong>da</strong> nas Américas. Entretanto, esses resulta<strong><strong>do</strong>s</strong> devem seravalia<strong><strong>do</strong>s</strong> sob a luz de estu<strong><strong>do</strong>s</strong> revisionistas recentes e na observação criteriosa e imparcial denovos <strong>da</strong><strong><strong>do</strong>s</strong> empíricos acerca <strong>do</strong> processo de ocupação <strong>do</strong> continente americano e o estu<strong>do</strong>arqueológico <strong>da</strong> cerâmica antiga na América.Neste senti<strong>do</strong>, outras leituras interpretativas para o registro arqueológico concernentes aodesenvolvimento cultural no seio <strong>da</strong> Amazônia vêm ganhan<strong>do</strong> aceitação, quan<strong>do</strong> novos pesquisa<strong>do</strong>rescomeçam a desmistificar os principais pilares <strong>da</strong> ecologia cultural e <strong>do</strong> determinismo ambiental 8 , a<strong>partir</strong> de escavações sistemáticas, com problemas de pesquisa bem orienta<strong><strong>do</strong>s</strong> para comprovaçãoou refutação de hipóteses, fun<strong>da</strong>menta<strong><strong>do</strong>s</strong> em construções cronológicas consistentes e noestabelecimento de um contexto espaço-temporal.Dessa forma, como estatuiu Roosevelt (1991: 113) em seu artigo Determinismo ecológico edesenvolvimento social indígena <strong>da</strong> Amazônia, o que de fato se sabe até momento sobre a pré-história<strong>da</strong> Amazônia é uma longa e complexa seqüência de ocupação intensa, sem nenhum sinal deretar<strong>da</strong>mento devi<strong>do</strong> a limitações impostas pelo meio ambiente. As populações <strong>da</strong> região, longe deserem culturalmente atrasa<strong>da</strong>s e de sempre terem recebi<strong>do</strong> inovações vin<strong>da</strong>s de fora, desenvolveramimportantes inovações culturais que mais tarde se observariam pelo Novo Mun<strong>do</strong>.Em artigo, Revisión crítica de la arqueología suramericana, Arenas e Obdiente, discorren<strong>do</strong> sobre o processode sedentarização na América <strong>do</strong> Sul, afirmam que a <strong>partir</strong> <strong>do</strong> 7° milênio a.C. iniciam-se ativi<strong>da</strong>des deapropriação e de produção incipiente de alimentos dentro de um mo<strong>do</strong> de trabalho que envolvia o usoregular de recursos de diferentes ecossistemas e nichos ecológicos, inclusive com a integração recorrentede áreas costeiras e <strong>da</strong>s terras <strong>do</strong> interior. Isso implicava a exploração de recursos abun<strong>da</strong>ntes, estáveis ede acesso relativamente fácil <strong>da</strong>s regiões litorâneas associa<strong>da</strong>s à captação de vegetais (1992: 39).FUMDHAMentos VII - Arkley Marques Bandeira 437