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O espaço da utopia barroca: três sonetos de Gregório de ... - Eutomia

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Vários autores, dos muitos que escreveram sobre a obra atribuí<strong>da</strong> a Gregório,comentaram o fato <strong>de</strong> o poeta baiano ter traduzido estes <strong>sonetos</strong>, prática tradutória, aliás,que, se causou a Gregório algumas críticas e numerosas acusações <strong>de</strong> ser um plagiário (cf.RIBEIRO e RONAI, por exemplo, mas até Spina fala <strong>de</strong> “artimanha plagística”, 1995, p.146),na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> era comum naquela época. Isto mais ain<strong>da</strong>, se consi<strong>de</strong>rarmos a gran<strong>de</strong>circulação, e circulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> materiais, referências, sugestões e temas poéticos, quando orepertório era um patrimônio comum, que os autores exploravam livremente e como forma<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar conhecimento, cultura, sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> poética e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reinventar apartir <strong>de</strong> temas, rimas, versos <strong>da</strong>dos - o fenômeno <strong>da</strong> glosa, por exemplo, só se tornacompreensível se enten<strong>de</strong>rmos que, ao comentar poeticamente o texto alheio, o poetareverencia o outro ao mesmo tempo em que tenta igualar-se a ele e, quem sabe, superá-lo(sobre a intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> em âmbito ibérico e ibero-americano nesta época, fun<strong>da</strong>mentalGOMES, 1985). Assim, conhecemos <strong>sonetos</strong>, décimas, romances traduzidos ou a<strong>da</strong>ptadosdo espanhol para o português por Gregório e/ou seus colegas <strong>de</strong> ofício poético, e muitosoutros reelaborados do português, com intenção satírica ou reverencial, como citações oucomo homenagens, e também série <strong>de</strong> poemas em que os autores retomam rimas ouversos e, em tenções poéticas, competem entre si.De todo o extenso corpus gregoriano, os <strong>sonetos</strong> representam uma seção através <strong>da</strong>qual é possível examinar diferentes facetas <strong>da</strong> obra que leva o nome do poeta baiano: nãosó os diversos gêneros – satírico, religioso, lírico, encomiástico – como também todos osrecursos métricos, fônicos, retóricos, semânticos, por ele empregados (cf. LA REGINA,2000, passim). No soneto encontramos um Gregório mais vinculado ao filão culto <strong>da</strong> poesiados séculos XVI-XVII, através do uso <strong>da</strong> “medi<strong>da</strong> nova”, e sua reutilização <strong>de</strong> formas,sugestões e empréstimos ibéricos, e por vezes, através <strong>de</strong>stes, italianos. Em “Discreta eformosíssima Maria”, na reelaboração talvez irônica, certamente culta e consciente, numjogo <strong>de</strong> alusões e citações com o leitor/ouvinte, dos dois <strong>sonetos</strong> <strong>de</strong> Góngora, Gregórioreelabora através <strong>de</strong> Góngora um verso <strong>de</strong> Bernardo Tasso, “Mentre che l’aureo crinv’on<strong>de</strong>ggia intorno” (cf. a nota <strong>de</strong> Ciplijauskaité, in GÓNGORA, 1985, p.230). Este sonetogregoriano, longe <strong>de</strong> ser fruto dos “escan<strong>da</strong>losos plágios” <strong>de</strong> Gregório, foi escolhido comosímbolo <strong>da</strong> intenção lúdica gregoriana por Haroldo <strong>de</strong> Campos, o qual, juntamente com oirmão, Augusto, sempre ressaltou o valor e a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s obras do poeta baiano , eescreveu: “[GM] (...) <strong>de</strong>monstrou uma agu<strong>da</strong> visão funcional <strong>da</strong> técnica permutatória do10

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