11.07.2015 Views

O olhar da Análise do Discurso sobre o texto publicitário - Eutomia

O olhar da Análise do Discurso sobre o texto publicitário - Eutomia

O olhar da Análise do Discurso sobre o texto publicitário - Eutomia

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

492O <strong>olhar</strong> <strong>da</strong> Análise <strong>do</strong> <strong>Discurso</strong> <strong>sobre</strong> o <strong>texto</strong> publicitárioJuliana Geórgia Gonçalves de Araújo i (UFC)Lia Raquel Vieira de Andrade ii (UFC)Resumo:Este trabalho tem como propósito analisar a capaci<strong>da</strong>de de persuasão <strong>da</strong>publici<strong>da</strong>de frente ao consumi<strong>do</strong>r, identifican<strong>do</strong> as estratégias utiliza<strong>da</strong>s àluz <strong>da</strong> Análise <strong>do</strong> <strong>Discurso</strong>. É nosso objetivo “desconstruir” o <strong>texto</strong> e“reconstruí-lo” para depreender efeitos de senti<strong>do</strong> e observar como nele seconstrói a imagem <strong>do</strong> ethos como uma estratégia manipulativo-persuasivautiliza<strong>da</strong> pelo enuncia<strong>do</strong>r para persuadir seu público-alvo. Elegemos para anossa análise um anúncio publicitário <strong>do</strong> Itaú Seguros, lança<strong>da</strong> na mídiaimpressa em outubro de 2010.Palavras-chave: ethos, anúncio publicitário, Análise <strong>do</strong> <strong>Discurso</strong>.Abstract:In this work we analyze the effectiveness of an advertisement text in thediscourse analysis framework. We "disassemble" and "reconstruct" the textand isolate the meaning effects in order to observe how the ethos picture isformed as a strategy of manipulation/persuasion of the potentialconsumers. We work specifically with an Itaú Seguros advertisement, whichwas widely printed in newspapers and magazines.Keywords: ethos, advertisement, Discourse analysis.1. IntroduçãoA publici<strong>da</strong>de utiliza ca<strong>da</strong> vez mais estratégias, no intuito de obter uma identificação<strong>do</strong> público para com os produtos anuncia<strong>do</strong>s, estabelecen<strong>do</strong>, a partir <strong>da</strong>í, uma relação, quese deve tornar familiar e, muitas vezes, quase íntima, aos olhos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Dessemo<strong>do</strong>, a publici<strong>da</strong>de trabalha com a sedução, isso por que ela não tem a autori<strong>da</strong>de deordenar, “compre este produto”, ela usa <strong>da</strong> manipulação disfarça<strong>da</strong>, convencen<strong>do</strong> e


493seduzin<strong>do</strong> o consumi<strong>do</strong>r para que este, depois de manipula<strong>do</strong>, considere o produto umanecessi<strong>da</strong>de em sua vi<strong>da</strong>; desse mo<strong>do</strong>, objetivamos analisar a construção <strong>da</strong> imagem <strong>do</strong>ethos no discurso publicitário como uma estratégia manipulativo-persuasiva utiliza<strong>da</strong> peloenuncia<strong>do</strong>r para persuadir seu leitor-consumi<strong>do</strong>r.Selecionamos para a nossa análise um anúncio impresso <strong>do</strong> Itaú Seguros, veicula<strong>do</strong>na revista Veja. O trabalho está situa<strong>do</strong> no âmbito <strong>da</strong> Análise <strong>do</strong> <strong>Discurso</strong> de linha francesa.Publici<strong>da</strong>des veicula<strong>da</strong>s em mídia impressa são usualmente <strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s de linguagemverbal e não-verbal (visual). Com isso, trazem mecanismos argumentativo-persuasivos eefeitos de senti<strong>do</strong> ímpares a considerar. Desse mo<strong>do</strong>, iremos analisar a articulação entre alinguagem verbal e a não-verbal e as estratégias manipulativo-persuasivas gera<strong>da</strong>s nessediscurso.A nossa pesquisa está organiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> seguinte forma: inicialmente, apresentamos aconcepção de ethos que norteou este estu<strong>do</strong>; em segui<strong>da</strong>, tecemos algumas consideraçõesacerca <strong>do</strong> discurso publicitário; depois, realiza-se a análise propriamente dita; e, por fim, asconsiderações finais.2. Considerações <strong>sobre</strong> o conceito de ethosO ethos não é um assunto recente, desde a antigui<strong>da</strong>de já começa a ser estu<strong>da</strong><strong>do</strong>. Osestu<strong>do</strong>s de Aristóteles na Arte Retórica e Arte Poética são os primeiros a tratar dessefenômeno. Segun<strong>do</strong> o filósofo grego, há três formas de a imagem de si no discurso seconstruir: prhonesis que diria respeito ao caráter de ponderação, sabe<strong>do</strong>ria e racionali<strong>da</strong>decom que se apresenta um ora<strong>do</strong>r; areté que diria respeito à sinceri<strong>da</strong>de e simplici<strong>da</strong>de <strong>do</strong>ora<strong>do</strong>r; e eunóia que se definiria pela imagem de gentileza e agra<strong>da</strong>bili<strong>da</strong>de que um ora<strong>do</strong>rmostra de si.A retórica antiga serviu de ponto de parti<strong>da</strong> para outros estu<strong>do</strong>s acerca <strong>do</strong> ethos,contu<strong>do</strong>, apenas nos anos 80, essa categoria passou a ser explora<strong>da</strong> em termos pragmáticosou discursivos. Ducrot (1987) retomou os estu<strong>do</strong>s aristotélicos <strong>sobre</strong> o ethos, conceituan<strong>do</strong>esse fenômeno com sua distinção entre o “locutor L” (= o enuncia<strong>do</strong>r) e o “locutor-lamb<strong>da</strong>”(= o locutor enquanto ser <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>), que atravessava a distinção <strong>do</strong>s pragmatistas entre


494mostrar e dizer. O ethos, segun<strong>do</strong> o autor, se mostra no ato <strong>da</strong> enunciação, ele não é dito noenuncia<strong>do</strong>.Maingueneau (2005) também retomou a retórica antiga, contu<strong>do</strong>, amplian<strong>do</strong> oconceito de ethos. Ao afirmar que o ethos, diferentemente <strong>do</strong> que pensava a retóricaclássica, pertence também ao <strong>texto</strong> escrito, não estan<strong>do</strong> restrito somente à orali<strong>da</strong>de,Maingueneau amplia e reformula esse conceito. Segun<strong>do</strong> o autor, o ethos apresenta umcaráter e uma corporali<strong>da</strong>de, revela<strong>da</strong>s através <strong>do</strong> “tom” que o enuncia<strong>do</strong>r dá <strong>do</strong> seudiscurso ao co-enuncia<strong>do</strong>r. Pode-se dizer, então, que o tripé tom/caráter/corporali<strong>da</strong>deconstitui o cerne <strong>da</strong> concepção de Maingueneau <strong>sobre</strong> ethos.O tom é defini<strong>do</strong>, por Maingueneau (2001), como sen<strong>do</strong> a voz que atesta o dito,possibilitan<strong>do</strong> ao co-enuncia<strong>do</strong>r formar uma imagem <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r (e não, é claro, <strong>do</strong>corpo <strong>do</strong> produtor efetivo <strong>do</strong> <strong>texto</strong>), através de indícios textuais de várias ordens. Essaimagem exerce o papel de “fia<strong>do</strong>r” <strong>do</strong> que é dito. O fia<strong>do</strong>r apresenta um caráter e umacorporali<strong>da</strong>de. O ‘caráter’ corresponde a este conjunto de traços psicológicos que o leitorouvinte atribui espontaneamente à figura <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r, em função <strong>do</strong> seu mo<strong>do</strong> de dizer.Deve-se dizer o mesmo a propósito <strong>da</strong> ‘corporali<strong>da</strong>de’ que remete a uma representação <strong>do</strong>corpo <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r <strong>da</strong> formação discursiva. Corpo que não é ofereci<strong>do</strong> ao <strong>olhar</strong>, que não éuma presença plena, mas uma espécie de “fantasma” induzi<strong>do</strong> pelo destinatário comocorrelato de sua leitura, conforme defende o autor.Se os <strong>do</strong>is elementos <strong>do</strong> ethos, quais sejam, o caráter e a corporali<strong>da</strong>de, foremintegra<strong>do</strong>s à discursivi<strong>da</strong>de, segun<strong>do</strong> Maingueneau (1997a, p.48), o discurso passa a serindissociável <strong>da</strong> forma pela qual “toma corpo”. Desse mo<strong>do</strong>, o “caráter” está associa<strong>do</strong> a“um feixe de traços psicológicos” e a “corporali<strong>da</strong>de” está relaciona<strong>da</strong> a “uma compleição<strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> fia<strong>do</strong>r” inseparável de uma maneira de se vestir e se movimentar no espaçosocial.O autor introduz a noção de incorporação, ou seja, a mescla essencial entre umaformação discursiva e seu ethos que ocorre através <strong>do</strong> procedimento enunciativo. Esseconceito pode ser descrito <strong>da</strong> seguinte forma:• a enunciação leva o co-enuncia<strong>do</strong>r a conferir um ethos ao fia<strong>do</strong>r, ela lhedá corpo;


495• o co-enuncia<strong>do</strong>r incorpora, assimila, desse mo<strong>do</strong>, um conjunto deesquemas que definem para um <strong>da</strong><strong>do</strong> sujeito, pela maneira de controlarseu corpo, de habitá-lo, uma forma específica de se inscrever no mun<strong>do</strong>;• essas duas primeiras incorporações permitem a constituição de umcorpo, o <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de imaginária <strong>do</strong>s que comungam na adesão a ummesmo discurso (MAINGUENEAU, 2001, p. 99-100).O sujeito enuncia<strong>do</strong>r é construí<strong>do</strong> pelo discurso, por meio <strong>da</strong>s marcas visíveis naenunciação. E o ethos se constrói no conjunto, na totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s marcas enunciativas. E asmarcas enunciativas possibilitam a emergência de uma imagem que determina osprocessos de interação e a configuração <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de.Não podemos deixar de ressaltar a relação entre a ethos e as cenas <strong>da</strong> enunciação.Segun<strong>do</strong> Maingueneau (1997b), instaura-se, na interação entre enuncia<strong>do</strong>r e co-enuncia<strong>do</strong>rno discurso, uma cena enunciativa. Ambos, valen<strong>do</strong>-se de suas formações discursivas,assumem uma identi<strong>da</strong>de no discurso, mas uma identi<strong>da</strong>de construí<strong>da</strong> no e pelo discurso.Desse mo<strong>do</strong>, resulta uma estreita relação entre ethos e cena enunciativa.Segun<strong>do</strong> Maingueneau (2001), a cena de enunciação de um <strong>texto</strong> envolve três cenas.A primeira, denomina<strong>da</strong> de cena englobante, corresponde ao tipo de discurso (religioso,político, publicitário, etc.). A segun<strong>da</strong>, chama<strong>da</strong> cena genérica, está relaciona<strong>da</strong> ao tipo degênero (anúncio, bilhete, poema, etc.) e a terceira, a cenografia, com a qual se defrontadiretamente o co-enuncia<strong>do</strong>r, é instituí<strong>da</strong> no próprio enuncia<strong>do</strong>. Esta última engloba umatopografia (um lugar) e uma cronografia (um momento), um enuncia<strong>do</strong>r e um coenuncia<strong>do</strong>r(imagens de um eu e um tu construí<strong>da</strong>s na enunciação).Se a interação está relaciona<strong>da</strong> com o processo de comunicação, segun<strong>do</strong> Barros(2003), está também liga<strong>da</strong> à construção de senti<strong>do</strong>s e de identi<strong>da</strong>des. O ethos, portanto, éconstruí<strong>do</strong> no processo de interação verbal, no funcionamento <strong>da</strong> linguagem, nas diferentesescolhas lexicais realiza<strong>da</strong>s pelos falantes. Desse mo<strong>do</strong>, podemos resumir a noção de ethosde acor<strong>do</strong> com Maingueneau:O ethos é uma categoria social, uma noção discursiva, ele se constitui pormeio <strong>do</strong> discurso, não é uma “imagem” <strong>do</strong> locutor exterior à fala;O ethos é fun<strong>da</strong>mentalmente um processo interativo de influência <strong>sobre</strong> ooutro;O ethos é uma noção fun<strong>da</strong>mentalmente híbri<strong>da</strong> (sociodiscursiva), umcomportamento socialmente avalia<strong>do</strong>, que não pode ser apreendi<strong>do</strong> forade uma situação comunicativa precisa, ela própria integra<strong>da</strong> a umaconjuntura sócio-histórica determina<strong>da</strong> (MAINGUENEAU, 2001, p. 139).


4963. O anúncio publicitárioConforme Carvalho (2000, p. 15), o anúncio constitui o canal de publici<strong>da</strong>de porexcelência, estabelecen<strong>do</strong> uma ligação direta entre a oferta e a procura. Além disso, emtermos de mensagem publicitária, o anúncio (em jornal, revista, out<strong>do</strong>or, tablóides e outrosveículos) ocupa lugar de destaque por se valer <strong>da</strong> linguagem verbal, orientan<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong><strong>da</strong> própria imagem.Qualquer <strong>texto</strong> é passível de possuir estratégias argumentativas, em maior ou menorgrau. O anúncio publicitário pode superar qualquer outro. Na produção de um anúncio, háestratégias para espelhar, fun<strong>da</strong>mentar ou “criar” o real: tu<strong>do</strong> para provocar a “ven<strong>da</strong>” <strong>do</strong>que se está oferecen<strong>do</strong> por meio de despertar a carência <strong>do</strong> enunciatário para fazê-lo querer“comprar”, conforme observaremos a seguir.4. O construção <strong>do</strong> ethos no discurso publicitárioRevista Veja. Edição 2185•06 de outubro de 2010


497Na cultura ocidental, a ação de compra e ven<strong>da</strong> não é vista de forma positiva, porexemplo, um vende<strong>do</strong>r que abor<strong>da</strong> uma pessoa na rua e oferece diretamente o seu produto,geralmente não obtém muito sucesso. Para o produto ser bem aceito, ele deve ser expostocomo uma necessi<strong>da</strong>de imprescindível para o consumi<strong>do</strong>r. Desse mo<strong>do</strong>, para obter o seuobjetivo: levar o consumi<strong>do</strong>r a adquirir o produto, a publici<strong>da</strong>de faz com que o seu públicoalvoqueira consumir, ou seja, sinta essa necessi<strong>da</strong>de. A publici<strong>da</strong>de se vale de váriasestratégias manipulativo-persuasivas para persuadir o co-enuncia<strong>do</strong>r. Entre elas, a própriaconstrução <strong>do</strong> ethos na enunciação, assunto que nos propomos a discutir em nossa análise.O discurso exposto se insere no gênero anúncio e no discurso publicitário, que éaltamente argumentativo e tem como objetivo persuadir as pessoas a adquirirem o produtoque está anuncia<strong>do</strong> – o seguro de vi<strong>da</strong>. Contu<strong>do</strong>, não será com a cena genérica e a cenaenglobante, ou seja, o quadro cênico que o leitor irá se envolver diretamente, mas sim coma cenografia, ou seja, com o espaço de enunciação cria<strong>do</strong> para camuflar essa relação decompra e ven<strong>da</strong>.O leitor <strong>da</strong> revista Veja em que é apresenta<strong>do</strong> o anúncio encontra-sesimultaneamente nas três cenas: cena englobante, cena genérica e a cenografia. Ele éinterpela<strong>do</strong> ao mesmo tempo como consumi<strong>do</strong>r (cena publicitária), como leitor <strong>da</strong> revista(cena <strong>do</strong> gênero discursivo) e como um noivo ou pessoa compromissa<strong>da</strong> com alguém (cenaconstruí<strong>da</strong> pelo <strong>texto</strong>).Na propagan<strong>da</strong> acima, o enuncia<strong>do</strong>r, dirigin<strong>do</strong>-se diretamente a um “você”, leitor <strong>da</strong>revista Veja, inscreve o co-enuncia<strong>do</strong>r no <strong>texto</strong>. Fazen<strong>do</strong> o leitor se colocar na posição deum noivo, despertan<strong>do</strong>-lhe o desejo de oferecer segurança a sua futura esposa, já que o coenuncia<strong>do</strong>ré leva<strong>do</strong> pelo enuncia<strong>do</strong>r a incorporar o papel de uma pessoa que está em umrelacionamento sério com alguém, e não o de consumi<strong>do</strong>r preocupa<strong>do</strong> em escolher umseguro de vi<strong>da</strong>.O enuncia<strong>do</strong>r - segura<strong>do</strong>ra- propõe ao co-enuncia<strong>do</strong>r noivo (ou qualquer pessoa quese encontre em uma relação de compromisso com alguém) um acor<strong>do</strong>, ou seja, proteger asua família. Desse mo<strong>do</strong>, o enuncia<strong>do</strong>r vai estabelecer uma relação de comunicação (ou demanipulação) com o co-enuncia<strong>do</strong>r, fazen<strong>do</strong> com que o leitor perceba que, se adquirir oseguro de vi<strong>da</strong>, ele ficará tranquilo e sua família estará segura e protegi<strong>da</strong>, conforme afirmao slogan <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> “Faça um seguro de vi<strong>da</strong>. Tranquili<strong>da</strong>de para você, mais segurança


498para a sua família”. Em suma, o co-enuncia<strong>do</strong>r não será leva<strong>do</strong> apenas a querer fazer oseguro de vi<strong>da</strong>, mas também a dever fazê-lo como mo<strong>do</strong> eficaz de manter sua famíliasegura.Uma vez que o leitor interpreta a persuasão <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r, acredita nele e aceita,ocorre a incorporação, ou seja, a ação <strong>do</strong> ethos <strong>sobre</strong> o co-enuncia<strong>do</strong>r.Na cenografia cria<strong>da</strong> pela propagan<strong>da</strong>, podemos perceber, através <strong>do</strong> nossoconhecimento de mun<strong>do</strong>, que se trata de uma cerimônia de casamento religioso. Há o ethos<strong>da</strong> noiva: a imagem de uma mulher vesti<strong>da</strong> de branco, com um véu e seguran<strong>do</strong> um buquêem uma igreja (janelas e portas ao fun<strong>do</strong> com uma arquitetura que remete a de construçõesde uma igreja). O ethos <strong>da</strong> noiva é cria<strong>do</strong> para fazer parte dessa cenografia que representa aconcretização de uma união. Esta união gera certas expectativas na noiva, conformeveremos adiante. Há ain<strong>da</strong> o ethos <strong>do</strong> noivo, futuro mari<strong>do</strong>, aquele que deve proteger ecui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> família, e o ethos <strong>da</strong> própria segura<strong>do</strong>ra, que se coloca quase como uma amiga,preocupa<strong>da</strong> com o bem-estar <strong>da</strong> família e capaz de oferecer o meio pelo qual o futuromari<strong>do</strong> irá proporcionar segurança à sua família. Vejamos a descrição dessa cenografia:COMPROMISSO→ FRUSTRAÇÃO→ SEGURANÇA→ ITAÚ SEGUROS → REALIZAÇÃODe acor<strong>do</strong> com o esquema acima, podemos tecer a seguinte interpretação: o noivoencontra-se em uma relação de COMPROMISSO com alguém, na cenografia, a noiva, suafutura esposa. Devi<strong>do</strong> a essa relação, a futura esposa nutre certas expectativas que elaespera que o seu mari<strong>do</strong> correspon<strong>da</strong>: “nunca magoá-la”, “to<strong>do</strong>s os jantares à luz de velas”,“reparar sempre que ela cortar o cabelo”, “acertar sempre no presente”, “lembrar de to<strong>da</strong>sas <strong>da</strong>tas importantes”, “viver ao seu la<strong>do</strong> até o último segun<strong>do</strong>”. Contu<strong>do</strong>, o noivo não terácondições de ser esse sujeito devoto, de corresponder sempre com to<strong>da</strong>s as expectativas desua mulher; geran<strong>do</strong>, assim, a FRUSTRAÇÃO <strong>da</strong> esposa; porém, como forma de compensaressa frustração, o futuro mari<strong>do</strong> poderá garantir que ela passe pelas decepções, frustrações<strong>do</strong> casamento com mais SEGURANÇA; e será a segura<strong>do</strong>ra ITAÚ SEGUROS capaz de tornarpossível essa REALIZAÇÃO.Desse mo<strong>do</strong>, vemos que a segura<strong>do</strong>ra, manipula o noivo pela sedução, pois oenuncia<strong>do</strong>r apresenta um valor que o co-enuncia<strong>do</strong>r acredita ser importante e necessáriopara oferecer à futura esposa como forma de compensar pela sua incapaci<strong>da</strong>de de ser um


499sujeito devoto à mulher: a segurança, e esse valor só será possível de ser alcança<strong>do</strong> através<strong>da</strong> segura<strong>do</strong>ra, ou seja, se o noivo adquirir o produto.O leitor é leva<strong>do</strong> a se identificar com o ethos <strong>do</strong> noivo. Por meio dessa identificação,o co-enuncia<strong>do</strong>r experimenta o sentimento de “formar corpo”, conforme afirmaMaingueneau (2001), com outros homens que tenham uma companheira e sintam anecessi<strong>da</strong>de de oferecer um seguro de vi<strong>da</strong> à ela como forma compensá-la pelasdificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s no casamento.Conforme vimos, as publici<strong>da</strong>des veicula<strong>da</strong>s em mídia impressa são usualmente<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s de linguagem verbal e não-verbal (visual), é relevante observarmos a articulaçãoentre essas duas linguagens para observarmos como as estratégias manipulativopersuasivasutiliza<strong>da</strong>s pelo enuncia<strong>do</strong>r persuadem seu co-enuncia<strong>do</strong>r.Deter-nos-emos primeiramente, apenas nos elementos verbais <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. Podemosobservar determina<strong>da</strong>s expressões linguísticas que são essenciais para a construção desenti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, vejamos as expressões em destaque:“Você não pode PROMETER que nunca irá magoá-la. Você não pode PROMETER queto<strong>do</strong>s os jantares serão à luz de velas. Você não pode PROMETER que vai reparar to<strong>da</strong> vezque ela cortar o cabelo. Você não pode PROMETER que sempre irá acertar no presente.Você não pode PROMETER que vai lembrar de to<strong>da</strong>s as <strong>da</strong>tas importantes. Você não podePROMETER que vai viver ao la<strong>do</strong> dela até o último segun<strong>do</strong>, mas você pode garantir queela vai passar por tu<strong>do</strong> isso com mais segurança.”No <strong>texto</strong> <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong>, podemos perceber que o enuncia<strong>do</strong>r se refere diretamenteao co-enuncia<strong>do</strong>r que é manifesta<strong>do</strong> através <strong>do</strong> pronome “você”. Desse mo<strong>do</strong>, cria-se oefeito de senti<strong>do</strong> de subjetivi<strong>da</strong>de, uma estratégia argumentativa para se aproximar <strong>do</strong>leitor. Ao tentar essa aproximação, o enuncia<strong>do</strong>r o trata por “você”, estabelecen<strong>do</strong>, dessemo<strong>do</strong>, relação mais íntima ao ponto de aconselhá-lo, mostran<strong>do</strong> a forma de como protegera sua família.É recorrente no <strong>texto</strong> a estrutura “você não pode prometer”, essa construção érepeti<strong>da</strong> em to<strong>do</strong>s os enuncia<strong>do</strong>s com orações distintas como complemento. Embora essasorações se manifestem em ca<strong>da</strong> perío<strong>do</strong> de forma distinta: “que nunca irá magoá-la”, “queto<strong>do</strong>s os jantares serão à luz de velas”, (...) o conteú<strong>do</strong> permanece o mesmo, enfatizan<strong>do</strong> aincapaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> noivo de ser sempre um sujeito totalmente dedica<strong>do</strong> à sua esposa.


500É importante ressaltarmos que ca<strong>da</strong> elemento no <strong>texto</strong> publicitário não é escolhi<strong>do</strong>aleatoriamente, mas, sim, com o objetivo de construir o discurso persuasivo. Entre oselementos encontra<strong>do</strong>s no <strong>texto</strong> que exercem essa função, destaca-se o verbo “prometer”.Este verbo pode ser considera<strong>do</strong> como performativo, na terminologia de Austin (1990), ouseja, ele, ao mesmo tempo em que descreve a ação <strong>do</strong> co-enuncia<strong>do</strong>r, implica a própriaação ou ato de prometer, um fazer pela linguagem. No caso <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong>, o sujeito éjulga<strong>do</strong> como incapaz de fazer a promessa. O verbo prometer também remete a própriacena <strong>do</strong> casamento religioso, ou seja, ao <strong>texto</strong> que os noivos pronunciam na cerimôniareligiosa como forma de concretizar a união: “eu te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te,na alegria e na tristeza, na saúde e na <strong>do</strong>ença, to<strong>do</strong>s os dias <strong>da</strong> nossa vi<strong>da</strong>.”Conforme já afirmamos, os <strong>texto</strong>s publicitários têm por objetivo convencer oconsumi<strong>do</strong>r à aquisição <strong>do</strong> produto. Esse objetivo é alcança<strong>do</strong> por meio de seleção <strong>do</strong>sargumentos, que encontram na língua um <strong>do</strong>s meios de estruturação. E o “mas”, é uma <strong>da</strong>spossibili<strong>da</strong>des linguísticas de expressão argumentativa.O enuncia<strong>do</strong>r afirma que o noivo não pode prometer que atenderá to<strong>da</strong>s asexpectativas <strong>da</strong> sua futura esposa, mas afirma que ele pode oferecer segurança a suafamília. A partir dessa oposição afirmação/negação <strong>da</strong> competência <strong>do</strong> co-enuncia<strong>do</strong>r, seexpressa o valor argumentativo <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong>. Com relação ao conector argumentativo“mas”, podemos afirmar que possui uma importante função no <strong>texto</strong>, ou seja, lançar oargumento que convencerá o leitor a adquirir o serviço: “mas você pode garantir que ela vaipassar por tu<strong>do</strong> isso com mais segurança.”Em suma, o caráter contraditório <strong>da</strong> formulação nos leva a pensar que é aimponência <strong>do</strong> “mas” que direciona o leitor a “aceitar” o argumento como estrutura<strong>do</strong>,completo e verificável. O seu uso gera um efeito de senti<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> o leitor e a sua eficáciaargumentativa reside na orientação <strong>do</strong> leitor para uma conclusão.Outro elemento responsável pela construção de senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> é o aspectoverbal. O <strong>texto</strong> deixa claro que em momento algum o enunciatário poderá prometer que<strong>da</strong>rá to<strong>da</strong> a sua atenção à esposa, através <strong>da</strong> locução “não poder prometer”. Determina<strong>do</strong>selementos presentes no <strong>texto</strong> irão representar a negação <strong>da</strong> repetição de ações, como oadvérbio de negação “nunca”: “nunca irá magoá-la”. Nas expressões, “sempre / to<strong>da</strong> vez/to<strong>do</strong>s”, o enuncia<strong>do</strong>r nega possibili<strong>da</strong>de de tornar essas ações sempre recorrentes,habituais na relação <strong>do</strong> casal: “sempre irá acertar no presente”, “ reparar to<strong>da</strong> vez que ela


501cortar o cabelo”, “to<strong>do</strong>s os jantares serão à luz de velas”, “lembrar de to<strong>da</strong>s aquelas <strong>da</strong>tasimportantes”. O elemento textual “até” marca a noção de duração “até o último segun<strong>do</strong>”,demonstran<strong>do</strong> que também não é possível prometer que “estará com ela até o últimosegun<strong>do</strong>”. Em suma, a presença desses elementos enfatiza a impossibili<strong>da</strong>de de tornar asações descritas no <strong>texto</strong> como sempre recorrentes e habituais na relação <strong>do</strong> casal.Por fim, a expressão referencial “tu<strong>do</strong> isso” nos remete para um referente presentena enunciação: as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s no casamento que geram a frustração. Ou seja,o enuncia<strong>do</strong>r sugere que a futura esposa pode passar por to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong>casamento, mas com segurança como forma de “compensar” a frustração causa<strong>da</strong> pelaexpectativa que não foi alcança<strong>da</strong>.Conforme comentamos acima, os elementos linguísticos destaca<strong>do</strong>s na análise <strong>do</strong><strong>texto</strong> são emprega<strong>do</strong>s como formas de persuasão na conquista de futuros consumi<strong>do</strong>resque se identifiquem com o anúncio e passem a adquirir o serviço presta<strong>do</strong> pela segura<strong>do</strong>ra,ou seja, se envolvam com a cenografia cria<strong>da</strong> e se identifiquem com esse fia<strong>do</strong>r: um noivoque, observan<strong>do</strong> que a decepção e a frustração são inevitáveis em um relacionamento,adquire o seguro de vi<strong>da</strong> como forma de compensar sua companheira pelas dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong>casamento.5. A composição <strong>da</strong> imagem na publici<strong>da</strong>deNessa sessão, nos dedicaremos a uma leitura <strong>da</strong> linguagem visual <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong>.Podemos perceber, de acor<strong>do</strong> com Barros (2010), que, no plano <strong>da</strong> expressão, é possívelreconhecer formantes figurativos e formantes plásticos, que se resumem a objetos visuaisque norteiam a leitura por meio de estratégias progressivas de produção com traçosargumentativos e efeitos de senti<strong>do</strong>. Os objetos visuais pre<strong>do</strong>minantes <strong>do</strong> <strong>texto</strong> anúnciopublicitários costumam ser fotos, desenhos, símbolos ou ain<strong>da</strong> caracteres tipográficos.Destacamos para a descrição <strong>da</strong> composição <strong>da</strong> imagem <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> trêscategorias: a cromática, a eidética e a topológica. Para as categorias cromáticas serãoconsidera<strong>da</strong>s as infinitas possibili<strong>da</strong>des de combinações de cores, como procedimentoconstitutivo de significantes, observável por meio de oposições <strong>do</strong> tipo puro/mescla<strong>do</strong>,brilhante/opaco, satura<strong>do</strong>/não satura<strong>do</strong>, que instalam o movimento e o ritmo <strong>da</strong> cor no


502espaço <strong>da</strong> tela. As categorias eidéticas, que constroem as formas, serão examina<strong>da</strong>s comocombinações de linhas, volumes e cores superpostas, concretizan<strong>do</strong> contrastes comocôncavo/convexo, curvilíneo/retilíneo, ascendente/descendente. As categorias topológicaslevam em conta a posição e a orientação <strong>da</strong>s formas e <strong>do</strong> movimento no espaço, poden<strong>do</strong>realizar-se sob a forma <strong>do</strong>s contrastes englobante/engloba<strong>do</strong>, alto/baixo, central/periférico,esquer<strong>do</strong>/direito, etc.Observan<strong>do</strong> a imagem <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong>, podemos notar a imagem de uma mulhervesti<strong>da</strong> de noiva e seguran<strong>do</strong> um buquê em uma igreja, ou seja, o ethos <strong>da</strong> noiva. Quanto àscores, no caso articula<strong>da</strong> pela categoria plástica cromática, percebemos a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong>amarelo e laranja. Essas cores estão presentes tanto no buquê <strong>da</strong> noiva, quanto na frase“mas você pode garantir que ela vai passar por tu<strong>do</strong> isso com mais segurança.”, como formade <strong>da</strong>r destaque para esse enuncia<strong>do</strong>. No pano de fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> imagem, podemos perceber ocenário <strong>da</strong> igreja e uma iluminação brilhante, um raio de sol sain<strong>do</strong> <strong>da</strong> janela, que tambémse assemelha a cor amarela. As escolhas por essas cores não foram aleatórias, o amarelo elaranja fazem parte <strong>da</strong> logomarca <strong>do</strong> Banco Itaú que oferece o serviço de seguro de vi<strong>da</strong> napropagan<strong>da</strong>. Desse mo<strong>do</strong>, as cores presentes na imagem são uma forma de relacionar asfiguras ao banco, podemos interpretar que a segurança que será ofereci<strong>da</strong> para a noiva sóserá possível através <strong>do</strong> Itaú Seguros. É interessante observamos que a oração em destaquede amarelo é o momento em que a segura<strong>do</strong>ra se manifesta como sen<strong>do</strong> aquela que tornapossível a realização <strong>da</strong> vontade <strong>do</strong> leitor, colocan<strong>do</strong>-se quase como uma “fa<strong>da</strong>”, aquela queatribui poder mágico de influir no destino <strong>da</strong>s pessoas.Quanto à categoria plástica topológica, organiza, respectivamente, a disposição <strong>da</strong>slinhas <strong>da</strong> noiva, buquê, <strong>texto</strong> e logomarca. A noiva encontra-se ao la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>da</strong>imagem e o buquê logo abaixo de seu rosto; já o <strong>texto</strong> está centraliza<strong>do</strong> na imagem e alogomarca na parte inferior <strong>do</strong> canto direito, ao la<strong>do</strong> oposto à noiva. Podemos observar quea logomarca aparece em último plano na imagem de forma para ser aquela que irá, porúltimo, aparecer para <strong>da</strong>r uma solução, ou seja, a “fa<strong>da</strong>” que aparece para tornar um desejopossível.Por fim, de acor<strong>do</strong> com a categoria plástica eidética, é possível perceber formasheterogêneas, como a postura <strong>da</strong> noiva, altura <strong>do</strong>s olhos, logo acima <strong>do</strong> <strong>texto</strong> como formade interpelar o leitor, posição <strong>da</strong> cabeça, com uma leve inclinação para baixo, como se


503representasse um “sim”. Podemos notar também o volume <strong>do</strong> véu <strong>da</strong> noiva onde alogomarca <strong>do</strong> banco está <strong>sobre</strong>posta.Não podemos deixar de ressaltar a importância <strong>da</strong> comunicação gestual presente naimagem representan<strong>do</strong> a função emotiva. Decorre <strong>da</strong>í o caráter fortemente emocional epassional <strong>da</strong> comunicação gestual, em detrimento <strong>do</strong> racional e <strong>do</strong> inteligível, conformeafirma Barros (2010).A comunicação gestual entre a noiva e o co-enuncia<strong>do</strong>r estabelece-se, napropagan<strong>da</strong> em destaque, pelo <strong>olhar</strong>, pelo movimento <strong>da</strong> cabeça e pelo sorriso. Agestuali<strong>da</strong>de com função emotiva ou atributiva é bem explora<strong>da</strong> no anúncio examina<strong>do</strong>.Trata-se de gesticulação, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong>, <strong>do</strong> rosto, e que comunica emoções, sentimentos. Noanúncio <strong>do</strong> Itaú Seguros, são principalmente alegria, felici<strong>da</strong>de e prazer (por movimentos <strong>da</strong>boca, um sorriso discreto, e <strong>do</strong>s olhos <strong>da</strong> noiva) pela transformação que irá passar, ou seja,de noiva ela irá se tornar a esposa. O <strong>olhar</strong> é algo bem significativo e que é posto tambémem destaque na imagem, o leitor ao observar a imagem é envolvi<strong>do</strong> por esse <strong>olhar</strong>,representan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a expectativa <strong>da</strong> noiva pelo casamento.A gestuali<strong>da</strong>de representa<strong>da</strong> no nível <strong>da</strong> enunciação <strong>do</strong> anúncio tem, assim, papelretórico fun<strong>da</strong>mental na comunicação persuasiva desse <strong>texto</strong>: assegura relações intensasentre o enuncia<strong>do</strong>r e o co-enuncia<strong>do</strong>r, estabelece o simulacro de uma comunicação empresença, aproxima os interlocutores corporal e sensorialmente e, mesmo, quase“oralmente”, como defende Barros (2010).Considerações finaisA aplicação de alguns conceitos <strong>da</strong> análise <strong>do</strong> discurso, como a categoria de ethosnesta propagan<strong>da</strong>, vem a contribuir, <strong>sobre</strong>maneira, para uma maior compreensão textual.Assim, o mapeamento sob este aspecto apresenta a riqueza de elementos significativos emum <strong>texto</strong>.Esta teoria dá-nos uma direção para buscar e analisar elementos escondi<strong>do</strong>s nasprofundezas textuais. O anúncio <strong>do</strong> seguro de vi<strong>da</strong> Itaú é um <strong>texto</strong> curto e escrito de formasimples e, por isso, presta-se ao entendimento geral <strong>do</strong>s leitores; porém, com o <strong>olhar</strong> <strong>da</strong>Análise <strong>do</strong> <strong>Discurso</strong> para a propagan<strong>da</strong>, foi possível verificarmos que os elementos aí


504retira<strong>do</strong>s remetem a uma profundi<strong>da</strong>de interna <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, onde foi possível observarmos ofazer argumentativo-persuasivo <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r através <strong>da</strong> articulação entre os elementosverbais e a imagem presente.Como o publicitário-anunciante sabe que não está face-a-face com o leitorconsumi<strong>do</strong>re que também não pode forçá-lo a comprar seu produto/serviço ou coagi-lo amanifestar um determina<strong>do</strong> comportamento, procura conquistá-lo e, para tanto, constrói aimagem de um ethos de tal mo<strong>do</strong> que o interlocutor possa se identificar com essa imagem,na propagan<strong>da</strong> exposta em nossa análise, há a construção <strong>do</strong> ethos de um noivo que queroferecer o seguro de vi<strong>da</strong> a sua futura esposa como forma de compensá-la pelas decepçõese frustrações <strong>do</strong> casamento. Desse mo<strong>do</strong>, não será com o quadro cênico que o leitorconsumi<strong>do</strong>rirá se envolver, mas com a cenografia cria<strong>da</strong> pelo anúncio.Por sua vez, o leitor/consumi<strong>do</strong>r também aparece mascara<strong>do</strong>. O enuncia<strong>do</strong>r não sedirige diretamente ao leitor/consumi<strong>do</strong>r, mas sim à imagem que faz dele, ou seja, ao coenuncia<strong>do</strong>r.Por exemplo, quan<strong>do</strong> o co-enuncia<strong>do</strong>r incorpora o estereótipo <strong>do</strong> bom mari<strong>do</strong>,que adquire um seguro de vi<strong>da</strong> para a sua esposa, o leitor-consumi<strong>do</strong>r se identifica comesta imagem de bom mari<strong>do</strong>, que também passa a ser deseja<strong>da</strong> pelo leitor/consumi<strong>do</strong>r,mas para isso ele precisa comprar o serviço que o Itaú Seguros oferece. Dessa forma, o coenuncia<strong>do</strong>rse apresenta como alguém que tem uma necessi<strong>da</strong>de e precisa preenchê-la.Aliás, o enuncia<strong>do</strong>r aparece como o agente único capaz de satisfazer as suas necessi<strong>da</strong>des.Nesse jogo de máscaras enunciativas, são construí<strong>da</strong>s as identi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s interlocutores <strong>do</strong>discurso publicitário.Fica patente que, no anúncio publicitário há uma luta pelo poder de persuadir ooutro, de fazer com que o outro aceite uma determina<strong>da</strong> ideia. Essa luta acontece através<strong>da</strong> relação entre as linguagens verbal e não-verbal. Isso, provavelmente, se deve a duascaracterísticas intrínsecas desse meio: o fato de ser, casualmente, percebi<strong>da</strong> pelointerlocutor e de este estar quase sempre em movimento quan<strong>do</strong> a percebe. Desse mo<strong>do</strong>, aimagem consegue apoiar e complementar o <strong>texto</strong>, pois é percebi<strong>da</strong> mais rapi<strong>da</strong>mente, aomesmo tempo em que amplia a possibili<strong>da</strong>de de obter-se o efeito de senti<strong>do</strong> deseja<strong>do</strong> e apersuasão.


505Referências bibliográficasAMOSSY, R. Da noção retórica de ethos à análise <strong>do</strong> discurso. In: ______. (org.) Imagens desi no discurso: a construção <strong>do</strong> ethos. São Paulo: Con<strong>texto</strong>, 2005. p. 9 – 28.ARISTÓTELES. Arte poética e arte retórica. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.AUSTIN, J. L. Quan<strong>do</strong> dizer é fazer: palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes deSouza Filho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.BARROS, D. L. P. Interação em anúncios publicitários. In: PRETI, D. (Org.) Interação na falae na escrita. 2. ed. São Paulo: Humanitas, 2003.______. Os senti<strong>do</strong>s <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de: transposição e representação gestual. CASA, Vol.8n.2, dezembro de 2010.CARVALHO, Nelly de. Publici<strong>da</strong>de: a linguagem <strong>da</strong> sedução. 3.ed. São Paulo: Ática, 2000.DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.MAINGUENEAU, Dominique. Cena enunciativa em análise <strong>do</strong> discurso. 3. ed. Campinas:Pontes/Editora Unicamp, 1997a.______. Novas tendências em análise de discurso. São Paulo: Pontes, 1997b.______. Análise de <strong>texto</strong>s <strong>da</strong> comunicação. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2001.______. Gênese <strong>do</strong>s discursos. Curitiba: Criar, 2005.i Juliana Geórgia Gonçalves de ARAÚJO, Doutoran<strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará (UFC)Programa de Pós-Graduação em Linguísticajuliana.georgia@hotmail.comii Lia Raquel Vieira de ANDRADE, Doutoran<strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará (UFC)Programa de Pós-Graduação em Linguísticalr.vieiradeandrade@gmail.com

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!