entre culturas (<strong>de</strong> classe, <strong>de</strong> género, <strong>de</strong> etnia) os professores <strong>do</strong> Ensino Básicoprecisam <strong>do</strong>s professores <strong>do</strong> Ensino Superior <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que estes precisam <strong>do</strong>sprimeiros.A educação inter/multicultural <strong><strong>de</strong>mocrática</strong> e crítica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, em Portugal,assim queremos argumentar, da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res e professores – <strong>de</strong> to<strong>do</strong>sos sectores <strong>do</strong> sistema educativo – <strong>de</strong> se apropriarem <strong>do</strong> que vimos chaman<strong>do</strong> (ver,por exemplo, Stoer e Araújo, 1992:159) o espaço <strong>de</strong>mocrático da cidadaniaproporciona<strong>do</strong> pela <strong>escola</strong>. Este espaço resulta <strong>do</strong> facto <strong>de</strong> a <strong>escola</strong> ser, nestaconjuntura histórica, uma <strong>escola</strong> oficial, isto é estatal (e, por isso, obrigatória, laica,gratuita). Assim, apropriar-se <strong>de</strong>ste espaço significa «armar-se» perante o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>trabalho e perante o espaço <strong>do</strong>méstico, reforçan<strong>do</strong> a autonomia relativa da <strong>escola</strong> 15 ;significa, ao mesmo tempo, a produção <strong>de</strong> um conhecimento aprofunda<strong>do</strong> dasculturas nela presente, produção essa só possível <strong>através</strong> da <strong>de</strong>scentração <strong>de</strong>ssamesma <strong>escola</strong>, on<strong>de</strong> a <strong>escola</strong> assume-se como parte da comunida<strong>de</strong> local. A<strong>de</strong>scentração da <strong>escola</strong> não é incompatível com o reforço da sua autonomia relativauma vez que a cidadania participativa constrói-se <strong>através</strong> da inclusão da diferença enão pela sua exclusão. A realização <strong>do</strong> princípio <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sucesso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>,pois, <strong>de</strong> uma confrontação cultural no interior da <strong>escola</strong> <strong>de</strong> massas. Esta confrontaçãosó po<strong>de</strong> realizar-se valorizan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ntro da <strong>escola</strong>, as culturas da comunida<strong>de</strong> local.Temos vin<strong>do</strong> a argumentar também que esta mesma <strong>escola</strong> oficial em Portugal estásimultaneamente em crise e em consolidação (ibi<strong>de</strong>m, cap. 5). A apropriação <strong>do</strong>espaço <strong>de</strong>mocrático da cidadania proporciona<strong>do</strong> pela <strong>escola</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>aproveitamento <strong>de</strong> ambas. A nossa proposta para a concretização <strong>de</strong> não-sincronia,baseada num trabalho <strong>de</strong> investigação-acção realiza<strong>do</strong> no campo darecontextualização pedagógica, <strong>de</strong> facto, aproveita tanto da crise como consolidaçãoda <strong>escola</strong> <strong>de</strong> massas em Portugal. «Aproveita» da crise promoven<strong>do</strong> uma política <strong>de</strong>diferença que a aposta na riqueza <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> da confrontação entre culturas;«aproveita» da consolidação investin<strong>do</strong> no reforço e interiorização <strong>do</strong>s direitoshumanos e sociais básicos por parte <strong>de</strong> agentes educativos.Em forma <strong>de</strong> conclusão, e arriscan<strong>do</strong> «escandalizar» o autor 16 , cito as palavras<strong>de</strong> Etienne Balibar que, num trabalho recente, escreve: «Cada povo, enquanto produto15 Sobre inovação e o aproveitamento da autonomia relativa da <strong>escola</strong>, ver Cortesão (1992b)16 Balibar, em vez <strong>de</strong> ver a <strong>escola</strong> oficial como possível promotora <strong>de</strong> justiça social, sublinha,sobretu<strong>do</strong>, o seu papel i<strong>de</strong>ológico na reprodução <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.
<strong>de</strong> um processo nacional <strong>de</strong> etnicização, é hoje em dia, obriga<strong>do</strong> a encontrar os seuspróprios meios para ir além <strong>do</strong> ‘exclusivismo’ (...) num mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> comunicaçõestransnacionais e relações globais <strong>de</strong> força. Por outras palavras: cada indivíduo éobriga<strong>do</strong> a encontrar na transformação <strong>do</strong> imaginário <strong>do</strong> seu ‘povo’ os meios para sedistanciar <strong>de</strong>le, para po<strong>de</strong>r comunicar com o indivíduos <strong>de</strong> outros povos com os quaisele, ou ela, partilha os mesmos interesses e, até certo ponto, o mesmo futuro» (Balibare Wallerstein, 1991:105). Assim sen<strong>do</strong>, não terá a <strong>escola</strong> (obrigatória, laica, gratuita)um papel importante aqui para <strong>de</strong>sempenhar? A minha tese é <strong>de</strong> que esse <strong>de</strong>sempenhopasse também pela construção contra-hegemónica <strong>do</strong> conceito <strong>do</strong> professorinter/multicultural, a par com a realização <strong>de</strong> práticas pedagógicas que a nível da<strong>escola</strong> (e da comunida<strong>de</strong> local) concretizassem uma política <strong>de</strong>/e para a diferença.(Agra<strong>de</strong>cimentos à Fernanda Rodrigues, Luiza Cortesão, Helena Costa Araújo eCarlinda Leite pelos comentários e sugestões que fizeram sobre este trabalho. tambémqueria agra<strong>de</strong>cer aos forman<strong>do</strong>s em Ciências as Educação, Álvaro <strong>de</strong> Sousa Leitão,Maria Isabel Bartolomeu e Sérgio Gomes da Silva, pela reflexão que fizeram sobre oconceito <strong>do</strong> professor inter/multicultural.)