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FERRAZ JR., Tercio Sampaio. “O Futuro do Direito”. - USP

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mas sim no senti<strong>do</strong> de que a sociedade deserviços passa a preponderar, o que tornaa chamada economia informal um da<strong>do</strong>complexo, para além da economia da pobreza.O que, no Brasil, é discuti<strong>do</strong> como“flexibilização da CLT” é, assim, bastanterepresentativo <strong>do</strong> fenômeno. Ocorre, porassim dizer, uma substituição <strong>do</strong> trabalhocomo atividade pessoal <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r porum trabalho-máquina, cujo protótipo integra<strong>do</strong>ré o computa<strong>do</strong>r. Vai daí, os riscos<strong>do</strong> trabalho, objeto de ação regula<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>, entram para um mun<strong>do</strong> de virtualidadesem que a relação homem/objeto ganhao perfil abstrato da integração em redessimultâneas de atividades complexas.Nesse mun<strong>do</strong>, a individualidade <strong>do</strong>sujeito em oposição à coletividade, <strong>do</strong> priva<strong>do</strong>em oposição ao público, sofre umaconsiderável transformação.A noção <strong>do</strong> que é público se altera: aoinvés de ser aquilo que é comum e transparente(cujo paradigma sempre foi a praça,o ágora), passa a ser o espetáculo, o show,“lugar” meramente simbólico, um aparatointegra<strong>do</strong> e difuso de imagens e mensagensque regula o discurso e a opinião, e cujoparadigma é a TV. Se na praça os homenssaem de suas casas e se confrontam, na TVa praça e a casa se confundem. Por exemplo,o discurso político, por mais que se exijadele a discussão das idéias, a apresentaçãode projetos e plataformas, torna-se umajogada de venda articulada, tornan<strong>do</strong>-sea participação política uma escolha entrediferentes imagens consumíveis.Com isso, ao invés da coletividade <strong>do</strong>sindivíduos na praça temos o indivíduocoletiviza<strong>do</strong> da TV, na qual estamos to<strong>do</strong>ssepara<strong>do</strong>s (cada um na sua TV, no seucomputa<strong>do</strong>r) e, ao mesmo tempo, juntos,em termos de uma imensa uniformidade(consumi<strong>do</strong>res das mesmas notícias, dasmesmas novelas, <strong>do</strong>s mesmos filmes, <strong>do</strong>mesmo espetáculo). Ou seja, indivíduosisola<strong>do</strong>s e difusos e, simultaneamente,integra<strong>do</strong>s e uniformes.Ocorre, assim, na verdade, um curtocircuitonas relações humanas, pela transformaçãoda informação numa espécie decommodity.14REVISTA <strong>USP</strong>, São Paulo, n.74, p. 6-21, junho/agosto 2007

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