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Revista UnicaPhoto - Edição 06 - Maio/2016

Revista que reúne a produção de alunos, professores, funcionários e colaboradores do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)

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fotografia de Daguerre, tirada em 1858, da rua<br />

Boulevard du Temple, em que apenas o homem<br />

cujos sapatos estavam sendo engraxados foi<br />

capturado pelo daguerreotipo, enquanto que as<br />

outras pessoas que andaram na rua não foram<br />

eternizadas ali.<br />

Muitas fotografias de Francesca Woodman<br />

abordam o movimento de forma ainda distinta<br />

dessas duas. Ao usar velocidade do obturador<br />

baixa, a película não conseguia congelar o objeto,<br />

porém era rápida o suficiente para deixá-lo<br />

borrado, capturando o índice de movimentação.<br />

Se “ao cortar, o ato fotográfico faz passar para<br />

o outro lado (da fatia); de um tempo evolutivo a<br />

um tempo petrificado” (DUBOIS, 1993, p. 168),<br />

então essas imagens da fotógrafa ficam entre<br />

esses dois tempos, já que detém a fluidez da<br />

passagem do tempo.<br />

Na fotografia House#3, percebe-se que há<br />

uma dicotomia entre o rastro do corpo do jovem<br />

moça e a arquitetura rígida, antiga e esmaecida<br />

do quarto. Woodman parece saber que a câmera<br />

se apodera do fotografado (SONTAG, 1977),<br />

tanto que não permite que a película capture<br />

seu rosto e corpo, esses que parecem fugidios,<br />

mutáveis e fragilizados perto do cenário rígido,<br />

caindo aos pedaços. Por outro lado, a modelo<br />

se cobre com uma espécie de papelão ou lenço<br />

parecido com a textura da parede, o que dá a<br />

interpretação de que faz parte da construção<br />

daquele espaço, materializando o seu corpo.<br />

A presença humana, tão importante desde<br />

o início da fotografia comercial, em que muitas<br />

pessoas ficavam quinze minutos expostas ao<br />

obturador a fim de que eternizassem sua imagem,<br />

aparece como um vulto nas fotografias de<br />

Woodman. “A imagem que é pesada, imóvel,<br />

obstinada (por isso que a sociedade se apoia<br />

nela), e sou eu que sou leve, dividido, disperso”<br />

(BARTHES, 1980, p.20), é fato que o autor, ao<br />

afirmar essa frase, estava comparando a sua<br />

representação fotográfica e a sua pessoa real,<br />

porém aqui, quando Woodman nos esconde<br />

sua imagem focada, ela nos mostra a fragilidade<br />

do objeto retratado e nega as propriedades<br />

comuns da fotografia que tem a presença<br />

humana.<br />

A casa parece abandonada, assim como a<br />

moça. Aquela pode representar o interior dessa,<br />

enquanto que a essa tem memória, aquela<br />

já fez parte da de outrem. O quarto apresenta<br />

objetos quebrados, como se estivesse caindo<br />

aos pedaços, já a modelo, ao aparecer borrada<br />

devido à movimentação, parece desaparecer<br />

aos poucos, assim como a estrutura arquitetônica.<br />

Referências Bibliográficas<br />

MONTENEGRO, Tércia. Woodman. Blog “Livros e Bichos”, 2013. Disponível em: . Acesso em: 13 de dezembro de 2015.<br />

CLARO, Alexandre. A Dimensão fotográfica: uma observação ao trabalho de Francesca Woodman. Faculdade de<br />

Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2014/2015. Disponível em: .<br />

Acesso em: 15 de dezembro de 2015.<br />

Gorjon, Melina; Pereira, Bruno. O olho da águia- a fotografia de Francesca Woodman para além do visível. Universidade<br />

Estadual de Londrina, III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, 2014. Disponível em: . Acesso em: 15 de dezembro de 2015.<br />

DUBOIS, Philippe. O Ato fotográfico e outros ensaios. Tradução<br />

Marina Appenzeller. Campinas, SP : Papirus, 1993 (Coleção Oficio de Arte e forma).<br />

BARTHES, Roland. A câmera clara: notas sobre fotografia. Tradução Júlio Castañon Guimarães. 1980. Ed. Especial,<br />

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Sarava de bolso, 2012.<br />

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Tradução Rubens Figueiredo. 1977. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.<br />

KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. Editora Ateliê, São Paulo: 2007.<br />

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