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O_turista_aprendiz

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O T u r i s t a A p r e n d i z<br />

anual de Corpus Christi, de cuja pompa e beleza certamente ouvira falar, instigando-o à leitura<br />

da História. Achega-se então ao testemunho do translado do Santíssimo Sacramento, em 24<br />

de maio de 1733, quando a procissão sai da capela do Rosário para inaugurar a Igreja Matriz<br />

do Pilar, em Ouro Preto. A leitura do “Triumpho Eucharistico”, no nº 4 da Revista do Arquivo<br />

Público Mineiro, de 1901, conforme sugere a presença do volume na biblioteca do escritor,<br />

garante a viagem no tempo ao moço que se apropria do relato setecentista, tornando-se um<br />

cronista à moda antiga, ao parafraseá-lo. Neste cronista afirma-se o narrador que vivencia a<br />

representação, aliando a construção arcaica da frase à coloquialidade moderna, e que, unido ao<br />

historiador da arte, compara a alegoria da Fama, exibida no decorrer da procissão, à Joana d’Arc<br />

equestre, esculpida por Emmanuel Frémiet, em 1874. Esse historiador aprofunda sua descoberta<br />

do barroco mineiro na série “A arte religiosa no Brasil”, publicada em 1920, na Revista do Brasil,<br />

série na qual “O Triunfo Eucarístico” recebe uma nova versão acompanhada de duas novas<br />

partes apanhando outros aspectos 3 . Homem à frente de seu tempo, Mário de Andrade está<br />

inaugurando a valorização do patrimônio imaterial.<br />

Em abril de 1924, Mário volta a Minas na “viagem da descoberta do Brasil”,<br />

durante a Semana Santa 4 , quando o grupo modernista paulistano, a mecenas Olívia Guedes<br />

Penteado e amigos percorrem as cidades históricas no intuito de apresentá-las ao poeta<br />

franco-suíço Blaise Cendrars, este, um viajante inveterado. Na viagem ritmada pelo “claro<br />

riso dos modernos”, o prazer de se transmutar em personagem toca os participantes, como<br />

se lê no registro deixado por eles no Hotel Macedo de São João del-Rei:<br />

D. Olívia Guedes Penteado, solteira, photographer, anglaise, London. D. Tarsila do<br />

Amaral, solteira, dentista, americana, Chicago. Dr. René Thiollier, casado, pianista,<br />

russo, Rio. Blaise Cendrars, solteiro, violinista, allemand, Berlin. Mário de Andrade,<br />

solteiro, fazendeiro, negro, Bahia. Oswald de Andrade Filho, solteiro, escrittore, suíço 5 .<br />

3 “A arte religiosa do Brasil (Conferência realizada na Congregação da I. C. de Santa Efigênia)<br />

Triunfo Eucarístico de 1733” é o primeiro texto da série, na Revista do Brasil, a. 5, nº 49. São<br />

Paulo, janeiro, 1910. O texto reescrito é seguido das partes “A pompa nas festividades religiosas”<br />

e “A influência do sensível”, abordando aspectos gerais brasileiros. Os demais textos são “A arte<br />

religiosa no Brasil (Conclusão) Arte cristã”, “A arte religiosa no Rio” e “Arte religiosa no Brasil<br />

em Minas Gerais”, respectivamente em fevereiro, abril e junho de 1920 (a. 5, nº 50, 52, 54).<br />

4 Conforme o calendário perpétuo em ghiorzi.org/caleperp.htm, no ano de 1924, a Semana Santa,<br />

isto é, o período entre a Quinta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa, foi de 17 a 20 de abril.<br />

5 Cópia feita por MA do registro no Hotel Macedo (V. série “Documentação pessoal”, Arquivo<br />

Mário de Andrade, IEB-USP). Conservada grafia errada; no italiano, scrittore.<br />

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