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O_turista_aprendiz

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O T u r i s t a A p r e n d i z<br />

O “Prefácio” de 1943 ratifica a mais extensa aprendizagem do autointitulado<br />

“antiviajante” – a construção do texto que lhe permite continuar... viajando:<br />

Mas pro antiviajante que sou, viajando sempre machucado, alarmado, incompleto,<br />

sempre se inventando malquisto do ambiente estranho que percorre, a releitura<br />

destas notas abre sensações tão próximas e intensas que não consigo destruir o<br />

que preservo aqui. Paciência...<br />

Ou seja: viver e escrever. Está ciente das próprias contradições, conforme a confidência<br />

ao gosto de um diário íntimo, depositada nesse “Prefácio” e naquele rabiscado em 1927:<br />

Na verdade eu estou viajando muito em torno de mim mesmo [...]. Às vezes me<br />

vem mesmo a ideia de que talvez eu seja um “errado”, porém é impossível eu<br />

aceitar esse qualificativo. Simplesmente porque eu me sinto feliz; feliz mesmo<br />

nesta infelicidade atual de estar viajando. E o que é mais decisivo ainda: é trazer<br />

uma consciência de mim mesmo que se não é de paz e muito menos pacificada<br />

por suplantação, é muito nítida e muito firme. Deste jeito, é impossível a gente se<br />

acreditar errado e mudar.<br />

A movimentada escritura da obra inacabada O Turista Aprendiz renova a viagem, e<br />

o diário, similar à autobiografia, afiança “a liberdade de recriar o passado à luz do presente”,<br />

como ensina Lejeune 30 .<br />

Emparelhar-se ao cotidiano desse viajante, nas duas viagens, narrado no diário<br />

que Mário quis publicar, no outro, breve, no fichário de bolso, e no que saiu no Diário<br />

Nacional, é tanto seguir a marca da intimidade como familiarizar-se com a pluralidade dos<br />

eventos, pavimentando o desenvolvimento de uma nova compreensão no intelectual tão<br />

preocupado com os destinos do nosso país. Gilda de Mello e Souza, assim se refere a essa<br />

mudança ocorrida a partir de 1927:<br />

A viagem que fez ao Norte do país, pondo à prova a imagem que tinha forjado<br />

no Sul, através de leituras, foi uma das muitas apostas que fez e transformou,<br />

fundamentalmente, a percepção que, até aquele momento, tivera do Brasil 31 .<br />

30 LEJEUNE, Philippe. Le journal: gênese d’une pratique. Genesis: journaux personnels. Paris:<br />

PUPS/Sorbonne, 2012, p. 29-42.<br />

31 SOUZA, Gilda de Mello e. A ideia e o figurado. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2005, p. 69.<br />

~34~

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