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O_turista_aprendiz

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O T u r i s t a A p r e n d i z<br />

que levarei daqui a viagem se paga e eu fico conhecendo o Nordeste só que você<br />

deve de perder a esperança de algum novo poema gênero “Noturno” ou “Carnaval” 7 .<br />

O projeto gora, mas, no ano seguinte, em 6 de abril, o mesmo amigo recebe a<br />

entusiasmada notícia:<br />

Creio que vou embora pro Norte mês que vem, numa bonitíssima duma viagem.<br />

Dona Olívia faz tempo que vinha planejando uma viagem pelo Amazonas<br />

adentro. E insistia sempre comigo pra que fosse no grupo. Eu ia resistindo,<br />

resistindo e amolecendo também. Afinal quando quase tudo pronto, resolvi<br />

ceder mandando à merda esta vida de merda. Vou também. Isto é, inda não<br />

sei bem se vou, só falta saber o preço da viagem. Se ficar aí por uns quatro<br />

contos, vou, se ficar pra cima de cinco não vou. Tenho que emprestar dinheiro<br />

pra ir e isso vai me deixar a vida bem difícil depois e os projetos no tinteiro 8 .<br />

O pendor pelas viagens aventurosas, aliás, fizera Olívia Penteado tramar um tour<br />

pelo Oriente, em dezembro de 1925, acompanhada de duas amigas. Conhecera Tânger,<br />

Trípoli, Alexandria, Egito, Palestina, Istambul, Atenas; fora fotografada em frente às<br />

pirâmides, montada num camelo 9 . Esse mesmo gosto faz com que ela arquitete, no grupo<br />

modernista paulistano, a excursão ao Norte do Brasil.<br />

Um mês depois da carta a Bandeira, o diário d’O Turista Aprendiz põe no trem um<br />

atrapalhado viajante rumo ao Rio de Janeiro, capital da República, porto de onde partiam<br />

os vapores para o Norte. No Rio viviam amigos dele – músicos, escritores.<br />

7 MORAES, Marcos Antonio de. (Org.). Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira.<br />

São Paulo: Edusp/ Instituto de Estudos Brasileiros, 2000, p. 278-279. Os poemas advêm de duas<br />

viagens de MA: “Noturno de Belo Horizonte” (1924) e “Carnaval carioca” (1923), ambos em Clã<br />

do jabuti, livro de 1927 (V. ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Edição de texto apurado,<br />

anotada e acrescida de documentos por Tatiana Longo Figueiredo e Telê Ancona Lopez. Rio de<br />

Janeiro: Nova Fronteira, 2013, v. 1, p. 240-259; p. 210-225).<br />

8 MORAES, Marcos Antonio de. (Org.). Op. cit., p. 339-340.<br />

9 Fotografia divulgada por Denise Mattar, no seu importante livro No tempo dos modernistas:<br />

Dona Olívia Penteado, a Senhora das Artes (São Paulo: FAAP, 2002), resultado de exposição<br />

homônima, na Fundação Armando Álvares Penteado. Olívia está com suas amigas Carlota Pereira<br />

de Queiroz, médica, e Baby (Albertina) Ferreira Ramos. Em janeiro de 1926, Oswald de Andrade e<br />

Tarsila do Amaral também vão ao Oriente, acompanhados dos respectivos filhos de seus primeiros<br />

casamentos – Nonê (Oswald de Andrade Filho) e Dulce, apelidada Dolur pelo padrasto.<br />

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