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O T A

O_turista_aprendiz

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O T u r i s t a A p r e n d i z<br />

se, no lapso de MA, o ano da reescrita, com variantes, do texto publicado como crônica<br />

na coluna Táxi, no Diário Nacional, em 17 de abril, 1929. Pode-se, então, inferir que,<br />

a princípio, “São Tomás e jacaré” seria encaixado no mês de maio, como sequência do<br />

dia 21, por força do título grafado a tinta preta, no intervalo, na p. 7 da versão integral<br />

datiloscrita. Mais tarde, uma releitura do diário, mais interessada no valor do fragmento<br />

como crônica, despreza a cronologia e procura alojá-lo entre as marcas “1° de agosto” e<br />

“O poema nasce”, o título posto a tinta vermelha, a mesma que o rabisca na p. 7. Depois<br />

disso, a tinta preta fixa o ponto de inserção: entre “Variante”, parcela do dia 27 de julho e<br />

o registro do dia seguinte, para anular o estabelecido à p. 80. O balanço da obra certifica<br />

essa posição.<br />

A análise identificou, também, apenso à versão integral, o fragmento com a data<br />

em aberto – “Dia______” –, cópia carbono azul, com rasuras a máquina e a tinta preta,<br />

utilizando o verso de três folhas de papel timbrado do Ministério da Educação e Saúde/<br />

Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro, onde o escritor trabalhou entre 1939 e<br />

1940 27 . O fragmento recolhe a narrativa, posta na boca de um personagem inventado,<br />

o paroara passageiro da terceira classe que fornece igualmente ao viajante etnógrafo o<br />

caso da Santa da Pedra e o guia até a aldeia fictícia dos índios dó-mi-sol. Esse fragmento<br />

sem título introduz o mito do pai dos cearenses; desligado das ações do cotidiano, tem<br />

passe livre no diário. Assim como o caso da Santa da Pedra, um outro fragmento apenso<br />

não datado, autógrafo a tinta preta, em folha de fichário, que reafirma, na mobilidade da<br />

criação, afeita a migrações e entrelaçamentos, a estratégia quanto à economia do texto,<br />

nesta obra inacabada de Mário de Andrade.<br />

Como bem se vê, no complexo jogo das versões ao longo do tempo – o período<br />

1927-1943, dilatado mesmo até 1945 –, a obra domina o scriptor como “um sistema em<br />

formação que vai ganhando as próprias leis”, no qual “um objeto com organização própria<br />

vai surgindo”, conforme nos diz Cecília Almeida Salles 28 . No caso d’O Turista Aprendiz, nos<br />

documentos do processo que, no dossiê dos manuscritos, culmina na datilografia que tanto<br />

descarta como atrai trechos de fases anteriores, mas que guarda hesitações e um balanço<br />

com perguntas implícitas, sinais claros de uma obra inacabada. Melhor dizendo: de uma<br />

27 O suporte implica a pergunta: a redação do registro teria ocorrido na antiga capital da<br />

República ou teria Mário guardado com ele blocos desse papel?<br />

28 SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo:<br />

Annablume, 1998, p. 33.<br />

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