Revista Penha | setembro 2016

Joaquim Magalhães
Encarregado Geral do Posto de Limpeza da Junta
As pessoas estão
muito mais cuidadosas!
Joaquim Magalhães
é o Encarregado
Geral do Posto de
Limpeza da Junta
de Freguesia da
Penha de França.
Tem 55 anos e
entrou neste serviço
aos 19. “36 anos é
muito ano!” diz, a rir.
Nos primeiros 34 trabalhou para
a Câmara Municipal de Lisboa, e
desde março de 2014 para a Junta,
depois da reforma administrativa
da cidade.
Ao longo do tempo viu as ruas
ficarem mais limpas e maior
cuidado dos cidadãos. As pessoas
“estão muito mais cuidadosas,
dantes não ligavam muito à
rua”, afirma, recordando que
antigamente não se usavam
sacos, deitava-se o lixo doméstico
diretamente no contentor e uma
parte dele acabava inevitavelmente
no chão. Neste momento, “o
pior são os cocós dos cães e o
abandono dos lixos, a qualquer
hora, na rua”. Gostava de ver os
cidadãos dar mais este salto.
A profissão de cantoneiro (varredor)
não é fácil. “Tanto faz chover
como estar sol, há dias em que
é um sofrimento, verão super
calor, inferno com chuva e frio,
e estamos sempre na rua, não
paramos nem nos recolhemos, o
nosso serviço é sempre o mesmo”.
Apesar de ser um ofício que ‘puxa
muito pelo corpo’, “é saudável” diz
o Sr. Magalhães, como é conhecido
por todos. “Começamos a apanhar
o gosto da rua”.
Antes de ser Encarregado Geral era
Encarregado Operacional, andava
pela rua a falar com as pessoas,
com os colegas de trabalho.
“Adoro! Conheço toda a gente
e toda a gente me conhece.
Mesmo os mais novos, vamo-nos
conhecendo”.
Custa-lhe que as atuais funções o
levem a estar dentro do escritório.
“Mas eu fujo para a rua. Ainda
ontem estive numa lavagem
e lavei um bocadinho: é um
trabalho que adoro!”.
O lado negativo da profissão
é que às vezes parece que os
trabalhadores da limpeza urbana
“são invisíveis”. Por exemplo,
nas lavagens “está a água a bater
no chão e as pessoas não se
apercebem”. Às vezes reclamam
“passaram aqui três e não foram
capazes de limpar a minha rua!”,
relata, “só que os trabalhadores
vão a pé até aos seus circuitos”, se
não limparam é porque se estavam
a deslocar para a sua área de
limpeza (o circuito).
E com que coisas estranhas se
deparou na sua profissão? A
quantidade de beatas que estão
no chão por baixo de certas janelas
ou os milhares que parecem surgir
das pedras da calçada quando
se lavam as ruas. “É uma coisa
impressionante!”.
Ou então uma história antiga, de
quando ainda varria. Uma senhora
passa por si e deixa cair um saco
de lixo ao chão, sem uma palavra.
“Fiquei muito indignado, não
disse nada e acompanhei-a até
à porta do prédio. Aí disse: olhe,
este saquinho do lixo é seu”. A
senhora pediu desculpa, explicando
que só se tinha lembrado do saco
quando o viu, que o tinha andado
a ‘passear’ enquanto andava nas
compras, sem se aperceber. “Tinha
um contentor perto de casa, se
se tivesse desviado 20 m tinha-o
colocado logo!”.
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