8 ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA
A exemplo das mais veneráveis associações de caridade, cumpre que nossos atos de beneficência sejam movidos por um autêntico e santificante amor de Deus, visando sobretudo à salvação das almas Se, portanto, todos nós fomos chamados por Deus à Santa Igreja Católica, foi para nos santificarmos. Mas, como nossa santificação implica no amor do próximo por amor de Deus, devemos fazer bem ao próximo. E como o maior bem que lhe possamos fazer é concorrer para a sua santificação, devemos antes de tudo cuidar de cooperar com nosso próximo, a fim de que ele se santifique. Se o fim da Igreja e de nossa participação em sua vida sobrenatural é esse, é obvio que as associações religiosas, que existem para facilitar a obra da Igreja, têm o mesmo fim. Uma associação religiosa só pode, pois, ter por fim a santificação de seus membros, e a procura de novos membros para santificar. Na raiz da beneficência deve estar o amor de Deus E uma associação de mera beneficência? Uma associação, por exemplo, na paróquia X, que só cuide da obtenção de remédios para crianças indigentes? A resposta é simples. Tais associações estão perfeitamente dentro do espírito da Igreja, mas é preciso que elas sejam vividas e compreendidas como a Igreja quer. O amor ao próximo nos leva a desejar principalmente sua santificação. Mas “principalmente” não significa “exclusivamente”. É muitíssimo louvável e justo que se procure também confortar o próximo em seus padecimentos ou dificuldades materiais, ainda mesmo que o resultado concreto de nossa ação seja exclusivamente o de aliviar suas dores. As associações beneficentes são, pois, muitíssimo conformes ao espírito da Igreja. No entanto, como o católico deve amar o seu próximo por amor de Deus, cada ato de amor ao próximo, feito em tais associações, para ter seu pleno mérito, deve ser também um ato de amor a Deus. É precisamente aí que o ato de beneficência encontra a inteireza de seu valor sobrenatural. Por outro lado, todas as ações do católico devem tender à sua santificação. Não se compreende, pois, que um católico desperdice uma ação tão santa como seja a beneficência, e que não coloque na sua raiz o amor de Deus, que o santifica a ele próprio, e santifica também seus semelhantes. Um católico que, fazendo bem ao seu próximo, o faz como faria um ateu, isto é, o faz como se Deus não existisse, é uma perfeita aberração. Por outro lado, cumpre acrescentar que, sempre que possível, as associações de mera beneficência material devem estender seus proveitos à beneficência espiritual. Em outros termos, distribuindo remédio e alimento para o corpo, não devem perder uma única oportunidade para distribuir remédio e alimento para a alma. Abordaremos ainda, mais de perto, esta última questão. De passagem, digamos agora somente o seguinte: se a alma vale mais do que o corpo (e qual o católico que possa não estar profundamente convicto disto?), mais vale curar a moléstia da alma, que é o pecado, do que a moléstia do corpo, que é a doença. Portanto, seria absurdo levar-se um benefício material a alguém, deixando passar a oportunidade de um socorro espiritual. Entenda-se bem o que dizemos aqui. Não queremos afirmar que todas as associações de beneficência devem ter obrigatoriamente o caráter de associações de apostolado direto sobre a pessoa beneficiada. Muitas vezes, é a própria prudência que impõe o contrário. Não há, porém, um único católico ou uma única associação que, podendo promover a salvação de uma alma, não deva fazê-lo. (Transcrito do “Legionário”, nº 309, de 14/8/1938. Título nosso.) 9