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Revista Dr Plinio 47

Fevereiro de 2002

Fevereiro de 2002

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“NON<br />

PRAEVALEBUNT”


Estátua de<br />

São Pedro,<br />

na Basílica<br />

do Vaticano<br />

Na gloriosa corrente constituída pela Santíssima<br />

Trindade, Nossa Senhora e o Papado, este<br />

último vem a ser o elo menos vigoroso: porque mais terreno,<br />

mais humano e, em certo sentido, estando envolto por aspectos<br />

que o podem menoscabar.<br />

Costuma-se dizer que o valor de uma corrente se mede exatamente<br />

pelo seu elo mais frágil. Assim, o modo mais excelente<br />

de amarmos essa extraordinária cadeia é oscular o seu<br />

elo menos forte: o Papado. É devotar à Cátedra de Pedro,<br />

em relação à qual esmorecem tantas fidelidades, a nossa fidelidade<br />

inteira!


Sumário<br />

Na capa, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> oscula a<br />

estátua de São Pedro, durante<br />

sua última visita ao Vaticano,<br />

em 1988. As palavras latinas<br />

“Non praevalebunt” se referem<br />

à promessa de Nosso Senhor<br />

ao Príncipe dos Apóstolos:<br />

“As portas do inferno não<br />

prevalecerão contra ela”.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />

propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />

Diretor:<br />

Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />

Jornalista Responsável:<br />

Othon Carlos Werner – DRT/SP 7650<br />

Conselho Consultivo:<br />

Antonio Rodrigues Ferreira<br />

Marcos Ribeiro Dantas<br />

Edwaldo Marques<br />

Carlos Augusto G. Picanço<br />

Jorge Eduardo G. Koury<br />

Redação e Administração:<br />

Rua Santo Egídio, 418<br />

02461-011 S. Paulo - SP - Tel: (11) 6236-1027<br />

Fotolitos: Diarte – Tel: (11) 5571-9793<br />

Impressão e acabamento:<br />

Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />

Rua Barão do Serro Largo, 296<br />

03335-000 S. Paulo - SP - Tel: (11) 291-2579<br />

4<br />

5<br />

6<br />

10<br />

13<br />

18<br />

23<br />

EDITORIAL<br />

Sublime dinastia<br />

DATAS NA VIDA DE UM CRUZADO<br />

Mudança para o “1º Andar”<br />

ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA<br />

Acima de tudo, o bem das almas<br />

DENÚNCIA PROFÉTICA<br />

Sem amor de Deus, não se alcança a paz<br />

DR. PLINIO COMENTA...<br />

São José e a fecundidade da vida interior<br />

GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />

“Como nasceu e cresceu meu<br />

amor ao Papado”<br />

DONA LUCILIA<br />

Afetuosa compaixão<br />

Preços da assinatura anual<br />

Fevereiro de 2002<br />

Comum . . . . . . . . . . . . . . . R$ 75,00<br />

Colaborador . . . . . . . . . . . R$ 110,00<br />

Propulsor . . . . . . . . . . . . . . R$ 220,00<br />

Grande Propulsor . . . . . . . R$ 370,00<br />

Exemplar avulso . . . . . . . . R$ 8,00<br />

Serviço de Atendimento<br />

ao Assinante<br />

Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />

27<br />

32<br />

36<br />

LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

Reflexo do senhorio divino<br />

ÚLTIMA PÁGINA<br />

Absoluta misericórdia<br />

3


Editorial<br />

Sublime dinastia<br />

Mocidade vibrante e sadia,<br />

Deixa a inércia em que estás.<br />

Renuncia à inação criminosa.<br />

De pé! de pé!<br />

Deu a voz de comando Pio XI,<br />

Carrilhonam os sinos de bronze,<br />

Descem do alto seus brados de fé.<br />

Assim cantava a plenos pulmões a multidão de jovens<br />

reunidos no “Congresso da Mocidade Católica”,<br />

que se realizava de 9 a 16 de setembro de 1928, na<br />

igreja do mosteiro de São Bento, em São Paulo.<br />

Entre os mais entusiasmados estava um rapaz de<br />

19 anos que pela primeira vez comparecia a um encontro<br />

católico: <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira.<br />

Observando aquelas almas abrasadas de Fé, sentia<br />

que se estava formando um exército espiritual, com<br />

a finalidade de conquistar as almas e a sociedade temporal<br />

para Jesus Cristo. E, ademais, que o chefe dessa<br />

ardente legião não poderia ser outro senão o sucessor<br />

de São Pedro. Naquele tempo era Pio XI. Mas podeira<br />

ser Inocêncio, Gregório ou João Paulo II. Não<br />

importa o nome, é sempre aquele mesmo pescador<br />

da Galiléia, a quem nosso Salvador prometeu: “Tu<br />

és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja;<br />

as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te<br />

darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na<br />

terra será ligado nos céus, e tudo o desligares na terra<br />

será desligado nos céus” (Mt. 16, 18-19).<br />

Sublime dinastia, que governa um reino colocado<br />

entre o céu e a terra, única linhagem que tem a garantia<br />

de continuar até o fim do mundo! “O Vigário de<br />

Cristo, supremo, sacrossanto, que manda em todos,<br />

e indica a hora certa do pensamento humano no<br />

relógio infalível de sua mente, que não pode errar,<br />

porque Deus o ampara contra o erro” — comentava<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />

Para o jovem <strong>Plinio</strong>, aquele congresso juvenil católico,<br />

celebrado há mais de sete décadas, parecia<br />

ser o início de uma grande reconquista religiosa em<br />

escala mundial, que teria como ponto de partida o entusiasmo<br />

da mocidade católica brasileira. Lamentavelmente,<br />

devido a circunstâncias que um dia os historiadores<br />

esclarecerão, esse pujante movimento não<br />

chegou a realizar a missão que lhe cabia.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, de sua parte, jamais deixou esmorecer<br />

aquele fervor de outrora pela figura do Santo Padre.<br />

Em seu apostolado, tinha como ponto de honra<br />

transmitir a todos a mesma devoção inquebrantável<br />

por quem é o “doce Cristo na terra”, segundo a expressão<br />

de São Bernardo.<br />

Na passagem da festa da Cátedra de Pedro, celebrada<br />

em 22 de fevereiro, estampamos na seção “Gesta<br />

marial de um varão católico” alguns comentários<br />

de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> sobre o Papado. Aí ele conta como se<br />

desenvolveu o seu ardoroso amor à máxima autoridade<br />

da Santa Igreja.<br />

DECLARAÇÃO: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625<br />

e de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras<br />

ou na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista.Em nossa intenção, os títulos elogiosos não<br />

têm outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />

4


DATAS NA VIDA DE UM CRUZADO<br />

Mudança para o “1º Andar”<br />

Pode parecer estranho que uma simples<br />

mudança de residência seja considerada<br />

uma data digna de menção, na vida<br />

tão densa e repleta de episódios sublimes e heróicos<br />

como a de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>. Mas é bem o caso.<br />

Situado no prédio da rua Alagoas nº 350, bairro<br />

de Higienópolis, em São Paulo, esse apartamento<br />

foi testemunha de quatro décadas de atividades,<br />

reflexões, sofrimentos e orações de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />

que para ali se mudou com seus pais no início<br />

de fevereiro de 1952.<br />

Vindo a ser conhecido pelos amigos de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

simplesmente como o “1º Andar”, esse local<br />

ganhou um particular significado. Antes de tudo<br />

por ser a moradia do líder católico, onde tiveram<br />

lugar diversos episódios marcantes de sua existência,<br />

e duas longas convalescenças, a da grave enfermidade<br />

de 1967-1968, e a do desastre rodoviário<br />

de 1975 que o deixou com várias seqüelas. Mas<br />

também porque seu arranjo e decoração constituíam<br />

uma lição prática daquilo que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ensinava<br />

a respeito da importância dos ambientes<br />

para a formação das mentalidades e expressão<br />

de valores e estados de espírito.<br />

Impressionava o misto de harmonia e distinção,<br />

que correspondia — como ele próprio explicava —,<br />

providencial e casualmente, à psicologia da família.<br />

A mobília, as cortinas, os diversos objetos, a<br />

combinação de cores, tudo enfim formava um<br />

conjunto harmônico, reflexo de um modo de ser<br />

profundamente diferente do moderno, sem nada<br />

de anacronismo. Era uma aliança de monumentalidade<br />

com doçura. E neste ponto é de notar a<br />

influência de Dª Lucilia. Com efeito, sua personalidade<br />

sobressaía precisamente por aliar doçura<br />

e bondade a um tipo próprio de nobreza, razão<br />

pela qual — dizia <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> — o “1º Andar” foi<br />

uma moldura ideal para os últimos anos<br />

dela nesta terra.<br />

Alguns aspectos do<br />

“1º Andar”: no alto, a sala<br />

de jantar; acima, à esquerda, vista<br />

de um dos salões; à direita, o escritório<br />

5


ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA<br />

ACIMA DE TUDO,<br />

O BEM DAS ALMAS<br />

6<br />

Instituída por Nosso<br />

Senhor Jesus<br />

Cristo, a Santa<br />

Igreja convida seus<br />

fiéis para a<br />

santificação,<br />

pregando-lhes a<br />

Verdade e<br />

ministrando-lhes os<br />

Sacramentos (Missa<br />

de Crisma, na<br />

Catedral de Notre-<br />

Dame de Paris)


Q ualquer<br />

que<br />

seja a orientação<br />

ou<br />

finalidade das associações<br />

católicas,<br />

o primeiro objetivo<br />

de todas elas deve<br />

ser a santificação<br />

das almas. Esta é<br />

uma idéia expressa<br />

de vários modos por<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ao longo<br />

de toda a sua vida.<br />

Como neste artigo<br />

de 1938.<br />

Líder mariano de grande influência, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> (no centro) nunca esmoreceu no<br />

seu dever de incentivar o próximo nas vias da perfeição cristã<br />

O<br />

Oprimeiro fim de toda e qualquer<br />

associação religiosa é<br />

a santificação de seus membros.<br />

O segundo, deve ser a santificação<br />

do próximo. Aparentemente,<br />

há associações que fogem a esta regra,<br />

como certos sodalícios destinados<br />

diretamente à beneficência, à<br />

distribuição de víveres a indigentes,<br />

à confecção de roupas para pobres,<br />

etc. Há, também, associações que se<br />

destinam a uma finalidade tão especial<br />

que parecem também estar fora<br />

da regra geral que enunciamos. Há,<br />

por exemplo, associações destinadas<br />

a angariar fundos para certas despesas<br />

do culto, como azeite, velas, etc.<br />

Outras se destinam a prover as igre-<br />

jas de paramentos adequados. Outras,<br />

finalmente, cuidam especialmente do<br />

provimento de flores.<br />

É um erro supor que mesmo essas<br />

associações não têm como finalidade<br />

a santificação de seus membros. Em<br />

breve veremos a razão disto.<br />

Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu<br />

a Santa Igreja Católica para que<br />

esta pregasse a Verdade e distribuísse<br />

os Sacramentos pelo mundo inteiro<br />

para a santificação dos fiéis e a<br />

conversão dos infiéis. Certamente,<br />

como adverte Leão XIII, a Igreja, na<br />

exuberância de sua ação benfazeja,<br />

pode, freqüentemente, proporcionar<br />

à humanidade até mesmo as vantagens<br />

temporais as mais apreciáveis.<br />

Não é esta, no entanto, a razão de<br />

ser da Igreja. Ela foi instituída para<br />

dar glória a Deus por meio da santificação<br />

de seus membros e da conversão<br />

dos infiéis, chamados por sua<br />

vez, dentro de seu grêmio bendito, a<br />

galgar os degraus luminosos da santidade.<br />

O que se entende aí por “santificação”?<br />

Sem entrar no domínio das altas<br />

cogitações teológicas, digamos simplesmente<br />

que a pessoa atinge a santidade<br />

quando chega à plenitude do<br />

amor de Deus, de que é capaz, e implicitamente<br />

do amor do próximo. Este<br />

amor se traduz na ordem dos fatos pelo<br />

cumprimento pleno dos preceitos e<br />

conselhos do Santo Evangelho.<br />

7


8<br />

ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA


A exemplo das mais veneráveis<br />

associações de caridade, cumpre que<br />

nossos atos de beneficência sejam<br />

movidos por um autêntico e<br />

santificante amor de Deus, visando<br />

sobretudo à salvação das almas<br />

Se, portanto, todos nós fomos chamados<br />

por Deus à Santa Igreja Católica,<br />

foi para nos santificarmos. Mas,<br />

como nossa santificação implica no<br />

amor do próximo por amor de Deus,<br />

devemos fazer bem ao próximo. E como<br />

o maior bem que lhe possamos fazer<br />

é concorrer para a sua santificação,<br />

devemos antes de tudo cuidar de<br />

cooperar com nosso próximo, a fim de<br />

que ele se santifique.<br />

Se o fim da Igreja e de nossa participação<br />

em sua vida sobrenatural é<br />

esse, é obvio que as associações religiosas,<br />

que existem para facilitar a<br />

obra da Igreja, têm o mesmo fim.<br />

Uma associação religiosa só pode,<br />

pois, ter por fim a santificação de<br />

seus membros, e a procura de novos<br />

membros para santificar.<br />

Na raiz da beneficência<br />

deve estar o amor de Deus<br />

E uma associação de mera beneficência?<br />

Uma associação, por exemplo,<br />

na paróquia X, que só cuide da<br />

obtenção de remédios para crianças<br />

indigentes?<br />

A resposta é simples. Tais associações<br />

estão perfeitamente dentro do<br />

espírito da Igreja, mas é preciso que<br />

elas sejam vividas e compreendidas<br />

como a Igreja quer. O amor ao próximo<br />

nos leva a desejar principalmente<br />

sua santificação. Mas “principalmente”<br />

não significa “exclusivamente”.<br />

É muitíssimo louvável e justo que<br />

se procure também confortar o próximo<br />

em seus padecimentos ou dificuldades<br />

materiais, ainda mesmo que<br />

o resultado concreto de nossa ação<br />

seja exclusivamente o de aliviar suas<br />

dores. As associações beneficentes são,<br />

pois, muitíssimo conformes ao espírito<br />

da Igreja.<br />

No entanto, como o católico deve<br />

amar o seu próximo por amor de<br />

Deus, cada ato de amor ao próximo,<br />

feito em tais associações, para ter<br />

seu pleno mérito, deve ser também<br />

um ato de amor a Deus. É precisamente<br />

aí que o ato de beneficência<br />

encontra a inteireza de seu valor sobrenatural.<br />

Por outro lado, todas as ações do<br />

católico devem tender à sua santificação.<br />

Não se compreende, pois, que<br />

um católico desperdice uma ação tão<br />

santa como seja a beneficência, e que<br />

não coloque na sua raiz o amor de<br />

Deus, que o santifica a ele próprio, e<br />

santifica também seus semelhantes.<br />

Um católico que, fazendo bem ao<br />

seu próximo, o faz como faria um<br />

ateu, isto é, o faz como se Deus não<br />

existisse, é uma perfeita aberração.<br />

Por outro lado, cumpre acrescentar<br />

que, sempre que possível, as associações<br />

de mera beneficência material<br />

devem estender seus proveitos à beneficência<br />

espiritual. Em outros termos,<br />

distribuindo remédio e alimento<br />

para o corpo, não devem perder<br />

uma única oportunidade para distribuir<br />

remédio e alimento para a alma.<br />

Abordaremos ainda, mais de perto,<br />

esta última questão. De passagem,<br />

digamos agora somente o seguinte:<br />

se a alma vale mais do que o corpo<br />

(e qual o católico que possa não estar<br />

profundamente convicto disto?),<br />

mais vale curar a moléstia da alma,<br />

que é o pecado, do que a moléstia do<br />

corpo, que é a doença. Portanto, seria<br />

absurdo levar-se um benefício material<br />

a alguém, deixando passar a oportunidade<br />

de um socorro espiritual.<br />

Entenda-se bem o que dizemos<br />

aqui. Não queremos afirmar que todas<br />

as associações de beneficência devem<br />

ter obrigatoriamente o caráter<br />

de associações de apostolado direto<br />

sobre a pessoa beneficiada. Muitas vezes,<br />

é a própria prudência que impõe<br />

o contrário. Não há, porém, um único<br />

católico ou uma única associação<br />

que, podendo promover a salvação<br />

de uma alma, não deva fazê-lo.<br />

(Transcrito do “Legionário”,<br />

nº 309, de 14/8/1938. Título nosso.)<br />

9


DENÚNCIA PROFÉTICA<br />

Somente no grêmio da Santa Igreja,<br />

amando-se mutuamente como filhos<br />

desta Mãe afetuosíssima,<br />

encontrarão os homens a paz por<br />

eles tão almejada<br />

10


Sem amor<br />

a Deus, não<br />

se alcança a paz<br />

Aordem internacional tem<br />

de se basear necessariamente<br />

no amor ao próximo.<br />

Enquanto os povos não se amarem,<br />

não souberem pôr um freio a<br />

suas ambições ilegítimas e suas vaidades<br />

nacionais, não haverá ordem internacional.<br />

E como o amor ao próximo<br />

[é] uma realidade vivaz e profunda,<br />

que brota do amor de Deus;<br />

como não é possível ter verdadeiro<br />

amor de Deus quem não ama a Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo; e como não<br />

pode amar verdadeiramente a Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo quem não está


DENÚNCIA PROFÉTICA<br />

na Igreja Católica, enquanto a Igreja<br />

não for reconhecida como a base do<br />

edifício internacional, a alma das relações<br />

entre os povos e a guardiã de<br />

toda a moral, não poderá haver na esfera<br />

internacional, para os povos, paz<br />

verdadeira.<br />

Em outros termos, ou o mundo se<br />

converte e reproduz fielmente a visão<br />

agostiniana da “Civitas Dei”, em que<br />

cada povo leva o amor de Deus a ponto<br />

de renunciar a tudo quanto lese aos<br />

outros povos; ou pelo contrário, o mundo<br />

será aquela cidade do demônio,<br />

em que todos levam o amor de si mesmos<br />

a ponto de se esquecer de Deus,<br />

de calcar aos pés a moral, e de fazer<br />

da violação dos direitos dos povos<br />

fracos a norma habitual de sua conduta.<br />

De todas as fases em<br />

que se divide a história,<br />

foi sem dúvida a Idade<br />

Média aquela que mais<br />

se aproximou da realização<br />

perfeita de uma<br />

civilização católica. Na<br />

esfera internacional,<br />

o conceito dominante era de “Cristandade”.<br />

Esse conceito político tem<br />

os mais sólidos fundamentos teológicos,<br />

e se baseia na doutrina do Corpo<br />

Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />

no qual nos inserimos por meio<br />

do santo Batismo. Toda a tendência<br />

dos melhores doutrinadores consistia<br />

em reconhecer ao todo homogêneo<br />

formado pelos povos católicos,<br />

um só chefe espiritual, o Papa. Assim,<br />

obedientes a uma só doutrina, a um<br />

só pensamento, aos preceitos de uma<br />

só civilização — a católica — esses<br />

povos estavam sujeitos ao veredictum<br />

paternalmente imparcial de um só<br />

juiz, o Papa.<br />

A pseudo-reforma protestante rompeu<br />

essa maravilhosa unidade, e retirou<br />

da alçada do tribunal internacional<br />

que era o Papado, numerosos<br />

povos. Rompido o elo de subordinação<br />

entre o Pai comum e tantos filhos<br />

rebeldes, evaporou-se das relações internacionais,<br />

de modo completo, o ambiente<br />

de família. E, à ordem cristã<br />

baseada no amor fraterno, se substituiu<br />

uma ordem baseada na desconfiança<br />

e no ódio. Nascer do ódio, significa<br />

nascer do mal, nascer<br />

do pecado, nascer do fracasso.<br />

E, de fato, o pecado, o<br />

fracasso e o mal foram as<br />

três raízes mais profundas<br />

e mais ativas da nova ordem<br />

de coisas.<br />

(Excertos de artigo<br />

publicado no<br />

“Legionário”,<br />

nº 491, 8/2/1942.<br />

Título nosso.)<br />

Nossa Senhora<br />

da Paz,<br />

venerada na<br />

Basílica de<br />

Santa Maria<br />

Maior, em Roma


DR. PLINIO COMENTA...<br />

13


DR. PLINIO COMENTA...<br />

Q<br />

uando alguém se<br />

refere aos grandes<br />

vultos da história,<br />

imediatamente nos vem à<br />

memória a figura de um genial<br />

estadista, de um celebrado<br />

filósofo, de um brilhante<br />

general. Todavia, tudo<br />

isso não é nada em comparação<br />

com a sublimidade<br />

de ter colaborado na realização<br />

da Redenção. Eis a incomparável<br />

vocação de São<br />

José, destacada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />

que no-lo apresenta como<br />

modelo a ser seguido por<br />

todos os católicos.<br />

Aignorância religiosa em que vivemos tem produzido,<br />

entre outros efeitos nocivos, o desvirtuamento<br />

inteiro do significado real de algumas<br />

determinações da Igreja, que, quando mal interpretadas,<br />

são inteiramente estéreis de frutos espirituais, e quando<br />

bem compreendidas, são férteis em graças e proveitos de<br />

toda ordem.<br />

São José, modelo de todas as grandes<br />

virtudes<br />

É o que se dá, por exemplo, em relação ao culto de São<br />

José que, proposto pela Igreja como modelo dos chefes<br />

de família e dos operários, é também, pelo imenso acervo<br />

de virtudes com que foi enriquecido pela graça, modelo<br />

ideal de todas as grandes virtudes católicas.<br />

A maioria dos católicos, porém, não pensa seriamente<br />

em tomar São José como seu modelo. De um lado, a imensa<br />

santidade do pai [jurídico] de Jesus, a quem a Igreja<br />

cultua com a suprema dulia, parece um ideal absolutamente<br />

inatingível. De outro lado, a fraqueza humana de que<br />

nos sentimos repletos, solicitada por toda sorte de inclinações,<br />

nos afasta por tal forma de qualquer ideal espiritual,<br />

que julgamos muito já ter feito quando nos libertamos<br />

do jugo do pecado mortal e venial, e vivemos uma vida<br />

espiritual estacionária, relativamente suave, pois que<br />

se limita à conservação do terreno conquistado, mas inteiramente<br />

estéril para a Igreja e para a maior glória de Deus.<br />

Em busca da perfeição espiritual<br />

A Igreja certamente não pretende que seus filhos igualem<br />

em glória e em virtude aquele que, depois de Maria<br />

Santíssima, foi o mais elevado expoente de virtudes da humanidade.<br />

Por outro lado, porém, ela não quer de modo<br />

algum que limitemos nossos horizontes espirituais a uma<br />

vida piedosa banal, amesquinhada pela errônea ilusão de<br />

que seria falta de humildade aspirar-se à santidade que<br />

brilhou no gênio de São Tomás, na combatividade de Santo<br />

Inácio, no recolhimento de Santa Teresa e na caridade<br />

de São Francisco.<br />

A Igreja desmascara esta falsa humildade, apontando<br />

nela, ou um pretexto especioso da covardia espiritual, ou<br />

uma concepção orgulhosa da virtude, considerada mais<br />

14


como fruto do esforço humano do que da misericórdia<br />

de Deus. E, ao mesmo tempo, ela se serve do exemplo de<br />

seus grandes santos para “levantar ao alto” nossos corações,<br />

indicando-nos que a única preocupação real desta<br />

vida, o único problema verdadeiramente importante de<br />

nossa existência, é a aquisição daquela perfeição espiritual<br />

que será o único patrimônio que conservaremos, a<br />

despeito das crises financeiras, das comoções sociais e da<br />

fragilidade das coisas humanas, para, finalmente, transpormos<br />

com ele os próprios umbrais da eternidade.<br />

É disto exemplo frisante o grande São José.<br />

Nascido de família ilustre, arrasta, no entanto, uma existência<br />

obscura que, contrastando com o brilho de seu nome,<br />

o colocou na mais baixa camada da sociedade de seu<br />

tempo. Escasseiam-lhe os dotes naturais com que os homens<br />

se fazem grandes. Não dispõe de exércitos nem de<br />

súditos, que levem ao longe a glória de seu nome. Não<br />

dispõe do dinheiro com que galgar às altas posições. Vive<br />

humilde e desprezado, à sombra do Templo majestoso, e<br />

no próprio país em que reinara a sabedoria de Salomão.<br />

No entanto, brilha nele a chama da caridade. Um intenso<br />

amor de Deus, uma espiritualidade e uma vida interior<br />

admiráveis fazem de sua alma objeto da complacência<br />

da Santíssima Trindade, e este homem humilde é chamado<br />

a co-participar de modo direto em acontecimentos<br />

dos quais decorreriam os mais notáveis fatos da história<br />

do mundo.<br />

A Religião católica, coluna da civilização<br />

A Redenção do mundo, que é o fato central de toda a<br />

nossa história, determinou a queda do paganismo, o aparecimento<br />

e o triunfo da Igreja Católica, a implantação<br />

de uma civilização baseada em concepções inteiramente<br />

novas da família, do Estado, do indivíduo<br />

e da Religião, que foram os fatos<br />

iniciais e a causa do grande progresso<br />

que hoje admiramos.<br />

A família pagã, transformada e sobrenaturalizada<br />

pelo contato com os<br />

Sacramentos da Igreja, transformouse<br />

em foco admirável de perfeição espiritual<br />

e em escola austera da disciplina<br />

dos instintos inferiores.<br />

O Estado pagão, transformado em<br />

sua base pelo Catolicismo, deixou de<br />

ser privilégio de plutocratas ou demagogos,<br />

para ser antes de tudo um admirável<br />

meio de distribuição eqüitativa<br />

da justiça e proteção a todos os<br />

indivíduos.<br />

Assim como São José,<br />

o caridoso São<br />

Francisco é proposto<br />

pela Igreja como<br />

exemplo de quem<br />

soube cultivar de modo<br />

pleno e fecundo<br />

a vida interior<br />

15


DR. PLINIO COMENTA...<br />

O indivíduo, que no paganismo era presa de suas paixões,<br />

viu abrir-se diante de si o admirável ideal de perfeição<br />

espiritual pregado pelo Homem-Deus; e o homem<br />

medieval, descendente dos sibaritas da Antiguidade, se<br />

transformou no cruzado, no asceta ou no filósofo cristão.<br />

A Religião, enfim, conseguiu trazer ao mundo, com seus<br />

Sacramentos, com a graça de que é veículo, e com o admirável<br />

apostolado hierárquico da Igreja, uma continuidade<br />

de ação santificadora que tem sido a coluna da civilização.<br />

Todos esses acontecimentos gloriosos tiveram sua origem<br />

na Redenção. São José, pela admirável correspondência<br />

à graça com que se distinguiu, colaborou de modo<br />

eminente no plano divino da Redenção. E, como tal, é<br />

merecedor de grande parcela da glória que, legitimamente,<br />

cabe ao Divino Salvador, pela imensidade de benefícios<br />

com que nos cumulou.<br />

Inestimável valor de uma vida espiritual<br />

intensa<br />

Vemos, pois, a admirável fecundidade de uma vida que<br />

todas as circunstâncias naturais tendiam a tornar estéril.<br />

Vemos a prodigiosa capacidade de ação da santidade<br />

que, no recolhimento e na humildade, colaborou diretamente<br />

em acontecimentos muito mais importantes e teve<br />

uma participação incalculavelmente mais notável em toda<br />

a história da humanidade do que Alexandre com seus<br />

exércitos, Kant com seu saber arrogante, ou Maquiavel<br />

com sua diplomacia astuta e amoral.<br />

Vida interior, portanto. Vida interior intensa, constante,<br />

ilimitadamente ambiciosa, no sentido espiritual da palavra,<br />

eis a grande lição que (o exemplo) de São José nos<br />

deixa.<br />

Intimamente unidos a Nossa Senhora como o foi São<br />

José, não nos deve desanimar, ante a grandeza dessa<br />

lição, a escassez de nossas forças, pois que devemos exclamar<br />

como encorajamento: Omnia possum in eo qui me<br />

confortat — Tudo posso n’Aquele que me conforta.<br />

(Transcrito do “Legionário”, nº 116, de 26/3/1933.<br />

Título e subtítulos nossos.)


Da Redenção brotaram<br />

frutos admiráveis para a<br />

humanidade, como a<br />

sobrenaturalização da<br />

instituição familiar e a<br />

transformação do indivíduo<br />

pagão no cavaleiro católico, uma<br />

das glórias da Idade Média<br />

(Passo da Semana Santa, Sevilha;<br />

concha de espelho em marfim, do séc. XIII,<br />

com cena de uma família da época;<br />

estátua eqüestre de<br />

Ricardo Coração de Leão, Londres)<br />

17


GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO


“Como nasceu e<br />

cresceu meu amor<br />

ao Papado”


GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />

E<br />

ram famosas aquelas "palavrinhas", no vasto círculo de amigos de<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>. Assim eram chamadas as conversas curtas e informais<br />

com pequenos grupos de jovens, cujo principal interesse era ouvir a<br />

narração de episódios da vida desse varão. Constituíam excelentes ocasiões<br />

para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> cultivar nas almas de seus ouvintes a boa doutrina. Sendo um<br />

de seus temas favoritos o amor ao Papado, certa ocasião ele contou o que<br />

segue.<br />

Oambiente em que fui educado<br />

era o de uma família<br />

tradicional nos primórdios<br />

do século XX, muito antigo portanto,<br />

no qual ocorriam grandes discussões<br />

entre duas espécies de pessoas:<br />

de um lado, os católicos convictos;<br />

de outro, alguns que se diziam ateus.<br />

Eram controvérsias calorosas, verdadeiras<br />

batalhas intelectuais, embora se<br />

mantivesse sempre um fundo de cordialidade.<br />

Quer dizer, sem desaforos<br />

nem desrespeitos. Uma vez termina-<br />

do o entrechoque, voltava-se à boa<br />

paz. Mas eram batalhas!<br />

Uma consideração de<br />

menino: o Papa, supremo<br />

e sacrossanto<br />

Cresci, portanto, num meio em que<br />

esses problemas de fé, Igreja e correlatos<br />

faziam parte de minha formação<br />

espiritual, despertando em mim<br />

um interesse pela Religião Católica<br />

e uma adesão a ela sempre maiores.<br />

O vínculo que se criou com o catolicismo<br />

estreitava-se ainda mais quando,<br />

nessas discussões, sobressaía a figura<br />

maravilhosa da máxima<br />

autoridade na Igreja, o Papa.<br />

Ele, o Vigário de Cris-


O menino <strong>Plinio</strong> se<br />

encantava ao pensar no<br />

Papa, como sendo<br />

aquele que aponta no<br />

relógio infalível da mente<br />

a hora certa para o<br />

pensamento humano<br />

(na página anterior, detalhe da fachada<br />

do Vaticano; ao lado, Pio XI, o Papa<br />

do tempo em que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> era jovem)<br />

to, supremo, sacrossanto, que manda<br />

em todos e indica a hora certa do<br />

pensamento humano no relógio infalível<br />

de sua mente, que não pode<br />

errar, porque Deus o ampara contra<br />

o erro. Eu achava essa posição o supra-sumo<br />

do magnífico e do bem-ordenado.<br />

Quando fiquei um pouco mais velho,<br />

a essa simpatia se juntou uma adesão<br />

mais racional, consciente e profunda<br />

que a do menino. Compreendi<br />

o quanto estou sujeito a erros, de modo<br />

que, sozinho, não posso encontrar<br />

o caminho certo. Ora, eu queria encontrar<br />

esse caminho verdadeiro, desejava<br />

acertar meu passo, custasse o<br />

que custasse.<br />

Como me haver nessa situação?<br />

Ou haveria um guia infalível, apoiado<br />

por Deus, para me conduzir; ou,<br />

se não existisse esse guia infalível, todos<br />

os homens seríamos cegos guiando<br />

outros cegos. Esse guia infalível é<br />

o Papa. Era preciso, portanto, alimentar<br />

uma confiança inteira nele, ou cair<br />

na completa descrença e no achincalhe<br />

de tudo, como infelizmente acontece<br />

com muitas pessoas pelo mundo,<br />

vivendo ao léu, cegos em campo<br />

raso, sem saberem para onde vão, o<br />

que querem e o que pensam. Andam<br />

como tontos.<br />

A linha reta para chegar<br />

ao Céu<br />

E daí compreendi que a peça-chave<br />

de toda a ordem humana e a linha<br />

reta para chegar ao Céu estava no<br />

Papado. Então, entusiasmo sem limites<br />

pelo Papado! E pelo dom que<br />

Deus deu aos homens, quando Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo fundou a instituição<br />

pontifícia, no momento em<br />

que perguntou aos seus Apóstolos<br />

quem achavam ser Ele, Pedro respondeu:<br />

“Vós sois Cristo, o Filho de<br />

Deus vivo”. Ouvindo isso, Nosso Senhor<br />

teve as célebres e soleníssimas<br />

palavras: “Pedro, tu és pedra, e sobre<br />

esta pedra edificarei a minha Igreja;<br />

e as portas do inferno — quer dizer,<br />

o poder de Satanás — não prevalecerão<br />

contra ela”. Jamais a vencerão.<br />

Tudo isso eu achava, e acho, o supra-sumo<br />

da história dos homens e<br />

das almas. E quero, quando chegar o<br />

momento de minha morte, mais do<br />

que nunca em minha vida, estar persuadido<br />

dessa verdade.<br />

Um pouco mais velho ainda, compreendi<br />

outro importante princípio:<br />

se devemos reconhecer no Papa o poder<br />

que Nosso Senhor Jesus Cristo<br />

lhe outorgou, não devemos ver nele<br />

nem um poder maior nem, sobretudo,<br />

menor do que aquele dado por<br />

Jesus. Cumpre aceitarmos e venerarmos<br />

o Papado como Nosso Senhor o<br />

fez. Não podemos modelar um Papado<br />

segundo nossa cabeça, mas entender<br />

que a instituição fundada pelo<br />

Divino Salvador é excelente, porque<br />

Ele é infalível no sentido pleno<br />

da palavra. Homem-Deus, incapaz<br />

de errar, perfeito em tudo quanto fi-<br />

21


GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />

zesse. Estaremos seguros, apoiados<br />

na autoridade de Deus.<br />

De tudo isso, repito, me vem uma<br />

tão grande admiração pelo Papado,<br />

um tamanho entusiasmo, que eu quase<br />

diria uma adoração, se não refreasse<br />

a tempo a palavra em meus lábios.<br />

Exemplos da grandeza<br />

do papado<br />

É um amor sem limites, uma veneração<br />

por aquela grandeza pontifícia<br />

que eu próprio vi em alguns fatos<br />

históricos do passado.<br />

Por exemplo, no tempo de Pio XI<br />

o nazismo e o comunismo estavam<br />

no auge de seu poder e ameaçavam,<br />

um ou outro, tomar conta da Europa.<br />

Como? Mediriam forças numa<br />

guerra, e aquele que saísse vitorioso<br />

dominava o continente europeu. Percebendo<br />

o perigo, Pio XI publicou<br />

duas encíclicas sucessivas: a primeira,<br />

condenando o comunismo, com<br />

uma energia única e extraordinária;<br />

no dia seguinte, outra encíclica condenando<br />

o nazismo. Enfrentou os dois<br />

poderes de peito aberto, reduzindoos<br />

ao silêncio. Sem soldados, sem tropas,<br />

sem canhões, sem bombas de gás<br />

asfixiante, o Papa os combateu e emudeceu.<br />

Para mim, um gesto grandioso!<br />

Recordo-me de outro belo episódio<br />

em que reluziram a coragem e a<br />

sabedoria pontifícias. Desta feita, com<br />

o Papa Pio XII, que pronunciou um<br />

discurso no qual fez uma distinção<br />

famosa entre povo e massa. Tão luminosa,<br />

tão acertada, que pode ser<br />

considerada uma das coisas mais inteligentes<br />

que tenha produzido o pensamento<br />

humano.<br />

Um conselheiro do Papa, o Pe. Leiber<br />

(com quem mantive muito boas<br />

relações), contou-me que, após a publicação<br />

desse discurso, Pio XII recebeu<br />

calorosas felicitações e agradecimentos<br />

do Presidente Roosevelt,<br />

dos Estados Unidos. Este desejava<br />

externar seu reconhecimento — note-se,<br />

um protestante — por aquelas<br />

palavras que lhe serviriam para orientar<br />

o próprio governo norte-americano!<br />

Esta é a grandeza do Papado, diante<br />

da qual se vergam até as maiores<br />

potências da terra.<br />

v<br />

Em outro exemplo da grandeza<br />

pontifícia, o chefe da maior<br />

potência do mundo inclinou-se<br />

diante do Papa Pio XII,<br />

reconhecendo a a sabedoria<br />

do Vigário de Cristo<br />

22


DONA LUCILIA<br />

Dª Lucilia<br />

com o seu<br />

bisneto<br />

Afetuosa compaixão<br />

23


DONA LUCILIA<br />

Ainfluência de Dª Lucilia foi tão grande na formação<br />

da mentalidade de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, que não é<br />

possível compreender inteiramente a história<br />

dele sem conhecer a dela. Vemo-la aqui na década de<br />

1930, época em que seu filho já era líder católico de projeção<br />

nacional.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ( à esquerda) recebe o Almirante Yamamoto<br />

(à direita), em visita à sede do “Legionário”<br />

Em sua infatigável solicitude materna,<br />

Dª Lucilia tinha especial empenho<br />

em acompanhar de tão perto<br />

quanto lhe fosse possível as atividades apostólicas<br />

de seu querido filho. Este, após ter<br />

assumido a direção do “Legionário”, o foi<br />

progressivamente ampliando e nele passou<br />

a abordar temas de envergadura e profundidade<br />

cada vez maiores. Em pouco tempo,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> o transformou de pequena folhinha<br />

quinzenal de paróquia em prestigioso<br />

semanário, com repercussão internacional,<br />

e órgão oficioso da importante arquidiocese<br />

paulistana. De tal forma isso se deu que<br />

era ponto de honra para as maiores personalidades<br />

do mundo católico, de passagem por<br />

São Paulo, fazerem uma visita ao jornal.<br />

Em 1938 esteve na capital paulista o famoso<br />

almirante Yamamoto, veterano de muitas<br />

batalhas nos ignotos e longínquos mares do<br />

Extremo Oriente e líder católico de destaque<br />

no Japão (¹).<br />

Logo ao chegar a São Paulo, procurou entrar<br />

em contato com <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> e o “Legionário”.<br />

A fim de lhe retribuir a amabilidade da<br />

visita, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> convidou-o para jantar em<br />

sua casa, certo de que Dª Lucilia teria muito<br />

gosto em recebê-lo. Manifestou ela o desejo<br />

de ter também como comensal sua filha,<br />

Dª Rosée, cuja conversa brilhante e ligeira<br />

só poderia concorrer para interessar a todos<br />

os presentes.<br />

Descendente de samurais — uma das categorias<br />

da nobreza do Império do Sol Nascente<br />

— homem deveras fino e de grande<br />

cultura, o almirante possuía todo um conjunto<br />

de qualidades que contribuíam para lhe<br />

conferir uma personalidade peculiar, pro-<br />

24


fundamente marcada pela nota católica, porém muito diversa<br />

dos estilos ocidentais.<br />

Fazendo-se acompanhar de uma alta personalidade do<br />

corpo consular nipônico em São Paulo, o insigne convidado<br />

compareceu com pontualidade militar à casa de Dª<br />

Lucilia, que o acolheu com a amabilidade característica<br />

das damas da antiga sociedade paulista.<br />

A conversa, continuamente em francês, desenrolou-se de<br />

modo espontâneo em torno de recordações religiosas, militares<br />

e sociais do ilustre visitante. Tendo ele participado de<br />

inúmeras ações navais, não foi difícil levá-lo a contar alguns<br />

dos feitos que a justo título o cobriram de glória. Bastou tocar<br />

no assunto para seu enigmático olhar amendoado se<br />

acender, por detrás de uma impassível expressão fisionômica.<br />

— Ah! batalhas! São uma coisa muito bonita!<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> perguntou amavelmente:<br />

— Mas, almirante, o senhor participou de vários combates<br />

navais, não é?<br />

— Sim, inúmeros.<br />

— Não o cansaria descrever o episódio culminante, mais<br />

bonito, mais arriscado, das guerras de que o senhor participou?<br />

— propôs <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />

O almirante sentiu-se à vontade, ao comprovar o real interesse<br />

de seu anfitrião, tanto mais que se tinha entregado<br />

de corpo e alma à profissão da guerra e nela sabia ver o<br />

lado grandioso.<br />

— Pois não, professor, com muito gosto — respondeu.<br />

No seu entusiasmo pelo combate, o visitante talvez não<br />

se tenha dado conta de não penderem os gostos e preferências<br />

de Dª Lucilia especialmente para este lado. Ela,<br />

que consentiria na imolação de seu próprio filho numa luta<br />

em defesa da Santa Igreja, não podia deixar de se condoer<br />

pela sorte de tantos infelizes, mortos numa guerra<br />

terrível, destituída de significado religioso. Um certo suspense<br />

tomou conta dos circunstantes, mas como a conversa<br />

era feita para agradar ao visitante, ninguém o interrompeu,<br />

prosseguindo ele seu relato:<br />

Foi na batalha de Tsushima, durante a Guerra Russo-<br />

Japonesa, em 1905, em que pusemos a pique o grande<br />

couraçado russo Tsarevich.<br />

— Mas como se deu isso? — perguntou <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />

— Ah! O senhor não imagina, que maravilha!<br />

O couraçado, um dos mais bem equipados<br />

do mundo, orgulho da marinha de seu<br />

país, era o navio-almirante da frota que<br />

combatíamos. Foi uma batalha terrível,<br />

com dezenas de navios afundados...<br />

A fisionomia de Dª Lucilia ia-se tornando<br />

cada vez mais séria e consternada ao ouvir<br />

O drama do “Tsarevich”,<br />

posto a pique pelos<br />

japoneses na batalha de<br />

Tsushima, enche Dª Lucilia<br />

de consternação e piedade,<br />

pensando na desdita dos<br />

pobres marinheiros russos


DONA LUCILIA<br />

aquelas palavras. O almirante Yamamoto, sem atinar com<br />

a reação dela, prosseguiu calma e alegremente:<br />

— Aquele enorme couraçado passou bem diante do<br />

navio que eu comandava, em posição tal que não podíamos<br />

perder a oportunidade... Nossos tiros foram certeiros!<br />

Depois de o bombardearmos, emborcou de tal modo<br />

que a popa afundou e a proa ficou no ar. Vimo-lo quase<br />

inteiramente na vertical.<br />

Dª Lucilia acompanhava a narração passo a passo, compadecida<br />

com o terrível sofrimento daqueles pobres marinheiros<br />

que iriam ser tragados pelas profundezas dos mares.<br />

Chegando a esse ponto, perguntou ela, penalizada:<br />

— E como foi, então?<br />

Entusiasmado continuou o almirante:<br />

— Minha senhora, afundou completa e diretamente!<br />

— Ahhh! — exclamou Dª Lucilia, com ligeiro sobressalto.<br />

Embora o tema agradasse sobremaneira ao heróico<br />

combatente, ainda mais seu fogo se acendeu quando <strong>Dr</strong>.<br />

<strong>Plinio</strong> conduziu a conversa para abordar certas questões<br />

doutrinárias, na época muito controvertidas. Quem o<br />

haveria de dizer? O valente cabo-de-guerra se pôs então<br />

de pé, enrubescido, e começou a falar alto. Bem entendido,<br />

seus interlocutores o deixaram discorrer à vontade,<br />

até que, aquietado, passou espontaneamente para outro<br />

tema. Terminado o jantar, Yamamoto se despediu com<br />

cortesia de Dª Lucilia, levando para sua distante terra<br />

natal a recordação daquela afável senhora.<br />

Anos mais tarde, ao ter notícia de sua morte, Dª Lucilia<br />

ficou muito entristecida e rezou fervorosamente por<br />

seu eterno descanso, pois não era só o Japão que perdia<br />

um guerreiro de valor, mas era sobretudo a Igreja que via<br />

suas fileiras desfalcadas de um destemido militante.<br />

Afetuoso artifício<br />

Se Dª Lucilia se condoía tanto das vítimas de uma guerra<br />

longínqua, muito mais se compadecia daqueles que lhe<br />

eram chegados. Embora essas qualidades nela reluzissem<br />

discreta mas possantemente, todos os afetos de seu coração<br />

sempre se mantiveram subordinados a uma constante elevação<br />

de espírito e amor de Deus, fonte das virtudes que<br />

praticava.<br />

O modo como tratava um de seus parentes afastados,<br />

que tivera a infelicidade de ficar cego ainda menino, em virtude<br />

de uma imperícia médica, é um exemplo desses predicados.<br />

O fato de ser ele ateu inveterado levava Dª Lucilia<br />

a ter ainda mais pena do infeliz. Por isso não poupava oportunidade<br />

de lhe fazer algum bem, com a intenção de tocar<br />

sua alma. Com freqüência o recebia para almoçar ou jantar,<br />

e nessas circunstâncias o entretinha horas inteiras. Ato de<br />

<strong>Dr</strong>. João Paulo, que auxiliava Dª Lucilia em seus atos<br />

de caridade para com o parente cego<br />

caridade do qual também participavam <strong>Dr</strong>. João Paulo e<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />

Sabendo ter esse seu parente muito bom apetite, e conhecendo<br />

seu comedimento, Dª Lucilia combinou com a<br />

empregada: quando lhe fizesse sinal, deveria aproximarse<br />

com a travessa e, sem ele perceber, servir-lhe um pouco<br />

mais. Ora, ele tinha o hábito de correr o garfo pela periferia<br />

do prato e depois por toda a sua superfície, à procura<br />

dos alimentos. De repente, quando julgava já estar<br />

no fim, encontrava — com evidente comprazimento —<br />

outra porção de comida!<br />

Dª Lucilia assim procedeu até a extrema velhice desse<br />

parente, não apenas satisfazendo os gostos gastronômicos<br />

dele, como também dispondo-se à prosa que mais lhe<br />

agradasse. Era a solicitude levada ao último ponto.<br />

(Transcrito, com adaptações, da obra<br />

“Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)<br />

1) Estêvão Shinjiro Yamamoto nasceu em 1878. Aos 17 anos<br />

foi batizado na Religião Católica. Combateu na Guerra<br />

Russo-Japonesa e na Primeira Grande Guerra. Como líder<br />

católico, promoveu a divulgação da literatura e do movimento<br />

de jovens católicos. Não se deve confundi-lo com<br />

outro almirante Yamamoto, comandante das Forças Combinadas<br />

japonesas na Segunda Guerra Mundial.<br />

26


LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

R eflexo do<br />

senhorio<br />

divino<br />

Palácio<br />

Público de<br />

Siena, Itália<br />

27


LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

Recolhido<br />

R<br />

nas grandiosas e<br />

abençoadas solidões de Subiaco,<br />

São Bento idealizou<br />

a Civilização Cristã que, pouco depois,<br />

começaria a ser edificada em solo europeu.<br />

Para o santo Patriarca, era preciso<br />

que houvesse uma vida religiosa<br />

no ápice de toda a existência humana,<br />

seguida pela vida temporal dos homens<br />

que se entregam às meras atividades<br />

terrenas. Porém, era igualmente<br />

necessário, por vontade de Deus,<br />

que esses homens tivessem um alto<br />

pensamento, uma alta mentalidade e<br />

elevados anseios, a fim de engendrarem<br />

uma sociedade temporal toda<br />

marcada por aquela sociedade espiritual.<br />

Uma bela manifestação deste ideal<br />

encontra-se na praça e no Palácio Público<br />

de Siena, na Itália. Ali se notam<br />

esplendores que nasceram com São<br />

Bento e com a obra beneditina no retiro<br />

de Subiaco. Sobretudo em determinados<br />

momentos em que a praça<br />

se acha praticamente vazia, tem-se a<br />

impressão de que toda a história do<br />

lugar conseguiu fugir do século atual<br />

e voltar, reconfortada, para as centúrias<br />

em que não tinha em torno de<br />

si a não ser suas próprias maravilhas<br />

e homens cheios de fé.<br />

Num cenário bastante bonito, o palácio<br />

se ergue como um rei, dominador,<br />

pronto para governar as outras<br />

casas. Dir-se-ia que, através de seu<br />

relógio, ele possui um olhar com o<br />

qual supervisiona os acontecimentos<br />

ao seu redor. É um olhar ordenador,<br />

de quem conhece a situação própria<br />

de cada coisa se o bem que há no fato<br />

de elas estarem em seus respectivos<br />

lugares, cobrando-lhes, pelo mesmo<br />

olhar, a permanência delas nas suas<br />

posições.<br />

Este o palácio, esplêndido e digno,<br />

amplo, confortável, severo e forte,<br />

que não depende a não ser de si para<br />

dirigir, e que exerce esta função tão<br />

parecida com a de Deus: governar<br />

os homens. O poder que se aloja<br />

ali, embora temporal, é exercido<br />

em nome de Deus, e representa<br />

eminentemente o domínio divino<br />

sobre a humanidade.<br />

É um poder que não se exprime<br />

com a leveza e o esplendor<br />

das coisas sobrenaturais,<br />

como por exemplo,<br />

numa linda catedral<br />

gótica, as ogivas<br />

elegantes e os vitrais<br />

paradisíacos.<br />

Não, a natureza<br />

é mais pesada<br />

28


que a graça. Ela nasce do chão, santa e<br />

legitimamente, mas é do solo que ela<br />

vem. A graça desce do Céu. Elas se<br />

encontram e se osculam: a natureza,<br />

serva, beija os pés da graça, a senhora.<br />

Contudo, os dirigentes e os súditos<br />

do tempo em que o Palácio Público<br />

de Siena foi construído, estavam<br />

profundamente compenetrados da<br />

idéia de que, quem governa, mesmo<br />

na ordem temporal, o faz por desígnio<br />

de Deus. E que, para corresponder<br />

de modo perfeito a essa disposição<br />

divina, o governante deve, não raras<br />

29


LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

No interior do Palácio, tetos e arcos que convidam ao recolhimento<br />

vezes, demonstrar a sua força persuasiva<br />

natural, equivalente ao dom de<br />

mover as almas que tem a graça. Daí,<br />

um ligeiro ar de fortificação, uma certa<br />

aparência de quartel no Palácio Público,<br />

em cujos porões poderiam caber<br />

alguns cárceres, os quais, entretanto,<br />

não comprometem o conjunto de majestade<br />

desse edifício. Pormenor curioso,<br />

os dois torreões levantados nos<br />

ângulos do corpo central parecem braços<br />

e mãos erguidos ao Céu, pedindo<br />

a ajuda de Deus para o exercício de<br />

mando das coisas temporais...<br />

Assim, por trás da magnífica temporalidade<br />

desse palácio, brilha a missão<br />

de velar sobre a Igreja para protegê-la,<br />

para favorecer a expansão dos<br />

missionários por toda a terra, para facilitar<br />

aos sacerdotes católicos a livre<br />

pregação da palavra de Deus.<br />

O Estado tem, portanto, essa missão<br />

muito mais elevada que a de governar<br />

os homens: a de favorecer a<br />

Igreja. Este lado altíssimo do poder estatal<br />

é muito bem representado pela<br />

torre do palácio. Esta se alça nos ares,<br />

sobe e sobe, como quem diz: “Vós,<br />

olhando para o lado terreno das coisas,<br />

tendes toda a minha figura temporal.<br />

Vede como ela é bela! Mas vós<br />

não vistes nada. Vós não conheceis<br />

minha missão divina. Olhai!”<br />

O interior do Palácio acompanha<br />

sua grandeza e esplendor externos. Salas<br />

cobertas de pinturas de extremo<br />

valor. Em Subiaco abriam-se as vastidões<br />

que têm como cúpula o próprio<br />

céu, e que alimentaram as reflexões<br />

de São Bento. Nesse palácio há tetos<br />

e arcos que convidam ao recolhimento<br />

do espaço pequeno, onde o homem<br />

pode também meditar nas coisas de<br />

Deus.<br />

E então somos levados a imaginar<br />

um governante dessa Siena medieval,<br />

passeando pelas salas, terraços e torres<br />

do seu palácio. Um espírito ponderado<br />

e pensativo, cuidando da magnitude<br />

de seu poder temporal, das<br />

grandes responsabilidades e dos grandes<br />

serviços que pode prestar à salvação<br />

das almas, para o bem dos homens<br />

e, sobretudo, para o da Igreja.<br />

Enquanto toda a cidade dorme, e apenas<br />

se ouve, de tempos em tempos,<br />

um tilintar dos relógios e um eco dos<br />

sinos a indicarem as horas que correm,<br />

ele está lá em cima, sozinho, rezando<br />

e pensando, pensando e rezando, como<br />

São Bento em Subiaco meditava...<br />

São homens assim que sofrem e se<br />

tornam solitários nas grutas de Deus<br />

e são construções e monumentos como<br />

o Palácio de Siena que se transformam<br />

em instrumentos da graça, para<br />

conduzir as almas ao Paraíso Celestial.<br />

v<br />

30


Nos silêncios<br />

da noite,<br />

entrecortados<br />

apenas pelo reboar<br />

dos sinos e do<br />

relógio a indicar as<br />

horas, um governante<br />

de Siena passeia<br />

pelas torres do seu<br />

Palácio, meditando<br />

nos grandes serviços<br />

que pode prestar à<br />

Igreja e à salvação<br />

das almas...


ABSOLUTA<br />

MISERICÓRDIA<br />

Em sua justiça infinita, Deus tem razão<br />

de queixa de todos os homens.<br />

Apesar disso, deixou-nos sua Mãe<br />

como nossa própria Mãe, e Maria tem para<br />

conosco todas as ternuras, bondades,<br />

afagos, perdões, as suaves adaptações de<br />

que o amor materno é capaz. Sabendo<br />

que o afeto de Nossa Senhora por nós<br />

é maior que o de todas as mães terrenas<br />

juntas em relação a um filho único,<br />

podemos estar certos de que Ela<br />

nos obterá de Deus o perdão ao qual<br />

não temos direito, a generosidade que<br />

não merecemos, a complacência à<br />

qual não fazemos jus por causa de<br />

nossas misérias.<br />

Por piores e inúmeros que tenham<br />

sido nossos defeitos, se confiarmos<br />

e esperarmos na Virgem Santíssima,<br />

à nossa claudicante fidelidade corresponderá<br />

da parte d’Ela uma absoluta<br />

misericórdia. Pelos méritos<br />

de seu imaculado sorriso junto<br />

a Jesus, Maria nos alcançará a<br />

bem-aventurança eterna.<br />

“A Virgem e<br />

o Menino”,<br />

escola<br />

flamenga<br />

do séc, XVI

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