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“NON<br />
PRAEVALEBUNT”
Estátua de<br />
São Pedro,<br />
na Basílica<br />
do Vaticano<br />
Na gloriosa corrente constituída pela Santíssima<br />
Trindade, Nossa Senhora e o Papado, este<br />
último vem a ser o elo menos vigoroso: porque mais terreno,<br />
mais humano e, em certo sentido, estando envolto por aspectos<br />
que o podem menoscabar.<br />
Costuma-se dizer que o valor de uma corrente se mede exatamente<br />
pelo seu elo mais frágil. Assim, o modo mais excelente<br />
de amarmos essa extraordinária cadeia é oscular o seu<br />
elo menos forte: o Papado. É devotar à Cátedra de Pedro,<br />
em relação à qual esmorecem tantas fidelidades, a nossa fidelidade<br />
inteira!
Sumário<br />
Na capa, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> oscula a<br />
estátua de São Pedro, durante<br />
sua última visita ao Vaticano,<br />
em 1988. As palavras latinas<br />
“Non praevalebunt” se referem<br />
à promessa de Nosso Senhor<br />
ao Príncipe dos Apóstolos:<br />
“As portas do inferno não<br />
prevalecerão contra ela”.<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />
propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />
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Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />
Jornalista Responsável:<br />
Othon Carlos Werner – DRT/SP 7650<br />
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Antonio Rodrigues Ferreira<br />
Marcos Ribeiro Dantas<br />
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4<br />
5<br />
6<br />
10<br />
13<br />
18<br />
23<br />
EDITORIAL<br />
Sublime dinastia<br />
DATAS NA VIDA DE UM CRUZADO<br />
Mudança para o “1º Andar”<br />
ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA<br />
Acima de tudo, o bem das almas<br />
DENÚNCIA PROFÉTICA<br />
Sem amor de Deus, não se alcança a paz<br />
DR. PLINIO COMENTA...<br />
São José e a fecundidade da vida interior<br />
GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />
“Como nasceu e cresceu meu<br />
amor ao Papado”<br />
DONA LUCILIA<br />
Afetuosa compaixão<br />
Preços da assinatura anual<br />
Fevereiro de 2002<br />
Comum . . . . . . . . . . . . . . . R$ 75,00<br />
Colaborador . . . . . . . . . . . R$ 110,00<br />
Propulsor . . . . . . . . . . . . . . R$ 220,00<br />
Grande Propulsor . . . . . . . R$ 370,00<br />
Exemplar avulso . . . . . . . . R$ 8,00<br />
Serviço de Atendimento<br />
ao Assinante<br />
Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />
27<br />
32<br />
36<br />
LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />
Reflexo do senhorio divino<br />
ÚLTIMA PÁGINA<br />
Absoluta misericórdia<br />
3
Editorial<br />
Sublime dinastia<br />
Mocidade vibrante e sadia,<br />
Deixa a inércia em que estás.<br />
Renuncia à inação criminosa.<br />
De pé! de pé!<br />
Deu a voz de comando Pio XI,<br />
Carrilhonam os sinos de bronze,<br />
Descem do alto seus brados de fé.<br />
Assim cantava a plenos pulmões a multidão de jovens<br />
reunidos no “Congresso da Mocidade Católica”,<br />
que se realizava de 9 a 16 de setembro de 1928, na<br />
igreja do mosteiro de São Bento, em São Paulo.<br />
Entre os mais entusiasmados estava um rapaz de<br />
19 anos que pela primeira vez comparecia a um encontro<br />
católico: <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira.<br />
Observando aquelas almas abrasadas de Fé, sentia<br />
que se estava formando um exército espiritual, com<br />
a finalidade de conquistar as almas e a sociedade temporal<br />
para Jesus Cristo. E, ademais, que o chefe dessa<br />
ardente legião não poderia ser outro senão o sucessor<br />
de São Pedro. Naquele tempo era Pio XI. Mas podeira<br />
ser Inocêncio, Gregório ou João Paulo II. Não<br />
importa o nome, é sempre aquele mesmo pescador<br />
da Galiléia, a quem nosso Salvador prometeu: “Tu<br />
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja;<br />
as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te<br />
darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na<br />
terra será ligado nos céus, e tudo o desligares na terra<br />
será desligado nos céus” (Mt. 16, 18-19).<br />
Sublime dinastia, que governa um reino colocado<br />
entre o céu e a terra, única linhagem que tem a garantia<br />
de continuar até o fim do mundo! “O Vigário de<br />
Cristo, supremo, sacrossanto, que manda em todos,<br />
e indica a hora certa do pensamento humano no<br />
relógio infalível de sua mente, que não pode errar,<br />
porque Deus o ampara contra o erro” — comentava<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
Para o jovem <strong>Plinio</strong>, aquele congresso juvenil católico,<br />
celebrado há mais de sete décadas, parecia<br />
ser o início de uma grande reconquista religiosa em<br />
escala mundial, que teria como ponto de partida o entusiasmo<br />
da mocidade católica brasileira. Lamentavelmente,<br />
devido a circunstâncias que um dia os historiadores<br />
esclarecerão, esse pujante movimento não<br />
chegou a realizar a missão que lhe cabia.<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, de sua parte, jamais deixou esmorecer<br />
aquele fervor de outrora pela figura do Santo Padre.<br />
Em seu apostolado, tinha como ponto de honra<br />
transmitir a todos a mesma devoção inquebrantável<br />
por quem é o “doce Cristo na terra”, segundo a expressão<br />
de São Bernardo.<br />
Na passagem da festa da Cátedra de Pedro, celebrada<br />
em 22 de fevereiro, estampamos na seção “Gesta<br />
marial de um varão católico” alguns comentários<br />
de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> sobre o Papado. Aí ele conta como se<br />
desenvolveu o seu ardoroso amor à máxima autoridade<br />
da Santa Igreja.<br />
DECLARAÇÃO: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625<br />
e de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras<br />
ou na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista.Em nossa intenção, os títulos elogiosos não<br />
têm outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
4
DATAS NA VIDA DE UM CRUZADO<br />
Mudança para o “1º Andar”<br />
Pode parecer estranho que uma simples<br />
mudança de residência seja considerada<br />
uma data digna de menção, na vida<br />
tão densa e repleta de episódios sublimes e heróicos<br />
como a de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>. Mas é bem o caso.<br />
Situado no prédio da rua Alagoas nº 350, bairro<br />
de Higienópolis, em São Paulo, esse apartamento<br />
foi testemunha de quatro décadas de atividades,<br />
reflexões, sofrimentos e orações de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />
que para ali se mudou com seus pais no início<br />
de fevereiro de 1952.<br />
Vindo a ser conhecido pelos amigos de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
simplesmente como o “1º Andar”, esse local<br />
ganhou um particular significado. Antes de tudo<br />
por ser a moradia do líder católico, onde tiveram<br />
lugar diversos episódios marcantes de sua existência,<br />
e duas longas convalescenças, a da grave enfermidade<br />
de 1967-1968, e a do desastre rodoviário<br />
de 1975 que o deixou com várias seqüelas. Mas<br />
também porque seu arranjo e decoração constituíam<br />
uma lição prática daquilo que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ensinava<br />
a respeito da importância dos ambientes<br />
para a formação das mentalidades e expressão<br />
de valores e estados de espírito.<br />
Impressionava o misto de harmonia e distinção,<br />
que correspondia — como ele próprio explicava —,<br />
providencial e casualmente, à psicologia da família.<br />
A mobília, as cortinas, os diversos objetos, a<br />
combinação de cores, tudo enfim formava um<br />
conjunto harmônico, reflexo de um modo de ser<br />
profundamente diferente do moderno, sem nada<br />
de anacronismo. Era uma aliança de monumentalidade<br />
com doçura. E neste ponto é de notar a<br />
influência de Dª Lucilia. Com efeito, sua personalidade<br />
sobressaía precisamente por aliar doçura<br />
e bondade a um tipo próprio de nobreza, razão<br />
pela qual — dizia <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> — o “1º Andar” foi<br />
uma moldura ideal para os últimos anos<br />
dela nesta terra.<br />
Alguns aspectos do<br />
“1º Andar”: no alto, a sala<br />
de jantar; acima, à esquerda, vista<br />
de um dos salões; à direita, o escritório<br />
5
ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA<br />
ACIMA DE TUDO,<br />
O BEM DAS ALMAS<br />
6<br />
Instituída por Nosso<br />
Senhor Jesus<br />
Cristo, a Santa<br />
Igreja convida seus<br />
fiéis para a<br />
santificação,<br />
pregando-lhes a<br />
Verdade e<br />
ministrando-lhes os<br />
Sacramentos (Missa<br />
de Crisma, na<br />
Catedral de Notre-<br />
Dame de Paris)
Q ualquer<br />
que<br />
seja a orientação<br />
ou<br />
finalidade das associações<br />
católicas,<br />
o primeiro objetivo<br />
de todas elas deve<br />
ser a santificação<br />
das almas. Esta é<br />
uma idéia expressa<br />
de vários modos por<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ao longo<br />
de toda a sua vida.<br />
Como neste artigo<br />
de 1938.<br />
Líder mariano de grande influência, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> (no centro) nunca esmoreceu no<br />
seu dever de incentivar o próximo nas vias da perfeição cristã<br />
O<br />
Oprimeiro fim de toda e qualquer<br />
associação religiosa é<br />
a santificação de seus membros.<br />
O segundo, deve ser a santificação<br />
do próximo. Aparentemente,<br />
há associações que fogem a esta regra,<br />
como certos sodalícios destinados<br />
diretamente à beneficência, à<br />
distribuição de víveres a indigentes,<br />
à confecção de roupas para pobres,<br />
etc. Há, também, associações que se<br />
destinam a uma finalidade tão especial<br />
que parecem também estar fora<br />
da regra geral que enunciamos. Há,<br />
por exemplo, associações destinadas<br />
a angariar fundos para certas despesas<br />
do culto, como azeite, velas, etc.<br />
Outras se destinam a prover as igre-<br />
jas de paramentos adequados. Outras,<br />
finalmente, cuidam especialmente do<br />
provimento de flores.<br />
É um erro supor que mesmo essas<br />
associações não têm como finalidade<br />
a santificação de seus membros. Em<br />
breve veremos a razão disto.<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu<br />
a Santa Igreja Católica para que<br />
esta pregasse a Verdade e distribuísse<br />
os Sacramentos pelo mundo inteiro<br />
para a santificação dos fiéis e a<br />
conversão dos infiéis. Certamente,<br />
como adverte Leão XIII, a Igreja, na<br />
exuberância de sua ação benfazeja,<br />
pode, freqüentemente, proporcionar<br />
à humanidade até mesmo as vantagens<br />
temporais as mais apreciáveis.<br />
Não é esta, no entanto, a razão de<br />
ser da Igreja. Ela foi instituída para<br />
dar glória a Deus por meio da santificação<br />
de seus membros e da conversão<br />
dos infiéis, chamados por sua<br />
vez, dentro de seu grêmio bendito, a<br />
galgar os degraus luminosos da santidade.<br />
O que se entende aí por “santificação”?<br />
Sem entrar no domínio das altas<br />
cogitações teológicas, digamos simplesmente<br />
que a pessoa atinge a santidade<br />
quando chega à plenitude do<br />
amor de Deus, de que é capaz, e implicitamente<br />
do amor do próximo. Este<br />
amor se traduz na ordem dos fatos pelo<br />
cumprimento pleno dos preceitos e<br />
conselhos do Santo Evangelho.<br />
7
8<br />
ECO FIDELÍSSIMO DA IGREJA
A exemplo das mais veneráveis<br />
associações de caridade, cumpre que<br />
nossos atos de beneficência sejam<br />
movidos por um autêntico e<br />
santificante amor de Deus, visando<br />
sobretudo à salvação das almas<br />
Se, portanto, todos nós fomos chamados<br />
por Deus à Santa Igreja Católica,<br />
foi para nos santificarmos. Mas,<br />
como nossa santificação implica no<br />
amor do próximo por amor de Deus,<br />
devemos fazer bem ao próximo. E como<br />
o maior bem que lhe possamos fazer<br />
é concorrer para a sua santificação,<br />
devemos antes de tudo cuidar de<br />
cooperar com nosso próximo, a fim de<br />
que ele se santifique.<br />
Se o fim da Igreja e de nossa participação<br />
em sua vida sobrenatural é<br />
esse, é obvio que as associações religiosas,<br />
que existem para facilitar a<br />
obra da Igreja, têm o mesmo fim.<br />
Uma associação religiosa só pode,<br />
pois, ter por fim a santificação de<br />
seus membros, e a procura de novos<br />
membros para santificar.<br />
Na raiz da beneficência<br />
deve estar o amor de Deus<br />
E uma associação de mera beneficência?<br />
Uma associação, por exemplo,<br />
na paróquia X, que só cuide da<br />
obtenção de remédios para crianças<br />
indigentes?<br />
A resposta é simples. Tais associações<br />
estão perfeitamente dentro do<br />
espírito da Igreja, mas é preciso que<br />
elas sejam vividas e compreendidas<br />
como a Igreja quer. O amor ao próximo<br />
nos leva a desejar principalmente<br />
sua santificação. Mas “principalmente”<br />
não significa “exclusivamente”.<br />
É muitíssimo louvável e justo que<br />
se procure também confortar o próximo<br />
em seus padecimentos ou dificuldades<br />
materiais, ainda mesmo que<br />
o resultado concreto de nossa ação<br />
seja exclusivamente o de aliviar suas<br />
dores. As associações beneficentes são,<br />
pois, muitíssimo conformes ao espírito<br />
da Igreja.<br />
No entanto, como o católico deve<br />
amar o seu próximo por amor de<br />
Deus, cada ato de amor ao próximo,<br />
feito em tais associações, para ter<br />
seu pleno mérito, deve ser também<br />
um ato de amor a Deus. É precisamente<br />
aí que o ato de beneficência<br />
encontra a inteireza de seu valor sobrenatural.<br />
Por outro lado, todas as ações do<br />
católico devem tender à sua santificação.<br />
Não se compreende, pois, que<br />
um católico desperdice uma ação tão<br />
santa como seja a beneficência, e que<br />
não coloque na sua raiz o amor de<br />
Deus, que o santifica a ele próprio, e<br />
santifica também seus semelhantes.<br />
Um católico que, fazendo bem ao<br />
seu próximo, o faz como faria um<br />
ateu, isto é, o faz como se Deus não<br />
existisse, é uma perfeita aberração.<br />
Por outro lado, cumpre acrescentar<br />
que, sempre que possível, as associações<br />
de mera beneficência material<br />
devem estender seus proveitos à beneficência<br />
espiritual. Em outros termos,<br />
distribuindo remédio e alimento<br />
para o corpo, não devem perder<br />
uma única oportunidade para distribuir<br />
remédio e alimento para a alma.<br />
Abordaremos ainda, mais de perto,<br />
esta última questão. De passagem,<br />
digamos agora somente o seguinte:<br />
se a alma vale mais do que o corpo<br />
(e qual o católico que possa não estar<br />
profundamente convicto disto?),<br />
mais vale curar a moléstia da alma,<br />
que é o pecado, do que a moléstia do<br />
corpo, que é a doença. Portanto, seria<br />
absurdo levar-se um benefício material<br />
a alguém, deixando passar a oportunidade<br />
de um socorro espiritual.<br />
Entenda-se bem o que dizemos<br />
aqui. Não queremos afirmar que todas<br />
as associações de beneficência devem<br />
ter obrigatoriamente o caráter<br />
de associações de apostolado direto<br />
sobre a pessoa beneficiada. Muitas vezes,<br />
é a própria prudência que impõe<br />
o contrário. Não há, porém, um único<br />
católico ou uma única associação<br />
que, podendo promover a salvação<br />
de uma alma, não deva fazê-lo.<br />
(Transcrito do “Legionário”,<br />
nº 309, de 14/8/1938. Título nosso.)<br />
9
DENÚNCIA PROFÉTICA<br />
Somente no grêmio da Santa Igreja,<br />
amando-se mutuamente como filhos<br />
desta Mãe afetuosíssima,<br />
encontrarão os homens a paz por<br />
eles tão almejada<br />
10
Sem amor<br />
a Deus, não<br />
se alcança a paz<br />
Aordem internacional tem<br />
de se basear necessariamente<br />
no amor ao próximo.<br />
Enquanto os povos não se amarem,<br />
não souberem pôr um freio a<br />
suas ambições ilegítimas e suas vaidades<br />
nacionais, não haverá ordem internacional.<br />
E como o amor ao próximo<br />
[é] uma realidade vivaz e profunda,<br />
que brota do amor de Deus;<br />
como não é possível ter verdadeiro<br />
amor de Deus quem não ama a Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo; e como não<br />
pode amar verdadeiramente a Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo quem não está
DENÚNCIA PROFÉTICA<br />
na Igreja Católica, enquanto a Igreja<br />
não for reconhecida como a base do<br />
edifício internacional, a alma das relações<br />
entre os povos e a guardiã de<br />
toda a moral, não poderá haver na esfera<br />
internacional, para os povos, paz<br />
verdadeira.<br />
Em outros termos, ou o mundo se<br />
converte e reproduz fielmente a visão<br />
agostiniana da “Civitas Dei”, em que<br />
cada povo leva o amor de Deus a ponto<br />
de renunciar a tudo quanto lese aos<br />
outros povos; ou pelo contrário, o mundo<br />
será aquela cidade do demônio,<br />
em que todos levam o amor de si mesmos<br />
a ponto de se esquecer de Deus,<br />
de calcar aos pés a moral, e de fazer<br />
da violação dos direitos dos povos<br />
fracos a norma habitual de sua conduta.<br />
De todas as fases em<br />
que se divide a história,<br />
foi sem dúvida a Idade<br />
Média aquela que mais<br />
se aproximou da realização<br />
perfeita de uma<br />
civilização católica. Na<br />
esfera internacional,<br />
o conceito dominante era de “Cristandade”.<br />
Esse conceito político tem<br />
os mais sólidos fundamentos teológicos,<br />
e se baseia na doutrina do Corpo<br />
Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />
no qual nos inserimos por meio<br />
do santo Batismo. Toda a tendência<br />
dos melhores doutrinadores consistia<br />
em reconhecer ao todo homogêneo<br />
formado pelos povos católicos,<br />
um só chefe espiritual, o Papa. Assim,<br />
obedientes a uma só doutrina, a um<br />
só pensamento, aos preceitos de uma<br />
só civilização — a católica — esses<br />
povos estavam sujeitos ao veredictum<br />
paternalmente imparcial de um só<br />
juiz, o Papa.<br />
A pseudo-reforma protestante rompeu<br />
essa maravilhosa unidade, e retirou<br />
da alçada do tribunal internacional<br />
que era o Papado, numerosos<br />
povos. Rompido o elo de subordinação<br />
entre o Pai comum e tantos filhos<br />
rebeldes, evaporou-se das relações internacionais,<br />
de modo completo, o ambiente<br />
de família. E, à ordem cristã<br />
baseada no amor fraterno, se substituiu<br />
uma ordem baseada na desconfiança<br />
e no ódio. Nascer do ódio, significa<br />
nascer do mal, nascer<br />
do pecado, nascer do fracasso.<br />
E, de fato, o pecado, o<br />
fracasso e o mal foram as<br />
três raízes mais profundas<br />
e mais ativas da nova ordem<br />
de coisas.<br />
(Excertos de artigo<br />
publicado no<br />
“Legionário”,<br />
nº 491, 8/2/1942.<br />
Título nosso.)<br />
Nossa Senhora<br />
da Paz,<br />
venerada na<br />
Basílica de<br />
Santa Maria<br />
Maior, em Roma
DR. PLINIO COMENTA...<br />
13
DR. PLINIO COMENTA...<br />
Q<br />
uando alguém se<br />
refere aos grandes<br />
vultos da história,<br />
imediatamente nos vem à<br />
memória a figura de um genial<br />
estadista, de um celebrado<br />
filósofo, de um brilhante<br />
general. Todavia, tudo<br />
isso não é nada em comparação<br />
com a sublimidade<br />
de ter colaborado na realização<br />
da Redenção. Eis a incomparável<br />
vocação de São<br />
José, destacada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />
que no-lo apresenta como<br />
modelo a ser seguido por<br />
todos os católicos.<br />
Aignorância religiosa em que vivemos tem produzido,<br />
entre outros efeitos nocivos, o desvirtuamento<br />
inteiro do significado real de algumas<br />
determinações da Igreja, que, quando mal interpretadas,<br />
são inteiramente estéreis de frutos espirituais, e quando<br />
bem compreendidas, são férteis em graças e proveitos de<br />
toda ordem.<br />
São José, modelo de todas as grandes<br />
virtudes<br />
É o que se dá, por exemplo, em relação ao culto de São<br />
José que, proposto pela Igreja como modelo dos chefes<br />
de família e dos operários, é também, pelo imenso acervo<br />
de virtudes com que foi enriquecido pela graça, modelo<br />
ideal de todas as grandes virtudes católicas.<br />
A maioria dos católicos, porém, não pensa seriamente<br />
em tomar São José como seu modelo. De um lado, a imensa<br />
santidade do pai [jurídico] de Jesus, a quem a Igreja<br />
cultua com a suprema dulia, parece um ideal absolutamente<br />
inatingível. De outro lado, a fraqueza humana de que<br />
nos sentimos repletos, solicitada por toda sorte de inclinações,<br />
nos afasta por tal forma de qualquer ideal espiritual,<br />
que julgamos muito já ter feito quando nos libertamos<br />
do jugo do pecado mortal e venial, e vivemos uma vida<br />
espiritual estacionária, relativamente suave, pois que<br />
se limita à conservação do terreno conquistado, mas inteiramente<br />
estéril para a Igreja e para a maior glória de Deus.<br />
Em busca da perfeição espiritual<br />
A Igreja certamente não pretende que seus filhos igualem<br />
em glória e em virtude aquele que, depois de Maria<br />
Santíssima, foi o mais elevado expoente de virtudes da humanidade.<br />
Por outro lado, porém, ela não quer de modo<br />
algum que limitemos nossos horizontes espirituais a uma<br />
vida piedosa banal, amesquinhada pela errônea ilusão de<br />
que seria falta de humildade aspirar-se à santidade que<br />
brilhou no gênio de São Tomás, na combatividade de Santo<br />
Inácio, no recolhimento de Santa Teresa e na caridade<br />
de São Francisco.<br />
A Igreja desmascara esta falsa humildade, apontando<br />
nela, ou um pretexto especioso da covardia espiritual, ou<br />
uma concepção orgulhosa da virtude, considerada mais<br />
14
como fruto do esforço humano do que da misericórdia<br />
de Deus. E, ao mesmo tempo, ela se serve do exemplo de<br />
seus grandes santos para “levantar ao alto” nossos corações,<br />
indicando-nos que a única preocupação real desta<br />
vida, o único problema verdadeiramente importante de<br />
nossa existência, é a aquisição daquela perfeição espiritual<br />
que será o único patrimônio que conservaremos, a<br />
despeito das crises financeiras, das comoções sociais e da<br />
fragilidade das coisas humanas, para, finalmente, transpormos<br />
com ele os próprios umbrais da eternidade.<br />
É disto exemplo frisante o grande São José.<br />
Nascido de família ilustre, arrasta, no entanto, uma existência<br />
obscura que, contrastando com o brilho de seu nome,<br />
o colocou na mais baixa camada da sociedade de seu<br />
tempo. Escasseiam-lhe os dotes naturais com que os homens<br />
se fazem grandes. Não dispõe de exércitos nem de<br />
súditos, que levem ao longe a glória de seu nome. Não<br />
dispõe do dinheiro com que galgar às altas posições. Vive<br />
humilde e desprezado, à sombra do Templo majestoso, e<br />
no próprio país em que reinara a sabedoria de Salomão.<br />
No entanto, brilha nele a chama da caridade. Um intenso<br />
amor de Deus, uma espiritualidade e uma vida interior<br />
admiráveis fazem de sua alma objeto da complacência<br />
da Santíssima Trindade, e este homem humilde é chamado<br />
a co-participar de modo direto em acontecimentos<br />
dos quais decorreriam os mais notáveis fatos da história<br />
do mundo.<br />
A Religião católica, coluna da civilização<br />
A Redenção do mundo, que é o fato central de toda a<br />
nossa história, determinou a queda do paganismo, o aparecimento<br />
e o triunfo da Igreja Católica, a implantação<br />
de uma civilização baseada em concepções inteiramente<br />
novas da família, do Estado, do indivíduo<br />
e da Religião, que foram os fatos<br />
iniciais e a causa do grande progresso<br />
que hoje admiramos.<br />
A família pagã, transformada e sobrenaturalizada<br />
pelo contato com os<br />
Sacramentos da Igreja, transformouse<br />
em foco admirável de perfeição espiritual<br />
e em escola austera da disciplina<br />
dos instintos inferiores.<br />
O Estado pagão, transformado em<br />
sua base pelo Catolicismo, deixou de<br />
ser privilégio de plutocratas ou demagogos,<br />
para ser antes de tudo um admirável<br />
meio de distribuição eqüitativa<br />
da justiça e proteção a todos os<br />
indivíduos.<br />
Assim como São José,<br />
o caridoso São<br />
Francisco é proposto<br />
pela Igreja como<br />
exemplo de quem<br />
soube cultivar de modo<br />
pleno e fecundo<br />
a vida interior<br />
15
DR. PLINIO COMENTA...<br />
O indivíduo, que no paganismo era presa de suas paixões,<br />
viu abrir-se diante de si o admirável ideal de perfeição<br />
espiritual pregado pelo Homem-Deus; e o homem<br />
medieval, descendente dos sibaritas da Antiguidade, se<br />
transformou no cruzado, no asceta ou no filósofo cristão.<br />
A Religião, enfim, conseguiu trazer ao mundo, com seus<br />
Sacramentos, com a graça de que é veículo, e com o admirável<br />
apostolado hierárquico da Igreja, uma continuidade<br />
de ação santificadora que tem sido a coluna da civilização.<br />
Todos esses acontecimentos gloriosos tiveram sua origem<br />
na Redenção. São José, pela admirável correspondência<br />
à graça com que se distinguiu, colaborou de modo<br />
eminente no plano divino da Redenção. E, como tal, é<br />
merecedor de grande parcela da glória que, legitimamente,<br />
cabe ao Divino Salvador, pela imensidade de benefícios<br />
com que nos cumulou.<br />
Inestimável valor de uma vida espiritual<br />
intensa<br />
Vemos, pois, a admirável fecundidade de uma vida que<br />
todas as circunstâncias naturais tendiam a tornar estéril.<br />
Vemos a prodigiosa capacidade de ação da santidade<br />
que, no recolhimento e na humildade, colaborou diretamente<br />
em acontecimentos muito mais importantes e teve<br />
uma participação incalculavelmente mais notável em toda<br />
a história da humanidade do que Alexandre com seus<br />
exércitos, Kant com seu saber arrogante, ou Maquiavel<br />
com sua diplomacia astuta e amoral.<br />
Vida interior, portanto. Vida interior intensa, constante,<br />
ilimitadamente ambiciosa, no sentido espiritual da palavra,<br />
eis a grande lição que (o exemplo) de São José nos<br />
deixa.<br />
Intimamente unidos a Nossa Senhora como o foi São<br />
José, não nos deve desanimar, ante a grandeza dessa<br />
lição, a escassez de nossas forças, pois que devemos exclamar<br />
como encorajamento: Omnia possum in eo qui me<br />
confortat — Tudo posso n’Aquele que me conforta.<br />
(Transcrito do “Legionário”, nº 116, de 26/3/1933.<br />
Título e subtítulos nossos.)
Da Redenção brotaram<br />
frutos admiráveis para a<br />
humanidade, como a<br />
sobrenaturalização da<br />
instituição familiar e a<br />
transformação do indivíduo<br />
pagão no cavaleiro católico, uma<br />
das glórias da Idade Média<br />
(Passo da Semana Santa, Sevilha;<br />
concha de espelho em marfim, do séc. XIII,<br />
com cena de uma família da época;<br />
estátua eqüestre de<br />
Ricardo Coração de Leão, Londres)<br />
17
GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO
“Como nasceu e<br />
cresceu meu amor<br />
ao Papado”
GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />
E<br />
ram famosas aquelas "palavrinhas", no vasto círculo de amigos de<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>. Assim eram chamadas as conversas curtas e informais<br />
com pequenos grupos de jovens, cujo principal interesse era ouvir a<br />
narração de episódios da vida desse varão. Constituíam excelentes ocasiões<br />
para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> cultivar nas almas de seus ouvintes a boa doutrina. Sendo um<br />
de seus temas favoritos o amor ao Papado, certa ocasião ele contou o que<br />
segue.<br />
Oambiente em que fui educado<br />
era o de uma família<br />
tradicional nos primórdios<br />
do século XX, muito antigo portanto,<br />
no qual ocorriam grandes discussões<br />
entre duas espécies de pessoas:<br />
de um lado, os católicos convictos;<br />
de outro, alguns que se diziam ateus.<br />
Eram controvérsias calorosas, verdadeiras<br />
batalhas intelectuais, embora se<br />
mantivesse sempre um fundo de cordialidade.<br />
Quer dizer, sem desaforos<br />
nem desrespeitos. Uma vez termina-<br />
do o entrechoque, voltava-se à boa<br />
paz. Mas eram batalhas!<br />
Uma consideração de<br />
menino: o Papa, supremo<br />
e sacrossanto<br />
Cresci, portanto, num meio em que<br />
esses problemas de fé, Igreja e correlatos<br />
faziam parte de minha formação<br />
espiritual, despertando em mim<br />
um interesse pela Religião Católica<br />
e uma adesão a ela sempre maiores.<br />
O vínculo que se criou com o catolicismo<br />
estreitava-se ainda mais quando,<br />
nessas discussões, sobressaía a figura<br />
maravilhosa da máxima<br />
autoridade na Igreja, o Papa.<br />
Ele, o Vigário de Cris-
O menino <strong>Plinio</strong> se<br />
encantava ao pensar no<br />
Papa, como sendo<br />
aquele que aponta no<br />
relógio infalível da mente<br />
a hora certa para o<br />
pensamento humano<br />
(na página anterior, detalhe da fachada<br />
do Vaticano; ao lado, Pio XI, o Papa<br />
do tempo em que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> era jovem)<br />
to, supremo, sacrossanto, que manda<br />
em todos e indica a hora certa do<br />
pensamento humano no relógio infalível<br />
de sua mente, que não pode<br />
errar, porque Deus o ampara contra<br />
o erro. Eu achava essa posição o supra-sumo<br />
do magnífico e do bem-ordenado.<br />
Quando fiquei um pouco mais velho,<br />
a essa simpatia se juntou uma adesão<br />
mais racional, consciente e profunda<br />
que a do menino. Compreendi<br />
o quanto estou sujeito a erros, de modo<br />
que, sozinho, não posso encontrar<br />
o caminho certo. Ora, eu queria encontrar<br />
esse caminho verdadeiro, desejava<br />
acertar meu passo, custasse o<br />
que custasse.<br />
Como me haver nessa situação?<br />
Ou haveria um guia infalível, apoiado<br />
por Deus, para me conduzir; ou,<br />
se não existisse esse guia infalível, todos<br />
os homens seríamos cegos guiando<br />
outros cegos. Esse guia infalível é<br />
o Papa. Era preciso, portanto, alimentar<br />
uma confiança inteira nele, ou cair<br />
na completa descrença e no achincalhe<br />
de tudo, como infelizmente acontece<br />
com muitas pessoas pelo mundo,<br />
vivendo ao léu, cegos em campo<br />
raso, sem saberem para onde vão, o<br />
que querem e o que pensam. Andam<br />
como tontos.<br />
A linha reta para chegar<br />
ao Céu<br />
E daí compreendi que a peça-chave<br />
de toda a ordem humana e a linha<br />
reta para chegar ao Céu estava no<br />
Papado. Então, entusiasmo sem limites<br />
pelo Papado! E pelo dom que<br />
Deus deu aos homens, quando Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo fundou a instituição<br />
pontifícia, no momento em<br />
que perguntou aos seus Apóstolos<br />
quem achavam ser Ele, Pedro respondeu:<br />
“Vós sois Cristo, o Filho de<br />
Deus vivo”. Ouvindo isso, Nosso Senhor<br />
teve as célebres e soleníssimas<br />
palavras: “Pedro, tu és pedra, e sobre<br />
esta pedra edificarei a minha Igreja;<br />
e as portas do inferno — quer dizer,<br />
o poder de Satanás — não prevalecerão<br />
contra ela”. Jamais a vencerão.<br />
Tudo isso eu achava, e acho, o supra-sumo<br />
da história dos homens e<br />
das almas. E quero, quando chegar o<br />
momento de minha morte, mais do<br />
que nunca em minha vida, estar persuadido<br />
dessa verdade.<br />
Um pouco mais velho ainda, compreendi<br />
outro importante princípio:<br />
se devemos reconhecer no Papa o poder<br />
que Nosso Senhor Jesus Cristo<br />
lhe outorgou, não devemos ver nele<br />
nem um poder maior nem, sobretudo,<br />
menor do que aquele dado por<br />
Jesus. Cumpre aceitarmos e venerarmos<br />
o Papado como Nosso Senhor o<br />
fez. Não podemos modelar um Papado<br />
segundo nossa cabeça, mas entender<br />
que a instituição fundada pelo<br />
Divino Salvador é excelente, porque<br />
Ele é infalível no sentido pleno<br />
da palavra. Homem-Deus, incapaz<br />
de errar, perfeito em tudo quanto fi-<br />
21
GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO<br />
zesse. Estaremos seguros, apoiados<br />
na autoridade de Deus.<br />
De tudo isso, repito, me vem uma<br />
tão grande admiração pelo Papado,<br />
um tamanho entusiasmo, que eu quase<br />
diria uma adoração, se não refreasse<br />
a tempo a palavra em meus lábios.<br />
Exemplos da grandeza<br />
do papado<br />
É um amor sem limites, uma veneração<br />
por aquela grandeza pontifícia<br />
que eu próprio vi em alguns fatos<br />
históricos do passado.<br />
Por exemplo, no tempo de Pio XI<br />
o nazismo e o comunismo estavam<br />
no auge de seu poder e ameaçavam,<br />
um ou outro, tomar conta da Europa.<br />
Como? Mediriam forças numa<br />
guerra, e aquele que saísse vitorioso<br />
dominava o continente europeu. Percebendo<br />
o perigo, Pio XI publicou<br />
duas encíclicas sucessivas: a primeira,<br />
condenando o comunismo, com<br />
uma energia única e extraordinária;<br />
no dia seguinte, outra encíclica condenando<br />
o nazismo. Enfrentou os dois<br />
poderes de peito aberto, reduzindoos<br />
ao silêncio. Sem soldados, sem tropas,<br />
sem canhões, sem bombas de gás<br />
asfixiante, o Papa os combateu e emudeceu.<br />
Para mim, um gesto grandioso!<br />
Recordo-me de outro belo episódio<br />
em que reluziram a coragem e a<br />
sabedoria pontifícias. Desta feita, com<br />
o Papa Pio XII, que pronunciou um<br />
discurso no qual fez uma distinção<br />
famosa entre povo e massa. Tão luminosa,<br />
tão acertada, que pode ser<br />
considerada uma das coisas mais inteligentes<br />
que tenha produzido o pensamento<br />
humano.<br />
Um conselheiro do Papa, o Pe. Leiber<br />
(com quem mantive muito boas<br />
relações), contou-me que, após a publicação<br />
desse discurso, Pio XII recebeu<br />
calorosas felicitações e agradecimentos<br />
do Presidente Roosevelt,<br />
dos Estados Unidos. Este desejava<br />
externar seu reconhecimento — note-se,<br />
um protestante — por aquelas<br />
palavras que lhe serviriam para orientar<br />
o próprio governo norte-americano!<br />
Esta é a grandeza do Papado, diante<br />
da qual se vergam até as maiores<br />
potências da terra.<br />
v<br />
Em outro exemplo da grandeza<br />
pontifícia, o chefe da maior<br />
potência do mundo inclinou-se<br />
diante do Papa Pio XII,<br />
reconhecendo a a sabedoria<br />
do Vigário de Cristo<br />
22
DONA LUCILIA<br />
Dª Lucilia<br />
com o seu<br />
bisneto<br />
Afetuosa compaixão<br />
23
DONA LUCILIA<br />
Ainfluência de Dª Lucilia foi tão grande na formação<br />
da mentalidade de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, que não é<br />
possível compreender inteiramente a história<br />
dele sem conhecer a dela. Vemo-la aqui na década de<br />
1930, época em que seu filho já era líder católico de projeção<br />
nacional.<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ( à esquerda) recebe o Almirante Yamamoto<br />
(à direita), em visita à sede do “Legionário”<br />
Em sua infatigável solicitude materna,<br />
Dª Lucilia tinha especial empenho<br />
em acompanhar de tão perto<br />
quanto lhe fosse possível as atividades apostólicas<br />
de seu querido filho. Este, após ter<br />
assumido a direção do “Legionário”, o foi<br />
progressivamente ampliando e nele passou<br />
a abordar temas de envergadura e profundidade<br />
cada vez maiores. Em pouco tempo,<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> o transformou de pequena folhinha<br />
quinzenal de paróquia em prestigioso<br />
semanário, com repercussão internacional,<br />
e órgão oficioso da importante arquidiocese<br />
paulistana. De tal forma isso se deu que<br />
era ponto de honra para as maiores personalidades<br />
do mundo católico, de passagem por<br />
São Paulo, fazerem uma visita ao jornal.<br />
Em 1938 esteve na capital paulista o famoso<br />
almirante Yamamoto, veterano de muitas<br />
batalhas nos ignotos e longínquos mares do<br />
Extremo Oriente e líder católico de destaque<br />
no Japão (¹).<br />
Logo ao chegar a São Paulo, procurou entrar<br />
em contato com <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> e o “Legionário”.<br />
A fim de lhe retribuir a amabilidade da<br />
visita, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> convidou-o para jantar em<br />
sua casa, certo de que Dª Lucilia teria muito<br />
gosto em recebê-lo. Manifestou ela o desejo<br />
de ter também como comensal sua filha,<br />
Dª Rosée, cuja conversa brilhante e ligeira<br />
só poderia concorrer para interessar a todos<br />
os presentes.<br />
Descendente de samurais — uma das categorias<br />
da nobreza do Império do Sol Nascente<br />
— homem deveras fino e de grande<br />
cultura, o almirante possuía todo um conjunto<br />
de qualidades que contribuíam para lhe<br />
conferir uma personalidade peculiar, pro-<br />
24
fundamente marcada pela nota católica, porém muito diversa<br />
dos estilos ocidentais.<br />
Fazendo-se acompanhar de uma alta personalidade do<br />
corpo consular nipônico em São Paulo, o insigne convidado<br />
compareceu com pontualidade militar à casa de Dª<br />
Lucilia, que o acolheu com a amabilidade característica<br />
das damas da antiga sociedade paulista.<br />
A conversa, continuamente em francês, desenrolou-se de<br />
modo espontâneo em torno de recordações religiosas, militares<br />
e sociais do ilustre visitante. Tendo ele participado de<br />
inúmeras ações navais, não foi difícil levá-lo a contar alguns<br />
dos feitos que a justo título o cobriram de glória. Bastou tocar<br />
no assunto para seu enigmático olhar amendoado se<br />
acender, por detrás de uma impassível expressão fisionômica.<br />
— Ah! batalhas! São uma coisa muito bonita!<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> perguntou amavelmente:<br />
— Mas, almirante, o senhor participou de vários combates<br />
navais, não é?<br />
— Sim, inúmeros.<br />
— Não o cansaria descrever o episódio culminante, mais<br />
bonito, mais arriscado, das guerras de que o senhor participou?<br />
— propôs <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
O almirante sentiu-se à vontade, ao comprovar o real interesse<br />
de seu anfitrião, tanto mais que se tinha entregado<br />
de corpo e alma à profissão da guerra e nela sabia ver o<br />
lado grandioso.<br />
— Pois não, professor, com muito gosto — respondeu.<br />
No seu entusiasmo pelo combate, o visitante talvez não<br />
se tenha dado conta de não penderem os gostos e preferências<br />
de Dª Lucilia especialmente para este lado. Ela,<br />
que consentiria na imolação de seu próprio filho numa luta<br />
em defesa da Santa Igreja, não podia deixar de se condoer<br />
pela sorte de tantos infelizes, mortos numa guerra<br />
terrível, destituída de significado religioso. Um certo suspense<br />
tomou conta dos circunstantes, mas como a conversa<br />
era feita para agradar ao visitante, ninguém o interrompeu,<br />
prosseguindo ele seu relato:<br />
Foi na batalha de Tsushima, durante a Guerra Russo-<br />
Japonesa, em 1905, em que pusemos a pique o grande<br />
couraçado russo Tsarevich.<br />
— Mas como se deu isso? — perguntou <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
— Ah! O senhor não imagina, que maravilha!<br />
O couraçado, um dos mais bem equipados<br />
do mundo, orgulho da marinha de seu<br />
país, era o navio-almirante da frota que<br />
combatíamos. Foi uma batalha terrível,<br />
com dezenas de navios afundados...<br />
A fisionomia de Dª Lucilia ia-se tornando<br />
cada vez mais séria e consternada ao ouvir<br />
O drama do “Tsarevich”,<br />
posto a pique pelos<br />
japoneses na batalha de<br />
Tsushima, enche Dª Lucilia<br />
de consternação e piedade,<br />
pensando na desdita dos<br />
pobres marinheiros russos
DONA LUCILIA<br />
aquelas palavras. O almirante Yamamoto, sem atinar com<br />
a reação dela, prosseguiu calma e alegremente:<br />
— Aquele enorme couraçado passou bem diante do<br />
navio que eu comandava, em posição tal que não podíamos<br />
perder a oportunidade... Nossos tiros foram certeiros!<br />
Depois de o bombardearmos, emborcou de tal modo<br />
que a popa afundou e a proa ficou no ar. Vimo-lo quase<br />
inteiramente na vertical.<br />
Dª Lucilia acompanhava a narração passo a passo, compadecida<br />
com o terrível sofrimento daqueles pobres marinheiros<br />
que iriam ser tragados pelas profundezas dos mares.<br />
Chegando a esse ponto, perguntou ela, penalizada:<br />
— E como foi, então?<br />
Entusiasmado continuou o almirante:<br />
— Minha senhora, afundou completa e diretamente!<br />
— Ahhh! — exclamou Dª Lucilia, com ligeiro sobressalto.<br />
Embora o tema agradasse sobremaneira ao heróico<br />
combatente, ainda mais seu fogo se acendeu quando <strong>Dr</strong>.<br />
<strong>Plinio</strong> conduziu a conversa para abordar certas questões<br />
doutrinárias, na época muito controvertidas. Quem o<br />
haveria de dizer? O valente cabo-de-guerra se pôs então<br />
de pé, enrubescido, e começou a falar alto. Bem entendido,<br />
seus interlocutores o deixaram discorrer à vontade,<br />
até que, aquietado, passou espontaneamente para outro<br />
tema. Terminado o jantar, Yamamoto se despediu com<br />
cortesia de Dª Lucilia, levando para sua distante terra<br />
natal a recordação daquela afável senhora.<br />
Anos mais tarde, ao ter notícia de sua morte, Dª Lucilia<br />
ficou muito entristecida e rezou fervorosamente por<br />
seu eterno descanso, pois não era só o Japão que perdia<br />
um guerreiro de valor, mas era sobretudo a Igreja que via<br />
suas fileiras desfalcadas de um destemido militante.<br />
Afetuoso artifício<br />
Se Dª Lucilia se condoía tanto das vítimas de uma guerra<br />
longínqua, muito mais se compadecia daqueles que lhe<br />
eram chegados. Embora essas qualidades nela reluzissem<br />
discreta mas possantemente, todos os afetos de seu coração<br />
sempre se mantiveram subordinados a uma constante elevação<br />
de espírito e amor de Deus, fonte das virtudes que<br />
praticava.<br />
O modo como tratava um de seus parentes afastados,<br />
que tivera a infelicidade de ficar cego ainda menino, em virtude<br />
de uma imperícia médica, é um exemplo desses predicados.<br />
O fato de ser ele ateu inveterado levava Dª Lucilia<br />
a ter ainda mais pena do infeliz. Por isso não poupava oportunidade<br />
de lhe fazer algum bem, com a intenção de tocar<br />
sua alma. Com freqüência o recebia para almoçar ou jantar,<br />
e nessas circunstâncias o entretinha horas inteiras. Ato de<br />
<strong>Dr</strong>. João Paulo, que auxiliava Dª Lucilia em seus atos<br />
de caridade para com o parente cego<br />
caridade do qual também participavam <strong>Dr</strong>. João Paulo e<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
Sabendo ter esse seu parente muito bom apetite, e conhecendo<br />
seu comedimento, Dª Lucilia combinou com a<br />
empregada: quando lhe fizesse sinal, deveria aproximarse<br />
com a travessa e, sem ele perceber, servir-lhe um pouco<br />
mais. Ora, ele tinha o hábito de correr o garfo pela periferia<br />
do prato e depois por toda a sua superfície, à procura<br />
dos alimentos. De repente, quando julgava já estar<br />
no fim, encontrava — com evidente comprazimento —<br />
outra porção de comida!<br />
Dª Lucilia assim procedeu até a extrema velhice desse<br />
parente, não apenas satisfazendo os gostos gastronômicos<br />
dele, como também dispondo-se à prosa que mais lhe<br />
agradasse. Era a solicitude levada ao último ponto.<br />
(Transcrito, com adaptações, da obra<br />
“Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)<br />
1) Estêvão Shinjiro Yamamoto nasceu em 1878. Aos 17 anos<br />
foi batizado na Religião Católica. Combateu na Guerra<br />
Russo-Japonesa e na Primeira Grande Guerra. Como líder<br />
católico, promoveu a divulgação da literatura e do movimento<br />
de jovens católicos. Não se deve confundi-lo com<br />
outro almirante Yamamoto, comandante das Forças Combinadas<br />
japonesas na Segunda Guerra Mundial.<br />
26
LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />
R eflexo do<br />
senhorio<br />
divino<br />
Palácio<br />
Público de<br />
Siena, Itália<br />
27
LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />
Recolhido<br />
R<br />
nas grandiosas e<br />
abençoadas solidões de Subiaco,<br />
São Bento idealizou<br />
a Civilização Cristã que, pouco depois,<br />
começaria a ser edificada em solo europeu.<br />
Para o santo Patriarca, era preciso<br />
que houvesse uma vida religiosa<br />
no ápice de toda a existência humana,<br />
seguida pela vida temporal dos homens<br />
que se entregam às meras atividades<br />
terrenas. Porém, era igualmente<br />
necessário, por vontade de Deus,<br />
que esses homens tivessem um alto<br />
pensamento, uma alta mentalidade e<br />
elevados anseios, a fim de engendrarem<br />
uma sociedade temporal toda<br />
marcada por aquela sociedade espiritual.<br />
Uma bela manifestação deste ideal<br />
encontra-se na praça e no Palácio Público<br />
de Siena, na Itália. Ali se notam<br />
esplendores que nasceram com São<br />
Bento e com a obra beneditina no retiro<br />
de Subiaco. Sobretudo em determinados<br />
momentos em que a praça<br />
se acha praticamente vazia, tem-se a<br />
impressão de que toda a história do<br />
lugar conseguiu fugir do século atual<br />
e voltar, reconfortada, para as centúrias<br />
em que não tinha em torno de<br />
si a não ser suas próprias maravilhas<br />
e homens cheios de fé.<br />
Num cenário bastante bonito, o palácio<br />
se ergue como um rei, dominador,<br />
pronto para governar as outras<br />
casas. Dir-se-ia que, através de seu<br />
relógio, ele possui um olhar com o<br />
qual supervisiona os acontecimentos<br />
ao seu redor. É um olhar ordenador,<br />
de quem conhece a situação própria<br />
de cada coisa se o bem que há no fato<br />
de elas estarem em seus respectivos<br />
lugares, cobrando-lhes, pelo mesmo<br />
olhar, a permanência delas nas suas<br />
posições.<br />
Este o palácio, esplêndido e digno,<br />
amplo, confortável, severo e forte,<br />
que não depende a não ser de si para<br />
dirigir, e que exerce esta função tão<br />
parecida com a de Deus: governar<br />
os homens. O poder que se aloja<br />
ali, embora temporal, é exercido<br />
em nome de Deus, e representa<br />
eminentemente o domínio divino<br />
sobre a humanidade.<br />
É um poder que não se exprime<br />
com a leveza e o esplendor<br />
das coisas sobrenaturais,<br />
como por exemplo,<br />
numa linda catedral<br />
gótica, as ogivas<br />
elegantes e os vitrais<br />
paradisíacos.<br />
Não, a natureza<br />
é mais pesada<br />
28
que a graça. Ela nasce do chão, santa e<br />
legitimamente, mas é do solo que ela<br />
vem. A graça desce do Céu. Elas se<br />
encontram e se osculam: a natureza,<br />
serva, beija os pés da graça, a senhora.<br />
Contudo, os dirigentes e os súditos<br />
do tempo em que o Palácio Público<br />
de Siena foi construído, estavam<br />
profundamente compenetrados da<br />
idéia de que, quem governa, mesmo<br />
na ordem temporal, o faz por desígnio<br />
de Deus. E que, para corresponder<br />
de modo perfeito a essa disposição<br />
divina, o governante deve, não raras<br />
29
LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />
No interior do Palácio, tetos e arcos que convidam ao recolhimento<br />
vezes, demonstrar a sua força persuasiva<br />
natural, equivalente ao dom de<br />
mover as almas que tem a graça. Daí,<br />
um ligeiro ar de fortificação, uma certa<br />
aparência de quartel no Palácio Público,<br />
em cujos porões poderiam caber<br />
alguns cárceres, os quais, entretanto,<br />
não comprometem o conjunto de majestade<br />
desse edifício. Pormenor curioso,<br />
os dois torreões levantados nos<br />
ângulos do corpo central parecem braços<br />
e mãos erguidos ao Céu, pedindo<br />
a ajuda de Deus para o exercício de<br />
mando das coisas temporais...<br />
Assim, por trás da magnífica temporalidade<br />
desse palácio, brilha a missão<br />
de velar sobre a Igreja para protegê-la,<br />
para favorecer a expansão dos<br />
missionários por toda a terra, para facilitar<br />
aos sacerdotes católicos a livre<br />
pregação da palavra de Deus.<br />
O Estado tem, portanto, essa missão<br />
muito mais elevada que a de governar<br />
os homens: a de favorecer a<br />
Igreja. Este lado altíssimo do poder estatal<br />
é muito bem representado pela<br />
torre do palácio. Esta se alça nos ares,<br />
sobe e sobe, como quem diz: “Vós,<br />
olhando para o lado terreno das coisas,<br />
tendes toda a minha figura temporal.<br />
Vede como ela é bela! Mas vós<br />
não vistes nada. Vós não conheceis<br />
minha missão divina. Olhai!”<br />
O interior do Palácio acompanha<br />
sua grandeza e esplendor externos. Salas<br />
cobertas de pinturas de extremo<br />
valor. Em Subiaco abriam-se as vastidões<br />
que têm como cúpula o próprio<br />
céu, e que alimentaram as reflexões<br />
de São Bento. Nesse palácio há tetos<br />
e arcos que convidam ao recolhimento<br />
do espaço pequeno, onde o homem<br />
pode também meditar nas coisas de<br />
Deus.<br />
E então somos levados a imaginar<br />
um governante dessa Siena medieval,<br />
passeando pelas salas, terraços e torres<br />
do seu palácio. Um espírito ponderado<br />
e pensativo, cuidando da magnitude<br />
de seu poder temporal, das<br />
grandes responsabilidades e dos grandes<br />
serviços que pode prestar à salvação<br />
das almas, para o bem dos homens<br />
e, sobretudo, para o da Igreja.<br />
Enquanto toda a cidade dorme, e apenas<br />
se ouve, de tempos em tempos,<br />
um tilintar dos relógios e um eco dos<br />
sinos a indicarem as horas que correm,<br />
ele está lá em cima, sozinho, rezando<br />
e pensando, pensando e rezando, como<br />
São Bento em Subiaco meditava...<br />
São homens assim que sofrem e se<br />
tornam solitários nas grutas de Deus<br />
e são construções e monumentos como<br />
o Palácio de Siena que se transformam<br />
em instrumentos da graça, para<br />
conduzir as almas ao Paraíso Celestial.<br />
v<br />
30
Nos silêncios<br />
da noite,<br />
entrecortados<br />
apenas pelo reboar<br />
dos sinos e do<br />
relógio a indicar as<br />
horas, um governante<br />
de Siena passeia<br />
pelas torres do seu<br />
Palácio, meditando<br />
nos grandes serviços<br />
que pode prestar à<br />
Igreja e à salvação<br />
das almas...
ABSOLUTA<br />
MISERICÓRDIA<br />
Em sua justiça infinita, Deus tem razão<br />
de queixa de todos os homens.<br />
Apesar disso, deixou-nos sua Mãe<br />
como nossa própria Mãe, e Maria tem para<br />
conosco todas as ternuras, bondades,<br />
afagos, perdões, as suaves adaptações de<br />
que o amor materno é capaz. Sabendo<br />
que o afeto de Nossa Senhora por nós<br />
é maior que o de todas as mães terrenas<br />
juntas em relação a um filho único,<br />
podemos estar certos de que Ela<br />
nos obterá de Deus o perdão ao qual<br />
não temos direito, a generosidade que<br />
não merecemos, a complacência à<br />
qual não fazemos jus por causa de<br />
nossas misérias.<br />
Por piores e inúmeros que tenham<br />
sido nossos defeitos, se confiarmos<br />
e esperarmos na Virgem Santíssima,<br />
à nossa claudicante fidelidade corresponderá<br />
da parte d’Ela uma absoluta<br />
misericórdia. Pelos méritos<br />
de seu imaculado sorriso junto<br />
a Jesus, Maria nos alcançará a<br />
bem-aventurança eterna.<br />
“A Virgem e<br />
o Menino”,<br />
escola<br />
flamenga<br />
do séc, XVI