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“Tem dado mais do que cana”<br />
Se no início recolher a palha<br />
era só mais uma oportunidade<br />
de ganho para o produtor<br />
de cana de açúcar, após<br />
anos de prejuízos, está sendo<br />
“a oportunidade de ganho”,<br />
segundo Luiz Carlos Dalben,<br />
da Dalplan Engenharia<br />
e Planejamento. “A palha<br />
tem dado bons resultados<br />
nos últimos tempos. Ganhamos<br />
mais com a palha do que<br />
com a cana”, afirmou.<br />
Com a experiência de quem<br />
já trabalha há 11 anos em<br />
parceria com a Usina Zilor<br />
(SP) na cogeração de energia<br />
e há dois anos com o recolhimento<br />
e aproveitamento da<br />
palha para produzir energia,<br />
disse que as dificuldades encontradas<br />
no início, com o<br />
recolhimento e transporte da<br />
palha, hoje são possíveis de<br />
serem superadas. Em 2014, a<br />
usina trabalhou 324 dias produzindo<br />
energia, complementando<br />
com palha e madeira.<br />
Produtor e fornecedor de<br />
cana, com 8 mil hectares de<br />
Luiz Carlos Dalben fala de sua experiência com o recolhimento do resíduo<br />
para cogerar energia, em parceria com usina paulista<br />
cana em Lençóis Paulista<br />
(SP), Luiz Carlos tem 4.200<br />
hectares fertirrigados e em<br />
80% adota a colheita mecanizada,<br />
produzindo 500 mil<br />
toneladas. A usina fica a uma<br />
distância média de 17 km.<br />
O produtor lembrou que há<br />
mais de 90 produtos que<br />
podem ser tirados da cana e<br />
que até recentemente, só dois<br />
terços - o açúcar e as fibras/<br />
bagaço - vinham sendo aproveitados,<br />
jogando-se fora o<br />
outro terço - folhas e ponteiro.<br />
Atualmente produz<br />
uma média de 12 a 15 toneladas<br />
de palha por hectare e<br />
recolhe cinco a oito toneladas<br />
com 13% de umidade e de<br />
3% a 4% de impureza mineral,<br />
ficando o restante como<br />
cobertura do solo. “Quanto<br />
mais úmido, maior o nível de<br />
impureza e pior a qualidade.<br />
Por entregarmos um produto<br />
melhor, recebemos um preço<br />
diferenciado”, assinalou.<br />
Testes com equipamentos<br />
O pré chopper recolhe, tritura e enfarda<br />
Enfrentando uma realidade<br />
não muito diferente do <strong>Paraná</strong>,<br />
especialmente em relação<br />
ao clima, citou o produtor,<br />
passou pelos mesmos<br />
problemas com a colheita de<br />
cana crua, já que a palha<br />
muda a biologia do canavial.<br />
Com o recolhimento de parte<br />
da palha, controla a temperatura<br />
do solo e deixa matéria<br />
orgânica, sem problemas<br />
com a brotação da soqueira,<br />
pragas, plantas daninhas<br />
ou dificuldade de tratos<br />
culturais. “Colher cana<br />
crua parece difícil a princípio,<br />
mas depois, não quer outra<br />
coisa, além de reduzir custos”,<br />
disse.<br />
As operações de campo são<br />
aleiramento, enfardamento,<br />
carregamento, transportes e<br />
realeiramento, que ajuda no<br />
controle de pragas como a cigarrinha<br />
e o esfenoforos.<br />
“Retirar parte e virar a palha<br />
de um lado para outro ajuda<br />
a controlar. É uma operação<br />
barata, simples e que funciona”,<br />
comentou, ressaltando<br />
que o uso de GPS e piloto<br />
automático no enleiramento<br />
evita o pisoteio da cana.<br />
“Na falta destes, tem que esperar<br />
a cana brotar para marcar<br />
as linhas das ruas”, acrescentou.<br />
Custos variam<br />
Depois de testar todos os<br />
equipamentos do mercado,<br />
Luiz Carlos Dalben atestou<br />
que nenhuma enleiradeira<br />
existente foi feita para trabalhar<br />
a palha de cana, mas<br />
para enleirar feno. “Tivemos<br />
que fazer uma série de adaptações<br />
nos maquinários para<br />
resolver os problemas causados,<br />
assim como a adequação<br />
da bitola, para não passar<br />
em cima da soqueira”.<br />
Diante da necessidade de<br />
triturar bem a palha, experimentou<br />
dois sistemas: recolhe<br />
do jeito que sai da colhedora,<br />
enfarda e a usina<br />
tritura para misturar com o<br />
bagaço; ou tritura na propriedade<br />
com o uso de um<br />
pré chopper, equipamento<br />
que recolhe, tritura e enfarda.<br />
O segundo tem a vantagem<br />
de formar fardos mais<br />
pesados - 500 kg contra 400<br />
kg do não triturado - podendo<br />
subir para 600 kg se tiver<br />
prensa também. Mas demanda<br />
trator de maior potência<br />
e gasta mais diesel.<br />
“Tem que fazer conta dentro<br />
da logística da usina e ver<br />
o que funciona melhor”,<br />
disse, citando que fez teste<br />
até de levar a palha para a<br />
indústria junto com a cana,<br />
mas a carga cai pela metade<br />
e dobra a demanda pela<br />
frota canavieira. “Tem que<br />
ter uma logística muito boa<br />
para compensar”, concluiu.<br />
O produtor usa pentaminhão<br />
nas estradas internas,<br />
carregando até 45 toneladas<br />
de palha.<br />
Luiz Carlos teve que reaprender<br />
a sistematizar e manejar<br />
o canavial, estabelecendo<br />
como ideal o espaçamento<br />
de 1,50 m por 40 cm,<br />
que evita o pisoteio da cana.<br />
Tirou todos os terraços adotando<br />
um sistema diferenciado,<br />
que favorece a colheita<br />
mecânica e que não causa<br />
erosão. “Em uma chuva de<br />
110 milímetros que tivemos<br />
em 40 minutos, onde havia<br />
terraço, estourou e onde<br />
tinha sido adotado o sistema,<br />
não ocorreu nada”,<br />
contou.<br />
Cada usina tem o seu<br />
custo para fazer a tonelada<br />
de palha chegar à indústria.<br />
Varia de R$ 75 a<br />
R$ 105, dependendo da<br />
logística e operações realizadas,<br />
segundo Luiz<br />
Carlos Dalben. “Nosso<br />
custo é de R$ 80 a tonelada<br />
de palha colocada na<br />
indústria sem triturar.<br />
Triturada varia de R$ 100<br />
a R$ 105 reais”, disse. A<br />
remuneração da palha<br />
não se baseia no preço da<br />
energia. É o custo de produção,<br />
mais uma margem<br />
para poder trabalhar,<br />
acrescentou.<br />
O produtor começou a<br />
plantar também com um<br />
pouco de cana energia<br />
para teste, 80 hectares, fazendo<br />
uma seleção dos<br />
mais produtivos entre 60<br />
materiais com 30% a 35%<br />
de fibra. “Queremos sair<br />
na frente. Esta é a primeira<br />
safra que vão moer.<br />
Deve iniciar e finalizar a<br />
safra com essa cana e produzir<br />
etanol”, afirmou.<br />
É uma cana rústica, que<br />
aceita melhor o pisoteio,<br />
ideal para áreas com ambiente<br />
e topografia menos<br />
favoráveis. “A tendência é<br />
que utilize mais o bagaço<br />
para a produção de etanol<br />
de segunda geração e a<br />
palha para cogerar energia”,<br />
finalizou.<br />
<strong>Novembro</strong> <strong>2015</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong><br />
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