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Jornal Paraná Novembro 2015

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“Tem dado mais do que cana”<br />

Se no início recolher a palha<br />

era só mais uma oportunidade<br />

de ganho para o produtor<br />

de cana de açúcar, após<br />

anos de prejuízos, está sendo<br />

“a oportunidade de ganho”,<br />

segundo Luiz Carlos Dalben,<br />

da Dalplan Engenharia<br />

e Planejamento. “A palha<br />

tem dado bons resultados<br />

nos últimos tempos. Ganhamos<br />

mais com a palha do que<br />

com a cana”, afirmou.<br />

Com a experiência de quem<br />

já trabalha há 11 anos em<br />

parceria com a Usina Zilor<br />

(SP) na cogeração de energia<br />

e há dois anos com o recolhimento<br />

e aproveitamento da<br />

palha para produzir energia,<br />

disse que as dificuldades encontradas<br />

no início, com o<br />

recolhimento e transporte da<br />

palha, hoje são possíveis de<br />

serem superadas. Em 2014, a<br />

usina trabalhou 324 dias produzindo<br />

energia, complementando<br />

com palha e madeira.<br />

Produtor e fornecedor de<br />

cana, com 8 mil hectares de<br />

Luiz Carlos Dalben fala de sua experiência com o recolhimento do resíduo<br />

para cogerar energia, em parceria com usina paulista<br />

cana em Lençóis Paulista<br />

(SP), Luiz Carlos tem 4.200<br />

hectares fertirrigados e em<br />

80% adota a colheita mecanizada,<br />

produzindo 500 mil<br />

toneladas. A usina fica a uma<br />

distância média de 17 km.<br />

O produtor lembrou que há<br />

mais de 90 produtos que<br />

podem ser tirados da cana e<br />

que até recentemente, só dois<br />

terços - o açúcar e as fibras/<br />

bagaço - vinham sendo aproveitados,<br />

jogando-se fora o<br />

outro terço - folhas e ponteiro.<br />

Atualmente produz<br />

uma média de 12 a 15 toneladas<br />

de palha por hectare e<br />

recolhe cinco a oito toneladas<br />

com 13% de umidade e de<br />

3% a 4% de impureza mineral,<br />

ficando o restante como<br />

cobertura do solo. “Quanto<br />

mais úmido, maior o nível de<br />

impureza e pior a qualidade.<br />

Por entregarmos um produto<br />

melhor, recebemos um preço<br />

diferenciado”, assinalou.<br />

Testes com equipamentos<br />

O pré chopper recolhe, tritura e enfarda<br />

Enfrentando uma realidade<br />

não muito diferente do <strong>Paraná</strong>,<br />

especialmente em relação<br />

ao clima, citou o produtor,<br />

passou pelos mesmos<br />

problemas com a colheita de<br />

cana crua, já que a palha<br />

muda a biologia do canavial.<br />

Com o recolhimento de parte<br />

da palha, controla a temperatura<br />

do solo e deixa matéria<br />

orgânica, sem problemas<br />

com a brotação da soqueira,<br />

pragas, plantas daninhas<br />

ou dificuldade de tratos<br />

culturais. “Colher cana<br />

crua parece difícil a princípio,<br />

mas depois, não quer outra<br />

coisa, além de reduzir custos”,<br />

disse.<br />

As operações de campo são<br />

aleiramento, enfardamento,<br />

carregamento, transportes e<br />

realeiramento, que ajuda no<br />

controle de pragas como a cigarrinha<br />

e o esfenoforos.<br />

“Retirar parte e virar a palha<br />

de um lado para outro ajuda<br />

a controlar. É uma operação<br />

barata, simples e que funciona”,<br />

comentou, ressaltando<br />

que o uso de GPS e piloto<br />

automático no enleiramento<br />

evita o pisoteio da cana.<br />

“Na falta destes, tem que esperar<br />

a cana brotar para marcar<br />

as linhas das ruas”, acrescentou.<br />

Custos variam<br />

Depois de testar todos os<br />

equipamentos do mercado,<br />

Luiz Carlos Dalben atestou<br />

que nenhuma enleiradeira<br />

existente foi feita para trabalhar<br />

a palha de cana, mas<br />

para enleirar feno. “Tivemos<br />

que fazer uma série de adaptações<br />

nos maquinários para<br />

resolver os problemas causados,<br />

assim como a adequação<br />

da bitola, para não passar<br />

em cima da soqueira”.<br />

Diante da necessidade de<br />

triturar bem a palha, experimentou<br />

dois sistemas: recolhe<br />

do jeito que sai da colhedora,<br />

enfarda e a usina<br />

tritura para misturar com o<br />

bagaço; ou tritura na propriedade<br />

com o uso de um<br />

pré chopper, equipamento<br />

que recolhe, tritura e enfarda.<br />

O segundo tem a vantagem<br />

de formar fardos mais<br />

pesados - 500 kg contra 400<br />

kg do não triturado - podendo<br />

subir para 600 kg se tiver<br />

prensa também. Mas demanda<br />

trator de maior potência<br />

e gasta mais diesel.<br />

“Tem que fazer conta dentro<br />

da logística da usina e ver<br />

o que funciona melhor”,<br />

disse, citando que fez teste<br />

até de levar a palha para a<br />

indústria junto com a cana,<br />

mas a carga cai pela metade<br />

e dobra a demanda pela<br />

frota canavieira. “Tem que<br />

ter uma logística muito boa<br />

para compensar”, concluiu.<br />

O produtor usa pentaminhão<br />

nas estradas internas,<br />

carregando até 45 toneladas<br />

de palha.<br />

Luiz Carlos teve que reaprender<br />

a sistematizar e manejar<br />

o canavial, estabelecendo<br />

como ideal o espaçamento<br />

de 1,50 m por 40 cm,<br />

que evita o pisoteio da cana.<br />

Tirou todos os terraços adotando<br />

um sistema diferenciado,<br />

que favorece a colheita<br />

mecânica e que não causa<br />

erosão. “Em uma chuva de<br />

110 milímetros que tivemos<br />

em 40 minutos, onde havia<br />

terraço, estourou e onde<br />

tinha sido adotado o sistema,<br />

não ocorreu nada”,<br />

contou.<br />

Cada usina tem o seu<br />

custo para fazer a tonelada<br />

de palha chegar à indústria.<br />

Varia de R$ 75 a<br />

R$ 105, dependendo da<br />

logística e operações realizadas,<br />

segundo Luiz<br />

Carlos Dalben. “Nosso<br />

custo é de R$ 80 a tonelada<br />

de palha colocada na<br />

indústria sem triturar.<br />

Triturada varia de R$ 100<br />

a R$ 105 reais”, disse. A<br />

remuneração da palha<br />

não se baseia no preço da<br />

energia. É o custo de produção,<br />

mais uma margem<br />

para poder trabalhar,<br />

acrescentou.<br />

O produtor começou a<br />

plantar também com um<br />

pouco de cana energia<br />

para teste, 80 hectares, fazendo<br />

uma seleção dos<br />

mais produtivos entre 60<br />

materiais com 30% a 35%<br />

de fibra. “Queremos sair<br />

na frente. Esta é a primeira<br />

safra que vão moer.<br />

Deve iniciar e finalizar a<br />

safra com essa cana e produzir<br />

etanol”, afirmou.<br />

É uma cana rústica, que<br />

aceita melhor o pisoteio,<br />

ideal para áreas com ambiente<br />

e topografia menos<br />

favoráveis. “A tendência é<br />

que utilize mais o bagaço<br />

para a produção de etanol<br />

de segunda geração e a<br />

palha para cogerar energia”,<br />

finalizou.<br />

<strong>Novembro</strong> <strong>2015</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong><br />

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