Jornal Paraná Outubro 2016
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OPINIÃO<br />
Momento de retomada, mas sem euforia<br />
Usinas devem voltar a renovar os canaviais com orientação técnica<br />
e espera-se uma redução dos custos e ganhos de produtividade<br />
CELSO JUNQUEIRA<br />
FRANCO (*)<br />
Longe, bem longe da<br />
sociedade e política<br />
perfeitas idealizadas<br />
por Thomas More no<br />
livro "Utopia", o Brasil vive um<br />
momento de retomada. A duras<br />
penas, o país tem conseguido<br />
sobreviver a uma crise<br />
política e econômica. O novo<br />
governo tem a difícil missão,<br />
para não dizer quase impossível,<br />
de equilibrar as contas<br />
em apenas dois anos. Mas,<br />
paralelo a isso, há uma tendência<br />
de recuperação do investimento<br />
para 2017, mas<br />
tudo ainda muito discreto.<br />
Diante desse cenário, o setor<br />
bioenergético passa por<br />
um momento de retomada da<br />
capacidade econômica, com<br />
custos alinhados aos preços<br />
de mercado. Mas os gestores<br />
das unidades produtoras de<br />
açúcar, etanol e bioeletricidade<br />
estão com os dois pés<br />
bem fincados no chão. Nada<br />
de euforia! Boa parte das empresas<br />
do setor diz que existe<br />
sim a condição de recuperar<br />
parte do que foi perdido durante<br />
a pior crise que o segmento<br />
já enfrentou.<br />
Agora, muitas usinas devem<br />
voltar a renovar os canaviais<br />
com orientação técnica<br />
e, com isso, espera-se<br />
uma redução dos custos e<br />
ganhos de produtividade. A<br />
meta antiga e, desta<br />
vez acessível, é<br />
uma produção de<br />
90 a 100 toneladas<br />
de cana por<br />
hectare. A incorporação<br />
de novas tecnologias,<br />
tão almejadas<br />
como solução<br />
para alguns<br />
gargalos e, muitas<br />
vezes, inacessível<br />
pelo alto investimento<br />
demandado<br />
durante a crise, pode se tornar<br />
realidade em algumas<br />
empresas.<br />
Só que esse momento de<br />
retomada, infelizmente, não é<br />
para todas as usinas. Cada<br />
uma vive uma situação diferente.<br />
Algumas não têm condições<br />
de viabilizar sua recuperação<br />
técnica, pois devido<br />
ao alto endividamento, dificilmente<br />
terão acesso ao crédito.<br />
A grande maioria vai<br />
fazer a lição de casa: recuperar<br />
os canaviais, reduzir os<br />
custos, incorporar tecnologia,<br />
aprimorar os equipamentos<br />
que ficaram sem manutenção<br />
por falta de recursos, mas,<br />
tudo isso sem incrementar a<br />
capacidade de produção de<br />
forma significativa.<br />
E é justamente aí que mora<br />
um problema: o novo governo<br />
assumiu o compromisso<br />
da COP 21 de produzir<br />
em torno de 50 bilhões de litros<br />
de etanol por ano a partir<br />
de 2021 e, apesar do novo<br />
O setor precisa construir junto<br />
ao governo um ambiente para<br />
que as questões energéticas<br />
possam ser definidas de forma<br />
a viabilizar os interesses do<br />
Brasil e os compromissos<br />
internacionais.<br />
fôlego, o setor não<br />
consegue ver no horizonte<br />
as condições<br />
para que essa<br />
meta possa ser<br />
atingida. Estamos<br />
bem distantes disso.<br />
Pode ser que daqui<br />
a 10 anos não<br />
tenhamos um volume<br />
de produção de<br />
álcool (anidro) suficiente<br />
para misturar na gasolina e<br />
ainda para ter o álcool hidratado<br />
como combustível. Aí,<br />
podemos ter outro problema<br />
na frente. É importante entender<br />
que a solução econômica<br />
para as empresas, por conta<br />
de um cenário mais favorável<br />
ao mercado, levará a um problema<br />
no futuro, caso o Governo<br />
Federal continue omisso<br />
em relação à definição de<br />
política pública de longo prazo<br />
para o setor de energia.<br />
Para isso, o setor precisa<br />
construir junto ao governo<br />
um ambiente para que as<br />
questões energéticas possam<br />
ser definidas de forma a viabilizar<br />
os interesses do Brasil,<br />
inclusive os compromissos<br />
internacionais. É necessária<br />
uma condução articulada entre<br />
governo brasileiro e setor<br />
produtivo, para definir o papel<br />
do biocombustível na matriz<br />
energética e incentivar o aumento<br />
da oferta diante do<br />
crescimento da demanda.<br />
Essa é a prioridade agora e,<br />
como Presidente reeleito da<br />
UDOP, convido a todos a participarem<br />
do debate "Sem políticas<br />
de Estado o setor é<br />
capaz de cumprir as metas da<br />
COP21?" no 9º Congresso<br />
Nacional da Bioenergia, que<br />
será realizado nos dias 9 e 10<br />
de novembro.<br />
Na ocasião, renomados especialistas<br />
do setor, como<br />
Amaury Eduardo Pekelman -<br />
Vice-Presidente de Relações<br />
Institucionais da Odebrecht<br />
Agroindustrial; André Rocha<br />
- Presidente do Fórum Nacional<br />
Sucroenergético; Arnaldo<br />
Jardim - Secretário de Agricultura<br />
do Estado de São<br />
Paulo; Aurélio César Nogueira<br />
Amaral - Diretor da<br />
ANP; Eduardo Vasconcellos<br />
Romão - Presidente da Orplana;<br />
Luiz Carlos Corrêa<br />
Carvalho - Presidente da<br />
ABAG; Marcos Fava Neves -<br />
Professor Titular da FEA/<br />
USP-RP; Pedro Mizutani -<br />
Presidente do Conselho da<br />
Unica e Vice-presidente de<br />
Relações Externas da Raízen<br />
e Plínio Nastari - Presidente<br />
da Datagro vão debater como<br />
os nossos pleitos podem ser<br />
encaminhados aos poderes<br />
constituídos. Em especial, a<br />
pauta do etanol. Mas tudo<br />
isso sem euforia.<br />
(*) Celso Junqueira<br />
Franco é presidente<br />
da UDOP.<br />
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<strong>Outubro</strong> <strong>2016</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>