28.10.2016 Views

Jornal Paraná Outubro 2016

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

OPINIÃO<br />

Momento de retomada, mas sem euforia<br />

Usinas devem voltar a renovar os canaviais com orientação técnica<br />

e espera-se uma redução dos custos e ganhos de produtividade<br />

CELSO JUNQUEIRA<br />

FRANCO (*)<br />

Longe, bem longe da<br />

sociedade e política<br />

perfeitas idealizadas<br />

por Thomas More no<br />

livro "Utopia", o Brasil vive um<br />

momento de retomada. A duras<br />

penas, o país tem conseguido<br />

sobreviver a uma crise<br />

política e econômica. O novo<br />

governo tem a difícil missão,<br />

para não dizer quase impossível,<br />

de equilibrar as contas<br />

em apenas dois anos. Mas,<br />

paralelo a isso, há uma tendência<br />

de recuperação do investimento<br />

para 2017, mas<br />

tudo ainda muito discreto.<br />

Diante desse cenário, o setor<br />

bioenergético passa por<br />

um momento de retomada da<br />

capacidade econômica, com<br />

custos alinhados aos preços<br />

de mercado. Mas os gestores<br />

das unidades produtoras de<br />

açúcar, etanol e bioeletricidade<br />

estão com os dois pés<br />

bem fincados no chão. Nada<br />

de euforia! Boa parte das empresas<br />

do setor diz que existe<br />

sim a condição de recuperar<br />

parte do que foi perdido durante<br />

a pior crise que o segmento<br />

já enfrentou.<br />

Agora, muitas usinas devem<br />

voltar a renovar os canaviais<br />

com orientação técnica<br />

e, com isso, espera-se<br />

uma redução dos custos e<br />

ganhos de produtividade. A<br />

meta antiga e, desta<br />

vez acessível, é<br />

uma produção de<br />

90 a 100 toneladas<br />

de cana por<br />

hectare. A incorporação<br />

de novas tecnologias,<br />

tão almejadas<br />

como solução<br />

para alguns<br />

gargalos e, muitas<br />

vezes, inacessível<br />

pelo alto investimento<br />

demandado<br />

durante a crise, pode se tornar<br />

realidade em algumas<br />

empresas.<br />

Só que esse momento de<br />

retomada, infelizmente, não é<br />

para todas as usinas. Cada<br />

uma vive uma situação diferente.<br />

Algumas não têm condições<br />

de viabilizar sua recuperação<br />

técnica, pois devido<br />

ao alto endividamento, dificilmente<br />

terão acesso ao crédito.<br />

A grande maioria vai<br />

fazer a lição de casa: recuperar<br />

os canaviais, reduzir os<br />

custos, incorporar tecnologia,<br />

aprimorar os equipamentos<br />

que ficaram sem manutenção<br />

por falta de recursos, mas,<br />

tudo isso sem incrementar a<br />

capacidade de produção de<br />

forma significativa.<br />

E é justamente aí que mora<br />

um problema: o novo governo<br />

assumiu o compromisso<br />

da COP 21 de produzir<br />

em torno de 50 bilhões de litros<br />

de etanol por ano a partir<br />

de 2021 e, apesar do novo<br />

O setor precisa construir junto<br />

ao governo um ambiente para<br />

que as questões energéticas<br />

possam ser definidas de forma<br />

a viabilizar os interesses do<br />

Brasil e os compromissos<br />

internacionais.<br />

fôlego, o setor não<br />

consegue ver no horizonte<br />

as condições<br />

para que essa<br />

meta possa ser<br />

atingida. Estamos<br />

bem distantes disso.<br />

Pode ser que daqui<br />

a 10 anos não<br />

tenhamos um volume<br />

de produção de<br />

álcool (anidro) suficiente<br />

para misturar na gasolina e<br />

ainda para ter o álcool hidratado<br />

como combustível. Aí,<br />

podemos ter outro problema<br />

na frente. É importante entender<br />

que a solução econômica<br />

para as empresas, por conta<br />

de um cenário mais favorável<br />

ao mercado, levará a um problema<br />

no futuro, caso o Governo<br />

Federal continue omisso<br />

em relação à definição de<br />

política pública de longo prazo<br />

para o setor de energia.<br />

Para isso, o setor precisa<br />

construir junto ao governo<br />

um ambiente para que as<br />

questões energéticas possam<br />

ser definidas de forma a viabilizar<br />

os interesses do Brasil,<br />

inclusive os compromissos<br />

internacionais. É necessária<br />

uma condução articulada entre<br />

governo brasileiro e setor<br />

produtivo, para definir o papel<br />

do biocombustível na matriz<br />

energética e incentivar o aumento<br />

da oferta diante do<br />

crescimento da demanda.<br />

Essa é a prioridade agora e,<br />

como Presidente reeleito da<br />

UDOP, convido a todos a participarem<br />

do debate "Sem políticas<br />

de Estado o setor é<br />

capaz de cumprir as metas da<br />

COP21?" no 9º Congresso<br />

Nacional da Bioenergia, que<br />

será realizado nos dias 9 e 10<br />

de novembro.<br />

Na ocasião, renomados especialistas<br />

do setor, como<br />

Amaury Eduardo Pekelman -<br />

Vice-Presidente de Relações<br />

Institucionais da Odebrecht<br />

Agroindustrial; André Rocha<br />

- Presidente do Fórum Nacional<br />

Sucroenergético; Arnaldo<br />

Jardim - Secretário de Agricultura<br />

do Estado de São<br />

Paulo; Aurélio César Nogueira<br />

Amaral - Diretor da<br />

ANP; Eduardo Vasconcellos<br />

Romão - Presidente da Orplana;<br />

Luiz Carlos Corrêa<br />

Carvalho - Presidente da<br />

ABAG; Marcos Fava Neves -<br />

Professor Titular da FEA/<br />

USP-RP; Pedro Mizutani -<br />

Presidente do Conselho da<br />

Unica e Vice-presidente de<br />

Relações Externas da Raízen<br />

e Plínio Nastari - Presidente<br />

da Datagro vão debater como<br />

os nossos pleitos podem ser<br />

encaminhados aos poderes<br />

constituídos. Em especial, a<br />

pauta do etanol. Mas tudo<br />

isso sem euforia.<br />

(*) Celso Junqueira<br />

Franco é presidente<br />

da UDOP.<br />

2<br />

<strong>Outubro</strong> <strong>2016</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!