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Infarto agu<strong>do</strong> <strong>do</strong> miocárdio<br />
“aos coleciona<strong>do</strong>res de miocárdios:<br />
cuida<strong>do</strong>!<br />
não queiram o meu<br />
pouca valia tem.”<br />
Lu´z Ribeiro<br />
Cheguei às dezenove horas para o plantão, havia treze pacientes na observação <strong>do</strong> pronto-socorro<br />
entre leitos monitoriza<strong>do</strong>s e macas espalhadas nos corre<strong>do</strong>res. Não era muito compara<strong>do</strong> aos dias<br />
mais trabalhosos.<br />
Terminamos a passagem de plantão quase às dezenove e trinta.<br />
Assumi a triagem. Trinta e três pessoas esperan<strong>do</strong> atendimento. Algumas com <strong>do</strong>enças graves que<br />
precisariam de intervenção médica imediata, outras com problemas agu<strong>do</strong>s, que consideramos auto–<br />
limita<strong>do</strong>s porque se resolveriam sem nenhum tratamento, mas que podem ser abranda<strong>do</strong>s por<br />
analgésicos e outros sintomáticos, as que já foram a muitas portas e estão fazen<strong>do</strong> mais uma tentativa<br />
porque não tiveram suas queixas resolvidas, porta<strong>do</strong>ras de <strong>do</strong>enças crônicas que não conseguiram<br />
renovar suas receitas e vão tentar a sorte, outras que demandavam atesta<strong>do</strong>s por que acordaram<br />
sentin<strong>do</strong> mal estar e não conseguiram nem ir trabalhar.<br />
Já sei como é o expediente comum. Quan<strong>do</strong> começo a atender ouço: até que enfim, é por isso que<br />
a gente paga nossos impostos, precisa morrer para ser atendi<strong>do</strong> aqui. Respiro fun<strong>do</strong>. Vou à porta<br />
chamo o primeiro paciente. Nesse momento ao menos dez me pedem para que eu os atenda antes, que<br />
o caso é só ver um exame, ou que mora longe, ou que está com <strong>do</strong>r. Eu enten<strong>do</strong> o sofrimento de to<strong>do</strong>s<br />
ali. Realmente, quem quer estar numa espera de atendimento <strong>médico</strong> com desconforto? Mas digo com<br />
serenidade: "o seu problema é importante e você precisa cuidar dele, mas eu preciso cuidar de seu<br />
problema e de todas as outras pessoas que estão esperan<strong>do</strong>, não prefiro um ou outro, vou atender na<br />
sequencia". Mantra.<br />
Tento fazer triagem mais objetiva possível principalmente para fazer cumprir a missão <strong>do</strong> prontosocorro,<br />
o próprio nome diz: prestar socorro imediato a pessoas com risco iminente de vida.<br />
Por volta das vinte e três e trinta, eu me preparava para fazer uma pausa, ir ao banheiro, bexiga<br />
cheia. Já tinha atendi<strong>do</strong> muita gente! Toque. Toque. Toque–toque. Abre a porta uma mulher jovem,<br />
agitada, menos de trinta anos.<br />
– Meu mari<strong>do</strong> está morren<strong>do</strong>. Dor forte no peito. Gritan<strong>do</strong>. Ataque cardíaco.<br />
– Boa noite. Calma. Que horas começou?<br />
– Nem meia hora. Corremos logo pra cá.<br />
– Quantos anos ele tem?<br />
– Trinta.<br />
– Ele tem alguma <strong>do</strong>ença? Diabetes? Pressão alta? Fuma? Pai ou mãe morreram <strong>do</strong> coração? Está