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Claro Enigma - Carlos Drummond de Andrade

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E, pois, todo nos perdoando,<br />

por <strong>de</strong>ntro te regalavas<br />

<strong>de</strong> ter filhos assim… Puxa,<br />

gran<strong>de</strong>ssíssimos safados,<br />

me saíram bem melhor<br />

que as encomendas. De resto,<br />

filho <strong>de</strong> peixe… Calavas,<br />

com agudo sobrecenho<br />

interrogavas em ti<br />

uma lembrança saudosa<br />

e não <strong>de</strong> todo remota<br />

e rindo por <strong>de</strong>ntro e vendo<br />

que lançaras uma ponte<br />

dos passos loucos do avô<br />

à incontinência dos netos,<br />

sabendo que toda carne<br />

aspira à <strong>de</strong>gradação,<br />

mas numa via <strong>de</strong> fogo<br />

e sob um arco sexual,<br />

tossias. Hem, hem, meninos,<br />

não sejam bobos. Meninos?<br />

Uns marmanjos cinquentões,<br />

calvos, vividos, usados,<br />

mas resguardando no peito<br />

essa alvura <strong>de</strong> garoto,<br />

essa fuga para o mato,<br />

essa gula <strong>de</strong>fendida<br />

e o <strong>de</strong>sejo muito simples<br />

<strong>de</strong> pedir à mãe que cosa,<br />

mais do que nossa camisa,<br />

nossa alma frouxa, rasgada…<br />

Ai, gran<strong>de</strong> jantar mineiro<br />

que seria esse… Comíamos,<br />

e comer abria fome,<br />

e comida era pretexto.<br />

E nem mesmo precisávamos<br />

ter apetite, que as coisas<br />

<strong>de</strong>ixavam-se espostejar,<br />

e amanhã é que eram elas.<br />

Nunca <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhe o tutu.<br />

Vá lá mais um torresminho.

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