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REBOSTEIO 5

Revista REBOSTEIO DIGITAL número cinco - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.

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explicitam como algo imoral,<br />

indecoroso. A sodomia<br />

assim considerada, como<br />

abjeta, sórdida e de extrema<br />

libertinagem, seria um<br />

desvio dos veados apenas.<br />

Dessa maneira, a única<br />

pessoa atingida em sua<br />

decência é o próprio Giro.<br />

E, de fato, transparece nas<br />

palavras dele o quanto se<br />

sente vítima de preconceito:<br />

“... todo mundo tem raiva<br />

de mim”. Ele sabe que só<br />

é aceito pelo grupo social<br />

de que participa devido ao<br />

dinheiro que possui. Para<br />

além disso, é desprezado como homem e desprezível<br />

como “bundeiro”, uma bicha que sente e proporciona<br />

prazeres pela fenda proibida.<br />

Dá-se a entender que as prostitutas, ao se resguardarem<br />

da sodomia, sentem-se ilesas. Suas práticas sexuais as<br />

identificam como mulheres, mulheres que vendem seus<br />

corpos, mas não os vendem por inteiro e, por isso, não se<br />

corrompem. São trabalhadoras que praticam o sexo como<br />

forma de sobrevivência. São prostitutas que, ao sublimarem<br />

seus ânus, permanecem intactas moralmente. Dilma<br />

sintetiza a questão, quando afirma: “Sou mulher da vida,<br />

mas tenho moral.”<br />

Outro tabu bem demarcado é o do lesbianismo. Entre as<br />

prostitutas não existe amizade. Amizade entre prostitutas<br />

é sinal de excesso de intimidade. Putas são, no máximo,<br />

companheiras e a regra de ouro dessa camaradagem é o<br />

silêncio. Elas nunca entregam os podres umas das outras.<br />

A alcaguetagem (delação) é o pior marca que pode existir<br />

na personalidade de uma prostituta e, por extensão, de<br />

qualquer pessoa que viva na contravenção e na criminalidade.<br />

Marcante no tabu do amor sáfico é a o uso de termos<br />

depreciativos: greluda,<br />

roçadeira. A primeira<br />

explosão de raiva e<br />

consequente ameaça de<br />

Giro contra Célia ocorre<br />

exatamente quando ela,<br />

unindo os dois termos,<br />

potencializando a expressão,<br />

xinga a mãe dele<br />

de “roçadeira greluda”.<br />

Aqui se percebe agregado<br />

um novo tabu, a família,<br />

que deve se manter nos<br />

ditames da tradição e<br />

sempre ser preservada do<br />

submundo. Giro, embora<br />

deseje ser aceito como é,<br />

sente-se desgraçado em<br />

sua condição de homossexual,<br />

mas não permite<br />

nem que lhe sugiram que<br />

sua mãe também fosse<br />

homossexual. Algo parecido ocorre com Dilma: embora<br />

descontente como prostituta, assume esse papel; preserva-se,<br />

no entanto, na figura de uma boa mãe, pois trabalha<br />

na devassidão com o objetivo de dar uma vida melhor<br />

ao seu filho, ainda bebê; mas o seu maior temor é de que<br />

o filho do mesmo modo entre no futuro para a prostituição,<br />

siga a profissão da mãe e, pior ainda, transforme-se<br />

num homossexual.<br />

Plínio Marcos, nos tópicos abordados neste breve ensaio,<br />

demonstra conhecer a fundo a matéria de sua expressão<br />

artística. O que o faz, no entanto, um bom artista não<br />

é esse conhecimento pontual. É a utilização, com alto<br />

teor estético, desse conhecimento em sua dramaturgia<br />

que o põe como figura destacada na literatura dramática<br />

brasileira. O mínimo que se pode afirmar acerca de Plínio<br />

Marcos em “O abajur lilás” é que ele é dono de um texto<br />

bem escrito, bem escrito nas linhas e nas entrelinhas.<br />

Esse mínimo basta.<br />

Sítio oficial de Plínio Marcos<br />

http://www.pliniomarcos.com<br />

fotos colhidas no site.<br />

HENRIQUE PIMENTA<br />

Poeta, professor de Português e Literatura, mantém<br />

o blog Bar do Bardo com seus textos mais recentes e<br />

escreve todos os sábados na Revista Semana On-Line<br />

sobre arte e cultura. Participou do número zero da<br />

Rebosteio - Revista Digital, com alguns dos sonetos<br />

que compõem o seu pocket pornô<br />

“99 sonetos sacanas e 1 canção de<br />

amor”.<br />

blog: dobardo.blogspot.com.br<br />

revista:<br />

semanaonline.com.br/semanaonline.php?edicao=59#page=1<br />

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