REBOSTEIO 5
Revista REBOSTEIO DIGITAL número cinco - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
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EDUARDO MARINHO tornou-se nacionalmente<br />
conhecido quando seu<br />
vídeo/depoimento alcançou o status<br />
de viral na internet.<br />
Postado em 2009 e já com aproximadamente<br />
350 mil visualizações,<br />
este vídeo traz a sua visão de mundo,<br />
da sociedade, da cultura e da arte.<br />
Ele não esquiva de tocar nos pontos<br />
nevrálgicos de uma sociedade consumista<br />
e apática.<br />
Sua opção de vida e a defesa de sua<br />
arte nos fez procurá-lo para esta edição<br />
da Rebosteio, abrindo a revista<br />
com uma entrevista exclusiva.<br />
Observar & Absorver<br />
Rebosteio: Eduardo, sabemos que você é “filho da classe<br />
média”, com um futuro mais ou menos estável naquilo<br />
que sonhavam ou “impunham” seus pais. Poderia<br />
nos descrever brevemente como se deu essa passagem<br />
e por que optou por viver e trabalhar no que podemos<br />
chamar de “marginalidade”, no sentido de “à margem”<br />
do sistema capitalista?<br />
E.M: Sou filho da humanidade. Os pais apenas reproduzem,<br />
na maioria das vezes, as imposições da sociedade<br />
condicionada em valores, comportamentos e visões de<br />
mundo. Não houve uma passagem rápida, foi um processo<br />
longo, a meu ver, que durou dos anos da adolescência<br />
até o princípio da juventude. Um tempo de angústia e<br />
solidão, em que não encontrava com quem conversar<br />
abertamente, os assuntos que me interessavam eram<br />
repelidos, meus sentimentos eram só meus, as dúvidas<br />
com relação à sociedade, a dura percepção de que minha<br />
família vivia ilusões, de que o que me fora ensinado<br />
estava cheio de buracos, não fazia sentido. Na faculdade,<br />
depois da euforia e decepção – em relação à capacidade<br />
real de mudanças sociais – resolvi procurar por minha<br />
conta, mesmo sem saber direito o quê, mesmo sem saber<br />
onde, ou como. Uma forma de não me deixar acomodar<br />
como me era cobrado e me apavorava. Saí sem saber<br />
nada além de que entrava na realidade do mundo, sem<br />
as proteções que antes havia tido, sem lugar pra voltar (a<br />
família rompeu relações e contatos) e com o mundo pela<br />
frente. Não tinha a pretensão de mudar o mundo, queria<br />
apenas entender como funciona.<br />
Anos depois, já com algumas conclusões básicas e óbvias,<br />
comecei a sentir necessidade de falar com o mundo<br />
o que eu estava achando. Como vivia de mangueio,<br />
quando você passa por milhares de pessoas todas as<br />
noites – e dias, conforme a situação -, vendendo artesanato,<br />
falando, conversando, apresentava os temas e debatia<br />
com as pessoas, quase qualquer assunto. Quis colocar<br />
isso no trampo, focalizar os assuntos. E aí comecei um<br />
trabalho com brochinhos que eram a expressão do meu<br />
pensamento e visão de mundo, ainda que com frases de<br />
outras pessoas que encaixavam na minha visão, que causavam<br />
reflexões, questionamentos, compreensões. Meus<br />
filhos foram criados com base nesses brochinhos, ainda<br />
que também fizesse brincos, pulseiras, colares, adesivos,<br />
duendes em durepoxi, o que caísse nas mãos. O grosso<br />
do trabalho eram os brochinhos. Há mais de dez anos<br />
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