Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional (Lucas Rodrigues Félix)
Trabalho sobre o predomínio do futebol em relação aos demais esportes na repercussão midiática, especialmente televisiva, analisando em retrospectiva o seu impacto no país e o histórico de exibições da TV Globo na área. Averigua-se de forma destacada a cobertura realizada pela emissora diante da final masculina entre Brasil e Alemanha durante a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, e a edição do Jornal Nacional sobre a conquista brasileira.
Trabalho sobre o predomínio do futebol em relação aos demais esportes na repercussão midiática, especialmente televisiva, analisando em retrospectiva o seu impacto no país e o histórico de exibições da TV Globo na área. Averigua-se de forma destacada a cobertura realizada pela emissora diante da final masculina entre Brasil e Alemanha durante a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, e a edição do Jornal Nacional sobre a conquista brasileira.
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transmitir um jogo de futebol <strong>no</strong> país, ele traçou com antecedência outros detalhes, como os<br />
locais de acomodação <strong>na</strong> Suécia, permitindo maior tranquilidade ao time.<br />
Antes da Copa, mesmo com a animação de cronistas como Nelson <strong>Rodrigues</strong> diante<br />
do então garoto Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que havia estreado pelo time principal<br />
somente um a<strong>no</strong> antes, aos dezesseis de idade, o clima de desconfiança era generalizado, <strong>no</strong><br />
que foi cunhado pelo jor<strong>na</strong>lista como o “complexo de vira-latas” do povo brasileiro, em artigo<br />
publicado <strong>na</strong> revista Manchete Esportiva poucos dias antes da estreia da Seleção <strong>no</strong> Mundial.<br />
Eis a verdade, amigos: desde 50 que o <strong>no</strong>sso futebol tem pudor de acreditar em si<br />
mesmo. A derrota frente aos uruguaios, <strong>na</strong> última batalha, ainda faz sofrer, <strong>na</strong> cara e<br />
<strong>na</strong> alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que <strong>na</strong>da, absolutamente<br />
<strong>na</strong>da, pode curar.<br />
Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: me<strong>no</strong>s a dor de cotovelo que <strong>no</strong>s ficou dos<br />
2x1. E custa crer que um escore tão peque<strong>no</strong> possa causar uma dor tão grande. O<br />
tempo passou em vão sobre a derrota. [...]<br />
Guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagi<strong>no</strong> uma coisa: se o<br />
Brasil vence <strong>na</strong> Suécia, e volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé<br />
que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar<br />
<strong>no</strong> hospício. [...]<br />
Só uma coisa <strong>no</strong>s atrapalha e, por vezes, invalida as <strong>no</strong>ssas qualidades. Quero aludir<br />
ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imagi<strong>na</strong>r o espanto<br />
do leitor: “O que vem a ser isso?”. Eu explico.<br />
Por “complexo de vira-latas”, eu entendo a inferioridade em que o brasileiro se<br />
coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e,<br />
sobretudo, <strong>no</strong> futebol. [...]<br />
Eu vos digo: o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de<br />
tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se<br />
convencer que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá <strong>na</strong> Suécia.<br />
Uma vez que se convença disso, ponham-<strong>no</strong> para correr em campo e ele precisará de<br />
dez para segurar, como o chinês da anedota. Insisto: para o escrete, ser ou não ser<br />
vira-latas, eis a questão. (Disponível em<br />
http://www.ufrgs.br/cdrom/rodrigues03/rodrigues3.pdf)<br />
A conquista do primeiro título mundial do futebol brasileiro, com gols marcados por<br />
Vavá (2), Pelé (2) e Zagallo, ao me<strong>no</strong>s diminuiu o vira-latismo <strong>na</strong> época. Todavia, o país pode<br />
assistir aos lances somente com atraso de dois dias pela TV Tupi através de filmes, devido a<br />
inexistência dos videoteipes. Mas ouviu as partidas <strong>no</strong> pool formado pelas rádios<br />
Bandeirantes, Continental, Pa<strong>na</strong>merica<strong>na</strong>, Nacio<strong>na</strong>l e as integrantes da rede dos Diários<br />
Associados. Em simultâneo, a imprensa escrita batia recordes. No dia seguinte ao título, a<br />
Gazeta Esportiva vendeu mais de 400 mil exemplares. Os campeões foram recepcio<strong>na</strong>dos<br />
com festa em diversas escalas realizadas <strong>no</strong> país, onde eram saudados pelo povo <strong>no</strong> trajeto<br />
entre os aeroportos e as home<strong>na</strong>gens oficiais.