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Dra. Telma Mª Santos Machado¹<br />
Aracaju - SE<br />
O jurisconsulto romano Cícero (106-43 a.C),<br />
uma das figuras mais emblemáticas da Roma antiga,<br />
escreveu um livro em que realça o valor da amizade,<br />
do bom senso, da temperança, da honestidade: Dos<br />
Deveres.<br />
Nessa magnífica obra, ele comenta que o que<br />
Panetius escreveu sobre os deveres era de tamanha<br />
perfeição que ninguém tinha coragem de completar<br />
tão difícil trabalho. Antes de fazer tal observação recorreu<br />
ao testemunho de Possidônio, o qual “lembra,<br />
em uma de suas cartas, que Rutilius Rufus,<br />
discípulo de Panetius dizia muitas vezes que pintor<br />
algum quis finalizar Vênus de Cós, começada por<br />
Apeles, porque a cabeça era tão linda que ninguém<br />
tinha a esperança de fazer um corpo que pudesse<br />
contemplá-la” 1 .<br />
Também na obra acima Cícero diz algo que tem<br />
sido fonte de debates ao longo da história da humanidade.<br />
A frase a que me refiro encontra-se no texto<br />
abaixo e está sublinhada, não obstante todo o<br />
parágrafo transborde inesgotável sabedoria. Logo<br />
a seguir, pode-se examinar o comentário de Cícero<br />
concernente ao texto a que ele próprio se referiu.<br />
A respeito desse assunto devo também defender<br />
Penetius, quando disse não ser o caso que o<br />
honesto se encontra em oposição ao útil, pois seus<br />
princípios o impediam de dizer, mas que ele pode<br />
estar com o que pareça útil. Em muitos trechos, ele<br />
declara expressamente que nada é útil se não for<br />
honesto, e que tudo que é honesto é útil 2 .<br />
[...] Além disso, sendo verdade que nascemos para<br />
a honestidade, que é a única coisa desejável, como defende<br />
Zenon, ou ao menos a mais desejável de todas,<br />
como ensina Aristóteles, segue-se fundamentalmente<br />
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que é ela o único bem que há, ou ao menos o maior<br />
de todos os bens. Ora, o que é um bem é fundamentalmente<br />
útil; assim, o que é honesto é útil. 3<br />
Compreender que não se pode conceber a utilidade<br />
fora da honestidade requer inteireza moral, porque muitas<br />
vezes pode significar enfrentar o desafio de abstrair<br />
vantagens aparentes para resguardar a dignificação pessoal.<br />
Somos os próprios artífices e executores dessa construção<br />
primorosa e intransferível que se concretiza à<br />
medida que a sabedoria iluminada pelo amor determina<br />
as nossas escolhas.<br />
A vigilância e a oração a que Jesus nos conclamou<br />
é uma advertência perfeita em todos os sentidos e<br />
momentos de nossas existências. Relativamente a este<br />
tema não poderia ser diferente, eis que, dentre as várias<br />
faces com que se apresenta a desonestidade, talvez a<br />
mais repugnante seja a aparência de uma honestidade<br />
inexistente. Tal se inclui a fingida bonomia em cujo semblante<br />
paira sorriso forçado que esconde desejos inconfessáveis<br />
processados por mentes povoadas por toda<br />
a gama de tibieza moral. Daí ser imprescindível procurar<br />
estabelecer sintonia com os vanguardeiros da luz,<br />
através da oração sincera e da vigilância dos pensamentos,<br />
palavras e ações, a fim de não nos tornarmos alvos<br />
fáceis desses disfarces.<br />
O homem é do tamanho da sua dignidade, muito<br />
embora os pigmeus morais não se sintam, ainda, tocados<br />
por essa realidade insofismável, inundados que ainda<br />
estão pela primariedade das emoções e sensações,<br />
desprovidos da inteligência emocional de perceber que<br />
sob todos os aspectos da crença que se abrace ou da<br />
1 CÍCERO. Marco Túlio. Dos Deveres. São Paulo: Martins Claret, 2002, p. 115).<br />
2 Ibid., p. 122.<br />
3 Ibid., p. 123.<br />
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