You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
PARA REFLEXÃO<br />
As máscaras ocultando a realidade<br />
Honestidade versus utilidade<br />
¹ Delegada da ABRAME (Associação brasileira dos Magistrados Espíritas)<br />
em Sergipe, Diretora de Eventos da ALEESE e coordenadora de Estudos<br />
da FEES.<br />
ausência dela, a honestidade será sempre a melhor escolha.<br />
Sejamos então pragmáticos ao analisar a afirmativa<br />
acima: i) para o materialista, o culto à honestidade deve<br />
ser a melhor escolha porque ao considerar nada mais e-<br />
xistir após o encerramento da vida biológica, pelo menos<br />
que deixe para a posteridade, especialmente para os que<br />
lhes são caros (familiares ou não), o legado das virtudes<br />
que praticava; ii) para os que acreditam numa existência<br />
apenas, na vida depois da morte e na prestação de contas<br />
no dia do juízo final, a vida ao compasso da honestidade<br />
é condição sine qua non para adentrar no Reino<br />
da Luz; iii) por fim, para os que creem na vida depois<br />
da morte e na pluralidade de existências necessárias à<br />
evolução espiritual, ela (a honestidade) também é imprescindível<br />
para atingir a estatura moral que levará a<br />
encarnações futuras em condições de se aproximar cada<br />
vez mais da perfeição relativa, dado que a absoluta somente<br />
Deus a possui.<br />
Seja qual for o aspecto observado, a honestidade<br />
será sempre a melhor opção. E a verdadeira utilidade<br />
somente será aquela que induza o indivíduo a galgar as<br />
montanhas da sabedoria, da verdade, da bondade, da<br />
justiça, e que o atraia para as paragens onde a razão não<br />
se divorcia da bondade, o conhecimento não repele o<br />
sentimento e a inteligência<br />
não se desvincula do amor.<br />
Não obstante a constatação de que muito erraremos<br />
ainda, não se pode abstrair a urgência em<br />
desenvolver a maturidade necessária para identificar<br />
os equívocos e, ao mesmo tempo, não estacionar<br />
no remorso improdutivo, posto que há um roteiro<br />
de reparação a esperar pelos que tergiversaram na<br />
caminhada.<br />
Ainda sobre o tema honestidade, no livro Tao Te<br />
Ching, (escrito no século VI a.C.) Lao Tsé, no Poema<br />
19, fala sobre os benefícios que um povo usufruirá<br />
quando não se precisar mais falar sobre virtude,<br />
sinceridade, porque então já lhes serão inerentes;<br />
quando não se tornar mais necessário o direito e<br />
a moral serem prescritos porque então já lhes será<br />
imanente; e quando os atos não carregarem, envoltos<br />
em incontáveis disfarces, desejos inconfessáveis.<br />
Embora a maioria de nós esteja a anos luz de distância<br />
desse momento esplendoroso, pode-se, ao<br />
menos, refletir sobre a beleza do conteúdo de cada<br />
verso. O título: “Os fundamentos da verdadeira ética”.<br />
De mil benefícios goza um povo<br />
Quando não se fala mais em ser virtuoso nem santo.<br />
Verdadeira reverência e amor sincero<br />
Medram em uma sociedade<br />
Em que o Direito e a moral deixam de ser prescritos.<br />
A ordem não reina em uma sociedade<br />
Onde o interesse determina o agir.<br />
Esses princípios não podem ser prescritos,<br />
Mas devem ser vividos.<br />
Somente onde eles são vivenciados<br />
É que ajudam os homens.<br />
A ética genuína só existe<br />
Onde o homem vive de dentro da sua fonte<br />
E age pela pureza do seu coração;<br />
Onde a genuinidade do seu ser<br />
Se revela em atos desinteressados<br />
E isentos de desejos 4 .<br />
Eis o desafio a que todos somos defrontados diuturnamente,<br />
muito mais pela visão distorcida do que pela<br />
dificuldade em perceber o que realmente importa para<br />
bem-estar duradouro. Se revolvermos o nosso íntimo<br />
com pureza de coração, facilmente perceberemos que<br />
somente necessitamos do que lograrmos alcançar com<br />
honestidade. Afinal, é como ensinou Cícero: tudo que é<br />
honesto é útil, mas nem tudo que é útil é honesto.<br />
4 Lao-Tsé. Tao Te Ching. São Paulo : Martins Claret, 2008, p. 62.<br />
15