Eu quero uma pra viver Identidade Entre o Céu e a Terra A vida chega ao fim para todos nós, filhos do pecado original ou não. Na dúvida, a homilia de INRI Cristo tem uma espirituosa originalidade. Texto: Filipe Monteiro Foto: Bruna Lapa Arte: Carolina Brito
CURINGA | EDIÇÃO <strong>11</strong> O sentido da morte reúne inúmeras associações simbólicas que ganham notoriedade com o tempo. Segundo o cristianismo, uma das mais difundidas concepções é datada há quase dois mil anos e marca o fim da etapa de Jesus Cristo na Terra. Desde o pecado original, a humanidade passou a necessitar de salvação. Mas quem poderia prever que uma pequena mordida seria suficiente para condenar Cristo à morte? No ano de 1948 nascia, na cidade catarinense de Indaial, Álvaro Thais, que 31 anos depois passaria a assumir a identidade de INRI Cristo. O homem que alega ser Cristo reencarnado utiliza de sua oratória peculiar no cumprimento de sua missão, cujo objetivo é difundir seus ensinamentos à humanidade. Aos 66 anos, o dobro da idade de Cristo, o que o “Cristo brasileiro” tem a dizer sobre a morte? CURINGA: Por ser uma pessoa pública, diversas nomes devem ser atribuídas à sua figura. Como o senhor prefere se denominar? INRI CRISTO: Ninguém é obrigado a crer, mas eu sou o primogênito de Deus, ancestral da humanidade, o primeiro macaco que nasceu sem rabo. Reencarnei, renasci Noé, Abraão, Moisés, David e depois Jesus. Agora sou INRI e esse é meu novo nome. INRI é o nome que Pilatos escreveu acima de minha cabeça quando eu agonizava na cruz, quando cuspiam em meu rosto, quando me humilhavam, quando se cumpriam as escrituras. INRI é o nome que custou o preço do sangue. Guardai-o em vossas cabeças e sereis fortes e felizes, meus filhos. Meu coração bate forte de amor por todos vós. C: O senhor se intitula primogênito de Deus. Quando foi, então, o momento em que descobriu que deveria assumir esta identidade? IC: Desde criança obedeço a uma voz, uma única voz, forte e imperiosa, que fala no interior da minha cabeça, mas foi em 1979, durante um jejum em Santiago do Chile que o senhor revelou a minha identidade. Até então eu era profeta de um Deus desconhecido. Até o jejum, eu desconhecia quem era esse ser poderoso, essa força sobrenatural que me comandava. Só sentia que tinha de obedecer, e nas vezes que titubeava e não obedecia era acometido por uma dor lancinante na cabeça. Eu não tinha consciência de minha identidade e condição, pois estava cumprindo o que está previsto nas sagradas escrituras com relação ao meu retorno. Desde que me desvencilhara dos cadeados do raciocínio, dogmas impostos pelas religiões, tornei-me ateu face aos idolátricos deuses inventados pelos homens. Nessa condição iniciei minha vida pública em 1969; vivia como profeta de um Deus desconhecido, o cosmos, a quem chamava de pai. C: Dentro da sua crença, qual é sua perspectiva sobre a morte? IC: Na verdade, eu não tenho crença, sou cético e vivo de acordo com a racionalidade das coisas, de acordo com os meus sentidos. Nunca creio em nada até que se prove o contrário. Para mim o mundo é repleto de fantasias, mentiras e dogmas, que são os cadeados do raciocínio. Logo, não creio na morte, pois tenho consciência de que ela não existe. A morte é apenas um agradável sono após um árduo dia de trabalho, uma perspectiva de descanso, o começo de uma nova vida. Todos vós havereis de reconhecer um dia que a terra é a mãe purificadora no sofrimento, que pacientemente espera seus filhos queridos para o reencontro místico da renovação. C: Ainda que diga ser o enviado de Deus, o senhor tem um corpo físico. Antes da sua passagem, quais são os próximos passos que pretende traçar em prol da humanidade? IC: Tenho 45 anos de vida pública e estou sempre deixando a minha mensagem na cabeça dos que têm ouvidos para ouvir e olhos para ver. A minha mensagem sempre é a da onisciência, onipotência e onipresença de Deus. Sendo meu pai onipresente, ele vivifica cada célula de vosso corpo e cada partícula de vosso sangue. Logo, se não podeis vos desligar dele nem mesmo quando cometeis um pecado, um delito, por que necessitais de alguém para vos religar a ele? Como há dois mil anos, continuo ensinando sempre de novo a orar em casa, no quarto, com a porta fechada. Não sou religioso, sou filósofo da liberdade consciencial, ensino os seres humanos a serem livres, a buscar o altíssimo diretamente, sem intermediários, independente de crendices ou superstições. Nada quero, nada tenho e nada temo. A minha única missão aqui na Terra é libertar o meu povo da escravidão da idolatria, da fantasia e da mentira, dos dogmas impostos pelas religiões. Desse modo, o meu plano é que quando eu partir aqui da Terra, fiquem os meus herdeiros, aqueles que guardaram as minhas palavras e que viverão dentro desse plano místico que meu pai mandou ministrar. C: De que maneira o senhor conduz os seus fiéis no momento da morte? IC: Conduzo meus filhos ensinandolhes com muito gosto que um dia todos terão que partir, descansar e dormir o sono dos justos, até porque a morte não existe. Morte é uma palavra obscena, macabra, muito usada pelos embustólogos, falcatruólogos, engodólogos, que se dizem religiosos, para amedrontar, atormentar os seres humanos. Ensino meus filhos que, ao partir, o corpo cansado, surrado, irá descansar no aconchego da mãe terra. Mais adiante, irão aguardar sem pressa que o senhor, meu pai, propicie que a mãe natureza lhes restitua outro corpo a fim de começarem uma nova etapa, uma nova luta, portanto, uma nova vida aqui na Terra, dando continuidade ao ciclo vital no plano terrestre. 7