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OPINIÃO<br />

Um outro Natal<br />

Época Natalícia: a Festa,<br />

na Madeira. Com (ou sem)<br />

ternura, na companhia da<br />

família (ou sem ela), no aconchego<br />

de um lar (ou na ausência de conforto<br />

e de casa), com solidariedade<br />

vigorosa (ou embrulhado em cinismo<br />

e adornado por vistosas fitas)<br />

o Natal assinala-se no calendário<br />

como um evento maior (que muitos<br />

amam, incondicionalmente, e<br />

ao qual poucos escapam). É difícil<br />

ouvir alguém dizer que “não liga<br />

nenhuma ao Natal” e, mesmo que<br />

tal aconteça, não fica no ar a sensação<br />

de uma sólida verdade (até<br />

para aqueles que procuram ter em<br />

conta as razões de cada um, ou de<br />

todos os outros que, tal como nós,<br />

são também produto tanto das circunstâncias,<br />

como das contingências,<br />

inerentes à Vida). Com<br />

o decorrer da idade, o Natal unese,<br />

invariavelmente, às recordações<br />

de infância, com o maravilhoso<br />

encanto de magia verdadeira e<br />

desacautelada (que é tão própria<br />

dessa fase das nossas vidas). Há<br />

Natais que se querem perdidos na<br />

bruma e outros que não se podem<br />

esquecer, permanecendo coloridos,<br />

vivos, colados à pele. E há desilusões<br />

que se ultrapassam (tais como<br />

o facto de Jesus não ter nascido a<br />

25 de dezembro, e do Pai Natal<br />

ter sido, apenas, invenção de uma<br />

marca, conhecida e veemente, de<br />

refrigerantes). Há também Natais<br />

que se conquistam, dando asas à<br />

extraordinária vontade de alcançar<br />

inéditas sensações, e à coragem,<br />

incomum, de ignorar os juízos<br />

de valor de conhecidos e fami-<br />

Há Natais que se<br />

querem perdidos na<br />

bruma e outros que não<br />

se podem esquecer,<br />

permanecendo<br />

coloridos, vivos,<br />

colados à pele.<br />

liares (tantas vezes tão pouco amigos<br />

ou quase nada próximos). E há<br />

lugares de encanto, que permitem<br />

vivenciar inusitados contentamentos,<br />

num Natal genuíno e diferente.<br />

O Natal com sabor a postal ilustrado<br />

antigo é, sem dúvida, aquele<br />

que se passa em Monção. É claro<br />

que tudo depende da experiência<br />

que se teve, da viagem que fizemos,<br />

da pessoa ou pessoas com<br />

quem estivemos, do lugar onde se<br />

pernoitou.<br />

Pois bem: para um Natal de sonho,<br />

não há nada como ir até Monção<br />

e fazer estadia no hotel Convento<br />

dos Capuchos. De preferência,<br />

ficar numa “cela” superior da<br />

ala convento, como o quarto 205<br />

do lado da torre, onde o conforto<br />

e a modernidade estão de mãos<br />

dadas com a História e o Património.<br />

Situado no andar superior,<br />

com duas varandas, duas portas<br />

que lhe dão acesso e duas janelas,<br />

todas envidraçadas, este quarto<br />

permite observar uma paisagem<br />

que é pintura naturalista de<br />

um natal vetusto, da alvorada ao<br />

crepúsculo, com sol ou com chuva.<br />

Permite-lhe ainda estar deitado<br />

em Portugal e ver nascer o dia em<br />

Espanha, que fica mesmo em frente,<br />

na outra margem do rio: a vila<br />

está localizada a dois quilómetros<br />

do município galego de Salvaterra<br />

do Minho, ao qual está ligada por<br />

uma ponte sobre este internacional<br />

curso de água. Este hotel, debruçado<br />

sobre o Rio Minho, incorpora os<br />

espaços conventuais típicos como<br />

a sala do capítulo, a porta da sopa<br />

dos pobres, a adega, a capela, e o<br />

quarto da torre, bem como o claustro<br />

(espaço com características<br />

de “intimidade” invulgares e que<br />

constitui o ex-líbris do edifício). O<br />

Natal, aqui, é duplamente mágico.<br />

E a geografia também. A fronteira<br />

luso-espanhola, que se estende<br />

desde a foz do rio Minho, a norte,<br />

até à foz do rio Guadiana, a sul, ao<br />

longo de mais de 1200 km, acompanha<br />

cursos de água (raia húmida),<br />

ou é assinalada em terra por<br />

pontos notáveis ou marcos fronteiriços<br />

(raia seca). A raia é igualmente<br />

o espaço geográfico, de um e<br />

de outro lado da fronteira política,<br />

em que as populações partilham<br />

elementos históricos, linguísticos,<br />

culturais e económicos. Assim, os<br />

veículos de Monção abastecem-se<br />

de combustível na galega Salvaterra<br />

e os vizinhos espanhóis fazem<br />

compras na vila portuguesa, principalmente<br />

à Quinta-feira - o dia<br />

estabelecido para a feira semanal,<br />

cujo sucesso se deve essencialmente<br />

à presença espanhola. Para além<br />

das muralhas e das termas, esta<br />

é, também, na Região Demarcada<br />

dos Vinhos Vedes, a Sub-região<br />

de Monção e Melgaço, a quem foi<br />

reconhecido o uso exclusivo da<br />

designação “Vinho Verde Alvarinho”.<br />

No que respeita ao convento,<br />

agora hotel rural, é de realçar<br />

o magnífico bambual e a revalorização<br />

dos espaços exteriores (especialmente<br />

a Fonte dos Frades, um<br />

espaço de grande beleza, que preservou<br />

toda a memória e mistério).<br />

Assim se pode ganhar e renovar o<br />

Natal. Uma quadra que pode ser<br />

intimista, cultural e diferente!! ><br />

António Castro<br />

Professor/Escritor<br />

22<br />

saber | JANEIRO | 2018

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