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Revista de Abril 20182

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<strong>Abril</strong> /2018<br />

Mariana<br />

<strong>Revista</strong> Histórica e Cultural


“ Aos doces afagos da voz dos meus filhos,<br />

Mais bela que outrora, eu irei ressurgir.”<br />

A <strong>Revista</strong> Mariana Histórica e Cultural é uma publicação eletrônica da<br />

Associação Memória, Artes, Comunicação e Cultura – AMACULT <strong>de</strong><br />

Mariana. O periódico mensal tem por objetivo divulgar matérias, artigos,<br />

ensaios, entrevistas e resenhas sobre a cultura e história <strong>de</strong> Mariana, a<br />

primeira cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

A revista é uma vitrine para publicação <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> pesquisadores.<br />

Mostrar a cultura <strong>de</strong> uma forma leve, histórias e curiosida<strong>de</strong>s que marcaram<br />

a fantástica do - Primeiro <strong>de</strong>scobrimento, primeira vila, primeira<br />

cida<strong>de</strong>, primeiro bispado e arcebispado, primeira comarca judiciária,<br />

primeira câmara municipal, primeira cida<strong>de</strong> na instalação da primeira<br />

escola primária e normal, primeira Capital <strong>de</strong> Minas, primeira, finalmente,<br />

on<strong>de</strong> se instalou o primeiro Correio Ambulante, tornando-se a pioneira no<br />

setor das comunicações, em Minas Gerais.<br />

A <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural <strong>Revista</strong> é um passo importante para a<br />

divulgação e pesquisa <strong>de</strong> conteúdos sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mariana.<br />

Esperamos que os textos publicados possam contribuir para a formação<br />

<strong>de</strong> uma consciência <strong>de</strong> preservação e incentivem a pesquisa.<br />

Os conceitos e afirmações contidos nos artigos<br />

são <strong>de</strong> inteira responsabilida<strong>de</strong> dos autores.<br />

Colaboradores:<br />

Prof. Cristiano Casimiro<br />

Prof. Vitor Gomes<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />

Arquivo Histórico da Municipal Câmara <strong>de</strong> Mariana<br />

IPHAN - Escritório Mariana<br />

Arquivo Fotográfico Marezza<br />

Museu da Música <strong>de</strong> Mariana,<br />

Fotografias:<br />

Cristiano Casimiro, Vitor Gomes, Acevo Museu da Música <strong>de</strong> Mariana<br />

Acervo Emílo Ibrahim e Arquivo Marrrezza - Marcio Lima<br />

Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro<br />

Capa: Órgão da Sé - Márcio Lima<br />

Arte Cristiano Casimiro<br />

Associação Memória Arte Comunicação e Cultura<br />

CNPJ: 06.002.739/0001-19<br />

Rua Senador Baw<strong>de</strong>n, 122, casa 02


Indice<br />

08<br />

O Gaveteiro e o Maracanã<br />

História <strong>de</strong> Emílio Ibrahim<br />

12<br />

Cláudio Manoel da Costa<br />

O tesouro do Incon<strong>de</strong>nte<br />

22<br />

Museu da Música <strong>de</strong> Mariana<br />

A memória da música colonial Mineira<br />

32<br />

Órgão da Sé <strong>de</strong> Mariana<br />

Órgão do Museu da Música


Foto : Jornal O Globo


O GAVETEIRO E O<br />

MARACANÃ<br />

Emílo Ibrahim


Emílo Ibrahim<br />

Esta é mais uma das histórias, que transcen<strong>de</strong>m<br />

o espaço da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mariana, mas é<br />

um registro que se po<strong>de</strong> vencer no esporte na<br />

educação. Emílo Ibrahim é um gaveteiro que<br />

alcançou o sucesso longe <strong>de</strong> Mariana, mas<br />

sempre levou e elevou, com orgulho, o nome<br />

da primeira cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas.<br />

Nascido na em Mariana, em 20 <strong>de</strong> Outubro<br />

<strong>de</strong> 1925. Orgulha-se muito <strong>de</strong> suas origens<br />

<strong>de</strong> empe<strong>de</strong>rnido amante <strong>de</strong> Mariana. Filho <strong>de</strong><br />

Salomão Ibrahim (Marmarita, Síria) e Nagibe<br />

Maria Ibrahim (Baalbeck, Líbano - cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> 3 mil anos).<br />

Passou sua infância na cida<strong>de</strong>, preferencialmente,<br />

jogando bola no campo do Guarany<br />

Futebol Clube (time do Coração). Des<strong>de</strong><br />

muito novo conseguiu conciliar os estudos e<br />

a gosto pelo futebol. Muito novo já <strong>de</strong>spontava<br />

no Guarany, ao lado <strong>de</strong> ao lado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

jogadores, entre outros, Carlyle, Elizeu, Bias<br />

e Wilson. Concluiu os cursos ginasial e<br />

científico no<br />

E s t u d o u n o t r a d i c i o n a l C o l é g i o<br />

Arquidiocesano <strong>de</strong> Ouro Preto, on<strong>de</strong> foi<br />

<strong>de</strong>staque nas ciências exatas e futebol.<br />

O centro-avante Emílio, com apenas 15<br />

anos, pertencia à classe dos menores, mas já<br />

participava do quadro principal do time <strong>de</strong><br />

futebol daquele colégio .<br />

Um jogo inesquecível para Emílio Ibrahim foi<br />

em Ouro Preto, o ano <strong>de</strong> 1942 quando o<br />

Colégio Arquidiocesano venceu o Colégio<br />

Municipal por 5x2, com gols <strong>de</strong>: Emílio (2),<br />

Luís Maria, Paulo Emílio e Wal<strong>de</strong>mar.<br />

Assim que formou o colegial em Ouro Preto<br />

foi contratado pelo Fluminense Futebol<br />

Clube do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Em 1948,Emílio foi<br />

jogar em um dos maiores clubes do Brasil,<br />

na renovação do seu quadro profissional,<br />

implantada pelo técnico Ondino Vieira e<br />

pelos diretores Carlos Nascimento e Dilson<br />

Gue<strong>de</strong>s. Castilho, Píndaro, Hélvio, Pinheiro,<br />

Mirim, Didi e outros foram seus companheiros<br />

naquele projeto-renovação. Foi campeão<br />

do Torneio Municipal daquele ano.<br />

Simultaneamente com a sua vida <strong>de</strong> atleta no<br />

Fluminense, ingressou na Escola Nacional<br />

<strong>de</strong> Engenharia. Em um Fla-Flu histórico, que<br />

marcou a inauguração das gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong><br />

reforma do Estádio Getúlio Vargas, em<br />

Fortaleza capital do Ceará, Emílio, atuando<br />

pelo tricolor carioca, marcou um gol espetacular,<br />

aos dois minutos do primeiro tempo,<br />

num sem pulo sensacional, emendando um<br />

cruzamento preciso do ponteiro esquerdo<br />

Rodrigues, que inaugurou o placar do jogo,<br />

vencido pelo Fluminense, por 5x2, O técnico<br />

tricolor, o uruguaio Ondino Vieira, classificou<br />

<strong>de</strong> histórico o gol do atacante do Fluminense.<br />

Assim foi <strong>de</strong>senhado para os jornais o gol <strong>de</strong> Emílio Ibrahim - Imagem arquivo pessoal <strong>de</strong> Emílio Ibrahim


Equipe <strong>de</strong> Futebol do Colégio Arquidiocesano1942: Athos, Borato, J. Lourenço, J. Pimenta,<br />

Caratinga, Hélio Gomes, Murilo, Luiz Maria, Hugo Rodarte, Emílio Ibrahim, Wal<strong>de</strong>mar e Paulo<br />

Emílio. Acervo Pessoal<br />

Orlando, Emílio e Castilho no jogo com Fluminense e South Hampton,<br />

da Inglaterra, em 1948, no estádio São Januário, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Acervo Pessoal.<br />

07


Após a <strong>de</strong>rrota do Brasil, no Mundial <strong>de</strong><br />

1950, o Maracanã passou a ser subutilizado,<br />

com os clubes reclamando das<br />

altas taxas cobradas, não compensando<br />

indicar o Estádio para os seus jogos; só os<br />

clássicos, do Campeonato Carioca e alguns<br />

encontros do Torneio Rio-S. Paulo, davam<br />

retorno aos cofres dos clubes litigantes.<br />

A corrupção no gran<strong>de</strong> Estádio durou <strong>de</strong><br />

durou mais <strong>de</strong> anos, a ms administrações,<br />

dirigentes corruptos e à politicagem,,<br />

tomaram conta do estádio. Ao final <strong>de</strong> uma<br />

década <strong>de</strong> abandono, o governado Carlos<br />

Lacerda <strong>de</strong>mitiu toda administração do<br />

Maracanã e colocou um homem <strong>de</strong> sua<br />

confiança e <strong>de</strong> cpmpetência para a nova<br />

administração. Na realida<strong>de</strong>, o estádio<br />

funcionava em condições precárias, tendo<br />

em vista a falta <strong>de</strong> acabamento <strong>de</strong> todas as<br />

suas <strong>de</strong>pendências.<br />

Emílio Ibrahim assumiu a presidência da<br />

ADEG (Administração dos Estádios da<br />

Guanabara). Com a nova missão, o<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>u início ao trabalho com uma<br />

jovem equipe e, com bom gosto, concluiu as<br />

obras do maior estádio do mundo. Por outro<br />

lado, no campo administrativo, com a<br />

competente colaboração do Procurador do<br />

Estado, Carlos Vale, instaurou uma<br />

profunda reforma <strong>de</strong> normas, métodos e<br />

procedimentos, que asseguraram a sua<br />

eficiência operacional.<br />

Em menos <strong>de</strong> dois anos, todo o Maracanã<br />

ganhou sólida estrutura, novamente capaz<br />

<strong>de</strong> receber gran<strong>de</strong> público, como o da final<br />

da copa do Mundo <strong>de</strong> 1950, ultrapassando<br />

os cento e setenta mil espectadores.<br />

E gran<strong>de</strong>s jogos como aqueles do Mundial<br />

Inter Clubes, envolvendo o Santos e o Milan,<br />

em 1963; clássico do Campeonato Carioca e<br />

do Torneio Rio-S. Paulo, <strong>de</strong> saudosa<br />

memória.<br />

Emílo Ibraim foi o responsável pela maior<br />

reforma estrutural do Maracanã, todo<br />

saudosismo que temos do Maracanã da<br />

década <strong>de</strong> 70 , 80 e 90 são frutos da<br />

engenhosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste marianense.<br />

Emílio Ibrahim no Maracanã - Acervo Pessoal<br />

08


O TORNEIO DE 48:Taça Prefeitura do Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> levar a campo o time titular<br />

gerou <strong>de</strong>sconforto entre o elenco vascaíno.<br />

Essa <strong>de</strong>cisão, que pegou a todos <strong>de</strong><br />

surpresa, tanto do “Expressinho” quanto do<br />

“Expresso”, foi comunicada pelo técnico<br />

vascaíno, Flávio Costa, quando os jogadores<br />

do “Expressinho”, que haviam representado<br />

tão bem o Vasco durante o Torneio, se<br />

preparavam no vestiário para entrar em<br />

campo.<br />

Com um público <strong>de</strong> 14.381 pagantes, o<br />

Fluminense venceu o “Expresso da Vitória”<br />

com um gol <strong>de</strong> bicicleta <strong>de</strong> Orlando “Pingo<br />

d'Ouro” aos 8 minutos <strong>de</strong> jogo. Com esse<br />

resultado, o Fluminense conquistou seu<br />

segundo Torneio Municipal e evitou o<br />

pentacampeonato vascaíno.<br />

Na foto tirada em maio <strong>de</strong> 2017, Emílio Ibrahim na<br />

se<strong>de</strong> do Fluminese. Imagem www.historiadores do<br />

esporte .com<br />

A <strong>de</strong>cisão seria disputada em três jogos num<br />

ritmo<br />

frenético: 24/06/1948, 27/06/1948 e, se fosse<br />

necessário, 30/06/1948.<br />

O primeiro jogo foi vencido pelo Fluminense<br />

por 4×0 no Estádio General Severiano.<br />

Diante <strong>de</strong> 6.991 pagantes, marcaram para o<br />

Fluminense Orlando “Pingo d'Ouro” (2),<br />

Simões e Rodrigues. Ao Fluminense bastaria<br />

uma nova vitória na segunda partida da<br />

<strong>de</strong>cisão para que o Torneio fosse conquistado<br />

e o pentacampeonato do Vasco evitado.<br />

Contudo, três dias após a primeira partida, o<br />

Vasco venceu o Fluminense por 2×1 no<br />

Estádio da Gávea. Diante <strong>de</strong> 11.016<br />

pagantes, o Vasco abriu 2×0 com Dimas e<br />

Nestor. O Fluminense <strong>de</strong>scontou com<br />

Orlando “Pingo d'Ouro”. Com a vitória<br />

vascaína, seria necessário disputar a terceira<br />

e última partida.<br />

No dia 30/06/1948, o Fluminense já estava<br />

em campo esperando o “Expressinho”,<br />

quando, para supresa <strong>de</strong> todos, surgiu o time<br />

titular do Vasco, o “Expresso da Vitória”.<br />

Participaram da campanha 21 jogadores.<br />

Goleiros: Castilho (8 jogos), Tarzan (4) e José<br />

Paulo (1). Zagueiros: Pé <strong>de</strong> Valsa (13), Hélvio<br />

(9) e Aroldo (4). Meio-<strong>de</strong>-campo: Índio (13),<br />

Mirim (12), Bigo<strong>de</strong> (9), Ismael (4) e<br />

Berascochea (1). Ataque: Rodrigues (13),<br />

Rubinho (11), Orlando (10), Simões (7),<br />

Emílio (6), Cento e nove (6), Careca (5),<br />

Juvenal (3), Pinhegas (2) e Zeca (2). O<br />

Técnico era o uruguaio Ondino Vieira. Os<br />

artilheiros da equipe foram Orlando, 9 gols, e<br />

Emílio, 3. Pé-<strong>de</strong>-Valsa, Índio e Rodrigues<br />

participaram <strong>de</strong> todos os 13 jogos da<br />

campanha.<br />

O Torneio Municipal <strong>de</strong> 1948 não teve um troféu em<br />

disputa. Por essa razão, a foto <strong>de</strong> Emílio Ibrahim foi<br />

tirada com a Taça D.I.E., oferecida pelo<br />

Departamento <strong>de</strong> Imprensa Esportiva da A.B.I.,<br />

quando o Fluminense <strong>de</strong>rrotou o Racing da Argentina<br />

por 3×2 no dia 27/10/1948. Imagem www.historiadores<br />

do esporte .com<br />

09


10


Ingressou na vida pública na antiga<br />

Prefeitura do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, em 1949,<br />

ainda como estudante, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

auxiliar <strong>de</strong> Engenheiro do Departamento<br />

<strong>de</strong> Estradas <strong>de</strong> Rodagem. Ainda como<br />

acadêmico <strong>de</strong> engenharia, exerceu o<br />

cargo <strong>de</strong> oficial <strong>de</strong> gabinete do Prefeito<br />

João Carlos Vital, durante toda sua<br />

administração.<br />

Integrando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1952, o quadro <strong>de</strong><br />

engenheiros do Estado, foi chefe do<br />

Departamento <strong>de</strong> Engenharia do Montepio<br />

dos Empregados Municipais, hoje IPERJ -<br />

Instituto <strong>de</strong> Previdência do Estado do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. Foi Presi<strong>de</strong>nte da ADEG<br />

( A d m i n i s t r a ç ã o d o s E s t á d i o s d a<br />

Guanabara), quando as obras <strong>de</strong> reforma<br />

do Estádio do Maracanã, no Governo<br />

Carlos Lacerda. Foi Assessor Geral <strong>de</strong><br />

Esportes do Estado da Guanabara, e<br />

Conselheiro Fundador do Fundo <strong>de</strong><br />

Garantia do Atleta Profissional - FUGAP,<br />

no Governo Carlos Lacerda.<br />

Como Diretor Geral do Departamento do<br />

Patrimônio do Estado da Guanabara, foi<br />

responsável pela transferência <strong>de</strong> bens<br />

imóveis do antigo Distrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />

<strong>de</strong>terminada pela Lei Santiago Dantas,<br />

tendo participado, a<strong>de</strong>mais, do esforço <strong>de</strong><br />

cessão da área da antiga "Favela do<br />

Esqueleto" ao Estado da Guanabara. Com<br />

a transferência <strong>de</strong> seus ocupantes, sob o<br />

efetivo comando da Secretária <strong>de</strong> Serviços<br />

Socias, Sandra Cavalcanti, o Governador<br />

Carlos Lacerda, em solenida<strong>de</strong> pública,<br />

ce<strong>de</strong>u o terreno à Universida<strong>de</strong> do Estado<br />

da Guanabara para implantação <strong>de</strong> seu<br />

"campus".<br />

Foi Presi<strong>de</strong>nte do I.A.P.C. (Instituto <strong>de</strong><br />

A p o s e n t a d o r i a e P e n s õ e s d o s<br />

Comerciários) até a sua extinção,<br />

simultânea à unificação da Previdência<br />

Social, no Governo Castelo Branco.<br />

Naquela oportunida<strong>de</strong>, por ocasião da<br />

reforma da lei orgânica da Previdência<br />

Social, teve <strong>de</strong>stacada atuação na<br />

inclusão como beneficiários da mesma<br />

todos os que exercem funções <strong>de</strong><br />

Sacerdote e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> empregados<br />

domésticos.<br />

Foi Secretário <strong>de</strong> Obras Públicas do antigo<br />

Estado da Guanabara, no Governo<br />

Chagas Freitas. Foi Secretário <strong>de</strong> Obras e<br />

Serviços Públicos do Estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, no Governo Chagas Freitas.<br />

F o i P r e s i d e n t e d o C o n s e l h o d e<br />

Administração <strong>de</strong> inúmeros órgãos do<br />

Estado, <strong>de</strong>stacando-se a SURSAN,<br />

ESAG, COMLURB, DER, CEDAE, CEG,<br />

CERJ, FEEMA, CEHAB e SERLA.<br />

Foi Diretor das Centrais Elétricas <strong>de</strong><br />

Furnas, no Governo do Presi<strong>de</strong>nte João<br />

Figueiredo.<br />

Em 1982, foi indicado a concorrer ao<br />

Governo do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro pelo<br />

PDS, tendo renunciado, em <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sencontros <strong>de</strong> natureza política com<br />

a direção partidária.<br />

Foi Presi<strong>de</strong>nte da C.B.T.U.- Companhia<br />

Brasileira <strong>de</strong> Trens Urbanos, no Governo<br />

do Presi<strong>de</strong>nte Jos Sarney.<br />

Encerrou nesse cargo, voluntariamente, o<br />

exercício <strong>de</strong> sua vida pública, em 1990.<br />

Assim, o jogador <strong>de</strong> futebol que queria ser<br />

engenheiro conseguiu conciliar a sua vida<br />

profissional com sua paixão<br />

... O FUTEBOL....<br />

F o t o f e i t a e m 2 0 1 7 p a r a o j o r n a l O G l o b o .<br />

Vejam como a referência <strong>de</strong> Mariana e da nossa tradições<br />

s ã o m a r c a n t e n a v i d a d e E m í l i o I b r a i m .<br />

Em um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na sala o livro sobre a vida<br />

<strong>de</strong> Monsenhor horta.<br />

Este texto teve como referência o livro:Emílio Ibraim - O Homem e suas idéias.<br />

Saiba mais em www.emilioibraim.com.br<br />

11


<strong>de</strong> Cristo<br />

Procissão do Encontro em Mariana - César do Carmo<br />

Acervo Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras<br />

Cláudio Manoel da Costa<br />

12


Cláudio Manuel da Costa<br />

Em 1981, quando aluno do cônêgo José<br />

Geraldo Vidigal <strong>de</strong> Carvalho, no Ginásio<br />

Estadual Dom Silvério, foi me dado um texto<br />

chamado: Cláudio Manuel da Costa na<br />

história Mineira, neste dia mui<strong>de</strong>i emu<br />

pensamento sobre a conjuração mineira (<br />

Inconfidência mineira) e sobre a participação<br />

do marianense Cláudio manoel da Costa.<br />

Formado em direito pela renomada<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra em Portugal,Poeta<br />

e jurista Cláudio Manoel nasceu na<br />

localida<strong>de</strong> na fazenda da Vargem do<br />

itacolomi, Vila do Ribeirão do Carmo, hoje<br />

Mariana, em 5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1729, e faleceu<br />

em Ouro Preto, MG, a 4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1789. É o<br />

patrono da ca<strong>de</strong>ira n. 8, por escolha do<br />

fundador Alberto <strong>de</strong> Oliveira.<br />

Era filho <strong>de</strong> João Gonçalves da Costa,<br />

lavrador e minerador, e <strong>de</strong> Teresa Ribeiro <strong>de</strong><br />

Alvarenga. Fez os primeiros estudos em Vila<br />

Rica; passou <strong>de</strong>pois ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong><br />

cursou Filosofia no Colégio dos Jesuítas. Em<br />

1749, aos vinte anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, seguiu para<br />

Lisboa e daí para Coimbra, em cuja<br />

Universida<strong>de</strong> se formou em Cânones, em<br />

1753. Ali publicou, em opúsculos, pelo<br />

menos três poemas, Munúsculo métrico,<br />

Labirinto <strong>de</strong> amor e o Epicédio, consagrado à<br />

memória <strong>de</strong> Frei Gaspar da Encarnação.<br />

Nesses livros, a marca poética do Barroco<br />

seiscentista é evi<strong>de</strong>nte, nos cultismos,<br />

conceptismos e formalismos característicos<br />

daquele estilo.<br />

Nos “Apontamentos” enviados em 3 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1759 ao Dr. João Borges <strong>de</strong><br />

Barros, censor da Aca<strong>de</strong>mia Brasílica dos<br />

Renascidos, da qual havia sido eleito sócio<br />

correspon<strong>de</strong>nte, e que se <strong>de</strong>stinavam ao<br />

“Catálogo dos Acadêmicos”, diz ele que, “<strong>de</strong><br />

1753 a 1754”, voltou a Vila Rica, on<strong>de</strong> viveu o<br />

resto da vida como advogado e minerador.<br />

De 1762 a 1765 foi secretário do Governo<br />

da Província e, <strong>de</strong> 1769 a 1773, juiz medidor<br />

<strong>de</strong> terras da Câmara <strong>de</strong> Vila Rica, que era<br />

então a capital da Província, importante setor<br />

<strong>de</strong> mineração do século XVIII e centro <strong>de</strong><br />

intensa vida intelectual. Cláudio Manuel da<br />

Costa ali chegou a fundar uma Arcádia<br />

chamada Colônia Ultramarina, cuja<br />

instalação teria sido em 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1768, com outra sessão em 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro,<br />

na qual fez representar o drama musicado O<br />

Parnaso obsequioso. Foi buscar nos<br />

cânones do Arcadismo vigente muitos<br />

elementos típicos, tais como o bucolismo, os<br />

pastores e as ninfas. Adotou o nome arcádico<br />

<strong>de</strong> Glauceste Satúrnio. Ainda em Portugal<br />

sentira <strong>de</strong> perto o aspecto renovador do<br />

Arcadismo, implantado com a fundação da<br />

Arcádia Lusitana, em 1756. A publicação em<br />

1768 das Obras constitui o marco inicial do<br />

lirismo arcádico no Brasil.<br />

Depois compôs o poema épico Vila Rica,<br />

pronto em 1773 mas publicado somente em<br />

1839, em Ouro Preto. O respectivo<br />

“fundamento histórico” havia sido dado a<br />

lume pelo jornal O Patriota, do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, em 1813, sob o título <strong>de</strong> “Memória<br />

histórica e geográfica da <strong>de</strong>scoberta das<br />

Minas”. É a <strong>de</strong>scrição da epopeia dos<br />

ban<strong>de</strong>irantes paulistas no <strong>de</strong>sbravamento<br />

dos sertões e suas lutas com os emboabas,<br />

até a fundação da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vila Rica. O<br />

poema é importante porque, apesar <strong>de</strong> fiel<br />

aos cânones do Arcadismo, <strong>de</strong>staca-se pela<br />

temática brasileira.<br />

Nas décadas <strong>de</strong> 1770 e 1780, escreveu<br />

várias poesias em que mostra preocupação<br />

com problemas políticos e sociais,<br />

publicadas na maior parte por Ramiz Galvão<br />

em 1895. A partir <strong>de</strong> 1782 ligou-se <strong>de</strong> estreita<br />

amiza<strong>de</strong> com Tomás Antonio Gonzaga, e, por<br />

certo, exerceu influência literária sobre ele,<br />

ao menos como estímulo. Nas Cartas<br />

chilenas, cuja autoria chegou a ser atribuída<br />

por alguns críticos a Cláudio Manuel da<br />

Costa, possivelmente auxiliou o amigo. A<br />

exegese magistralmente conduzida por<br />

Afonso Arinos <strong>de</strong> Melo Franco, em sua<br />

edição das Cartas chilenas (1940), apura que<br />

a Cláudio Manuel da Costa <strong>de</strong>ve ser atribuída<br />

apenas a “Epístola” que as prece<strong>de</strong>, e ao seu<br />

companheiro <strong>de</strong> letras Tomás Antonio<br />

Gonzaga a autoria das Cartas.<br />

Na década <strong>de</strong> 1780, fez parte da Câmara<br />

<strong>de</strong> Vila Rica como juiz ordinário. Era homem<br />

<strong>de</strong> prol, com bens <strong>de</strong> fortuna, senhor <strong>de</strong> três<br />

fazendas, quando foi envolvido na<br />

Inconfidência, a que daria um apoio<br />

sentimental. Preso, foi interrogado uma só<br />

vez pelos juízes da Alçada, em 2 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1789. Atemorizou-se no interrogatório,<br />

comprometeu os amigos, sendo <strong>de</strong>pois<br />

encontrado morto no cubículo da Casa dos<br />

Contos, on<strong>de</strong> fora encerrado, aos 60 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, em julho <strong>de</strong> 1789, oficialmente um<br />

suicídio. Era solteiro e <strong>de</strong>ixou filhos naturais.<br />

Reza a lenda que o Inconfi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ixou muito<br />

mais que poemas para gerações futuras....<br />

13


Jornal Folha <strong>de</strong> Minas <strong>de</strong> 1944- Belo Horizonte<br />

Acervo José Eduardo Liboreiro<br />

14


O TESOURO DOS INCONFIDENTES<br />

Inácio Muzzi - Jornalista e Diretor da Companhia <strong>de</strong> Notícias em Brasília<br />

A Inconfidência Mineira foi , supostamente,<br />

financiada por agentes externos, assim há<br />

uma lenda que sustenta que existe um<br />

Tesouro dos Inconfi<strong>de</strong>ntes, e que na<br />

Fazenda da Vargem do Itacolomi - na<br />

localida<strong>de</strong> da Vargem - em Mariana este<br />

tesouro estaria enterrado. Este assunto<br />

apareceu em um artigo do gran<strong>de</strong> historiador<br />

Salomão <strong>de</strong> Vasconcelos , no Jornal <strong>de</strong><br />

Minas em 1944 ( página 14). Abaixo texto do<br />

Inácio Muzzi sobre o assunto.<br />

“Aqui, além, pelo mundo, ossos, nomes,<br />

letras, poeira... On<strong>de</strong>, os rostos? On<strong>de</strong>, as<br />

almas? Nem os her<strong>de</strong>iros recordam rastro<br />

nenhum pelo chão”. Na quarta estrofe da<br />

“ F a l a I n i c i a l ” d o R o m a n c e i r o d a<br />

Inconfidência (1953), Cecília Meireles revela<br />

frustração no estudo <strong>de</strong> ambiente que fez<br />

para compor seu inspirado poema <strong>de</strong> 80<br />

cantos. Nas suas viagens a Ouro Preto e<br />

Mariana, no início dos anos 1950, encontrou<br />

apenas “os gran<strong>de</strong>s muros sem eco”, o<br />

“bater dos sinos”, o “roçar das rezas”, a<br />

“negra masmorra”, “as plácidas colinas”, as<br />

“silenciosas vertentes” – tal como se<br />

apresentavam no distante 1789, ano em que<br />

a Coroa portuguesa <strong>de</strong>sbaratou os<br />

inconfi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Minas Gerais. Faltou à<br />

poeta encontrar <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos<br />

personagens envolvidos naquela antiga<br />

trama. Os <strong>de</strong> posse mudaram‐se. Os<br />

<strong>de</strong>mais, sem instrução, sem informação da<br />

saga familiar, per<strong>de</strong>ram‐se da história. Antes<br />

disso, na primeira década do século XX, meu<br />

tio‐bisavô, o historiador Diogo <strong>de</strong><br />

Vasconcellos, autor <strong>de</strong> História Antiga (1904)<br />

e História Média <strong>de</strong> Minas Gerais (1918),<br />

pesquisava a <strong>de</strong>scendência da filha ilegítima<br />

<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes e teve a curiosida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertada por outra “bastardia”: a do poeta<br />

Cláudio Manoel da Costa, igualmente<br />

revelada nos Autos da <strong>de</strong>vassa, que reúnem<br />

o s d e p o i m e n t o s p r e s t a d o s p e l o s<br />

inconfi<strong>de</strong>ntes às autorida<strong>de</strong>s portuguesas. O<br />

poeta, como se sabe, apareceu morto na<br />

prisão – um cubículo <strong>de</strong>baixo da escada da<br />

Casa do Real Contrato das Entradas, atual<br />

Casa dos Contos – em 4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1789,<br />

dois dias após ser submetido a severo<br />

interrogatório. Os carcereiros disseram que<br />

foi suicídio, mas os rumores falavam <strong>de</strong><br />

assassinato – versão admitida até mesmo<br />

pela Igreja, que permitiu a celebração <strong>de</strong><br />

missas pela sua alma. Cláudio Manoel da<br />

Costa seria um Vladimir Herzog avant la<br />

lettre.<br />

O poeta morreu aos 60 anos, solteiro,<br />

<strong>de</strong>ixando duas filhas “bastardas”, como se<br />

dizia, fruto <strong>de</strong> relação que manteve com<br />

Francisca Cardosa, escrava <strong>de</strong> um vizinho<br />

cuja alforria comprou. Eram elas: Francisca,<br />

que na época da Inconfidência vivia com o<br />

marido e filhos no sítio da Vargem, <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> do poeta‐ inconfi<strong>de</strong>nte, e Maria,<br />

<strong>de</strong> onze anos, que morava em companhia da<br />

mãe em Vila Rica, antiga <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

Ouro Preto. Nascido no Brasil, nesse mesmo<br />

sítio da Vargem, Cláudio Manoel da Costa<br />

era filho <strong>de</strong> um lavrador e dizia‐se<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte dos antigos ban<strong>de</strong>irantes<br />

paulistas. Estudou na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coimbra, e na volta à Colônia exerceu as<br />

funções <strong>de</strong> advogado, juiz e secretário <strong>de</strong><br />

dois governos, tornando‐se rico e influente.<br />

A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua poesia lírica é<br />

reconhecida pela crítica contemporânea.<br />

Com o pseudônimo <strong>de</strong> Glauceste, Cláudio<br />

freqüentava o grupo dos chamados poetas<br />

árca<strong>de</strong>s, no momento em que “a literatura<br />

brasileira alcançou o seu primeiro período<br />

i<strong>de</strong>ologicamente articulado”, na visão do<br />

crítico José Guilherme Merquior. No canto<br />

VIII <strong>de</strong> seu mais famoso poema, “Vila Rica”,<br />

publicado postumamente, ao falar das<br />

pedras preciosas, o poeta vaticina: “...Os<br />

tesouros que oculta e guarda a terra (Tristes<br />

causas do mal, causas da guerra!)”. Guerra<br />

não houve, mas o envolvimento do poeta na<br />

conspiração levou a Coroa portuguesa a<br />

arrestar todos os seus bens: fazendas,<br />

casas, lavras, escravos, ouro em pó,<br />

prataria, móveis, roupas e 406 livros,<br />

<strong>de</strong>clarando ainda infames seus filhos e<br />

netos.<br />

15


Fazenda da Vargem ( ano não i<strong>de</strong>ntificado)- Acervo José Eduardo Liboreiro<br />

A fazenda da Vargem fica na vertente sul da<br />

serra do Itacolomi, no município <strong>de</strong> Mariana.<br />

Nela existia, até 1940, um sobrado <strong>de</strong> 16<br />

cômodos, la<strong>de</strong>ado pela capela <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora da Conceição. Há 30 anos ganhou<br />

acesso por estrada <strong>de</strong> terra; há três, energia<br />

elétrica da Cemig, e há dois, sinal da telefonia<br />

celular. Por ali andou Diogo <strong>de</strong> Vasconcellos,<br />

subindo a serra no lombo do burro Marreco,<br />

que muito prezava. Parou na fazenda vizinha,<br />

a do Cibrão, então pertencente à sua irmã<br />

Henriqueta, e iniciou a busca dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

daquela ex‐escrava Francisca Cardosa,<br />

negra retinta, amante do poeta que, no papel,<br />

cortejava musas etéreas da cor <strong>de</strong> marfim.<br />

Presumivelmente, àquela altura seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

estariam entre a terceira e a<br />

quarta geração. A Vargem tivera vários donos<br />

no século XIX. O mesmo não ocorrera ao<br />

Cibrão. As famílias do marido <strong>de</strong> Henriqueta –<br />

os Dias e Almeida Gomes – passaram o<br />

século naquelas terras e sabiam que tão<br />

antigos quanto eles havia somente os moradores<br />

do povoado do Areião. Um núcleo <strong>de</strong><br />

nove casas, espalhadas em 150 alqueires<br />

mineiros <strong>de</strong> terra comum, <strong>de</strong>limitada pelo<br />

córrego da Prata e pelo Rio Gualaxo. Seus<br />

moradores formavam uma só família <strong>de</strong><br />

intrincada parentela, com prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong><br />

casamento entre primos e entre tios e sobrinhas.<br />

Diogo foi até lá com seus apontamentos<br />

e confirmou a suspeita. Ali estavam os<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes do poeta. Antes <strong>de</strong> retornar a<br />

Ouro Preto, pediu à irmã que os ensinasse a<br />

ler e a escrever. Depois enviou material<br />

didático. Entre os livros, um pequeno compêndio<br />

com a história da Inconfidência<br />

Mineira e <strong>de</strong> Cláudio Manoel da Costa.<br />

Alberta Maia Gomes, vulgo “Albertina”, hoje<br />

com 79 anos, mãe <strong>de</strong> nove filhos vivos <strong>de</strong> 16<br />

nascidos, 36 netos e nove bisnetos, lembra-<br />

‐se ainda do seu curso <strong>de</strong> alfabetização e do<br />

pequeno compêndio sobre o poeta seu<br />

ascen<strong>de</strong>nte com que a família foi presenteada.<br />

Corriam os anos 1930.<br />

16


O historiador Diogo <strong>de</strong> Vasconcellos morrera<br />

em 1927, mas sua sobrinha, Quitota, formada<br />

pelo Colégio Providência, <strong>de</strong> Mariana,<br />

dava prosseguimento à missão por ele<br />

encomendada à mãe. Alberto Cirilo, marido e<br />

primo <strong>de</strong> Albertina, no tempo em que se<br />

<strong>de</strong>dicava ao garimpo achou ouro, dois diamantes<br />

e pedrinhas <strong>de</strong> topázio imperial. Aos<br />

poucos, foi comprando as partes dos primos<br />

e irmãos, que finalmente se mudavam do<br />

Areião para Mariana, Ouro Preto ou Belo<br />

Horizonte. Chegou a ser dono dos 150<br />

alqueires salvos do arresto do século XVIII,<br />

para os quais reivindicou usucapião, após<br />

uma <strong>de</strong>manda judicial <strong>de</strong> 14 anos contra um<br />

advogado que tentou tomar‐lhe as terras não<br />

escrituradas. Alberto morreu em 1991,<br />

vitimado pela contaminação do sangue por<br />

mercúrio.<br />

Tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecê‐lo. Na primeira<br />

vez em que estive naquela casa <strong>de</strong> chão<br />

<strong>de</strong> cimento batido, assentada na encosta <strong>de</strong><br />

um morro baixo, fiquei impressionado com os<br />

gemidos intermitentes – às vezes bem altos,<br />

quase gritos – que vinham do quarto ao lado<br />

da sala <strong>de</strong> visitas. Só dona Albertina não se<br />

alterava. Entretinha‐me e à minha mãe com<br />

recordações da infância. Quando minha mãe<br />

perguntou pelo seu marido, ela se <strong>de</strong>u conta:<br />

“Tá aí no quarto, sofrendo. Tem mercúrio no<br />

sangue. O corpo todo dói, mas ele não quer<br />

morrer no hospital”. Abriu a porta do quarto e<br />

vimos o homem encurvado sobre a cama<br />

estreita, a face encovada, a testa porejando.<br />

Minha mãe se i<strong>de</strong>ntificou e ele tentou um<br />

sorriso. Conseguiu dizer que estava “muito<br />

mal”, e foi só. “Agora é só com Deus”, lamentou<br />

Albertina. Após a morte do marido,<br />

Albertina ven<strong>de</strong>u a meta<strong>de</strong> do terreno para<br />

“ajudar no sustento”, que não vem mais da<br />

plantação <strong>de</strong> milho, inhame, feijão, batata,<br />

abóbora, da extração <strong>de</strong> lenha, da produção<br />

<strong>de</strong> leite e queijos, como antigamente. A partir<br />

dos anos 1970, a melhora na logística <strong>de</strong><br />

distribuição <strong>de</strong> grãos e legumes, plantados<br />

em terras mais produtivas, acabou com o<br />

mercado local. O mesmo aconteceu com a<br />

chegada do fogão a gás, encerrando 270<br />

anos <strong>de</strong> domínio do fogão a lenha. Na década<br />

<strong>de</strong> 1990, a política ambientalista jogou a<br />

pá <strong>de</strong> cal sobre outras tradições. A polícia<br />

florestal se instalou em Mariana, subiu a<br />

serra e proibiu plantações extensivas, corte<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira para venda, caça e garimpo com<br />

máquinas.<br />

Fazenda da Vargem ( ano 1944 ) - Acervo José Eduardo Liboreiro


Vargem do Itacolomi - 2016 - Arquivo Cristiano Casimiro


A diáspora dos Gomes, iniciada 20 anos<br />

antes, aumentou. Até mesmo a maioria dos<br />

filhos <strong>de</strong> Albertina foi embora. Das nove<br />

casas que o Areião chegou a ter, sobraram<br />

apenas duas. Numa <strong>de</strong>las mora Albertina e o<br />

filho; na outra, a filha e o marido. Os outros<br />

sete se mudaram para Mariana ou Ouro<br />

Preto. Deles, cinco são aposentados por<br />

invali<strong>de</strong>z. Albertina vive com R$ 700,00 do<br />

Funrural, parte sua aposentadoria, parte<br />

pensão <strong>de</strong> Alberto. O filho Wagner, que está<br />

<strong>de</strong> malas prontas para ir morar em Mariana,<br />

ajuda a mãe no corte <strong>de</strong> lenha para o fogão,<br />

na pequena plantação e no moinho d'água,<br />

on<strong>de</strong> o milho se transforma no fubá que vai<br />

virar broa, cuscuz e angu, comida <strong>de</strong> todos os<br />

dias. Há ainda um porco, galinhas e um<br />

cavalo, que entram pela casa sem cerimônia.<br />

“Galinha <strong>de</strong>ntro da minha casa, não!” – ralha<br />

Albertina, sem muita convicção, ao <strong>de</strong>parar-<br />

‐se com uma penosa preta aninhada em sua<br />

cama <strong>de</strong> casal. “O que você está caçando,<br />

galinha? Quer botar, vai botar seu ovo lá!”<br />

Meia hora <strong>de</strong>pois, o visitante é o cavalo. A<br />

cabeçorra entra pela janela da cozinha,<br />

fareja a bancada da pia com po<strong>de</strong>rosas<br />

narinas. “Sai, cavalo. Cavalo feio. Vai pra lá!”<br />

Costumes e falas arcaicas resistiram ali ao<br />

rádio, à estrada e à luz elétrica. O novo<br />

<strong>de</strong>safio é a televisão. Entre as duas casas do<br />

Areião ergue‐se, há sete anos, uma antena<br />

parabólica, que acrescentou um gasto às<br />

<strong>de</strong>spesas mensais <strong>de</strong> Albertina. A serra do<br />

Itacolomi é uma região <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> incidência<br />

<strong>de</strong> queda <strong>de</strong> raios, e a antena não passa três<br />

meses sem ser atingida. Des<strong>de</strong> então, são<br />

essas as preocupações cotidianas <strong>de</strong><br />

Albertina: os raios e a polícia florestal. “Eles<br />

só vêm aqui para atormentar gente pobre”,<br />

<strong>de</strong>sabafa. Há um ano, tentaram multá‐la em<br />

R$ 2.600,00 por ter construído uma pequena<br />

represa <strong>de</strong>stinada, na seca, a aumentar o<br />

fluxo do córrego da Prata, que toca o seu<br />

moinho. Wagner, furioso, ameaçou afogar o<br />

policial. Um vereador <strong>de</strong> Mariana se prontificou<br />

a socorrê‐los. Houve recurso. A multa –<br />

“murta”, como dizem – foi suspensa e<br />

Wagner, perdoado.<br />

Albertina não faz associações entre os<br />

policiais <strong>de</strong> hoje e os esbirros da Coroa que<br />

pren<strong>de</strong>ram seu pentavô. Conta suas peripécias<br />

para escapar da “murta”, para minutos<br />

<strong>de</strong>pois narrar uma suposta esperteza do<br />

antepassado. Mas um fio não conduz ao<br />

outro. A história que conta é quase puro<br />

folclore. O fato ocorreu em 1940, quando ela<br />

tinha 13 anos. O dono da Vargem, A<strong>de</strong>lino <strong>de</strong><br />

Castro Maia, <strong>de</strong>cidira <strong>de</strong>molir a casa original<br />

da fazenda e contratara os pais e tios <strong>de</strong><br />

Albertina para o serviço. Além <strong>de</strong> velha, a<br />

construção era afamada pela ocorrência <strong>de</strong><br />

coisas inexplicáveis. A mais comum era a<br />

queda <strong>de</strong> imundícies na mesa <strong>de</strong> jantar,<br />

quando a família estava reunida. Ora <strong>de</strong>spencava<br />

esterco <strong>de</strong> animais, ora seixos<br />

molhados, gravetos, bolotas <strong>de</strong> barro. “Para<br />

morar lá, só mesmo o seu “Oscal” (Oscar,<br />

genro <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lino). “Homem bravo, sem<br />

medo”, comenta Albertina.<br />

No <strong>de</strong>smonte da fazenda, outra história<br />

fo‐i se construindo. Sob um barrote <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>grau da escada encontrou‐se uma caçarola<br />

<strong>de</strong> ferro tampada. Dentro, uma carta <strong>de</strong><br />

escrita antiga. Lida por um especialista em<br />

Ouro Preto, o texto revelou o relato <strong>de</strong> um<br />

auto<strong>de</strong>nominado afilhado <strong>de</strong> Cláudio<br />

Manoel. Contava ter trazido uma carga para<br />

a fazenda, em carro <strong>de</strong> boi e lombo <strong>de</strong> burros,<br />

a mando do tio, preso em Vila Rica. Saíra <strong>de</strong><br />

noite, escapando à vigilância dos soldados<br />

do governador. Junto iam quatro escravos<br />

com sentença pre<strong>de</strong>finida: <strong>de</strong>veriam ser<br />

mortos tão logo o material fosse enterrado. A<br />

misteriosa remessa seria composta <strong>de</strong><br />

moedas, jóias, ouro em barra e em pó. Tudo<br />

foi <strong>de</strong>positado junto a um pé <strong>de</strong> laranja, no<br />

pasto dos burros, e coberto com terra e<br />

cascalho. Recorda Albertina que “seu<br />

A<strong>de</strong>lino” não fez nada, até que, dias <strong>de</strong>pois,<br />

quando do <strong>de</strong>smonte dos alicerces, foram<br />

encontrados quatro esqueletos dispostos<br />

cabeça a cabeça. “Bateu o vento e tudo virou<br />

pó, ficaram só as canelas” – contou o pai<br />

Henrique aos filhos, Albertina entre eles.<br />

A<strong>de</strong>lino se inquietou. Perguntou aos mais<br />

velhos on<strong>de</strong> era o pasto dos burros. Ninguém<br />

sabia – até porque 1789 estava há longínquos<br />

143 anos. Seguindo a disposição da<br />

casa e das trilhas no mato, selecionou áreas<br />

planas e mandou cavar. A terra foi toda<br />

revirada. Nada<br />

19


Decepcionado, mas ainda esperançoso,<br />

mandou vir <strong>de</strong> Belo Horizonte um certo Pai<br />

Cruzeiro e sua mulher, médiuns famosos <strong>de</strong><br />

um terreiro <strong>de</strong> umbanda. Durante dias foram<br />

feitas sessões, na área da casa velha e nos<br />

platôs. Pai Cruzeiro alterava a voz, contorcia<br />

o corpo, dizia‐se tomado por velhos<br />

espíritos, mas nenhum <strong>de</strong>les ajudava.<br />

A<strong>de</strong>lino finalmente <strong>de</strong>sistiu. A história ficou e<br />

ninguém mais se animou a fazer novas<br />

buscas, nem mesmo os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

legítimos do poeta: “Meu pai dizia: nóis num<br />

caça o que num guardou”, lembra Albertina.<br />

Para eles, o tesouro só virá à luz agora por<br />

<strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> Deus. E se vier, ela avisa, <strong>de</strong>le<br />

não falarão, pois temem a “florestal” e os<br />

advogados. Se os ouvisse, o velho Diogo <strong>de</strong><br />

Vasconcellos provavelmente aprovaria tal<br />

<strong>de</strong>sconfiança. Em 1915, ele fez as contas e<br />

mostrou que o fisco republicano era bem<br />

mais voraz que o do “rei velho”. O “quinto”,<br />

cuja cobrança <strong>de</strong>flagrou o movimento da<br />

Inconfidência, representava 12% do ouro<br />

produzido em Minas. Recentemente, o<br />

ministro da Fazenda, Guido Mantega,<br />

admitiu que o fisco leva 47% do que se<br />

produz no Brasil. Na <strong>de</strong>spedida do Areião,<br />

pergunto a Albertina se irá a Ouro Preto nas<br />

festas <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> abril. “Sempre quis ir, mas<br />

nunca fui. Antes não tinha estrada. Depois,<br />

não tinha ônibus. Agora tem, mas como é<br />

feriado, o ônibus não passa”.<br />

Passo da Rua Direita - Cristiano Casimiro<br />

Pico do Itacolomi - Foto : Cristiano Casimiro<br />

20


Cláudio Manoel da Costa foi um dos maiores marianense, lutou pela igualda<strong>de</strong>,<br />

por um estado <strong>de</strong>mocrático e pela liberda<strong>de</strong>...Em mariana temos<br />

uma praça com seu nome um distrito em sua homenagem, mas será que os<br />

marianenses qual importância <strong>de</strong>le para formação cívica e cultural do<br />

Brasil? Segue abaixo parte do Soneto: Fábula do ribeirão do Carmo.<br />

FÁBULA DO RIBEIRÃO DO CARMO<br />

A vós, canoras Ninfas, que no amado<br />

Berço viveis do plácido Mon<strong>de</strong>go,<br />

Que sois da minha lira doce emprego,<br />

Inda quando <strong>de</strong> vós mais apartado;<br />

A vós do pátrio Rio em vão cantado<br />

O sucesso infeliz eu vos entrego;<br />

E a vítima estrangeira, com que chego,<br />

Em seus braços acolha o vosso agrado.<br />

Ve<strong>de</strong> a história infeliz, que Amor or<strong>de</strong>na,<br />

Jamais <strong>de</strong> Fauno, ou <strong>de</strong> Pastor ouvida,<br />

Jamais cantada na silvestre avena.<br />

Se ela vos <strong>de</strong>sagrada, por sentida,<br />

Sabei que outra mais feia em minha pena<br />

Se vê entre estas serras escondida.<br />

Foto : Márcio Lima<br />

Sobrado ( ve<strong>de</strong> e amarelo) on<strong>de</strong> viveu o poeta e inconfi<strong>de</strong>nte Cláudio Manoel da Costa - Praça Cláudio Manoel em Mariana


Acervo : Museu da Música <strong>de</strong> Mariana


MUSEU DA MÚSICA DE MARIANA<br />

Paulo Castanha<br />

O Museu da Música <strong>de</strong> Mariana, como tem<br />

sido popularmente chamado o Museu da<br />

Música do Arquivo Eclesiástico da<br />

Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana, vem participando<br />

da construção cultural <strong>de</strong> brasileiros e portugueses.<br />

Sua história, no entanto, exibe uma<br />

complexa teia <strong>de</strong> relações, que fez <strong>de</strong>sta<br />

instituição um centro pioneiro <strong>de</strong> recepção,<br />

preservação e difusão do patrimônio histórico-musical<br />

luso-brasileiro, que se encontra<br />

em franco <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A origem do Museu da Música está associada<br />

a um problema inicialmente observado<br />

pelo musicólogo teuto-uruguaio Francisco<br />

Curt Lange (1903-1997), que realizou as<br />

primeiras investigações histórico-musicais<br />

em território brasileiro nas décadas <strong>de</strong> 1940 e<br />

1950: a falta <strong>de</strong> pessoal especializado e,<br />

principalmente, <strong>de</strong> instituições locais <strong>de</strong>stinadas<br />

ao cuidado e estudo <strong>de</strong> acervos <strong>de</strong><br />

manuscritos musicais. A primeira solução<br />

adotada por Curt Lange foi, no entanto,<br />

discutível: o musicólogo obteve muitos<br />

manuscritos musicais com os quais se<br />

<strong>de</strong>parou nos estados <strong>de</strong> Minas Gerais, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e São Paulo, por compra ou por<br />

métodos obscuros, levando-os à sua residência,<br />

nessas décadas no Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />

em Montevidéu (Uruguai).<br />

Mas se, nesse período, não havia no Brasil<br />

nenhuma instituição especificamente<br />

<strong>de</strong>dicada a esse tipo <strong>de</strong> acervo, ao menos<br />

nos mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fendidos por Curt Lange, os<br />

manuscritos por ele recolhidos estavam<br />

sendo cada vez mais referidos no Brasil,<br />

principalmente a partir da primeira publicação<br />

<strong>de</strong> uma coletânea <strong>de</strong>sse repertório<br />

(LANGE, 1951) e <strong>de</strong> sua primeira gravação,<br />

em 1958. Por outro lado, praticamente<br />

nenhum especialista, além <strong>de</strong>le próprio, tinha<br />

acesso a tais documentos, antes <strong>de</strong> sua<br />

transferência para o Museu da Inconfidência<br />

(Ouro Preto – MG) em 1983 e sua disponibilização<br />

pública na década seguinte.<br />

Foi nesse contexto que se <strong>de</strong>stacou o trabalho<br />

do terceiro arcebispo da Arquidiocese <strong>de</strong><br />

Mariana, Dom Oscar <strong>de</strong> Oliveira (1912-<br />

1997). Des<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> sua função arquiepiscopal,<br />

em 1960, Dom Oscar vinha tomando<br />

várias medidas referentes à preservação<br />

e acesso ao patrimônio histórico e artístico <strong>de</strong><br />

sua região: em 1962 instituiu o Museu<br />

Arquidiocesano <strong>de</strong> Arte Sacra e em 1965 o<br />

Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese <strong>de</strong><br />

Mariana. Até o final <strong>de</strong> sua atuação à frente<br />

da arquidiocese, em 1988, Dom Oscar<br />

fundou também o Museu do Livro (com o<br />

acervo da antiga Biblioteca dos Bispos <strong>de</strong><br />

Mariana), o Museu dos Móveis, a Fundação<br />

Cultural e Educacional da Arquidiocese <strong>de</strong><br />

Mariana e a Fundação Marianense <strong>de</strong><br />

Educação.<br />

Mariana é se<strong>de</strong> episcopal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1748 e a<br />

sexta diocese brasileira, <strong>de</strong>pois das dioceses<br />

(ou bispados) da Bahia (1555), Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro (1676), Olinda (1676), Maranhão<br />

(1677) e Pará (1719), tendo sido elevada a<br />

arquidiocese em 1906. Primeira vila, cida<strong>de</strong> e<br />

capital <strong>de</strong> Minas Gerais, Mariana começou a<br />

se <strong>de</strong>senvolver economicamente em função<br />

da mineração aurífera, tornando-se região<br />

agropastoril no século XIX e, na recente fase<br />

industrial, um centro minerador <strong>de</strong> ferro.<br />

A herança urbanística e eclesiástica <strong>de</strong><br />

Mariana fez com que lá se concentrassem<br />

muitas reminiscências da antiga arte sacra<br />

(especialmente dos séculos XVIII e XIX),<br />

incluindo muitos manuscritos musicais e o<br />

conhecido órgão Arp Schnitger construído<br />

em Hamburgo (Alemanha) na primeira<br />

década do século XVIII e transferido para a<br />

catedral <strong>de</strong> Mariana em 1753.<br />

Mudanças litúrgicas do século XX, no<br />

entanto, acarretaram uma sensível<br />

diminuição das atenções em relação ao<br />

repertório dos séculos anteriores, até o<br />

momento em que essa música começou a<br />

ser vista não apenas como componente<br />

litúrgico, mas também como patrimônio<br />

histórico. Quem pela primeira vez percebeu<br />

isso em Mariana foi Dom Oscar <strong>de</strong> Oliveira.<br />

23


24<br />

Acervo : Museu da Música <strong>de</strong> Mariana


Des<strong>de</strong> sua consagração como arcebispo em<br />

1960, Dom Oscar <strong>de</strong> Oliveira já manifestava<br />

especial interesse pela música sacra. Nesse<br />

mesmo ano publicou uma série <strong>de</strong> treze<br />

artigos com o título “Música sacra e liturgia”<br />

(OLIVEIRA, 1960), embora sem qualquer<br />

menção ao passado musical marianense.<br />

Em meio a tais iniciativas e sentindo a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação também dirigida<br />

ao patrimônio histórico-musical, o arcebispo<br />

fundou em 1973 o Museu da Música, como<br />

p a r t e d o A r q u i v o E c l e s i á s t i c o d a<br />

Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana. Principalmente<br />

constituído <strong>de</strong> manuscritos musicais, apesar<br />

<strong>de</strong> também contar com alguns instrumentos<br />

musicais, o Museu da Música acabou<br />

recebendo esse nome em <strong>de</strong>corrência das<br />

instituições anteriormente fundadas por Dom<br />

Oscar para a proteção do patrimônio<br />

histórico marianense, como o Museu <strong>de</strong> Arte<br />

Sacra e o Museu do Livro.<br />

A fundação do Museu da Música foi uma<br />

solução criada por Dom Oscar para a falta <strong>de</strong><br />

instituições brasileiras <strong>de</strong>stinadas à<br />

preservação e estudo <strong>de</strong> manuscritos<br />

musicais. Tal solução, entretanto, foi o<br />

resultado <strong>de</strong> uma longa série <strong>de</strong> ações<br />

anteriores à sua oficialização, que inclui a<br />

tradição dos mestres da capela do século<br />

XVIII e a acumulação <strong>de</strong> manuscritos<br />

musicais na cida<strong>de</strong> durante o século XIX.<br />

Quando assumiu a arquidiocese, ou talvez<br />

mesmo antes disso, Dom Oscar <strong>de</strong> Oliveira<br />

percebeu que a cúria marianense, à época<br />

instalada na igreja <strong>de</strong> São Pedro dos Clérigos<br />

g u a r d a v a u m p r e c i o s o a c e r v o d e<br />

manuscritos musicais, muitos <strong>de</strong>les bastante<br />

a n t i g o s . O a r c e b i s p o m a n i f e s t o u<br />

publicamente o interesse por esse acervo em<br />

1966, quando convidou o irmão marista<br />

Wagner Ribeiro a publicar o artigo “Visita ao<br />

maravilhoso reino da música antiga<br />

mariananese” no jornal O Arquidiocesano,<br />

texto que se tornou a mais antiga notícia hoje<br />

disponível sobre o acervo que <strong>de</strong>u origem ao<br />

Museu da Música.<br />

Entre outros impressos e documentos,<br />

Wagner Ribeiro (1966) <strong>de</strong>screveu <strong>de</strong>zenove<br />

manuscritos musicais do acervo da cúria,<br />

chegando a apresentar o incipit musical<br />

(fda Antífona <strong>de</strong> Nossa Senhora Regina<br />

Cæli lætare <strong>de</strong> José Joaquim Emerico Lobo<br />

<strong>de</strong> Mesquita (1746?-1805), a partir <strong>de</strong> uma<br />

cópia <strong>de</strong> 1779, o mais antigo manuscrito<br />

musical datado <strong>de</strong>sse acervo. No ano<br />

seguinte, um artigo do mesmo jornal<br />

(VASCONCELLOS, 1967) já mencionava a<br />

existência <strong>de</strong> dois arquivistas musicais<br />

trabalhando na cúria: Aníbal Pedro Walter e<br />

Vicente Ângelo das Mercês. A partir <strong>de</strong>sse<br />

período, o arcebispo estava firmemente<br />

<strong>de</strong>cidido a cuidar <strong>de</strong>sse acervo.<br />

Mas qual foi a origem dos manuscritos<br />

musicais preservados na cúria <strong>de</strong> Mariana? A<br />

existência <strong>de</strong> uma tradição musical do século<br />

XVIII (CASTAGNA, 2004b) na matriz e<br />

<strong>de</strong>pois catedral <strong>de</strong> Mariana , associada à<br />

presença <strong>de</strong> várias cópias <strong>de</strong>sse período no<br />

acervo encontrado por Dom Oscar,<br />

sugeriram a hipótese <strong>de</strong> que o acervo<br />

musical da cúria fosse o remanescente do<br />

antigo arquivo musical da catedral <strong>de</strong><br />

Mariana, suposição apoiada pela existência<br />

<strong>de</strong> várias cópias com a indicação <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> “catedral” na página <strong>de</strong> rosto.<br />

De fato, vários documentos atestam a<br />

relação entre o arquivo musical catedralício e<br />

o acervo encontrado por Dom Oscar <strong>de</strong><br />

Oliveira na cúria, como a “Lista das músicas<br />

pertencentes à Catedral”, <strong>de</strong> 1832, embora<br />

seja evi<strong>de</strong>nte que boa parte do repertório<br />

acumulado nessa igreja nos séculos XVIII e<br />

XIX tenha se perdido. Paralelamente, em<br />

1882, o arcediago José <strong>de</strong> Souza Teles<br />

Guimarães doou à catedral <strong>de</strong> Mariana 164<br />

músicas “dos melhores autores conhecidos,<br />

para uso da Catedral”, encaminhando “a lista<br />

nominal <strong>de</strong> todas as peças” e solicitando que<br />

“as ditas músicas sejam acondicionadas e<br />

zeladas <strong>de</strong> modo que se prestem ao fim<br />

proposto” (CASTAGNA, 2010). Essa “lista<br />

nominal” parece correspon<strong>de</strong>r à “Lista Geral<br />

<strong>de</strong> Todas as Músicas” localizada no Arquivo<br />

Eclesiástico da Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana, a<br />

qual exibe muitas correspondências com o<br />

antigo acervo musical da cúria e nos ajuda a<br />

esclarecer a origem <strong>de</strong> uma parte dos<br />

manuscritos preservados.<br />

25


Acervo : Museu da Música <strong>de</strong> Mariana


Não são conhecidos registros sobre a transferência<br />

do arquivo musical da catedral para<br />

a cúria, mas isso <strong>de</strong>ve ter ocorrido após a<br />

promulgação do Motu Proprio Tra le sollecitudini<br />

(22 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1903) do papa Pio<br />

X, que acarretou o <strong>de</strong>suso da maior parte do<br />

repertório sacro dos séculos XVIII e XIX,<br />

<strong>de</strong>corrente da <strong>de</strong>puração do “funesto<br />

influxo que sobre a arte sacra exerce a arte<br />

profana e teatral” solicitada pelo pontífice.<br />

Essa <strong>de</strong>terminação foi amplamente conhecida<br />

pelo clero marianense, pois além <strong>de</strong> ter<br />

sido transcrita nas atas do cabido, foi impressa<br />

em Mariana poucos meses após sua<br />

assinatura em Roma (PIO X, 1904).<br />

Pelo menos trezentas obras <strong>de</strong>vem ter sido<br />

transferidas da catedral à cúria <strong>de</strong> Mariana no<br />

início do século XX, a julgar pelo atual conteúdo<br />

da seção mais antiga do Museu da<br />

Música. Entre elas, estão principalmente<br />

composições <strong>de</strong> autores afro-mineiros dos<br />

séculos XVIII e XIX, mas também algumas<br />

obras <strong>de</strong> autores portugueses mais antigos,<br />

com <strong>de</strong>staque para as quatro Paixões da<br />

Semana Santa escritas por Francisco Luís no<br />

século XVII. Fica assim evi<strong>de</strong>nte que, embora<br />

instituído há 40 anos, o Museu da Música<br />

<strong>de</strong> Mariana partiu <strong>de</strong> um repertório acumulado<br />

ao longo <strong>de</strong> três séculos – obviamente<br />

com muitas perdas e substituições – mas<br />

cujas raízes remontam à história musical<br />

portuguesa, europeia e católica. Nesse<br />

sentido, o acervo do Museu da Música é a<br />

reminiscência, no Brasil, <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

difusão musical que iniciou-se na Europa e<br />

cruzou várias vezes o Atlântico, reunindo e<br />

mesclando estilos, tendências, origens,<br />

formas e funções.<br />

Interessado em preservar toda essa documentação<br />

musical, o arcebispo Dom Oscar<br />

<strong>de</strong> Oliveira tomou duas medidas, ainda no<br />

final da década <strong>de</strong> 1960: a primeira <strong>de</strong>las foi<br />

convidar, para a função <strong>de</strong> arquivista musical,<br />

a professora Maria Ercely Coutinho , que<br />

trabalhou na cúria, ainda na igreja <strong>de</strong> São<br />

Pedro dos Clérigos, <strong>de</strong> 1968 a 1972 (em<br />

substituição aos primeiros arquivistas Aníbal<br />

Pedro Walter e Vicente Ângelo das Mercês,<br />

que lá atuaram em 1967). A segunda foi<br />

solicitar às famílias <strong>de</strong> músicos que o arcebispo<br />

encontrava, durante as visitas episcopais<br />

às paróquias da arquidiocese, a doação <strong>de</strong><br />

músicas à cúria <strong>de</strong> Mariana, o que ocorreu<br />

várias vezes a partir <strong>de</strong>ssa época: o primeiro<br />

<strong>de</strong>sses acervos foi oferecido em 1969 por<br />

José Henrique Ângelo, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma<br />

família <strong>de</strong> músicos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barão <strong>de</strong><br />

Cocais (MG)<br />

O tamanho e a complexida<strong>de</strong> do acervo <strong>de</strong><br />

Barão <strong>de</strong> Cocais tornou necessária a intervenção<br />

<strong>de</strong> um musicólogo com experiência<br />

na área, o que representou novo <strong>de</strong>safio ao<br />

arcebispo. Francisco Curt Lange, que já tinha<br />

conhecimento do acervo musical da cúria <strong>de</strong><br />

Mariana, começou a oferecer seu trabalho a<br />

D o m O s c a r d e O l i v e i r a e m 1 9 6 7<br />

(CASTAGNA, 2005), mas este acabou<br />

aceitando a colaboração do padre José <strong>de</strong><br />

Almeida Penalva (1924-2002) , que já vinha<br />

trabalhando com manuscritos musicais em<br />

Campinas, sua cida<strong>de</strong> natal: o primeiro<br />

trabalho <strong>de</strong> Penalva como pesquisador havia<br />

sido impresso em 1955, mas a catalogação,<br />

em 1970, das obras <strong>de</strong> Carlos Gomes (1836-<br />

1896) no Centro <strong>de</strong> Ciências, Letras e Artes<br />

<strong>de</strong> Campinas (SP), foi a iniciativa que diretamente<br />

o conectou à pesquisa que realizaria<br />

e m M a r i a n a d o i s a n o s m a i s t a r d e<br />

(PROSSER, 2000: 227).<br />

Em Mariana, José Penalva organizou e<br />

elaborou um catálogo do arquivo <strong>de</strong> José<br />

Henrique Ângelo, parcialmente publicado no<br />

jornal O Arquidiocesano em 1972 , porém<br />

impresso em sua forma integral no ano<br />

seguinte na revista Ca<strong>de</strong>rnos, periódico do<br />

Studium Theologicum <strong>de</strong> Curitiba (PR),<br />

cida<strong>de</strong> na qual o padre Penalva passou a<br />

residir.<br />

Com o encerramento do trabalho <strong>de</strong> Maria<br />

Ercely Coutinho e do Padre José <strong>de</strong> Almeida<br />

Penalva, em 1972, surgiu novamente a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contar com alguém que<br />

continuasse o trabalho por eles iniciado. Dom<br />

Oscar <strong>de</strong> Oliveira, em nova ação planejadora,<br />

aceitou a colaboração <strong>de</strong> Maria da<br />

Conceição <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, então professora <strong>de</strong><br />

História e Estética Musical na Fundação <strong>de</strong><br />

Educação Artística <strong>de</strong> Belo Horizonte (MG),<br />

que assumiu as tarefas <strong>de</strong> organização,<br />

catalogação e estudo do acervo por doze<br />

anos ininterruptos.<br />

27


A importância do acervo do Museu da Música <strong>de</strong> Mariana , que abriga mais <strong>de</strong> 2 mil<br />

partituras originais, foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a<br />

Educação, Ciência e Cultura (Unesco) por meio do Diploma do Registro<br />

Regional para a América Latina e o Caribe.<br />

O título foi concedido pelo Programa Memória do Mundo, cujo objetivo é i<strong>de</strong>ntificar<br />

e certificar patrimônios documentais <strong>de</strong> relevância internacional, regional e<br />

nacional, facilitando assim sua preservação e acesso pelo público geral.<br />

A coleção <strong>de</strong> música sacra manuscrita do Museu da Música <strong>de</strong> Mariana, consi<strong>de</strong>rada<br />

uma das mais importantes da América Latina, é um patrimônio não só da<br />

população <strong>de</strong> Mariana, mas sim do mundo.<br />

28


Conceição Rezen<strong>de</strong> conviveu pouco tempo<br />

com Penalva e Coutinho em Mariana e logo<br />

passou a <strong>de</strong>senvolver praticamente sozinha<br />

sua tarefa, às vezes contando com o auxílio<br />

<strong>de</strong> músicos e professores <strong>de</strong> Mariana e <strong>de</strong><br />

Belo Horizonte (CASTAGNA, 2004a). Poucas<br />

semanas após o início do trabalho <strong>de</strong><br />

Conceição Rezen<strong>de</strong>, naquele agitado ano <strong>de</strong><br />

1972, a catalogação dos manuscritos musicais<br />

da cúria (especialmente do século XVIII)<br />

motivou constantes reportagens na imprensa<br />

diária , o que acabou dando ao acervo, a partir<br />

<strong>de</strong>sse período, uma notorieda<strong>de</strong> nacional e<br />

internacional.<br />

Foi <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tudo isso que Dom Oscar <strong>de</strong><br />

Oliveira fundou o Museu da Música, inaugurado<br />

em uma sala do novo edifício da Cúria e<br />

Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese <strong>de</strong><br />

Mariana em 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1973, paradoxalmente<br />

sem a presença do arcebispo, cuja<br />

mãe havia falecido nessa mesma época. A<br />

partir <strong>de</strong> então, as notícias sobre o Museu da<br />

Música tornaram-se frequentes e as doações<br />

<strong>de</strong> manuscritos musicais aumentaram consi<strong>de</strong>ravelmente.<br />

Utilizando a metodologia <strong>de</strong>senvolvida por<br />

José <strong>de</strong> Almeida Penalva, Maria da<br />

Conceição <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> passou a separá-los<br />

pela cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem e por seis categorias<br />

funcionais: 1) Te Deum; 2) Ladainhas; 3)<br />

Ofícios e Novenas; 4) Missas; 5) Semana<br />

Santa; 6) Fúnebres. Assim, o acervo encontrado<br />

na cúria por Dom Oscar tornou-se a<br />

seção “Mariana”, enquanto o acervo estudado<br />

por José Penalva tornou-se a seção<br />

“Barão <strong>de</strong> Cocais”, cada um <strong>de</strong>les divididos<br />

em seis seções referentes à categorias acima<br />

mencionadas.<br />

Na década <strong>de</strong> 1980, os papéis <strong>de</strong> música já<br />

eram proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> trinta cida<strong>de</strong>s<br />

mineiras – felizmente registradas por<br />

Conceição Rezen<strong>de</strong> – e sua organização<br />

estimulou várias ações relacionadas ao<br />

patrimônio histórico-musical brasileiro. Uma<br />

<strong>de</strong>las foi a microfilmagem <strong>de</strong> parte dos<br />

manuscritos do Museu da Música (cujos<br />

fotogramas encontram-se na Pontifícia<br />

Universida<strong>de</strong> Católica do Rio <strong>de</strong> Janeiro),<br />

para a elaboração do catálogo O ciclo do<br />

ouro, que relaciona manuscritos musicais e<br />

outros documentos históricos <strong>de</strong> onze acervos<br />

mineiros e cariocas (BARBOSA, 1978).<br />

Conceição Rezen<strong>de</strong>, no entanto, encerrou<br />

seu trabalho no Museu da Música durante o I<br />

Encontro Nacional <strong>de</strong> Pesquisa em Música<br />

(Mariana, julho <strong>de</strong> 1984), ocasião na qual<br />

Dom Oscar provi<strong>de</strong>nciou o registro jurídico da<br />

instituição, abrindo-o finalmente à pesquisa.<br />

Em função da falta <strong>de</strong> espaço, o Museu da<br />

Música acabou sendo transferido para o<br />

recém-inaugurado Palácio Arquiepiscopal, na<br />

Praça Gomes Freire, em 1988 (mesmo ano<br />

em que Dom Oscar <strong>de</strong> Oliveira encerrou sua<br />

atuação como arcebispo <strong>de</strong> Mariana) e, ao<br />

lado do Museu do Livro, continuou recebendo<br />

pesquisadores e estimulando ações semelhantes<br />

nos anos seguintes .<br />

Felizmente, Dom Oscar foi sucedido por Dom<br />

Luciano Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almeida (1930-2006),<br />

que não apenas manteve o acervo aberto à<br />

pesquisa no Palácio Arquiepiscopal, como<br />

também, à frente da Fundação Cultural e<br />

Educacional da Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana,<br />

aceitou novas ações referentes à mo<strong>de</strong>rnização<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento do Museu da Música.<br />

O Museu da Música <strong>de</strong> Mariana no século XXI<br />

Um trabalho <strong>de</strong>cisivo foi realizado no Museu<br />

da Música entre 2001 e 2003: o projeto “Acervo<br />

da Música Brasileira / Restauração e<br />

Difusão <strong>de</strong> Partituras”, da Fundação Cultural<br />

e Educacional da Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana,<br />

financiado pela Petrobras e administrado pelo<br />

Santa Rosa Bureau Cultural (Belo Horizonte –<br />

MG). Nessa fase, foi constituída uma equipe<br />

<strong>de</strong> pesquisadores para continuar a organização<br />

do acervo e elaborar um instrumento <strong>de</strong><br />

busca eletrônico, além <strong>de</strong> editar nove álbuns<br />

<strong>de</strong> partituras e coor<strong>de</strong>nar sua gravação por<br />

coros e orquestras <strong>de</strong> Belo Horizonte, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e São Paulo.<br />

29<br />

Acervo : Museu da Música <strong>de</strong> Mariana


O projeto Acervo da Música Brasileira gerou<br />

novo interesse e maior visibilida<strong>de</strong> em relação<br />

ao Museu da Música, que passou a<br />

contar com outras ações e projetos <strong>de</strong>stinados<br />

a aumentar a difusão social <strong>de</strong> seu<br />

acervo. Após a restauração do antigo Palácio<br />

dos Bispos <strong>de</strong> Mariana, entre 2004 e 2007 , o<br />

Museu da Música foi para lá transferido, on<strong>de</strong><br />

se encontra atualmente . O novo espaço<br />

tornou a instituição apta a <strong>de</strong>senvolver<br />

ativida<strong>de</strong>s diferentes, como a recepção <strong>de</strong><br />

grupos <strong>de</strong> visitantes e o oferecimento <strong>de</strong><br />

aulas e apresentações musicais, o que<br />

ampliou consi<strong>de</strong>ravelmente seu significado<br />

cultural e social.<br />

Des<strong>de</strong> então, além <strong>de</strong> continuar o trabalho<br />

técnico e <strong>de</strong> receber pesquisadores, o Museu<br />

da Música <strong>de</strong> Mariana têm realizado projetos<br />

<strong>de</strong>stinados não somente ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da pesquisa musicológica, mas também<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento musical, com a manutenção<br />

<strong>de</strong> espaços para exposições,aulas e<br />

apresentações musicais, e a realização <strong>de</strong><br />

projetos <strong>de</strong> apresentações públicas com<br />

obras <strong>de</strong> seu acervo em várias cida<strong>de</strong>s<br />

mineiras. Além disso, o Museu da Música<br />

mantém o projeto “Aperfeiçoamento <strong>de</strong><br />

Maestros e Regentes <strong>de</strong> Coro”, <strong>de</strong>stinado a<br />

<strong>de</strong>senvolver localmente a prática da música<br />

coral e a multiplicar ações nessa área.<br />

Em reconhecimento à importância <strong>de</strong> seu<br />

acervo <strong>de</strong> manuscritos musicais, mas também<br />

por conta dos projetos acima referidos, o<br />

Museu da Música <strong>de</strong> Mariana recebeu, do<br />

Programa Memória do Mundo da UNESCO,<br />

em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011, o Diploma do<br />

Registro Regional para a América Latina e o<br />

Caribe (MOWLAC), tornando-se, assim, a<br />

primeira instituição brasileira do gênero com<br />

esse tipo <strong>de</strong> distinção.<br />

Apesar dos projetos anteriores <strong>de</strong> edição e<br />

gravação, a maior parte do acervo do Museu<br />

da Música <strong>de</strong> Mariana é <strong>de</strong>sconhecido do<br />

público. Bastante variado, esse acervo inclui<br />

instrumentos musicais, documentos históricos,<br />

recortes <strong>de</strong> jornais, livros cerimoniais,<br />

bibliografia musicológica, manuscritos e<br />

impressos musicais. Entre os manuscritos –<br />

que constituem a maior parte do acervo –<br />

estão obras sacras <strong>de</strong> vários períodos históricos<br />

e uma gran<strong>de</strong> seção <strong>de</strong> música dos<br />

séculos XIX e XX para banda, ainda em<br />

processo <strong>de</strong> catalogação. É gran<strong>de</strong> o número<br />

<strong>de</strong> autores <strong>de</strong> música sacra representados<br />

no acervo, entre eles muitos brasileiros,<br />

como José Joaquim Emerico Lobo <strong>de</strong><br />

Mesquita (1746?-1805), Manoel Dias <strong>de</strong><br />

Oliveira (c.1735-1813), Francisco Gomes da<br />

Rocha (c.1754-1808), João <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong><br />

Castro Lobo (1794-1832) e José Maurício<br />

Nunes Garcia (1767-1830), e vários europeus,<br />

como os portugueses Francisco Luís (?-<br />

1693), Antonio Leal Moreira (1758-1819) e<br />

Marcos Portugal (1762-1830).<br />

Acervo : Museu da Música <strong>de</strong> Mariana


Acervo : Museu da Música <strong>de</strong> Mariana<br />

Por outro lado, a herança portuguesa e<br />

africana da maior parte dos compositores<br />

brasileiros representados no acervo – sem<br />

contar a música dos autores europeus que<br />

se transferiram para o Brasil – torna o Museu<br />

da Música <strong>de</strong> Mariana uma instituição <strong>de</strong><br />

significado internacional. Os projetos nele<br />

<strong>de</strong>senvolvidos não afetam apenas a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Mariana e nem somente o meio musicológico<br />

brasileiro, mas difun<strong>de</strong>m pelo mundo,<br />

especialmente <strong>de</strong> língua portuguesa, uma<br />

herança cultural que vem participando <strong>de</strong><br />

nossa vivência cultural por via direta ou<br />

indireta.<br />

O Museu da Música <strong>de</strong> Mariana tem estimulado<br />

o surgimento <strong>de</strong> instituições semelhantes<br />

em outras cida<strong>de</strong>s brasileiras – como o<br />

Museu da Música <strong>de</strong> Timbó (SC), inaugurado<br />

em 2004, e o Museu da Música <strong>de</strong> Itu<br />

(SP), inaugurado em 2007 – e seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

foi importante na elaboração <strong>de</strong><br />

outros projetos <strong>de</strong> conservação, organização,<br />

catalogação, edição e gravação <strong>de</strong><br />

obras, no Brasil e fora <strong>de</strong>le. Mesmo assim,<br />

as ações <strong>de</strong>ssa instituição estão longe <strong>de</strong><br />

serem encerradas: o Museu da Música<br />

planeja, atualmente, a digitalização e disponibilização<br />

eletrônica <strong>de</strong> seu acervo e outras<br />

iniciativas igualmente impactantes relacionadas<br />

ao patrimônio histórico-musical<br />

brasileiro.<br />

Vivemos, entretanto, em um período bastante<br />

diferente das décadas <strong>de</strong> 1940 a 1980,<br />

nas quais a falta <strong>de</strong> informações, <strong>de</strong> instituições<br />

e <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s mobilizou centenas<br />

<strong>de</strong> pessoas para o trabalho técnico e acadêmico<br />

relacionado ao patrimônio históricomusical.<br />

Na atualida<strong>de</strong>, os <strong>de</strong>safios são<br />

quase opostos aos daquela época, estando<br />

entre os principais o excesso <strong>de</strong> informações<br />

e que circula nas socieda<strong>de</strong>s e a falta<br />

<strong>de</strong> significado humano <strong>de</strong> boa parte das<br />

ações institucionais.<br />

Em virtu<strong>de</strong> da total reconfiguração do Museu<br />

da Música <strong>de</strong> Mariana e dos projetos nele<br />

<strong>de</strong>senvolvidos nos últimos treze anos, essa<br />

instituição vem se preparando para uma<br />

nova atuação junto à socieda<strong>de</strong>, que não se<br />

restringe somente à abertura <strong>de</strong> seu acervo<br />

aos especialistas (o que será permanentemente<br />

mantido), mas que visa também o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cultural e social, com<br />

ações <strong>de</strong> interesse público relacionados ao<br />

seu acervo. Se o Museu da Música foi, no<br />

passado, uma instituição pioneira no cuidado<br />

<strong>de</strong> antigos acervos musicais por especialistas,<br />

seu futuro aponta agora para o cuidado<br />

<strong>de</strong> pessoas por meio da música antiga.<br />

31


Foto: Márcio Lima


Órgão da Sé <strong>de</strong> Mariana<br />

A catedral da Sé <strong>de</strong> Mariana guarda um<br />

precioso tesouro musical – um órgão<br />

construído em 1701, em Hamburgo<br />

(Alemanha), por Arp Schnitger (1648-1719),<br />

um dos maiores construtores <strong>de</strong> órgãos <strong>de</strong><br />

todos os tempos. Enviado inicialmente a uma<br />

Igreja Franciscana em Portugal, o órgão<br />

chegou ao Brasil em 1753, como presente da<br />

coroa portuguesa ao primeiro Bispo <strong>de</strong><br />

Mariana.<br />

É um instrumento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância,<br />

tanto pela sua antigüida<strong>de</strong> e comprovada<br />

autoria, quanto por ter sido objeto <strong>de</strong> um<br />

amplo trabalho <strong>de</strong> restauração. Entre os<br />

órgãos da manufatura Schnitger que<br />

sobreviveram até hoje, esse é um dos<br />

exemplares mais bem conservados e o único<br />

que se encontra fora da Europa.<br />

Construído na Alemanha, provavelmente em<br />

1701, esse órgão passou um período em<br />

Portugal e, tendo sido colocado à venda em<br />

1747, foi adquirido das mãos do organeiro<br />

João da Cunha pelo Rei D. João V que<br />

preten<strong>de</strong>u enviá-lo à Mariana, mas que<br />

faleceu antes disso acontecer. Assim, seu<br />

filho D. José I fez do órgão um presente à<br />

récem criada Diocese <strong>de</strong> Mariana que, já em<br />

1748, mantinha, em sua Sé, um organista:<br />

Pe. Manuel da Costa Dantas e um mestre <strong>de</strong><br />

capela: Pe. Gregório dos Reis Melo.<br />

O transporte do órgão ocorreu por navio e<br />

lombo <strong>de</strong> animais, havendo relatos bem<br />

exatos das condições <strong>de</strong> chegada: “...um<br />

órgão gran<strong>de</strong> com sua caixa e talhas<br />

pertencentes a ele que chegou em 18 caixões<br />

numerados com as advertências precisas<br />

para se armar e também em 10 embrulhos<br />

gran<strong>de</strong>s e pequenos numerados...”.<br />

Des<strong>de</strong> sua instalação, em 1753, o órgão Arp<br />

Schnitger foi o centro <strong>de</strong> uma intensa<br />

ativida<strong>de</strong> musical na Sé <strong>de</strong> Mariana, cuja<br />

memória escrita é o acervo <strong>de</strong> partituras do<br />

Museu da Música, que abriga obras <strong>de</strong><br />

compositores do período colonial. São<br />

compositores <strong>de</strong> várias cida<strong>de</strong>s do Estado e<br />

do país. Após muitos anos <strong>de</strong> funcionamento<br />

ininterrupto, nos quais por algumas vezes<br />

recebeu algumas modificações visando<br />

adaptá-lo ao gosto vigente na época, por<br />

volta da década <strong>de</strong> 30 o órgão da Sé parou <strong>de</strong><br />

funcionar. Somente na década <strong>de</strong> 70, após<br />

pesquisas sobre a sua procedência e do<br />

reconhecimento <strong>de</strong> sua importância para o<br />

acervo <strong>de</strong> instrumentos musicais não só<br />

brasileiro, mas também mundial, foi feito um<br />

esforço concentrado para a restauração .<br />

Na década <strong>de</strong> 1970 o organista alemão Karl<br />

Richter esteve em Mariana a convite do<br />

Arcebispo D. Oscar <strong>de</strong> Oliveira e do então<br />

presi<strong>de</strong>nte da CEMIG, Dr. Francisco Afonso<br />

Noronha para fazer uma avaliação do<br />

instrumento que continha, no interior <strong>de</strong> sua<br />

caixa, um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> peças originais<br />

preservadas e consi<strong>de</strong>rou esse instrumento<br />

u m ó r g ã o m u i t o i m p o r t a n t e , s a í d o<br />

provavelmente da manufatura <strong>de</strong> Arp<br />

Schnitger. Após essa visita e graças a um<br />

esforço consi<strong>de</strong>rável, os elementos musicais<br />

do órgão foram enviados a Hamburgo,<br />

Alemanha, on<strong>de</strong> foram reformados sob os<br />

cuidados da firma von Beckerath.<br />

Enquanto isso, uma equipe brasileira da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, sob a<br />

orientação <strong>de</strong> Beatriz Coelho, restaurava a<br />

estrutura interna e externa da caixa e as<br />

partes que compõem a <strong>de</strong>coração do<br />

instrumento. Nesse primeiro trabalho, o<br />

gran<strong>de</strong> mérito foi trazer o instrumento <strong>de</strong> volta<br />

à vida usando as conquistas técnicas da<br />

época, sem <strong>de</strong>struir os sinais das fases<br />

anteriores, valiosíssimos no caso <strong>de</strong> uma<br />

restauração posterior com enfoque mais<br />

histórico.<br />

Reinaugurado em 1984 o Órgão Arp<br />

Schnitger voltou a ser centro da vida musical<br />

<strong>de</strong> Mariana, acompanhando missas e<br />

celebrações litúrgicas, além <strong>de</strong> ser<br />

apresentado em concertos regulares e<br />

internacionais, que tem trazido ao Brasil<br />

organistas <strong>de</strong> renome mundial. Embora o<br />

órgão estivesse tocando e funcionando bem,<br />

algumas características importantes que não<br />

pu<strong>de</strong>ram ser reconstruídas foram <strong>de</strong>ixadas<br />

para uma segunda etapa, feita por iniciativa<br />

da Fundação Cultural e Educacional da<br />

Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana, que teve início em<br />

julho <strong>de</strong> 1997, com a visita <strong>de</strong> Bernhard<br />

Edskes a Mariana, e foi concluída em<br />

fevereiro <strong>de</strong> 2002 com a entrega oficial do<br />

instrumento.<br />

Juntamente com a restauração foi refeita a<br />

pesquisa histórica do instrumento, visando o<br />

levantamento <strong>de</strong> mais dados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />

construção até a chegada em Minas, assim<br />

como suas diferentes funções ao longo <strong>de</strong><br />

sua história. Esta restauração foi realizada<br />

pela Firma Edskes Orgelbau, <strong>de</strong> Wohlen, na<br />

Suíça e teve o patrocínio da Petrobrás e o<br />

apoio da Varig, Tam e da Vitae.<br />

33


Acervo : Museu da Música <strong>de</strong> Mariana


Órgão do Museu da Música <strong>de</strong> Mariana<br />

O órgão do Museu da Música <strong>de</strong> Mariana foi<br />

construído por Abel Vargas, a partir do<br />

reaproveitamento <strong>de</strong> peças usadas em<br />

restaurações do órgão Arp Schnitger da<br />

catedral <strong>de</strong> Mariana. Não se trata, portanto,<br />

<strong>de</strong> um órgão barroco, <strong>de</strong> uma réplica ou <strong>de</strong><br />

um órgão feito com peças originais do<br />

instrumento da catedral, mas sim <strong>de</strong> um<br />

órgão totalmente mo<strong>de</strong>rno, que apenas<br />

reaproveitou peças das restaurações<br />

realizadas anteriormente na catedral.<br />

Em fins do século XIX, o órgão Arp Schnitger<br />

da catedral <strong>de</strong> Mariana (que foi construído<br />

em 1701) havia sido totalmente reafinado<br />

um tom acima, e alguns poucos tubos<br />

originais <strong>de</strong> metal (apenas meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

registro) haviam sido substituídos por tubos<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. No final do ano <strong>de</strong> 1937 o órgão<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> funcionar e, nas décadas<br />

subsequentes, foi se <strong>de</strong>teriorando e seus<br />

tubos foram sendo avariados, alguns <strong>de</strong>les<br />

perdidos.<br />

Entre 1980-1984, quando, pela primeira vez,<br />

o órgão da catedral foi restaurado, pela firma<br />

Beckerath Orgelbau, em Hamburgo, os<br />

tubos originais foram reparados e alguns<br />

tubos que faltavam foram substituídos por<br />

novos. Além disso, foram substituídos os<br />

antigos manuais (teclados) por novos<br />

exemplares, foi anexado um novo banco<br />

para o(a) organista e instalada, pela primeira<br />

vez, uma pedaleira. Todo o material<br />

removido foi cuidadosamente guardado e<br />

reenviado a Mariana.<br />

Entre 2000-2002 foi realizada a segunda<br />

restauração do órgão Arp Schnitger, <strong>de</strong>sta<br />

vez pela firma Edskes Orgelbau, que<br />

reconstituiu o tamanho original dos tubos e a<br />

afinação do século XVIII. Durante essa<br />

restauração <strong>de</strong> 2000-2002 (parte na Suíça e<br />

parte em Mariana), foram realizadas outras<br />

intervenções técnicas, como a troca<br />

daqueles poucos tubos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira do<br />

século XIX por novos tubos <strong>de</strong> metal, o<br />

retorno dos manuais originais do século<br />

XVIII (removidos entre 1980-1984), a troca<br />

do banco e da pedaleira por exemplares<br />

construídos segundo mo<strong>de</strong>los do século<br />

XVIII, bem como a substituição dos tubos<br />

instalados pela Beckerath, por tubos mais<br />

próximos dos originais. Todo o material<br />

inserido pela Beckerath entre 1980-1984 e<br />

removido pela Edskes, em 2000-2002,<br />

também foi cuidadosamente guardado.<br />

Finalmente em 2010, a partir <strong>de</strong> um projeto<br />

d a o r g a n i s t a E l i s a F r e i x o , c o m<br />

fi n a n c i a m e n t o d a P r e f e i t u r a d e<br />

Mariana/Conselho Municipal do Patrimônio<br />

Cultural/COMPAT, o luthier Abel Vargas<br />

reuniu as peças retiradas pelas firmas<br />

Beckerath e Edskes, que estavam<br />

encaixotadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, e construiu o<br />

órgão do Museu da Música <strong>de</strong> Mariana,<br />

acrescentando apenas o fole, o motor, a<br />

caixa externa, mais alguns tubos e algumas<br />

outras peças para dar unida<strong>de</strong> ao<br />

instrumento. O órgão do Museu da Música é,<br />

portanto, um órgão reciclado!<br />

Agora ainda faltam os ajustes finos, como o<br />

término da afinação e da regulagem dos<br />

manuais, o revestimento acústico do motor e<br />

alguns outros acabamentos técnicos. Até o<br />

final do ano, o órgão estará pronto e, em<br />

2015, já estará disponível para os projetos<br />

do Museu da Música, principalmente<br />

voltados ao ensino e ao estudo.<br />

O ó r g ã o e s t á e m f u n c i o n a m e n t o ,<br />

atualmente, no coro do Santuário do Carmo<br />

<strong>de</strong> Mariana.<br />

Foto : Cristiano casimiro<br />

O luthier Abel Vargas e equipe afinado o órgão<br />

no santuário do carmo em Mariana<br />

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Mariana<br />

<strong>Revista</strong> Histórica e Cultural<br />

Conhecer nosso patrimônio e saber preserva-lo.<br />

A <strong>Revista</strong> Mariana Histórica e Cultural estará<br />

presente neste evento

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