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2014_Luzes-ApostoloPulchrum

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jo de encostar-se em uma dessas paredes, nem de morar<br />

dentro de uma dessas casas. Tudo é pitoresco e tem algo<br />

de fortificado.<br />

Nas cidades italianas desse tempo as guerras internas,<br />

de bairro contra bairro, eram frequentes. Vê-se que<br />

a torre tem no alto uma espécie de terraço, maior do que<br />

a própria torre, com uns suportezinhos em forma de arco<br />

embaixo. Esses suportes são vazados, de maneira que<br />

deles se jogavam chumbo derretido, azeite e água fervente,<br />

disparavam-se flechas, etc., sobre os miseráveis que<br />

quisessem entrar ou sair, sem licença dos donos da torre.<br />

A pobreza aí é evidente; nada fala de riqueza. O que,<br />

entretanto, é bonito dentro disso?<br />

Antes de tudo, é bonita a velhice. Isto, reconstruído,<br />

seria muito menos bonito. O vento soprou, o Sol dardejou<br />

de modo inclemente sobre essas pedras, fazendo ferver<br />

as pessoas que moram ali. As dificuldades da vida,<br />

acontecimentos importantes se passaram nesse municipiozinho,<br />

e que tudo isso como que deu uma fisionomia a<br />

essas portas, janelas e a esses arcos.<br />

Cada lar era um lugar sagrado<br />

Tem-se a impressão de que essas janelas e portas não<br />

têm uma fisionomia inexpressiva de uma criança no berço,<br />

mas a fisionomia expressiva de um homem que já viveu<br />

muito, e no qual a sua biografia mudou o aspecto<br />

da boca, dos olhos, da carnatura; enfim, tudo mudou no<br />

choque da vida. Olhando para ele, vê-se sua história estampada<br />

em sua fisionomia.<br />

Vê-se que essas torres e casas passaram por convulsões<br />

da vida e apresentam a beleza forte da História. Durante<br />

muito tempo — queira Deus que até hoje — moraram<br />

ali populações com Fé, cientes de que a pobreza pode<br />

ser uma bênção, mas que é preciso lutar para que ela<br />

não nos jogue nos braços da morte. Sabiam que a vida é<br />

dura, difícil, mas que tudo isso aponta para o Céu e encontra<br />

nele a sua explicação, o seu prêmio. Compreendiam<br />

que a verdadeira vida de família, imbuída de sobrenatural,<br />

a dignidade e a respeitabilidade do chefe de família<br />

e de sua esposa face à prole numerosa que os venerava,<br />

tudo isso fazia de cada alvéolo, de cada lar, um<br />

lugar sagrado, respeitado, venerado. De vez em quando<br />

se ouve numa casa: “Papai está em cima, mamãe desceu,<br />

mas já vem.” E onde estão papai e mamãe, está o lar, a<br />

respeitabilidade, a sabedoria, a confiança na vida. Em última<br />

análise, o Mandamento que preceitua a castidade<br />

perfeita aos solteiros e a fidelidade entre casados paira<br />

como se fossem dois Anjos sobre essa casa.<br />

Na parede, uma Madonna, uma vela gasta. Mais<br />

adiante, um pequeno objeto esculpido por alguém e um<br />

presente dado por outrem. Sobre um móvel, uma campânula<br />

de vidro e dentro uma coroa de noiva. Era a coroa<br />

que a noiva — hoje anciã cheia de rugas e de cabelos<br />

brancos — levava, altaneira e digna, ao casamento, como<br />

símbolo de sua pureza, e que, a pedido do marido, se<br />

conservava lá por toda a sua existência.<br />

Quanta pulcritude na vida de pobreza!<br />

Isso todos o sentiam, o entendiam, e não havia essa ferocidade<br />

para escapar da vida de pobre como de dentro<br />

de um inferno. Tratava-se, do contrário, de entender o<br />

sabor que a vida de pobre tem, saber fruí-lo; isto era o segredo<br />

da vida dessa gente.<br />

A vida é, antes de tudo, uma<br />

caminhada para o Céu<br />

Comparem isso com algum aspecto de uma cidade<br />

contemporânea: prédios enormes visando dar uma impressão<br />

de monumental e de riqueza. Mas não têm graça,<br />

ninguém se detém para olhar nada, todo mundo passa<br />

depressa.<br />

Aqui não! É evidentemente uma rua pobre de um bairro<br />

pobre. As casas estão meio espremidas uma na outra.<br />

Nas paredes, de um lado e de outro, nada traz sinal de riqueza.<br />

Tudo é pobre, mas bonito, tem fisionomia, expressão.<br />

É muito mais atraente do que, por exemplo, qualquer<br />

dos grandes hotéis modernos, que se encontram mais ou<br />

menos por toda parte das grandes cidades.<br />

Nesse ambiente modesto o homem se sente em casa.<br />

E existe a alegria do conforto, mas principalmente o conforto<br />

da alma, do aconchego de pessoas que se entendem<br />

porque participam da mesma Fé e têm o mesmo modo<br />

de entender a vida, que é antes de tudo uma caminhada<br />

para o Céu; onde as almas restauram suas forças para<br />

voltar para a luta, ou ir para a oração, participar da Missa<br />

e comungar na igreja mais próxima.<br />

Nesse tipo de cidades há muitas igrejas, e não se dão<br />

dois passos sem encontrar com uma. Em todas elas, silencioso,<br />

invisível, está sempre Nosso Senhor realmente<br />

presente. Há muitas imagens de Nossa Senhora e de outros<br />

santos. A igreja é o palácio dos pobres. Eles entram<br />

e veem a riqueza da Santa Igreja, a beleza da Liturgia, se<br />

regalam com aquilo, seus horizontes se abrem, suas almas<br />

voam até o Céu.<br />

Quando se ama a Deus, tende-se<br />

para a beleza<br />

Analisemos agora uma fotografia de uma aldeia alemã,<br />

na noite de Natal.<br />

Esses grupos de pessoas percorrem de casa em casa<br />

para cantar alguma canção relativa ao Menino Jesus.<br />

São, em geral, pessoas de uma mesma família. Eles can-<br />

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