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jo de encostar-se em uma dessas paredes, nem de morar<br />
dentro de uma dessas casas. Tudo é pitoresco e tem algo<br />
de fortificado.<br />
Nas cidades italianas desse tempo as guerras internas,<br />
de bairro contra bairro, eram frequentes. Vê-se que<br />
a torre tem no alto uma espécie de terraço, maior do que<br />
a própria torre, com uns suportezinhos em forma de arco<br />
embaixo. Esses suportes são vazados, de maneira que<br />
deles se jogavam chumbo derretido, azeite e água fervente,<br />
disparavam-se flechas, etc., sobre os miseráveis que<br />
quisessem entrar ou sair, sem licença dos donos da torre.<br />
A pobreza aí é evidente; nada fala de riqueza. O que,<br />
entretanto, é bonito dentro disso?<br />
Antes de tudo, é bonita a velhice. Isto, reconstruído,<br />
seria muito menos bonito. O vento soprou, o Sol dardejou<br />
de modo inclemente sobre essas pedras, fazendo ferver<br />
as pessoas que moram ali. As dificuldades da vida,<br />
acontecimentos importantes se passaram nesse municipiozinho,<br />
e que tudo isso como que deu uma fisionomia a<br />
essas portas, janelas e a esses arcos.<br />
Cada lar era um lugar sagrado<br />
Tem-se a impressão de que essas janelas e portas não<br />
têm uma fisionomia inexpressiva de uma criança no berço,<br />
mas a fisionomia expressiva de um homem que já viveu<br />
muito, e no qual a sua biografia mudou o aspecto<br />
da boca, dos olhos, da carnatura; enfim, tudo mudou no<br />
choque da vida. Olhando para ele, vê-se sua história estampada<br />
em sua fisionomia.<br />
Vê-se que essas torres e casas passaram por convulsões<br />
da vida e apresentam a beleza forte da História. Durante<br />
muito tempo — queira Deus que até hoje — moraram<br />
ali populações com Fé, cientes de que a pobreza pode<br />
ser uma bênção, mas que é preciso lutar para que ela<br />
não nos jogue nos braços da morte. Sabiam que a vida é<br />
dura, difícil, mas que tudo isso aponta para o Céu e encontra<br />
nele a sua explicação, o seu prêmio. Compreendiam<br />
que a verdadeira vida de família, imbuída de sobrenatural,<br />
a dignidade e a respeitabilidade do chefe de família<br />
e de sua esposa face à prole numerosa que os venerava,<br />
tudo isso fazia de cada alvéolo, de cada lar, um<br />
lugar sagrado, respeitado, venerado. De vez em quando<br />
se ouve numa casa: “Papai está em cima, mamãe desceu,<br />
mas já vem.” E onde estão papai e mamãe, está o lar, a<br />
respeitabilidade, a sabedoria, a confiança na vida. Em última<br />
análise, o Mandamento que preceitua a castidade<br />
perfeita aos solteiros e a fidelidade entre casados paira<br />
como se fossem dois Anjos sobre essa casa.<br />
Na parede, uma Madonna, uma vela gasta. Mais<br />
adiante, um pequeno objeto esculpido por alguém e um<br />
presente dado por outrem. Sobre um móvel, uma campânula<br />
de vidro e dentro uma coroa de noiva. Era a coroa<br />
que a noiva — hoje anciã cheia de rugas e de cabelos<br />
brancos — levava, altaneira e digna, ao casamento, como<br />
símbolo de sua pureza, e que, a pedido do marido, se<br />
conservava lá por toda a sua existência.<br />
Quanta pulcritude na vida de pobreza!<br />
Isso todos o sentiam, o entendiam, e não havia essa ferocidade<br />
para escapar da vida de pobre como de dentro<br />
de um inferno. Tratava-se, do contrário, de entender o<br />
sabor que a vida de pobre tem, saber fruí-lo; isto era o segredo<br />
da vida dessa gente.<br />
A vida é, antes de tudo, uma<br />
caminhada para o Céu<br />
Comparem isso com algum aspecto de uma cidade<br />
contemporânea: prédios enormes visando dar uma impressão<br />
de monumental e de riqueza. Mas não têm graça,<br />
ninguém se detém para olhar nada, todo mundo passa<br />
depressa.<br />
Aqui não! É evidentemente uma rua pobre de um bairro<br />
pobre. As casas estão meio espremidas uma na outra.<br />
Nas paredes, de um lado e de outro, nada traz sinal de riqueza.<br />
Tudo é pobre, mas bonito, tem fisionomia, expressão.<br />
É muito mais atraente do que, por exemplo, qualquer<br />
dos grandes hotéis modernos, que se encontram mais ou<br />
menos por toda parte das grandes cidades.<br />
Nesse ambiente modesto o homem se sente em casa.<br />
E existe a alegria do conforto, mas principalmente o conforto<br />
da alma, do aconchego de pessoas que se entendem<br />
porque participam da mesma Fé e têm o mesmo modo<br />
de entender a vida, que é antes de tudo uma caminhada<br />
para o Céu; onde as almas restauram suas forças para<br />
voltar para a luta, ou ir para a oração, participar da Missa<br />
e comungar na igreja mais próxima.<br />
Nesse tipo de cidades há muitas igrejas, e não se dão<br />
dois passos sem encontrar com uma. Em todas elas, silencioso,<br />
invisível, está sempre Nosso Senhor realmente<br />
presente. Há muitas imagens de Nossa Senhora e de outros<br />
santos. A igreja é o palácio dos pobres. Eles entram<br />
e veem a riqueza da Santa Igreja, a beleza da Liturgia, se<br />
regalam com aquilo, seus horizontes se abrem, suas almas<br />
voam até o Céu.<br />
Quando se ama a Deus, tende-se<br />
para a beleza<br />
Analisemos agora uma fotografia de uma aldeia alemã,<br />
na noite de Natal.<br />
Esses grupos de pessoas percorrem de casa em casa<br />
para cantar alguma canção relativa ao Menino Jesus.<br />
São, em geral, pessoas de uma mesma família. Eles can-<br />
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