Revista TOP Marchador - Especial Marcha Picada #02
Revista lançada em julho de 2018 Tudo sobre o Mangalarga Marchador e Marcha Picada www.topmarchador.com
Revista lançada em julho de 2018
Tudo sobre o Mangalarga Marchador e Marcha Picada
www.topmarchador.com
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ARTIGO<br />
*Pio Guerra<br />
O fim da “PICADOFOBIA”<br />
O<br />
s romanos chamavam seus cavalos<br />
com andamento marchado, não<br />
trotador, de “gradarious” ou “ambulatos”,<br />
pela lateralização de alguns andamentos,<br />
enquanto os trotadores diagonais eram chamados<br />
de “acussator” ou “cruciatos”, sendo bem<br />
menos valorizados.<br />
As várias raças de cavalos de marcha picada,<br />
de todo o mundo, tiveram origem em duas fontes:<br />
coloniais ou hispânicos e as do tipo inglês.<br />
A escritora americana Brenda Imus afirmava,<br />
já em 1996, que “os cavalos de marcha (andamento<br />
não diagonalizado) representavam o segmento<br />
da indústria do cavalo que mais crescia<br />
nos Estados Unidos, atingindo a taxa média de<br />
25% ao ano. O número de animais novos registrados<br />
naquele país mostrava crescimento superior<br />
a 33% dos Passos Finos, entre 1990 e 1993,<br />
enquanto os Missouri Fox Trotters e os de Passo<br />
Peruano aumentaram 20% e os Tennessee<br />
Walkers chegaram perto de 300 mil registrados e<br />
são, hoje, mais de 400 mil animais”.<br />
Lamentavelmente, não conseguimos números<br />
atualizados dessa evolução americana.<br />
Ao mesmo tempo, em 2000, percebia-se um<br />
forte desconhecimento e desprezo, aqui no<br />
Brasil, pela marcha picada. Matéria divulgada em<br />
publicação oficial do Mangalarga <strong><strong>Marcha</strong>dor</strong><br />
classificava a marcha picada como um desequilíbrio<br />
do animal, que precisava ser banido de nossas<br />
criações.<br />
O termo “marcha picada” foi até retirado do<br />
padrão racial por um longo período. Nesse espaço,<br />
não só deixaram de se registrar inúmeros<br />
indivíduos de qualidade, como foram inibidas<br />
todas as tentativas de uma seleção criteriosa, via<br />
criadores nas fazendas, ou via provas oficiais,<br />
que deixaram de ser realizadas.<br />
Cabe destacar, no entanto, que o mercado<br />
desses animais, mesmo com tantas dificuldades,<br />
continuava crescendo em todo o País, principalmente<br />
pelo número, cada vez maior, de usuários<br />
de cavalos para o lazer equestre.<br />
Com a reintrodução oficial da “marcha picada”<br />
pelo Ministério da Agricultura, em 2002, e com o<br />
novo regulamento de provas, já com a “picada”,<br />
retomou-se o interesse dos criadores e técnicos,<br />
que passaram a se envolver, aos poucos, com o<br />
aperfeiçoamento desses marchadores.<br />
Felizmente esse cenário mudou. A Associação<br />
Brasileira dos Criadores de Cavalo Mangalarga<br />
<strong><strong>Marcha</strong>dor</strong> (ABCCMM), com a tradicional habilidade<br />
mineira, promoveu o valioso retorno às<br />
origens da raça. No mais, o cavalheirismo esperado<br />
na relação entre os companheiros criadores<br />
foi acomodando todos os gostos.<br />
As provas do MM “de picada”, reiniciadas pelo<br />
então presidente, Nelson Boechat, em 2004,<br />
somadas à visão dos presidentes que o sucederam,<br />
só têm contribuído para o crescimento<br />
regular e continuado da raça. Mais do que isso,<br />
para o seu reencontro com o maior diferencial<br />
do nosso cavalo, que é a boa marcha: cômoda,<br />
equilibrada, avante e absolutamente genuína,<br />
patrimônio do Mangalarga <strong><strong>Marcha</strong>dor</strong>.<br />
Hoje, não há mais espaço para os cavaleiros<br />
rudes em sua montada, nem para animais amassados,<br />
encartados, aprisionados em andamentos<br />
que não o seu natural, de “marcha batida” ou<br />
“picada”.<br />
Os dois tipos de marchadores aprimoram,<br />
cada vez mais, os seus andamentos, oferecendo<br />
ao mundo do cavalo um animal de grandes qualidades.<br />
Não é fácil consolidar esses avanços. Os cavaleiros<br />
precisam conhecer profundamente a psicologia<br />
do seu cavalo, suas vocações e limites,<br />
além de compreendê-lo e admirá-lo, a ponto de,<br />
com paciência, alcançarem perfeito domínio<br />
sobre as particularidades de cada um. A prática<br />
da não violência e do bem-estar animal deve<br />
reger todas as técnicas de adestramento e uso<br />
de seus animais. Os genuínos marchadores,<br />
oriundos de seus ancestrais mais autênticos,<br />
sem parentes trotados ou de seleções que negligenciaram<br />
a preocupação com o bom andamento,<br />
farão a grande diferença.<br />
Também na “marcha picada” se buscam esses<br />
animais. Refinados, de bom porte, articulados,<br />
“pero” sem perder a ternura de seus movimentos<br />
e a comodidade de sua troca equilibrada de<br />
apoios, com altivez e energia. Aqueles que, hoje,<br />
assimilam toda essa evolução, com real entusiasmo,<br />
colocam o MM entre os melhores para o<br />
lazer da equitação e fazem justiça ao importante<br />
papel que a recriação da “marcha picada” teve<br />
dentro da raça.<br />
Produzir animais de maneira regular e continuada,<br />
que possam atender ao cada dia mais exigente<br />
mercado nacional e internacional é,<br />
agora, o desafio de todos nós, criadores.<br />
O cavalo vencedor, que vemos hoje nas competições,<br />
já não tem quase o que corrigir. Cabe<br />
a nós aperfeiçoar a compreensão sobre cada<br />
indivíduo apresentado, seu equilíbrio emocional<br />
e mental, na busca por uma interação, cada vez<br />
maior, entre o cavalo e o seu ginete.<br />
* Agrônomo e Criador de MM de <strong>Marcha</strong> <strong>Picada</strong><br />
Melhor Criador Expositor do Brasil em 2007 e 2009<br />
Melhor Expositor do Brasil em 2010<br />
68 | <strong>TOP</strong><strong><strong>Marcha</strong>dor</strong> • <strong>Marcha</strong> <strong>Picada</strong>