Revista TOP Marchador - Especial Marcha Picada #02
Revista lançada em julho de 2018 Tudo sobre o Mangalarga Marchador e Marcha Picada www.topmarchador.com
Revista lançada em julho de 2018
Tudo sobre o Mangalarga Marchador e Marcha Picada
www.topmarchador.com
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
criatório Catuni, anos atrás juntou-se ao Dr.<br />
Toledo, inventor do Analoc, um aparelho eletrônico<br />
que justamente consegue medir esses tempos<br />
de apoio, e ambos fizeram um amplo e<br />
importante estudo sobre marcha. E assim, num<br />
universo de aproximadamente 100 animais analisados,<br />
somente conseguiram identificar essa<br />
dissociação perfeita, ou seja, de marcha de centro,<br />
em dois ou três animais.<br />
E isso é fácil de entender porque a maioria dos<br />
animais transita próximo dos extremos, tanto ao<br />
D4 = trote, quanto ao L4 = andadura, e à medida<br />
que vai acontecendo a dissociação, aproximando-se<br />
do centro, aumenta-se o grau de dificuldade<br />
para a execução do andamento. Assim, vai<br />
escasseando a quantidade de indivíduos e mais<br />
raro fica detectar-se esses animais. Sendo assim,<br />
quanto mais próximo do centro, menos animais<br />
existem, e por isso a dificuldade de se atingir<br />
melhores indivíduos, surgindo então a necessidade<br />
da pista de competições para julgá-los e selecioná-los.<br />
Creio firmemente que o futuro de<br />
nossa raça em termos de andamento será cada<br />
vez mais buscar os animais tendendo ao centro,<br />
tanto de batida quanto de picada, e o ideal será<br />
quando invertermos essa equação e tivermos nascendo<br />
na raça produtos, em sua maioria, de qualquer<br />
das marchas, próximos ao centro.<br />
Para isso, há de se entender que existe o cavalo<br />
tal que é de centro tendendo à marcha batida<br />
= algo entre o diagonal D1 e o ponto zero,<br />
quanto o de centro tendendo à marcha picada<br />
= entre o zero e o lateral L1. Outro fator que<br />
também dificulta o entendimento da marcha de<br />
centro é a banalização com que os leigos a ela se<br />
referem, chamando tudo quanto é andamento<br />
de marcha de centro, inclusive os ruins, que de<br />
marcha de centro não têm nada. Hoje em dia,<br />
qualquer andamento se chama de “centro”, em<br />
total desacordo com sua raridade.<br />
Com o ressurgimento da marcha picada e sua<br />
disseminação Brasil afora, a marcha de centro,<br />
de certa forma, também ressurgiu. Atualmente,<br />
acredito que se fala em marcha de centro como<br />
nunca antes se falou na história da raça. Lembro<br />
que, concomitantemente com a volta da picada,<br />
e ainda na presidência do saudoso Nelson<br />
Boechat, chegou-se a cogitar a volta da marcha<br />
de centro aos padrões de julgamento, movimento,<br />
creio, encabeçado pelo Dr. Gabriel Andrade,<br />
do criatório Calciolândia. E alguém mais desavisado<br />
pode arguir: “mas por que ‘retorno’ se a<br />
marcha de centro nunca foi julgada?” E eu respondo:<br />
engano seu... porque antes se julgava<br />
tudo numa mesma bateria, tanto batida quanto<br />
picada, e eventualmente a de centro, quando<br />
surgia, era chamada então de Verdadeira. Eram<br />
todas julgadas juntas. O que, convenhamos, não<br />
estou aqui a defender essa prática de julgar tudo<br />
junto, mas simplesmente a reportar fato histórico<br />
que acontecia.<br />
Acredito que a marcha de centro, apesar de<br />
existir, não deva voltar aos padrões de julgamento,<br />
pois, de tão rara e de tão complexa análise a<br />
olho nu, só iria promover confusão, tanto junto<br />
ao quadro técnico quanto ao público em geral.<br />
Outro fator importante é sua difícil equitação no<br />
sentido de preservá-la, pois de tão próxima a<br />
qualquer das duas marchas, seja picada ou batida,<br />
esse centro pode levar o animal facilmente a<br />
uma ou outra marcha, dependendo, por exemplo,<br />
do grau de reunião, da pressão exercida ou<br />
no controle do assento do cavaleiro na equitação,<br />
dentre outros motivos de influência.<br />
Dificilmente um animal de centro genuíno resiste<br />
à equitação de um cavaleiro que vai influenciá-lo<br />
tanto ao diagonal quanto ao lateral,<br />
dependendo da equitação exercida. E também<br />
difícil é encontrar cavaleiro que consiga equitar<br />
com maestria, fazendo com que ele permaneça<br />
nessa marcha, nessa dissociação perfeita.<br />
Por esses e outros motivos, entendo que a marcha<br />
de centro deva ficar restrita ao uso de quem<br />
dela porventura tiver o prazer de desfrutar, sem<br />
precisar passar por análise de pista, e que seja<br />
amplamente usada na reprodução, elevando, e<br />
muito, o grau de qualidade, tanto nos criatórios<br />
de marcha batida quanto nos de marcha picada.<br />
Hoje em dia, acredito cada vez mais que os<br />
criatórios de sucesso no futuro, tanto os direcionados<br />
à marcha batida quanto aos da marcha<br />
picada, irão usar, e muito, esses animais mais<br />
chegados ao centro, mais próximos possíveis do<br />
D1, no caso dos de batida e ao L1 nos de picada.<br />
Quem tiver a sorte grande de contar com uma<br />
matriz ou garanhão de marcha de centro legítima<br />
terá uma excelente oportunidade de dar<br />
ainda mais excelência ao seu plantel em termos<br />
de qualidade de marcha.<br />
De forma alguma entendam que descarto as<br />
marchas genuínas, tanto de batida quanto de<br />
picada, seja no processo reprodutivo ou mesmo<br />
na equitação. Esses animais são imprescindíveis<br />
no sentido de não se deixar perder o foco no<br />
processo reprodutivo em busca de sua marcha<br />
preferida, mas saber usar, mesclar e dosar a marcha<br />
de centro nesse processo será cada vez mais<br />
necessário.<br />
Enfim, seja picada, batida ou de centro, o que<br />
temos de buscar é a marcha boa, aliás, boa não,<br />
excelente. E entender de uma vez por todas que<br />
elas existem e negá-las seria negar o óbvio, e<br />
todas podem e devem sim coexistir de forma<br />
harmônica e complementar, SEMPRE.<br />
Rogério Bivar Simonetti<br />
Haras Água Boa<br />
rogeriobivar@outlook.com<br />
<strong>TOP</strong><strong><strong>Marcha</strong>dor</strong> • <strong>Marcha</strong> <strong>Picada</strong> | 79