Revista Penha | setembro 2018
O que acontece, quem são as pessoas que marcam a Freguesia e ainda algumas curiosidades sobre a Penha de França. Uma revista editada pela Junta de Freguesia da Penha de França.
O que acontece, quem são as pessoas que marcam a Freguesia e ainda algumas curiosidades sobre a Penha de França.
Uma revista editada pela Junta de Freguesia da Penha de França.
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Que outros grandes nomes foram alunos?<br />
Júlio Pomar, José Escada, Mário Cesariny, Cruzeiro<br />
Seixas, tantos outros, muitos ainda vivos,<br />
que aqui tiveram a sua primeira experiência de<br />
vida nas artes plásticas. Muitos deles desenhadores<br />
e gravadores litógrafos, um curso que<br />
veio a ser descontinuado – mas hoje temos o<br />
design de comunicação que tem muito a ver<br />
com essa matriz. Há um contínuo em que a<br />
EAAA marca pela diferença, nomeadamente<br />
no Estado Novo.<br />
Quer relatar alguns casos? Era das poucas<br />
escolas onde o ensino era misto, de rapazes e<br />
raparigas, com irreverência e com uma intervenção<br />
social estética e até política bastante<br />
acentuada. Um dos nossos grandes mestres,<br />
Vítor da Silva, que também foi aluno, relata no<br />
livro ‘Sonhar Não Rima com Fazer’, apoiado<br />
pela Junta de Freguesia, que se projetavam<br />
filmes proibidos para angariar dinheiro para os<br />
alunos viajarem, para beberem cultura.<br />
Quais são as disciplinas centrais da Escola?<br />
O desenho continua a ser a mais importante,<br />
a par do projeto e tecnologias, a vertente prática<br />
do ensino teórico. Uma das ‘parangonas’<br />
da escola é ‘O nosso saber faz-se’. A partir do<br />
fazer, adquirem-se conhecimentos. Até através<br />
do erro. É importante sabermos utilizar o<br />
projeto, os métodos de resolução de problemas,<br />
que acabam por ser a base de tudo.<br />
Há quantos anos está a EAAA na Rua Coronel<br />
Ferreira do Amaral? Desde 1970. Já por aqui<br />
passaram quase 40 mil alunos. Nos anos 70 e<br />
80 ainda se ensinou do 7.º ano ao Secundário.<br />
Agora só Secundário, mas perde-se um pouco<br />
por deixarmos de poder encontrar vocações<br />
precocemente.<br />
Quantos alunos tem a EAAA? Todos os anos abrimos vagas<br />
para cerca de 420 novos alunos, este ano foram 416. No<br />
10.º ano passam seis semanas em seis áreas diferentes, para<br />
depois no 11.º ano poderem optar pela especialização em que<br />
se sentiram mais confortáveis – ou mais felizes. Existe uma<br />
vertente enorme de artes visuais, mas também de audiovisual.<br />
Formamos para a fotografia, para o cinema e vídeo, para a<br />
multimédia…<br />
Quantos ficam de fora? Muitos! Este ano foram 95. Infelizmente,<br />
temos de selecionar. No total temos cerca de 1300<br />
alunos, com um horário das 8h30 às 19h30 – uma carga muito<br />
maior do que a de outras escolas que só têm meio dia de aulas.<br />
Queria também referir que muitas vezes aceitamos alunos<br />
diferentes, não há qualquer tipo de preconceito, ninguém se<br />
mete na vida do outro, ninguém aponta a diferença como uma<br />
coisa negativa. É um enriquecimento da comunidade que se<br />
forma todos os anos.<br />
A inclusão é a uma das matrizes da António Arroio? Exatamente.<br />
E o acolhimento. Aceitamos os alunos de acordo com<br />
a sua realidade, seja física, motora ou afetiva – cada vez mais<br />
os afetos acabam por condicionar as expressões do que é o<br />
indivíduo na sua sexualidade, nas suas vertentes culturais. É um<br />
indivíduo, está cá no mundo, tem direitos e é isso que temos<br />
de aceitar como a matriz de que nunca irei abdicar. O acolhimento<br />
é incondicional.<br />
Passando para as instalações, há quase dez anos que estão<br />
em obras... Do edifício original só existem duas fachadas: a<br />
que dá para a Rua Cristóvão Falcão tem um painel do Mestre<br />
Querubim Lapa – em cujo trabalho tive a sorte de participar.<br />
Inicialmente, a EAAA tinha uma área de 13 mil m2 e quando<br />
as obras finalizarem terá 23 mil m2. Foi um aluno da António<br />
Arroio que fez o projeto, o arquiteto Aires Mateus.<br />
O que são os edifícios inacabados? É o edifício social, adjacente<br />
ao de aulas, que vai ter refeitório, bar bufete, Biblioteca<br />
Escolar/Centro de Recursos, museu com uma galeria de arte e<br />
um pequeno auditório. Recentemente estive no MAAT e tenho<br />
Acha que os alunos deviam chegar aqui mais<br />
cedo? Sim. Não sou a favor de ir buscar crianças<br />
de 3 e 4 anos para os especializar, seja em<br />
arte ou futebol, mas é importante que a partir<br />
das creches se reconheça no ensino artístico<br />
uma resposta a uma vocação que as crianças<br />
começam a revelar. Creio que cada vez mais a<br />
felicidade das pessoas advém de perceberem<br />
onde podem ser melhores a um determinado<br />
nível, que pode ser profissional ou não. Procurar-se<br />
o que se é e não o que se tem. Digo<br />
muitas vezes aos nossos alunos que acima de<br />
tudo têm de ser alunos felizes. E a EAAA tem<br />
vindo a ser cada vez mais uma escola de despiste<br />
de vocações, mas também de percurso<br />
de vida: mudei a minha vida toda por ter vindo<br />
estudar para aqui! E, na altura, só vim para não<br />
estar parado. Há um bichinho, qualquer coisa<br />
que nos mexe. É uma escola que muda a vida<br />
das pessoas para melhor.<br />
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