Revista Ferroviária Setembro/Outubro - 2018
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artigo<br />
O cavalo está<br />
passando selado<br />
VENILTON TADINI,<br />
Presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib)<br />
64<br />
REVISTA FERROVIÁRIA | SETEmbRO/OuTubRO DE <strong>2018</strong><br />
OBrasil investe em ferrovias. Mas investe<br />
pouco diante da necessidade. Desde a década<br />
de 1990, quando ocorreu o processo de<br />
concessão e arrendamento da antiga malha<br />
férrea pública, foram aplicados pelas concessionárias<br />
mais de R$ 90 bilhões em valores atualizados. Os recursos<br />
propiciaram crescimento de 173% na produção<br />
ferroviária e de 128 vezes no transporte de contêineres.<br />
Os acidentes caíram 86%.<br />
Esses investimentos claramente não foram suficientes<br />
para transformar definitivamente a matriz de transporte<br />
de cargas. O modelo implantado à época foi exitoso em<br />
estancar prejuízos e endividamento da gestão púbica e em<br />
melhorar a prestação de serviços. Mas não foi suficiente<br />
para compelir agentes públicos e privados a expandir a<br />
malha na dimensão necessária.<br />
Há a necessidade de mudar e o cavalo está passando<br />
selado diante das autoridades públicas. Os atuais contratos<br />
ainda têm validade por mais dez anos, no mínimo, e<br />
há a oportunidade de modernizar o modelo, as regras,<br />
as exigências e os incentivos para o investimento. Em<br />
resumo, a diretriz é se apoiar nas autorizações da Lei<br />
13.448/2017 e na possibilidade de prorrogação prevista<br />
nos atuais contratos.<br />
Com esse arcabouço legal, a política pública propõe<br />
mais um período de concessão às empresas operadoras<br />
mediante novos investimentos que garantam modernização<br />
da malha e da frota atual e expansão da rede, com<br />
a construção de novos trechos ferroviários por meio do<br />
mecanismo de investimento cruzado (investimentos em<br />
ramais fora da área de influência da concessão). Além disso,<br />
os contratos podem ser modernizados, incorporando<br />
regras mais aderentes à realidade setorial e econômica.<br />
O processo decisório para efetivar a prorrogação antecipada<br />
das concessões depende da autorização de diversas<br />
autoridades: agência reguladora, ministério setorial e órgãos<br />
de controle. Audiências públicas colhem avaliações<br />
da sociedade e outros entes públicos e privados contribuem<br />
sistematicamente.<br />
O primeiro caso em avaliação é o da prorrogação da<br />
Malha Paulista. Após três anos e meio e milhares de<br />
páginas de documentos e estudos, a ANTT deu aval favorável<br />
à prorrogação. Ministério e TCU ainda vão deliberar.<br />
Outros processos de prorrogação de concessões<br />
já trilham os procedimentos obrigatórios, como audiências<br />
públicas.<br />
A sociedade não pode ficar à margem deste processo,<br />
que é público, transparente e democrático. Ela é e será,<br />
direta ou indiretamente, a principal beneficiada pelas<br />
prorrogações antecipadas das concessões e pelos novos<br />
investimentos. A mais recente greve dos caminhoneiros<br />
demonstrou as consequências para um país sem ferrovias<br />
para o transporte de bens essenciais.<br />
A prorrogação garante arcabouço regulatório e segurança<br />
jurídica para investimentos privados na malha férrea<br />
que podem superar R$ 40 bilhões. Serão decisivos para<br />
ampliar a participação das ferrovias no transporte de cargas<br />
– de 15% atualmente para 31% até 2025, cenário que<br />
inclui conclusão de outros projetos ferroviários listados no<br />
Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). O custo de<br />
transportes pode ser reduzido em 10,4%. O cavalo está<br />
passando selado. Pode ser que ele não passe outra vez.